A1 ID: 29349610 19-03-2010 Tiragem: 24843 Pág: 24 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,70 x 36,24 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 4 REPORTAGEM DIA DO PAI Eurodeputada portuguesa luta por licenças maiores para os pais O “Relatório Estrela”, feito pela deputada Edite Estrela, contém medidas sobre a licença de parentalidade que pode custar demasiado, dizem os mais cépticos. Mafalda de Avelar [email protected] Ricardo Bação, 34 anos, “Key Account Manager” da Optimus, empresa de telecomunicações do grupo de Belmiro de Azevedo, vai ser pai pela primeira vez daqui a dois meses e garante – com toda a certeza e alguma emoção – que vai gozar a licença de paternidade. “Porque considero que é um momento único. E não podemos desperdiçar estes primeiros dias de vida”, afirma, reconhecendo que a mãe é mais importante do que o pai, “nos primeiros tempos”. Ricardo Bação sublinha que quer estar com o bebé e também com a mulher e mãe da criança. “É muito importante dar apoio e estar ao lado da mulher nestes momentos”. Esta é também a conclusão do denominado “Relatório Estrela”, da autoria da eurodeputada portuguesa Edite Estrela, que luta na Comissão Europeia pela revisão da Directiva 92/85/CEE, que tem como um dos principais objectivos “fazer com que os homens tenham incentivos a assumirem responsabilidades familiares”. Basicamente, o que a eurodeputada defende é que os homens possam gozar duas semanas - totalmente pagas- em todos os países da UE. Apesar de em alguns países essa realidade já ser um facto, em muitos outros estamos longe de lá chegar. No topo Pedro Pita Barros Professor da Faculdade de Economia da UNL “Será que as empresas e o Estado estão preparados para esta medida? De um ponto de vista económico, a questão é a de saber qual o custo deste imposto em espécie para a sociedade. De como vai ser repartido esse custo, e se os benefícios dele decorrentes compensam esse custo“, diz Pita Barros. do “modelo a seguir” temos a Noruega, onde os pais podem tirar um ano de licença remunerada. Sendo que – e com o objectivo de incentivar mais os homens a participarem no cuidado e educação dos filhos - 10 semanas desta licença são reservadas ao pai. Em Portugal têm sido realizados alguns progressos. E a prova disso são os recentes dados divulgados pelo Ministério do Emprego e Segurança Social relativos a 2009, que indicam que mais do que 12 mil portugueses pediram para partilhar com as mães dos respectivos filhos a licença de parentalidade. Para se ter uma ideia: em 2008, apenas um ano antes, tinham sido registados 605 casos de pais que gozaram a licença. A razão? Os incentivos. Em Maio de 2009 entrou em vigor um novo decreto-lei que permite o pagamento da licença de cinco meses a 100%, quando partilhada pela mãe e pelo pai. E se o resultado desta política “pró-pai” foi visível, o que poderia ser o resultado de uma política de 20 semanas de maternidade. Para a mãe é a questão que se coloca. A questão levantada por Edite Estrela, e proposta no relatório, já está a dar que falar. Principalmente no Reino Unido, onde segundo a imprensa local a directiva implicará custos de 2,2 mil milhões de euros. “ Um exagero”, diz Infografia: Mario Malhão | mario.malhã[email protected] Edite Estrela para quem, “de acordo com os actuais estudos da Comissão Europeia, numa perspectiva de custo/benefício a médio e longo prazo, os encargos financeiros dos Estados-membros rondam em média os 0.02% do PIB.” O facto é que este alerta para valores elevados já levou a eurodeputada a pedir um estudo de viabilidade económica (que será divulgado dentro de um mês). Impacto financeiro de curto versus longo prazo Considerando também esta medida com impacto financeiro elevado, Pepe Egger, consultor italiano que vive em Londres e que é responsável pelo departamento de previsões da Europa Ocidental na Exclusive Analysis, explica que “o que se passa é que vivemos uma grande crise financeira e dificilmente estas medidas serão implementadas.” Além disso, sublinha o consultor, “os ingleses nunca gostaram destas “imposições internas vindas das directivas europeias”. Pepe Egger, lembra ainda que há um ano a razão era “política porque viviamos as eleições europeias; hoje a razão vai ser financeira”. Pai de um bebé, Pepe considera as medidas importantes, “até porque temos uma Europa envelhecida”. Mas também diz que em termos empresariais estas medidas poderão ser perigosas. Por seu lado, com uma visão clara sobre o assunto, Pita Barros, professor de Economia da FEUNL, afirma que “é importante reconhecer que a baixa natalidade tornou-se um problema a prazo nas sociedades modernas.” E que “o aumento das licenças de maternidade e paternidade faz parte deste pacote de medidas considerado relevante. No entanto, a eficácia relativa de licença de maternidade face a outras medidas, como condições de apoio para mães que trabalham, não é clara. O professor adianta ainda que esta medida, a vir a ser implementada, terá dois tipos de impactos: os directos e os indirectos. Directos: o custo acrescido do pagamento a fazer e uma maior desinserção da mulher do seu trabalho; o indirecto traduz-se numa maior discriminação da mulher no momento de contratação. ■ Ikea e Axa ganham prémio “Passa mais tempo com o teu bebé” é o slogan do IKEA, entidade que apoia a parentalidade permitindo um prolongamento de 2 meses à licença parental, além de algumas ajudas por nascimento. Talvez também potenciado por este projecto, o grupo sueco que emprega 1124 pessoas das quais 636 são mulheres, recebe hoje, conjuntamente com a AXA ID: 29349610 PONTOS-CHAVE 19-03-2010 Em 2009 mais de 12 mil pais partilharam a licença de parentalidade com as mães, segundo dados do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. Em 2008 esse número fora de apenas 605. Tiragem: 24843 Pág: 25 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,55 x 36,70 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 4 Segundo um estudo da Comissão Europeia, os custos sócio-económicos das 18 semanas obrigatórias variam de 0,006% (do Pib da Hungria) a 0,05% (do Pib da Bélgica). Actualmente, em Portugal, “se todos os períodos de licença forem gozados, a criança pode ser acompanhada pelos pais durante o primeiro ano de vida”, garante a deputada Edite Estrela. Paula Nunes ENTREVISTA EDITE ESTRELA, Eurodeputada Homem de farda goza licença de parentalidade Rui Paiva, 35 anos, inspector-adjunto do SEF, é um dos 12 mil pais que no ano passado fizeram valer os respectivos direitos: pediu uma licença de parentalidade e, após o nascimento do segundo filho, ficou 20 dias em casa com a mulher. Depois, ficou mais um mês inteiro a substituí-la. “Já no nascimento da minha primeira filha tinha ficado os 10 dias iniciais, e depois um mês, no final da licença de maternidade”, diz. Agora, com a nova lei, conseguiu ficar mais tempo. E sem complexos, este homem de farda considera “uma coisa selvagem” não gozar a licença e “não aproveitar para estar com os filhos”. Biberons, fraldas e choros fazem parte do dia-a-dia deste pai que não quer perder pitada dos primeiros meses de vida dos filhos. “Isso de ter os filhos e de os deixar logo é coisa de animais”, desabafa Rui Paiva, acrescentando: “Gosto muito de estar com os meus filhos e foi muito importante o meu apoio para a minha mulher”. O inspector-adjunto do SEF é casado há 4 anos com uma colega de trabalho. Juntos têm uma filha de dois anos e um filho de 10 meses. “Igualdade é Qualidade” Seguros de Portugal, o prémio “Igualdade é Qualidade”, que existe desde 2000 e é promovido pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e Emprego (CITE). Uma entidade sob a tutela da Ministra do Trabalho e da Solidariedade Social em articulação com a Secretária de Estado da Igualdade. De destacar que além da distinção da AXA, entidade que empregava 942 pessoas em 2008, das quais 440 mulheres (46,7%), foram ainda distinguidas as seguintes empresas: Metalomecânica Vítor Monteiro, Lda, Oracle Portugal, Sistemas de Informação, Lda; Nova Gráfica de Amaral, Rodrigues & Resendes, Lda e os Serviços Municipalizados de Água e Saneamento da Câmara Municipal de Loures ( SMAS de Loures ). Curiosidades dos Nomeados: ● Serviços Municipalizados de Água e Saneamento da Câmara Municipal de Loures emprega 1089 colaboradores (285 Mulheres) e nomeou duas Conselheiras Municipais para a Igualdade de Género. ● Metalomecânica Vítor Monteiro emprega 21 pessoas, 10 mulheres e 11 homens.Na produção/fabricação é uma mulher quem opera a máquina tecnologicamente mais avançada. “Licença de maternidade de 20 semanas é desejável” Autora de “Relatório Estrela”, a eurodeputada considera que a UE enfrenta um desafio demográfico. Incentivos são necessários. Mafalda de Avelar [email protected] Edite Estrela, autora do “Relatório Estrela”, quer que todos os países membros passem a contemplar 20 semanas de licença de maternidade para as mães, pagas na íntegra, e mais duas para os pais. Uma medida que está a gerar polémica, principalmente no Reino Unido, “onde os súbditos de Sua Magestade justificam essas medidas com a actual crise financeira.” Por cá, tudo está no bom caminho e Portugal é um bom exemplo, garante a socialista. Quais as principais bandeiras do “Relatório Estrela”? Há três propostas que fazem a diferença: o alargamento da licença de maternidade de catorze para vinte semanas; a criação da licença de paternidade de duas semanas; o princípio do pagamento a cem por cento de ambas as licenças. Porque é que considera tão importante a sua implementação? A Directiva que estamos a rever já tem 18 anos, está desactualizada, não corresponde às actuais necessidades e aspirações das famílias europeias. A UE enfrenta actualmente um desafio demográfico, caracterizado por baixas taxas de natalidade e uma proporção crescente de idosos. A melhoria das disposições que favoreçam o equilíbrio entre a vida profissional e familiar constitui também parte da resposta a este declínio demográfico. (...) Não é aceitável que, no século XXI, as mulheres ainda sejam confrontadas com a necessidade de optarem entre a maternidade e a realização profissional. Em que medida o “Pai” é contemplado por este relatório? O pai é contemplado através da proposta de introdução de uma licença de paternidade de duas semanas pagas integralmente e protegidas contra o despedimento. Porque é que a sua proposta – das 20 semanas de maternidade pagas na íntegra - está a ser tão mal recebida no Reino Unido? Ao contrário da grande maioria dos Estados-membros, o Reino Unido tem uma longa licença de maternidade mas com baixa remuneração. A situação no Reino Unido é, pois, peculiar: 52 semanas, das quais só as seis primeiras são pagas a 90%; nas 33 semanas seguintes, a mulher recebe apenas um subsídio de cerca de 150 euros e, nas restantes 13, não recebe nada. Os súbditos de Sua Majestade justificam essas resistências com a actual crise económica e financeira. Todavia, com as eleições legislativas para breve, alguns partidos mais eurocépticos usam estes argumentos para fins internos, ou seja, com fins políticos. Por cá, em Portugal: quais serão as grandes alterações? Em Portugal, os ajustamentos a fazer serão mínimos, dado que está já prevista uma licença de maternidade de quatro meses pagos a 100% ou cinco meses com pagamento a 80% do salário. Aliás, as minhas propostas são muito inspiradas nos sistemas português, espanhol e sueco, considerados exemplares mesmo a nível europeu. De facto, o novo Código do Trabalho altera o conceito vigente de licença de maternidade, mantendo a licença inicial obrigatória de seis semanas para a mãe e de dez dias para o pai, podendo este gozar mais dez dias consecutivos. A restante licença passa a ser um direito do pai e da mãe, sendo a sua partilha decidida pelos progenitores, contudo, quando pelo menos um mês deste tempo da licença é gozado integralmente por um dos progenitores, o quinto mês é pago a cem por cento, podendo ainda haver a opção do gozo do sexto mês pago a 83%. Há ainda a possibilidade de uma licença de três meses para cada progenitor paga a 25%. ■ “As minhas propostas são muito inspiradas nos sistemas português , espanhol e sueco, considerados exemplares”, diz a eurodeputada Edite Estrela. ID: 29349610 19-03-2010 Tiragem: 24843 Pág: -18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 6,92 x 6,70 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 3 de 4 ■ Eurodeputada portuguesa luta por maiores licenças de parentalidade. Um relatório de Edite Estrela defende que os homens possam gozar duas semanas totalmente pagas, por ocasião da paternidade, em todos os países da UE. ➥ P24 ID: 29349610 19-03-2010 Tiragem: 24843 Pág: -19 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 6,31 x 1,92 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 4 de 4 Reportagem No Dia do Pai, Bruxelas discute aumentar as licenças de parentalidade. ➥ P24