SOBRATI DELIRIUM: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA RIO DE JANEIRO 2011 2 LUIZ FORTUCE FILHO DELIRIUM: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA Tese apresentada ao Curso de Mestrado em Terapia Intensiva (MPTI) da SOBRATI para obtenção do título de Mestre em Terapia Intensiva. Orientador: Dr.Douglas Ferrari Carneiro Co-orientador: Dr. Lucio Moraes Lanzieri RIO DE JANEIRO 2011 3 DEDICATÓRIA Dedico esta monografia a todos os pacientes, verdadeiros “livros”de aprendizado dessa nova maravilhosa profissão – ser médico, meu muito obrigado. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço... Agradeço primeiramente a Deus, por ter me dado a chance de ser aquilo que escolhi, por ter confiado a mim o dom de cuidar e por todas as coisas maravilhosas que têm feito em minha vida. Aos meus pais, Luiz e Regina, por terem acreditado em mim, por terem me apoiado e incentivado em minhas conquistas. Aos meus irmãos, Felippe e Pedro, pelos incentivos de sempre buscar algo mais. Aos familiares dos nossos pacientes, heróis de batalhas pessoais, que partilharam suas vivências, choraram e riram conosco, pela confiança depositada e toda cumplicidade, mostrando-nos a riqueza e a beleza da relação humana. Ao meu tio Dr. Fernando, exemplo de profissional, por toda dedicação, carinho e confiança; por fazer-se presente a cada momento que precisei. A Dr. Lúcio, meu co-orientador, por todas as dicas e conselhos dispensados. Obrigado pela amizade e confiança. À Dr. Douglas Ferrari, meu orientador, por trazer contribuições importantes dentro da área de terapia intensiva,urgência e emergência com sua vasta experiência profissional. À toda equipe multidisciplinar (enfermeiros, técnicos, fisioterapeutas,nutricionistas), verdadeiros alicerces de nosso serviço, meu muito obrigado. 5 LISTAS DE SIGLAS CAM-ICU Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit DSM-III Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders GABA Ácido Gama-Aminobutírico UTI Unidade de Terapia Intensiva VM Ventilação Mecânica 6 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 07 2. OBJETIVOS................................................................................................ 10 2.1 Objetivo Geral........................................................................................ 10 2.2 Objetivos Específicos............................................................................. 10 3. METODOLOGIA.......................................................................................... 11 4. REVISÃO DA LITERATURA........................................................................ 12 4.1 Histórico do Delirium............................................................................... 12 4.2 Fisiopatologia do Delirium ..................................................................... 13 4.3 Sinais e Sintomas do Delirium................................................................ 15 4.4 Classificação das drogas e principais efeitos......................................... 19 4.4.1 Principais efeitos............................................................................ 23 4.5 Tratamento 28 4.6 Prognóstico 29 CONCLUSÃO................................................................................................. 31 RFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 33 7 1. INTRODUÇÃO Delirium é definido como uma perturbação da consciência, com alterações cognitivas ou distúrbios de percepção, que podem se desenvolver a curto ou longo prazo, sendo causada em pacientes que estão com um quadro clínico ou cirúrgico que inspira cuidados extremos (EIJIK e SLOOTER, 2010). Verifica-se que o delírium é um distúrbio neurológico que possui grande prevalência em pacientes graves internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) (PANDHARIPANDE et al, 2006). Porém, destaca-se que a importância de cuidar adequadamente destes casos, não reside apenas em evitar sua já tão elevada incidência, mas, sim, definir formas de atuação sobre as suas conseqüências, tais como, minimizar as taxas de morbidade, mortalidade e evitar os longos períodos de internação que representam um aumento considerável no custo do tratamento (MORI et al, 2009). Para facilitar a identificação do delirium de forma objetiva foram criados instrumentos, dentre estes destaca-se o Confusion Assessment Method for the Intensive Care Unit (CAM-ICU). Nos estudos em que aplicaram o uso do CAM-ICU na detecção do delirium em pacientes graves internados, especialmente na UTI clínica e coronariana, verificou-se que sua incidência apresentou uma variação entre 14,8% e 89%. Identificou-se também que este quadro se desenvolveu nos primeiros cinco dias de internação na UTI, com uma duração variando entre um e três dias. Nos casos de internações mais longas, estes episódios se apresentaram entre um a dez dias, ao realizar um comparativo com pacientes que não desenvolveram o delirium (BALAS et al, 2007; FAN et al, 2008). Existem três tipos de delirium; o Hiperativo quando o paciente se mantém hiperalerta, com um relativo aumento da atividade psicomotora, traços de agressividade, agitação, e reiteradas tentativas de retirar sondas e cateteres, com 8 um quadro mais comum de ilusões e alucinações; Hipoativo quando o paciente apresenta um estado letárgico, determinado por um quadro hipoalerta, redução da atividade psicomotora, sedação e apatia; e o Misto quando se depara com um paciente que alterna seu estado em períodos de hiperatividade e de hipoatividade durante o dia, apresentando claramente as características de ambas as formas (POVINELLI et al, 2008). Nos pacientes acometidos pela forma hipoativa observou a ocorrência em indivíduos idosos dependentes de Ventilação Mecânica (VM) (51.8%) ao se comparar com os mais jovens (26.6%). Verifica-se que o tipo misto de delirium foi mais freqüente entre os jovens (54.9%). Na UTI cirúrgica e de trauma pode-se observar uma maior prevalência na forma hipoativa (64% cirúrgico e 60% trauma) seguidos pela forma mista (9% e 6% respectivamente) (PANDHARIPANDE et al, 2007). Deve-se levar em conta o salientado por Puntillo (2007) no que se refere à alta prevalência do delirium se apresentando em 66% a 84% dos pacientes, independente do tipo de internação que estão expostos, sejam eles internados em UTI, enfermaria do hospital, ou no departamento de emergência. Na literatura específica encontram-se listados como sendo fatores predisponentes para o desenvolvimento de delirium em pacientes críticos, destacando-se a hipertensão arterial, fumo, hiperbilirrubinemia, e o uso de morfina através de cateter peridural. Reconhece-se, igualmente, alguns outros fatores relacionados a este estado, tais como, a redução prévia da cognição, doença crítica, administração de determinados medicamentos, que também oferecem risco de desencadeamento dos quadros de delírium, tendo por sinal a alteração ou flutuação aguda do estado mental, tendo por característica a desatenção, alteração do nível de consciência, pensamento, discurso desorganizados e idade avançada (PESSOA e NACUL, 2006; VILELLA e FERREIRA, 2006). O estudo justifica-se pois embora seja uma patologia muito freqüente, é subdiagnosticada, já que muitas vezes os médicos atribuem seus sintomas à idade do paciente, à demência ou a outras desordens mentais. Além disso, está associada a muitas condições médicas complexas e pode ser difícil de ser detectada. O conhecimento de sua fisiologia, suas diferentes etiologias e suas manifestações 9 clínicas é imprescindível para que haja realização do diagnóstico e tratamento adequados. A ação sobre os pacientes portadores de delirium deve ser realizada por equipe multiprofissional, dedicada a avaliar continuamente os pacientes através de instrumentos e protocolos pré-estabelecidos com a finalidade precípua de prevenir ou detectar precocemente este distúrbio e, instituir medidas terapêuticas efetivas. Desta maneira defende-se a necessidade de realizar processos de atualização dos profissionais, o que favorece a efetivação de intervenções mais eficazes e que realmente possam contribuir, para garantir um melhor prognóstico desses pacientes em terapia intensiva. 10 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Explorar na literatura o Delirium com foco na Unidade de Terapia Intensiva. 2.2 Objetivos Específicos Conhecer o histórico do Delirium Descrever a fisiopatologia do Delirium Classificar as drogas e principais efeitos Verificar os sinais e sintomas do Delirium 11 3. METODOLOGIA Foi realizada uma revisão sistemática da literatura, de estudos sobre as drogas utilizadas na Unidade de Terapia Intensiva que causam o Delirium e os principais efeitos. As bases de dados eletrônicas consultadas foram a Medline (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online), LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo (Scientific Electronic Library Online), Biblioteca Critical Care Medicine através do site http://journals.lww.com/ccmjournal/pages/default.aspx e o site www.icudelirium.org, através das palavras chaves: Delirium, Unidade de Terapia Intensiva (Intensive Care Unit), efeitos, analgesia, sedação (Sedation). Foram incluídos nessa revisão sistemática os artigos que atenderam os seguintes critérios: serem dos idiomas inglês e português, sendo publicados no período de 2005 a 2010. Após a coleta de dados dos estudos incluídos na revisão sistemática, foi realizada análise descritiva, a qual permitiu resumir e avaliar os dados oriundos dos estudos incluídos nesta revisão sistemática. Foram encontrados nas bases de dados 43 artigos, sendo selecionados 30 artigos que atendiam aos critérios de inclusão. 12 4. REVISÃO DA LITERATURA 4.1 Histórico do Delirium O sentido etimológico do delirium advém do latim “delirare”, que significa “estar fora do lugar”. Verifica-se que foi uma das primeiras doenças mentais descritas na literatura médica. Pode verificar-se na literatura, trabalhos elaborados pelo médico grego Hipocrates (460-366 a.C.), onde encontra-se inúmeras referências de conjunto de sintomas que hoje poderiam ser reconhecidas como delirium. A palavra delirium foi provavelmente introduzida na literatura médica no século I d.C., por Celsus, sendo usada tanto para descrever estados de agitação, como sonolência excessiva decorrente de distúrbios mentais. Destaca-se, ainda, que no final do século XVIII, foi publicado por James Sims um artigo médico que se dedicava a tratar sobre o delirium, onde se observa a diferenciação da loucura, e sendo subdividida em duas variantes clínicas: hipoativo (apático) ou hiperativo (agitado). Foi realmente a primeira vez que o delirium recebeu atribuição única, sem ser confundido com estados de loucura ou confusão mental. A partir do século XIX verifica-se o desenvolvimento do conceito e o tratamento do delirium, passando a ser considerado como doença reversível de cognição e do comportamento, possuindo associação com a disfunção cerebral, por sua vez decorrente de inúmeras causas orgânicas. Neste processo evolutivo, verifica-se a retirada do vocabulário médico alguns termos, tais como, letargia, frenite e parafrenite, com concomitante o uso do termo delirium de forma consistente, como sendo uma doença cerebral. 13 Mesmo com os avanços conseguidos com uma melhor classificação e denominação do delirium, ainda se mantém com um diagnóstico ineficaz, devido ainda ser efêmero o nível de conhecimento sobre sua epidemiologia, patogênese e fisiopatologia. Romano e Engel (1944) citado por Wacker et al (2005) realizaram estudos, considerados pioneiros, a cerca da fisiopatologia do delirium, visando estabelecer as bases conceituais desta enfermidade, sendo utilizada até os dias atuais. Destaca-se que apenas em 1980, o delirium foi incluso na nosografia psiquiátrica de forma sistêmica, fazendo parte integrante da terceira edição do “Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders” (DSM-III), desenvolvido pela Associação psiquiátrica americana (WACKER et al 2005). 4.2 Fisiopatologia do Delirium É importante reconhecer que a fisiopatologia do delirium ainda se apresenta mal-esclarecida. Alguns estudiosos preceituam que os fatores precipitantes, tais como, infecções, traumas, medicações ou distúrbios metabólicos, poderiam acarretar um desequilíbrio nos neurotransmissores, colocando os pacientes em risco para o desencadeamento do delirium. Considera-se que há vários neurotransmissores envolvidos, que passam a sofrer um declínio, promovendo uma redução da atividade colinérgica, excesso da liberação dopaminérgica e oscilação na atividade seratoninérgica ou Gabaérgica que são os fatores que desencadeiam os sintomas do delirium (LEENTJENS e MAST, 2005). Inouye (2006) salienta que através de estudos dentro da neurofisiologia e da neuroimagem sugere-se a ocorrência da disrupção nas funções corticais complexas, promovendo uma disfunção no córtex pré-frontal, estruturas sub-corticais, tálamo, gânglios da base, córtex pré-frontal e parietal, córtex fusiforme, afetando especialmente o hemisfério não dominante. Das teorias propostas ao longo do tempo visando explicar os mecanismos fisiológicos implícitos no delirium, e de que maneira ocorrem estas falhas, destacam- 14 se três que são as que mais têm suscitado maior atenção dos investigadores, segundo Inouye (2006): A hipótese dos neurotransmissores delineia um déficit no sistema colinérgico, que pode ser causado com a administração de fármacos anticolinérgicos, induzindo ao delirium tanto em humanos como em animais; e a fisiostigmina que tem a capacidade de reverter o delirium associado a fármacos anticolinérgicos. Destacase, ainda, que o excesso dopaminérgico tem sido apresentado como tendo participação no quadro devido à influência que a dopamina assume na regulação da acetilcolina. Nota-se que muito embora os dados apontem para a acetilcolina como o neurotransmissor mais diretamente envolvido no delirium, existe evidências da participação de outros neurotransmissores, que assumem um papel mais secundário. A hipótese da inflamação como fator central na fisiopatologia do delirium é resultante da observação de determinadas citocinas, como a interleucina 1, interleucina 6, fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa) que podem contribuir para a ocorrência de delirium, pois aumentam a permeabilidade da barreira hematoencefálica, provocando alterações na neurotransmissão cerebral. E finalmente a hipótese dos níveis de cortisol que pode estar cronicamente aumentados num organismo sob estresse crônico, e por este motivo relacionado a doença ou fruto de trauma. O hipercortisolismo crônico provoca efeitos nefastos tanto na concentração de serotonina no hipocampo como nos receptores 5-HT1A, contribuindo para o delirium. Aplicando-se o conceito de homeostasia na fisiopatologia do delirium e admitindo a ocorrência de um declínio nas reservas fisiológicas dos sistemas corporais associados à idade, sugere-se a ocorrência de mudanças no cérebro relacionado à idade, considerado fator predisponente no acometimento pelo delirium em pessoas idosas, ao serem submetidas a distúrbios ou agressões fisiológicas. Assim, baseados na heterogeneidade e a natureza multifatorial do delirium, se aceita que múltiplos mecanismos patogênicos podem contribuir para o desenvolvimento do delirium. Girard et al (2005) que dedicou-se a estudar casos de delirium, também demonstra uma predisposição genética a partir da presença do alelo APOE4, que 15 está associado a maior duração do delirium entre pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva. Figura 01. Fisiopatologia do Delirium Fonte: Flacker et al. (1999) 4.3 Sinais e sintomas do Delirium Salienta-se a existência de várias apresentações clínicas do delirium, e cada uma pode apresentar quadros hiperativos semelhantes ao transtorno psicótico agudo ou hipoativo, ou pode ainda ser confundido com depressão ou demência. 16 Delineia-se que o melhor método para o diagnóstico do delírium baseia-se na história clínica e no exame objetivo, de acordo com parâmetros definidos pelo DSMIV (Diagnostic and Statistical Manual of mental Disorders, 4th edition) conforme Quadro. 1. Quadro 1. Critérios para a identificação de Delirium Déficits de consciência ambiental Incapacidade de atender às funções Dificuldade de alterar a atenção Seguintes problemas sentidos perturbação cognitiva Apresentação de agitação, sonolência, psicose, e descolamento déficits de memória e orientação Flutuações na cognição Evidência de uma causa fisiológica Contributivo medicação (por exemplo, benzodiazepinas) As condições médicas (por exemplo, infecções, eletrólito perturbação) a retirada da droga Início agudo, com flutuações do estado mental Desenvolvimento ao longo do curto período de tempo Pode desenvolver-se em horas ou dias Aguda mudança na consciência Fonte: DSM-IV (2000) Para se conseguir um diagnóstico do delirium, é necessário associar o monitoramento da sedação e do delirium, através do método de duas etapas para avaliação da consciência. O primeiro passo é de avaliar a sedação, sendo quantificada pela escala de agitação e sedação de Richmond (The Richmond Agitation and Sedation Scale - 17 RASS). Se o RASS (Quadro 1) for superior a - 4 (-3 até +4), deve-se então seguir para o segundo passo, que é a avaliação do delirium. Quadro 02. Escala de Richmond de Agitação-Sedação (RASS). Pontos Classificação +4 Agressivo +3 Muito Agitado +2 Agitado +1 Inquieto 0 Alerto, calmo Descrição Violento; perigoso. Conduta agressiva; remoção de tubos ou cateteres Movimentos sem coordenação frequentes. Ansioso, mas sem movimentos agressivos ou vigorosos. Não se encontra totalmente alerta, mas tem -1 Sonolento o despertar sustentado ao som da voz (> 10 seg.). -2 Sedação leve -3 Sedação moderada Acorda rapidamente e faz contato visual com o som da voz (<10 seg.). Movimento ou abertura dos olhos ao som da voz (mas sem contato visual). Não responde ao som da voz, mas -4 Sedação profunda movimenta ou abre os olhos com estimulação física. -5 Incapaz de ser despertado Não responde ao som da voz ou ao estímulo físico. Fonte: Pessoa e Nacul (2006) Motivado pela impossibilidade de comunicação por parte de muitos dos pacientes, desenvolveu-se o Confusion Assessment Method for the Intensive Unit 18 Care (CAM-ICU), que é um método diagnóstico fundamentado em parâmetros clínico-diagnósticos, definidos pelo DSM-IV (alteração aguda ou flutuante do estado mental, desatenção, pensamento desorganizado e alteração do estado de consciência). Figura 02. Método de Avaliação da Confusão Mental na UTI (CAM-ICU) Fonte: www.icudelirium.org/docs/CAM_ICU.pdf A abordagem em duas etapas do CAM-ICU é adequada para a maior parte dos pacientes que não consegue se comunicar com o avaliador. Por isso, para aqueles que atingem o passo 2 e apresentam abertura dos olhos apenas com 19 estimulação verbal, a incapacidade para realizar ou completar os componentes do teste de atenção é atribuída à falta de atenção. Com o desenvolvimento de ferramentas de diagnósticos internacionalmente aceitos criou a oportunidade de comparar e verificar o início do processo e dos cuidados intensivos do delirium, sem a necessidade de consultar um psiquiatra. Klugkist et al (2008) avaliaram um total de 194 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, e aplicaram o CAM-ICU durante 5 dias após o procedimento cirúrgico. Nos resultados encontrados, a taxa de prevalência de delirium variou entre 28,4% e 85,5%, sendo o subtipo hipoativo predominante. Observaram que os pacientes com diagnóstico de delirium através do método CAM-ICU possuíam por perfil serem mais velhos, tinham um nível educacional mais baixo, maior tempo de anestesia e tempo de operação, maior permanência na UTI pós-operatória, foram ventilados mecanicamente por um longo tempo no pós-operatório, mais frequentemente reintubados e maior número de leucócitos no pós-operatório. A maioria dos pacientes no pós-operatório com delirium tiveram a menor medida de saturação de oxigênio abaixo de 95%. Conclui-se que a CAM-ICU é um método econômico para que se possa avaliar um quadro de delirium, além de ser facilmente aprendido pelos profissionais de saúde. Segundo Guenther et al (2010) o fluxograma CAM-UTI tem alta sensibilidade, alta especificidade e alta confiabilidade. Avaliações falso-negativos podem ocorrer com pouca freqüência e principalmente refletir o curso flutuante de delírium, o que garante que se considere o CAM-ICU como sendo um instrumento válido para o diagnóstico de delirium, confiável e rapidamente realizado à beira do leito. 4.4 Classificação das drogas e Principais efeitos Aproximadamente 40% dos casos de delirium são causados por medicamentos, já que se pode verificar que os sedativos e analgésicos alteram os níveis dos neurotransmissores do cérebro, podendo indicar como sendo o principal mecanismo no desenvolvimento do quadro de delirium.(DEMEURE e FAIN, 2006). 20 Os agentes mais freqüentemente utilizados em sedação foram divididos em seis grupos: barbitúricos (notadamente o tiopental sódico), benzodiazepínicos (incluindo o midazolam, o diazepam e o lorazepam), derivados fenólicos (propofol), neurolépticos (limitados em sedação exclusivamente ao haloperidol), opióides (incluindo a morfina e o fentanil e seus derivados) e agentes inalatórios (particularmente o isoflurano). Tabela 3. Medicamentos associados com Delirium na UTI Classe Opióides Agente Fentanyl Morfina Meperidine Benzodiazepinicos Lorazepam Midazolam Diazepam Corticoesteróides Prednisone Dexametaxone Comentários Fator de risco independente para o delirium Algumas evidências sugerem que o delírium está associado com aumento da dose de acumulação de drogas Fator de risco independente para o delirium Algumas evidências sugerem que o delírium está associado com aumento da dose de acumulação de drogas Não há estudos prospectivos que demonstram uma relação com manifestações neuropsiquiátricas Relatados casos que identificam uma associação relacionada com a dose com delírio e disfunção cognitiva (ouvir e ler foneticamente) 21 Betabloqueadores Propanolol Metoprolol O propanolol tem a associação mais forte com o delirium e mais evidências disponíveis Fonte: Alexander(2009) Evidencia-se que os benzodiazepínicos têm uma elevada afinidade com o ácido gama-aminobutírico (GABA), podendo promover o delírium. Em um estudo na UTI, o Lorazepam foi um fator de risco independente para a ocorrência do delírium (PANDHARIPANDE e ELY, 2006). Pandharipande et al (2006) em um estudo de coorte, realizaram uma investigação para determinar se os sedativos e analgésicos aumentou a probabilidade de transição diária ao delírium, onde foram avaliados 198 pacientes sob ventilação mecânica, em função da dose de administração de analgésicos. Os resultados mostraram que o uso do Lorazepam foi um fator de risco independente para a transição diária ao delírium, enquanto que o fentanil, morfina e propofol se associaram com maior probabilidade, mas estatisticamente significativo. O aumento da idade e Acute Physiology and Chronic Health II, escores de avaliação, foram preditores independentes também da transição para o delírium. Concluiu-se que a administração do Lorazepam é um potencial fator de risco modificável e importante para a transição para o delírium mesmo após ajuste das variáveis relevantes. Os opióides podem levar à disfunção cognitiva e delírium. Um metabólito da morfina, a morfina-3-glicuronídeo, tem evidente associação com delirium, entretanto, outros opióides, como fentanil ou hidrocodona apresentaram uma diminuição da incidência de delirium. Meperidine tem uma meia-vida longa, e o metabólito primário normeperidina, tem propriedades anticolinérgicas que podem se acumular, causando convulsões e delírium (DEMEURE e FAIN, 2006). Os agentes dopaminérgicos podem contribuir para delírium influenciando a liberação de acetilcolina. Este mecanismo é a base proposta para a bupropiona e levodopa induzirem delírium (INOUYE, 2006). No desenvolvimento e na exacerbação do delirium relacionados à utilização de medicamentos, observou-se que os benzodiazepínicos e os narcóticos pioravam 22 a cognição e agravavam o distúrbio, além de possuírem efeito significativamente maior que os opióides no desenvolvimento do delirium (PISANI et al, 2007). Benzodiazepínicos e propofol possuem um efeito inibidor no neurotransmissor que afeta a vigília e que é um dos principais neurotransmissores envolvidos na etiologia do delirium. A sedação e amnésia produzida por drogas GABA-miméticos resulta em uma diminuição do nível de consciência, mas prejudica o sono, que ao longo do tempo podem predispor os doentes ao delírium. Embora estes medicamentos tenham um importante papel no conforto do paciente, os médicos devem se esforçar para alcançar o equilíbrio em sua administração (PUN e ELY, 2007). Pandharipande et al (2007) buscou determinar neste estudo se a Dexmedetomidina reduz a duração do delírium e coma, em pacientes internados em UTI sob ventilação mecânica, proporcionando sedação adequada em relação ao Lorazepam, através de um ensaio clínico randomizado de 106 adultos, sendo pacientes clínicos e cirúrgicos, internados sob ventilação mecânica, em UTI de 2 centros de cuidados terciários entre agosto de 2004 e abril de 2006. Os pacientes foram sedados com dexmedetomidina ou lorazepam por 120 horas. Os pacientes foram monitorados duas vezes por dia para delírium pelo Método de Avaliação para a UTI (CAM-ICU). Os resultados da sedação com dexmedetomidina resultou em mais dias de vida, sem delírium e menor prevalência de coma do que a sedação com lorazepam. Os pacientes sedados com dexmedetomidina passou mais tempo dentro de um ponto RASS de sua meta sedação comparado com os pacientes sedados com lorazepam. A mortalidade em 28 dias no grupo dexmedetomidina foi de 17% e 27% no grupo lorazepam e os custos dos cuidados foram semelhantes entre os grupos. Os autores concluíram que em pacientes sob ventilação mecânica na UTI, o uso de dexmedetomidina resultou em mais dias sem delírium ou coma e mais tempo ao nível do objetivo da sedação do que com infusão lorazepam. Observou-se então que o uso de dexmedetomidina reduziu a prevalência e duração do delirium assim como a mortalidade, em pacientes sob VM, ao ser comparado com o uso de lorazepam. Dentre estas drogas recomenda-se o uso de haloperidol associados a implementação da rotina de avaliação do status mental dos pacientes (PUN e ELY, 2007). 23 Inversamente, antipsicóticos agindo como antagonistas da dopamina são eficazes no tratamento dos sintomas de delirium (FARTHING et al, 2008). Nos estudos de Pisani et al (2009) o uso de benzodiazepínicos ou opióides na UTI está associado com maior duração de um primeiro episódio de delirium. Administração desses medicamentos pode representar fatores de risco modificáveis para o delírium. Os médicos que cuidam de pacientes em UTI devem avaliar cuidadosamente a necessidade de benzodiazepínicos, opióides e haloperidol. Shehab et al (2009) realizaram um estudo duplo-cego, avaliando o comportamento neurológico, hemodinâmico e características sedativas da dexmedetomidina comparado com o esquema à base de morfina após cirurgia cardíaca a equivalência dos níveis de sedação e analgesia, onde foram avaliados 306 pacientes com pelo menos 60 anos de idade para receber dexmedetomidina. O desfecho primário foi a prevalência de delirium, medida diariamente através Confusion Assessment Method para UTI. O resultado inclui tempo de ventilação mecânica, sedação adicional/analgesia, fatores hemodinâmicos e efeitos adversos. Concluíram que a dexmedetomidina reduziu a duração, mas não a incidência de delirium pós-cirurgia cardíaca com efetiva sedação/analgesia, menos hipotensão arterial e menor exigência de vasopressor. Agentes antipsicóticos são frequentemente drogas de escolha para a questão do delírium. Embora (drogas, por exemplo, outras fenotiazinas, droperidol) sejam utilizados, o haloperidol é geralmente considerado o antipsicótico de escolha para a maioria de pacientes com delirium devido ao seu relativo baixo risco de atividade anticolinérgica, hipotensor e sedativo. 4.4.1 Principais Efeitos De acordo com os autores Mistraletti et al (2005); Park et al (2007); Fraser e Riker (2007); Devlin et al (2008) e Travers (2010) os principais efeitos dos medicamentos são: a) Opióides 24 Os opióides são largamente utilizados na UTI pois oferecem ótimo controle da dor, principalmente agindo nos receptores gama e kappa e através do seu efeito analgésico atenua os efeitos associados a lesões. Em recentes diretrizes clínicas, morfina, fentanil e hidromorfone têm sido recomendados. A morfina, um composto solúvel em água, é comumente utilizada na UTI. Ela provoca vasodilatação e diminuição da freqüência cardíaca como resultado da sua ação simpaticomimética. Administrada em altas doses, a morfina inibi a concentração plasmática de catecolaminas, cortisol e hormônio do crescimento; em doses frequentemente utilizadas em UTI, entretanto, a morfina tem um efeito mínimo sobre cortisol e nenhum efeito sobre a concentração plasmática de epinefrina Fentanil e hidromorfone são alternativas aceitáveis à morfina, com as características de serem sintéticos e desprovidos de propriedades de liberação de histamina. Eles são mais potentes e causa menos alterações hemodinâmicas do que a morfina, mesmo quando utilizados em doses elevadas. O remifentanil, um opióide de ação rápida, é frequentemente utilizado na UTI, em especial no cuidado neurointensivo, atenuando a resposta hemodinâmica aos estímulos dolorosos de fisioterapia, broncoaspiração e intervenções. Remifentanil é um potente opióides que causa hipotensão e vasodilatação, provavelmente devido à inibição da noradrenalina. A administração de opióides está associado com efeitos colaterais como náuseas e vômitos, coceira e íleo. Os opióides têm mostrado afetar a resposta imune e isso pode ser indesejável em pacientes criticamente doentes que já estão comprometidos e em risco de adquirir infecções oportunistas. b) Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos são os medicamentos mais comumente usados para induzir sedação e tratar a agitação na UTI. Estas drogas promovem ansiolysis, hipnose, atividade anticonvulsivante, amnésia e relaxamento muscular. Estas substâncias agem potencializando o g-amino ácido butírico (GABA), receptor da inibição mediada pelo complexo do sistema nervoso central. Midazolam, devido à sua maior característica lipofílica, tem um rápido início de ação, com limitado efeito sobre a depressão cardiorrespiratória. Uso de diazepam ou 25 midazolam, juntos com fentanil, mantém baixo os níveis endógenos de adrenalina e noradrenalina. A infusão contínua de midazolam não inibe o eixo de atenuação adrenocortical: a secreção de cortisol, estudados por um teste de infusão de ACTH não foi inibida, e a produção de catecolaminas no plama foi reduzida, embora não significativamente, no pós-operatório de pacientes que requerem ventilação, quando comparados com bolus de diazepam ou sedação com isoflurane. Benzodiazepínicos têm sido mostrados para realçar o efeito analgésico da morfina, e este sinergismo poderá diminuir a dose de benzodiazepinicos necessários para alcançar uma adequada sedação. Devido ao potencial de desvantagens de sedação contínua, tentativas foram feitas à interrupção da infusão de sedativos em pacientes em estado crítico que necessitam de ventilação mecânica, sem grandes efeitos colaterais. A utilização de flumazenil, específico antagonista farmacológico dos benzodiazepínicos, em pacientes que receberam sedação contínua com midazolam, está associada com aumento dos níveis circulantes de epinefrina e norepinefrina. Ocorre uma elevação das catecolaminas plasmáticas seguido por um retorno à normalidade nas próximas 2 horas, em contraste com os níveis de cortisol que permanecem inalterados. Despertares transitórios obtidos com flumazenil não implica uma resposta ao estresse, ao passo que o aumento da catecolamina no plasma sugere atividade no sistema nervoso simpático. Altas doses de diazepam estão associadas com o desenvolvimento de acidose metabólica decorrente do componente propilenoglicol da solução transportadora. Da mesma forma, grandes doses de lorazepam podem causar nefrotoxicidade. Outro aspecto importante de benzodiazepínicos e opiáceos infundidos a longo prazo é a síndrome de abstinência aguda; sintomas comuns incluem convulsões, tremores, confusão, ansiedade, insônia, vômitos, taquicardia e febre. Estes sintomas são mais severos com benzodiazepínicos de curta ação ao invés dos de longa ação e, por essa razão, quando grandes doses de midazolam forem administradas por longos períodos, o clínico deve usar um esquema de redução gradual de midazolam durante vários dias. Alternativamente, a transição para benzodiazepínicos de longa ação pode ser útil. 26 c) Propofol Propofol tem sido usado para sedação na UTI desde o final 1980 e ganhou popularidade por seu rápido início e offset. Tal como acontece com os benzodiazepínicos, o propofol ativa os receptores GABA para produzir depressão do sistema nervoso central, sendo eliminado mais rápido do que o midazolam e é rapidamente eliminado a partir do compartimento central. O tempo de recuperação e as concentrações de propofol no sangue parecem ser semelhantes após 24, 48, 72 e 96 horas da infusão de drogas com uma concentração sangüínea mensuráveis. Para estas características, é possível modular um desmame mais rápido por ventilação mecânica e, portanto, mais rápida restauração do sistema endócrino-metabólico. Após cirurgia cardiopulmonar, a infusão contínua de propofol na UTI para o pós-operatório nas primeiras 12 horas, tem demonstrado um aumento do cortisol plasmático (31%) e epinefrina (53%), cortisol urinário (9%), dopamina (38%) e da noradrenalina (48%). Estes resultados indicam que a infusão de propofol por via venosa após a cirurgia cardíaca oferece uma hemodinâmica estável e uma diminuição no consumo de oxigênio, e menores complicações cardiocirculatórias no pós-operatório. A infusão de propofol demonstrou não ter efeitos significativos sobre a esteroidogênese adrenal em pacientes criticamente doentes. A administração de Propofol tem sido associada com hipotensão arterial, e este é mais evidente com injeção de bolus com infusão contínua. O mecanismo da hipotensão é a vasodilatação periférica, provavelmente mediada por inibição da noradrenalina. Não foram relatados se há alterações no ritmo cardíaco. A queda do débito cardíaco pode também ser o resultado de depressão miocárdica. Administração complementar intravenosa de fluidos e vasopressores pode ser usado para corrigir alteração hemodinâmica. O propofol é fornecido em uma emulsão lipídica, e se for administrado em doses elevadas, pode levar a hipertrigliceridemia. Ao se dedicar a analisar os resultados de um estudo randomizado, multicêntrico, verificou-se que não foi possível demonstrar a existência de um risco significativo de hipertrigliceridemia, com o uso das soluções de propofol 1% ou 2%. 27 Neste caso pode-se indicar que há uma provável diminuição no risco de surgimento de episódios de delírium aplicando-se solução propofol 2%. A síndrome da infusão de propofol é rara e frequentemente fatal, descrito originalmente em crianças gravemente doentes e ultimamente relatada em adultos submetidos a longo prazo (> 48 horas) com infusões de propofol em doses elevadas (> 4mg / kg / h). As principais características da síndrome são: falência cardíaca, rabdomiólise, acidose metabólica grave e insuficiência renal. A síndrome tem sido relatada principalmente em pacientes com doenças neurológicas ou doenças inflamatórias agudas complicadas por infecções graves ou sepsis e receberem catecolaminas ou esteróides, além de propofol. Toma-se como hipótese que a ativação do sistema nervoso central com produção de catecolaminas e glicocorticóides e inflamação sistêmica com produção de citocinas, podem ser considerados fatores de risco para disfunção do músculo cardíaco e periférico. Há evidências de que, a nível subcelular, o propofol prejudica a utilização de ácidos graxos livre e mitocondrial com um aumento de malonylcarnitine, que inibe o transporte de proteínas de ácidos graxos de cadeia longa (carnitina transferase palmitil). Por conseguinte, existe desequilíbrio entre a demanda de energia e utilização, resultando em uma diminuição no desempenho ventricular e contratilidade cardíaca. Isto pode explicar a falta de resposta às catecolaminas e a necessidade de aumentar suporte inotrópico nestes pacientes. Em luz de vários relatos de síndrome da infusão do propofol, altas doses prolongada de infusões de propofol (> 80-100 mg / kg / min durante 48-72 horas) deve ser administrado com precaução. Acompanhamento dos primeiros sinais da síndrome (mioglobina e os níveis de creatina quinase) e a necessidade de aumentar uso de drogas vasoativas têm sido propostas. d) 2-Agonistas A dexmedetomidina é um 2-agonista aprovado para seletiva sedação em terapia intensiva em pacientes recebendo ventilação mecânica, pois possui tanto a propriedade de analgésico como de ansiolítico. É um composto imidazólico com potencial efeito inibitório semelhantes ao etomidato, na síntese de cortisol. 28 Em um estudo recente, demonstrou que a infusão de dexmedetomidina não inibiu esteroidogênese adrenal em pacientes que necessitam de pós-operatório com sedação de curto prazo na UTI,. Isto foi acompanhado através da elevação de concentrações circulantes de hormônio de crescimento e baixa insulina e catecolaminas. Além disso, a necessidade de analgésicos a base de opióides é reduzida com hemodinâmica estável. Os 2-agonistas estimulam a secreção do hormônio do crescimento sem alterar o controle glicêmico, enquanto que o peptídeo C (Relacionado com a secreção endógena de insulina) é diminuída. Este efeito pode estar relacionado tanto à ação direta destas drogas no pâncreas, para melhor controle periférico da glicemia, com conseqüente diminuição da secreção de insulina, ou a supressão de catecolaminas. Atualmente não há dados sobre a utilização da dexmedetomidina para a sedação de longa duração na UTI. O perfil farmacológico dos 2-agonistas poderia fazer essas drogas mais adequadas para o ambiente da UTI do que alguns dos tradicionais medicamentos utilizados, no sentido de que elas podem proporcionar sedação mínima com excelente analgesia, juntamente com algumas atenuações de resposta ao estresse metabólico e proteção miocárdica. Resta saber se os 2-Agonistas podem ser seguramente utilizados durante a prolongada doença grave quando a qualidade e a intensidade da sedação e analgesia tornaram-se crítica para a sobrevivência do paciente. 4.5 Tratamento O Tratamento do delirium é baseado principalmente na prevenção primária, que consiste: correção dos distúrbios metabólicos/hipóxia, tratamento de infecções, despertar diários nos pacientes sedados, favorecer mobilização e não restringir fisicamente, evitar restrições no leito, respeitar o ciclo sono/vigília, permitir a utilização de óculos e equipamentos para deficientes visuais e auditivos, ambiente silencioso,pistas para orientação (calendário, relógio,objetos familiares), envolver familiares nos cuidados, evitar ou reduzir uso de medicações que possam precipitar delirium (anticolinérgicos, benzodiazepínicos, antidepressivos tricíclicos, opióides) e 29 otimizar as condições cirúrgicas (analgesia adequada, evitar hipotensão e hipoxemia, corrigir anemia). Os dois principais sintomas do delirium que podem exigir tratamento farmacológico são a psicose e a insônia. O haloperidol, antipsicótico do grupo dos butirofenonas, é a droga de escolha. A dose de ataque varia de 2,5-5mg endovenoso (início de ação: 30-60 minutos), podendo ser repetida a cada 15-20 minutos, dobrando-se a dose prévia. A dose de manutenção é de 5mg ou 25% da dose de ataque (EV) a cada 6 horas. A dose máxima diária é de 20 a 50mg. Os efeitos adversos são: hipotensão, distonia, sintomas extrapiramidais, espasmo laríngeo, hipertermia maligna, prolongamento do intervalo QT, boca seca, obstipação e retenção urinária. Nos casos de delirium hiperativo, pode ser associado benzodiazepínico, que promove um efeito sinérgico com o haloperidol. A dexmedetomidina, é uma opção para sedação, com o intuito de diminuir a incidência de delirium. Diluição da medicação: 1 frasco em SF 0,9% 48ml (4 micrograma/ml). A dose de ataque é de 1micrograma/Kg de peso por 10 ou 20 minutos. A dose de manutenção é de 0,2-0,7 micrograma/kg/hora. Os antipsicóticos atípicos (de segunda geração) estão sendo estudados mais recentemente, com escassas informações e poucas apresentações parenterais disponíveis até o momento. Têm menos efeitos extrapiramidais que os típicos mas foram associados a aumento da mortalidade em idosos demenciados em alguns trabalhos. A dose oral destas medicações é de risperidona 0,5mg a cada 12 horas, olanzapina 2,5 a 5 mg ao dia e quetiapina 25 a 50 mg ao dia. Os benzodiazepínicos não são recomendados para o tratamento do delirium porque esses medicamentos são, eles próprios, fatores de risco de delirium. Para avaliar a eficácia do tratamento, os desfechos clinicamente relevantes deveriam ser considerados como resolução do delirium, tempo sem delirium, gravidade e seqüelas a longo prazo. 4.6 Prognóstico 30 Embora o início do delirium costuma ser súbito, podem ocorrer sintomas prodrômicos (como inquietação e medo) nos dias que precedem a manifestação dos sintomas. Os sintomas, em geral, persistem enquanto os fatores causais estiverem presentes, entretanto o quadro de delirium costuma durar menos de uma semana. Após a identificação e a remoção dos fatores causais, os sintomas em geral desaparecem dentro de três a sete dias, embora alguns possam levar até duas semanas para melhorar completamente.Quanto mais velho o paciente e quanto mais tempo estiver delirante, mais tempo o delirium levará para se resolver. Após terminado, a lembrança do que aconteceu durante o delirium é caracteristicamente fragmentada. O paciente pode se referir ao episódio como um sonho ruim ou um pesadelo que lembra apenas vagamente. Epidemiologicamente, sua ocorrência está associada à taxa de mortalidade alta no ano seguinte ao evento, sobretudo por causa da natureza séria das condições clínicas relacionadas. A progressão para demência ainda não foi demonstrada em estudos cuidadosamente controlados, embora possa ocorrer. Contudo, a observação clínica validada em alguns estudos é que os períodos de delirium, às vezes, são seguidos por depressão ou transtorno de estresse pós traumático. 31 CONCLUSÃO É importante, primeiramente, destacar que por muitas décadas o delírium não era reconhecido como sendo um quadro patológico, pois indicava apenas que havia certo desajuste, que era promovido por perturbações emocionais. Delirium é uma síndrome multifatorial, uma manifestação comum de disfunção cerebral aguda em pacientes gravemente enfermos estando associada com hospitalização prolongada, reintubação, mortalidade aumentada, maiores custos de tratamento, seqüelas a curto e longo prazo, mesmo após alta, muito prevalente em UTI. O intensivista deve estar atento, pois novos estudos têm confirmado que se trata de uma variaével independente que se associa a piores prognósticos. Os inúmeros estudos pesquisados indicam que o delírium é mais comum em pacientes internados em Unidade de Terapia Intensiva, possuindo associação com inúmeros outros fatores presentes. Quando existe um quadro clínico de falência dos órgãos, representa os indivíduos que depreendem os piores resultados. Desta forma, pode-se afirmar que o risco de desenvolver um episódio de delírium depende do grau de vulnerabilidade existente nos pacientes, podendo ainda aumentar a gravidade quando se verifica a concomitância de outros fatores que servem como precipitantes, e que estejam expostos a uma maior chance de desenvolver este tipo de quadro. As estratégias para prevenção, diagnóstico e tratamento do delirium na UTI devem ser implementadas, bem como toda a equipe interdisciplinar tem que estar consciente da sua importância. O uso rotineiro de escalas validadas de sedação e de diagnóstico, aplicadas ao longo dos turnos, para reverter o subdiagnóstico de delirium, principalmente o subtipo hipoativo e em pacientes sob ventilação mecânica. Assim, verificou-se que o CAM-ICU é um instrumento importante na detecção deste quadro e que sua utilização pela equipe resulta em um controle mais eficaz dos pacientes graves que apresentam o distúrbio, bem como, aqueles que possuem riscos para desenvolvê-lo. 32 As medidas preventivas não farmacológicas estão mostrando-se eficazes na prevenção, sendo necessário uma maior divulgação sobre essas intervenções, acompanhamento multidisciplinar e humanização no atendimento hospitalar. Prevenção é a conduta mais eficaz, uma vez que o tratamento após o quadro de delirium já instalado não apresenta um elevado índice de sucesso. Dentro do tratamento farmacológico, o haloperidol é a droga de escolha. Deve-se evitar uso de benzodiazepínicos, pois são drogas que são consideradas fatores de risco para desenvolvimento do delirium. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALEXANDER, E. Delirium in the Intensive Care Unit: Medications as Risk Factors. Crit Care Nurse; v.29, p: 85-87, 2009. 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