SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO EDUCACIONAL REVISÃO DAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS COMPORTAMENTALISTA, HISTÓRICOCULTURAL E EPISTEMOLOGIA GENÉTICA CURITIBA 2009 Walmir Marcelino Teixeira REVISÃO DAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS COMPORTAMENTALISTA, HISTÓRICOCULTURAL E EPISTEMOLOGIA GENÉTICA Trabalho apresentado à Coordenação do Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional, da Secretaria de Estado da Educação. CURITIBA 2009 2 SUMÁRIO 1 IDENTIFICAÇÃO ................................................................................................................. 4 1.1 Área................................................................................................................................ 4 1.2 Professor ........................................................................................................................ 4 1.3 Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional/SEED/DEEIN ................. 4 2 APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 5 3 A AFIRMAÇÃO DE VYGOTSKY.......................................................................................... 7 4 SUPOSTA RESPOSTA DE SKINNER ............................................................................... 10 5 SUPOSTA RESPOSTA DE PIAGET .................................................................................. 13 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 16 7 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 18 3 1 IDENTIFICAÇÃO 1.1 Área Núcleo de Articulação da Inclusão Educacional 1.2 Professor Walmir Marcelino Teixeira 1.3 Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional/SEED/DEEIN 4 2 APRESENTAÇÃO Este texto tem por objetivo ler, analisar e interpretar como Piaget e Skinner responderiam a determinada afirmação de Vygotsky1 (1996). Para isso se fez necessário verificar como e em que circunstâncias o tema da afirmação de Vygotsky foi abordado pelos autores citados. Outro fator de interesse foi identificar elementos significativos que resultassem no enfrentamento, na concordância/discordância, ou seja, semelhanças e/ou diferenças no pensamento/teoria desses autores sobre o tema abordado. Assim sendo, foi feita breve pesquisa bibliográfica no sentido de delimitar o significado das concepções teóricas comportamentalista, histórico-cultural e da epistemologia genética visto que foi nesse contexto em que se apresentou a problematização. Nesse percurso, encontrou-se em La Taille (1992) proposta instigante feita pelo autor a três pesquisadores intitulados Vygotskianos (OLIVEIRA apud LA TAILLE, 1992), Wallonianos (DANTAS apud LA TAILLE, 1992) e Piagetianos (LA TAILLE, 1992). No texto acima referido foram apresentadas perguntas que abordavam temas como a universalidade, a autonomia do sujeito e a falseabilidade das respectivas teorias. O tema proposto, para a elaboração do presente texto, girou em torno da zona proximal do desenvolvimento (VYGOTSKY, 1989, 1991) bem como focalizou distinta posição de autores que foram contemporâneos de Vygotsky (Piaget2 e Skinner); no entanto, em determinados momentos remonta às suas investigações para reelaborá-las e/ou ampliá-las. Em seguida, depois de estudadas as citadas concepções teóricas, se procurou identificar de que forma Skinner e Piaget responderiam à afirmação de Vygotsky. Cabe observar que este texto partiu da necessidade de atender ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação em convênio com a Universidade Federal do Paraná, no Curso Aprendendo e Ensinando na Diversidade, ministrado pela Professora Valéria Lüders. Em 2009 o presente texto foi revisto e ampliado para contribuir com os estudos sobre a Teoria Histórico-Cultural da equipe pedagógica do Departamento de Educação Especial e Inclusão Educacional/DEEIN. 1 A grafia do autor difere entre editoras. (1996 Vigotsky; 1991 Vygotsky etc). Optou-se por unificar a grafia do nome do autor no corpo do texto com a grafia dominante nas citações: Vygotsky. 2 Piaget 1896-1980; Vygotsky 1896-1934; Skinner 1904-1990. 5 Para a redação deste texto utilizaram-se aspectos teóricos a partir da bibliografia apresentada durante o curso entre outras referências; fez-se estudo das idéias centrais das concepções teóricas comportamentalistas, histórico-cultural e da epistemologia genética; relatou-se a situação e, em seguida, as considerações finais conforme apresenta metodologicamente Yin (2001). 6 3 A AFIRMAÇÃO DE VYGOTSKY A tarefa de analisar a caracterização de texto construído à luz da Teoria Histórico-Cultural requer atenção especial aos termos aqui abordados. A teoria de Vygotsky foi construída no período pós Revolução Russa (1917) em ambiente cujo predomínio teórico girava e se dividia em torno da psicologia experimental – Wilheim Wundt –, do pragmatismo americano – William James –, das teorias behavioristas/comportamentalistas – Ivan Pavlov e John B. Watson – e, a teoria gestáltica – Wertheimer, Kohler e Koffka (COLE e SCRIBNER, apud VYGOTSKY, 1991) além da psicanálise de Freud. Pode-se caracterizar essas teorias como fontes de consulta para Vygotsky que ora contribuíram para ampliar conceitos, ora para a confrontação de idéias que o auxiliaram na elaboração de teoria psicológica fundamentada na concepção marxista. Para Vygotsky “nenhuma das escolas de psicologia existentes fornecia as bases firmes necessárias para o estabelecimento de uma teoria unificada dos processos psicológicos humanos” (COLE e SCRIBNER, apud VYGOTSKY, 1991). Temas recorrentes abordados por Vygotsky enfocaram a gênese das funções psicológicas superiores, a relação entre pensamento e linguagem e os conceitos pertinentes aos processos que levam ao desenvolvimento e aprendizagem humana. Sendo assim, como tema que gerou a reflexão e posterior motivação para a elaboração do presente texto, faz notar Vygotsky (1996, p.?), Um ensino orientado a uma etapa de desenvolvimento já completada é ineficaz desde o ponto de vista do desenvolvimento geral da criança; não é capaz de dirigir o processo de desenvolvimento, somente retroage. A teoria da zona de desenvolvimento proximal origina uma fórmula que contradiz exatamente a orientação tradicional: ‘o único ensino bom é o que se antecipa ao desenvolvimento’. A afirmação de Vygotsky critica a orientação dita tradicional que, segundo o autor, reforça etapas de desenvolvimento ‘de ontem’ e que, por isso, se torna ultrapassado do ponto de vista do desenvolvimento mental e holístico da criança. Para contrapor essa orientação afirma que a teoria da zona de desenvolvimento proximal é capaz de dirigir o processo de ensino eficaz, porque se antecipa ao desenvolvimento da criança. 7 Nesse sentido, buscou-se em Carrara (2004) o seu ponto de vista sobre a zona de desenvolvimento proximal. No entanto, antes dessa definição parece importante caracterizar o que Vygotsky entende sobre a zona de desenvolvimento real. Segundo Carrara (2004) “Vygotsky percebeu que, para avaliar esse desenvolvimento, utilizava-se apenas aquilo que a criança era capaz de fazer de forma independente, ou seja, sem a ajuda de outros” (CARRARA, 2004, p. 143). Vygotsky afirma que no início do Século XX acreditou-se que o uso de testes para avaliar e determinar o nível de desenvolvimento mental dos sujeitos poderia auxiliar a educação para imprimir ações baseadas em determinados limites – sem ultrapassá-los. Para Vygotsky “esse procedimento orientava o aprendizado em direção ao desenvolvimento de ontem, em direção aos estágios de desenvolvimento já completados” (1991, p.100). O nível de desenvolvimento psíquico (real) já alcançado pela criança impulsionou Vygotsky (1991) a considerar outro indicador – nível ou zona de desenvolvimento próximo. Segundo Carrara: “zona de desenvolvimento próximo se manifesta por aquilo que a criança ainda não é capaz de fazer sozinha, mas já é capaz de fazer em colaboração com um parceiro mais experiente” (CARRARA, 2004, p. 143). Portanto, parece que a crítica central do excerto textual de Vygotsky, que ora se analisa, manifesta-se na necessidade de se observar o nível de desenvolvimento em que se encontra a criança. Segundo Vygotsky a zona de desenvolvimento proximal [...] é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (1991, p.97). Oferecer à criança aquilo que ela já sabe não acrescentará subsídios para a sua aprendizagem nem desenvolvimento. Tampouco se pode oferecer ensino muito além da sua possibilidade de aprendizagem, entenda-se essa ação como aquilo que a criança é incapaz de fazer mesmo com a ajuda de alguém (CARRARA, 2004, p. 144). A teoria de Vygotsky procurou, assim, desenvolver processos em movimento e em mudança. Ou seja, as análises presentes na sua pesquisa e estudos científicos procuraram entender e explicar como ocorrem as transformações dos processos psicológicos elementares em processos com maior complexidade. 8 Sendo assim, parece claro o ponto central do pensamento de Vygotsky (1991) – parte da necessidade do meio escolar oferecer condições para focalizar o trabalho educacional em níveis de desenvolvimento ainda não alcançados pela criança, dentro das suas possibilidades, ou seja, que logo após o apoio e a mediação do outro, consiga, por si só, desenvolver o trabalho. 9 4 SUPOSTA RESPOSTA DE SKINNER Vygotsky partiu do princípio de que para a implementação de novos métodos de pesquisa seria necessário identificar como foram desenvolvidos os procedimentos experimentais dos autores que o antecederam, no que diz respeito às resoluções dos problemas psicológicos fundamentais. O autor situa a estrutura estímulo-resposta como sendo a base de todos os experimentos psicológicos anteriores, considerando-se inclusive a diversidade de detalhes e procedimentos (VYGOTSKY, 1991, p.67). A exemplo disso, Vygotsky discorre sobre teórico do behaviorismo quando diz A teoria pavloviana, por exemplo, utilizou a noção de excitação cortical induzida por vários estímulos para explicar a formação de conexões cerebrais que tornam o organismo capaz de aprender a responder a estímulos até então neutros (VYGOTSKY, 1991, p.67). Assim, a estrutura estímulo-resposta pertence ao quadro experimental que propicia contexto interessante para o pesquisador descrever processos que tendem a ser proporcionados pelos estímulos (VYGOTSKY, 1991, p.68). Nessa abordagem teórica que adota a estrutura estímulo-resposta para a psicologia se pode situar o trabalho desenvolvido por Skinner. Diante da afirmação de Vygotsky a respeito da zona de desenvolvimento proximal e o ‘bom aprendizado’ o que diria Skinner? Sabe-se que esse autor firmou-se como um dos principais teóricos do behaviorismo. Segundo Gadotti: [...] embora influenciado pelo behaviorismo de Watson (1878-1958), parece seguir mais os trabalhos de Pavlov e Thorndike que se caracterizam pelo conexionismo – aprendizagem por conseqüências recompensadoras – e pelo condicionamento clássico –, processo de aprendizagem que consiste na formação de uma associação entre um estímulo e uma resposta aprendida através da contigüidade, respectivamente (GADOTTI, 1995, p. 288). Nesse caso, o autor trata da perspectiva centrada no indivíduo e o seu desenvolvimento ocorrerá por rígido determinismo individual descartando-se a influência da sociedade ou da cultura. Os procedimentos experimentais utilizados por Vygotsky diferiam das experiências aplicadas pela linha teórica do behaviorismo. Vygotsky utilizou auxiliares externos no decorrer das experiências, tirou o foco do nível do desempenho em si (estímulo e resposta) e concentrou sua atenção aos 10 procedimentos e métodos (processos) utilizados para alcançar determinado desempenho. Segundo Gadotti [...] são organizadas contingências de reforço, ou seja, quando desejamos que um organismo tenha um comportamento que não lhe é peculiar, começamos a reforçar o desempenho que se aproxime do esperado [...] Os reforçadores são artificiais, como: ‘treino’, ‘exercício’ e ‘prática’ (1995, p. 288). Procedimentos mecanicistas como os apontados acima, diferem da perspectiva dos auxiliares externos de Vygotsky para mediar determinado comportamento. Os estímulos auxiliares, de acordo com o autor, podem permitir “[...] aos seres humanos, com o auxílio de estímulos extrínsecos, controlar o seu próprio comportamento” (VYGOTSKY, 1991, p.45). Nas formas superiores do pensamento humano, o indivíduo participa ativamente e modifica a situação estimuladora em que a totalidade do processo produzirá determinado comportamento (VYGOTSKY, 1991). Skinner procurou, com insistência, explicitar pontos críticos como a tentativa de desvincular sua obra com a de John Broadus Watson (1878-1958), e, com isso, desfazer o entendimento de que seria defensor da Psicologia Estímulo-Resposta. Outro ponto alvo de oposição se refere ao Behaviorismo Radical como linha teórica que critica o mentalismo ou, que põe em dúvida a existência da mente (LOPES e ABIB, 2003). No entanto, segundo Carvalho Neto (2002) o Behaviorismo Radical de Skinner trata de uma filosofia que fundamenta a Ciência do Comportamento e que tenderia substituir a Psicologia dominada por mentalistas. Assim, por meio da Análise Experimental do Comportamento, Skinner concentraria seus esforços para analisar e tratar especificamente do comportamento relegando a ação mental como ponto central de estudo da psicologia (LOPES e ABIB, 2003). Lopes e Abib (2003) citam Ryle (1949/1980) para caracterizar o que se considera como inferência do processo mental em dado comportamento. Nesse sentido, atribui-se ao indivíduo a possibilidade de realizar tarefa por meio da autoinstrução em virtude do “reconhecimento intelectual de regras ou critérios” que se dá antes da ação e, por conseguinte, pode ser considerado como desempenho inteligente. Assim sendo, a perspectiva do que se quer entender a partir das afirmações acima, induzem a pensar que Skinner responderia: 11 - O bom ensino é aquele em que se moldam comportamentos por meio de exercícios de fixação, até que se alcancem os resultados próximos do esperado. Ou seja, utilizando as palavras de Luna: [...] explicar o comportamento é assumir controle sobre ele. Controlamos o comportamento do aluno quando, conhecido o seu repertório e as conseqüências que têm valor reforçador para ele, planejamos uma seqüência tal que aumente a probabilidade de que passe a se comportar segundo os objetivos instrucionais estabelecidos (LUNA, 2005, p. 156). Dito de outra forma, para Skinner quanto maior o reforço de determinada ação educacional maiores serão as possibilidades do indivíduo exercer seu autocontrole, ou controle do comportamento chamado conhecimento (LUNA, 2005). 12 5 SUPOSTA RESPOSTA DE PIAGET Como seria a resposta de Piaget acerca da afirmação de Vygotsky? A teoria de Piaget foi desenvolvida em estudos sobre os processos de construção do pensamento nas crianças. Resumidamente poderia se afirmar que, segundo Piaget, há três períodos do desenvolvimento mental. Esses períodos estão relacionados com a maturidade da criança, os quais são determinados em função da idade cronológica: dos 2 aos 7 anos de idade, Piaget considera que a criança está apta para desenvolver habilidades como a linguagem e o desenho. Como segundo estágio de desenvolvimento, que ocorre entre os 7 e 11 anos, o autor considera que a criança desenvolve o pensamento lógico. O terceiro estágio de desenvolvimento, que Piaget descreve como a capacidade da criança lidar com abstrações e de raciocinar com realismo acerca do futuro, compreende a faixa etária de 11 a 15 anos (GADOTTI, 1995, p. 156). Moro destaca as principais contribuições dos estudos sobre Piaget na educação: [...] da construção da inteligência como critério para o estabelecimento de objetivos educacionais; do emprego de provas operatórias para fins de diagnóstico e de avaliação do aluno; da escolha de noções operatórias como conteúdos dos programas escolares; da seleção e ordenação dos conteúdos escolares conforme sua complexidade estrutural; da psicogênese de conteúdos propriamente escolares; da construção de uma teoria de aprendizagem construtivista; de situações de interação social de crianças em aprendizagem (MORO, 2005, p.120). Nesse sentido, parece que a contribuição de Piaget na Área da Educação tem merecido muito empenho de pesquisadores ao longo do Século XX até os dias atuais. Deve-se levar em conta que o autor “não teve como objetivo científico investigar a aprendizagem escolar. [...] foi levado a estudar a aprendizagem das estruturas operatórias, mas por razões epistemológicas, ao ser contestado por críticos da corrente behaviorista” (MORO, 2005, p.118). Piaget também foi criticado por não levar em conta, ou dito de outra forma, pelo fato de não se aprofundar nos aspectos culturais e nas interações sociais dos sujeitos como importantes fatores para o desenvolvimento psíquico dos seres humanos. Yves de La Taille cita Piaget para confrontar, de certa maneira, frequentes críticas: “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações 13 sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (PIAGET, 1967, apud LA TAILLE, 1992, p.11). La Taille descreve que mesmo que se possam constatar afirmações como a descrita acima, Piaget não se deteve longamente sobre os fatores sociais como influenciadores e determinadores do desenvolvimento humano. No entanto, o autor considera que os estudos de Piaget, na área de interação social, foram importantes tanto para a sua teoria como para o tema em questão, mesmo que com tímida contribuição (LA TAILLE, 1992). Vygotsky pontua algumas observações críticas sobre Piaget quando afirma que ele não considerou a importância da fala e das suas funções como forma de comunicação da criança, embora possa ter reconhecido sua importância. Vygotsky menciona que o conceito de Piaget sobre a fala egocêntrica se mostra distante da inteligência prática, além de entender que “a fala egocêntrica das crianças deve ser vista como uma forma de transição entre a fala exterior e a interior” (VYGOTSKY, 1991, p.29). Referindo-se ao breve levantamento contextual apresentado acima, é possível afirmar que a posição de Piaget acerca da afirmação de Vygotsky tenderia a ser formulada da seguinte maneira: Mesmo que equivocadas compreensões sobre a Teoria de Piaget estejam arraigadas nas mentes e nas práticas de muitos, como por exemplo, o entendimento que o autor propõe ‘aprendizagem de respostas’; ‘de selecionar e ordenar conteúdos que supostamente tenham correspondência entre faixas etárias com as estruturas de inteligência organizadas de forma mecânica e pontual’ há de se levar em conta o conjunto da sua obra. Segundo Moro, O estudo do lugar das interações sociais de crianças nas construções da inteligência tem sido, nas últimas décadas, um dos responsáveis, a nosso ver, pela mudança de orientação das aplicações de Piaget na educação em creches e pré-escolas: de programas de intervenção exclusivamente orientados para o desenvolvimento pré-operatório, via noções lógicas, tendo em vista chegar às operações concretas, para a utilização das contribuições teóricas sobre o modelo de funcionamento cognitivo da equilibração no plano sensorial-motor e no pré-operatório, para organizar e avaliar ambientes provocativos às elaborações infantis (MORO, 2005, p.129). Sendo assim, parece que para Piaget, o bom ensino é aquele que possa ser estabelecido entre aquele que ensina e aquele que aprende conservadas as relações entre a seleção e ordenação dos conteúdos escolares conforme sua complexidade 14 estrutural, bem como da escolha de noções operatórias com os conteúdos dos programas escolares. (MORO, 2005, p.120). 15 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A aprendizagem e o desenvolvimento humano assumem caráter fundamental nas pesquisas teóricas de Skinner, Piaget e Vygotsky. Os estudos e investigações de Vygotsky tendem a explicitar posicionamento divergente de seus colegas teóricos e contemporâneos, embora não seja incomum encontrar recorrências aos seus pensamentos e citações nominais dos mesmos; ao citar autores como Thorndike, Piaget, Koffka entre outros, Vygotsky amplia a perspectiva dos seus próprios pontos de vista. A respeito dos behavioristas, no qual se inclui Skinner (Watson, Thorndike e Pavlov), Vygotsky considera que o método atinge seus objetivos em relação aos reflexos simples, no entanto apresenta limitações no que concerne ao estudo dos processos psicológicos complexos. O método behaviorista leva em conta aspectos como o estudo do comportamento humano e não aprofunda a análise da história geral do desenvolvimento humano (VYGOTSKY, 1991). Vygotsky privilegia a metodologia de mapeamento das mudanças no desenvolvimento que ocorrem no tempo e no espaço. A criança pode interferir na sua própria história de forma competente utilizando instrumentos de participação ativa no seu meio transformando-o. Para isso Vygotsky atribui como condição humana a capacidade de criar e usar estímulos auxiliares ou ‘artificiais’ para situações e reações inéditas, desde a infância. Segundo o autor esses estímulos e reações auxiliares são desenvolvidos como forma de adaptação: meio e instrumentos culturais, a linguagem que é falada por pessoas que interagem com a criança e o uso de recursos que se encontram disponíveis como no caso de transformar objetos (caixas, pedaços de madeira, ossos) em personagens e/ou elementos da brincadeira: ‘trenzinho’, ‘casinha’, etc. (VYGOTSKY, 1991). Vygotsky e Piaget desenvolveram estudos sobre o organismo ativo: observação do comportamento infantil. Vygotsky tende a observar o comportamento infantil sob a perspectiva do materialismo dialético, do entendimento do organismo com alto grau de plasticidade e do meio como contexto cultural e histórico em transformação. Enquanto o suporte biológico dos estágios universais de Piaget são evidenciados, por outro lado, 16 Vygotsky tende a destacar a interação entre as condições sociais e os substratos biológicos do comportamento em cada estágio de desenvolvimento da criança. Há também a compreensão por parte do autor que o sistema funcional de aprendizado pode ser semelhante em alguns aspectos de uma criança com a de outra, concepção diferente da de Piaget que “[...] descreve estágios universais idênticos para todas as crianças em função da idade” (JOHN-STEINER e SOUBERMAN, apud VYGOTKSY, 1991, p.141). Portanto, apresentadas as circunstâncias acima, pode-se considerar que o destaque maior nessas concepções está o estudo do desenvolvimento humano, ora centrado no objeto de aprendizagem, ora nas estruturas e mecanismos da psicologia humana, ora no ser humano como alguém essencialmente histórico e sujeito às especificidades do contexto cultural. 17 7 REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995. CARRARA, K. (org.) Introdução à Psicologia da Educação: seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004. CARVALHO NETO, Marcus Bentes de. Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em Psicologia, 2002, 6(1), p. 13-18. GADOTTI, Moacir. História das idéias pedagógicas. São Paulo: Ática, 1995. LOPES, Carlos Eduardo. ABIB, José Antônio. O Behaviorismo Radical como Filosofia da Mente. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, 16(1), pp. 85-94 LA TAILLE, Yves de. OLIVEIRA, Marta Khol. 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