Dr. Ricardo Katsuya Toma - Gastroenterologista Pediátrica 05 OUT 2015 Esofagite Eosinofílica (EEo) é uma doença inflamatória crônica do esôfago imuno/antígeno mediada, caracterizada clinicamente por sintomas relacionados à disfunção esofágica, histologicamente por inflamação predominantemente eosinofílica e que não responde à terapia com inibidor de bomba de prótons (IBP). Desde as primeiras descrições no início da década de 90, a incidência e a prevalência aumentaram consideravelmente em todo o mundo. A prevalência da EEo é de 0,89/10.000 na Austrália a 4/10.000 crianças em Ohio, e vem se tornando a segunda causa de inflamação esofágica após a doença do refluxo gastroesofágico ( DRGE) e a principal causa de disfagia e impactação alimentar em crianças e adultos jovens. A história natural começou a ser definida nos últimos anos. É uma doença crônica, com sintomas persistentes, a endoscopia pode ser absolutamente normal como pode apresentar alterações mais características como anéis concêntricos, sulcos longitudinais, exsudatos brancos eosinofícos e estenose esofágica. A avaliação histológica mostra eosinofilia esofágica, hiperplasia da camada basal, fibrose da lâmina própria e, por vezes, micro abscessos eosinofílicos. A presença de pelo menos 15 eosinófilos por campo de grande aumento (CGA) encontrado em pelo menos 1 fragmento de biópsia esofágica, apesar do tratamento de 8 semanas com inibidor de bomba de prótons (IBP), é requerido para a definição histológica da doença. Na ausência de tratamento, a inflamação esofágica pode progredir para remodelamento fibroestenótico do esôfago na idade adulta, a chance de ter o fenótipo fibroestenótico mais que dobra a cada 10 anos de idade e o período não tratado da doença correlaciona se diretamente com a prevalência de estenoses esofágicas de uma maneira tempo dependente. O tratamento da EEo é baseado na sua patogênese. Acredita se que a EEo seja uma doença de resposta imune mediada por célula TH2 e que envolve interleucinas IL-4, IL-5 e IL 13 a alimentos e/ou alérgenos ambientais. IL-5 e IL13 estimulam o epitélio esofágico a produzir eotaxina 3, uma potente citocina que recruta eosinófilos para o esôfago. A atividade eosinofílica libera múltiplos fatores que promovem a inflamação local e a lesão tecidual, incluindo TGF-1. O TGF-1 e os mastócitos, parecem ser mediadores principais do remodelamento esofágico, resultando em fibrose subepitelial e disfunção do músculo liso. Existem 3 propostas terapêuticas para o tratamento da EEo, frequentemente referido como 3 Ds: dieta, drogas e dilatação, com o objetivo terapêutico de atingir a remissão histológica e a resolução do calibre do esôfago, que podem ser utilizadas isoladamente ou em associação. O tratamento dietético por 4 a 12 semanas é uma opção terapêutica para toda criança com diagnóstico confirmado de EEo e pode ser realizados através do uso dieta exclusiva com fórmula de aminoácidos livres, dieta de eliminação dirigida pela história clínica e resultado dos exames de sensibilização alérgica e a dieta de eliminação empírica onde são removidos mais alergênicos independente da sensibilização alérgica e que mais frequentemente estão relacionados à EEo, que são leite e seus derivados, soja, ovo, trigo, sementes oleaginosas, peixe e frutos do mar. A decisão do tipo de dieta a ser prescrita deve ser individualizada considerando as necessidades específicas de cada criança e suas circunstâncias familiares. Além disso, o tratamento dietético requer supervisão de nutricionista especializadas para assegurar adesão à dieta e a manutenção do estado nutricional; O tratamento medicamentoso, por sua vez, é realizado com corticóide (tópico ou sistêmico). Apesar da eficácia do corticóide sistêmico no controle dos sintomas, não são frequentemente utilizados devido aos efeitos colaterais, mas podem ser usados nos casos mais graves para alívio imediato dos sintomas. A toxicidade do corticóide sistêmico a longo prazo tem conduzido ao uso de preparados de corticóides tópicos “off label” como o propionato de fluticasona e a budesonida por 2 a 12 semanas, que são considerado eficientes para o tratamento de EEo ativo, a curto e longo prazo. Cuidado quando a técnica de manipulação e uso deve ser orientado para favorecer o sucesso do tratamento, o corticóide tópico deve ser deglutido ( não inalado) e não comer, beber ou lavar a boca por 30 minutos. Embora o tratamento dos sintomas agudos com corticóides tópicos se mostrarem eficazes para atingir a remissão da doença, frequentemente ocorre a recidiva dos sintomas após suspensão do corticóide, mostrando a necessidade de tratamento de manutenção com baixas doses de corticóide tópico para a manutenção da remissão histológica e clínica em muitos pacientes. Outras medicações como cromoglicato de sódio, inibidor do leucotrieno, imunomoduladores e biológicos ainda não podem ser recomendados. Artigos de referência: A. Papadoulus et al, for the ESPGHAN Eosinophilic Esophagitis Working Group and Gastroenterology Committee. Management Guidelines of Eosinophilic Esophagitis in Childhood. (JPGN 2014;58:107-118)