UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DOS NÚMEROS COMPLEXOS NO ENSINO SUPERIOR Por: Gilvan Gonçalves Ferreira Filho Orientador Prof. Nelsom Jose Veiga de Magalhães Rio de Janeiro 2005 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓR-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DOS NÚMEROS COMPLEXOS NO ENSINO SUPERIOR Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Docência do Ensino Superior. Por: Gilvan Gonçalves Ferreira Filho 3 AGRADECIMENTOS À minha família, que me incentivou a fazer este estudo; Ao meu orientador, Prof. Nelsom Jose Veiga de Magalhães, que forneceu orientações seguras, guiando meu caminho e Aos meus professores e colegas, pela caminhada solidária. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos meus familiares e principalmente a Deus, pelo apoio e bênçãos recebidas durante o curso. 5 RESUMO Neste trabalho monográfico será realizado um estudo a cerca do surgimento dos números complexos, dando ênfase aos primeiros estudos realizados por Bombelli e Cardano no século XVI. Trataremos, ainda, do fechamento, da extensão de suas operações, da aceitação da teoria dos números complexos e da equivocada abordagem realizada por parte das literaturas que tratam do assunto em epígrafe. Apresentaremos uma breve introdução sobre a teoria dos números complexos, abordando a correta definição, os elementos complexos especiais, as operações básicas, as representações geométricas, argumento, forma polar, raiz quarta, raiz n-ésima, complexos como matriz, os gaussianos e demais tópicos comumente omitidos nas diversas literaturas que tratam do assunto, em especial as do ensino superior. Apontaremos algumas considerações sobre a teoria dos números complexos e suas diversas possibilidades de aplicação, contextualizando dessa forma um assunto que na maioria das vezes, que estudamos, fica sem nenhum ponto de ancoragem.. Trabalharemos no sentido de apresentar de maneira completa e correta a teoria supra citada e proporcionar aos estudiosos do assunto uma visão crítica, correta e atual das várias literaturas encontradas atualmente no mercado bibliográfico. 6 METODOLOGIA A realização do trabalho monográfico será desenvolvida por meio de uma pesquisa bibliográfica e será procedida uma leitura dialética das abordagens feitas pelos autores da teoria dos números complexos. O resultado deste trabalho monográfico poderá ser utilizado por professores e alunos que pretendem estudar o tema em destaque. 7 SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................09 Capítulo I - O Descobrimento dos Números Complexos..................................12 1.1. Como surgiram os números complexos? 1.2. O primeiro estudo dos complexos: Bombelli 1572. 1.3. Investigação do fechamento dos complexos. 1.4. Extensão das operações transcendentes aos complexos. 1.5. A aceitação dos números complexos. Capítulo II - Introdução aos números complexos.... .........................................16 2.1. Os números complexos. 2.2. Definição de números complexos. 2.3. Elementos complexos especiais. 2.4. Operações básicas com números complexos. 2.5. Representação geométrica de um número complexo. 2.6. Argumento de um número complexo. 2.7. Forma polar de um número complexo. 2.8. Raiz quarta de um número complexo. 2.9. Raiz n-ésima de um número complexo. 2.10. Números complexos como matriz. 2.11. Os gaussianos. Capítulo III – Aplicações dos números complexos no ensino superior.................33 3.1. Considerações sobre os números complexos. 3.2. Números complexos na Física e na Química 3.3. Os números complexos como vectores, na matemática e na engenharia 3.4. A importância dos números complexos no ensino superior 8 Conclusão...............................................................................................................48 Anexos....................................................................................................................50 Bibliografia consultada...........................................................................................56 Índice......................................................................................................................57 9 INTRODUÇÃO Os números complexos foram inventados para resolvermos as equações do segundo grau? Não! Isso é uma falácia clássica. Além de historicamente errada, essa extremamente comum "explicação" para o surgimento dos números complexos é um absurdo encontrado com muita freqüência nos livros destinados ao estudo da teoria dos números complexos. Com efeito, por que alguém iria buscar raízes num campo numérico desconhecido? Até cerca de 1650 d.C., em respeito à orientação geométrica da matemática grega, as únicas raízes consideradas como legítimas ou verdadeiras eram as que correspondiam à grandezas geométricas ou físicas: podiam ser interpretadas como comprimentos, áreas, volumes, massas, etc. Diríamos hoje: correspondiam a números reais POSITIVOS. Por exemplo, Bhaskara, que foi um dos indianos que mais perto chegou da idéia da moderna álgebra (conhecia a regra menos vezes menos dá mais, trabalhava com equações de coeficientes negativos, etc), reconhecia que a equação x2 - 45 x = 250 era satisfeita por dois valores, x = 5 e x = - 5, mas dizia que não considera-se a segunda pois as pessoas não apreciam raízes negativas. Até o surgimento dos cartesianos, as raízes eram divididas em verdadeiras (correspondiam aos reais positivos) e falsas (que correspondiam aos reais negativos e não eram consideradas como legítimas). As únicas e raras ocorrências de raízes negativas nesse período surgiam em problemas de contabilidade, onde eram interpretadas como dívidas. O primeiro matemático a aceitar e estudar números negativos e complexos, ao invés de rejeitá-los simplesmente, como acontecia até então, foi Rafael Bombelli sendo o tema objeto de estudo para vários outros estudiosos, dentre eles Cardano, que ao tentar resolver a cúbica x 3 = 4 + 15x , a qual ele sabia ter raiz verdadeira x = 4, 10 constatou que a regra de dal Ferro-Tartaglia produzia a seguinte expressão ( em notação moderna ): x = 3 2 + − 121 + 3 2 − − 121 . Ao encontrar o termo − 121 , ele não sabia como proceder para conseguir resolver o cálculo, de modo a fazer a regra chegar ao esperado x = 4. Foram precisos mais de 25 anos para Rafael Bombelli, descobrir como resolver o impasse. Esse teve a idéia de operar com as quantidades da forma a + b − 1 sob as mesmas regras que se usa com os números reais, mais a propriedade ( − 1 )² = -1. Surgindo dessa forma o conjunto dos números complexos. Sabemos que uma equação algébrica depende do conjunto universo considerado para obter sua solução, logo se tentarmos obter o conjunto solução da equação x2+1 = 0 sobre o conjunto dos números reais, teremos como resposta o conjunto vazio, o que significa que não existe um número real que elevado ao quadrado seja igual a -1, mas se seguirmos o desenvolvimento da equação pelos métodos comuns, obteremos: Onde − 1 é a raiz quadrada do número real -1. Isto parece não ter significado prático e foi por esta razão que este número foi chamado imaginário, mas o simples fato de substituir − 1 pela letra i (unidade imaginária) e realizar operações como se estes números fossem polinômios, faz com que uma série de situações tanto na Matemática como na vida, tenham sentido prático de grande utilidade e isto nos leva à teoria dos números complexos. Há muito tempo em nossos currículos, em todos os níveis, especialmente no ensino superior, trabalhamos com números complexos e muitas vezes, passamos a idéia de que a unidade imaginária i, serve apenas para extrair uma raiz negativa e não proporcionamos aos alunos a oportunidade de perceber o quão importante o conjunto dos números complexos é em suas aplicações. 11 Portanto estudaremos, de uma forma simples e objetiva, em que universo é aplicada a tão sugestiva unidade imaginária i e verificaremos a partir do resultado deste estudo que o questionamento inicial realmente não passa de uma falácia clássica. 12 CAPÍTULO I O DESCOBRIMENTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS 1.1. Como surgiram os números complexos? Cardano em 1545 ao tentar resolver a cúbica x 3 = 4 + 15x , a qual ele sabia ter raiz verdadeira x = 4, constatou que a regra de dal Ferro-Tartaglia produzia a seguinte expressão ( em notação moderna ) : x = 3 2 + − 121 + 3 2 − − 121 Deparando-se com o termo − 121 , ele não conseguiu ver como "destravar" o cálculo, de modo a fazer a regra chegar ao esperado x = 4. Foram precisos mais de 25 anos para Bombelli, em 1572, atinar como resolver o impasse. Esse disse ter tido a "idéia louca" de operar com as quantidades da forma a + b − 1 sob as mesmas regras que se usa com os números reais, mais a propriedade ( − 1 )² = -1 para assim conseguir "destravar" a regra, fazendo-a produzir o desejado x = 4. O próprio Bombelli não estava bem seguro do que havia criado, chegando mesmo a dizer que eram uma nova espécie de raízes quadradas ... que tem regras diversas das outras. Para os demais matemáticos da época, os números complexos eram vistos com suspeita e quanto muito tolerados, na falta de melhor coisa. Até o nome que receberam, números SOFÍSTICOS, espelhava bem a situação. É de se acrescentar que alguns matemáticos da época procuraram descobrir maneiras de se evitar o uso dos complexos. Entre eles, o que mais procurou evitar as torturas mentais envolvidas com o uso de raízes quadradas de negativos foi Cardano. Em seu difícil livro De Regula Aliza, de 1570, Cardano procurou inventar artifícios de cálculo que evitassem o uso de raízes quadradas de negativos quando da aplicação das regras de resolução de cúbicas. Conseguiu apenas magros resultados. Foram necessários trezentos anos para que, em 1890, Capelli conseguisse provar que isso é em geral impossível de conseguir. 13 1.2. O primeiro estudo dos complexos: Bombelli 1572. Rafael Bombelli gastou 74 (setenta e quatro) páginas de sua obra L'Álgebra para estudar as leis algébricas que regiam os cálculos com as quantidades a + b − 1 . Em particular, mostrou que: • As 4 operações aritméticas sobre números complexos produzem números desse tipo; • A soma de um real e um imaginário puro não pode se reduzir a um só nome. 1.3. Investigação do fechamento dos complexos. Embora Bombelli já tivesse se preocupado em provar o fechamento das operações aritméticas com números complexos, em 1680, encontramos ninguém menos do que Leibniz questionando-se se seria real ou não o resultado de: (a + ib ) + ( a − ib ) Lambert, em 1 750, mostrou que i , i i , etc todos tem a forma a + ib. 1.4. Extensão das operações transcendentes aos complexos. A principal dificuldade foi entender o logaritmo de números complexos. E se vamos falar do ln z, por que não falar no log de reais negativos? Com efeito, estendeu-se por muitos anos a polêmica do significado e valor do ln (-1). Nada menos do que Leibniz, Euler e J. Bernoulli entraram na briga. Bernoulli alegava que, como 1 2 = (-1) 2, tomando o log, obtemos 0 = ln(1). Leibniz dizia que isso não pode ser correto, uma vez que teríamos, ln(-1) = 0, que -1 = e Q 1. 14 O passo decisivo foi dado por Euler que mostrou que o log de um número não nulo tem infinitos valores, os quais são todos imaginários no caso do número ser negativo. Boa parte dessas discussões envolviam argumentos metafísicos e não podemos dizer que Euler tenha esclarecido definitivamente a questão. Isso só ocorreu em 1830 com Martin Ohm, o qual deu uma teoria completa para o calculo de a b e de ln a (com a,b complexos). Suas idéias foram divulgadas e estendidas por Cauchy , o qual elucidou a questão da multivocidade através das noções de ramo principal e ramos secundários de uma função. Exemplo: Como e2 π i = 1 , então ln (e2 π i) = ln ( 1 ) mas é errado disso concluir que e2 π i = 0. Foi só com as idéias de Ohm e Cauchy que aprendemos a fazer o cálculo corretamente. 1.5. A aceitação dos números complexos. Talvez possamos dizer que os principais matemáticos responsáveis por essa aceitação foram: • Lambert e Euler que estudaram o fechamento dos números complexos sob operações algébricas e transcendentes; • Wessel que introduziu (1797) a moderna representação geométrica, que foi depois popularizada por Mourey e Gauss c. 1830; • Gauss que divulgou e muito usou essa representação e provou que os números complexos são necessários e suficientes para a Álgebra (Teorema Fundamental da Álgebra: todo polinômio de coeficientes reais ou complexos pode ser fatorado em termos lineares, possivelmente complexos); 15 • Ohm e Cauchy que esclareceram a multivocidade das operações algébricas e transcendentes sobre os complexos. Com isso, a terminologia desconfiada inicial (n. sofísticos c. 1570, n. imaginários c. 1650) acabou cedendo lugar a mais natural denominação atual: números complexos, em c. 1830. Já no século dos 1800 os números complexos encontraram grande uso no estudo da Mecânica de Fluídos, da Eletricidade e outros fenômenos em meios contínuos. Hoje, são instrumental absolutamente necessário em inúmeros campos da Ciência e Tecnologia. 16 CAPÍTULO II INTRODUÇÃO AOS NÚMEROS COMPLEXOS 2.1. Os números complexos. Na resolução de uma equação algébrica, um fator fundamental é o conjunto universo que representa o contexto onde poderemos encontrar as soluções. Por exemplo, se estivermos trabalhando no conjunto dos números racionais, a equação 2x+7 = 0, terá uma única solução dada por: x= −7 2 Assim, o conjunto solução será: 7 S = 2 No entanto, se estivermos procurando por um número inteiro como resposta, o conjunto solução será o conjunto vazio, isto é: S =Ø={ } Analogamente, se tentarmos obter o conjunto solução para a equação x2+1 = 0 sobre o conjunto dos números reais, teremos como resposta o conjunto vazio, isto é: S =Ø={ } O que significa que não existe um número real que elevado ao quadrado seja igual a -1, mas se seguirmos o desenvolvimento da equação pelos métodos comuns, obteremos: x = −1 17 Onde − 1 é a raiz quadrada do número real -1. Isto parece não ter significado prático e foi por esta razão que este número foi chamado imaginário, mas o simples fato de substituir − 1 pela letra i (unidade imaginária) e realizar operações como se estes números fossem polinômios, faz com que uma série de situações tanto na Matemática como na vida, tenham sentido prático de grande utilidade e isto nos leva à teoria dos números complexos. 2.2. Definição de número complexo Número complexo é todo número que pode ser escrito na forma: z = a + bi onde a e b são números reais e i é a unidade imaginária. O número real a é a parte real do número complexo z e o número real b é a parte imaginária do número complexo z, denotadas por: a = Re( z ); b = Im( z ) Exemplos de tais números são apresentados na tabela abaixo: Número complexo Parte real Parte imaginária 2+3i 2 3 2-3i 2 -3 2 2 0 3i 0 3 -3 i 0 -3 0 0 0 Observação: O conjunto de todos os números complexos é denotado pela letra C e o conjunto dos números reais pela letra R. Como todo número real x pode ser escrito como um 18 número complexo da forma z = x + yi , onde y = 0 , então assumiremos que o conjunto dos números reais está contido no conjunto dos números complexos. 2.3. Elementos complexos especiais • Igualdade de números complexos: Dados os números complexos z = a + bi e w = c + di , definimos a igualdade entre z e w, escrevendo z = w ⇔ a =ceb=d Para que os números complexos z = 2 + yi e w = c + 3i sejam iguais, deveremos ter que c = 2 e y = 3 . • Oposto de um número complexo: O oposto do número complexo z = a + bi é o número complexo denotado por − z = (a + bi ) , isto é: − z = Oposto (a + bi ) = ( − a ) + ( − b )i O oposto de z = −2 + 3i é o número complexo − z = 2 − 3i . • Conjugado de um número complexo: O número complexo conjugado de z = a + bi é o número complexo denotado por z = a − bi , isto é: z = conjungado (a + bi ) = a + ( − b )i O conjugado de z = 2 − 3i é o número complexo z = 2 + 3i . 2.4. Operações básicas com números complexos Dados os números complexos z = a + bi e w = c + di , podemos definir duas operações fundamentais, adição e produto, agindo sobre eles da seguinte forma: z + w = (a + bi ) + (c + di ) = (a + c ) + (b + d )i z .w = (a + bi ).(c + di ) = (ac − bd ) + (ad + bc )i 19 Observação: Estas operações nos lembram as operações com expressões polinomiais, pois a adição é realizada de uma forma semelhante, isto é (a + bx ) + (c + dx ) = (a + c ) + (b + d ) x e a multiplicação (a + bx ).(c + dx ) , é realizada através de um algoritmo que aparece na forma: a = bx c + dx X ac + bcx adx + bdx ² ac + (bc + ad ) x + bdx ² de forma que devamos trocar x2 por -1. Exemplos: Se z = 2 + 3i e w = 4 − 6i , então z + w = ( 2 + 3 i ) + ( 4 − 6 i ) = 6 − 3i Se z = 2 + 3i e w = 4 − 6i , então z .w = ( 2 + 3i ).(4 − 6i ) = −4 + 0i 2.4.1 - Potências da unidade imaginária Quando tomamos i = − 1 temos uma série de valores muito simples para as potências de i : Potência i2 i3 i4 i5 i6 i7 i8 i9 Valor -1 -i 1 i -1 -i 1 i Pela tabela acima podemos observar que as potência de i cujos expoentes são múltiplos de 4, fornecem o resultado 1, logo toda potência de i pode ter o expoente 20 decomposto em um múltiplo de 4 mais um resto que poderá ser 0, 1, 2 ou 3. Dessa forma podemos calcular rapidamente qualquer potência de i, apenas conhecendo o resto da divisão do expoente por 4. Curiosidade sobre a unidade imaginária Ao pensar um número complexo z = a + bi como um vetor z = (a , b ) no plano cartesiano, a multiplicação de um número complexo z = a + bi pela unidade imaginária i , resulta em um outro número complexo w = b + ai , que forma um ângulo reto (90 graus) com o número complexo z = a + bi dado. 2.4.2 - O inverso de um número complexo Dado um número complexo z = a + bi , não nulo (a ou b deve ser diferente de −1 zero) podemos definir o inverso deste número complexo como o número z = u + iv , tal que: Z . Z −1 = 1 −1 O produto de z pelo seu inverso z deve ser igual a 1, isto é: 21 (a + bi ).(u + iv ) = (au − bv ) + (av + bu)i = 1 = 1 + 0.i o que nos leva a um sistema com duas equações e duas incógnitas: au − bv = 1 bu + av = 1 Este sistema pode ser resolvido pela regra de Cramér e possui uma única solução (pois a ou b são diferentes de zero), fornecendo: u=a a 2 + b2 ( ) v = −b a 2 + b2 ( ) assim, o inverso do número complexo z = a + bi é: z −1 = a b i − a 2 + b2 a 2 + b2 Exemplo: O inverso do número complexo z = 5 + 12i é 5 12 z −1 = − i 169 169 • Obtenção do inverso de um número complexo: Para obter o inverso de um número complexo, por exemplo, o inverso de z = 5 + 12i , deve-se : • 1.Escrever o inverso desejado na forma de uma fração; z −1 = 1 1 = z 5 + 12i 22 2.Multiplicar o numerador e o denominador da fração pelo conjugado de z ; z −1 = 1 5 − 12i = 5 + 12i (5 + 12i ).(5 − 12i ) 3.Lembrar que i2 = -1, simplificar os números complexos pela redução dos termos semelhantes. z −1 = 5 − 12 i 169 Observação: Na última igualdade (proporção) o produto dos meios é igual ao produto dos extremos. 2.4.3 - A diferença entre números complexos A diferença entre os números complexos z = a + bi e z = a + bi é definida como o número complexo obtido pela soma entre z e − w , isto é: Z − W = Z + (− W ) Exemplo: A diferença entre os complexos z = 2 + 3i e w = 5 + 12i , é: z − w = (2 + 3i ) + (− 5 − 12i ) = (2 − 5) + (3 − 12)i = −3 − 9i 2.4.4 - A divisão entre números complexos A divisão entre os números complexos z = a + bi e w = c + di (w não nulo) é −1 definida como o número complexo obtido pelo produto entre z e w , isto é: z = z . w −1 w 23 Exemplo: Para dividir o número complexo z = 2 + 3i por w = 5 + 12i , basta multiplicar z o numerador e também o denominador da fração w pelo conjugado de w : 12i 2 + 3i z 5 = (2 + 3i ). − = w 5 + 12i 169 169 2.5. Representação geométrica de um número complexo Um número complexo da forma z = a + bi , pode ser representado geometricamente no plano cartesiano, como sendo um ponto (par ordenado) tomando-se a abscissa deste ponto como a parte real do número complexo a no eixo OX e a ordenada como a parte imaginária do número complexo z no eixo OY, sendo que o número complexo 0 = 0 + 0i é representado pela própria origem (0,0) do sistema. 2.5.1 - Módulo de um número complexo No gráfico anterior podemos observar que existe um triângulo retângulo cuja hipotenusa correspondente à distância entre a origem 0 e o número complexo z, normalmente denotada pela letra grega ro, o cateto horizontal tem comprimento igual à parte real a do número complexo e o cateto vertical corresponde à parte imaginária b do número complexo z. 24 Desse modo, se z = a + bi é um número complexo, então: p2 = a 2 + b2 e a medida da hipotenusa será por definição, o módulo do número complexo z, denotado por |z|, isto é: z = a 2 + b2 2.6. Argumento de um número complexo O ângulo formado entre o segmento OZ e o eixo OX, aqui representada pela letra grega alfa, é denominado o argumento do número complexo z. Pelas definições da trigonometria circular temos as três relações: cosα = b a b sen α = tgα = a p p Por experiências com programação na Internet, observei que é melhor usar o cosseno ou o seno do ângulo para definir bem o argumento, uma vez que a tangente apresenta alguns problemas. 2.7. Forma polar de um número complexo Das duas primeiras relações trigonométricas apresentadas anteriormente, podemos escrever: z = a + bi = p . cos α + p . sen α . i e assim temos a forma polar do número complexo z: 25 z = p . (cos α + i sen α ) 2.7.1 - Multiplicação de números complexos na forma polar Consideremos os números complexos: z = r (cos m + sen m ) w = s(cos n + sen n) onde, respectivamente, r e s são os módulos e m e n são os argumentos destes números complexos z e w . Podemos realizar o produto entre estes números da forma usual e depois reescrever este produto na forma: z .w = rs[cos( m + n) + i sen( m + n)] Este fato é garantido pelas relações: cos(m + n) = cos(m ). cos(n) − sen(m ). sen(n) sen(m + n) = sen(m ). cos(n) + sen(m ). cos(n) 2.7.2 - Potência de um número complexo na forma polar Seguindo o produto acima, poderemos obter a potência de ordem k de um número complexo. Como: z = r [cos (m) + i sen (m)] então: z k = r k [cos(km ) + i sen( km )] 26 Exemplo: Consideremos o número complexo z=1+i, cujo módulo é igual à raiz quadrada de 2 e o argumento é igual a 1/4 de pi (45 graus). Para elevar este número à potência 16, basta escrever: z 16 = 28 [cos(720º ) + i sen( 720º )] = 256 2.8. Raiz quarta de um número complexo Um ponto fundamental que valoriza a existência dos números complexos é a possibilidade de extrair a raiz de ordem 4 de um número complexo, mesmo que ele seja um número real negativo, o que significa, resolver uma equação algébrica do 4º. grau. Por exemplo, para extrair a raiz quarta do número -16, basta encontrar as quatro raízes da equação algébrica x 4 + 16 = 0 . Antes de seguir em nosso processo para a obtenção da raiz quarta de um número complexo w, necessitamos antes de tudo, saber o seu módulo r e o seu argumento t, o que significa poder escrever: w = r (cos t + i sen t ) O primeiro passo é realizar um desenho mostrando esse número complexo w em um círculo de raio r e observar o argumento t, dado pelo angulo entre o eixo OX e o número complexo w. 27 O passo seguinte é obter um outro número complexo z1 cujo módulo seja a raiz quarta de r e cujo argumento seja t/4. Este número complexo é a primeira das quatro raízes complexas procuradas. t t z = r cos + i sen 4 4 1 1 4 As outras raízes serão: z 2 = i . z1 z3 = i . z2 z4 = i . z3 e todas elas aparecem no gráfico: 28 Observação: O processo para obter as quatro raízes do número complexo w ficou muito facilitado pois conhecemos a propriedade geométrica que o número complexo i multiplicado por outro número complexo, roda este último de 90 graus e outro fato interessante é que todas as quatro raízes de w estão localizadas sobre a mesma circunferência e os ângulos formados entre duas raízes consecutivas é de 90 graus. Se os quatro números complexos forem ligados, aparecerá um quadrado rodado de t/4 radianos em relação ao eixo OX. 2.9. Raiz n-ésima de um número complexo Antes de continuar, apresentaremos a importantíssima relação de Euler: e i.t = cos t + i sen t que é verdadeira para todo argumento real e a constante e tem o valor aproximado 2,71828... Para facilitar a escrita usamos freqüentemente: exp (i.t) = cos t + i sen t 29 Observação: A partir da relação de Euler, é possível construir uma relação notável envolvendo os mais importantes sinais e constantes da Matemática: e i .π + 1 = 0 Voltemos agora à exp(i .t ) . Se multiplicarmos o número ei.t por um número complexo z, o resultado será um outro número complexo rodado de t radianos em relação ao número complexo z. Por exemplo, se multiplicarmos o número complexo z por: e i π 8 = cos π 8 + i sen π 8 obteremos um número complexo z1 que forma com z um ângulo pi/8=22,5o, no sentido anti-horário. n Iremos agora resolver a equação x = w , onde n é um número natural e w é um número complexo dado. Da mesma forma que antes, podemos escrever o número complexo w = r ( cos t + i sen t) 30 e usar a relação de Euler, para obter: w = r e i.t Para extrair a raiz n-ésima, deve-se construir a primeira raiz que é dada pelo número complexo 1 n z( 1 ) = r e i .t n Todas as outras n-1 raízes serão obtidas pela multiplicação recursiva dada por: z(k) = z(k-1 ) e 2. iPi n onde k varia de 2 até n. Exemplo: Para obter a primeira raiz da equação x8=-64, observamos a posição do número complexo w = -64 + 0 i, constatando que o seu módulo é igual a 64 e o argumento é um ângulo raso (pi radianos = 180 graus). Aqui a raiz oitava de 64 é igual a 2 e o argumento da primeira raiz é pi/8, então z1 pode ser escrita na forma polar: z1 = 2.e π i = 2.(cos 22,5º + i . sen 22,5º ) 8 As outras raízes serão obtidas pela multiplicação do número complexo abaixo, através de qualquer uma das três formas: 31 2π 2π e π i = cos + i . sen = cos 45º + i . sen 45º 8 8 8 ou ainda pela forma simplificada: Assim: z(2) = z(1). z(3) = z(2). z(4) = z(3). z(5) = z(4). z(6) = z(5). z(7) = z(6). z(8) = z(7). 2.10. Número complexo como matriz Existe um estudo sobre números complexos, no qual um número complexo z=a+bi pode ser tratado como uma matriz quadrada 2x2 da forma: 32 a − b z = b a e todas as propriedades dos números complexos, podem ser obtidas através de matrizes, resultando em processos que transformam as características geométricas dos números complexos em algo simples. 2.11. Os gaussianos 2.11.1 - Os inteiros gaussianos Os inteiros gaussianos são números complexos em que tanto a parte real a como a parte imaginária b são inteiros. Exemplo: 9 - 2i é um inteiro gaussiano, ao contrário de 2/3 -i. 2.11.2 - Os primos gaussianos De forma idêntica à dos primos em N, os primos gaussianos são os inteiros gaussianos divisíveis apenas por si próprios e por 1, -1, i e -i. Nem todos os primos reais são primos gaussianos. É possível determinar da seguinte forma se um número complexo é ou não primo gaussiano: • Se a 0eb 0 então a + bi é um primo gaussiano se e só se a2 + b2 é um número primo. • Um inteiro gaussiano da forma a ou ai, com a em Z, é um primo gaussiano se e só se a é primo e |a| 3. 33 CAPÍTULO III APLICAÇÕES DOS NÚMEROS COMPLEXOS NO ENSINO SUPERIOR Neste capítulo veremos não somente as aplicações lógicas para criar hipótese e teoria sobre os números complexos mas também para fundamentar e apoiar as diversas outras áreas do conhecimento, como a Física, Engenharia, Química e outras. 3.1. Considerações sobre os números complexos Há muito tempo, em nossos currículos, trabalhamos com números complexos. Muitas vezes, passamos a nossos alunos a idéia de que a unidade imaginária i, serve apenas para extrair uma raiz negativa e não proporcionamos a eles a oportunidade de perceber o quão importante o conjunto dos números complexos é em suas aplicações. Com este trabalho monográfico, tenho o objetivo de apresentar, de uma forma rápida, precisa e concisa, como podemos fazer com que o aluno compreenda em que universo do ensino superior é aplicada a tão sugestiva unidade imaginária i. 3.2. Números complexos na Física e na Química Há mais de 200 anos, a física, a química e a matemática estão intimamente ligadas no que diz respeito a conjuntos numéricos. Embora não haja um estudo mais aprofundado, já se sabe que atualmente, na física contemporânea, a aplicação do conjunto dos números complexos é tão grande, que é até possível pensar em uma autêntica " complejificación de la física", como cita o autor Frederico de Rubio y Galy em "The Role of Mathematics in the Rise of Science". Nesta mesma obra, Dr Frederico dá aos números complexos a idéia de par ordenado: " um par ordenado de números reais, onde suas coordenadas representam a parte real e imaginária do complexo". Assim, apresenta como os números complexos podem multiplicar-se e como é simples a sua representação como vetor. 34 Fica claro então, como o universo de complexos se expande no mundo da física, onde é utilizado pelos físicos contemporâneos de forma familiar em diversas teorias. Vejamos alguns exemplos. 3.2.1 - Vetores e quantidades complexas Dado um número complexo determinado por ( a,b ), onde a e b são números reais, podemos facilmente representa-lo em um plano. Tomando como base a localização de pares ordenados, localizamos o par ( a,b ) e formamos o vetor com origem em ( 0,0 ) e extremidade em ( a,b ). Para facilitar essa representação, vamos utilizar uma nova quantidade que chamaremos de operador i, embora alguns autores também o denominam operador j. Observemos a figura: Figura I O vetor H, representado sobre o eixo de referência, à direita do eixo vertical está sofrendo uma rotação. Ao se deslocar para a esquerda do eixo vertical, temos o vetor – H , que é o próprio vetor H multiplicado por –1. Então, se para fazer com que o vetor gire 180H é necessário multiplica-lo por –1, para que sua rotação seja de 90H ( e o vetor 35 se localize sobre o eixo vertical ) é necessário multiplica-lo por − 1 , pois −1 . −1 = -1. A expressão − 1 não é aceita como número real e é então simbolizada pela letra i. Assim, qualquer vetor multiplicado por i, sofre uma rotação de 90H . Portanto, na figura anterior temos: Figura II Esta representação onde o vetor acompanhado de +i está no eixo vertical para cima e acompanhado de –i está no eixo vertical para baixo é chamada forma complexa. 3.2.2 - Números complexos e circuitos monofásicos No estudo de circuitos, a aplicação de números complexos aparece na forma de vetores, que determinam algumas equações importantes, com a presença da unidade imaginária. Um circuito monofásico é alimentado por uma única tensão alternada. Quando a única dificuldade que a tensão sofre é a resistência efetiva, o circuito é dito puramente resistivo. Nesse circuito, a tensão Er e a intensidade de corrente I atingem valores correspondentes ao mesmo tempo, o que faz com que os seus vetores representativos fiquem sobre o eixo de referência. Dizemos então que as grandezas estão em fase. 36 Figura III Figura IV Quando a dificuldade que a corrente sofre é a reatância capacitiva, o circuito é chamado puramente capacitivo. Nesse circuito, Ec e I não atingem valores correspondentes ao mesmo tempo, de modo que os vetores que as representam fiquem um sobre cada eixo. Neste caso, dizemos que Ec e I estão defasadas 90H. (I se antecipa aos valores de Ec). Figura V 37 Figura VI Quando o circuito apresenta como dificuldade à reatância indutiva, o circuito é chamado de puramente indutivo. Nesse circuito Ei e I também estão defasadas 90H (I está atrasada aos valores de Ei). Figura VII Figura VIII 38 3.2.3 - Circuito em fase tipo R –C R e C simbolizam a resistência e a capacitância equivalente. Nesse circuito, a dificuldade encontrada pela fonte para estabelecer uma corrente no circuito é determinada pela soma vetorial de R e Xc.A tensão E é a soma vetorial das componentes Er e Ec. Figura IX Observa-se que o ângulo de defasagem é menor que 90H , assim, podemos representar o vetor E na forma trigonométrica, onde E = E cos q - i sen q ou na forma binômia E = Er – i Ec. 3.2.4 - Circuito em série tipo R – L – C Neste tipo de circuito três situações podem ocorrer: 39 Figura X No primeiro caso, o circuito comporta-se como circuito indutivo, o segundo como capacitivo e o terceiro como resistivo. Nesse caso o vetor é representado na forma: E = Er + i ( El – Ec ) = E cos q + i sen q . 3.2.5 - Números complexos e sinais sinusoidais Além das formas trigonométrica e binômia, os números complexos podem ser representado em notação exponencial, onde Z = P e iq, sendo P o módulo do complexo e q o ângulo formado com o eixo de referência ( argumento ). Esta propriedade dos complexos é muito utilizada para expressar as funções seno e cosseno em notação exponencial, onde: e i( x) + e −i( x) cos( x ) = 2 sen( x ) = e i( x) − e −i( x) 2i Assim, podemos representar as exponenciais complexas: e i ( x ) = cos( x ) + i . sen( x ) e i ( x ) = cos( x ) − i . sen( x ) Com isso, a resolução de uma equação com funções sinusoidais pode ser efetuada recorrendo a uma função exponencial complexa. 40 3.2.6 - Números complexos e a função de onda A equação de onda que rege o movimento dos elétrons foi obtida por Schrodinger em 1925. Esta equação é análoga a equação de onda clássica e o que a difere é justamente a aparição explícita do número imaginário i. Vejamos: aψ ( x,t) k 2 a 2ψ ( x , t ) V x x t ik − + = ( ) ( , ) ψ at 2m ax 2 Vemos que essa equação é satisfeita pela função de onda harmônica, que nada mais é que um complexo em sua forma polar: As funções de onda de Schrodinger não são necessariamente reais, contudo a probabilidade de encontrar um elétron é totalmente real. Para podermos encontrar essa probabilidade, mudaremos a interpretação da equação de onda de modo que ela seja real. Para isso, utilizaremos a propriedade que o complexo possui de, quando multiplicado por seu conjugado, se tornar real. Assim, a probabilidade será dada por: ∫ −+ ∞∞ ψ * ydx = 1 , onde ψ * é o conjugado do complexo ψ . Esta equação é chamada de equação de normalização. Essa condição tem um papel importante na mecânica quântica, pois coloca uma restrição nas soluções da equação de Schrodinger que leva à quantização de energia. Com os aspectos abordados acima, percebemos que o conjunto de números complexos tem um universo infinito de aplicações, que com a Física Moderna e descobertas recentes está aumentado cada vez mais. Logo a exposição dessas aplicações 41 em qualquer nível de ensino deve ser feita de maneira clara e precisa uma vez que nossos alunos não possuem muitos dos conhecimentos aqui abordados, mas o certo é, que não podemos priva-los desse entendimento. 3.3. Os números complexos como vectores, na matemática e na engenharia No trabalho com números complexos, uma das idéias mais simples e com mais potencialidades é a da representação dos números complexos por vectores. É simples porque a cada número complexo a + bi está associado o vector de coordenadas (a, b). As potencialidades são várias e em perspectivas diferentes. Por um lado, a representação visual dos complexos, a sua comparação, a interpretação das operações com complexos em termos de transformações geométricas ou operações com vectores. Por outro lado, o poder do cálculo algébrico com complexos para resolver problemas geométricos ou de natureza vectorial. Em nossa opinião, estas potencialidades são exploradas através de um trabalho sistemático de interpretação vectorial dos complexos, das suas relações, e das operações que se realizam com eles. As duas representações numéricas de um número complexo, algébrica e trigonométrica, têm leituras diferentes na interpretação vectorial. A forma algébrica corresponde imediatamente às coordenadas do vector, a forma trigonométrica dá informação direta da norma, da direção e do sentido do vector. 3.3.1 - Módulos argumentos e vectores Representa geometricamente os vectores associados aos seguintes números complexos: 42 z1 = 5i z2 = 4 + 3i z3 = 3 – 4i π z4 = cis 6 π z5 = 5 cis 6 5π z6 = 5 cis(– 6 ) Que relação existe entre o vector associado e o módulo e o argumento de cada número complexo? Representa outros vectores com a norma igual à do vector associado a z1, e indica os números correspondentes aos vectores que representaste. Escreve uma expressão geral para todos os números complexos associados a vectores com essa norma. Representa outros vectores com argumento igual ao do vector associado a z4, e indica os números correspondentes aos vectores que representaste. Escreve uma expressão geral para todos os números complexos associados a vectores com esse argumento. A ideia base desta actividade é trabalhar as relações entre os parâmetros que aparecem nos números complexos – módulo e argumento – e o seu significado na interpretação vectorial. O facto de ser pedida uma expressão geral é uma forma de iniciar logo a abordagem de condições em C. Os números escolhidos para a atividade têm isso em conta, e é fácil obter rapidamente outros números que verifiquem a mesma condição. Para z1, z2, z3, z5 e z6 π temos |z| = 5; para z4 e z5 temos arg(z) = 6 . 43 Conhecidas estas relações, há todo um tipo de questões que interessa colocar, relacionadas com transformações geométricas. Adição de números complexos Interpreta vectorialmente, isto é, traduz em termos de operações com vectores: a adição de dois números complexos quaisquer, dados na forma algébrica; a subtracção de dois números complexos quaisquer, dados na forma algébrica. Consideramos como familiares aos alunos, porque foram tratadas em anos anteriores, as operações elementares com vectores, nomeadamente a adição e a y subtracção de vectores. z1 b i a+c 1 a O c b+d x z1 + z2 d z2 44 A adição de números complexos corresponde, muito convenientemente, à adição de vectores, e a subtracção de números complexos à adição de um vector com o seu simétrico. 3.3.2 - Escoamento de líquidos incompreensíveis e explicações diversas Podemos afirmar que várias teorias matemáticas resultaram, posteriormente, em ferramentas para o entendimento de modelos das Ciências Naturais com os quais a princípio não pareciam ter nenhum relacionamento. Os números complexos, por exemplo, introduzidos para dar sentido à existência de soluções de equações polinomiais, conduziram ao estudo do cálculo diferencial, ferramenta utilizada em muitos cursos de graduação, com números complexos. O desenvolvimento posteriormente, o da entendimento teoria pela dos números Química do complexos possibilitou, escoamento de fluidos incompreensíveis até então sem explicação Os números complexos trabalhando juntamente com a teoria de S. Hawking proporcionou uma explicação para os "buracos negros", necessitando para isso de complexos cálculos envolvendo a teoria em estudo e mecânica quântica. 45 3.3.3 – A importância do estudo dos números complexos como vectores Podemos afirmar que várias teorias matemáticas resultaram, posteriormente, em ferramentas para o entendimento de modelos das Ciências Naturais com os quais a princípio não pareciam ter nenhum relacionamento. Os números complexos, por exemplo, introduzidos para dar sentido à existência de soluções de equações polinomiais, conduziram ao estudo do cálculo diferencial com números complexos. O desenvolvimento dessa teoria possibilitou, posteriormente, o entendimento do escoamento de fluidos incompreensíveis. A teoria de S. Hawking para explicar os "buracos negros" necessita de resultados envolvendo números complexos e mecânica quântica. A formalização da mecânica quântica só foi possível via a fundamentação dada pelo matemático J. von Neumann, utilizando a teoria de espaços de funções desenvolvidas em grande parte pelo matemático D. Hilbert, que jamais imaginaria que sua teoria matemática do começo do século XX iria se aplicar a tal assunto. A matemática trabalha não somente com modelos lógicos para criar hipóteses e teorias, mas também para fundamentar e apoiar várias outras áreas do conhecimento, como a Economia, a Física, a Engenharia, a Química, a Informática e outras. Por isso se mantém sempre atual, sendo ferramenta básica para o dia-a-dia das pessoas, que a utilizam em simples cálculos domésticos e na administração de grandes empresas, no planejamento de máquinas e edifícios e na criação de complexos sistemas automatizados. 46 O desenvolvimento de um motor, de um circuito elétrico ou de um chip de computador necessita de uma enorme quantidade de cálculos matemáticos e de teorias matemáticas, assim como a maioria dos aparelhos elétricos. A era industrial só foi possível devido ao desenvolvimento da matemática, da química e da física por Newton, Lagrange, Fourier, Cauchy, Gauss e outros cientistas. 3.4. A importância dos números complexos no ensino superior Atualmente, o ensino da matemática em geral deve procurar trabalhar com exemplos práticos, na vida e em outras disciplinas (trabalhar a interdisciplinaridade), para despertar no aluno à vontade e o desejo de aprender. Com isso, qualquer assunto ou tópico construirá um conhecimento sólido e não superficial e os alunos conseguirão estabelecer relações mais facilmente. O ritmo intenso do desenvolvimento tecnológico dos tempos atuais produz o seguinte fenômeno: é cada vez menor o tempo decorrente entre o desenvolvimento de uma teoria matemática e sua utilização prática. A tendência de todas as Ciências é cada vez mais se "matematizarem" em função do desenvolvimento de modelos matemáticos que descrevem fenômenos (determinísticos ou aleatórios) naturais de maneira adequada. Dessa forma, é essencial que o ensino da matemática seja compatível com os avanços científicos e tecnológicos que caracterizam a nossa sociedade neste início de século. O que observamos e que na maioria das grades curriculares do ensino superior de vários outros países, o estudante faz algum curso de matemática, com a seguinte 47 justificativa: numa sociedade moderna em que a "eficiência" é um dos objetivos maiores, maximizar benefícios e minimizar perdas é essencial. Nestes casos, invariavelmente, algum modelo matemático deve entrar em jogo. Tendo em vista as diversas possibilidades de aplicações dos números complexos no ensino superior, abordadas neste trabalho monográfico, podemos observar o quanto é importante o conjunto citado, não só pela gigantesca aplicação na física, matemática, química, engenharia e várias outras áreas do conhecimento, mais também pela importância do desenvolvimento da pesquisa. Outro motivo importante para o estudo do assunto no ensino superior é encerrar totalmente a idéia de que os números complexos existem tão somente para resolver equações do 2º grau sem respostas no conjunto dos Reais e expor de forma clara precisa e concisa a importância dos números complexos em um curso de graduação e em diversas pesquisas. Logo podemos inferir o quanto é importante e explorados nas diversas áreas do ensino superior a teoria dos números complexos, pois mostramos o quanto é estudado, de forma direta, indireta e em pesquisas, nos cursos de graduação em matemática, física, química, engenharia e outros, haja vista que dão sustentação a várias outros assuntos, possibilitam a compreensão de fenômenos e proporcionam o desenvolvimento da pesquisa. 48 CONCLUSÃO Com os aspectos abordados neste trabalho monográfico, percebemos que o conjunto dos números complexos tem um universo gigantesco de aplicações, que com a física moderna, com descobertas recentes na química e engenharia estão aumentado cada vez mais. Logo a exposição dessas aplicações no ensino do assunto deve ser feita de maneira precisa, concisas e objetiva, visto que nossos alunos não possuem muitos dos conhecimentos aqui abordados, mas o certo é que não podemos privá-los dessas informações. Portanto é uma forma não viável passar a idéia aos alunos de que o único fim dos números complexos é a resolução de equações do segundo grau sem resposta nos reais e omitir, por exemplo, a importância desse assunto em um curso de graduação em engenharia elétrica. Alguns educadores vem relegando esse conteúdo, que além de ser relevante para o desenvolvimento cognitivo do aluno e para a compreensão da realidade que o cerca (fenômenos físicos, por exemplo), é muito cobrada em vestibulares, concursos públicos e em cursos de graduação como os economia, física, engenharia, química, informática e muitos outros. Diante do exposto podemos inferir que quem mais uma vez sai perdendo é a educação e o educando. 49 Grande parte dos livros didáticos procedem de forma análoga à anteriormente mencionada, ou seja, desprezam, esquecem ou tratam a teoria dos números complexos de forma desatenciosa. E esse tipo de procedimento é mais comum que possamos imaginar, citemos o caso do livro Matemática, que apresenta tal assunto de forma tão superficial que chega ao ponto de apenas mencionar a existência do conjunto dos números complexos; já o livro Matemática Fundamental apresenta o assunto de forma razoável , mas ainda incompleta e inadequada, pois o assunto é exposto isoladamente. Como podemos observar, existe também aqueles que ainda tem preocupação com o ensino e apresentam o assunto de forma completa e adequada (explorando a interdisciplinaridade), como é caso do livro Números Complexos, Polinômios e Equações Algébricas. Atualmente, o ensino da matemática em geral deve procurar trabalhar com exemplos práticos, na vida e em outras disciplinas (trabalhar a interdisciplinaridade), para despertar no aluno à vontade e o desejo de aprender. Com isso, qualquer assunto ou tópico construirá um conhecimento sólido e não superficial e os alunos conseguirão estabelecer relações mais adequadamente. Quanto ao educador, terá seu trabalho coberto de êxito. 50 ANEXOS 51 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DOS NÚMEROS COMPLEXOS NO ENSINO SUPERIOR Projeto de Pesquisa apresentado ao professor Nelsom Jose Veiga de Magalhães Gilvan Gonçalves Ferreira Filho Rio de Janeiro Janeiro de 2005 52 PROJETO DE PESQUISA NÚMEROS COMPLEXOS 1- Tema Teoria dos números complexos desenvolvida ao longo dos anos por Bombelli Cardano e Gauss. 2- Justificativa A atual forma de abordagem, encontrada na maioria dos livros didáticos, da teoria desenvolvida por Bombelli, Cardano e também por Gauss, em sua maioria das vezes, tem deixado a desejar, visto que não apresentam de forma correta e completa o assunto, além de fragmentá-lo e não contextualizá-lo, tornando-o em um assunto sem pontos de ancoragem e aplicação. Por essas razões, o desejo de melhor apresentar esse conteúdo, informar as melhores e piores publicações e apontar suas diversas aplicações. Faremos este estudo por meio de pesquisa bibliográfica, fazendo uma leitura dialética das abordagens desenvolvidas pelos autores, pois só assim poderemos conhecer e selecionar melhor as publicações. Inicialmente faremos uma apresentação do assunto de forma correta e contextualizada e posteriormente uma avaliação das bibliografias e finalizando apresentaremos as possibilidades de aplicação do assunto, pois assim teremos o conhecimento necessário à seleção das publicações. 3- Problema Os estudos das teorias relativas aos números complexos foram realizados com o fim único de resolver equações do segundo grau ? 4- Hipótese Tendo em vista a grande quantidade de livros didáticos que passam a idéia de que os números complexos foram criados com o objetivo único de resolver equações do segundo grau, torna-se importante apresentar as verdadeiras motivações para o estudo da teoria dos números complexos. 5- Objetivos Expor as verdadeiras motivações que levaram os pesquisadores a criar a teoria dos números complexos, esclarecer as diversas aplicações da teoria e identificar algumas excelentes e algumas péssimas publicações sobre o assunto em questão. 6- Metodologia A realização do trabalho monográfico será desenvolvida por meio de uma pesquisa bibliográfica e será procedida uma leitura dialética das abordagens feitas pelos autores da teoria dos números complexos. O trabalho monográfico poderá ser utilizado por professores e alunos que pretendem estudar o tema em destaque. 7- Fundamentação Teórica Podemos observar que as abordagens feitas em livros didáticos de uma forma geral, principalmente nos livros Matemática volume único e Matemática fundamental, são elaborados basicamente com a finalidade de apresentar a criação dos números 53 complexos como resposta a uma única necessidade: a de dar significado às raízes quadradas de números negativos, ou seja, encontrar uma solução para as equações do 2º grau com discriminantes negativos. Diante dessa situação não podemos nos calar pois sabemos que essa posição é simplista e incompleta pois o estudo da teoria visa atender, dentre outras coisas, a necessidades sentida pelos matemáticos, de ampliar o campo numérico de seu trabalho, dando resposta á vários questionamentos até então sem resposta, conforme descreve Aref Antar Neto em seu livro Números complexos, Polinômios e Equações Algébricas. 8- Cronograma De posse do problema, utilizei aproximadamente 02 (dois) meses para juntar todo o material necessário. Após esta juntada o projeto foi elaborado em torno de 02 (dois) meses e provavelmente a monografia, já iniciada, tenha sua conclusão em 28 de janeiro de 2005. 9- Bibliografia Todos os livros que serão utilizados no trabalho monográfico estão abaixo relacionados: CARL, B. Boyer. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 1996. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. 2. ed. Campinas, SP: editora da UNICAMP, 1997. GIOVANNI, José Ruy. Matemática Fundamental. São Paulo: FTD, 1994. DOLCE, Osvaldo. Matemática: volume único. São Paulo: Atual Editora, 1999. IMENES, Luiz Márcio. Matemática. São Paulo: Scipione, 1989. ANTAR NETO, Aref. Números Complexos, Polinômios e Equações Algébricas. São Paulo: Editora Moderna, 1982. 54 SUMÁRIO Introdução..........................................................................................................09 Capítulo I - O Descobrimento dos Números Complexos..................................12 1.1. Como surgiram os números complexos? 1.2. O primeiro estudo dos complexos: Bombelli 1572. 1.3. Investigação do fechamento dos complexos. 1.4. Extensão das operações transcendentes aos complexos. 1.5. A aceitação dos números complexos. Capítulo II - Introdução aos números complexos.... .........................................16 2.1. Os números complexos. 2.2. Definição de números complexos. 2.3. Elementos complexos especiais. 2.4. Operações básicas com números complexos. 2.5. Representação geométrica de um número complexo. 2.6. Argumento de um número complexo. 2.7. Forma polar de um número complexo. 2.8. Raiz quarta de um número complexo. 2.9. Raiz n-ésima de um número complexo. 2.10. Números complexos como matriz. 2.11. Os gaussianos. Capítulo III – Aplicações dos números complexos no ensino superior.................33 3.1. Considerações sobre os números complexos. 3.2. Números complexos na Física e na Química 3.3. Os números complexos como vectores, na matemática e na engenharia 3.4. A importância dos números complexos no ensino superior 55 Conclusão...............................................................................................................48 Anexos....................................................................................................................50 Bibliografia consultada...........................................................................................56 Índice......................................................................................................................57 56 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA CARL, B. Boyer. História da Matemática. 2. ed. São Paulo: Edgard Blucher Ltda, 1996. EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. 2. ed. Campinas, SP: editora da UNICAMP, 1997. GIOVANNI, José Ruy. Matemática Fundamental. São Paulo: FTD, 1994. GUELLI, Oscar. Contando a História da Matemática. 8. ed . São Paulo: LisaLivros irradiantes S/A, 1978. IMENES, Luiz Márcio. Matemática. São Paulo: Scipione, 1989. DOLCE, Osvaldo. Matemática: volume único. São Paulo: Atual Editora, 1999. IMENES, Luiz Márcio. Matemática. São Paulo: Scipione, 1989 ANTAR NETO, Aref. Números Complexos, Polinômios e Equações Algébricas. São Paulo: Editora Moderna, 1982. 57 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 2 AGRADECIMENTO 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I 12 O DESCOBRIMENTO DOS NÚMEROS COMPLEXOS 1.1 – Como surgiram os números complexos 12 1.2 – O primeiro estudo dos complexos: Bombelli 1572 13 1.3 – Investigação do fechamento dos complexos 13 1.4 – Extensão das operações transcendentes aos complexos 13 1.5 – A aceitação dos números complexos 14 CAPÍTULO II 16 INTRODUÇÃO AOS NÚMEROS COMPLEXOS 2.1 – Os números complexos 16 2.2 – Definição de número complexos 17 2.3 – Elementos complexos especiais 18 2.4 – Operações básicas com números complexos 18 2.4.1 – Potências da unidade imaginária 19 2.4.2 – O inverso de um número complexo 20 58 2.4.3 – A diferença entre números complexos 22 2.4.4 – A divisão entre números complexos 22 2.5 – Representação geométrica de um número complexo 2.5.1 – Módulo de um número complexo 23 23 2.6 – Argumento de um número complexo 24 2.7 – Forma polar de um número complexo 24 2.7.1 – Multiplicação de números complexos na forma polar 25 2.7.2 – Potência de um número complexo na forma polar 25 2.8 – Raiz quarta de um número complexo 26 2.9 – Raiz n-ésima de um número complexo 28 2.10 – Número complexo como matriz 31 2.11 – Os gaussianos 32 2.11.1 – Os inteiros gaussianos 32 2.11.2 – Os primos gaussianos 32 CAPÍTULO III APLICAÇÕES DOS NÚMEROS COMPLEXOS NO ENSINO SUPERIOR 33 3.1 – Considerações sobre os números complexos 33 3.2 - Números complexos na Física e na Química 33 3.2.1 – Vetores e quantidades complexas 34 3.2.2 – Números complexos e circuitos monofásicos 35 3.2.3 – Circuito em fase R – C 38 3.2.4 – Circuito em série tipo R – L – C 38 3.2.5 – Números complexos e sinais sinusoidais 39 3.2.6 – Números complexos e a função de onda 40 59 3.3 – Os números complexos como vectores, na matemática e na engenharia 41 3.3.1 – Módulos argumentos e vectores 41 3.3.2 – Escoamento de líquidos incompreensíveis e explicações diversas 44 3.3.3 – A importância do estudo dos números complexos como vectores 3.4 – A importância dos números complexos no ensino superior 46 CONCLUSÃO 48 ANEXOS 50 PROJETO DE PESQUISA 51 SUMÁRIO 54 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 56 ÍNDICE 57