ATIVIDADE LIPOLÍTICA DE BACTÉRIAS LÁTICAS ISOLADAS DE SALAMES João Luiz Andreotti Dagostin (ICV-UNICENTRO), Danielle Carpiné (BICUNICENTRO), Cristina Maria Zanette, Herta Stutz Dalla Santa (Orientadora), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/ Departamento de Engenharia de Alimentos – Guarapuava – PR Palavras-chave: atividade lipolítica, lipólise, bactérias lácticas, salame. Resumo: A seleção de uma microbiota específica para produção de salames é importante por garantir características sensoriais desejáveis. O objetivo desta pesquisa foi a avaliação da atividade lipolítica de 46 cepas de bactérias láticas isoladas de salames de fermentação natural. Para o exame foram utilizados dois meios seletivos em Agar Base Tributirina. O primeiro com Tributirina e outro contendo banha de porco, por ser ingrediente de salames. Nenhuma das cepas testadas demonstrou atividade lipolítica. Introdução Até a década de 40 os salames eram produzidos de maneira artesanal, sem adição de starter. O conhecimento dos processos químicos e biológicos que envolvem a fermentação e maturação possibilitou o desenvolvimento de culturas microbianas a base de bactérias láticas para adição nos salames (Fernández et al., 2000). O grupo das bactérias lácticas é um dos mais utilizados em processos de fermentação alimentícia, e os gêneros de principal importância são: Carnobacterium, Enterococcus, Lactobacillus, Lactococcus, Leuconostoc, Oenococcus, Pediococcus, Streptococcus, Tetragenococcus, Vagococcus e Weissella (Stiles e Holzapfel, 1997; Zapelena, 1999). A lipólise em salames vem sendo amplamente estudada (Dainty e Blom, 1995; Kenneally et al., 1998); a qual envolve a liberação de ácidos graxos cujo papel no desenvolvimento de flavour não foi ainda demonstrado, pelo grande número de reações envolvidas (Fernández et al., 2000; Ordoñez et al., 1999). Cadeias curtas de ácidos graxos possuem sabor azedo, mas suas características sensoriais diminuem com o aumento da cadeia (Forss, 1972). O objetivo deste estudo foi examinar a habilidade lipolítica de 46 cepas de bactérias lácticas isoladas de salames produzidos por fermentação natural, sem adição de starter. Materiais e Métodos Obtenção das Bactérias Lácticas A determinação da microbiota presente no salame; contagem e isolamento de bactérias lácticas, manutenção e reativação das cepas foi realizada segundo metodologia descrita em Samelis et al., (1998) e Samelis et al., (1994). Preparo dos meios A hidrólise da gordura foi feita a partir de dois meios seletivos, tendo como base 23,0g de Agar Base Tributirina para 990 mL de água destilada, aquecido até ebulição, resfriado a 70 ºC. Para o meio (1) foi adicionado 1,0% de Tributirina (v/v), segundo Ben-Gigerey (2000). Para o meio (2) foi adicionado 1,0% de banha de porco (g/mL) baseado em metodologia de Kenneally et al., (1998) com pequenas modificações. Em seguida cada um dos meios emulsionado por agitação mecânica com mixer doméstico (Walita RI1363), o pH do meio foi ajustado a 6,5, e autoclavado a 121 ºC por 15 min. Ensaio e leitura de resultados Os meios foram inoculado com 0,1 mL das diluições até 10-7- 10-8 da solução mãe das cepas reativadas. Para perfeito espalhamento da suspensão de células foram utilizadas pérolas de vidro esterilizadas. As placas foram incubadas por 7 dias a 37ºC. Resultados e Discussão Das 46 cepas testadas, todas apresentaram resultado negativo nos dois meios testados. Este resultado era esperado, pois, as espécies de Lactobacillus são conhecidas por fraca atividade lipolítica (Reuter, 1975; Papon e Talon, 1988). As principais bactérias lipolíticas conhecidas pertencem ao gênero Micrococcus e Staphylococcus (Cantoni et al., 1967; Debevere et al., 1976). No experimento de Kenneally et al., (1998), foram testadas cepas de Pediococcus, Lactobacillus, Staphylococcus e Micrococcus, das quais somente os dois últimos gêneros possuíam espécies produtoras de lipase. Nenhuma das 7 cepas de Lactobacillus testadas apresentaram atividade lipolítica. A caracterização de cepas isoladas de salames é uma etapa importante, pois permite seleção de cepas adequadas que podem então ser utilizadas como starter na produção de salames e propiciam um produto com boas características tecnológicas como: sabor característico, compostos aromáticos (aldeídos, cetonas, ésteres, álcoois, etc.), e textura macia. Uma das características que devem ser analisadas é a presença de possível atividade lipolítica que favorece o desenvolvimento de flavour. A atividade da lipase é sensível a decréscimos no pH, sendo que a maioria das lipases bacterianas mostra alta atividade com um pH de neutro para levemente alcalino (Adams e Brawley 1981). Kenneally et al., (1998) determinaram o pH de próximo a sete como ótimo para a atividade lipolítica de Staphylococcus xylosus, entretanto não houve atividade lipolítica nas condições próprias do salame (3,5% de sal, pH 5,0 e 20 °C). Conclusões Este trabalho verificou a atividade lipolítica de 46 cepas de Lactobacillus isoladas de salames sem adição de starter. Nenhuma cepa exibiu hidrólise da gordura de porco ou da tributirina em ágar. Referências B. Ben-Gigirey; J. M. V. B. Souza; T.G. Villa; J. Barros-Velazquez Int. J. Food Microbiol. 2000, 57, 19. C. Cantoni; M. R. Molnar; P. Renon; G. Giolitti J. Appl. Bact, 1967, 30, 190. D. A. Forss in Progress in the Chemistry of Fats and Other Lipids, R. T. Holman Ed.:. Pergamon Press, Oxford, 1972. 177. D. M. Adams; T. G. Brawley J of Food Sci. 1981, 46, 677. G. Reuter Lactic Acid Bacteria in Beverages and Foods J. C. Garr; C. V. Cutting; G. C. Whiting Ed.: Academic Press, London, 1975, 221. J. A. Ordoñez; E. M. Hierro; J. M. Bruna; L. 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