BIOLOGIA MOLECULAR Hipertrofia cardíaca e treinamento físico Aspectos moleculares Autores: Edilamar Menezes de Oliveira Laboratório de Bioquímica, Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano, Escola de Educação Física da USP José Eduardo Krieger* Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular Departamento de Clínica Médica – FMUSP, Instituto do Coração (InCor) HC-FMUSP Resumo A hipertrofia cardíaca constitui-se num dos principais mecanismos de adaptação do músculo cardíaco à sobrecarga de trabalho. Essa resposta, que é fundamental para o atleta atingir alto desempenho, é também um importante fator de risco de morbi-mortalidade em situações patológicas, como a hipertensão arterial. A compreensão dos mecanismos moleculares associados a resposta adaptativa e mal-adaptativa é um dos principais desafios da atualidade. Adventos na área de genética-genômica estão abrindo perspectivas importantes para a realização dessa tarefa, que permitirá o desenvolvimento de novas estratégias para diminuir o impacto da resposta adversa da hipertrofia cardíaca. A hipertrofia cardíaca constitui-se num dos principais mecanismos de adaptação do coração em face de uma sobrecarga de trabalho, de pressão ou de volume imposta ao coração em determinadas condições. Esse aumento da massa ocorre em decorrência de alterações genéticas isoladas, como a cardiomiopatia hipertrófica, em resposta a condições fisiopatológicas, tais como a hipertensão arterial, infarto do miocárdio ou de hiperatividade simpática ou como *Endereço para correspondência: Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular Departamento de Clínica Médica – FMUSP, Instituto do Coração (InCor) HC-FMUSP Av. Dr. Enéas C. Aguiar, 44 05403-000 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3069-5579 E-mail: [email protected] resposta fisiológica devido à sobrecarga de trabalho imposta pelo treinamento físico dinâmico e estático realizado de forma crônica por atletas. A expressão “coração de atleta” tem sido amplamente empregada na literatura para caracterizar as adaptações que ocorrem no sistema cardiovascular causadas pelo exercício físico de longa duração em atletas. Como revisto por Rost, um dos primeiros relatos dos efeitos da atividade física sobre o coração foi feito por Bergmann em 1884, ao notar que a relação peso do coração / peso corporal de animais selvagens era muito maior quando comparada com os mesmos ao serem domesticados. Henschen, em 1899, foi quem primeiro descreveu o coração de atleta através de técnica diagnóstica simples de exame físico. O tamanho do coração foi determinado através de percussão torácica cuidadosamente realizada nos esquiadores de campo antes e após uma corrida. Mais tarde, tais resultados foram confirmados pelo emprego da radiografia e por evidências de autópsia. Posteriormente, o uso de técnicas como ecocardiografia e tomografia computadorizada veio facilitar os estudos com o atleta vivo. As dimensões internas do coração e a espessura da parede puderam ser determinadas com mais detalhes, tornando-se possível fazer estimativas da massa ventricular esquerda do coração, mostrando diferenças em relação a indivíduos sedentários. Portanto, o coração de atleta é um dos assuntos mais antigos e bastante estimulantes na pesquisa com exercício físico. Tipos de hipertrofia As hipertrofias cardíacas resultantes da adaptação do miocárdio a uma sobrecarga fisiológica ou patológica apresentam características fenotípicas e funcionais diferentes e podem ser classificadas, de modo geral, como concêntricas ou excêntricas1. Em estados patológicos, dois tipos de sobrecarga crônica podem levar à hipertrofia cardíaca de maneiras diferentes. Uma sobrecarga de volume, como ocorre na insuficiência aórtica ou mitral, leva a um aumento do diâmetro interno do ventrículo esquerdo e a um aumento proporcional da espessura da parede. Esse tipo de adaptação é chamado de hipertrofia ventricular esquerda excêntrica. Uma sobrecarga de pressão, como ocorre na estenose aórtica ou na hipertensão arterial, está associada a um espessamento da parede ventricular esquerda e a uma diminuição da dimensão interna, ou hipertrofia ventricular esquerda concêntrica. De modo geral, as hipertrofias patológicas apresentam-se de forma irregular ou assimétricas e estão associadas a um maior índice de morbidade e mortalidade. Em condições fisiológicas, como no exercício físico, dois tipos de sobrecarga intermitente podem levar à hipertrofia cardíaca de maneiras diferentes, porém desenvolvidas de forma simétrica no coração. No exercício estático ou isométrico (ex. levantadores, arre- Volume 5 / Número 2/ 2002 Sem título-26 73 26/06/03, 14:57 73 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ messadores de peso e martelo, luta romana e fisiculturistas), a força é desenvolvida com pouco ou nenhum movimento. Esse tipo de exercício apresenta como conseqüência hemodinâmica uma ligeira elevação do débito cardíaco (DC), resultante do aumento da freqüência cardíaca (FC) e uma grande elevação da pressão arterial (PA), levando a uma sobrecarga de pressão no coração, que resulta em um espessamento da parede ventricular esquerda sem diminuição da dimensão interna da cavidade, desenvolvendo-se uma hipertrofia ventricular esquerda concêntrica. Têm sido demonstrados aumentos como 480/350 (pressão sistólica e diastólica) em fisiculturistas durante a realização do exercício2. No exercício dinâmico, em que os atletas realizam exercícios isotônicos (por exemplo, nadar, pedalar, correr e andar) os principais padrões hemodinâmicos são um aumento na FC e no volume sistólico (VS), os dois componentes do DC. Portanto, a carga sobre o coração é predominantemente volumétrica, levando ao desenvolvimento de uma hipertrofia ventricular esquerda excêntrica. O exercício físico dinâmico, realizado de forma crônica, mostra-se eficiente em proporcionar adaptações no sistema cardiovascular3,4. Os principais parâmetros cardiovasculares que sofrem adaptações com esse tipo de treinamento físico são a freqüência cardíaca e a pressão arterial. Durante o repouso, observase uma queda de freqüência cardíaca após o treinamento físico, que ocorre tanto em humanos5 como em animais6–8. A bradicardia de repouso tem sido utilizada como marcador dos efeitos do treinamento físico aeróbio sobre o sistema cardiovascular. Geralmente, a maioria dos tipos de exercícios ou programas de treinamento físico consiste em uma associação entre exercício dinâmico e estático. Portanto, a hipertrofia fisiológica que ocorre normalmente é uma combinação de diferentes graus de ambas, hipertrofia concêntrica e excêntrica, levando a uma hipertrofia cardíaca mista, como a observada em triatletas9. Além disso, o grau de hipertrofia fisiológica que ocorre está relacionado com a intensidade e duração do exercício, assim como ao programa de treinamento físico, e está diretamente relacionado ao nível de “fitness” ou VO2 máx10,11. Schaible e Scheuer mostraram que também o aumento no fluxo coronário é proporcional ao grau de hipertrofia induzido pelo treinamento físico, resultante de um aumento do leito vascular coronário. Às vezes, a hipertrofia fisiológica desenvolvida pelos atletas de força de alto nível assemelha-se à hipertrofia patológica, podendo ser incorretamente interpretada como patológica. Controle e aspectos histológicos da hipertrofia cardíaca O mecanismo proposto para essas alterações estruturais é a hipertrofia induzida por carga direta. Alguns trabalhos têm demonstrado que a própria carga cardíaca é um fator suficiente e possivelmente a causa primária, responsável pela regulação do crescimento no miocárdio do mamífero adulto12,13. O crescimento induzido por carga parece ser mediado pela regulação da expressão gênica em resposta ao efeito físico direto do estresse e esforço celular. Conforme ilustrado na figura 1, o padrão de crescimento pode ser conceitualmente dividido em aumento no número de miofibrilas por sarcômero, em série, levando a aumento no comprimento dos miócitos (aumento no volume da câmara), e em paralelo, levando a aumento da área tranversa do miócito (aumento 74 Sem título-26 na espessura da parede)14. Nesse modelo, o estímulo para o crescimento em série se deve ao aumento de pré-carga (estresse parietal diastólico), enquanto o estímulo para o crescimento em paralelo se deve ao aumento de pós-carga (estresse parietal sistólico). Portanto, a partir desse ponto de vista conceitual, pode-se dizer que uma elevação no estresse parietal estimula o crescimento, até que o estresse volte ao normal15,16. Os padrões de hipertrofia observados em atletas encaixam-se nessas duas hipóteses. Atletas que experimentam grande elevação no DC sem grandes cargas de pressão (atletas de resistência) apresentam maior carga diastólica e manifestam maior volume ventricular com a razão massa/volume normal. Por outro lado, atletas que experimentam uma acentuada elevação na PA com pequena ou nenhuma elevação no DC (levantadores de peso) mostram um padrão de massa aumentada com pouca elevação no volume e a razão massa/volume aumentada. A maioria dos atletas está entre esses dois extremos15,16. Figura 1 FLUXO DE EVENTOS NOTADOS NA HIPERTROFIA CARDÍACA EXCÊNTRICA E CONCÊNTRICA INDUZIDA POR CARGA Hipertrofia patológica vs. hipertrofia fisiológica Resumidamente, poderíamos dizer que a hipertrofia cardíaca pode ser decorrente de um processo patológico, como o aumento de pós-carga secundário a hipertensão arterial ou a sobrecarga localizada pós-infarto do miocárdio, situação em que uma parte do músculo saudável assume o trabalho do segmento que foi perdido devido a morte celular ou processo reparativo. Essa resposta inicialmente é adequada, mas aos poucos evolui para a disfunção do órgão, com degeneração de miofibrilas, levando a insuficiência cardíaca17. Por outro lado, o aumento de trabalho cardíaco pode estar associado a maior demanda fisiológica, como mostrado acima pelo treinamento físico dinâmico, representando uma resposta adaptativa fisiológica do organismo. Analisando-se esses dois quadros e considerando-se que o treinamento físico aeróbio tem se mostrado eficiente em provocar adaptações cardiovasculares benéficas em pacientes que desenvolvem hipertrofia cardíaca em decorrência de hipertensão arterial ou mesmo na insuficiência cardíaca, várias perguntas deverão ser respondidas em futuro próximo: qual a semelhança entre os mecanismos moleculares associados à hipertrofia compensatória e à patológica? Trata-se de vias comuns que num determinado momento divergem ou são vias independentes desde o princípio? A resposta a essas perguntas pode HIPERTENSÃO 74 26/06/03, 14:57 gerar novas oportunidades de intervenção, especialmente nos quadros de hipertrofia patológica que estão associados a aumento substancial de morbi-mortalidade na população. O estímulo fisiológico induzido pelo exercício físico pode ser um importante regulador da expressão gênica de proteínas estruturais do músculo cardíaco. Essa modulação do exercício físico sobre a expressão de proteínas do coração pode ser processada por efeitos diretos sobre o coração, a partir de sobrecarga de volume e/ou pressão, ou por efeitos indiretos, através de fatores hemodinâmicos ou neuro-humorais. É importante salientar que diferentes sinais (mecânico, neuro-humoral etc.) são traduzidos no interior da célula como alterações bioquímicas que levam à ativação de segundos mensageiros (citosólicos) e terceiros e quartos mensageiros (nucleares) que irão agir no núcleo da célula, interagindo com o DNA, promovendo a reprogramação da atividade celular. Modificação de proteínas contráteis Na hipertrofia patológica o aumento no volume dos miócitos provocado pelo aumento do número de miofibrilas em paralelo é acompanhado de aumento dos componentes do estroma, que geralmente apresentam-se de forma desproporcional à resposta dos miócitos1, principalmente aumentando o conteúdo de colágeno, podendo levar a deficiência no processo de relaxamento do miocárdio18. Na hipertrofia fisiológica, o aumento de volume dos miócitos se faz pela síntese de novos componentes, tais como aumento no conteúdo das proteínas contráteis e indução de suas isoformas, que levam ao aumento predominante no comprimento das miofibrilas, não ocorrendo grandes alterações nas características do estroma, portanto sem prejuízo funcional do órgão1,18. Em paralelo, ocorre aumento do retículo sarcoplasmático e do número e tamanho das mitocôndrias para manter um estado funcional adequado ao aumento dos componentes contráteis. Esse é um aspecto bastante evidenciado nas hipertrofias fisiológicas. Além disso, são observadas alterações nas proporções dos diferentes tipos de actina e miosina produzidos com o objetivo de adequar a velocidade e a força de contração necessárias ao processo de adaptação em face do estímulo que gerou a hipertrofia19,20. O sarcômero, unidade contrátil do miocárdio, é formado por proteínas que estão organizadas em filamentos grossos de miosina e finos de actina. As principais proteínas que constituem o sarcômero são a miosina de cadeia pesada (MCP), miosina de cadeia leve (MCL1 e MCL2), a tropomiosina, o complexo troponina (TnT, TnI e TnC) e a actina. No ventrículo da maioria das espécies de mamíferos, inclusive do homem, foram identificadas três isoformas de miosina (V1, V2 e V3). Essas três isoformas são constituídas de somente dois tipos de MCP, α e β. V1 e V3 são homodímeros α/α e β/β respectivamente, enquanto a V2 é um heterodímero α/β (figura 2). A α-MCP apresenta uma maior atividade ATPásica e maior velocidade de encurtamento dos sarcômeros, enquanto a β-MCP apresenta menor velocidade de encurtamento dos sarcômeros20–24. As alterações hemodinâmicas que ocorrem após o nascimento representam um estímulo para a regulação dessas isoformas. Durante a vida fetal, a grande maioria dos mamíferos expressa a β-MCP no ventrículo. Nos mamíferos pequenos (rato e coelho) a α-MCP aumenta de forma rápida imediatamente antes do parto e corresponde à isoforma dominante durante toda a vida adulta. Portanto, do ponto de vista molecular ocorre uma “downregulation” da expressão do gene da β-MCP ventricular e uma “upregulation” do gene α- MCP. Nos mamíferos maiores (cão, porco e homem), ao contrário, a α-MCP é dominante somente transitoriamente após o nascimento, sendo o gene da β-MCP expresso de forma dominante durante toda a vida. Nos átrios a situação é diferente, uma vez que a isoforma α é expressa de forma dominante durante toda a vida, em todos os mamíferos. Entretanto, a distribuição das isoformas da MCP pode ser modificada em resposta a uma sobrecarga de trabalho, tanto em condições fisiológicas como em condições patológicas19,20,25. A α-actina esquelética é encontrada no músculo esquelético de animais adultos, enquanto na espécie humana ela está presente na fase fetal e no miocárdio submetido a hipertrofia patológica. Uma atenção considerável tem sido dada aos efeitos do treinamento físico sobre a composição das proteínas contráteis. Por exemplo, ratos treinados com natação demonstraram um aumento na atividade da ATPase miosínica no ventrículo esquerdo, que foi secundário ao aumento da expressão da isoforma V1 (α-MCP), melhorando a função sistólica do animal treinado26. Nessa espécie, com predomínio da isoforma V1 e alta atividade da ATPase miosíca, a imposição de uma sobrecarga patológica como coarctação da aorta ou hipertensão, resulta em uma rápida mudança (dois a três dias) no padrão das isoenzimas para a isoforma V3 (β-MCP), que está associada com a diminuição da atividade da ATPase miosínica. Essas alterações impostas por condições patológicas levam, na realidade, a uma mudança fisiológica importante, que implica a expressão de um fenótipo fetal, ou seja, uma reprogramação gênica. Interessante ainda é o fato de que a hipertrofia cardíaca induzida pelo treinamento físico com natação reverte a isoforma da miosina de V3 para V1 em ratos espontaneamente hipertensos (SHR), levando a uma melhora da função sistólica, normalização da atividade da ATPase miosínica e retorno para o fenótipo V1 predominante26. Nessa condição também foi observado um aumento na ligação e captação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático25,27. Em modelos de treinamento físico com esteira, em ratos, podem ocorrer alterações na função contrátil do miocárdio sem que ocorram mudanças significativas na atividade da ATPase miosínica, bem como na composição das isoformas da miosina ventricular28. Retornando às nossas questões levantadas anteriormente, vale lembrar que em animais experimentais Figura 2 ISOMIOSINAS Miosina de cadeia pesada (MCP): V1 e V3 são homodímeros α e β respectivamente e V2 é um heterodímero α/β. Modificado de Nadal-Guinard, 1988 Volume 5 / Número 2/ 2002 Sem título-26 75 26/06/03, 14:57 75 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ o treinamento físico com natação induz hipertrofia excêntrica, enquanto o treinamento físico com esteira não provoca hipertrofia cardíaca, ou quando ocorre é em pequena magnitude. No homem e em animais maiores em que a freqüência cardíaca de repouso é relativamente menor do que no rato e a isoforma predominante, no ventrículo, da MCP é exclusivamente a V3, o treinamento físico melhora a função ventricular sem modificar a atividade da ATPase miosínica ou a composição das isoformas da miosina. Entretanto, em condições de sobrecarga patológica, o padrão de miosina nos ventrículos não é modificado, uma vez que já predomina a isoforma V3 da miosina, compreendendo aproximadamente 95% do total de miosina expressa. O que se modifica na hipertrofia cardíaca patológica é a quantidade de proteína expressa, a isoforma V3 aumenta para quase 100%21,29. Nos átrios, na estenose ou insuficiência valvular, ocorre aumento na expressão da isoforma V3, que passa a ser a forma predominante, em detrimento da isoforma V1, que predomina em condições normais. Na hipertrofia cardíaca também ocorrem alterações de outras proteínas sarcoméricas, como as isoformas da troponina T cardíaca (TnTc). Normalmente são expressas duas isoformas da TnTc no coração, enquanto em condições patológicas passam a ser expressas de quatro a seis isoformas da TnTc30,31. Reprogramação gênica Nas hipertrofias patológicas, alguns aspectos relacionados à resposta hipertrófica são semelhantes às etapas em que ocorre o desenvolvimento do coração durante o período fetal ou perinatal, sendo, por isso, denominadas “reprogramação fetal”. São observados, em animais experimentais, padrões de expressão gênica característicos do período fetal, como o reaparecimento de miosina de cadeia pesada do tipo beta (β-MCP) e alfa actina esquelética (α-actina esquelética) no ventrículo32. Mudanças na composição das proteínas contráteis do ventrículo determinam alterações na capacidade contrátil do miocárdio, podendo levar à diminuição na velocidade de encurtamento dos sarcômeros, observada no miocárdio hipertrofiado, aspectos que já mencionamos anteriormente. Além da indução de proteínas contráteis, a hipertrofia cardíaca patológica é também caracterizada por alterações na expressão de genes de proteínas nãocontráteis, como Fator Natriurético Atrial (ANP), genes relacionados com o metabolismo energético (subunidade M da lactato desidrogenase e subunidade β da creatina quinase) e da enzima conversora da angiotensina I (ECA)24,29,32. O gene do ANF é utilizado como um marcador de hipertrofia cardíaca patológica. Durante o desenvolvimento embrionário, o gene que codifica o ANF é expresso tanto no átrio como no ventrículo. Logo após o nascimento, a expressão do ANF é diminuída no ventrículo, permanecendo o átrio como o sítio primário de síntese do ANF no miocárdio adulto. Em resposta a uma variedade de estímulos (hormonal, sobrecarga de pressão e volume, hipertensão, genéticos etc.), que induzem hipertrofia do ventrículo, ocorre a reexpressão do ANF nas células ventriculares, o que representa a reprogramação de um gene embriogênico na hipertrofia cardíaca. A expressão do gene do ANF e de outros marcadores genéticos embrionários pode ser considerada um, entre vários critérios que podem distinguir estímulos que são simplesmente tróficos (aceleram o crescimento normal) de estímulos que são fundamentalmente hipertróficos, indicando o começo de uma resposta patológica. Portanto, supõe-se que o ANF pode participar da gênese das transformações fenotípicas observadas na 76 Sem título-26 hipertrofia, embora o significado fisiológico desse aumento de expressão do ANF no ventrículo ainda permaneça desconhecido17,32,33. Trabalhos com treinamento físico com esteira mostram que não ocorre aumento da expressão do ANF no ventrículo34. Embora, ainda seja desconhecida, é de grande curiosidade a possibilidade de que atletas de elite possam ter um aumento da expressão desse gene. Também é difícil postular que o exercício poderia atenuar a re-expressão de genes fetais em condições patológicas. Uma estratégia que está sendo amplamente utilizada para identificar, no genoma, genes que possam interagir com o exercício é o estudo de “genes candidatos”35. Essa estratégia está focada sobre genes envolvidos em vias metabólicas e sistemas fisiológicos que sabidamente interagem com determinadas características de interesse, que estão relacionadas ao exercício. Através dessa estratégia – estudos de associação de variantes de um ou múltiplos genes –, foi identificado um limitado número de genes que parecem influenciar fenótipos relacionados com exercício, um desses genes é o gene da ECA. A ECA é um dos componentes do sistema renina-angiotensina (SRA) e sua expressão tem sido mostrada aumentada no miocárdio, promovendo uma maior conversão de Ang I em Ang II na microcirculação intramiocárdica, secundária a uma sobrecarga pressórica36. A Ang II, ao ligar-se aos seus receptores AT1 nos miócitos, resultaria num aumento da contratilidade e da resposta hipertrófica, enquanto em fibroblastos seria desencadeada uma resposta de hiperplasia associada a um fenótipo secretor de colágeno37–39. Tais efeitos podem ser amplificados pela capacidade de a Ang II estimular a secreção de catecolaminas das terminações nervosas, levando a potenciação da resposta inotrópica e hipertrófica40. O aumento da expressão da ECA cardíaca parece responder a múltiplos estímulos envolvendo fatores físicos (por exemplo, aumento da tensão superficial da parede ventricular) e neuro-endócrinos (estimulação simpática) levando a um aumento da Ang II tecidual e, subseqüentemente, a remodelagem cardíaca. Tem sido mostrado que a função endócrina do coração desempenha um papel importante no desenvolvimento da hipertrofia cardíaca3. Entretanto, a participação do SRA na hipertrofia fisiológica induzida pelo exercício físico não parece muito clara na literatura. O gene da ECA está sendo um dos genes mais estudados, utilizando-se a estratégia de genes candidatos. O polimorfismo do gene da ECA humana consiste na presença (inserção, alelo I) ou ausência (deleção, alelo D) de um fragmento de 287 pares de bases41. O alelo D foi associado a uma maior concentração da ECA circulante e no miocárdio. Inicialmente os autores hipotetizaram que, se o SRA cardíaco é um regulador importante da hipertrofia do ventrículo esquerdo, portanto o alelo D está associado com maior massa do VE. Estes achados ainda são muito debatidos, visto que outros estudos não encontraram associação. É importante salientar que a hipertrofia de VE é um fenótipo complexo influenciado por um grande número de fatores ambientais e biológicos, como, por exemplo, exercício, idade, sexo e pressão sangüínea42. Recentes trabalhos publicados43,44 demonstraram que o genótipo do gene da ECA está relacionado com a resposta ao exercício físico. Esses autores mostraram que indivíduos com genótipo II ou DI apresentam melhor performace ao treinamento físico aeróbio ou “endurance”43. Ainda, a presença do genótipo II confere uma eficiência mecânica aumentada no músculo esquelético humano44. Outros estudos têm mostrado que o genótipo DD da ECA está relacionado com a hipertrofia do VE induzida pelo exercício45,46. HIPERTENSÃO 76 26/06/03, 14:57 Processo de excitação-contração Fatores neurais Além das modificações nas proteínas contráteis em resposta à sobrecarga fisiológica ou patológica, a expressão de genes envolvidos no processo de excitação-contração (por exemplo, SERCA, fosfolamba, calseqüestrina e genes do receptor de rianodina) também está alterada na hipertrofia cardíaca patológica. O gene da SERCA, através de “splicing” alternativo, produz duas isoformas: SERCA 2a e SERCA 2b. A SERCA 2a codifica para a Ca2+-ATPase do retículo sarcoplasmático (RS) da célula cardíaca. Tal enzima é responsável pelo transporte do Ca2+ citosólico para o RS, resultando em menor concentração de Ca2+ no citoplasma, levando ao relaxamento da fibra. A expressão da SERCA 2a está diminuída na insuficiência cardíaca avançada, assim como no indivíduo idoso, levando a disfunção ventricular diastólica. A atividade física atenua a diminuição da expressão do gene da SERCA 2a no miocárdio de camundongos idosos47 e aumenta a expressão de genes mitocondriais, tais como citocromo oxidase no coração de ratos senescentes, podendo portanto, aumentar as reservas energéticas e a função diastólica do miocárdio. Portanto, o exercício físico pode modificar a expressão de genes cardíacos alterados, exercendo efeitos benéficos em condições patológicas. A fosforilação do fosfolamba pela proteína quinase dependente de AMPc (PKA) ativa a Ca2+-ATPase do RS. Dessa forma, o aumento nos níveis de fosfolamba está diretamente relacionado com o estado contrátil do miocárdio. Em estudos com camundongos “knockout” (deleção do gene) para o gene do fosfolamba foi observado um estado hipercontrátil do miocárdio, enquanto camundongos transgênicos que superexpressam essa proteína apresentam estado hipocontrátil48,49. No estágio final da insuficiência cardíaca em humanos, que é caracterizado por hipertrofia e dilatação do miocárdio, ocorre uma diminuição nos níveis de expressão da SERCA 2a, do fosfolamba e dos receptores de rianodina (Rya), enquanto os níveis de expressão das calseqüestrinas permanecem inalterados. O mecanismo pelo qual a despolarização do túbulo T ativa o retículo sarcoplasmático ocorre via receptores de diidropiridina (DHP), que são canais de Ca2+ voltagem-dependentes localizados na membrana do túbulo T; funcionam como sensor de voltagem e desencadeiam a liberação de Ca2+ do RS vizinho. Esse aumento de Ca2+ produz a abertura dos canais de cálcio rianodina-dependentes (canais do tipo L) da membrana do RS, fenômeno conhecido como “liberação de Ca2+-induzida por Ca2+”50. No miocárdio, essa parece ser a forma mais rápida de liberação do Ca2+ armazenado no RS. Recentemente, pela observação de que na hipertrofia e insuficiência cardíaca em ratos ocorre um acoplamento prejudicado entre os receptores de DHP e diidropiridina, surgiu um novo conceito: “distúrbio sistólico da homeostasia do cálcio”51,52. Nesse modelo, o Ca2+ citosólico é removido para a RS pela SERCA, a qual é modulada pelo fosfolamba, e para o espaço extracelular pelo trocador Na+/Ca2+. Na insuficiência cardíaca, o número de transportadores e a freqüência de transporte do DHP e Rya permanecem inalterados, uma vez que o limiar de ativação do Rya é aumentado. A recaptação de cálcio para o RS pela SERCA está reduzida, o que é compensado, em parte, pelo aumento na expressão trocador52. É interessante salientar a especificidade de resposta que diferentes estímulos podem produzir; por exemplo, o treinamento físico com natação provoca aumento na captação de cálcio pelo SR, enquanto o treinamento físico com esteira não produz adaptações na função intrínseca e no número de canais de Ca2+ tipo L (Rya)53. A hipertrofia cardíaca também tem sido demonstrada através de fatores neurais. São inúmeras as demonstrações de que estímulos do sistema simpático ou a estimulação dos receptores adrenérgicos pelos neurotransmissores naturais ou por agonistas sintéticos, como o isoproterenol54, induzem hipertrofia cardíaca. Tanto a estimulação dos receptores α1 como a dos receptores β1-adrenérgicos podem induzir hipertrofia cardíaca, portanto envolvendo a geração dos sinais do sarcolema que ativam os mensageiros intracelulares que irão regular a atividade gênica necessária ao crescimento da célula55. Um significativo número de trabalhos tem se preocupado em investigar se o treinamento físico altera essas vias de sinalização intracelular, porém não existe consenso sobre seus efeitos56. Uma característica clara demonstrada na literatura é que o “drive” simpático e os níveis de catecolaminas circulantes estão diminuídos no indivíduo treinado quando comparado com o sedentário56–58, porém no coração isso não é muito claro. Os níveis de catecolaminas no miocárdio têm sido demonstrados inalterados ou aumentados em diferentes programas de treinamento físico6. A resposta inotrópica do coração as catecolaminas encontram-se aumentadas59,60, diminuídas61 e inalteradas62 com o treinamento físico. O número de receptores β-adrenérgicos no ventrículo e a atividade da adenilato ciclase permaneceram também inalterados63–65 ou foram diminuídos59,66 pelo treinamento aeróbio crônico, e uma similar falta de clareza existe em relação aos efeitos do exercício físico sobre as proteínas G, que estão integralmente envolvidas no processo de acoplamento do receptor adrenérgico com o processo de produção dos segundos mensageiros intracelulares56,63,66. E poucos são os estudos relacionados com os efeitos do treinamento físico sobre os receptores α-adrenérgicos do coração. Portanto, é difícil concluir como o treinamento físico interfere nas vias de sinalização adrenérgica no coração. Fatores vasculares Além dos efeitos sobre a expressão de genes inerentes à fibra cardíaca, o exercício físico pode regular também alguns fatores vasculares. Em vasos coronários, o exercício físico modula a expressão do óxido nítrico (NO). O NO é um fator de relaxamento derivado do endotélio (EDRF), que desempenha um importante papel vasodilatador na circulação coronária67. Durante o exercício físico, a síntese de óxido nítrico é aumentada para níveis superiores àqueles verificados em condições basais. Esse efeito do exercício acaba, a longo prazo, aumentando cronicamente o fluxo coronário e potencializando a vasodilatação durante a administração de acetilcolina67. Em síntese, a hipertrofia cardíaca é controlada de maneira complexa e multifatorial, incluindo diversos fatores físico-hemodinâmicos, neuro-humorais e genéticos. O papel desses fatores na gênese da hipertrofia cardíaca em resposta a estímulos específicos (fisiológicos ou patológicos) permanece um desafio. Adventos na área da genômica, que permitem a análise simultânea dos padrões de expressão de milhares de genes e proteínas em situações biológicas complexas, vem facilitando essa tarefa. Assim, novos genes/proteínas candidatos estão sendo identificados e caracterizados com abordagens experimentais e clínicas. O melhor conhecimento desse processo deve gerar novas oportunidades de intervenção terapêutica para a redução da morbi-mortalidade que acompanha a hipertrofia cardíaca. Volume 5 / Número 2/ 2002 Sem título-26 77 26/06/03, 14:57 77 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Referências bibliográficas 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 78 Sem título-26 WEBER KT, BRILLA CG et al. Myocardial remodeling and pathological hypertrophy. Hospital Practice, v. 26, p. 73–80, 1991. MACDOUGALL JD, TUXEN D et al. Arterial blood pressure response to heavy resistance exercise. J Appl Physiol, v. 58, p. 785–790, 1985. NISHIYASU T, NAGASHIMA K et al. Human cardiovascular and humoral responses to moderate muscle activation during dynamic exercise. 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