CORAÇÃO HIPERTRÓFICO CORAÇÃO NORMAL Átrio direito Ventrículo direito Átrio esquerdo Ventrículo esquerdo Figura 1. Coração humano saudável (à esquerda) e coração com hipertrofia patológica (à direita). No coração normal, saudável, estão identificadas as cavidades do órgão: átrios (direito e esquerdo) e ventrículos (direito e esquerdo). O coração hipertrófico mostra o aumento da espessura das paredes dos ventrículos (seta vermelha), com a consequente redução das câmaras ventriculares A hipertrofia cardíaca é um grave problema de saúde pública. Atualmente, mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem dessa doença, que prejudica a capacidade física e a qualidade de vida, além de causar muitas mortes prematuras. Esse número, porém, não revela a real dimensão do problema. Para isso, é preciso somar a esse grupo a parcela da população que sofre de pressão alta (hipertensão), obesidade, diabetes e doenças das artérias coronárias (que irrigam o coração), e ainda indivíduos com alto nível de colesterol (um tipo de gordura) no sangue e aqueles que já sofreram infarto, são fumantes ou não praticam atividade física. Os que se encaixam em alguma dessas categorias correm o risco de ser afetados também pela hipertrofia cardíaca. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), que coordena os assuntos de saúde pública no Brasil, os problemas cardíacos causaram mais de 300 mil mortes no país em 2008. Esse número tem crescido de modo assustador desde 1996 (figura 2). Portanto, divulgar a frequência com que a população é acometida e os riscos e consequências das doenças que envolvem o coração e 34 | CIÊNCIAHOJE | VOL. 48 | 288 os vasos sanguíneos é crucial para que a população brasileira se conscientize da importância e da urgência de adotar hábitos mais saudáveis em seu cotidiano. Para minimizar o sofrimento desses pacientes e prevenir a hipertrofia cardíaca, vários grupos de pesquisa, inclusive do Brasil, procuram entender os mecanismos microscópicos que ocorrem nas células do coração e que determinam os efeitos patológicos associados ao crescimento anormal desse órgão. Esses estudos visam identificar novos alvos para fármacos, ou seja, encontrar processos moleculares que possam ser ativados ou desativados por medicamentos, permitindo adiar ou interromper em definitivo o progresso da doença. As pesquisas sobre as origens da hipertrofia cardíaca já mostraram um resultado interessante. Um dos fatores que pode estar associado a essa doença é a reativação, em adultos, de genes que em condições normais só são expressos (ou seja, só estão ‘ligados’) durante os estágios fetais, antes do nascimento. Essa descoberta pode levar a uma forma de diagnóstico antecipado dessa doença em indivíduos adultos saudáveis.