O mito em

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O mito em Édipo Rei
Simone Mazzilli da Rosa
Este trabalho tem a finalidade de fazer com que se possa realizar uma análise sobre o papel do
pai no mito grego Rei Édipo, partindo de uma fundamentação básica sobre o que é o mito, suas
características e uma breve apresentação da obra. A busca feita da interpretação da paternidade será feita
baseada nas questões psicanalíticas de Freud e do complexo por ele desenvolvido. O intuito de realizar o
trabalho é a tentativa de corroborar a idéia de que Édipo (protagonista da obra) não sofria deste
complexo e principalmente identificar as questões relacionadas à família (em primeira instância ao pai) e
todas as conseqüências que esta relação pode vir a trazer para o filho e o pai.
As tragédias gregas são carregadas de horror e tratam de temas que envolvem emoções e afetam
os laços primários essenciais do homem, dentro de um certo espírito, que não necessariamente é o nosso.
É indiscutivelmente compreensível que a “convocação” dessas desgraças e emoções repercuta no âmago
da sensibilidade humana.
A tragédia grega em Rei Édipo que é a obra em questão, pode ser dividia em partes, sendo elas:
antecedente, que é o peso do sentimento de culpa; o mito trágico, que é a história em si; o herói trágico,
que é Édipo, caracterizado como homem de superior, perfeito e de caráter; a moira, que é o seu destino;
as peripécias, que são a passagem de uma situação para a outra; a hamartia, que compreende os erros do
herói, a sua falha trágica; o reconhecimento, subdividido em nó e desenlace (efeito através da palavra); o
trágico e o monstruoso, que são as catástrofes e as cenas patéticas; o terror e a piedade e; a catarse.
Sigmund Freud, ao verificar a fonte das psicopatologias no chamado “complexo de Édipo”, e
desenvolver parte de sua teoria psicanalítica sobre a sua interpretação deste complexo realojou o nome
de Édipo no seio da cultura, ao associá-la à existência problemática do indivíduo contemporâneo. Sabese que a teoria psicanalítica desde Freud está interessada em analisar os estados psíquicos.
Lévi-Strauss aceita que as interpretações Freudianas são como mais uma expressão do tema
mítico, uma vez que não tem compromisso com a raiz helênica, até mesmo porque o núcleo da reflexão
de Freud se dá com o denominado “Complexo de Édipo”e sua potencialidade simbólica, e não com o
mito de Édipo propriamente. Sendo assim, percebem-se dois momentos de expressão do mito em Édipo,
o helênico e o freudiano-psicanalítico no caso de a teoria psicanalítica prever da historicidade do texto
de Sófocles e do mito de Édipo.
O nome de Édipo já era conhecido na teoria psicanalítica, seja para criticar a esquizofrenia da
sociedade contemporânea ou para esclarecer a mentalidade e a sexualidade infantis.O estruturalismo, por
sua vez, preocupa-se, através do mito de Édipo, em encontrar peças para compreender o comportamento
dos homens e das sociedades, e também em formular os nexos da cultura, segundo a antropologia
estrutural de Lévi –Strauss.
Para compreender a exposição sobre a pré-história e o declínio do complexo de Édipo no menino
e na menina segundo Freud, deve-se levar em com conta as posições que o aparelho psíquico podem
assumir nas pessoas. Freud, em Psicologia de grupo e análise do ego, aponta quatro posições, as de
modelo, objeto, auxiliar e adversário, que parecem básicas para poder entender o fenômeno da
identificação, e que utiliza para conceitualizar também o complexo apresentado.
Ao relacionar a pré-história do complexo de Édipo no menino, Freud afirma em Psicologia de
grupo: “ A identificação é conhecida em psicanálise como a manifestação mais precoce de um laço
afetivo com outra pessoa que desempenha um papel muito importante na pré-história do complexo de
Édipo. O menino manifesta um interesse especial por seu pai, como gostaria de ser como ele e substituílo em tudo. Podemos dizer que faz seu pai seu ideal.(...) Simultaneamente com esta identificação com o
pai, o menino começa a dirigir-se à mãe como objetos de pulsões libidinosas. Mostra dois tipos de
laços, psicologicamente diferentes. Um francamente sexual, com a mãe e uma identificação com o pai,
quem considera como um modelo a imitar(...)”.Quanto ao declínio do complexo de Édipo no menino
ocorre, segundo Freud, uma passagem: a identificação ocupa o lugar da escolha do objeto.
Édipo não tinha o complexo de Édipo, uma vez que Sófocles escreve a peça Rei Édipo mais de
dois mil anos antes de Freud ter batizado tal complexo com o nome do protagonista. Nem mesmo Édipo
poderia ser acusado disso, já que desconhecia estar matando o pai ou freqüentando a cama da mãe.
Sendo assim, para que se possa desenvolver o assunto, é necessário que se faça uma breve apresentação
da obra.
Todos já ouviram falar da obra grega Rei Édipo, na qual seu protagonista (Édipo) é condenado
pelo destino a matar seu pai e desposar sua mãe. Faz tudo o que pode para escapar à predição do
oráculo, mas não o consegue e castiga-se vazando seus olhos quando averigua que sem saber cometera
os dois crimes que lhe haviam sido preditos.O crime vai revelando-se aos poucos, semelhantemente ao
tratamento psicanalítico.
Laio (pai de Édipo) foi “expulso”de Tebas pela vida que tinha, não descartando a
homossexualidade. Refugiou-se em Pélope e recebeu do rei a sua amizade e lhe entregou a educação de
Crisipo (seu filho). Certo dia, Laio fugiu e levou Crisipo com ele e, o rei o amaldiçoou pelo rapto de seu
filho. Tempo depois Jocasta (mãe de Édipo) e Laio se casam e ele resolve buscar seu destino no oráculo.
Como vê-se, Laio raptou Crisipo (devido a seus desejos sexuais) fazendo com que Pélope
invocasse os deuses, e com a seguinte maldição: “Laio, Laio, jamais tenha um filho, e se chegares a têlo que seja o assassino de seu pai”. O rapto e a maldição são o princípio de todas as calamidades de
Laio.
Este castigo não seria arbitrário; aplica-se a Laio por sua conduta homossexual na casa de
Pélope. Assim fica evidente que Édipo carece de toda a culpa e que sofre de um destino que he foi
imposto por seu próprio pai, mais ainda, pela mãe “figura” do pai, quem, tenderá a matá-lo ao nascer e
na adolescência. Para os atenienses, Laio era, além de corrupto, o primeiro propagador de pederastia.
Laio e Jacasta, sua esposa, a despeito das ameaças dos oráculos, tiveram um filho: Édipo. Para
então se livrar das maldições dos deuses, no terceiro dia de vida da criança, abandonaram-no nas mãos
de um criado dando-lhe ordem de amarrá-lo e abandoná-lo. Por muitos anos o casal foi feliz, porém
certo dia, Laio o meio de uma vigem encontra um jovem andante (Édipo) e manda matá-lo, no entanto
morre pelas mãos dele.
No decorrer o diálogo, Édipo mata o pai e se casa com a mãe. No entanto, na tragédia, não se põe
em dúvida a culpabilidade de Laio e ninguém culpa Édipo. Freud elimina esta hipótese , pois garante
que ali está o núcleo de sua própria neurose. Outro terrível acontecimento é a peste que toma conta de
Tebas e o oráculo, neste caso, garante que a tragédia só cessaria no instante em que o assassino de Laio
deixasse as Terras.
Édipo achava ser filho dos reis de Corinto, Políbio e Mérope. Entretanto, certo dia foi acusado
por um aldeão de ser adotivo. Uma vez que seus pais não lhe deram explicação foi em busca de um
oráculo. Sabendo do seu destino fugiu e foi nesta situação que matou Laio. Depois, em seu matrimônio
com sua mãe, teve quarto filhos que morreram. Jocasta se matou. Este personagem, destinado ao
monstruoso, agride, portanto, todas as relações normais no seio de uma família; e diante do mundo que
se lhe abre, ele prefere fugir de tudo, vazando-se os olhos. No entanto este gesto não põe um fim aos
males da sua linhagem.
Descobre-se, que os pais que criaram Édipo, não são seus verdadeiros pais. Como dito, esta
situação só é esclarecida no meio da tragédia, porém, Édipo muitas vezes perguntou-se se realmente
aquela era a sua família, como se pode perceber no seguinte fragmento:
“ Édipo: Isso mesmo, velho, isto é que me tem em permanentemente inquietude.
Mensageiro: Pois convenceste que nisso não tem qualquer motivo de preocupação.
Édipo: Como não, se eles são meus pais?
Mensageiro: Porque Pólibo não tinha nada a ver contigo.
Édipo: Que dizes? Não é ele meu pai que me engendrou?
Mensageiro: Tanto quanto este homem (eu), o mesmo.
Édipo: São o mesmo o pai e o que não é?
Mensageiro: É que nem ele te engendrou nem eu.
Édipo: Não? Pois como me chamou sempre de filho?
Mensageiro: Olha, rei, porque foste um presente que ele recebeu de minhas mãos.
Édipo: E tanto me soubes amar tendo me recebido de outros?
Mensageiro: O ver-se sem filhos ensinou-o a fazê-lo”.
Édipo não cessa as buscas pelo pai e a questão da adoção. Percebe-se isto na seguinte passagem:
“Tiresias: Certamente, sem as práticas religiosa, nossa fé se apaga. Mas, por que se
ainda acreditavas, já não te aproximavas dos altares?
Édipo: Porque já não tinha a mãos puras.
Tiresias: Algum crime os havia manchado?
Édipo: no caminho de Deus que ia consultar e da Esfinge que ia combate, um
homicídio que havia cometido...
Tiresias: Mas tu sabias que Deus se nega a responder àqueles cujas mãos estão
manchadas.
Édipo: É verdade; por isso, renunciando a interrogá-lo, mudei de cainho e tomei o
que me conduzia a Esfinge.
Tiresias: Que queria perguntar a Deus?
Édipo: Que me fizesse saber de quem era filho. Depois, subitamente, me resignei a
ignorá-lo”.
Na tragédia em questão, o coro é testemunho, não julga, ratifica ou esclarece, modificando-se de
acordo ao que se vê e ao progressivo esclarecimento do duplo crime. Em um momento o coro censura a
Édipo. Uma vê descoberto Édipo como o assassino de Laio, o coro diz:
“Por fim, e a despeito de ti, o tempo te encontrou, ele tu vê, já condenou a união
impossível, onde por tanto tempo andaram pais e filhos. Ó, filho de Laio!Oxalá,
Oxalá, jamais te houvesse visto. Gemo como quem não tem para seu lábios senão
ais de dor. A bem da verdade, por ti alcei a cabeça e por ti já fecho meus olhos (à
felicidade)”.
Freud considera Rei Édipo uma obra imoral, uma vez que inimiza as responsabilidades do
homem, atribui às potências divinas a iniciativa do crime e acaba demonstrando que as tendências
morais do indivíduo carecem de poder para resistir ao crime. Percebe-se na obra em questão que a força
de mitologia é bastante evidente, assim, o parricídio e o incesto consumados por Édipo aparecem
condenados pela primeira instituição religiosa e social dos homens, o totemismo.
Corroborando esta idéia, a psicanálise encontrou nos mitos e nas lendas a exemplificação das
neuroses que afligem a humanidade. Ao fundamentar a obra de Sófocles, pode-se observar que a
tragédia surge não como resultado do incesto e do parricídio, mas da vida de Laio (pai de Édipo) e da
maldição que lhe rogara o pai de Crisipo (Filho do rei de Pélope, e que foi seqüestrado por Édipo).
Será possível que algum leitor do mito Rei Édipo baseado em sua leitura psicanalítica, pense que
seu protagonista seja portador anomalias psíquicas, que seu fim trágico, as patologias e desvios de sua
estrutura afetiva e de seu inconsciente, ou que ele age, sob o impulso de forças inconscientes.
A relação existente entre a moira de Édipo e o inconsciente, que fundamenta parte das
interpretações psicanalíticas do mito e da tragédia de Édipo, é muito perigosa, uma vez que não há
elementos nas expressões helênicas do pensamento mítico que permitam associar as Moiras Eríneas a
forças inconscientes. De outra forma, identificar como inconsciente a relação de Édipo com seus atos,
seria confundir o estado de ignorância com o estado de inconsciência.
Abordando agora, especificamente, a questão da paternidade em Édipo vê-se que desde os
primeiro achados de Freud, sabe-se da importância da relação mãe-filho. No entanto, só atualmente é
que se começou a lançar a importância que tem a figura do pai desde os primeiros instantes de vida; ou
ainda, desde o momento da concepção. Estudos psicanalíticos garantem que é fundamental para a vida
da criança que seu nascimento tenha sido desejado; é tão importante sentir-se filho do pai como
realmente sê-lo. Permitiu-se também provar que desde cedo os filhos notam a realidade interna do pai e
da mãe. Se foi adotado, se nasceu de um pai que não é o que o cria, entre outros fatores são armazenados
na memória das crianças e futuramente se contradizem com as verdades.Um menino sem pai, ou que for
criado junto a um pai psicologicamente distraído (ausente) ou muito fraco, apresenta transtornos
psíquicos ou orgânicos, provavelmente como Édipo. Freud, através de suas obras, aponta que o
complexo de Édipo é o nó da neurose infantil e adulta.
Pode-se dizer que a origem materna do papel paterno faz com que, desde criança o sentimento
paternal se veja perturbado. É imprescindível a presença de pai e mãe para um bom desenvolvimento
emocional e para satisfazer a necessária identificação do menino com os dois aspectos que oferecem os
progenitores.
O papel do pai varia segundo as diferentes idades do filho. Até perto dos quatro meses a crianças
se centraliza quase que exclusivamente na mãe. Após essa idade, a imagem paterna é ainda mais
fundamental. Tanto para Freud, como para seus seguidores consideram a relação dos pais com os filho é
o ponto central para poder compreender o desenvolvimento do adulto e o triângulo pai-mãe-filho se
denominou “complexo de Édipo”.O filho é então o reflexo de seus pais, da sua presença e da forma de
agir.
Os achados da psicanálise, sobre o significado da relação pai-filho e, atualmente sobre a
importância que tem o pai desde a mais precoce infância, abriram um caminho que conduz à profilaxia
de muitos transtornos psíquicos e físicos nos filhos e nos pais.
A partir dos fatos analisados e, na minha concepção, o complexo de Édipo é de muito valor, uma
vez que busca avaliar psicologicamente o papel paterno ( e o materno) relacionando com as
necessidades e atitudes da criança em diferentes etapas de sua vida. E baseado nos fatos e nas
características da obra Rei Édipo, de Sófocles e, é possível perceber, não pelo ponto de vista de Freud,
que o personagem Édipo, não sofreu do seu complexo, uma vez que todos os fatos acontecidos foram
fruto dos atos de seu pai.
BILBIOGRAFIA
ABERASTURY, Arminda e SALAS, Eduardo J. A paternidade. Trad. de Maria Nestrovsky Folberg.
Porto Alegre: Artes Médicas,1984.
ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Martin Claret, 2003.
GOLDGRUB, Franklin. O complexo de Édipo. São Paulo: Ática, 1989.
MARSCHALL, Francisco. Édipo tirano, a tragédia do saber. (colocar data e editora.)
VOLPE, Altivir João. Édipo: psicodrama do destino.São Paulo: Agora, 1990.
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