“PODER” – Definir (A) Do que já foi exposto até aqui podemos retirar como termo essencial “Poder”. Fazendo primeiro uma abordagem genérica sobre este conceito, há que notar que a definição dada ao mesmo tem variado ao longo da História, em função da corrente de pensamento que inspirava os autores que trataram o tema. Para Max Weber, pai da sociologia, o Poder consistia na “probabilidade de um certo comando com um conteúdo específico a ser obedecido por um grupo determinado”. Já na concepção de Nicolau Maquiavel o principal dever do príncipe (governante) seria conquistar e conservar o Poder a qualquer custo, o que parece adequar-se também a Édipo. Para compreender o papel que o conceito desempenha nesta tragédia será, no entanto, necessário “desconstrui-lo”, revelando a sua riqueza de sentidos. Com efeito, podemos constatar que nesta história existe uma dicotomia/confronto fundamental entre o Poder Divino e o Poder de Édipo (humano), sendo que dentro de cada tipo de Poder conseguimos encontrar múltiplas facetas de como estes se manifestam perante os outros. A Divindade é frequentemente invocada através dos oráculos. O oráculo revelava a resposta de um Deus, aqui Apolo, Deus da verdade, às inquietações daqueles que o consultavam. Divindade que tudo sabia pois tudo determinava, recompensando os sacrifícios e punindo as ofensas. O Poder Divino seria, assim, algo superior e absoluto, subjugando todos os mortais a um destino alheio à sua vontade. Este facto encontra-se bem patente nas palavras do Coro quando este encara Édipo pela primeira vez após a cegueira provocada: “Que divindade acometeu, impetuosa, a tua desventurada sorte?” (1300-1301). Paralelamente ao Poder dos Deuses, actua o Poder de Édipo, limitado e enfraquecido pela sua condição humana e pela vulnerabilidade face ao erro. Em Édipo, o Poder revela-se mesmo antes de chegar ao trono de Tebas. Após ser confrontado por um terrível pronuncio do oráculo, Édipo acaba, sem saber, por matar o seu pai durante a fuga de Corinto. A vontade de se preservar, de preservar o domínio sobre o seu próprio destino, conjugado com um orgulho exacerbado levam Édipo a atingir fatalmente Laio. Já enquanto rei, Édipo faz tudo para manter o controlo da situação e descobrir a “mancha” que contaminava o Estado de Tebas. O regente assume o Poder que lhe é concedido, também como fonte de obrigações, exercendo-o de forma implacável e instigando o temor para obter o que pretende. Édipo entende esta descoberta como uma jornada necessária para a salvaguarda do interesse público mas sobretudo, da sua soberania, não tendo aqui contemplações, nem mesmo perante a própria família (de relembrar o confronto com Creonte, irmão de Jocasta, mãe e esposa do soberano). Finalmente, não podemos deixar de estabelecer uma ligação entre o Poder de Édipo e o Poder dos Deuses. Pode-se assim dizer que Édipo, enquanto governante supremo do seu povo por investidura divina, era um representante do Poder dos Deuses no mundo dos Homens, perante o qual todos os cidadãos se deveriam vergar. Também na ilustração desta ideia as palavras do Coro revelam aqui grande pertinência:”Igual aos deuses te não consideramos, nem eu, nem estes jovens ao sentarmo-nos junto aos teus altares, mas como o primeiro dos homens nos revezes da existência e no trato com os deuses” (32-35). Flávia de Sá