42º Curso de Atualização em Cirurgia do Aparelho Digestivo, Coloproctologia, Transplante de Órgãos do Aparelho Digestivo Esofagite eosinofílica e doença do refluxo gastroesofágico: Pontos em comum Joaquim Prado P Moraes-filho F requentemente é difícil diferenciar a esofagite eosinofílica (EEo) da doença do refluxo gastroesofágico (DRGE). A DRGE apresenta diversos sintomas de disfunção esofágica que incluem dentre outros: pirose, dor torácica não-cardíaca e disfagia com inflamação da mucosa que pode incluir eosinofilia. A EEo é definida como uma doença esofágica crônica imuno-mediada desencadeada por antígenos, caracterizada por sintomas de disfunção esofágica e inflamação com predomínio de eosinófilos (≥ 15 eosin/cga). Atualmente é sabido que a eosinofilia esofágica tem como principais etiologias a DRGE e a EEo. Os sintomas da EEo não são específicos da enfermidade e, por outro lado, a simples presença de eosinofilia tambem não é característica da doença, sendo passível por isso até certo ponto de confusão com a DRGE. A resposta positiva aos inibidores da bomba protônica, (IBP: omeprazol, lansoprazol, rabeprazol, pantoprazol, esomeprazol) aos pacientes com DRGE e tambem a determinados pacientes com EEo é um fator a ser considerado. De fato, efetividade desse fármaco na redução de sintomas em determinados pacientes com EEo tem se tornado evidente. O refluxo ácido desempenha nesses casos um papel importante uma vez que a presença da dilatação intercelular acentua a possibilidade de exposição antigênica e eosinofilia. Assim, considerados esses os pontos histopatológicos e terapêuticos em comum, a questão que eventualmente se poderia colocar é o que esses pacientes efetivamente apresentam: EEo, DRGE ou outra condição inflamatória esofágica responsiva aos IBP? Existem evidências de que a DRGE pode ser um fator de exacerbação na patogenia de determinados pacientes com EEo e isso se deve ao refluxo ácido que pode estar presente. O refluxo gastroesofágico leva ao aumento da permeabilidade epitelial esofágica por dilatação do espaço intercelular. Portanto, existe potencialmente uma elevação na exposição de eventuais antígenos alimentares intraluminares às células antigênicas. Alem disso, tem sido demonstrado experimentalmente que a presença de ácido aumenta a viabilidade eosinofílica e eleva a expressão de proteínas que atuam como quimio-atrativos aos eosinófilos. É, pois, viável considerar o refluxo ácido como um co-fator na patogênese da EEo e, nesse sentido a terapêutica com IBP constitui uma alternativa importante. De fato, trabalhos recentes tem descrito que 30% a 50% dos pacientes com eosinofilia esofágica importante respondem satisfatoriamente aos IBP. A presença de refluxo ácido não indica que o refluxo é único responsável pela eosinofilia esofágica, mas sugere a sua participação na patogenia da enfermidade. Gastrão 2015 Anais do Gastrão 2015 p.175 42º Curso de Atualização em Cirurgia do Aparelho Digestivo, Coloproctologia, Transplante de Órgãos do Aparelho Digestivo Os esteróides tópicos induzem à remissão histológica e sintomática da EEo e devem ser considerados como terapia de primeira linha. Tendo em vista, entretanto, o eventual papel do refluxo ácido na estimulação antigênica da EEo, uma vez que os IBP que possuem perfil farmacológico seguro e constituem medicamentos de fácil administração, IBP, (omeprazol, lansoprazol, rabeprazol, pantozol, esomeprazol) é válido considerá-los como opção interessante ao tratamento dos pacientes com diagnóstico de EEo e que são responsivos aos IBP. Leitura recomendada - Liacouras Ca et al. Eosinophilic esophagitis: updated consensus recommendations for children and adults. J Allergy Clin Immunol 2011;128:3-20. - Spechler SJ et al. Thoughts on the complex relationship between gastroesophageal reflux disease and eosinophilic esophagitis. Am J Gastroenterol 2007; 102:1301-6. - Hirano I. Should patients with suspected eosinophiic esophagitis undergo a therapeutic trial of proton pump inhibition? Am J Gastroenterol 2013;108:373-375. - Hirano I. Role of advanced diagnostics for eosinophilic esophagitis. Dig Dis 2014:32:78-83. - Delon ES et al. ACG Clinical Guideline: evidence based approach to the diagnosis and management of esophageal eosinophilia and eosinophilic esophagitis. Am J Gastroenterol 2013;108:679-692. - Sawas T et al. Systematic review with meta-analysis: pharmacological interventions for eosinophilic esophagitis. Aliment Pharmacol Ther 2015;41:797-915. Anais do Gastrão 2015 p.176 Gastrão 2015