estudo do comportamento de cepas de bactérias láticas

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ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE CEPAS DE BACTÉRIAS LÁTICAS
ISOLADAS DE SALAMES COLONIAIS FRENTE A ANTIBIÓTICOS
Tais Hobold Justo (IC-Voluntária/UNICENTRO), Loyse Tussolini
(PIBIC/UNICENTRO), Osmar Roberto Dalla Santa (UNICENTRO), David
Chacón Alvarez (UNICENTRO), Herta Stutz Dalla Santa (Orientadora), email: [email protected]
Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO – Departamento de
Engenharia de Alimentos – Guarapuava, Paraná.
Palavras-chave: bactérias láticas, salame, resistência a antibióticos.
Resumo
Os antibióticos podem ser usados na produção animal com fins
terapêuticos e/ou profiláticos ou como promotores de crescimento.
Entretanto, o emprego indiscriminado pode ocasionar o surgimento de
microrganismos antibiótico-resistentes e possibilidade de transferência
destes genes para microrganismos presentes no intestino humano,
fomentando assim o aparecimento de microrganismos resistentes no
homem. O objetivo deste trabalho foi verificar a presença de resistência a
antibióticos por cepas de bactérias lácticas isoladas de salames.
Introdução
Os antibióticos são substâncias produzidas por diferentes espécies de
microrganismos que suprimem o crescimento de outros microrganismos e
podem eventualmente destruí-los. Os antibióticos podem ser usados na
produção animal com fins terapêuticos e/ou profiláticos ou como promotores
de crescimento, com o objetivo de conseguir uma taxa de natalidade
elevada, assim como uma maior rapidez no crescimento e engorda
(CANCHO GRANDE et al., 2000).
A utilização de antibióticos proporcionou uma enorme diminuição da
mortalidade causada por doenças infecciosas. Entretanto, os antibióticos
estão entre os agentes farmacológicos empregados de forma incorreta, tanto
a nível médico como veterinário, sendo administrados muitas vezes em
doses inadequadas. O emprego indiscriminado destes produtos pode
ocasionar complicações tais como reações alérgicas, infecções
descontroladas, atrasos na identificação do patógeno, e talvez a mais
importante é o surgimento de microrganismos antibiótico-resistentes, que por
sua vez, cria uma necessidade cada vez maior da utilização de novas
drogas (CANCHO GRANDE et al., 2000).
Os alimentos procedentes de animais tratados terapeuticamente com
agentes antimicrobianos podem conter resíduos que se incorporam ao
organismo humano pela dieta alimentar, fomentando também o
aparecimento de microrganismos resistentes no homem. Microrganismos
antibiótico-resistentes utilizados na produção de alimentos podem transferir
esta característica genética aos microrganismos comensais presentes no
intestino humano (MATHUR; SINGH, 2005).
Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a presença de
resistência a antibióticos por cepas de bactérias lácticas isoladas de salames
artesanais.
Material e Métodos
As cepas de bactérias lácticas utilizadas neste estudo foram isoladas
de salames artesanais obtidos por fermentação espontânea e produzidos
por pequenas indústrias do setor de carnes do sul do Brasil. Ao todo foram
utilizadas 46 cepas, que após o isolamento, foram identificadas como sendo
Lactobacillus spp., e estão armazenadas no Laboratório de Microbiologia de
Alimentos da UNICENTRO.
A resistência a antibióticos foi avaliada pelo método de disco-difusão
conhecido como método de Kirby Bauer (BOYLE et al., 1973). Os
antibióticos testados foram os seguintes: tetraciclina (30µg); rifampicina
(5µg); gentamicina (10µg); ciprofloxacin (5µg); cloranfenicol (30µg); cefepine
(30µg); vancomicina (30µg); sulfazotrim (25µg); clindamicina (2µg);
eritromicina (15µg); penicilina G (10U); e oxacilina (1µg) (Laborclin produtos para laboratórios ltda).
As cepas de bactérias lácticas foram inoculadas em placas com Ágar
De Man Rogosa e Sharpe (MRS) com o auxilio de swab, depois da absorção
completa do inoculo foi colocado os discos com os diferentes antibióticos na
superfície do meio de cultura. A resistência ou sensibilidade foi avaliada
após incubação por 24 h a 37ºC. As cepas foram consideradas resistentes
quando não ocorreu a formação de halos de inibição no ágar ao redor do
disco. A atividade antagônica (sensibilidade) foi verificada pela formação de
halo de inibição do crescimento das cepas de bactérias lácticas (BOYLE et
al., 1973).
Resultados e Discussão
Existem poucos dados científicos em relação à presença e a origem
de genes de resistências em cepas de bactérias lácticas responsáveis pela
produção de alimentos obtidos por fermentação espontânea. Isto ocorre
também em relação às culturas starter comerciais utilizadas na elaboração
de produtos lácteos e cárneos fermentados (MATHUR; SINGH, 2005).
Entre os antimicrobianos testados, somente o cloranfenicol e a
rifampicina inibiram o crescimento de todas as cepas de Lactobacillus
avaliadas. Os antibióticos apresentaram grau de ação inibitória diferenciada
frente as cepas. A resistência das bactérias lácticas frente a eritromicina, a
clindamicina e a penicilina G foi verificada em 2%, 4% e 6,5% das cepas
testadas, respectivamente. Estas cepas apresentaram uma maior resistência
frente a tetraciclina (11%), cefepine (13%), oxacilina (15%) e sulfazotrim
(19%). Para os antimicrobianos gentamicina, vancomicina, e ciprofloxacin foi
verificada resistência de 74%, 91% e 93% das cepas de bactérias lácticas
testadas, respectivamente.
MATHUR; SINGH (2005) citam estudo onde espécies dos gêneros
Lactobacillus, Pidiococcus e Leuconostoc possuem alta resistência natural a
vancomicina. Sendo que alguns Lactobacillus também apresentam alta
resistência natural a vários outros antibióticos, dentre os quais a gentamicina
e a ciprofloxacin. Os resultados obtidos neste trabalho confirmam esta
resistência natural pelas cepas de Lactobacillus isolados de salames
artesanais aos antibióticos citados anteriormente.
As bactérias ácido-láticas, usualmente utilizadas como probióticas ou
como culturas starter na produção de diversos alimentos, podem ser
veículos de genes resistentes a antibióticos, com riscos de transferir estes
genes para outras espécies de bactérias incluindo microrganismos
patogênicos (D’AIMMO et al., 2007). Porém, cabe destacar que culturas
probióticas resistentes a antibióticos utilizados para o controle de
microrganismos patogênicos, não são afetadas pela terapia, mantendo desta
forma o balanço natural da microflora intestinal durante o tratamento
(NGUYEN; KANG; LEE, 2007).
Conclusão
Entre os antimicrobianos testados foi evidenciado grau de ação
inibitória diferenciada frente as cepas de bactérias lácticas isoladas de
salames artesanais. Sendo assim, a resistência aos antibióticos deve ser um
dos critérios utilizados durante a seleção de bactérias lácticas para a
utilização como culturas starter para a produção de alimentos fermentados.
Este critério também deve ser considerado para a seleção de espécies
probióticas, assim como para a seleção de culturas bioprotetoras utilizadas
na bioconservação de alimentos. Estas culturas não devem apresentar
resistências aos diferentes antibióticos, evitando assim a transferência de
informação genética de resistência a antibióticos para os germes presentes
no intestino humano.
Agradecimento
A UNICENTRO por possibilitar o desenvolvimento deste estudo.
Referências
BOYLE, V. J.; FANCHER, M. E.; ROSS, R. W. Rapid, modified Kifby-Bauer
susceptribility test with single, high-concentration antimicrobial disks.
Antimicrobial agents and chemotherapy. 1973, 3, 418.
CANCHO GRANDE, B.; GARCÍA FALCÓN, M. S.; SIMAL GRÁNDARA, J. El
uso de los antibióticos en la alimentación animal: perspectiva actual. Cienc.
Tecnol. Aliment. 2000, 3, 37.
D’AIMMO, M. R.; MODESTO, M.; BIAVATI, B. Antibiotic resistence of latic
acid bacteria end Bifidobacterium spp. isolated from dairy and
pharmaceutical products. Int. J. Food Microbiol. 2007, 115, 35.
MATHUR, S.; SINGH, R. Antibiotic resistance in food lactic acid bacteria – a
review. Food Microbiol. 2005, 105, 282.
NGUYEN, T. D. T.; KANG, J. H.; LEE, M. S. Characterization of Lactobacillus
plantarum PH04, a potential probiotic bacterium with cholesterol-lowering
effects. Int. J. Food Microbiol. 2007, 113, 358.
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