PDF Português - Revista Adolescência e Saúde

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ARTIGO ORIGINAL
Cirlene das
Graças Ferreira1
Patrícia Costa dos
Santos da Silva2
Claudia Umbelina
Baptista Andrade3
Evelise Aline
Soares4
Alimentação na adolescência
e a relação com o estresse
Food in adolescence and relationship with stress
Gema Mesquita5
> RESUMO
Objetivo: Analisar os tipos de alimentos consumidos em um grupo de adolescentes da zona urbana, a relação com o estresse e a orientação familiar. Métodos: Estudo de campo, transversal descritivo. A amostra foi composta por 139 adolescentes
na faixa etária de 10 a 19 anos de um município do Sul de Minas Gerais. Para avaliar o consumo de alimentos utilizou-se
um questionário autoavaliativo e para avaliar a sintomatologia de estresse utilizou-se a Escala de Estresse para Adolescentes
- ESA. Resultados: 81,3% dos adolescentes relataram consumir arroz, feijão e carne. Destes, 88,6% não foram classificados como estressados. Observou-se que 66,4% dos pais orientavam os adolescentes a consumir arroz, feijão e carne com
frequência. Conclusão: A maioria dos adolescentes consumiu arroz, feijão e carne e apresentou ausência de sintomas de
estresse e não houve relação da ausência de sintomas de estresse com o tipo de alimentos consumidos.
> PALAVRAS-CHAVE
Alimentação, adolescente, estresse psicológico, orientação familiar, escala de estresse, questionário autoavaliativo.
> ABSTRACT
Objective: To analyze the types of foods eaten by a group of urban teenagers, relationships with stress and family counseling.
Methods: Field study, cross-sectional. The sample consisted of 139 adolescents aged 10 to 19 years in a municipality in
southern Minas Gerais State. Food consumption was assessed through a self-rating questionnaire; stress symptoms were
measured through the Stress Scale for Adolescents (ESA). Results: 81.3% of adolescents reported eating rice, beans and
meat, with 88.6% of them rated as not stressed, while 66.4% of parents urged teenagers to consume rice, beans and meat
often. Conclusion: Most adolescents eat rice, beans and meat and show no symptoms of stress, with no link between the
absence of stress symptoms and the types of food eaten.
> KEY WORDS
Food, adolescent, psychological stress, family counseling, stress scale, self-rating questionnaire.
1
Acadêmica do curso de Psicologia. Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil.
2
Mestre (Docente na disciplina Semiologia e Semiotécnica). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil.
Mestre em Saúde (Docente na disciplina Enfermagem na Saúde da Criança e do Adolescente). Universidade José do Rosário Vellano.
Alfenas, MG, Brasil.
3
4
Doutora em Anatomia Humana (Docente do Curso de Psicologia). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil.
5
Doutora em Saúde da Criança e do Adolescente (Docente do Curso de Psicologia). Universidade José do Rosário Vellano. Alfenas, MG, Brasil).
Patrícia Costa dos Santos da Silva ([email protected]) - Rua Euclides da Cunha, 202, Jardim São Carlos - Alfenas,
MG, Brasil. CEP 37130-000
Recebido em 17/08/2011 - Aprovado em 11/01/2012
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
Adolescência & Saúde
Ferreira et al.
> INTRODUÇÃO
A nutrição desempenha papel importante
na fase da adolescência. O adolescente poderá
sofrer influência no crescimento e no desenvolvimento se não tiver uma dieta adequada1. Feijó
et al.2 chamam a atenção para a importância da
consolidação de hábitos alimentares e de estilo
de vida saudáveis na adolescência. É nessa fase
que os hábitos alimentares são estabelecidos e
muitas vezes mantidos na vida adulta. Os hábitos alimentares adquiridos durante a infância e a
adolescência têm importantes repercussões no
estado de saúde dos indivíduos e no seu bemestar físico e emocional1,2.
Estudos anteriores1,2,3 advogam o papel
da boa alimentação para o equilíbrio físico e
emocional. Tendo em conta que a adolescência
apesar de ser um período complexo do desenvolvimento humano e de considerável risco de
aquisição de comportamentos não saudáveis,
também constitui um período muito favorável
à manifestação de sintomas de estresse. Portanto, nessa fase as intervenções educativas
para promoção da saúde desempenham um
importante papel.
O Ministério da Saúde4 informou, no Guia
Alimentar para a População Brasileira, que comer
feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos,
cinco vezes por semana, é de fundamental importância para a saúde e para o bom desenvolvimento, pois a composição destes nutrientes é uma
combinação completa de proteínas e elementos
essenciais para a saúde. Neste sentido pode-se
pensar no papel da boa alimentação para o desenvolvimento e crescimento dos adolescentes,
ainda mais que a adolescência é uma fase da vida
que se caracteriza por mudanças comportamentais e físicas, as quais trazem desequilíbrios, com
aumento de sintomas de estresse5,6. O estresse
no adolescente, pode-se apresentar como “um
dos” principais sintomas observados pelos especialistas, com a presença constante do quadro de
insônia, de desânimo, dores de cabeça, falta de
concentração, entre outros7.
Adolescência & Saúde
ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
13
Devido às alterações na homeostasia ocorridas na adolescência, a alimentação correta é
fundamental para o amadurecimento cognitivo
e o crescimento físico, atenuando os aspectos
de ansiedade, depressão, atenção e déficit de
aprendizagem8.
A família é a primeira instituição e tem ação
direta sobre os hábitos alimentares, responsabilizando-se pela compra e preparo das refeições, e
ainda, é marcante a presença e participação dos
pais nas escolhas alimentares dos filhos9,10.
Neste contexto, o objetivo do estudo foi
analisar os tipos de alimentação consumidos por
um grupo de adolescentes, a relação com o estresse e a orientação familiar.
MÉTODOS >
Trata-se de um estudo de campo com abordagem quantitativa, a partir de uma amostra de
conveniência de adolescentes matriculados em
escolas públicas de ensino médio e fundamental de um município localizado no Sul de Minas
Gerais, Brasil.
Foram avaliados 139 participantes, na faixa
etária de 10 a 19 anos, atendidos no período de
janeiro a abril de 2010. Os critérios de inclusão
foram: ter entre 10 e 19 anos, ser residente no
município de estudo, estar matriculado em uma
escola pública de ensino fundamental ou médio,
ter disponibilidade para participar do estudo e
aceitar participar voluntariamente do estudo.
Os participantes foram convidados a responder questionário objetivo e autoavaliativo referente à alimentação consumida e aos sintomas
de estresse. Os questionários foram preenchidos
pelos pesquisadores em forma de entrevista,
sem que houvesse interferência nas respostas.
Para aplicação dos questionários, evitou-se o
agrupamento dos participantes para não haver
comentários nas respostas. Essa entrevista ocorreu nas dependências físicas das escolas, após
agendamento, nos horários próximos às aulas e
sem que houvesse interferência nas atividades.
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
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ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
Ferreira et al.
Para o hábito alimentar foi perguntado
aos adolescentes sobre o tipo de refeições realizadas: salgadinhos, frutas, batata frita/refrigerante, fast-foods, arroz, feijão e carne, pizza,
verduras/legumes.
Para avaliar o estresse, foi utilizada a Escala
de Stress para Adolescentes – ESA11, instrumento validado usado para identificar a frequência
em que os sintomas de estresse aparecem. Esta
escala é composta por 44 itens relacionados às
referidas reações do estresse. Foram incluídos,
para participação nesta pesquisa, adolescentes,
voluntários, cujos pais ou responsáveis confirmaram aceitação através da assinatura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Pesquisa. Os sujeitos foram informados sobre
a garantia da privacidade, anonimato e sigilo
das informações e que os resultados obtidos seriam divulgados em eventos científicos. A coleta
de dados foi realizada após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade José
do Rosário Vellano - UNIFENAS, como consta no
Parecer nº 237/2.009.
Os dados obtidos foram analisados, computados e armazenados em uma planilha do Excel; por se tratar de uma pesquisa quantitativa,
utilizamos a estatística descritiva e trabalhamos
com uma margem de erro de 5%.
A análise descritiva foi realizada através de
medidas de posição e dispersão para variáveis
contínuas e tabelas de frequência para variáveis
categóricas.
Para verificar associação ou comparar proporções foi utilizado o Teste X (Qui-quadrado)
ou teste exato de Fisher, para comparar as proporções usamos o teste X2 (qui-quadrado) ou
teste exato de Fisher. Utilizou-se o Software R12.
RESULTADOS >
Observamos que 51 indivíduos (63,3%)
eram do gênero masculino e 88 indivíduos
(63,3%), do gênero feminino. A Tabela 1 mostra
a relação entre os tipos de alimentos consumidos
entre os adolescentes dos gêneros masculino e
feminino. Pode-se observar que no gênero masculino 1,9% declara consumir salgadinhos, 3,9%
frutas, 1,9% batata frita/refrigerante, 88,4% arroz, feijão e carne e 3,9% verduras e legumes.
Em relação ao gênero feminino, 3,4% mencionaram ingerir salgadinhos, 5,7% frutas, 4,5%
batata frita/refrigerante, 77,3% arroz, feijão e
carne e 9,1% verduras e legumes.
Tabela 1. RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ALIMENTOS CONSUMIDOS ENTRE OS ADOLESCENTES DOS
GÊNEROS MASCULINO E FEMININO DA ZONA URBANA, MINAS GERAIS, 2011.
GÊNERO
ALIMENTOS
CONSUMIDOS
masculino
TOTAL
feminino
n
%
n
%
n
%
Salgadinhos
1
1,9
3
3,4
4
2,8
Frutas
2
3,9
5
5,7
7
5,1
Batata frita/refrigerante
1
1,9
4
4,5
5
3,6
Arroz, feijão e carne
45
88,4
68
77,3
113
81,3
Verduras/legumes
2
3,9
8
9,1
10
7,2
TOTAL (n=139)
51
100
88
100
139
100
Gênero masculino e feminino (0,0%) declaram não consumir fast-foods e pizza (p= 0,00006).
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
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Ferreira et al.
ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
Na Tabela 2, observamos a relação entre os
tipos de alimentos consumidos pelos adolescentes e a presença de sintomas de estresse. Avaliando a presença de sintomas de estresse, verificamos que 16 adolescentes apresentaram sintomas
de estresse e 123 não apresentaram sintomas de
estresse. Dos adolescentes que apresentaram sintomas de estresse, 6,25% consumiram salgadinhos, 6,25% frutas, 81,25% arroz, feijão e carne
e 6,25% verduras e legumes. Quando analisados
15
estatisticamente, não houve diferença significativa em relação aos tipos de alimentos consumidos,
porém foi significativamente maior o número de
adolescentes que consomem arroz, feijão e carne
e que não apresentaram sintomas de estresse.
Observamos que os pais orientavam constantemente os adolescentes a consumirem arroz, feijão e carne, e a minoria orientava uma
alimentação baseada em batata frita/refrigerante e salgadinhos.
Tabela 2. RELAÇÃO ENTRE OS TIPOS DE ALIMENTOS CONSUMIDOS E O ESTRESSE NOS ADOLESCENTES
DA ZONA URBANA, MINAS GERAIS, 2011.
ESTRESSE
ALIMENTOS
CONSUMIDOS
sim
TOTAL
não
n
%
n
%
n
%
Salgadinhos
1
6,25
3
2,44
4
2,8
Frutas
1
6,25
6
4,87
7
5,1
Batata frita/refrigerante
0
0
5
4,08
5
3,6
Arroz, feijão e carne
13
81,25
100
81,3
113
81,3
Verduras/legumes
1
6,25
9
7,31
10
7,2
TOTAL (n=139)
16
100
123
100
139
100
> DISCUSSÃO
Em nosso estudo, entre os adolescentes,
observamos que o gênero feminino apresentou diferenças significativas quando analisada
a questão do consumo de salgadinhos, batata
fritas/refrigerantes e verduras/legumes em relação ao gênero masculino. Entretanto, em relação ao consumo de arroz, feijão/carne e frutas,
não foram observadas diferenças significativas
entre estes. Ruela e Souza Junior13, analisando
adolescentes com a faixa etária semelhante à do
nosso estudo, observaram que no sexo feminino
há maior frequência de consumo de verduras
34,3%, legumes 37,3%, frutas ou sucos naturais 57,2%, óleos e gorduras 65,9%, doces e
Adolescência & Saúde
guloseimas 37,2%, bebidas (refrigerante/café/
chá) 41,5% todos os dias. No sexo masculino observaram maior frequência do consumo
diário dos grupos: pães, cereais e tubérculos
74,6%, verduras 24%, legumes 24%, frutas ou
sucos naturais 56%, óleos e gorduras 68%, doces, salgadinhos e guloseimas 46%, bebidas (refrigerante/café/chá) 56% todos os dias.
Quando relacionado o tipo de alimentação com os sintomas de estresse, observou-se
que foi significativamente maior a ausência de
sintomas de estresse os quais independem do
tipo de alimentos consumidos. Não encontramos na literatura variáveis coincidentes com as
do estudo aqui presente, que nos permitissem
comparações; entretanto, o estresse foi avaliado
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
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ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
> entre os adolescentes no estudo de Mesquita e
Reimão14 em 2007. Nesse, 46,88% da amostra
não apresentam sintomas de estresse e 53,13%
apresentam sintomas de estresse.
Outra característica de nossos dados foi que
a maioria dos adolescentes investigados declarou
alimentar-se de arroz, feijão e carne e uma minoria de frutas e hortaliças, e também, o consumo
de batatas fritas, refrigerantes e fast-foods estiveram presentes na minoria dos participantes.
Em se tratando do consumo diário de arroz, feijão e carnes, nossos dados mostram-se
concordantes aos de Rego Filho et al.15 em que
o almoço era adequado em 86% e o jantar em
67% e a substituição dessas refeições por lanche
ocorreu em 26%. Entretanto, discordamos dos
autores quanto à ingestão calórica diária, pois
estava, na maioria dos adolescentes, abaixo do
recomendado, com maior ingestão de glicídeos
e menor ingestão de lipídeos. Como também
discordamos de estudos anteriores13,16,17 em que
a alimentação dos adolescentes mostrou-se inadequada, caracterizada pelo consumo excessivo
de açúcares simples e gorduras, mas concordamos quanto à ingestão insuficiente de frutas e
hortaliças. Entretanto, nenhum desses autores
relaciona a alimentação com estresse.
No que concerne à qualidade da alimentação, no presente estudo, existe uma grande
proporção de alunos que não consomem vegetais e frutas, alimentos que consideramos importantes para uma alimentação completa e equilibrada. Observamos no estudo de Carvalho et
al., 20073, que 6,5% dos alunos nunca comem
vegetais. Por outro lado, o consumo de refrigerantes, todos os dias, esteve em 70% dos alunos, sendo esse comportamento predominante.
Estes dados mostram-se discordantes do nosso estudo em que a minoria dos adolescentes
declararam consumir refrigerantes. Num outro
estudo de Carvalho et al., 200618, realizado em
duas escolas da mesma região, verificaram que
os alunos tomavam todos os dias, no almoço
(85% e 100%) e no jantar (100%), proporções
semelhantes às do presente estudo.
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
Ferreira et al.
Por outro lado, a proporção de alunos do
estudo de Carvalho et al., 200618, que declararam ingerir todos os dias vegetais (20%) e frutas
(25%) ainda é superior à do presente estudo.
Mezono (2002)19 aponta outro fator importante a observar: a diminuição da utilização
das folhas na alimentação dos brasileiros. Para o
brasileiro, as saladas e hortaliças não têm gosto,
não têm sabor, “não matam a fome”, e servem
somente para enfeitar o prato.
Nós acreditamos que a maioria dos adolescentes, aqui investigados, terem declarado
que consomem diariamente arroz, feijão e carne possa ter ocorrido porque o município em
que ocorreu o estudo é uma cidade de pequeno porte que oferece poucas opções de trabalho para as mulheres; neste sentido, muitas
mães ainda se ocupam do preparo das refeições para os filhos.
Nossos dados demonstraram, ainda, que a
orientação dada aos adolescentes pelos familiares para ingerir salgadinhos, frutas, batata frita,
refrigerante, arroz, feijão e carne esteve relacionada com maior frequência ao item constantemente. Segundo Bleil (1998) 20, a família
influencia e determina os valores alimentares.
LIMITAÇÕES DO ESTUDO >
Nosso estudo limita-se pelo número reduzido de participantes e por ter sido realizado levantamento de campo em apenas uma cidade
do interior de Minas Gerais, o que não nos permite inferir generalizações. Por outro lado, este
estudo tem a vantagem de levantar hipóteses
para estudos posteriores.
CONCLUSÃO >
Em nosso estudo observamos que não houve relação significativa entre o tipo de alimentação diária e a presença de sintomas de estresse.
Adolescência & Saúde
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ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
> entre os adolescentes no estudo de Mesquita e
Reimão14 em 2007. Nesse, 46,88% da amostra
não apresentam sintomas de estresse e 53,13%
apresentam sintomas de estresse.
Outra característica de nossos dados foi que
a maioria dos adolescentes investigados declarou
alimentar-se de arroz, feijão e carne e uma minoria de frutas e hortaliças, e também, o consumo
de batatas fritas, refrigerantes e fast-foods estiveram presentes na minoria dos participantes.
Em se tratando do consumo diário de arroz, feijão e carnes, nossos dados mostram-se
concordantes aos de Rego Filho et al.15 em que
o almoço era adequado em 86% e o jantar em
67% e a substituição dessas refeições por lanche
ocorreu em 26%. Entretanto, discordamos dos
autores quanto à ingestão calórica diária, pois
estava, na maioria dos adolescentes, abaixo do
recomendado, com maior ingestão de glicídeos
e menor ingestão de lipídeos. Como também
discordamos de estudos anteriores13,16,17 em que
a alimentação dos adolescentes mostrou-se inadequada, caracterizada pelo consumo excessivo
de açúcares simples e gorduras, mas concordamos quanto à ingestão insuficiente de frutas e
hortaliças. Entretanto, nenhum desses autores
relaciona a alimentação com estresse.
No que concerne à qualidade da alimentação, no presente estudo, existe uma grande
proporção de alunos que não consomem vegetais e frutas, alimentos que consideramos importantes para uma alimentação completa e equilibrada. Observamos no estudo de Carvalho et
al., 20073, que 6,5% dos alunos nunca comem
vegetais. Por outro lado, o consumo de refrigerantes, todos os dias, esteve em 70% dos alunos, sendo esse comportamento predominante.
Estes dados mostram-se discordantes do nosso estudo em que a minoria dos adolescentes
declararam consumir refrigerantes. Num outro
estudo de Carvalho et al., 200618, realizado em
duas escolas da mesma região, verificaram que
os alunos tomavam todos os dias, no almoço
(85% e 100%) e no jantar (100%), proporções
semelhantes às do presente estudo.
Adolesc. Saude, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 12-17, jan/mar 2012
Ferreira et al.
Por outro lado, a proporção de alunos do
estudo de Carvalho et al., 200618, que declararam ingerir todos os dias vegetais (20%) e frutas
(25%) ainda é superior à do presente estudo.
Mezono (2002)19 aponta outro fator importante a observar: a diminuição da utilização
das folhas na alimentação dos brasileiros. Para o
brasileiro, as saladas e hortaliças não têm gosto,
não têm sabor, “não matam a fome”, e servem
somente para enfeitar o prato.
Nós acreditamos que a maioria dos adolescentes, aqui investigados, terem declarado
que consomem diariamente arroz, feijão e carne possa ter ocorrido porque o município em
que ocorreu o estudo é uma cidade de pequeno porte que oferece poucas opções de trabalho para as mulheres; neste sentido, muitas
mães ainda se ocupam do preparo das refeições para os filhos.
Nossos dados demonstraram, ainda, que a
orientação dada aos adolescentes pelos familiares para ingerir salgadinhos, frutas, batata frita,
refrigerante, arroz, feijão e carne esteve relacionada com maior frequência ao item constantemente. Segundo Bleil (1998) 20, a família
influencia e determina os valores alimentares.
LIMITAÇÕES DO ESTUDO >
Nosso estudo limita-se pelo número reduzido de participantes e por ter sido realizado levantamento de campo em apenas uma cidade
do interior de Minas Gerais, o que não nos permite inferir generalizações. Por outro lado, este
estudo tem a vantagem de levantar hipóteses
para estudos posteriores.
CONCLUSÃO >
Em nosso estudo observamos que não houve relação significativa entre o tipo de alimentação diária e a presença de sintomas de estresse.
Adolescência & Saúde
Ferreira et al.
Entre os adolescentes da zona urbana,
observou-se que o gênero feminino apresentou diferenças significativas quando analisada
a questão do consumo de salgadinhos, batata fritas/refrigerantes e verduras/legumes em
relação ao gênero masculino. Entretanto, em
relação ao consumo de arroz, feijão/carne e
ALIMENTAÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
E A RELAÇÃO COM O ESTRESSE
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frutas, não foram observadas diferenças significativas entre estes.
A maioria dos adolescentes investigados declarou alimentar-se de arroz, feijão e carne e uma
minoria de frutas e hortaliças; e também, o consumo de batatas fritas, refrigerantes e fast-foods
estiveram presentes na minoria dos participantes.
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