VERIFICAÇÃO DE ATIVIDADE ANTIBIÓTICA FRENTE A PATÓGENOS DE IMPORTÂNCIA EM ALIMENTOS POR CEPAS DE BACTÉRIAS LÁCTICAS ISOLADAS DE SALAMES Loyse Tussolini (PIBIC/UNICENTRO), Tais Hobold Justo (ICVoluntária/UNICENTRO), Herta Stutz Dalla Santa, Osmar Roberto Dalla Santa (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/UNICENTRO – Departamento de Engenharia de Alimentos – Guarapuava, Paraná. Palavras-chave: bioproteção, bactérias láticas, patogênicas. Resumo A capacidade de inibir o crescimento de microrganismos patogênicos ou deteriorantes, de importância em alimentos, é um dos critérios utilizados para selecionar culturas starter para utilizar na produção de alimentos fermentados. Neste estudo foram selecionadas cepas de bactérias lácticas com capacidade de inibir o crescimento de espécies de bactérias patogênicas e/ou deteriorantes que podem estar presentes nos alimentos. Introdução Os alimentos podem conter uma ampla variedade e quantidade de microrganismos, estes podem interferir na vida útil ou causar doenças. Uma das possibilidades para substituir parcialmente ou totalmente os conservantes químicos é a utilização de certos microrganismos, denominados de culturas bioprotetoras ou de seus metabólitos, que são capazes de impedir ou retardar o desenvolvimento de espécies patogênicas e/ou deteriorantes. As culturas bioprotetoras podem atuar como culturas starter na elaboração de alimentos fermentados ou somente proteger aos alimentos sem provocar alterações sensoriais (TYÖPPÖNEN; PETÄJÄ; MATTILA-SANDHOLM, 2003). As bactérias lácticas despertam grande interesse devido ao seu potencial de utilização no biocontrole. Algumas espécies exercem atividade inibitória frente a outras bactérias, devido a competição direta por nutrientes ou pela produção de compostos com efeitos antagônicos e bacteriocinas. Os mecanismos antimicrobianos específicos das bactérias lácticas, explorados na bioconservação de alimentos (BUCKENHÜSKES, 1993; HANSEN, 2002). Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi verificar a atividade antibiótica de cepas de bactérias lácticas, isoladas de salames obtidos por fermentação espontânea, frente a microrganismos de importância em alimentos. Material e Métodos A atividade antimicrobiana de 30 cepas de bactérias lácticas isoladas de salames coloniais foi verificada pelo método de difusão por cavidade em ágar tripticase de soja. A capacidade inibitória foi avaliada pela possível ação de biocinas produzidas durante o crescimento das cepas de bactérias lácticas em caldo MRS. O caldo fermentado por 48 h a 37ºC pelas diferentes cepas foi centrifugado (4.000 rpm) e o sobrenadante foi dividido em duas partes, sendo que o pH de uma das partes foi ajustado a 6,0 (NaOH 1N). Após, os caldos foram concentrados a 50% em estufa com circulação de ar a 45ºC e filtrados em membrana de 0,2 µm (MUFANDAEDZA et al., 2006). As cepas de Escherichia coli (ATCC 25922), Staphylococcus aureus (ATCC 25923), Salmonella typhimurium (ATCC 14028), Pseudomonas aeroginosa (ATCC 27853) e Listeria monocytogenes (ATCC 19111) foram cultivadas em tubos com 10 ml de caldo tripticase de soja (TSB). Essas cepas patogênicas foram semeadas com o auxilio de swab estéril em placas de Petri contendo 15 ml de ágar Tripticase de Soja (TSA). Depois da absorção completa do inóculo pelo meio de cultura foram feitos poços de 8 mm aos quais foram adicionados 50 µl do caldo concentrado e filtrado das culturas de bactérias lácticas. As placas foram mantidas a 4ºC por 3 h para permitir a difusão do caldo concentrado no meio de cultura antes do crescimento das cepas patogênicas, depois as placas foram incubadas por 24 h a 37ºC. A atividade antimicrobiana foi mensurada pela zona de inibição ao redor da cavidade (MUFANDAEDZA et al., 2006). Resultados e Discussão Pelos resultados obtidos com o caldo concentrado sem ajuste de pH verificou-se que existem diferenças entre as cepas de bactérias lácticas na capacidade de inibir o crescimento das cepas de bactérias testadas. Isso pode ser observado pela formação ou não de halos de inibição do crescimento frente as cinco cepas bactérias de importância em alimentos utilizadas. Das 30 cepas de bactérias lácticas avaliadas, 76,67% apresentaram ação antimicrobiana com diferentes intensidades frente a cepa de Staphylococcus aureus. Sendo que a cepa que mais se destacou formou um halo maior que 3,0 mm. Em relação a inibição do crescimento da cepa de Salmonella typhimurium pelas cepas de bactérias láticas, 86,67% das cepas foram capazes de inibir o crescimento do patógeno. A cepa que apresentou maior atividade inibitória formou um halo de 2,3 mm. A ação antibiótica das cepas de bactérias láticas frente a cepa de Listeria monocytogenes foi muito eficiente, pois 96,67% delas foram capazes de inibir o crescimento deste patógeno. A cepa que apresentou maior atividade inibitória formou um halo de 7,5 mm. As cepas de bactérias láticas também mostraram-se eficientes quando submetidas ao teste de inibição do crescimento da cepa de Escherichia coli, onde 93,34% das cepas foram capazes de inibir seu crescimento. O maior halo de inibição formado foi de 3,0 mm. A restrição do crescimento deste microrganismo é muito importante, sendo que sua presença em alimentos representa riscos à saúde dos consumidores, pois algumas cepas de E. coli são comprovadamente patogênicas, podendo causar sérios danos à saúde do homem e de animais (FRANCO; LANDGRAF, 2007). As cepas de bactérias láticas testadas não se mostraram tão eficientes na inibição do crescimento da cepa de Pseudomonas aeroginosa. se comparado com a sua alta eficiencia frente ao patogenos citados acima. Das cepas avaliadas 60% foram capazes de inibir o crescimento, porém os halos de inibição do crescimento foram discretos. No teste realizado com os caldos fermentados pelas bactérias lácticas com o pH ajustado a 6,0, não foi verificada a inibição do crescimento frente as cepas de bactérias de importância em alimentos testadas. Conclusão Foram selecionadas cepas de bactérias lácticas com capacidade de inibir o crescimento de espécies de bactérias patogênicas e/ou deteriorantes que podem estar presentes nos alimentos. Assim essas cepas podem ser consideradas bioprotetoras. A utilização de culturas starter com potencial bioprotetor, na produção de alimentos fermentados, proporciona a obtenção de produtos com longa vida-de-prateleira e seguros a saúde do consumidor. Agradecimento A UNICENTRO por possibilitar o desenvolvimento deste estudo. Referências BUCKENHÜSKES, H. J. Selection criteria for lactic acid bacteria to be used as starter cultures for various food commodities. FEMS Microbiology Reviews. 1993. 12, 253. DALLA SANTA, O. R. Avaliação da qualidade de salames artesanais e seleção de culturas starter para a produção de salame tipo italiano. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, 2008. FRANCO, B. D. G. M.; LANDGRAF, M. Microbiologia dos Alimentos. São Paulo: Atheneu, 2007. 169 p. GANDHI, M.; CHIKINDAS, M. L. Listeria: A foodborne pathogen that knows how to survive. Int. J. of Food Microbiol. 2007, 113, 1. HANSEN, E. B. Commercial bacterial starter cultures for fermented foods of the future. Int. J. of Food Microbiol. 2002, 78, 119. MATARAGAS, M.; DROSINOS, E. H.; METAXOPOULOS, J. Antagonistic activity of lactic acid bacteria against Listeria monocytogenes in sliced cooked cured pork shoulder stored under vaccum or modified atmosphere at 4 + 2ºC. Food Microbiol. 2003, 20, 259. MUFANDAEDZA, J.; VILJOEN, B. C.; FERESU, S. B.; GADAGA, T. H. Antimicrobial properties of lactic acid bactéria and yeast-LAB cultures isolated from tradicional fermented milk against pathogenic Escherichia coli and Salmonella enteritidis strains. Int. J.l of Food Microbiol. 2006, 147. TYÖPPÖNEN, S.; PETÄJÄ, E.; MATTILA-SANDHOLM, T. Bioprotectives and probiotic for dry sausages. Int. J. Food Microbiol. 2003, 83, 233.