ISSN 0103-8559 Volume 25 • Nº 2 • Abril/Junho 2015 Insuficiência cardíaca congestiva: visão atual e perspectivas futuras • SISTEMA PEPTÍDEO NATRIURÉTICO EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PERSPECTIVAS NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO • MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS ICFEN confirmada Restrição de sal, Diuréticos SIM Presença de congestão sistêmica/pulmonar NÃO Hipertensão arterial Hipertrofia do VE SIM IECA, BRA, BCC, BB, diuréticos NÃO SIM IECA, BRA, Inibidor de Renina NÃO Isquemia miocárdica SIM Estatina, BB, AAS, BCC, Nitrato, ICP NÃO Fibrilação atrial SIM Controle FC, cardioversão, anticoagulação NÃO Controle da FC SIM BB, BCC, MP NÃO Identificar e tratar comorbidadades IRC, Obesidade, Diabetes, DPOC, Anemia, Hipotiroidismo, DAC, Sedentarismo, Síndrome Metabólica, apnéia do sono, depressão Editor Chefe: Luiz A Bortolotto www.socesp.org.br • INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL - NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA • ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR O ATENDIMENTO E TRATAMENTO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: HEART TEAM • IMPACTO DOS NOVOS ESTUDOS CLÍNICOS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA • TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA: O QUE HÁ DE NOVO? • ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA PRESERVAÇÃO DE FUNÇÃO RENAL EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA POSICIONAR ANUNCIO BENEFICIÊNCIA PORTUGUESA TM valsartana+anlodipino+hidroclorotiazida PRIMEIRA COMBINAÇÃO TRIPLA EM UM ÚNICO COMPRIMIDO NO TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO1 As imagens dos comprimidos são meramente ilustrativas e não refletem a imagem real dos medicamentos. • EFEITO COMPENSATÓRIO DO EDEMA PELO ANLODIPINO2 • COMPENSAÇÃO DA ATIVAÇÃO DO SRA PELO HCT2 POSICIONAR = + + ANUNCIO NOVARTS VALSARTANA HIDROCLOROTIAZIDA ANLODIPINO 160 mg / 12,5 mg /5 mg 160 mg / 25 mg / 5 mg 160 mg / 12,5 mg / 10 mg 160 mg / 25 mg / 10 mg TRIPLA COMBINAÇÃO SINÉRGICA2 Diferentes opções de doses para melhor flexibilidade no tratamento.3 320 mg / 25 mg / 10mg Contraindicações:hipersensibilidade a qualquer componente do Exforge HCT™ ou derivados de sulfonamida; gravidez; anúria; uso concomitante com alisquireno em pacientes com diabetes tipo 2. Interação medicamentosa: O uso concomitante com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno pode aumentar a incidência de hipotensão, hipercalemia e alterações na função renal. É recomendada a monitoração da pressão arterial, função renal e eletrólitos quando houver uso concomitante com estes medicamentos. EXFORGE HCTTM valsartana + hidroclorotiazida + besilato de anlodipino. Forma Farmacêutica e apresentações: comprimidos revestidos de 160/12,5/5 mg, 160/12,5/10 mg, 160/25/5 mg, 160/25/10 mg ou 320/25/10 mg. Embalagens contendo 14 ou 28 comprimidos revestidos. Indicação: tratamento da hipertensão essencial. O medicamento de combinação fixa não é indicado como terapia inicial na hipertensão. Posologia e administração: Adultos: um comprimido de Exforge HCT™ 160/12,5/5 mg ou Exforge HCT™ 160/12,5/10 mg ou Exforge HCT™ 160/25/5 mg ou Exforge HCT™ 160/25/10 mg ou Exforge HCT™ 320/25/10 mg ao dia. Insuficiência hepática: começar com a menor dose disponível de anlodipino. Idoso: começar com a menor dose disponível de anlodipino. A menor concentração de Exforge HCT™ contém 5 mg de anlodipino. Contraindicações: hipersensibilidade a qualquer componente do Exforge HCT™ ou derivados de sulfonamida; gravidez; anúria; uso concomitante com alisquireno em pacientes com diabetes tipo 2. Advertências/Precauções: Evitar o uso em mulheres que planejam engravidar e que estão amamentando. Risco de hipotensão em pacientes com depleção de sódio e/ou hipovolemia. Deve-se ter cautela quando administrar Exforge HCT™ a pacientes com comprometimento renal ou lúpus eritematoso sistêmico. Como com outros diuréticos tiazidicos, a hidroclorotiazida pode causar hipocalemia, a qual pode favorecer o desenvolvimento de arritmias cardíacas induzidas por digitálicos. Deve-se ter cautela em pacientes com hipocalemia, hiponatremia, hipercalcemia ou hiperuricemia sintomática. Não há dados disponíveis em pacientes com estenose da artéria renal unilateral ou bilateral, estenose em rim único ou após transplante renal recente. Alteração no balanço eletrolítico sérico (monitoramento recomendado), na tolerância à glicose e nas concentrações séricas de colesterol, triglicérides e ácido úrico. Não recomendado a pacientes abaixo de 18 anos de idade. Deve-se ter cautela em pacientes com insuficiência hepática ou distúrbios biliares obstrutivos. Cautela em pacientes que apresentaram angioedema com Exforge HCT™ ou com histórico de angioedema com outros fármacos. Descontinuar imediatamente Exforge HCT™ e não readministrá-lo. Cautela em pacientes com insuficiência cardíaca, insuficiência cardíaca crônica grave ou outras condições com ativação do sistema renina-angiotensinaaldosterona. Pode ocorrer comprometimento da função renal. Cautela em pacientes com infarto agudo do miocárdio. Agravamento da angina e infarto agudo do miocárdio podem ocorrer após o inicio ou aumento da dose de anlodipino, particularmente em pacientes com doença arterial coronariana obstrutiva grave. Assim como com todos os outros vasodilatadores, cuidado especial em pacientes que sofrem de estenose mitral ou aórtica ou cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva. Glaucoma agudo de ângulo fechado. Cautela em pacientes com alergia ou asma. Evitar uso concomitante com alisquireno em pacientes com insuficiência renal grave (TFG < 30 mL/min). É necessário precaução na coadministração de Exforge HCT™ com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno. Gravidez: contraindicado. Lactação: não recomendado. Interações: O uso concomitante com outros agentes inibidores do SRA como IECAs ou alisquireno pode aumentar a incidência de hipotensão, hipercalemia e alterações na função renal. É recomendada a monitoração da pressão arterial, função renal e eletrólitos quando houver uso concomitante com estes medicamentos. Monitoramento é necessário quando usado concomitantemente com lítio. Cautela quando usado concomitantemente com diuréticos poupadores de potássio (por exemplo, espironolactona, triantereno, amilorida), suplementos de potássio, substitutos do sal contendo potássio ou outros medicamentos que possam aumentar os níveis de potássio (heparina, etc). Monitoramento das concentrações séricas de potássio é recomendado. Monitoramento das concentrações séricas de potássio quando usado com relaxantes musculares (ex.: derivados cumarínicos). Cautela se combinado com outros anti-hipertensivos. Cautela com fármacos que causam hipocalemia (ex.: corticosteroides, ACTH, anfotericina, penicilina G, carbenoxolona, antiarrítmicos). monitoramento do equilíbrio eletrolítico plasmático com medicamentos que causam hiponatremia (por exemplo, antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsivantes). O tratamento concomitante com AINEs, incluindo inibidores da COX-2, pode diminuir os efeitos anti-hipertensivos. Monitoramento da função renal com AINEs e inibidores da COX-2. A dose máxima de sinvastativa é 20 mg quando coadministrada com anlodipino. Cautela no uso concomitante de anlodipino com inibidores da CYP3A4 (por ex.: cetoconazol, itraconazol e ritonavir), pois pode ocorrer aumento das concentrações plasmáticas de anlodipino. Cautela no uso concomitante de anlodipino e indutores da CYP3A4. Monitoramento dos efeitos clínicos é recomendado. A coadministração com inibidores do transportador de captação (rifampicina e ciclosporina) ou transportador de efluxo (ritonavir) pode aumentar a exposição sistêmica à valsartana. Alteração do balanço eletrolítico com glicosídeos digitálicos. Cautela com insulina e agentes antidiabéticos orais. Cautela com resinas de troca aniônica, alopurinol, amantadina, diazóxido, medicamentos citotóxicos, agentes anticolinérgicos, vitamina D, sais de cálcio, ciclosporina, metildopa, aminas pressóricas (por ex.: noradrenalina), barbitúricos, narcóticos e álcool. Reações adversas: anlodipino: reações adversas comuns e incomuns: cefaleias, sonolência, tonturas, palpitações, rubor, dor abdominal, náuseas, edema, fadiga, insônia, alterações de humor incluindo ansiedade, tremor, hipoestesia, disgeusia, parestesia, síncope, alteração visual, diplopia, zumbido, hipotensão, dispneia, rinite, vômitos, dispepsia, boca seca, constipação, diarreia, alopecia, hiperidrose, prurido, erupção cutânea, púrpura, descoloração da pele, fotossensibilidade, dor nas costas, espasmo muscular, mialgia, artralgia, distúrbios urinários, noctúria, polaciúria, ginecomastia, disfunção eréctil, astenia, dor, mal-estar, dor no peito, perda de peso, aumento de peso. Reações adversas muito raras: hiperglicemia, hipertonia, taquicardia ventricular, tosse, gastrite, hiperplasia gengival, icterícia, urticária. Reações adversas muito raras, mas potencialmente graves: trombocitopenia, leucocitopenia, reações alérgicas, neuropatia periférica, arritmia, bradicardia, fibrilação atrial, infarto do miocárdio, vasculite, pancreatite, hepatite, angioedema, eritema multiforme, síndrome de Steven-Johnson, aumento das enzimas hepáticas (principalmente consistente com colestase). valsartana: reações adversas incomuns: vertigem, tosse, dor abdominal, fadiga. Frequência desconhecida: dermatite bolhosa, erupção cutânea, prurido, hemoglobina diminuída, hematócrito diminuído, potássio no sangue aumentado, função hepática anormal, incluindo bilirrubina aumentada, mialgia, creatinina aumentada no sangue. Frequência desconhecida, mas potencialmente grave: hipersensibilidade incluindo doença do soro, vasculite, angioedema, disfunção e insuficiência renal, trombocitopenia, neutropenia. Reações também observadas durante os estudos clínicos, independentemente da sua associação causal com o medicamento em estudo: artralgia, astenia, dor nas costas, diarreia, tontura, dor de cabeça, insônia, diminuição da libido, náuseas, edema, faringite, rinite, sinusite, infecção do trato respiratório superior, infecções virais. hidroclorotiazida: reações adversas muito comuns e comuns: hipocalemia e lipídios no sangue aumentado, hipomagnesemia, hiperuricemia, hiponatremia, urticária e outras formas de erupção cutânea, diminuição do apetite, náuseas leves e vômitos, hipotensão ortostática, disfunção erétil. Adicionais reações adversas potencialmente graves: icterícia ou colestase, desconforto abdominal, reações de fotossensibilidade, hiperglicemia, glicosúria e agravamento do estado metabólico do diabetes, distúrbios do sono, depressão, deficiência visual, arritmias, vasculite necrosante, lúpus eritematoso, necrólise epidérmica tóxica, eritema multiforme, pancreatite, pneumonite, edema pulmonar, erupção cutânea com ou sem dificuldades em respirar (reações de hipersensibilidade), alcalose hipoclorêmica, hipercalcemia, trombocitopenia com ou sem púrpura, agranulocitose, leucopenia, depressão da medula óssea, anemia hemolítica ou aplástica, insuficiência renal aguda, alterações renais, glaucoma de ângulo fechado. Reações adversas adicionais: pirexia, desconforto abdominal, constipação e diarreia, dor de cabeça, tontura, parestesia, espasmos musculares, astenia. USO ADULTO. VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA. MS – 1.0068.1053. Informações completas para prescrição disponíveis à classe médica mediante solicitação. 2014-PSB/GLC-0722-s. BSS 03.12.14 Referências: 1.Revista Kairos, maio 2014. 2. Gradman AH, Basile JN, Carter BL, Bakris GL; American Society of Hypertension Writing Group. Combination therapy in hypertension. JASH. 2010;4:42–50. 3. Bula de Exforge HCT TM. 6333631 EV ANUNCIO EXFORGEHCT 1 0115 BR. Destinado a profissionais habilitados a prescrever e/ou dispensar medicamentos. Material destinado exclusivamente à classe médica. A Novartis reserva-se o direito de alterar, suspender ou encerrar o Programa Vale Mais Saúde™ a qualquer momento, mediante comunicado aos participantes através do site: www.valemaissaude.com.br. Material produzido pela Novartis em janeiro/2015. 2015 - © - Direitos Reservados – Novartis Biociências S/A – Proibida a reprodução total ou parcial sem autorização do titular. Responsável Técnico Dr. Luiz Carlos V. de Andrade – CRM 48277 Sala de cirurgia híbrida cardiovascular, para o tratamento de cardiopatias complexas com imagens tridimensionais altamente apuradas. HCor – Hospital do Coração/Diagnóstico – Unidade Paraíso: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 147 – São Paulo – SP HCor – Edifício Dr. Adib Jatene: Rua Desembargador Eliseu Guilherme, 130 – São Paulo – SP HCor Onco – Clínica de Radioterapia: Rua Tomás Carvalhal, 172 – São Paulo – SP HCor Diagnóstico – Unidade Cidade Jardim: Av. Cidade Jardim, 350 – 2º andar – São Paulo – SP Tels.: Geral: (11) 3053-6611 • Central de Agendamento: (11) 3889-3939 • Pronto-socorro: (11) 3889-9944 • www.hcor.com.br Todo o apoio que você precisa: uma equipe multidisciplinar e os mais avançados recursos tecnológicos. O HCor foi o hospital pioneiro na América Latina a conquistar duas certificações pela JCI para os Programas Clínicos de Infarto Agudo de Miocárdio (IAM) e de Insuficiência Cardíaca (IC). Essa mesma excelência também está presente na nova unidade do HCor, o edifício Dr. Adib Jatene. Agora, você e seus pacientes têm uma das mais completas e sofisticadas estruturas totalmente à disposição para que obtenham os melhores resultados em todos os tratamentos. Nós colocamos o coração em tudo. Agende-se para as datas 01, 02, 03 e 04 de Agosto de 2015 res o s s fe o r p s o d a m o n e Presença de r nte e g n a r b a o c fi tí n ie c o d Conteú s la u a s à o it e ir d o ã r te Inscritos online ia g lo io d r a C a d s a m te Principais esp.org.br Inscrição através do site: www.soc Mais informações: (11) 3179-0044 / 3179-0042 / 3179-0049 ISSN 0103-8559 Indexada em: LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (www.bireme.br) Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal (www.latindex.unam.mx) Editor Chefe: Luiz A. Bortolotto Álvaro Avezum Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Amanda G. M. R. Sousa Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Angelo Amato V. de Paola Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp São Paulo, SP, Brasil Antonio Augusto Lopes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio Carlos Pereira-Barretto Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Antonio de Pádua Mansur Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Ari Timerman Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Benedito Carlos Maciel Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,SP,Brasil Bráulio Luna Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo / Hospital Brasil, ABC São Paulo, SP, Brasil Bruno Caramelli Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Caio de Brito Vianna Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Carlos Alberto Buchpiguel Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Vinculação Acadêmica) São Paulo, SP, Brasil Carlos Costa Magalhães Cardioclin - Clinica e Emergência Cardiologica São José dos Campos , SP, Brasil. Carlos Eduardo Rochitte Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP / Hospital do Coração, HCOR / Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP, Brasil Carlos V. Serrano Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Celso Amodeo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Dalmo Antonio R. Moreira Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Daniel Born Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP São Paulo, SP, Brasil Dante Marcelo Artigas Giorgi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC FMUSP), São Paulo, SP, Brasil Dirceu Rodrigues Almeida Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Edson Stefanini Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Expedito E. Ribeiro Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fabio B. Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Fausto Feres Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Felix J. A. Ramires Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Conselho Editorial Fernanda Marciano Consolim Colombo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Bacal Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Fernando Nobre Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, Ribeirão Preto, SP , Brasil Flavio Tarasoutchi Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Francisco A. Helfenstein Fonseca Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo São Paulo, SP, Brasil Francisco R. M. Laurindo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Henry Abensur Beneficência Portuguesa de São Paulo - Setor de ensino, São Paulo, SP, Brasil Ibraim Masciarelli F.pinto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Ieda Biscegli Jatene Hospital do Coração - HCOR São Paulo, SP, Brasil João Fernando Monteiro Ferreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil João Manoel Rossi Neto Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil João Nelson R. Branco Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Jorge Eduardo Assef Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Nicolau Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil José Carlos Pachón Mateos Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Universidade de São Paulo - USP, Hospital do Coração, Hospital Edmundo Vasconcelos, São Paulo, SP, Brasil José Francisco Kerr Saraiva Hospital e Maternidade Celso Pierro, São Paulo, SP, Brasil José Henrique Andrade Vila Hospital de Beneficência Portuguesa, São Paulo, SP, Brasil José L. Andrade Instituto de Radiologia (InRad) - Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina- USP, São Paulo, SP, Brasil José Soares Jr. Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Katashi Okoshi Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu, SP, Brasil Kleber G. Franchini Departamento de Clínica Médica UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil Leopoldo Soares Piegas Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Lilia Nigro Maia Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base São José do Rio Preto, SP, Brasil Luiz A. Machado César Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Luiz Mastrocola Hospital do Coração da Associação do Sanatório Sírio (HCOR) e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Luiz Felipe P. Moreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Marcelo Jatene Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Chiara Bertolami Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Marcelo Luiz Campos Vieira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Marcus Vinicius Simões Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP - Brasil Maria Cristina Oliveira Izar Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Maria Teresa Nogueira Bombig Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Dra. Maria Virgínia Tavares Santana Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Mauricio Ibrahim Scanavacca Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Max Grinberg Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Miguel Antonio Moretti Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Nelson Kasinsky Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Orlando Campos Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Otavio Rizzi Coelho Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clinica Médica da FCM UNICAMP, São Paulo, SP, Brasil Paola Emanuela Poggio Smanio Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Paulo Andrade Lotufo Faculdade de Medicina e Centro de Pesquisa Clínica Epidemiológica da USP, São Paulo, SP, Brasil Paulo J. F. Tucci Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Paulo M. Pêgo Fernandes Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Pedro Silvio Farsky Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Raul Dias Dos Santos Filho Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Renato Azevedo Jr Hospital Samaritano São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Romeu Sérgio Meneghelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia/Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil Rui Póvoa Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil Ulisses Alexandre Croti Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto (FUNFARME) / Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do Rio Preto, SP, Brasil Valdir Ambrosio Moises Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP/Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP, Brasil Valter C. Lima Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil William Azem Chalela Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil DIRETORIA DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO / Biênio 2014 - 2015 Presidente Francisco Antonio Helfenstein Fonseca Vice-Presidente Rui Fernando Ramos 1° Secretário Luciano Ferreira Drager 2° Secretário Guilherme Drummond Fenelon 1° Tesoureiro Ibraim Masciarelli Pinto 2° Tesoureiro Rui Manuel dos Santos Povoa Diretor Científico Raul Dias dos Santos Filho Diretor de Publicações Luiz Aparecido Bortolotto Diretor de Regionais Celso Amodeo Diretor de Promoção e Pesquisa Ricardo Pavanello Diretor de Tecnologia da Informação Juan Yugar Toledo Diretor de Qualidade Assistencial Jose Francisco Kerr Saraiva Diretor do Centro de Emergências Agnaldo Pispico Coordenador de Pesquisa José Luiz Aziz Coordenador de Pesquisa Andrei Carvalho Sposito Coordenador de Eventos Hermes Toros Xavier Coordenador de Políticas de Saúde Walter Jose Gomes Coordenador de Estudo Epidemiológicos Otavio Berwanger Coordenador de Hands On João Fernando Monteiro Ferreira A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (INSS 0103-8559) é Órgão Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, editada trimestralmente pela Diretoria de Publicações da SOCESP. Avenida Paulista, 2073 – Horsa I, 15° andar Conjunto 1512 - Cerqueira Cesar – São Paulo, SP CEP 01311-940 / Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Website: www.socesp.org.br As mudanças de endereço, a solicitação de números atrasados e as cartas ao Editor deverão ser dirigidas à sede da SOCESP. É proibida a reprodução total ou parcial de quaisquer textos constantes desta edição sem autorização formal e expressa de seus editores. Para pedidos de reprints, por favor contate: SOCESP – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo / Diretoria de Publicações Tel: (11) 3179-0045 / E-mail: [email protected] Impressão: Gráfica Regente Tiragem: 5.920 exemplares Coordenação editorial, criação, diagramação, revisão e tradução Atha Comunicação e Editora Tel.: 11 5087 9502 - [email protected] Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo São Paulo – SP, Brasil. V . 1 – 1991 – Substitui Atualização Cardiológica, 1981 – 91 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015, : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A) 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 4 (supl B), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 3 (supl B), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 3 (supl A), 4 (supl A), 5 (supl A), 5 (supl B), 6 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B), 3 (supl A), 4 (supl A) : 1 (supl A), 2 (supl A), 2 (supl B) ISSN 0103-8559CDD16616.105 RSCESP 72594NLM W1 WG100 CDU 616.1(05) DIRETORIA DAS REGIONAIS DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO Biênio 2014 - 2015 ABCDM Presidente Rogerio Krakauer CAMPINAS Presidente Aloísio Marchi da Rocha RIBEIRÃO PRETO Presidente Rosana Graziani G. Mendes Diretor Científico Roberto Andres Gomez Douglas Diretor Científico Alessandro Franjotti Chagas Diretor Científico Vamberto Benedito Mansur Foschini 1° Secretário Silvio Cembranelli Neto 1° Secretário Dirceu Thiago Pessoa de Melo 1° Secretário Divino Luiz Rattis Batista 2° Secretário Carla Janice Baister Lantieri 2° Secretário Fernando Piza de S. Cannavan 2° Secretário Nathan Vale Soubihe Junior ARAÇATUBA Presidente Helena Cordeiro Barroso FRANCA Presidente Luiz Alfredo Husemann Patti SANTOS Presidente William da Costa Diretor Científico Eduardo Anseloni Diretor Científico Rodrigo Tavares Silva Diretor Científico Carlos Alberto Cyrillo Sellera 1° Secretário Celso Biagi 1° Secretário Rossini Rodrigues Machado 1° Secretário Rodolfo Leite Arantes 2° Secretário Felipe Camelo Biagi 2° Secretário Rui Pereira Caparelli Oliveira 2° Secretário Arnaldo Teixeira Ribeiro ARARAQUARA Presidente José Geraldo Bonfá JUNDIAÍ Presidente Luíz Anibal Larco Patino SÃO CARLOS Presidente Sergio Luis Berti Diretor Científico Antonio Carlos Braga de Moraes Diretor Científico Paulo Alexandre da Costa Diretor Científico Ana Cândida Arruda Verzola de Castro. 1° Secretário Mauricio Zangrando Nogueira 1° Secretário Andre Duarte Barral 1° Secretário Jose Cesar Briganti 2° Secretário Hélio Marques Malavolta 2° Secretário João Paulo de Mello Medeiros 2° Secretário Hélio Araújo Cardoso ARARAS Presidente José Joaquim Fernandes Raposo Filho MARILIA Presidente Alexandre Rodrigues SÃO JOSÉ DO RIO PRETO Presidente Maria Helena Mani Dias Sardilli Diretor Científico Fernando Candido Martins Diretor Científico Pedro Beraldo de Andrade Diretor Científico Maria Christiane Valeria Braga Braile 1° Secretário Antonio Carlos Assumpção 1° Secretário Siderval Ferreira Alves 1° Secretário Adriana Pinto Bellini Miola 2° Secretário Carlos Camargo 2° Secretário Heraldo Joel Benetti 2° Secretário Osana Maria Coelho Costa BAURU Presidente Plinio de Almeida Barros Neto PIRACICABA Presidente Walter Alonso Checoli SOROCABA Presidente Pericles Sidnei Salmazo Diretor Científico Guilherme Jose Guimarães Prates Diretor Científico Pablo Thomé Teixeirense Diretor Científico Fernando Cortes Remisio Figuinha 1° Secretário Nicélio Leite Melo 1° Secretário Humberto Magno Passos 1° Secretário Daniel Fernando Pellegrino dos Santos 2° Secretário Júlio Cesar Vidotto 2° Secretário Marcelo Barbosa Rodrigues Costa 2° Secretário Emerson de Albuquerque Seixas BOTUCATU Presidente Silméia Garcia Zanati PRESIDENTE PRUDENTE Presidente Mozart Alves Gonçalves Filho VALE DO PARAÍBA Presidente José Eduardo Bastos Diretor Científico Meliza Goi Roscani Diretor Científico Fernando Pierin Peres Diretor Científico Augusto Ricardo Barba Urena 1° Secretário Danieliso Renato Fusco 1° Secretário Osmar Marchiotto Junior 1° Secretário Jorge Zarur Neto 2° Secretário Ricardo Mattos Ferreira 2° Secretário Adriano Oliveira Cavalheiro 2° Secretário Bruno Augusto Alcova Nogueira NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo) é o órgão oficial de divulgação da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP). O Suplemento da Revista Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo é parte integrante da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e publica artigos nas áreas de saúde como enfermagem, fisioterapia, educação física, nutrição, odontologia, psicologia, serviço social, entre outras. Trata-se de uma publicação trimestral indexada no LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e no Latindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal). Com o objetivo de disseminar o conhecimento na área de cardiologia e de outras áreas de saúde a Revista da SOCESP e seu Suplemento passam, a partir de 2015, a ter acesso aberto. A publicação segue os requisitos de uniformização recomendados pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas (www.icmje.org.br). Os artigos, para serem aprovados, são submetidos à avaliação de uma comissão de revisores (peer review) que recebem o texto de forma anônima e decidem se haverá sua publicação, sugerem modificações, requisitam esclarecimentos aos autores e efetuam recomendações ao Editor Chefe. Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são de total responsabilidade dos autores. A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo segue na íntegra a tendência internacional do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br). CATEGORIAS DE ARTIGOS A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação artigos de Revisão, Revisão Sistemática e Meta-análise. O Suplemento da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo recebe para publicação: Artigo Original, Revisão, Revisão Sistemática, Meta-análise, Artigo de Opinião, Artigo de Atualização e Relato de Caso. No caso de estudos clínicos e experimentais deverá haver referência explícita quanto ao cumprimento das normas éticas, incluindo o nome do Comitê de Ética em Pesquisa que aprovou o estudo. Limites por Tipo de Publicação (Extensão): Os critérios abaixo delineados devem ser observados para cada tipo de publicação. A contagem eletrônica de palavras deve incluir a página inicial e texto. Os manuscritos enviados deverão estar em padrão PC com arquivos TXT ou DOC, espaço duplo, com margem larga, acompanhados pela carta de autorização de publicação assi- nada pelo autor, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. Certifique-se de que o manuscrito se conforma inteiramente às instruções. Ensaios Clínicos: O periódico apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Sendo assim, somente serão aceitos para publicação, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços para esses registros estão disponíveis a partir do site do ICMJE (www.icmje.org). Conflito de Interesses: Conforme exigências do Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICMJE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros e outros (comercial, pessoal, político, etc.) envolvidos no desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação. Devem declarar e podem agradecer no manuscrito todo o apoio financeiro ao trabalho, bem como outras ligações para o seu desenvolvimento. Correção de Provas Gráficas: Logo que prontas, as provas gráficas em formato eletrônico serão enviadas, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo. Os autores deverão devolver, também por e-mail, a prova gráfica com as devidas correções em, no máximo, 48 horas após o seu recebimento. O envio e o retorno das provas gráficas por correio eletrônico visa agilizar o processo de revisão e posterior publicação das mesmas. Direitos Autorais: Todas as declarações publicadas nos artigos são de inteira responsabilidade dos autores. Entretanto, todo material publicado torna-se propriedade da Revista, que passa a reservar os direitos autorais. Portanto, nenhum material publicado na Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá ser reproduzido sem a permissão por escrito. Todos os autores de artigos submetidos deverão assinar um Termo de Transferência de Direitos Autorais, que entrará em vigor a partir da data de aceite do trabalho. Organização do Arquivo Eletrônico: Todas as partes do manuscrito devem ser incluídas em um único arquivo. O mesmo deverá ser organizado com a página de rosto, em primeiro lugar, o texto, referências seguido pelas figuras (com legendas) e ao final, as tabelas (com legendas). Página de Rosto: A página de rosto deve conter: a) o tipo do artigo; b) o título completo em português e inglês com até 80 caracteres deve ser conciso, porém informativo; b) o nome completo de cada autor (sem abreviações); Recomendações para Artigos submetidos à Revista da SOCESP: Tipo de Artigo Resumo Estruturado com até Original 200 palavras Atualização / Não é estruturado com até Revisão 200 palavras Número de Palavras Referências Figuras Tabelas 2.500 20 10 6 Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras 4.000 60 3 2 Excluindo o resumo, referências, tabelas e figuras Editorial 500 0 0 0 0 e a instituição a que pertence cada um deles; c) o local onde o trabalho foi desenvolvido; d) nome, endereço, telefone e e-mail do autor responsável para correspondência. Resumo: O Resumo deve ser estruturado em caso de artigo original e deve apresentar os objetivos do estudo com clareza, dados históricos, métodos, resultados e as principais conclusões em inglês e português, não devendo ultrapassar 200 palavras. Descritores: Deve conter no mínimo três palavras chaves baseadas nos Descritores de Ciências da Saúde (DeCS) -http://decs.bireme.br. No inglês, apresentar keywords baseados no Medical Subject Headings (MeSH) - http://www. nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html, no mínimo três e no máximo seis citações. Introdução: Deve apresentar o assunto e objetivo do estudo, oferecer citações sem fazer uma revisão externa da matéria. Material e Método: Deve descrever o experimento (quantidade e qualidade) e os procedimentos em detalhes suficientes que permitam a outros pesquisadores reproduzirem os resultados ou darem continuidade ao estudo. Ao relatar experimentos sobre temas humanos e animais, indicar se os procedimentos seguiram as normas do Comitê Ético sobre Experiências Humanas da Instituição, na qual a pesquisa foi realizada ou de acordo com a declaração de Helsinki de 1995 e Animal Experimentation Ethics, respectivamente.Identificar precisamente todas as drogas e substâncias químicas usadas, incluindo os nomes genéricos, dosagens e formas de administração. Não usar nomes dos pacientes, iniciais, ou registros de hospitais. Oferecer referências para o estabelecimento de procedimentos estatísticos. Resultados: Apresentar os resultados em sequência lógica do texto, usando tabelas e ilustrações. Não repetir no texto todos os dados constantes das tabelas e ou ilustrações. No texto, enfatizar ou resumir somente as descobertas importantes. Discussão: Enfatizar novos e importantes aspectos do estudo. Os métodos publicados anteriormente devem ser comparados com o atual para que os resultados não sejam repetidos. Conclusão: Deve ser clara e concisa e estabelecer uma ligação entre a conclusão e os objetivos do estudo. Evitar conclusões não baseadas em dados. Agradecimentos: Dirigidos a pessoas que tenham colaborado intelectualmente, mas cuja contribuição não justifica coautoria, ou para aquelas que tenham provido apoio material. Referências: Restritas à bibliografia essencial ao conteúdo do artigo. Numerar as referências de forma consecutiva de acordo com a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos, no seguinte formato: (Redução das funções da placa terminal.1) Incluir os seis primeiros autores seguidos de et al. Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acordo com o Index Medicus. a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico. ano;volume:página inicial-final Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63. b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996. c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo. Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o item anterior. Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures. In: Rockwood CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed. Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52. d) Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Periódico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso): página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in Parkinson’s disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto entre parênteses. f) Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade: instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.Post-hospital home health care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St. Louis: Washington Univ.; 1995. g) Material eletrônico: Título do documento, endereço na internet, data do acesso. Ex: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995 Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from: URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm Tabelas: As tabelas devem ser numeradas por ordem de aparecimento no texto com números arábicos. Cada tabela deve ter um título e, se necessário, uma legenda explicativa. As tabelas deverão ser enviadas através dos arquivos originais (p.e. Excel). Figuras (Fotografias e Ilustrações): As figuras devem ser apresentadas em páginas separadas e numeradas sequencialmente, em algarismos arábicos, conforme a ordem de aparecimento no texto. Para evitar problemas que comprometam o padrão da revista, o envio do material deve obedecer aos seguintes parâmetros: todas as figuras, fotografias e ilustrações devem ter qualidade gráfica adequada (300 dpi de resolução) e apresentar título e legenda. Em todos os casos, os arquivos devem ter extensão .tif e/ou jpg. Também são aceitos arquivos com extensão .xls (Excel); .eps; .psd para ilustrações em curva (gráficos, desenhos e esquemas). As figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, desenhos, mapas, gráficos, etc, e devem ser numeradas consecutivamente em algarismos arábicos. Legendas: Digitar as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto. No rodapé das figuras e tabelas deve ser discriminado o significado das abreviaturas, símbolos, outros sinais e informada fonte: local onde a pesquisa foi realizada. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. Reprodução: Somente a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo poderá autorizar a reprodução dos artigos nelas contidos. Os casos omissos serão resolvidos pela Diretoria da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Os artigos enviados passarão a ser propriedade da Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo. Submissão de Artigos: A partir de janeiro de 2015 os artigos deverão ser enviados para Submissão para a Atha Comunicação e Editora (A/C Flávia M. S. Pires/ Ana Carolina de Assis) - Rua Machado Bittencourt, 190 – 4º andar - CEP: 04044-903 – São Paulo/SP, Brasil Tel: +55 11 5087-9502/ Fax: +55 11 5579 5308 ou via email para [email protected] Caso ocorra a necessidade de esclarecimentos adicionais, favor entrar em contato com a Atha Comunicação e Editora. editorial Caros leitores da Revista da SOCESP, Neste número da Revista SOCESP damos continuidade às mudanças editoriais da revista sempre visando a melhor atualização de nossos associados, além de buscar maior valorização acadêmica de nossa divulgação científica. O número 2 de 2015 apresenta um tema dos mais importantes para a Cardiologia que é a insuficiência cardíaca. Os tópicos abrangem desde novos conhecimentos da fisiopatologia da doença, até o impacto dos resultados dos mais recentes ensaios clínicos, passando pela abordagem multidisciplinar, por meio dos chamados “Heart Teams”. Também estão em destaque as revisões sobre a abordagem atual da insuficiência cardíaca com função ventricular preservada, muito comum na nossa prática clínica, e sobre como atuar na insuficiência cardíaca aguda e sobretudo como melhor lidar com a insuficiência renal nestas situações mais críticas. Voltamos a lembrar que a revista recebe revisões de todos aqueles interessados e o próximo tema será Atualização em Cardiopatias Congênitas. Com certeza, este fascículo trará informações valiosas para a nossa prática clínica. Luiz Aparecido Bortolotto Editor-chefe SUMÁRIO/CONTENTS Insuficiência cardíaca congestiva: visão atual e perspectivas futuras SISTEMA PEPTÍDEO NATRIURÉTICO EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PERSPECTIVAS NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO ................62 NATRIURETIC PEPTIDE IN HEART FAILURE: PERSPECTIVES IN DIAGNOSIS AND TREATMENT Marcus Vinicius Simões, Pedro Vellosa Schwartzmann, Fabiana Marques MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS........................................69 MECHANISMS OF INFLAMMATION AND HEART FAILURE: NEW THERAPEUTIC PERSPECTIVES Germano Emílio Conceição Souza INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL - NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA ..............75 HEART FAILURE WITH NORMAL EJECTION FRACTION – NEW EXPECTATIONS IN DIAGNOSIS AND THERAPY Evandro Tinoco Mesquita, Antonio José Lagoeiro Jorge ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR O ATENDIMENTO E TRATAMENTO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: HEART TEAM.........85 STRATEGIES FOR IMPROVING THE CARE AND TREATMENT OF PATIENTS WITH HEART FAILURE: HEART TEAM Mariana Pinto Wetten, Edimar Alcides Bocchi IMPACTO DOS NOVOS ESTUDOS CLÍNICOS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA .................................................90 IMPACT OF NEW CLINICAL TRIALS IN THE TREATMENT OF HEART FAILURE Felix José Alvarez Ramires, Mauricio Rodrigues Jordão, Fabio Fernandes, Charles Mady TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA: O QUE HÁ DE NOVO? .............................................94 TREATMENT OF DECOMPENSATED HEART FAILURE: WHAT’S NEW? Ricardo Pavanello ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA PRESERVAÇÃO DE FUNÇÃO RENAL EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA ...100 PHARMACOLOGICAL STRATEGIES FOR PRESERVATION OF RENAL FUNCTION IN ACUTE DECOMPENSATED HEART FAILURE Juliano Novaes Cardoso revisão/review Sistema Peptídeo Natriurético em Insuficiência Cardíaca: Perspectivas no Diagnóstico e no Tratamento Natriuretic Peptide in Heart Failure: Perspectives in Diagnosis and Treatment RESUMO Marcus Vinicius Simões¹ Pedro Vellosa Schwartzmann¹ Fabiana Marques¹ 1. Centro de Cardiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,sp. Brasil. Correspondência: Campus Universitário s/n - Monte Alegre. Cep 14.048 900 - Ribeirão Preto / SP Os peptídeos natriuréticos constituem uma família de peptídeos produzidos pelos cardiomiócitos em resposta ao estiramento da fibra cardíaca com múltiplas ações fisiológicas importantes para manutenção da homeostase de volume e pressão do sistema circulatório, promovendo vasodilatação arterial e venosa, aumento da taxa de filtração glomerular e da diurese/natriurese. Nos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) atuam como um sistema hormonal contra-regulatório, inibindo o sistema renina-angiotensina-aldosterona e o sistema nervoso simpático. No cenário clínico, a dosagem dos níveis séricos de BNP, ou do seu pró-hormônio inativo NT-proBNP, tem-se consagrado pela utilidade no processo diagnóstico de insuficiência cardíaca aguda e crônica, além de constituir-se relevante marcador do prognóstico. Mais recentemente, a estratégia terapêutica baseada na potencialização do BNP endógeno atingiu o patamar da aplicabilidade clínica com o desenvolvimento do inibidor da neprilisina, uma endopetidase neutra que degrada o BNP. Estudos clínicos recentes mostram futuro promissor para essa nova classe de moduladores neurohomorais. Descritores: Insuficiência Cardíaca; Homeostase; Peptídeos. 62 ABSTRACT Natriuretic peptides constitute a Family of peptides produced by the cardiomyocytes in response to stretching of the heart muscle fibers, with multiple important physiological actions for maintaining volume homeostasis and circulatory system pressure, promoting arterial and venous vasodilation, increasing the glomerular filtration rate and diuresis/natriuresis. In patients with HF, it acts as a counterregulatory hormonal system, inhibiting the renin-angiotensin-aldosterone and sympathetic nervous systems. In the clinical context, the dose of serum levels of BNP, or of its inactive form of the N-terminal-ProBNP, has become consecrated for its usefulness in the diagnosis of acute and chronic HF, as well as providing an important prognostic marker. More recently, the therapeutic strategy based on the potentialization of endogenous BNP reached the level of clinical applicability with the development of the neprilysin inhibitor, a neutral endopeptidase that breaks down the BNP. Recent clinical studies have shown future promise for this new class of neurohormonal modulators. Descriptors: Heart Failure; Homeostasis; Peptides. Introdução O Sistema Peptídeo Natriurético – bases fisiológicas e fisiopatológicas Os peptídeos natriuréticos (PN) estão envolvidos na homeostase de volume e pressão do sistema circulatório com importantes ações cardiovasculares, renais, endócrinas e parácrinas. A família de peptídeos natriuréticos compreende seis tipos de peptídeos: ANP, BNP, CNP, DNP, VNP e Urodilatin. Todos têm efeitos hemodinâmicos semelhantes, mas com diferentes graus de intensidade. São considerados hormônios cardiorrenais com extenso espectro de ação1. Caracteristicamente, os PN promovem vasodilatação, diurese e natriurese. Agudamente aumentam a taxa de filtração glomerular e excreção de sódio e água através da inibição da bomba de sódio-potássio-ATPase e de canais de sódio do epitélio tubular renal. Por outro lado, promovem inibição do sistema renina angiotensina-aldosterona e do sistema nervosa simpático, produzindo vasodilatação sistêmica em nível venoso e arterial, além de efeito vasodilador regional renal. Exercem efeitos endócrinos e parácrinos nos cardiomiócitos com ação antiproliferativa, antifibrótica, anti-inflamatória e anti-hipertrofia2,3. Por esta vasta atuação, os Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 SISTEMA PEPTÍDEO NATRIURÉTICO EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PERSPECTIVAS NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO peptídeos natriuréticos estão envolvidos como mecanismos contrarregulatórios em uma série de doenças cardiovasculares como Insuficiência Cardíaca (IC), doença arterial coronariana, hipertensão arterial, hipertrofia ventricular esquerda e acidente vascular cerebral4. BNP e ANP são produzidos principalmente no coração, mas também em menor extensão em outros órgãos. Os PN são sintetizados na forma de pré-pró-hormônios e subsequentemente clivados em formas biologicamente ativas contendo segmentos carboxy-terminais (ANP e BNP) e em segmentos amino-terminais (N-terminal–pro ANP e N-terminal-proBNP) que constituem formas inativas5. Numerosos estímulos biológicos como isquemia, lesão miocárdica, hipóxia, angiotensina II, interleucina-1β, α e β agonistas adrenérgicos já foram relacionados com aumento da expressão genética, transcripção e translação de BNP e ANP6-8. No entanto o estímulo mais importante para síntese e liberação do BNP e do ANP é o estiramento do cardiomiócito que está diretamente relacionado com a sobrecarga de volume e de pressão nas câmaras cardíacas. Dessa forma, as concentrações séricas de BNP e ANP refletem não somente o status volêmico de um indivíduo, mas também anormalidades da função sistólica, da função diastólica, das pressões de artéria pulmonar, assim como alterações valvares, anormalidades do ritmo cardíaco, fibrose e isquemia miocárdica9. Produção e liberação dos PN ANP é secretado em resposta ao aumento de estiramento atrial principalmente a partir de grânulos de armazenamento situados no miocárdio parietal atrial. A pressão de átrio esquerdo parece ser o maior estímulo para sua liberação. O ANP apresenta meia vida curta, ao redor de 1-5 minutos, enquanto seu derivado amino terminal NT-proANP apresenta meia vida longa de aproximadamente 60 minutos10,11. BNP é o PN clinicamente mais relevante. É produzido principalmente pelo miocárdio ventricular. Apesar do BNP encontrar-se mais abundantemente nos átrios em relação aos ventrículos, devido a maior massa 70% do BNP produzido e detectável na corrente circulatória é proveniente dos ventrículos. Em condições patológicas, o BNP produzido pelos ventrículos representa até 88% do total de BNP12. Locais extra-cardíacos como cérebro, pulmões, rins, aorta e glândulas adrenais produzem BNP, mas em concentrações muito inferiores, sendo o coração responsável pela grande maioria da produção. A síntese e liberação do BNP ocorre em resposta ao estresse parietal e ao aumento das pressões de enchimento das câmaras cardíacas. Existe uma associação direta entre o stress parietal, pressões de enchimento e os níveis circulantes de BNP11. A elevação do BNP em resposta ao aumento das pressões de enchimento do VE é uma resposta adaptativa para promover vasodilatação, diurese, natriurese e inibição da atividade simpática13. Após sua liberação na circulação sanguínea, o BNP é rapidamente degradado por endopeptidases neutras (NEP) e pelo receptor NPR-C o que determina uma meia vida curta ao redor de 5 a 10 minutos. O derivado amino-terminal NT-proBNP, molécula biologicamente inativa é depurado passivamente pelo rim e apresenta meia vida mais longa entre 25 a 120 minutos10. Os níveis plasmáticos de BNP e ANP em sangue periférico apresentam correlação direta com pressão capilar Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 pulmonar, pressão diastólica final do VE, índice de volume sistólico e diastólico do VE. Valores de BNP e ANP estão inversamente correlacionados com índice cardíaco e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE)10. Ensaios clínicos mostram que a administração do BNP sintético em pacientes com IC aguda produz rápida redução da pressão capilar pulmonar, da pressão intra-atrial direita, da resistência vascular pulmonar e sistêmica, aliviando os sintomas congestivos14,15. Aplicações clínicas da dosagem dos níveis séricos dos peptídeos natriuréticos No diagnóstico da Insuficiência Cardíaca O diagnóstico de IC pode ser uma tarefa difícil em pacientes com quadro de dispneia aguda associada a múltiplas comorbidades, como doenças pulmonares crônicas. Neste contexto, a utilidade da mensuração de PN como auxílio no diagnóstico diferencial foi avaliada em alguns ensaios clínicos. Os estudos The Breathing Not Properly16 e Pro-BNP Investigation of Dyspnea in the Emergency Department (PRIDE)17 demonstraram que níveis séricos elevados de PN apresentaram maior acurácia para diagnóstico ou exclusão do diagnóstico de IC agudamente descompensada quando comparada à avaliação clínica isolada18. A associação de dosagem de BNP e NT-proBNP aumenta a acurácia diagnóstica e são atualmente recomendados em diretrizes para confirmação da presença de IC quando o diagnóstico é incerto19, 20. Apesar da grande contribuição da dosagem do BNP para o diagnóstico de IC, não existe um valor definitivo de cutoff que confirme ou exclua o diagnóstico completamente. Valores alterados de PN podem ser encontrados em outras patologias além da IC como hipertensão, anemia, fibrilação atrial, valvulopatias, insuficiência renal crônica e hipertensão pulmonar. Fatores clínicos como idade, gênero e obesidade podem influenciar os níveis plasmáticos. (Tabela 1) Tabela 1. Causas de aumento dos níveis séricos dos peptídeos natriuréticos. Cardíacas IC aguda e crônica Síndromes coronarianas agudas Fibrilação atrial Miocardite Cardioversão Hipertrofia ventricular Não cardíacas Idade Gênero feminino Insuficiência renal Tromboembolismo pulmonar Sepse bacteriana Quimioterapia Obesidade Doença pulmonar obstrutiva crônica Síndrome da apneia obstrutiva do sono 63 Simões MV et al. 64 Os numerosos estudos clínicos com BNP e NT-proBNP confirmam que dosagens séricas de PN são particularmente úteis para exclusão de IC, principalmente quando apresentam valores muito baixos, com alto valor preditivo negativo21. Os PN podem estar elevados tanto na IC com fração de ejeção reduzida (ICFER) como na IC com fração de ejeção preservada (ICFEP). No entanto, os PN não são úteis para discriminação dessas duas formas de IC. Não há um valor de corte de nível sérico definitivo que possa distinguir as duas condições, mas vários estudos têm mostrado que os valores de PN na ICFEP são tipicamente mais baixos que os níveis encontrados na ICFER21. Na ICFEP a secreção de PN pelo ventrículo esquerdo encontra-se aumentada em proporção ao grau de severidade da disfunção diastólica. BNP e NT-proBNP encontram-se aumentados principalmente em portadores de disfunção diastólica com padrão de enchimento transmitral pseudonormal e restritivo ao doppler ecocardiograma. Pacientes com alteração de relaxamento ventricular apresentam pressões de enchimento normais ou levemente elevadas, nesta situação os níveis de PN podem ser normais22, 23. Os valores definidos de BNP e NT-proBNP para exclusão do diagnóstico de IC pela diretriz da Sociedade Europeia de Cardiologia foram divididos de acordo com a apresentação dos sintomas. Em quadros não agudos de dispneia e intolerância aos esforços com apresentação mais gradual valores inferiores a 125 pg/ml para NT-proBNP e inferiores a 35 pg/ml para BNP tornam o diagnóstico de IC improvável. Em situação de dispneia aguda ou piora de sintomas em um atendimento de emergências os valores para exclusão do diagnóstico de IC foram considerados inferiores a 300 pg/ml para NT-proBNP e 100 pg/ml para BNP24 (Figura 1). Suspeita Suspeitade deICIC Dispneia de início Agudo (sala de urgência) NT-pro BNP<300 pg/ml BNP<100 pg/ml IC improvável NT-pro BNP≥300 pg/ml BNP≥100 pg/ml Dispneia de início não Agudo Sintomas graduais NT-pro BNP≥125 pg/ml BNP≥35 pg/ml NT-pro BNP<125 pg/ml BNP<35 pg/ml Prosseguir investigação IC improvável Adaptado de: ESC guidelines for the diagnosis and treatment of acute and chronic heart failure 201224. Figura 1. Influência da dispneia no diagnóstico da IC. Na avaliação prognóstica da Insuficiência Cardíaca Os valores de PN correlacionam-se com a gravidade da IC e são marcadores prognósticos tanto na IC aguda como na IC crônica. A capacidade de avaliação prognóstica do BNP e do NT-proBNP é comparável a outros fatores preditores de mortalidade e de eventos cardiovasculares já tradicionalmente utilizados. Na IC crônica, medidas seriadas de BNP e NT-proBNP promovem informação adicional de risco de progressão da doença e de eventos adversos como remodelamento ventricular, taquicardia ventricular, fibrilação atrial, hospitalizações por IC, necessidade de transplante cardíaco e morte25. Independente do estágio da IC, a elevação do BNP e do NT-proBNP são importantes preditores de mortalidade e de eventos não fatais26,27. No estudo Valsartan Heart Failure Trial pacientes exibindo valores de BNP inferiores a 125 pg/mL e NT-proBNP abaixo de 1000 pg/mL apresentaram melhor prognóstico28, enquanto elevação dos valores acima destes limites correlacionou-se à relevante aumento de eventos. O estudo PRIDE apresentou resultados similares onde valores de NT-proBNP superiores a 1000 pg/mL também associaram-se a pior prognóstico29. Estudos observacionais sugerem que o decréscimo dos níveis séricos de BNP e NT-proBNP durante a hospitalização por ICAD prediz melhor prognóstico quando comparado à ausência de decréscimo ou a incremento de valores durante internação30. Em pacientes ambulatoriais, também observa-se que o incremento de valores dos PN está associado a pior prognóstico31. Também na ICFEP os valores de NT-proBNP estão associados a maior risco de eventos. Os resultados do estudo PEP-CHF demonstraram um risco quatro vezes maior de morte ou hospitalização nos indivíduos nos quartis mais elevados de valores de NT-proBNP quando comparados aos indivíduos com menores valores32. Peptídeos natriuréticos no tratamento da Insuficiência Cardíaca Fundamento fisiopatológico para o uso clínico dos inibidores da neprilisina Os PN circulantes, já discutidos acima em termos de fisiologia e liberação, são removidos por meio de dois mecanismos principais: depuração mediada por receptor de PN e degradação enzimática por proteases extracelulares. Nesse sentido, um estudo importante publicado em 1974 descreveu uma endopeptidase neutra glicosilada em células do túbulo proximal de rins de coelhos33. A abundância dessa peptidase no córtex renal contribui para a meia-vida extremamente efêmera do ANP (aproximadamente 2 minutos em humanos normais)34. Essa peptidase degrada também um amplo número de outros peptídeos vasodilatadores como adrenomedulina, bradicinina; peptídeos vasoconstrictores como angiotensina I e II, endotelina, ocitocina, peptídeos opioides, substância P e peptídeo intestinal vasoativo34,35. Dado ao seu perfil de ação amplo, essa peptidase tem uma grande variedade de nomes, incluindo endopeptidase neutra, atriopeptidase e neprilisina, sendo esta última designação a mais utilizada nos últimos trabalhos e a que utilizaremos no atual capítulo. Alguns estudos demonstraram que a inibição da neprilisina acarreta aumento dos níveis endógenos de ANP, com consequente ênfase em seus efeitos natriuréticos e Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 SISTEMA PEPTÍDEO NATRIURÉTICO EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PERSPECTIVAS NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO diuréticos36,37. Candoxatril, o primeiro inibidor de neprilisina disponível para uso oral, foi associado a um incremento de ANP e natriurese mas também aumentou concentrações de angiotensina II35. O candoxatril não reduziu a pressão arterial de hipertensos, não reduziu a resistência vascular sistêmica ou pulmonar em pacientes com IC e seu desenvolvimento foi descontinuado38. Outro inibidor da neprilisina, o ecadotril, foi testado em um estudo de doses incrementais em 279 pacientes com IC sistólica, sem qualquer evidência de eficácia e com mais mortes no grupo ecadotril, sendo descontinuado39. Nessa mesma linha de pesquisa de inibidores de neprilisina (iNEP), Ksander et al., em 1995, descreveu o sacubitril, um iNEP capaz de reduzir tanto as pressões de átrio direito e capilar pulmonar quanto de promover a natriurese37,40 – esse componente tornar-se-ia parte do LCZ696, que será comentado adiante. Contudo, pelas propriedades acima demonstradas, esperava-se que o iNEP fosse útil no manejo da hipertensão arterial e IC, mas seus benefícios foram modestos ou mesmo não documentados em alguns estudos39, possivelmente por suas ações tanto vasodilatadoras quanto vasoconstritoras, sendo que um efeito pode neutralizar o outro34. De fato, os iNEPs isolados apresentaram pouco efeito na pressão arterial ou IC39. Um provável outro efeito causado pelos iNEPs e que possivelmente neutraliza suas as ações vasodilatadoras e natriuréticas é a elevação dos níveis de angiotensina II circulantes41. Nesse sentido fisiopatológico, o próximo passo foi a criação de uma molécula que causasse tanto a inibição da neprilisina quanto da enzima de conversão da angiotensina, o que foi alcançado em 1994. O omapatrilato foi a droga dessa classe que mais foi testada em ensaios clínicos, com resultados expressivos na redução adicional de pressão arterial em relação ao lisinopril, além de aumento da excreção de ANP, evidenciando sua inibição adicional da neprilisina42. Na sequência, o omapatrilato foi novamente comparado ao lisinopril em um ensaio clínico randomizado chamado IMPRESS, que incluiu 573 pacientes com IC sistólica, com um robusto benefício em favor do omapatrilato43. Esse entusiasmo fomentou o cenário para um estudo maior, fase III, o OVERTURE trial, que comparou o efeito do omapatrilato em relação ao enalapril em 5.770 pacientes com IC44. Não houve diferenças no desfecho primário (mortalidade total e hospitalizações por IC), mas houve uma significante redução no desfecho secundário composto por morte cardiovascular e hospitalizações. Entretanto, a ocorrência maior de angioedema no grupo que utilizou omapatrilato gerou iniciativas no sentido de esclarecer a frequência elevada desse efeito colateral grave. Nesse contexto, o estudo OCTAVE comparou os efeitos do omapatrilato em relação ao lisinopril em 25.302 pacientes hipertensos, com maior redução da pressão arterial no grupo omapatrilato, mas com uma incidência maior e mais grave de angioedema (2,17% versus 0,68% no grupo lisinopril), especialmente em afrodescendentes45. Esse aumento na incidência de angioedema foi atribuído ao sinergismo de ação da inibição da enzima de conversão de angiotensina associado à inibição da neprilisina pelo omapatrilato, resultando em acentuação da inibição da degradação da bradicinina46. Essa constatação levou ao arrefecimento temporário dos esforços para o desenvolvimento desta classe dos inibidores combinados. O próximo passo seria a supressão do sistema reninaRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 -angiotensina-aldosterona e inibição da neprilisina sem causar o efeito adverso principal, o angioedema, causado pela inibição da degradação da bradicinina. Isso foi alcançado com a utilização de um bloqueador de receptor de angiotensina (BRA) no lugar dos IECA, uma vez que os BRA não inibem a degradação da bradicinina, com menor risco de angioedema. A molécula resultante, de nome LCZ696, é um complexo supramolecular formado por 6 moléculas de valsartan com 6 moléculas da pró-droga inibidora da neprilisina, chamada sacubitril – a ação simplificada da droga encontra-se na figura 2. O LCZ696, comparado ao valsartan isolado, em 1328 pacientes hipertensos, causou maior redução das pressões sistólica, diastólica e de pulso47, com boa tolerância e sem evidências de aumento de tosse ou angioedema. A ação dupla dessa droga a coloca no centro de dois sistemas importantes com efeitos significativos na circulação e outros tecidos – o sistema renina-angiotensina –aldosterona (SRAA) e sistema peptídeo natriurético (Figuras 2 e 3)34. Lesão/Sobrecarga cardíaca IC sistólica ↑SNS ↑SRAA ↑SPN/Estresse parietal Bloqueio β1 ↑Renina Angiotensinogênio iECA ↑Ang I Degradação ECA da bradicinina ↑Ang II AT1R Vasocontricção Aldosterona Proliferação ↑ROS Fibrose Retensão de Sódio ↑ANP/BNP NEP Inibidor da neprilisina LCZ 696 Bloqueador de receptor de angiotensina Receptor peptídeo natriurético A ↑Guanilil-ciclase A ↑GMPc ↑Proteína G Quinase Bloqueador de receptor mineralocorticoide Natriurese Vasodilatação ↓ Fibrose Figura 2. Inibição combinada angiotensina-neprilisina na IC. Papel central do LCZ696 na regulação cardiovascular. A ativação do sistema simpático (SNS) e sistema renina-angiotensina-aldosterona (SRAA) é parte da fisiopatologia da IC sistólica. O SRAA atua no angiotensinogênio para a produção de angiotensina I; a enzima de conversão de angiotensina (ECA) catalisa a formação da angiotensina II (AngII), que atua em seu receptor AT1R, cuja ação biológica inclui a produção de aldosterona pelo córtex adrenal. Bloqueadores β1, iECA, BRA e bloqueadores de receptor mineralocorticoide bloqueiam o SNS e SRAA em vários níveis; iECA bloqueia também a degradação da bradicinina. O aumento do estresse parietal, também presente na IC sistólica, estimula o sistema peptídeo natriurético (SPN) com liberação de ANP e BNP, que por sua vez ativam o receptor do peptídeo natriurético A, guanilil-ciclase, GMPc e proteína quinase G, com resultante vasodilatação, natriurese, diurese e inibição de fibrose. ANP também bloqueia a síntese de renina. A neprilisina (NEP) quebra o ANP, enquanto o inibidor de neprilisina (iNEP) preserva o ANP pelo bloqueio da NEP. O LCZ696 tem dois componentes (um BRA e um iNEP), com bloqueio do SRAA e bloqueio da neprilisina com estimulação das ações do ANP. Linhas verdes e setas: estimulação/ ativação. Linhas vermelhas: bloqueio. Adaptado de Braunwald E 34. 65 Simões MV et al Sistema Renina Angiotensina Angiotensinogênio (secreção hepática) Angiotensina I Angiotensina II Receptor AT1 Vasocontricção Elevação da pressão arterial Aumento do tônus simpático Elevação da aidosterona Aumento da fibrose Hipertrofia ventricular Insuficiência cardíaca valsartan LCZ 696 sacubitril (ahu377) LBQ657 Receptor peptídeo natriurético pro-BNP Vasodilatação Redução da pressão arterial Redução do tônus simpático Redução dos níveis de aidosterona Natriurese / Diurese Fragmentos Inativos NT-proBNP (não é substrato para a neprilisina ANP, BNP, CNP Adrenomedulina Subastância P neprilisina Bradicinina Angiotensina Outros Figura 3. Mecanismo de ação do LCZ696. A estimulação do sistema peptídeo natriurético e sistema renina-angiotensina-aldosterona promovida pela IC é antagonizado pela ação do LCZ696, que possui o valsartan (um BRA) que atua bloqueando o receptor AT1, e o sacubitril, uma pró-droga que é um inibidor da neprilisina (convertido em LBQ657), impedindo a degradação do ANP, BNP e CNP, bem como de outras substâncias vasoativas. Adaptado de Valderny O, et al.48. 66 Inibidores da neprilisina no tratamento da Insuficiência Cardíaca crônica A capacidade do LCZ696 de inibir simultaneamente o eixo renina-angiotensina-aldosterona e aumentar os PN endógenos foi o racional para o estudo PARAMOUNT-HF, sendo um trial aleatorizado, duplo-cego, de 301 pacientes portadores de ICFEP, comparando valsartan com LCZ696. O desfecho primário foi a alteração no NT-proBNP que, por não ser um substrato da neprilisina, permanece como medida acurada para a gravidade da IC. Em quatro semanas, os níveis de NT-proBNP foram reduzidos no grupo LCZ696 e foram reduzidos de forma significativa em 12 semanas, atingindo o desfecho primário, embora com 36 semanas não tenha havido diferença na redução dos níveis de NT-proBNP entre os grupos48. Após 36 semanas, o volume e a dimensão do átrio esquerdo foram também mais reduzidos no grupo LCZ696 e com melhora na classe funcional da NYHA49. Não houve diferença significativa nos efeitos adversos entre os grupos. Seguindo esse racional, está em andamento um estudo mais robusto, com desfechos duros em pacientes portadores de ICFEP, o estudo PARAGON-HF já foi iniciado, com a comparação dos efeitos do LCZ696 em relação a valsartan, e será uma esperança para o tratamento dessa doença. Por fim, um estudo robusto, o PARADIGM-HF, comparou o LCZ696 com enalapril em 8.442 pacientes sintomáticos portadores de IC sistólica. O estudo foi interrompido precocemente por benefício clínico após uma mediana de seguimento de 27 meses. O LCZ696 reduziu o desfecho primário composto por morte cardiovascular e hospitalizações por IC em 20% (hazard ratio 0.80, 95% intervalo de confiança 0.73-0.87, p=0.0000004). Redução similar ocorreu na morte cardiovascular (hazard ratio 0.80; 95% intervalo de confiança 0.71-0.89, p=0.00008) e hospitalização por IC (hazard ratio 0.79; 95% intervalo de confiança 0.71-0.89, p=0.00008)50. Mortalidade por todas as causas também foi reduzida em 16% (hazard ratio 0.84; intervalo de confiança 0.76-0.93; p<0.0002). Não houve aumento de tosse no grupo LCZ696, mas esse grupo apresentou maior tendência à angioedema (não estatisticamente significativa) e à hipotensão arterial, sendo que esta última não levou à descontinuação da medicação 34. Esses resultados devem ser analisados no contexto de outros estudos que estabeleceram os iECA como padrão ouro de tratamento na IC. LCZ696 resultou em redução adicional de mortalidade como o SOLVD-T que estabeleceu o iECA como terapia de primeira linha, sendo que a dose média utilizada de enalapril no PARADIGM-HF foi superior à dose utilizada no SOLVD-T48. As implicações clínicas dos PN na IC indicam que o nível sérico dos PN representa uma das ferramentas mais efetivas para uma terapêutica guiada por biomarcador na IC4 e um marcador útil para monitorar o curso da doença em relação aos benefícios das estratégias de tratamento. Contudo, dado a resultados conflitantes em diferentes estudos, há um baixo nível de recomendação da terapia guiada por PN em IC sistólica crônica. Uma meta-análise recente incluiu 12 estudos clínicos randomizados e mostrou que, em pacientes com IC sistólica crônica, a terapia guiada por PN reduziu a mortalidade por todas as causas e hospitalizações relacionadas à IC51. Dados dessa meta-análise também sugerem que pacientes acima de 75 anos provavelmente se beneficiam menos dessa estratégia, talvez devido a maior taxa de comorbidades51. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 SISTEMA PEPTÍDEO NATRIURÉTICO EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: PERSPECTIVAS NO DIAGNÓSTICO E NO TRATAMENTO Tratamento da Insuficiência Cardíaca aguda Na IC, os incrementos habituais dos PN são inefetivos no alívio da sobrecarga volêmica. Uma estratégia de tratamento utilizada foi a administração exógena do nesiretide, uma forma recombinante do BNP humano, para o tratamento da IC aguda. No estudo VMAC (Vasodilation in the Management of Acute Congestive Heart Failure trial), o nesiretide melhorou a dispneia em 3 horas comparado com placebo e reduziu mais a pressão capilar pulmonar comparada com a nitroglicerina15. Entretanto, análise dos dados indicou que essa medicação poderia piorar a função renal e aumentar o risco de mortalidade, além de associa à hipotensão arterial significativa52. No maior estudo clínico para testar diretamente a eficácia do nesiretide na IC aguda, o ASCEND (The Acute Study of Clinical Effectiveness of Nesiretide in Decompensated Heart Failure Trial), participantes com IC aguda foram aleatorizados para receber nesiretide ou placebo, além do tratamento usual para IC aguda53. O uso do nesiretide não reduziu a mortalidade ou hospitalizações por IC em 30 dias, mas foi associado a uma redução não significante na dispneia. Adicionalmente, nenhum estudo mostrou impacto significativo em desfechos cardiovasculares na IC pela administração tanto do ANP quanto do BNP recombinante, mantendo em aberto o debate dos reais benefícios dessa estratégia de tratamento em IC aguda4. Na IC aguda, a medida do BNP acarretou melhor acurácia diagnóstica, redução da taxa de hospitalização e admissão em unidades de terapia intensiva, além de efeitos favoráveis nos custos do tratamento e taxas de mortalidade4, 54. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. 67 REFERÊNCIAS 1. Januzzi JL Jr. Natriuretic peptides as biomarkers in heart failure. Journal of investigative medicine: the official publication of the American Federation for Clinical Research. J Investig Med. 2013;61(6):950-5. 2. Woodard GE, Rosado JA. Recent advances in natriuretic peptide research.J Cell Mol Med. 2007;11(6):1263-71. 3. Levin ER, Gardner DG, Samson WK. Natriuretic peptides. N Engl J Med. 1998;339(5):321-8. 4. Volpe M, Rubattu S, Burnett J Jr. Natriuretic peptides in cardiovascular diseases: current use and perspectives. Eur Heart J.2014;35(7):419-25. 5. Rubattu S, Volpe M. The atrial natriuretic peptide: a changing view. 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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 62-8 revisão//review Mecanismos da Inflamação e Insuficiência Cardíaca: novas perspectivas terapêuticas Mechanisms of Inflammation and Heart Failure: new therapeutic perspectives RESUMO Germano Emílio Conceição Souza Centro de Insuficiência Cardíaca e Transplante do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Núcleo de Insuficiência Cardíaca do Instituto do Coração - InCorHCFMUSP. Correspondência: Rua Dr Eneas de Carvalho Aguiar 44, São Paulo, SP, Brasil CEP 05403 900 [email protected] Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica com morbidade e mortalidade crescentes nas últimas décadas. Na sua fisiopatologia, além do modelo hemodinâmico, têm sido enfatizados os conceitos de ativação neuro-hormonal, de remodelamento ventricular e, mais recentemente, fatores inflamatórios e protrombóticos. Esta revisão tem o objetivo de descrever os biomarcadores inflamatórios mais estudados na IC e os principais mecanismos da complexa relação entre IC e inflamação, considerando que tais biomarcadores podem representar futuros alvos terapêuticos na IC ou auxiliar na identificação de subgrupos de IC mais suscetíveis a intervenções terapêuticas que envolvam algum aspecto de modulação da inflamação nesta síndrome. Descritores: Insuficiência Cardíaca; Inflamação; Fisiopatologia. ABSTRACT Heart Failure (HF) is a clinical syndrome with growing morbidity and mortality in recent decades. In its physiology, besides the hemodynamic model, the concepts of neurohormonal activation and ventricular remodeling have been emphasized, and more recently, inflammatory and prothrombotic factors. The aim of this review is to describe the inflammatory biomarkers most widely studied in HF, and the main mechanisms involved in the complex reaction between HF and inflammation, considering that these biomarkers can represent future therapeutic targets in HF, or assist in the identification of HF subgroups that are more susceptible to therapeutic interventions involving some aspect of modulation of the inflammation in this syndrome. Descriptors: Heart Failure; Inflamation; Physiopahology. Introdução Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome clínica que tem apresentado morbidade e mortalidade crescentes nas últimas décadas. Na sua fisiopatologia, além do modelo hemodinâmico predominante nos estudos até a década de 80, têm sido enfatizados os conceitos de ativação neuro-hormonal (principalmente em relação ao desbalanço autonômico e à ativação do sistema renina angiotensina aldosterona)1, de remodelamento ventricular e, mais recentemente, fatores inflamatórios e protrombóticos2. Estes aspectos fisiopatológicos mantém forte vínculo entre si seja na gênese ou na perpetuação desta síndrome3. O objetivo deste artigo de revisão é descrever os biomarcadores inflamatórios mais estudados na IC. Também descreveremos os principais mecanismos descritos nesta complexa relação entre IC e inflamação. A ideia é que tais biomarcadores podem representar futuros alvos terapêuticos na IC ou auxiliar na identificação de subgrupos de IC mais suscetíveis a intervenções terapêuticas que envolvam algum Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 69-74 aspecto de modulação da inflamação nesta síndrome. O papel da inflamação na IC – citocinas inflamatórias As primeiras descrições relacionando IC e inflamação na era moderna datam de 1956, quando encontrou-se correlação positiva entre níveis de proteína C reativa (PCR) e a gravidade da IC4. Mais recentemente, foi descrita correlação positiva entre o fator de necrose tumoral alfa (TNF alfa) e a gravidade da IC5. Desde então, uma série de citocinas inflamatórias tem sido descritas neste contexto clínico. Nesta síndrome parece haver um desbalanço entre mediadores inflamatórios e antiinflamatórios que resultariam no desenvolvimento ou perpetuação dos sinais e sintomas característicos, bem como explicaria, em parte a evolução natural da doença. A tabela 1 descreve um sumário dos principais mediadores envolvidos na patogênese da IC. 69 Souza GEC Tabela 1 Agentes pró-inflamatórios e anti-inflamatórios que encontram-se elevados em pacientes com insuficiência cardíaca. Efeitos pró-inflamatórios TNF-α sTNFR1 sTNFR2 sFas CD40L TRAIL Activina A Mieloperoxidase Pentraxina-3 RANTES PCR IL-6 Cardiotrofina 1 IL-8 MCP-1 MIP 1a Efeitos anti-inflamatórios IL-10 IL-18 Efeitos inflamatórios e anti-inflamatórios Adiponectina Resistina 70 TNF-α: fator de necrose tumoral alfa;sTNFR1/sTNFR2:recepor solúvel do TNF alfa 1 e 2; TRAIL: ligante indutora de apoptose relacionada ao TNF alfa; RANTES: regulated on activation normally T-cell expressed and secreted; PCR: proteína C reativa; IL: interleucina; MCP: proteína quimioatratora de macrófagos; MIP: proteína inflamatória de macrófagos. Fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) Este fator, que também é produzido nos cardiomiócitos, herdou seu nome a partir da observação inicial de sua ação inibitória em diversos tipos de células tumorais. Parece que tanto o TNF alfa quanto algumas moléculas correlatas causam apoptose de células miocárdicas via mecanismos de morte celular. Numa análise do estudo VEST encontrou-se correlação entre os níveis deste marcador e o estado funcional de pacientes com IC, medido pela classificação da New York Heart Association e que os pacientes que tinham níveis mais elevados de TNF alfa tiveram pior prognóstico. De acordo com os investigadores, este efeito seria devido a uma ação inotrópico-negativa e um distúrbio na sensibilidade dos receptores beta-adrenérgicos causada pelo TNF alfa, através do sistema da óxido nítrico sintase indutível (iNOS)6. Novos dados mostram que em pacientes com IC de recente começo os níveis de TNF alfa estão associados a distúrbios tanto da função atrial quanto das funções sistólica e diastólica ventricular. Este efeito parece ser exercido através dos receptores para TNF alfa do tipo 1 (TNFR1) e do tipo 2 (TNFR2). Em estudo recente de pacientes após infarto do miocárdio, o TNFR1 foi o melhor preditor independente de evolução para IC ou morte. Os receptores para TNF alfa 1 e 2, de acordo com dados experimentais, tem efeitos antagônicos no que diz respeito a remodelamento ventricular, hipertrofia, produção do fator nuclear kappa – beta (NFKB), inflamação e apoptose que são observados na IC. TNFR1 parece promover estes processos, enquanto o TNFR2 parece inibi-los. No entanto, ambos os receptores são necessários para que ocorram as sequelas fisiopatológicas relacionadas à ação do TNF alfa7. sFas (fragmento estimulador de apoptose solúvel) Níveis séricos da proteína estimuladora de apoptose (sFAS) parece se correlacionar positivamente com a gravidade da IC e tem sido observada como um índice prognóstico independente para desfechos clínicos nestes pacientes. Pesquisas recentes mostraram que o risco de hospitalização por piora da IC aumenta com a concentração desta proteína e que este risco é de 2 a 3 vezes maior entre os pacientes com níveis séricos desta proteína no quartil mais elevado em comparação com aqueles que apresentam seus níveis no quartil mais baixo8. TRAIL (ligante indutora de apoptose relacionada ao TNF alfa) Esta proteína indutora de apoptose é uma molécula de conexão associada ao TNF alfa. Os níveis da TRAIL estão elevados na IC. Parece que essa proteína desempenha importante papel na ruptura de placas ateromatosas e, portanto, atua como gatilho do infarto agudo do miocárdio, que é uma das várias causas de IC. No entanto, níveis da TRAIL solúvel tem uma correlação inversa com a presença de doença aterosclerótica coronária. Através de um estudo recente que examinou 351 pacientes com IC avançada, associou-se níveis elevados de TRAIL solúvel com melhor prognóstico9. Outras moléculas ligadas á família do TNF alfa Várias moléculas pertencentes à família do TNF alfa tem sido implicadas na fisiopatologia da IC. Tais moléculas incluem CD27/CD27L, CD30/CD30L e CD40/CD40L. Essas moléculas parecem se expressar em maior proporção no miocárdio de pacientes com miocardite e cardiomiopatia dilatada. Níveis de CD40L, em particular, têm sido encontrados em pacientes com IC aguda seguindo um infarto agudo do miocárdio, em comparação com indivíduos sadios. Níveis mais altos da CD40L também têm sido encontrados em pacientes com IC crônica em comparação com controles saudáveis, independente da etiologia da IC. Finalmente, os níveis da CD40L parecem estar relacionados com pior prognóstico da IC.10 Interleucina 6 (IL-6) A IL-6 é uma citocina com efeitos pró-inflamatórios. Sua elevação no soro tem significância prognóstica para o desenvolvimento da IC. Níveis elevados de IL-6 em idosos foram preditores independentes de desenvolvimento de IC no futuro. Estudos têm demonstrado que IL-6 correlacionase com o status funcional (New York Heart Association) em pacientes portadores de IC. Além disso, seus níveis correlacionaram-se com pior função tanto de átrios como de ventrículos. No nosso meio, foi descrito que os níveis de IL-6 estiveram mais elevados entre pacientes com IC de etiologia Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 69-74 MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS chagásica do que naqueles com etiologia não-chagásica11. A Cardiotrofina-1 também pertence à família da IL-6. Essa é uma citocina que compartilha um sistema de receptores com a IL-6, estando associada a diversos tipos de eventos cardiovasculares adversos. Sua produção parece estimular o remodelamento ventricular. A dosagem dos níveis de cardiotrofina-1 tem valor prognóstico adicional à dosagem isolada de peptídeo natriurético do tipo B (BNP)12. níveis séricos de PCR > 3mg/L. Dentre os pacientes com IC, os níveis de PCR correlacionaram-se com maior probabilidade de hospitalização por IC. Sua correlação com a fração de ejeção do ventrículo esquerdo, porém, é errática18. Moléculas de adesão A activina A pertence à família do fator transformador do crescimento beta (TGF beta). Existe ampla evidência do papel desta citocina em diversos contextos de processos inflamatórios, inclusive na IC. Níveis elevados da activina A estiveram correlacionados com gravidade dos pacientes portadores de IC, determinados por parâmetros clínicos, laboratoriais e hemodinâmicos13. Existem dados que sugerem possível papel na patogênese no remodelamento miocárdico ventricular. Ela parece causar regulação para cima (up regulation) de proteínas quimioatrativas de monócitos (MCP-1) por células miocárdicas, portanto, contribuindo para a inflamação local. Além disso, também tem sido implicadas na alteração na expressão dos genes responsáveis pela produção dos peptídeos natriuréticos14. Existem diversas moléculas como a molécula de adesão celular vascular -1 (VCAM-1), molécula de adesão intracelular-1 (ICAM-1) e selectinas P, E e L. Estas moléculas são expressas na superfície celular e auxiliam na adesão das células a outras células e à matriz extracelular. A expressão de moléculas de adesão é regulada por citocinas pró-inflamatórias e sua presença está associada a uma variedade de doenças cardiovasculares. Existe evidência de elevação de níveis plasmáticos de ICAM-1 e VCAM-1 em pacientes com IC de qualquer etiologia, em comparação com controles sadios. Além disso, pacientes em IC classe funcional IV da NYHA apresentavam níveis mais altos destas moléculas do que os pacientes em classes funcionais mais baixas. Pacientes com síndromes coronárias agudas que se apresentam com níveis elevados de moléculas de adesão têm maior chance de desenvolver IC19. Há correlação, ainda, entre depressão e níveis de ICAM-1 observados em pacientes com IC20. Citocinas originárias de adipócitos Mieloperoxidase Resistina e adiponectina são proteínas com propriedades pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, cuja produção no tecido adiposo parece estar relacionada com as concentrações de outras moléculas no soro. Altas concentrações de resistina têm sido correlacionadas com a presença de doença aterosclerótica coronária. No entanto, outros estudos não encontraram tal correlação. Em um estudo de pacientes com IC, foi notado aumento no risco de desenvolvimento de IC e de prognóstico entre os pacientes com níveis mais elevados de resistina. Achados comparáveis foram vistos no Framingham Offspring Study, que incluiu 2739 pacientes. Uma análise multifatorial mostrou que pacientes com altos níveis de resistina tinham maior chance de desenvolver IC no futuro15. No que tange à adiponectina, existem estudos que encontraram associação entre níveis elevados dessa citocina e maior mortalidade entre pacientes com IC, de maneira independente de outros fatores de risco16. Mieloperoxidase é uma enzima mais frequentemente encontrada nos grânulos de neutrófilos e monócitos. Ela é liberada quando estas células são ativadas, portanto contribuem para a resposta imune. Dentre suas ações mais bem estudadas, está a catalisação da oxidação do LDL (lipoproteínas de baixa intensidade) contribuindo para a o desenvolvimento de placas ateroscleróticas. Elas também estão envolvidas na disfunção endotelial via redução da disponibilidade de óxido nítrico (NO). Recentemente, em um modelo experimental, foi demonstrado que a mieloperoxidase pode participar no remodelamento e na dilatação do ventrículo esquerdo após um infarto agudo do miocárdio, contribuindo assim para o desenvolvimento de IC21,22. Uma série de estudos têm demonstrado associações entre IC e mieloperoxidase. Em um deles, que incluiu 285 pacientes com IC sintomática e 35 controles sadios, demonstrou-se que pacientes com IC apresentavam níveis mais elevados de mieloperoxidase. Nesses pacientes, os níveis de mieloperoxidase estiveram positivamente correlacionados com a classe funcional pela NYHA, independentemente da etiologia da IC. Além disso, a combinação de níveis séricos de mieloperoxidase e N-terminal pró peptídeo natruiurético do tipo B (NTpro BNP) foi um preditor mais confiável de mortalidade do que o NT-proBNP isoladamente23. Finalmente, o tratamento com rosuvastatina regula o processo inflamatório em pacientes com IC pela redução dos níveis séricos de mieloperoxidase24. Activina A Proteína C reativa (PCR) A proteína C reativa é bastante conhecida como uma proteína de fase aguda produzida pelo fígado em resposta a estímulos a partir de citocinas pró-inflamatórias como IL-6 e TNF alfa. Embora não seja um biomarcador ideal, a PCR está fortemente ligada a risco cardiovascular. Além disso, a facilidade de sua mensuração o faz um atraente biomarcador inflamatório em cardiopatas. Diversos estudos, inclusive no nosso meio, têm demonstrado a importância da PCR na avaliação do status inflamatório em pacientes com IC17. Estudos prospectivos de grande porte tem demonstrado a importância da PCR entre idosos para detectar o risco do desenvolvimento de IC. Recentemente, em um estudo com 4691 pacientes, notou-se que o risco relativo para o desenvolvimento de IC era duas vezes maior entre aqueles com Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 69-74 Pentraxina-3 Trata-se de uma longa pentraxina que é produzida por uma grande variedade de células em resposta ao estímulo inflamatório, como IL-1 ou TNF alfa. Portanto, níveis plasmáticos de pentraxina-3 aumento em poucas horas após a 71 Souza GEC administração experimental de citocinas pró-inflamatórias. Esses níveis parecem estar elevados no infarto agudo do miocárdio. Em pacientes com IC, estes níveis não só estão elevados em relação a controles sadios com também estão relacionados com a classe funcional da NYHA e com eventos cardiovasculares adversos25. Além das moléculas acima descritas, muitas outras moléculas inflamatórias e citocinas têm sido estudadas em relação à IC. Alguns desses estudos estão sumarizados na tabela 2. Tabela 2. Potenciais mecanismos de ação de citocinas inflamatórias na síndrome de IC. Disfunção sistólica Hipertrofia ventricular Depressão Ativação da programação genética fetal Disfunção endotelial Apoptose de células miocárdicas Distúrbios da estrutura miocárdica e da matriz extracelular Relação entre citocinas inflamatórias e IC 72 Diversos estudos têm documentado o papel patogênico da inflamação na IC e em particular cas citocinas inflamatórias. A chamada “hipótese das citocinas” (Tabela 2) postula que a progressão da IC deve-se, pelo menos em parte, à ação destrutiva desses fatores e que muitas das sequelas da IC se devem às citocinas inflamatórias. Efeito das citocinas da função ventricular Achados de diversos estudos têm demonstrado os efeitos de citocinas pró-inflamatórias na função ventricular. Dados recentes mostram que citocinas inflamatórias como o TNF alfa, TNFR1 e IL-6 estão relacionadas com alteração de índices ecocardiográficos de função sistólica e diastólica do ventrículo esquerdo. Dados experimentais têm demonstrado que a redução dos níveis de citocinas inflamatórias no miocárdio inibe a progressão da disfunção ventricular na IC26. Portanto, após a indução de um infarto agudo do miocárdio em animais, o bloqueio da ação do fator nuclear kappa-beta (NFKB), um agente que regula processos inflamatórios, parecem melhorar a função ventricular sistólica e diastólica27,28. Efeito das citocinas inflamatórias no remodelamento ventricular Remodelamento ventricular é a mudança no formato, tamanho e composição do músculo cardíaco em resposta a agentes danosos. Citocinas inflamatórias exercem efeitos significativos nesse processo. A maior parte dos dados nesse sentido provêm de estudos com IL-1 e TNF alfa. Dados experimentais que a falta de IL-1β e IL-18 reduzem a dilatação ventricular após um infarto agudo do miocárdio29. Além disso, dilatação ventricular e mudança na composição do colágeno têm sido observada em animais com superexpressão de TNF alfa30. Finalmente, a administração de IL-10 em animais causou redução em processos inflamatórios após a indução de infarto do miocárdio31. O mesmo ocorre após bloqueio da ação do NFKB, quando há uma relativa inibição do remodelamento após infarto agudo do miocárdio induzido de forma experimental. Efeito das citocinas no endotélio Pacientes com IC apresentam, caracteristicamente, disfunção endotelial que não apenas causa disfunção miocárdica, mas também é responsável por reduzir o suprimento sanguíneo para órgãos periféricos. Isso explica, em parte, alguns aspectos clínicos da síndrome de IC, como redução da tolerância ao exercício e disfunção hepática. Citocinas inflamatórias causam disfunção endotelial de diversas formas. Primeiro, essas citocinas induzem a produção de moléculas de adesão e citocinas por células endoteliais, que por sua vez aumentam a resposta inflamatória na parede vascular, levando a um ciclo vicioso que causa excessiva ativação endotelial na IC. Secundariamente, as citocinas alteram o equilíbrio entre vasodilatadores endógenos como o óxido nítrico (NO) e vasoconstrictores (como a endotelina-1), causando um estado de vasoconstricção. Este mecanismo é particularmente importante, uma vez que intervenções com medicamentos que possam aumentar a biodisponibilidade do NO podem melhorar a função endotelial na IC. Terceiro, diversos estudos tem demonstrado que moléculas da família do TNF alfa podem diretamente induzir apoptose de células endoteliais, gerando mais disfunção endotelial. Além disso, é importante mencionar a capacidade das citocinas em estimular a produção de espécies reativas de oxigênio, que por sua vez causam mais disfunção endotelial32. Efeito das citocinas nos músculos (caquexia) e outros órgãos IC crônica é uma síndrome que cursa com distúrbios nas funções de múltiplos órgãos e sistemas. Portanto, além da lesão miocárdica, os seus efeitos se estendem para a função do sistema gastrointestinal, para o sistema urinário e para os músculos esqueléticos. Caquexia cardíaca é caracterizada pela perda de massa e atrofia dos músculos e tecidos em outros órgãos. A caquexia é acompanhada por anorexia, perda ponderal, perda de massa muscular e cordura corpórea, além de mudança no metabolismo de glicose e lípides pelo fígado, o que confere um pior prognóstico para a síndrome de IC. Caquexia é considerada um resultado da interação entre várias citocinas, neuropeptídios, hormônios de stress e fatores intermediários no metabolismo lipídico. Uma vez que o TNF alfa era chamado, inicialmente de “caquexina”, não é supreendente que as citocinas inflamatórias desempenhem um papel central na patogênese da caquexia cardíaca. Portanto, estudos tem mostrado que TNF alfa, IL-1 e IL-6 estão relacionados à proteólise, alterações non metabolismo lipídico, atrofia muscular e com apoptose de células musculares, seguida de perda ponderal33. Portanto, a caquexia cardíaca ocorre não somente pela ativação neuro-humoral da IC, mas também pela inflamação sistêmica que a acompanha. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 69-74 MECANISMOS DA INFLAMAÇÃO E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: NOVAS PERSPECTIVAS TERAPÊUTICAS Efeitos das citocinas na hematopoese Anemia é um aspecto comum da IC crônica e exacerba a piora de capacidade funcional, por reduzir adicionalmente a tolerância ao exercício e cansaço. Além disso, anemia está associada à pior prognóstico, de forma independente de outros fatores prognósticos na IC. A anemia que acompanha a IC deve-se a diversos fatores, como a supressão da função da medula óssea, redução da absorção de ferro no intestino e hemodiluição. Inflamação sistêmica é um efetor que todos estes aspectos fisiopatológicos têm em comum. Especificamente, TNF alfa, IL-1 e IL-6 interferem com a produção de eritropoietina e causam resistência à sua ação34. Além disso, citocinas inflamatórias parecem ter um efeito direto de toxicidade sobre a medula óssea, induzindo distúrbios de hematopoese através da indução de apoptose de células progenitoras35, mesmo mecanismo observado em distúrbios hematopoiéticos em modelos experimentais de IC36. Também é conhecido que, em condições caracterizadas por inflamação crônica, a IL-6 induz a formação de hepcidina pelos hepatócitos, que inibe a liberação de ferro por macrófagos e a absorção intestinal desse elemento, gerando redução de suas reservas. Isto também se aplica à IC quando os níveis de IL-6 estão sabidamente elevados37. Efeitos das citocinas no humor IC e depressão frequentemente coexistem. Tal associação confere piora prognóstico para ambas as síndromes em termos de mortalidade e de qualidade de vida. O “modelo das citocinas” propõe que citocinas inflamatórias estão implicadas na patogênese da depressão38. Estudos têm demonstrado que citocinas pró-inflamatórias como o TNF alfa, IL-2 e IL-6 estão elevadas tanto na IC quanto na depressão e que seu aumento está relacionado com a sintomatologia de depressão39. Além disso, medicamentos antidepressivos como inibidores de receptação de serotonina (IRS), inibidores de receptação de norepinefrina (IRN) e antidepressivos tricíclicos (ADT), quando administrados a pacientes com depressão e IC, reduzem os níveis de citocinas inflamatórias como TNF alfa e PCR. O nível de redução nesses agentes inflamatórios dependem do tipo de antidepressivo administrado, uma vez que pacientes tratados com IRS geraram menor redução do que aqueles tratados com ADT ou IRN40. Considerações finais Pacientes com IC caracterizam-se também por inflamação sistêmica evidenciada por elevados níveis de diversas citocinas inflamatórias. O grau de elevação destas citocinas reflete a gravidade da síndrome num dado paciente. Embora os mecanismos precisos do efeito de cada uma destas citocinas inflamatórias ainda não estejam plenamente esclarecidos, existe um acúmulo progressivo de evidências apontando para um papel central da inflamação tanto no desenvolvimento quanto na perpetuação da síndrome de IC. Este papel passa não somente em relação aos efeitos diretamente demonstráveis no miocárdio, mas também em outros órgãos, contribuindo para a morbimortalidade dessa síndrome. Estudos futuros são necessários para investigar mecanismos de ação e possíveis intervenções terapêuticas direcionadas para alvos moleculares decorrentes destas investigações fisiopatológicas. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Mann DL, Deswal A, Bozkurt B, Torre-Amione G. New therapeutics for chronic heart failure. Annu Rev Med. 2002;53:59-74. 2. Jessup M, Brozena S. Heart failure. N Engl J Med. 2003;348:2007-18. 3. Braunwald E. Heart Failure. 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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 69-74 revisão/review INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL - NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA HEART FAILURE WITH NORMAL EJECTION FRACTION – NEW EXPECTATIONS IN DIAGNOSIS AND THERAPY RESUMO Evandro Tinoco Mesquita Antonio José Lagoeiro Jorge2 1 1. Professor de Cardiologia da Universidade Federal Fluminense; Diretor Médico do Pró Cardíaco RJ. 2. Professor da Pós Graduação em Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal Fluminense. Correspondência: Rua Minitro Otavio Kelly 500,apto 1506, Icarai - Niteroi/Rj, CEP 24220 111 [email protected] A insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal (ICFEN) é uma epidemia cardiovascular emergente e hoje representa mais de 50% dos casos de IC. Este fenótipo compromete principalmente mulheres e idosos e está associado com múltiplas comorbidades como diabetes, hipertensão arterial, fibrilação atrial e obesidade. O diagnóstico da ICFEN na prática clínica é complexo necessitando para sua confirmação da realização de exames de imagem cardíaca em particular o eco Doppler tecidual e o emprego de biomarcadores, para confirmar a presença de disfunção diastólica (déficit de relaxamento, rigidez ventricular e pressões de enchimento elevadas) e alterações estruturais cardíacas. Estudos clínicos randomizados, utilizando medicamentos efetivos para IC com fração de ejeção reduzida, não demonstraram benefícios sobre a mortalidade para pacientes com ICFEN, possivelmente devido a problemas relacionados a correta compreensão da fisiopatologia da síndrome. Novas abordagens terapêuticas vêm emergindo a partir dos recentes mecanismos fisiopatológicos que envolvem a proteína titina, o estresse oxidativo e a matriz extracelular. Descritores: Insuficiência cardíaca; Ecocardiografia Doppler. ABSTRACT Heart failure with normal ejection fraction (HFNEF) is an emerging cardiovascular epidemic that today represents more than 50% of cases of HF. This phenotype mainly affects women and the elderly, and is associated with multiple comorbidities, such as diabetes, arterial hypertension, atrial fibrillation, and obesity. The diagnosis of HFNEF in clinical practice is complex, requiring cardiac imaging exams for its confirmation, particularly tissue Doppler echocardiography and the use of biomarkers, to confirm the presence of diastolic dysfunction (relaxation deficit, ventricular rigidity, and high filling pressures) and structural changes in the heart. Randomized clinical trials using effective medications for HF with reduced ejection fraction have not shown any benefits in mortality for patients with HFNEF. This may be due to an incorrect understanding of the physiopathology of the syndrome. New therapeutic approaches have emerged, following recent physiopathological mechanisms involving the titin protein, oxidative stress, and the extracellular matrix. Descriptors: Heart failure; Doppler Echocardiography. INTRODUÇÃO A insuficiência cardíaca (IC) é hoje a principal causa de internação no Brasil em indivíduos acima de 60 anos e seu fenótipo IC com fração de ejeção normal (ICFEN), descrita inicialmente em 1984 por Dougherty AH e cols1 e, posteriormente por Topol2, vem se tornando progressivamente a forma mais prevalente de apresentação da IC3. ICFEN pode Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 ser definida com uma síndrome clínica na qual o coração é incapaz de oferecer a quantidade de oxigênio para os tecidos ou só o fazer com elevadas pressões de enchimento do ventrículo esquerdo em repouso ou no exercício, apesar da fração de ejeção normal (FEVE ≥ 50%)4. O termo inicialmente utilizado para caracterização desses pacientes foi IC diastólica, porém como disfunção diastólica se encontra 75 Mesquita ET e Jorge AJL 76 presente em pacientes assintomáticos e também naqueles que apresentam IC com fração de ejeção reduzida (ICFER) o mesmo vem sendo substituído nos últimos anos por IC com fração de ejeção preservada ou normal5. A ICFEN é mais prevalente entre indivíduos do sexo feminino, idosos, obesos, diabéticos, com hipertensão arterial e fibrilação atrial. Outras comorbidades são comuns tais como: doença renal crônica (DRC), anemia, depressão e doença pulmonar crônica (DPOC), e podem interferir diretamente na sua fisiopatologia, acelerarando a progressão da ICFEN6. A prevalência da ICFEN varia de 1,1 a 5,5% dependendo da idade e outras variáveis como critérios e métodos diagnósticos, podendo aumentar para 3,1 a 5,5% quando estudos avaliam apenas populações com idade > 60 anos7-9. Estudos epidemiológicos na América Latina sobre ICFEN são escassos, na revisão de Bocchi e cols10 foi demonstrado uma prevalência de ICFEN menor que ICFER tanto em pacientes ambulatoriais como internados ao contrário do que é observado em países desenvolvidos. O nosso grupo ao estudar uma população atendida por médicos de família na cidade de Niterói, RJ, observou uma prevalência de ICFEN de 64,2%11. Estudo epidemiológico de prevalência de IC em área rural na cidade Valença, RJ mostrou que a prevalência de ICFEN era semelhante a ICFER12. A hipertensão arterial é a causa mais comum acometendo mais de 60% dos pacientes com ICFEN13,14. Outras condições como obesidade, diabetes, doença arterial coronariana (DAC), cardiomiopatias restritivas e cardiomiopatia hipertrófica, que são associadas com o desenvolvimento de disfunção diastólica também contribuem para a progressão para ICFEN15-17. As comorbidades cardiovasculares e não cardiovasculares são comuns em pacientes com ICFEN. O seu reconhecimento é importante, pois a presença de comorbidades piora o prognóstico, agrava a sintomatologia e interfere com a resposta terapêutica da doença. Nosso grupo estudando ICFEN em pacientes ambulatoriais observou que hipertensão arterial, fibrilação atrial, DRC, diabetes e anemia são as comorbidades mais prevalentes em ICFEN18. A ICFEN envolve diversos mecanismos fisiopatológicos sobre os quais existem ainda controvérsias como anormalidades no mecanismo de disfunção endotelial, sucção ventricular / alterações do relaxamento ventricular, rigidez do ventrículo esquerdo, rigidez vascular, função do átrio esquerdo e isquemia miocárdica. As alterações na função diastólica frequentemente presentes em pacientes com ICFEN são causadas por uma piora do relaxamento ventricular e/ou um aumento da rigidez ventricular e pode resultar em altas pressões de enchimento em repouso e durante o exercício, causando a dispneia e a intolerância ao esforço19. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de ICFEN é mais complexo e desafiadordo que na ICFER, já que nessa última a presença de sinais e sintomas de IC com a FEVE < 50% completa o diagnóstico na maioria dos casos. Na ICFEN três condições necessitam obrigatoriamente serem preenchidas para confirmar o diagnóstico: a) Sinais e ou sintomas de IC; b) FEVE ≥ 50% com VE de cavidade normal (volume diastólico final indexado < 97 mL/m2); c) Presença de alterações estruturais do VE ou de disfunção diastólica do VE19. Cardiologistas e generalistas têm hoje um importante desafio que é caracterizar pacientes assintomáticos em risco para ICFEN definidos pela ACCF/AHA como estágios A e B de IC. Pacientes em estágio A são aqueles que apresentam fatores de risco maiores para ICFEN como hipertensão arterial, diabetes, obesidade e doença coronária na ausência de sintomas ou sinais de IC e sem alterações estruturais e funcionais cardíacas20. No estágio B os indivíduos já apresentam anormalidades eletrocardiográficas (hipertrofia do ventrículo esquerdo) e ou do ecocardiograma com Doppler tecidual (EDT) (HVE, fibrose miocárdica e disfunção diastólica)20 (Figura 1). Obesidade idade HAS Diabetes Estágio A Hipertrofia VE ICFEN Disfunção diastólica Estágio B IC sintomática Principais fatores de risco (estágio A) para ICFEN que podem levar a disfunção diastólica assintomática (estágio B) até o aparecimento dos sinais e sintomas (estágio C). HAS hipertensão arterial; ICFEN insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal; IC insuficiência cardíaca. Figura 1. Estágios de insuficiência cardíaca com fração de ejeção normal. Sinais e sintomas Sinais e sintomas de IC têm baixa sensibilidade e especificidade em pacientes com ICFEN, particularmente por serem pacientes idosos com múltiplas comorbidades, necessitando do médico elevado grau de suspeita clínica e apoio de métodos de cardioimagem, em particular o EDT e dosagem de peptídeos natriuréticos21. Do ponto de vista clinico para o diagnóstico de ICFEN existem dois modelos que observamos na prática clínica diária. O primeiro de indivíduos atendidos na sala de emergência com ICFEN descompensada, frequentemente com quadro de edema agudo de pulmão hipertensivo associado ou não a fibrilação atrial, no qual a avaliação objetiva da FEVE maior ou igual a 50% confirma o diagnóstico22. O segundo modelo, comum na prática clínica, são os indivíduos atendidos no consultório com queixa de dispneia relacionada ao esforço sem evidências clinicas de congestão pulmonar ou sistêmica, frequentemente idosos, hipertensos, utilizando diuréticos e, com múltiplas comorbidades19. O consenso europeu sobre ICFEN publicado em 2007 sistematizou a abordagem ambulatorial para pacientes com suspeita clínica de ICFEN que incorporou o emprego do EDT e dos peptídeos natriuréticos para confirmar ou excluir ICFEN19. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA Ecocardiograma com Doppler tecidual O ecocardiograma com Doppler transtorácico, apesar de ser o mais utilizado em nosso meio, apresenta limitações, pois não comporta uma adequada avaliação da função diastólica. O EDT é um método mais apropriado, pois permite a medida do relaxamento ventricular (E’) e das pressões de enchimento do VE (relação E/E’) que somadas à medida da relação E/A, do volume do átrio esquerdo e da massa do VE, oferece uma melhor avaliação da função diastólica19. O EDT seria então o melhor método para avaliação da disfunção diastólica, porém existem limitações causadas pelo envelhecimento e aspectos técnicos relacionados à execução do exame. Recentemente, as Sociedades Americana e Europeia de Ecocardiografia desenvolveram uma diretriz para a avaliação da função diastólica ventricular e uma nova padronização para avaliação das câmaras cardíacas23,24. Nesse documento, os valores de normalidade dos parâmetros ecodopplercardiográficos são relacionados com a faixa etária (Tabela 1) e é dado ênfase às novas técnicas do EDT e do estresse diastólico para a correta caracterização da disfunção diastólica D25. Tabela 1. Valores normais de parâmetros diastólicos. Medida TRIV (ms) Relação E/A TD (ms) A (ms) E’ septal (cm/s) E’ lateral (cm/s) PV Ar (cm/s) 16-20 anos 50±9 1,88±0,45 142±19 113±17 21-40 anos 67±8 1,53±0,40 166±14 127±13 41–60 anos 74±7 1,28±0,25 181±19 133±13 >60 anos 87±7 0,96±0,18 200±29 138±19 14,9±2,4 15,5±2,7 12,2±2,3 10,4±2,1 20,6±3,8 19,8±2,9 16,1±2,3 12,9±3,5 16±10 21±8 23±3 25±9 TRIV tempo de relaxamento isovolumétrico; E pico fluxo mitral no inicio da diástole; A pico do fluxo mitral no final da diástole(contração atrial); TD tempo de desaceleração da onda E; E’ velocidade do anel mitral no inicio da diástole; Ar velocidade da onda reversa de A; PV veia pulmonar. Adaptado de Nagueh SF e cols25. As variáveis hemodinâmicas que ajudam a classificar a função diastólica podem ser obtidas pelo EDT e incluem a medida do fluxo transmitral (relação E/A), o tempo de relaxamento isovolumétrico (Triv), o fluxo da veia pulmonar, o tempo de desaceleração da onda E (TD), pressão sistólica da artéria pulmonar e a relação entre o fluxo transmitral no início da diástole com a velocidade do anel mitral no início da diástole (E/E’) que, quando maior que 15, tem alta especificidade para caracterizar elevações das pressões diastólicas do VE19,25. A disfunção diastólica pode ser classificada em graus que se relacionam com a gravidade da disfunção e possuem impacto prognóstico mesmo em indivíduos assintomáticos25. ECODOPPLER CARDIOGRAMA DE ESTRESSE Muitos pacientes com intolerância ao esforço e suspeita de ICFEN podem apresentar pressões de enchimento do VE normais em repouso e somente desenvolvem elevação dessas pressões ao realizar esforço. Portanto o ecodopplercardiograma de estresse tem se mostrado uma ferramenta Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 valiosa com potencial para identificar pacientes com piora da capacidade funcional e aumento das pressões de enchimento do VE e ou da pressão arterial pulmonar, ajudando a identificar casos duvidosos de ICFEN26. O ecodopplercardiograma de estresse com utilização de um ciclo ergômetro supino é tecnicamente factível para demonstrar as mudanças da relação E/E’ e de variações da pressão sistólica da artéria pulmonar com o exercício, além de permitir uma imagem contínua do coração e a obtenção das medidas de enchimento do VE imediatamente na fase de recuperação, o que é importante na interpretação das mudanças na função diastólica27. O teste cardiopulmonar pode ser utilizado para diferenciar pacientes que apresentam quadro de dispneia devido ICFEN daqueles com dispneia por DPOC. Porém o teste cardiopulmonar não se mostrou útil para separar pacientes com ICFEN e ICFER28. Biomarcadores Peptídeos natriuréticos são biomarcadores capazes de avaliar a atividade neuro-hormonal e podem auxiliar no diagnóstico e prognóstico da IC e são os mais utilizados na ICFEN. Os peptídeos natriuréticos são capazes de avaliar de modo rápido a disfunção do VE sendo uma ferramenta útil principalmente na sala de emergência. Em relação à ICFEN já está bem estabelecido que valores de peptídeos natriuréticos são inferiores aqueles observados em pacientes com ICFER quando admitidos na sala de emergência29. O peptídeo natriurético é produzido a partir do aumento do estresse miocárdico, dessa forma explicando porque pacientes com dilatação ventricular (ICFER) possuem valores maiores que os pacientes com volume do VE normal (ICFEN)29. Uma das dificuldades em relação aos peptídeos natriuréticos diz respeito ao valor de corte para excluir ou diagnosticar IC na atenção primária que ainda se mostra como uma questão não resolvida. Recente estudo sobre prevalência de IC na comunidade realizado na Espanha mostrou que o ponto de corte de 60,12 pg/mL apresentava sensibilidade de 83% e especificidade de 84% para identificar IC no ambulatório. No estudo espanhol, pacientes sem IC apresentaram valores médios de BNP de 40,0±26,1pg/mL e com IC de 234,9±363,6 pg/mL30. Nós avaliamos 161 pacientes ambulatoriais com suspeita clinica de ICFEN e observamos que um valor de corte do BNP de 51 pg/mL apresentou alta sensibilidade e especificidade para diagnosticar ICFEN21. A Diretriz Europeia de IC recomenda valores diferentes de BNP e NT-pro BNP para pacientes com início agudo do quadro clínico e aqueles com piora gradual dos sintomas. Para exclusão de IC em pacientes com início agudo o ponto de corte recomendado é de 300 pg/mL(NT-proBNP) e 100 pg/mL(BNP). Em pacientes ambulatoriais o ponto de corte para exclusão é de 125 pg/mL (NT-pro BNP) e 35 pg/mL (BNP)22. Medidas seriais de peptídeos natriuréticos para guiar tratamento melhoram resultados em pacientes com ICFER, porém não está comprovada sua utilidade em pacientes com ICFEN31. Estudos mostram que valores de peptídeos natriuréticos podem, independente do valor da FEVE, determinar o prognóstico de pacientes com IC32. 77 Mesquita ET e Jorge AJL Biomarcadores de fibrose e inflamação trazem novas expectativas para a avaliação do risco de desenvolver ICFEN bem como para o seu diagnóstico. Estudo observou que ICFEN pode estar associada ao aumento de biomarcadores de inflamação como interleucina 6 (IL 6), interleucina 8 (IL 8) e proteína quimiotática de monócitos 1 (MCP1) e do metabolismo do colágeno como o carboxiterminal telopeptídeo do colágeno 1 (CITP), metaloproteinase da matriz 2 (MMP2) e metaloproteinase da matriz 9 (MMP9). Em outro estudo, um valor de corte de 1.585 ng/mL de MMP2 mostrou uma sensibilidade de 91% e uma especificidade de 76% para predizer ICFEN33,34. Galectina-3 (Gal-3) é um marcador de fibrose miocárdica e valores elevados estão associados a curto e longo prazo com o remodelamento ventricular e pode predizer a mortalidade em pacientes com IC severa. O valor preditivo do Gal-3 parece ser mais forte em pacientes com ICFEN do que em pacientes com ICFER35. ICFEN confirmada SIM Presença de congestão sistêmica/pulmonar NÃO SIM Hipertensão arterial SIM Hipertrofia do VE tratamento atual da ICFEN Pacientes com ICFEN são em sua maioria idosos e em uso de polifarmácia. Os medicamentos de ação cardiovascular podem ocasionar reações adversas como hipotensão postural, hipovolemia e piora da função renal. A chave do tratamento da ICFEN reside na personalização do tratamento que envolve a retirada de medicamentos que não promovam um claro benefício para o paciente e o ajuste da menor dose capaz de melhorar os sintomas. Devido a critérios inadequados na seleção dos pacientes, como por exemplo, ausência de disfunção diastólica para confirmar diagnóstico de ICFEN40,41, estudos clínicos utilizando medicamentos que reduziram de modo significativo desfechos duros em pacientes com ICFER não mostraram os mesmos benefícios em pacientes com ICFEN40-44. A escolha dos medicamentos na ICFEN está fundamentada em evidências para cinco pontos chaves (Figura 2): 1. Controle da hipertensão sistólica e diastólica; 2. Controle da resposta ventricular e anticoagulação em pacientes com fibrilação atrial; 3. Controle da congestão pulmonar e edema periférico com diuréticos; 4. Revascularização coronariana em pacientes com DAC de alto risco nos quais a isquemia tem um efeito adverso na função diastólica. 5. Controle das comorbidades. IECA, BRA, Inibidor de Renina NÃO TRATAMENTO 78 IECA, BRA, BCC, BB, diuréticos NÃO SIM Isquemia miocárdica O tratamento atual da ICFEN é baseado principalmente nos benefícios relacionados ao controle dos sinais e sintomas e melhora da qualidade vida36. Medicamentos disponíveis para ICFER, como inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA), beta bloqueadores (BB) não tem obtido o mesmo êxito nos grandes estudos voltados para pacientes com ICFEN37. As diretrizes recomendam que pacientes com ICFEN sejam tratados objetivando o controle da hipertensão arterial, da frequência cardíaca, da redução da pressão venosa e prevenção da isquemia miocárdica22,37,38. Estudos e recentes e novas hipóteses sobre o mecanismo da disfunção diastólica sugerem novos caminhos para terapia especifica da ICFEN39. Restrição de sal, Diuréticos Estatina, BB, AAS, BCC, Nitrato, ICP NÃO Fibrilação atrial SIM Controle FC, cardioversão, anticoagulação NÃO Controle da FC SIM BB, BCC, MP NÃO Identificar e tratar comorbidadades IRC, Obesidade, Diabetes, DPOC, Anemia, Hipotiroidismo, DAC, Sedentarismo, Síndrome Metabólica, apnéia do sono, depressão IECA inibidor da enzima conversora da angiotensina; BRA bloqueador do receptor da angiotensina; BCC bloqueador canal de cálcio; BB betabloqueador; ICP intervenção percutânea; FC frequência cardíaca; MP marcapasso; IRC insuficiência renal crônica; DPOC doença pulmonar obstrutiva crônica; DAC doença arterial coronariana. Figura 2. Algoritmo de tratamento – ICFEN. Bloqueadores de canais de cálcio Os bloqueadores de canal de cálcio (BCC) por serem medicamentos que reduzem a FC e a contratilidade miocárdica podem melhorar a disfunção diastólica e serem benéficos para pacientes com ICFEN, porém BCC também tem ação direta no miocárdio, reduzindo a velocidade de relaxamento do VE e ação inotrópica negativa o que pode piorar a função diastólica45. Como esta controvérsia sob o papel dos BCC em relação à disfunção diastólica não está bem definida em pacientes com ICFEN e considerando que BCC oferece um controle efetivo da pressão arterial não existe até o momento contra indicação para utilização do medicamento em pacientes com ICFEN. Betabloqueadores Os principais benefícios dos BB em relação à ICFEN são o aumento do enchimento diastólico levando a uma melhora da perfusão miocárdica e reduzindo a isquemia, ação anti-hipertensiva, redução da hipertrofia do VE e da fibrose miocárdica e redução de arritmias cardíacas46. Pacientes Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA com ICFEN frequentemente apresentam uma incompetência cronotrópica aos esforços que pode ser agravada com o uso de BB levando a uma piora dos sintomas47. O Estudo SENIORS43 que envolveu 2000 pacientes randomizados para placebo e nebivolol foi o primeiro estudo a avaliar os efeitos do nebivolol, um BB com propriedades vasodilatadoras, em pacientes idosos com IC. Um subgrupo do estudo com FEVE >35% foi avaliado em uma análise pré-especificada. O estudo observou uma redução de desfechos combinados (morte e internação hospitalar). O estudo mostrou que o efeito do nebivolol foi similar em pacientes com IC e FEVE ≤ 35% e > 35%. Entretanto quando se utilizou o ponto de corte de 40% para FEVE não houve diferença significativa entre os pacientes que receberam nebivolol e placebo. Portanto o efeito dos BB em pacientes com FEVE ≥ 50%, critério mais utilizado para classificar ICFEN, permanece em aberto, necessitando mais estudos para definir a importância dos BB no tratamento da ICFEN46. De modo geral estudos que avaliaram o papel dos BB na ICFEN têm mostrado que BB impacta de modo positivo os resultados (mortalidade em pacientes pós-infarto do miocárdio e morbidade em outros tipos de pacientes)48. Diuréticos Diuréticos melhoram os sintomas da ICFEN, pois reduzem o volume intravascular e leva o VE para uma melhor posição na curva de relação volume pressão diastólica final49. O uso de diuréticos pode ocasionar hipovolemia e diminuição do débito cardíaco, devendo ser empregado com cautela particularmente em pacientes com ICFEN. Diuréticos permanecem a base do tratamento sintomático da congestão pulmonar e sistêmica em pacientes com ICFER. Em pacientes com ICFEN uma redução do volume pode ser complicada devido a uma margem estreita terapêutica já que nesse grupo de pacientes a curva de pressão/volume difere da curva fisiológica e mesmo pequenas reduções nas pressões de enchimento podem resultar numa marcada redução do volume diastólico do VE o que causa uma redução significativa do débito cardíaco, risco de hipotensão e piora da função renal50,51. As doses de diuréticos em pacientes com ICFEN devem ser individualizadas e menores do que naqueles com ICFER. Pacientes com ICFEN moderada e hipertensão arterial devem utilizar baixas doses de diuréticos tiazídicos já que a eficácia de baixas doses como terapia de primeira linha para prevenção de eventos cardiovasculares tem sido bem documentada52. Em pacientes que apresentam ICFEN severa pode ser necessária a utilização de um diurético de alça para controle da congestão pulmonar. A base para este tratamento reside na maior efetividade do diurético de alça, principalmente se a função renal está comprometida53. A espironolactona combina ação diurética com efeitos benéficos na estrutura do ventrículo esquerdo. O estudo TOPCAT que avaliou 935 pacientes com ICFEN, entretanto foi um estudo negativo, falhando em mostrar beneficio para os desfechos primários tanto de modo isolado como combinado54, O estudo ALDO-DHF, que avaliou 422 pacientes ambulatoriais com ICFEN, mostrou que a longo prazo a espiRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 ronolactona melhora a função diastólica mas não modifica os sintomas clínicos e nem melhora a capacidade ao exercício55. Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina e Bloqueadores dos receptores da angiotensina Moduladores neurohormonais são medicamentos que influenciam a hipertensão arterial, DAC, fibrilação atrial e diabetes melittus. Estes medicamentos formam a base do tratamento da ICFEN, pois são efetivos no controle dessas doenças que contribuem para piora da função diastólica56. Angiotensina II predispõe ao aparecimento da HVE, reduz o relaxamento, agravam a fibrose e aumenta a rigidez ventricular. Medicamentos que modulam o sistema neuro-hormonal além de apresentar efeitos hemodinâmicos benéficos também reduzem o crescimento de células do músculo liso, previnem o depósito de colágeno, reduzem a expressão do fator de crescimento, promovem a regressão da fibrose e hipertrofia miocárdica45,49,57. Pacientes com ICFEN tem atividade da renina plasmática elevada, porém em menor proporção quando comparada com pacientes com ICFER. Estudos que utilizaram os IECA e BRA melhoraram desfechos em pacientes com hipertensão arterial58, com presença de fatores de risco para doença cardiovascular59 e na ICFER60-62. Entretanto os resultados dos estudos clínicos com os mesmos medicamentos em pacientes com ICFEN não mostraram resultados semelhantes. No estudo PEP-CHF que avaliou pacientes com ICFEN os efeitos do perindopril sobre a morbimortalidade ao longo de um ano foram incertas, porém houve melhora dos sintomas e da capacidade para realizar exercícios no grupo perindopril e também foi observado um menor número de internações hospitalares no primeiro ano de seguimento42. Dois estudos randomizados avaliaram os efeitos dos BRA em pacientes com ICFEN. O estudo CHARM-Preserved comparou candesartana versus placebo, Após 37 meses não houve diferença no desfecho primário composto por morte por doença cardiovascular ou internação por IC. O estudo não incluiu medidas da função diastólica como critério para confirmar o diagnóstico de ICFEN63. No I-PRESERVE que avaliou irbesartana versus placebo não houve diferença estatística significativa nos desfechos primários de morte por qualquer causa ou internação por doença cardiovascular. De modo semelhante a outros estudos o diagnóstico de ICFEN foi realizado sem a necessidade da presença de disfunção diastólica pelo ecocardiograma e somente com pequenas elevações nos níveis de NT-proBNP. Comparado com outros estudos o seguimento teve maior duração (50 meses) e as taxas de evento foram elevadas (36%)41. O tratamento intensivo de hipertensão arterial é associado com aumento de relaxamento ventricular e melhora da IC e embora estudos para tratamento de ICFEN utilizando medicamentos que reduzem a pressão arterial, não tenham mostrado resultados favoráveis na redução de desfechos primários, há uma tendência em generalizar os benefícios do antagonismo neurohormonal observado em pacientes com ICFER para a ICFEN64. 79 Mesquita ET e Jorge AJL Estatinas 80 O benefício das estatinas em pacientes com ICFEN são divididos em dois tipos. Primeiro porque as estatinas estão associadas com a redução dos níveis sanguíneos dos lipídios o que está ligado com a redução de eventos cardiovasculares. Em segundo as estatinas tem um efeito independente da redução dos lipídios (efeito pleiotrópico), que inclui a diminuição da massa do VE, redução da fibrose cardíaca, efeito favorável no sistema neuro-hormonal e um aumento da elasticidade arterial, efeitos que tem impacto na evolução da disfunção diastólica65. Vários estudos observacionais sugerem os efeitos benéficos das estatinas em pacientes com ICFEN. O Euro Heart Failure Survey envolvendo 3.148 pacientes com FEVE ≥40% mostrou uma diminuição em todas as causas de morte em pacientes tratados com estatinas66. Fukuta e cols em uma análise observacional de 137 pacientes com IC e FEVE ≥50% mostrou melhor sobrevida nos pacientes tratados com estatinas (HR 0,20; 95% IC 0,06–0,62; p=0,005) após ajuste para hipertensão arterial, diabetes mellitus, DAC e creatinina sérica67. Shah e cols em uma grande coorte americana de 13.533 pacientes com ICFEN mostrou melhora significativa na mortalidade de pacientes tratados com estatinas (risco relativo 0,73, 95% CI 0,68–0,79) após ajuste para o colesterol total, DAC, diabetes, hipertensão arterial e idade68. Recente metanálise de 11 estudos com 17.985 pacientes com ICFEN mostrou que estatina foi associada com uma redução de 40% na mortalidade69. Como não existem até o momento estudos prospectivos randomizados com estatinas em ICFEN, não fica clara a indicação de estatinas com o objetivo primário de melhorar resultados clínicos na ICFEN. Digital Digital é um dos medicamentos mais antigos usados no controle da IC, mas tem sido historicamente considerado contraindicado em pacientes com ICFEN. Considerações teóricas sugere um potencial benefício, bem como um dano ocasionado pela digoxina neste grupo de pacientes. Por exemplo, digoxina pode melhorar a ativa dependência de energia da função diastólica70. Como consequência isso pode levar a efeitos benéficos no perfil neurohormonal. Ao contrário digital pode produzir um aumento na demanda de energia sistólica, adicionando uma sobrecarga de cálcio citosólico na diástole. Esse efeito pode não ser clinicamente aparente, mas durante um estresse hemodinâmico o digital pode promover ou contribuir para a disfunção diastólica71. Uma análise retrospectiva envolvendo mais de 14.000 pacientes no ROCKET AF mostrou que em 37% dos pacientes em uso de digoxina ocorreu um aumento do risco de morte por todas as causas. Os achados do estudo sugerem que digoxina não deve ser utilizada como tratamento de primeira linha em pacientes com fibrilação atrial com ou sem IC72. Novas propostas terapêuticas Sildenafil O remodelamento ventricular em pacientes com ICFEN pode ser explicado por um novo paradigma em que o remo- delamento é causado por comorbidades, como DPOC, obesidade, hipertensão arterial, diabetes e anemia, que levam a disfunção miocárdica e remodelamento através da inflamação endotelial microvascular coronária. A disfunção microvascular está associada a uma sinalização anormal da monofosfato guanisina cíclica (cGMP) e tem sido proposta como um mecanismo de base para ICFEN. Paulus e cols propôs que as comorbidades promovem inflamação e ocasionam a diminuição do óxido nítrico (NO) que reduz a cGMP no cardiomiócito com subsequente hipertrofia e rigidez ventricular73. Modelos experimentais têm demonstrado uma regulação positiva da expressão da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) no cardiomiócito de ventrículos direitos hipertrofiados e insuficientes. O bloqueio do catabolismo da cGMP com inibição da fosfodiesterase pode diminuir a hipertrofia celular e da câmara cardíaca, aumento da contratilidade do ventrículo direito, melhora do fluxo de cálcio e diminuição da atividade simpática74,75. Dois estudos randomizados utilizaram o inibidor de PDE5, sildenafil, para o tratamento da ICFEN. Guazzi e cols76 avaliaram 44 pacientes com disfunção diastólica pelo ecocardiograma, FEVE ≥ 50% pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) ≥ 40 mmHg que foram randomizados para sildenafil 50 mg três vezes ao dia ou placebo. Em doze meses sildenafil diminuiu a pressão arterial pulmonar e resistência vascular pulmonar e melhorou a função do ventrículo direito e promoveu o remodelamento revesso. Entretanto os pacientes nesse estudo apresentavam marcada elevação da pós-carga do ventrículo direito, aumento da resistência vascular pulmonar e pronunciada disfunção do ventrículo direito com uma pressão venosa central média de 23 mmHg. Estes achados não são perfis hemodinâmicos comuns em pacientes com ICFEN e a diminuição da sobrecarga do ventrículo direito poderia ser a principal razão para a melhora observada77. O estudo RELAX envolveu um total de 216 pacientes ambulatoriais com ICFEN (FEVE ≥ 50%), elevação do NT-proBNP ou elevação das pressões de enchimento do VE e capacidade reduzida ao exercício. Pacientes foram randomizados para sildenafil 20 mg três vezes ao dia por 12 semanas e em seguida 60 mg três vezes ao dia por 12 semanas ou placebo. Os participantes apresentavam o fenótipo típico de ICFEN com idade média de 69 anos, 85% de hipertensão arterial, 51% de fibrilação atrial e 75% de doença renal crônica. Ao final do estudo não houve diferença entre os grupos em nenhum desfecho final como consumo de pico de oxigênio, qualidade de vida, função diastólica, remodelamento do ventrículo esquerdo e melhora do teste de caminhada de seis minutos78. Ranolazina A ranolazina um medicamento antianginoso que entre outros mecanismos é capaz de inibir o fluxo tardio de sódio com redução do cálcio na célula cardíaca e por isso teria algum efeito na melhora da função diastólica em pacientes com ICFEN79. O estudo RALI-DHF, prospectivo, randomizado duplo cego, placebo controlado, avaliou 20 pacientes (12 = ranolazina e 8 = placebo) com ICFEN que receberam infusão contínua de ranolazina ou placebo, seguido de tratamento oral por 13 dias80. O estudo mostrou algumas melhoras em parâmetros hemodinâmicos (pressão arterial pulmonar média, e pressão capilar pulmonar), porém não houve melhoras no relaxamento Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 INSUFICIÊNCIA CARDÍACA COM FRAÇÃO DE EJEÇÃO NORMAL NOVAS EXPECTATIVAS NO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICA ventricular, não houve mudanças significativas nos parâmetros ecodopplercardiográficos, no teste de exercício cardiopulmonar e nos valores do NT-proBNP. Apesar dos mecanismos de ação ainda não estejam bem claros é possível que ranolazina possa ter alguma eficácia na disfunção diastólica e, portanto mais estudos com populações maiores são necessários80. tiva na capacidade ao exercício, no consumo de oxigênio no pico do exercício e melhora das pressões de enchimento do VE. O estudo concluiu que ivabradina aumenta a tolerância ao exercício em pacientes com ICFEN sendo esse efeito mediado pela melhora da pressão de enchimento do VE85. LCZ 696 Um novo modelo proposto para explicar o remodelamento e a disfunção diastólica na ICFEN é consequência de uma cascata de eventos que se inicia com a presença de comorbidades que promovem um estado pró-inflamatório que faz com que células endoteliais da microvasculatura coronariana comecem a produzir espécies reativas de oxigênio (ROS). Dessa forma limitam a biodisponibilidade do óxido nítrico (NO), devido à depleção do cofator da NO sintetase também conhecido como BH4, levando a uma diminuição da atividade da proteína quinase G (PKG) nos cardiomiócitos. Baixa atividade da PKG permite a hipertrofia do cardiomiócito, induzindo então o remodelamento concêntrico do coração, ao mesmo tempo ocorre uma maior rigidez dos cardiomiócitos devido a uma hipofosforilação da proteína gigante do cito-esqueleto conhecida como titina. Tanto a rigidez dos cardiomiócitos como o aumento do depósito de colágeno pelos miofibroblastos causa a disfunção do VE, a principal causa do déficit funcional na ICFEN73. Suplementação oral de BH4 previne e revertem mudanças cardíacas incluindo a disfunção diastólica. Em um modelo animal hiperlipidêmico86 e em diabéticos87 as estatinas e o resveratrol aumentaram a biodisponibilidade do BH4 e melhoraram o relaxamento ventricular. De acordo com esses dados o aumento do BH4 pode ser um alvo terapêutico promissor para a disfunção diastólica e a ICFEN. Os peptídeos natriuréticos - BNP e peptídeo natriurético atrial (ANP) – tem propriedades antiproliferativas e diuréticas, estimulando a diurese, natriurese, a vasodilatação e podem ter efeitos adicionais antifibróticos e redução da atividade simpática81. A neprilisina é uma enzima que degrada os peptídeos natriuréticos ativos (BNP, ANP), mas não o biologicamente inerte NT-proBNP, reduzindo a concentração plasmática dos peptídeos natriuréticos ativos. A inibição da neprilisina aumenta a geração de guanosina cíclica miocárdica que melhora o relaxamento e reduz a hipertrofia ventricular81. LCZ696 é o primeiro da classe do inibidor da neprilisina e do receptor da angiotensina que compreende as metades molecular da pró-droga inibidora da neprilisina (endopeptidase neutra) AHU377 e a valsartana em um único composto. LCZ696 bloqueia o receptor de angiotensina sem inibir a enzima conversora da angiotensina (ECA)81. O estudo PARAMOUNT, prospectivo, randomizado, placebo controlado de fase II comparou o LCZ 696 com a valsartana em 301 pacientes com ICFEN por 12 semanas que apresentavam FEVE ≥ 45% e NT-proBNP elevado. O desfecho primário foi mudanças no nível do NT-proBNP em 12 semanas. Em pacientes com ICFEN o LCZ696 reduziu o NT-proBNP em níveis maiores que a valsartana isolada em 12 semanas e foi associada com remodelamento reverso do átrio esquerdo e diminuição da classe funcional em 36 semanas82. Outro estudo utilizando o LCZ 696, PARAGON-HF, está em andamento e foi planejado para avaliar os efeitos do medicamento em desfechos primários clínicos em pacientes com ICFEN83. Ivabradina Ivabradina, um inibidor seletivo do canal if, oferece uma ampla gama de possibilidades terapêuticas para diversas patologias cardíacas. Uma das principais ações da ivabradina é sua capacidade de reduzir a frequência cardíaca sem modificar a contratilidade miocárdica, o sistema de condução cardíaco ou a resistência vascular coronariana84. Nas fases iniciais da ICFEN o aumento da frequência cardíaca pode ser particularmente prejudicial devido a redução do tempo de enchimento diastólico e ao aumento das pressões de enchimento que causa intolerância ao exercício. Medidas terapêuticas que prolonguem a fase de enchimento do VE podem melhorar o fluxo transmitral, reduzindo assim o aumento das pressões de enchimento e, por conseguinte a dispneia. O uso de ivabradina nesse grupo de pacientes pode representar uma nova oportunidade para controlar o esforço associado à taquicardia sem os efeitos deletérios na contratilidade miocárdica. Kosmala e cols avaliaram 61 pacientes com ICFEN que foram randomizados para ivabradina 5 mg duas vezes ao dia ou placebo por uma semana. O grupo ivabradina mostrou melhora significaRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 Tetrahidrobiopterina (BH4) Antioxidantes O estresse oxidativo tem relação com a fisiopatologia do remodelamento ventricular e da disfunção diastólica73. Mitocôndrias são uma das principais fontes do estresse oxidativo do coração, especialmente na população diabética que é considerada um dos principais fatores de risco para ICFEN. Estudos em animais mostram que o emprego de um antioxidante com ação nas mitocôndrias como o Mito Q1088 e o peptídeo seletivo para mitocôndria conhecido como SS-389, foram capazes de prevenir disfunção diastólica associada ao diabetes. Marcapasso A função diastólica do átrio esquerdo está comprometida em pacientes com ICFEN, sendo que esta disfunção pode ser demonstrada pela diminuição do “strain” do átrio esquerdo durante a sístole e também pelo aumento da rigidez do átrio esquerdo. Essas alterações levam a um atraso na condução interatrial. O estudo LEAD avaliou a utilização de marcapasso no átrio esquerdo em pacientes com ICFEN e evidências de dissincronia atrial. Após três meses observou-se melhora significativa na média da distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos e na função diastólica90. Vários estudos observacionais têm demonstrado a presença de dissincronia mecânica em pacientes com ICFEN. Pacientes com ICFEN e piora da dissincronia apresentam intervalo QRS alargado, aumento de massa do VE 81 Mesquita ET e Jorge AJL e diminuição do relaxamento ventricular91,92. Uma analise em um subgrupo do estudo PROSPECT envolvendo 86 pacientes com classe funcional da NYHA III a IV com FEVE ≥ 35% e QRS maior que 130 ms tinham melhora semelhante quando comparados a pacientes com FEVE ≤ 35% após seis meses. Outro achado importante nos pacientes com ICFEN é o déficit cronotrópico evidenciado ao esforço que pode contribuir para o aparecimento de sintomas. O emprego de marcapasso para a correção do déficit cronotrópico encontra-se em curso. (ClinicalTrials. gov Identifier: NCT02145351) Exercício Condições associadas com ICFEN como disfunção endotelial, inflamação sistêmica e síndrome metabólica, melhoram com o exercício programado93. Estudo avaliou o efeito do exercício programado em 63 pacientes com ICFEN. Pacientes foram randomizados por 16 semanas para exercício programado versus acompanhamento monitorado. Exercício melhorou o pico de VO2 (15,8 ± 3,3 mL/kg/min vs 13,8 ± 3,1 mL/kg/min, p=0,0001) e a qualidade vida. O estudo Ex-DHF randomizou 64 pacientes com ICFEN para avaliar exercício com cuidados usuais versus cuidados usuais isolado. Após três meses os pacientes submetidos ao treinamento tinham melhorado o pico de VO2 (16,1 ± 4,9 ml/min/kg para 18,7 ± 5,4 ml/min/kg; p<0,001). Esses estudos demonstram que exercício físico parece ser seguro e pode ser recomendado para pacientes com ICFEN94. CONSIDERAÇÕES Finais A ICFEN é hoje uma epidemia cardiovascular emergente, acometendo principalmente idosos e mulheres. O diagnóstico da síndrome evoluiu nas duas últimas décadas sendo facilitado pela incorporação dos biomarcadores e novos métodos de cardioimagem como o ecocardiograma com Doppler tecidual. Devido às características dos pacientes com ICFEN o tratamento deve ser voltado principalmente para o controle dos sintomas e melhora da qualidade vida. Terapias emergentes direcionadas para novos alvos fisiopatológicos estão sendo estudadas e poderão no futuro preencher a lacuna da ausência de benefícios sobre a redução de desfechos clínicos primários em ICFEN. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 82 1. Dougherty AH, Naccarelli GV, Gray EL, Hicks CH, Goldstein RA.Congestive heart failure with normal systolic function. Am J Cardiol. 1984;54:778-82. 2. Topol EJ, Traill TA, Fortuin NJ. 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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 75-84 revisão/review Estratégias para melhorar o atendimento e tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca: Heart Team Strategies for improving the care and treatment of patients with heart failure: Heart Team RESUMO Mariana Pinto Wetten Edimar Alcides Bocchi1 1 1. Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP. Correspondência: Rua Dr Eneas de Carvalho Aguiar 44, São Paulo, SP, Brasil CEP 05403 900 [email protected] O Heart Team (HT) é um conceito envolvendo o desenvolvimento de uma equipe formada por cardiologistas clínicos, cirúrgicos, intervencionistas, médicos de outras áreas, e equipe multidisciplinar com o objetivo de propor as melhores decisões terapêuticas baseadas em Diretrizes, evidências científicas, e experiências profissionais para pacientes cardiológicos complexos. Na insuficiência cardíaca o conceito de Heart Team se iniciou com os programas de Transplante Cardíaco, onde a decisão clínica do paciente envolvia uma equipe multidisciplinar médica e não médica devido à complexidade da doença e das comorbidades. Esses programas deram origem as Clínicas de Insuficiência Cardíaca. Mais recentemente este conceito se estendeu a outras subespecialidades da cardiologia. Como exemplo a implantação em doença coronariana e doença valvar. A introdução da Heart Failure Team para pacientes com insuficiência cardíaca visa agrupar os melhores profissionais médicos e não médicos com expertise em insuficiência cardíaca, para oferecer as melhores terapias e melhor forma de seguimento destes pacientes graves com múltiplas comorbidades. A participação da equipe multidisciplinar, educação do paciente e família, acompanhamento/monitoração hospitalar e domiciliar, e desenvolvimento de programas de manejo de doença crônica fazem parte do programa com o objetivo de prevenir reinternações e mortalidade, e proporcionar melhor atendimento, tratamento e aderência do paciente. Descritores: Insuficiência Cardíaca; Tratamento; Equipe de Assistência ao Paciente. ABSTRACT The Heart Team (HT) is a concept that involves the development of a team comprised of clinical cardiologists, surgeons, interventionists, doctors from other areas, and a multidisciplinary team, with the aim of providing the best therapeutic decisions based on Guidelines, scientific evidence, and professional experiences for complex cardiological patients. In heart failure, the concept of Heart Team began with the Heart Transplant programs, where the patients symptoms involve a multidisciplinary medical and non-medical team, due to the complexity of the disease and the comorbidities. These programs gave rise to the Heart Failure Clinics. More recently, this concept extended to other subspecialties of cardiology. For example, implantation in coronary disease and valvular disease. The purpose of introducing the Heart Failure Team for patients with heart failure is to bring together the best medical and non-medical professionals with expertise in this disease, to offer the best therapies and the best form of follow-up for these severe patients with multiple comorbidities. The participation of the multidisciplinary team, education of the patient and family, follow-up/monitoring in the hospital and in the patient’s home, and the development of programs for managing chronic disease, are all part of the program, with the aim of preventing readmissions and mortality, and providing better care, treatment and patient adherence. Descriptors: Heart Failure; Therapeutics; Patient Care Team. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 85-9 85 Wetten MP e Bocchi EA Introdução 86 Com o desenvolvimento e introdução de novos procedimentos alternativos para tratamento de maior complexidade e custo, as decisões clínicas relacionadas a estes procedimentos passaram por necessidade a ser indicadas em conjunto por vários profissionais associados aos cuidados dos pacientes alvos do tratamento. Do ponto de vista Institucional ou/e acadêmico, até recentemente os procedimentos de maior complexidade eram os envolvidos no tratamento da insuficiência cardíaca. O conceito de “Equipe” (Heart Team) surge com os programas de Transplante Cardíaco há duas/três décadas atrás onde era necessária para a decisão a participação de múltiplos profissionais de várias áreas devido às características cardiológicas, clínicas, cirúrgicas, farmacêuticas, reabilitação, sociais, psicológicas, e comorbidades peculiares influenciando o resultado do procedimento. Com a aplicação do modelo, se verificou que os pacientes com insuficiência cardíaca com e sem indicação de tratamento cirúrgico se beneficiavam do procedimento. A Equipe de Insuficiência Cardíaca (Heart Failure Team) do Incor surgiu deste modelo simultaneamente com as denominadas Heart Failure Clinics do hemisfério norte e Austrália. A introdução de novos procedimentos complexos como implante de válvula aórtica por cateter, dispositivos de assistência ventricular, e outros em outras áreas da cardiologia estendeu o conceito de Heart Team para toda a Cardiologia1-4. Em outras áreas da medicina o modelo de Team também tem sido aplicado, como por exemplo em oncologia. Entretanto, do ponto de vista de prática clínica o modelo de decisão compartilhada por vários profissionais ligadas ao cuidado do paciente não é novo. Desde os tempos remotos os médicos de qualidade que buscavam a melhor decisão para seus pacientes, procuravam discutir os casos de alta complexidade com vários profissionais que podiam oferecer opiniões para ajudar na decisão e até mesmo alternativas de tratamento. O que recentemente se implantou foi uma padronização deste conceito, e a sugestão de extensão para ser usada por todos os médicos para melhora a qualidade da decisão principalmente em casos de alta complexidade. Heart Team (Equipe Cardiológica) O paciente é a prioridade e deve ser o ponto principal da atenção e da discussão médica (Figura 1). Essa é a recomendação Classe I das Diretrizes de Revascularização da ESC/EACS (European Heart Association / European Association for Cardio Thoracic Surgery) e da ACC/AHA (American College of Cardiology / American Heart Association).1,5 A justificativa para o cuidado baseado em equipe é otimizar, discutir e oferecer o melhor tratamento ou alternativas de tratamento ao paciente complexo como os que apresentam diversos fatores de risco e idade avançada. Atualmente as decisões tornam-se cada vez mais difíceis devido ao desenvolvimento de novos dispositivos e abordagens, a quantidade crescente de informações científicas, estudos randomizados e recomendações2. Nesse contexto, o principal objetivo do HT é oferecer dentro de um cenário clínico complexo a melhor proposta Cirugião Cardíaco Cardiologista clínico Paciente Equipe multiprofissional Outras especialidades Figura 1. Heart Team (Equipe Cardiológica). terapêutica de acordo com um consenso de experts de várias áreas do assunto, unindo recomendações consagradas em literatura médica e experiências do serviço e individuais, sempre visando o melhor tratamento para o paciente3. O Heart Team é formado na maioria das vezes por cardiologistas clínicos, cardiologistas intervencionistas e cirurgiões cardíacos, além da equipe multiprofissional, como enfermagem, farmacêuticos, psicologia e serviço social. Além disso, dependendo da situação clínica, outras especialidades como nefrologia, oncologia, cuidados paliativos e neurologia podem ser convidadas a participar da discussão3,6. A primeira etapa para a implementação de um HT é a elaboração de protocolos escritos, definindo os casos que necessitam de discussão. Os protocolos deverão ser baseados em algoritmos e as reuniões clínico-cirúrgicas devem ser regulares, com a participação de toda equipe médica, multidisciplinar e muitas vezes do representante do paciente. A decisão sempre será baseada na transferência de conhecimentos, discussão e finalmente a decisão final tomada pela equipe, sempre levando em consideração a opinião do próprio doente5,6. HEART FAILURE TEAM (Equipe de Insuficiência Cardíaca) A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome complexa, envolvendo pacientes estáveis ambulatoriais até pacientes internados dependentes de inotrópicos e dispositivos de assistência ventricular com indicação de transplante, muitos em estágio terminal para cuidado paliativo, e com diversas comorbidades associadas . A proposta de criação do Heart Team em pacientes com IC em grandes centros de referência torna-se essencial e indispensável e visa a melhoria de tratamento clinico, indicação de terapia cirúrgica para IC avançada ou cuidados paliativos, sempre em concordância com o paciente e seus familiares (Figura 2)2. Na estruturação de uma Heart Failure Team, o caso clínico de interesse de alta complexidade é apresentado detalhadamente sendo compartilhado por todos os profissionais envolvidos com história clínica, exames laboratoriais e de imagens3, bem como os possíveis pontos a serem discuRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 85-9 ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR O ATENDIMENTO E TRATAMENTO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: HEART TEAM Equipe Multidisciplinar •Cardiologista subespecializado em IC •Cirurgião •Assistente social •Farmacêutico •Psicóloga •Professor de Educação Física •Nutricionista Enfermeiro Programa de educação paciente e família Precoce detecção de descompensação Programa de aderência a longo prazo Implementação de condutas e algorítmos Monitoração do balanço hidroeletrolítico e função renal Figura 2. Heart Failure Team (Equipe de Insuficiência Cardíaca). tidos: possível nova investigação diagnóstica, tratamento clínico medicamentoso, tratamento cirúrgico (revascularização, correção da insuficiência mitral, aórtica), implante de ressincronizador, cardiodesfibrilador implantável (CDI), indicação de transplante, indicação de dispositivos de assistência ventricular ou tratamento paliativo. Poderão ser discutidas estratégias de melhor cuidado e acompanhamento do paciente em nível ambulatorial, com orientação e prevenção de reinternação e aderência ao tratamento (como equipes de acompanhamento por telefone). Assim, as atividades da Heart Failure Team incluem decisões principalmente quanto ao tratamento clínico da insuficiência cardíaca, tratamento cirúrgico, indicação de marca-passo/CDI/ressincronizador, transplante cardíaco, dispositivos de assistência ventricular, e cuidados paliativos. Pode atuar com pacientes hospitalizados e pacientes sob cuidados de ambulatório. Envolve toda a equipe médica e multidisciplinar, como ajuste medicamentoso, nutricional, prescrição de atividade física, reabilitação cardíaca, atendimento e orientação de enfermagem pelo telefone, além de suporte psicológico, assistência social para pacientes internados e ambulatoriais. Diversos pacientes apresentam doença coronariana, aneurisma de ventrículo e insuficiência mitral ou doenças valvares juntamente com disfunção importante. O HT avalia em casos complexos a possibilidade de terapias cirúrgicas como revascularização miocárdica, correção de insuficiência mitral e de aneurismas ventriculares. Nem todos os pacientes se encaixam nas indicações formais de implante de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis. O HT tem o papel de avaliar a individualização dos pacientes com indicação não usual e potencial benefício do implante de implante de CDI e ressincronizador. O paciente com indicação absoluta de transplante cardíaco (IC refratária em uso de drogas inotrópicas e/ou suporte circulatório, angina e arritmia refratária, classe funcional III/IV persistente e VO2 pico <10 ml/Kg/min) passa por uma rigorosa avaliação, incluindo exames laboratoriais, de imagem, hemodinâmicos, além de avaliação psicológica e social7. Muitos pacientes candidatos para transplante apresentam uma ou mais contraindicações relativas, como idade, diabetes mellitus com lesão de órgão alvo, vasculopatia periférica, insuficiência renal, neoplasias, Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 85-9 obesidade, hepatite B e C, síndrome de imunodeficiência adquirida e infecções ativas. São nessas situações que o HT decidirá se o paciente entrará em fila de transplante, ficará em cuidados paliativos ou será candidato para dispositivos de assistência ventricular (DAVs). Os DAVs são motivo de grandes discussões em grupo de IC em todo mundo e mais recentemente no Brasil. Cabe ao HT selecionar o paciente candidato ao implante do dispositivo, qual o melhor tipo (longa, curta duração, implantável ou extracorpóreo) e qual o momento correto do implante. Os de curta e média são indicados para pacientes graves em estágio D candidatos ao transplante. Já os DAV implantáveis de longa permanência são indicados como ponte para recuperação (em ventrículos que estão recuperando função); ponte para decisão (paciente que apresenta uma contraindicação relativa como neoplasia em tratamento com bom prognóstico e que no futuro será candidato ao transplante); para terapia de destino 7. Pacientes em estágio D de insuficiência cardíaca e os que foram contraindicados para transplante e DAV são candidatos aos cuidados paliativos8. As taxas de readmissão após a alta e antes do retorno ambulatorial em 30 dias são significativas segundo registro americano Medcare e a cada internação o prognóstico é pior além dos elevados custos9. A IC tem um grande impacto sobre o estado de saúde dos pacientes, os sintomas são limitantes, comprometendo a funcionalidade do paciente e de sua qualidade de vida. Os programas de manejo de doença crônica em insuficiência cardíaca são feitos pelas equipes multidisciplinares e promovem intervenções destinadas a melhorar a adesão dos pacientes ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso, diminuindo assim as reinternações10-12. O ideal é a implementação de programas de autoatendimento em que o paciente recebe monitorização diária como medidas de pressão arterial, frequência cardíaca, peso, dispneia e edema. O controle pode ser feito por telefone com uma enfermeira que orientará e reforçará medidas comportamentais como restrição hídrica e salina e através dos sinais vitais poderá orientar aumento das medicações como diuréticos ou orientar a ida ao pronto socorro10,13. Outro modelo de acompanhamento ambulatorial é a realização de reunião em grupo, com enfermeiros e psicológicos, onde ocorre troca de experiências entre os pacientes e toda equipe14. Modelos de Heart Failure Team Devido a custos e disponibilidade de profissionais disponíveis para participar nas decisões em insuficiência cardíaca em Instituições e na prática clinica no próprio consultório, podem existir vários modelos de Heart Failure Team. A Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca em 2009 classificou a Heart Failure Team de acordo com os seus componentes, na época chamadas de Unidades de Insuficiência Cardíaca (Tabela 1)8. Esta classificação visou estimular o desenvolvimento de Heart Failure Team, e se possível, numa forma mais completa. Não existe definição de melhor modelo para a Heart Failure Team, mas empiricamente quanto mais completo melhor. As atividades de educação e monitoração são essenciais na aplicação do conceito de Heart Failure Team. 87 Wetten MP e Bocchi EA Tabela 1. Classificação de equipes de insuficiência cardíaca. Tratamento Disponível T1- Tratamento clínico disponível T2- Acrescenta tratamento cirúrgico alternativo ao transplante cardíaco T3- Adiciona suporte circulatório T4- Adiciona transplante cardíaco Recursos Humanos Intervenção % dos Estudos Educação do paciente 89% Monitoração dos sintomas pelo DMP 60% Monitoração dos sintomas pelo paciente 54% Manejo da medicação e aderência 28% Medicação segundo Diretrizes 23% Aderência à ingestão e líquidos 17% Aderência à ingestão de sódio 17% Resolução de problemas 17% Recomendações de exercício 14% E0- Não disponível Aderência a dieta 11% E1- Cirurgião Definição de objetivos 9% Suporte social 3% R1- Clínico geral R2- Cardiologista não subespecializado em insuficiência cardíaca ou com subespecialização em outra área da cardiologia R3- Cardiologista subespecializado em insuficiência cardíaca Equipe Multidisciplinar E3- Adicionar enfermeira E4- Adicionar fisiologista do exercício E5- Adicionar nutricionista E6- Adicionar assistente social, psicóloga Monitorização e Educação M0- Não disponível M1- Programa de educação 88 Tabela 2. Intervenções dos programas de manejo de doença crônica (DMP) em insuficiência cardíaca. M2- Adiciona monitoração especializada ambulatorial M3- Adiciona monitoração a distância por telefone ou outro método adequado M4- Adiciona monitoração domiciliar Instalações - Estrutura Física I1- Unidade geral I2- Unidade cardiológica I3- Unidade de ambulatório especializado em insuficiência cardíaca I4- Unidade de ambulatório e internação subespecializado em insuficiência cardíaca Resultados da Aplicação da Heart Failure Team (Equipe de Insuficiência Cardíaca) Não existe avaliação objetiva dos resultados da Heart Failure Team. Entretanto os programas multidisciplinares de manejo de insuficiência cardíaca aplicados pela Heart Failure Team podem ser efetivos na redução da hospitalização, da mortalidade, e melhoram a qualidade de vida. Estes programas promovem a educação e monitoração dos pacientes e seu cuidadores. Na tabela 2 estão incluídos os principais itens introduzidos pela Heart Failure Team através de programas de manejo de doença crônica. Os programas de manejo de doença crónica não são homogêneos quanto as suas características. Revisão com meta-análise recente que agrupou resultados de 35 estudos demonstrou redução de mortalidade, de readmissões hospitalares, melhora da qualidade de vida, redução de custo, menor necessidade de consultas médicas, e maior satisfação nos que receberam a intervenção. O efeito mais importante foi na redução da hospitalização15. No Brasil os primeiros resultados de um programa de manejo de doença crônica aplicado por Heart Failure Team foram publicados no estudo REMADHE, estudo prospectivo randomizado. Neste estudo o tempo médio de seguimento foi de 2,47 anos e houve redução do desfecho combinado de hospitalização e mortalidade, de hospitalização, dos dias de hospitalização durante cada internação, redução das necessidade de pronto-socorro, e melhora da qualidade de vida. Os resultados foram homogêneos para sexo, idade, raça, diabetes, classe funcional, e etiologia16. Extensão do REMADHE demonstrou que a melhora de qualidade de vida é mais importante na área emocional17. O estudo HELEN-II diminuiu o desfecho combinado de primeira visita a emergência ou readmissão hospitalar ou morte em 27%. No final do estudo a dose utilizada de furosemida foi maior grupo intervenção18. Indicação das Diretrizes de Insuficiência Cardíaca Crônica para Heart Failure Team (Clínicas de Insuficiência Cardíaca) Na Diretriz Brasileira de Insuficiência Cardíaca a indicação de programas de seguimento de pacientes com insuficiência cardíaca para melhorar a adesão ao tratamento, a qualidade de vida, diminuir dias de hospitalização, e visitas em unidade de emergência em classe de recomendação A, com nível de evidencia A19. considerações finais A Heart Failure Team (Equipe de Insuficiência Cardíaca) é um modelo de tratamento e cuidados para pacientes com insuficiência cardíaca que vem recebendo aperfeiçoamento desde a sua introdução há duas/três décadas atrás. Com o desenvolvimento de procedimentos de maior complexidaRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 85-9 ESTRATÉGIAS PARA MELHORAR O ATENDIMENTO E TRATAMENTO DE PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: HEART TEAM de como dispositivos de assistência ventricular, indicações de outros dispositivos, e escolha de cuidados paliativos, a Heart Failure Team adquire cada vez mais maior importância. Os programas de manejo de doença crônica tem papel importante para prevenção de re-hospitalizações e redução de custo no tratamento da insuficiência cardíaca. O modelo de Heart Failure tem características e resultados que justificam sua implantação nos serviços de cardiologia unindo equipe médica e multidisciplinar, oferecendo o me- lhor atendimento, acompanhamento e tratamento para os pacientes com IC avançada. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. 89 REFERÊNCIAS 1. 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Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl 1):1-33. revisão/review Impacto dos novos estudos clínicos no tratamento da insuficiência cardíaca Impact of new clinical trials in the treatment of heart failure Resumo Felix José Alvarez Ramires1,2 Mauricio Rodrigues Jordão1,3 Fabio Fernandes1 Charles Mady1 1. Unidade Clínica de Miocardiopatias do Instituto do Coração (InCor) – HC- FMUSP 2. Hospital do Coração (HCor) Associação do Sanatório Sírio 3. Núcleo de Cardiologia do Hospital Samaritano de São Paulo Correspondência: Rua Dr Eneas de Carvalho Aguiar 44, São Paulo, SP, Brasil CEP 05403 900 [email protected] Após os benefícios comprovados dos inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), beta-bloqueadores e antagonistas da aldosterona nas décadas de 1980 e 1990, e da proposta da ivabradina em 2010, nenhuma outra molécula se mostrou eficaz no tratamento da insuficiência cardíaca. Atualmente, acrescentou-se ao tratamento farmacológico a reposição de ferro quando da sua deficiência. Mas a grande expectativa refere-se ao inibidor da nepresilina e de Receptores AT1 da angiotensina (sacubitril valsartana sódica hidratada) cujos resultados publicados são promissores com redução de 20% no desfecho combinado primário (morte cardiovascular/hospitalização por IC), 20% de redução de morte cardiovascular, 21% redução de hospitalizações, 16% de redução de morte por qualquer causa, 30% redução de visitas à emergência por IC, 23% de redução em múltiplas hospitalizações por IC, 18% de redução do tempo de permanência nas unidades de terapia intensiva, 31% menos uso de drogas vasoativas, melhora da qualidade de vida medida pelo KCCQ e redução dos níveis de NT-proBNP. Do ponto de vista não farmacológico, as estratégias mais atuais envolvem dispositivos de modulação simpática que apesar de promissores, ainda carecem de melhor avaliação. Os dispositivos de estimulação cardíaca e de assistência circulatória já têm sua indicação bem estabelecida e em crescimento. Descritores: Insuficiência cardíaca, Tratamento farmacológico, Tratamento não farmacológico, Sacubitril valsartana sódica hidratada. 90 Abstract Since the proven benefits of angiotensin converting enzyme (ACE) inhibitors, beta-blockers, and aldosterone antagonist in the 1980s and 1990s, and the proposal of ivabradine in 2010, no other molecule has proven effective in the treatment of heart failure (HF). Recently, iron replacement has been added to the pharmacological treatment in cases of iron deficiency. But the great hope rests on neprilysin inhibitor and AT1 angiotensin receptors (sacubitril valsartan sodium hydrate), for which the published results are promising: a 20% reduction in primary combined endpoint (cardiovascular death/hospitalization for HF), a 20% reduction in cardiovascular death; a 21% reduction in hospitalizations; a 16% reduction in deaths from any cause; a 30% reduction in emergency room visits for HF; a 23% reduction in multiple hospitalizations for HF; a 18% reduction in length of stay in intensive care units; a 31% reduction in the use of vasoactive drugs; improved quality of life as measured by the KCCQ; and a reduction in NT-proBNP levels. In terms of non-pharmacological approach, the most recent strategies involve sympathetic modulation devices which, although promising, still need further evaluation. Pacemakers and ventricular assistant devices have well-established indications, and their use is increasing. Descriptors: Chronic heart failure, Pharmacological treatment, Non-pharmacological treatment, Sacubitril valsartan sodium hydrate. Introdução A insuficiência cardíaca (IC) crônica tem como característica fundamental a alta mortalidade e morbidade. Apesar dos grandes avanços no tratamento desta síndrome, com o uso dos inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA)1,2 ou dos bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA)3,4, dos beta-bloqueadores5,6 e dos bloqueadores de mineralocorticoides7, ainda assim o número de reinternações, a perda de qualidade de vida e principalmente a mortalidade, se mantém muito elevada. Vale ressaltar que essas Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 90-3 IMPACTO DOS NOVOS ESTUDOS CLÍNICOS NO TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA classes de fármacos tiveram seu benefício comprovado nas décadas de 1980 e 1990. Desde então, do ponto de vista farmacológico, pouco se progrediu no atendimento dessa população de pacientes que cresce a cada ano8. Com exceção da ivabradina, que em 2010 teve seus benefícios comprovados em estudo clínico randomizado9 , nenhuma outra molécula se mostrou eficaz. Por outro lado, estudos com dispositivos de estimulação (ressincronizadores/CDI) e dispositivos de assistência circulatória expandiram sua indicação e melhoraram sua eficiência. Portanto, a expectativa por novas intervenções farmacológicas que tenham um impacto contundente na história natural da insuficiência cardíaca se justifica. Assim, discutiremos modalidades terapêuticas não farmacológicas e farmacológicas que estão em investigação e outras que demonstraram seu benefício no tratamento da insuficiência cardíaca crônica. Não farmacológicos Duas modalidades invasivas vêm sendo muito investigadas para o tratamento da IC crônica: a abordagem mecânica e a modulação do sistema nervoso autônomo (SNA). A primeira foca a melhoria hemodinâmica e/ou morfológica e da função cardíaca, enquanto a segunda utiliza dispositivos na tentativa de reequilibrar o SNA que tem seu tônus simpático aumentado na vigência de IC. A utilização dos dispositivos de assistência circulatória, como terapia de destino no universo da IC crônica, está cada vez mais sendo indicada apesar de ainda não ser uma realidade absoluta em nosso meio, com exceção de poucos centros no Brasil. Além, claro, dos dispositivos de estimulação cardíaca (ressincronização/CDI). Recentemente, uma opção de tratamento invasivo avaliada, principalmente nos casos de inviabilidade miocárdica apical ou aneurisma, é a restauração ventricular percutânea com o dispositivo de divisão do ventrículo esquerdo PARACHUTE. Este consiste num dispositivo expansível com armação feita de nitinol e a malha de politetrafluoroetileno, que isola o ápice ventricular esquerdo, sendo implantado de maneira percutânea através da válvula aórtica. O primeiro estudo a testá-lo foi prospectivo, não randomizado, multicêntrico, com 39 pacientes10. O objetivo primário foi segurança do implante, bem como complicações relacionadas nos primeiros seis meses. Os objetivos secundários foram mudanças em parâmetros hemodinâmicos e funcionais. Os critérios de inclusão foram infarto anterior com acinesia antero-apical, fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FE) ≤40%, classe funcional II a IV (NYHA) e tratamento otimizado por pelo menos três meses antes do recrutamento. O dispositivo foi colocado em 34 pacientes (87%), tendo sucesso em 91% destes, ocorrendo três complicações do implante. Em seis meses, dois pacientes pioraram da IC, dois morreram de causas não relacionadas ao dispositivo e um paciente foi transplantado. Hemodinamicamente, apesar de reduções significativas nos índices de volumes finais sistólicos e diastólicos, a FE e o índice de volume sistólico ejetado permaneceu inalterado. No entanto, houve diminuição significativa na classe funcional, além de tendência para a melhoria na medida de qualidade de vida e teste de caminhada de seis minutos. O valor clínico deste dispositivo será melhor Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 90-3 definido pelo estudo PARACHUTE IV11 (PercutAneous Ventricular RestorAtion in Chronic Heart failUrePaTiEnts) que planeja recrutar 478 pacientes em 65 centros nos Estados Unidos e está em andamento. Dentre as modalidades de modulação autonômica destacam-se: sensibilização baroreflexa, estimulação vagal e estimulação da medula espinhal (EME), além da denervação simpática renal (DSR) e denervação simpática cardíaca (simpatectomia). Atualmente, diversos estudos estão em andamento para examinar o papel da terapia de ativação dos baroreceptores em pacientes com IC12. A estimulação vagal segue um racional através de estímulos elétricos diretamente no nervo vago tentando corrigir o desequilíbrio autonômico pelo aumento do tônus parassimpático vagal. Esta intervenção ativa fibras aferentes que causam uma diminuição reflexa da atividade simpática eferente. O estudo NECTAR-HF13 (NEural Cardiac TherApy foR Heart Failure ) foi o primeiro ensaio randomizado, controlado desenhado para avaliar a segurança e eficácia da estimulação nervosa vagal do lado direito. Incluiu pacientes com IC crônica, em classe funcional (NYHA) II e III e com fração de ejeção <35%. Em todos os pacientes foram implantados o dispositivo de estimulação vagal e randomizados 2:1 ao tratamento ativo (ligado) ou tratamento sham (desligado) para os primeiros seis meses, evoluindo todos os pacientes para o tratamento ativo após esse primeiro período. O objetivo primário foi avaliação da variação do diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo, e os secundários foram a capacidade ao exercício, níveis de NT-proBNP e outras variáveis ecocardiográficas. Não houve diferença significativa entre os grupos exceto pela melhora na qualidade de vida. O estudo ANTHEM-HF14 (Autonomic Neural Regulation Therapy to Enhance Myocardial Function in Heart Failure ) foi um estudo de fase II com 60 pacientes portadores de IC crônica em classe II e III (NYHA) e com FE ≤40%. Os pacientes foram randomizados para estimulação vagal cervical esquerda ou direita. O objetivo primário foi mudança do volume sistólico final do VE e da FE em 6 meses. O estudo mostrou melhora significativa (média de 4,5%) da fração de ejeção ventricular esquerda, sem diferenças estatisticamente significativas entre lado esquerdo e direito. Houve melhora média de 56 metros no teste de caminhada de 6 minutos, entretanto, essa melhora foi significativamente menor com estímulo à direita (média de 34 x 77 metros). Também houve melhora na qualidade de vida sem diferença significativa entre os lados. Não houve melhora significativa no volume sistólico final do VE. O estudo INOVATE-HF15 (INcrease Of Vagal TonE in Heart Failure) esta em andamento e planeja avaliar 650 pacientes com classe III (NYHA) e FE <40%. Os pacientes serão randomizados com uma proporção de 3:2 para o implante de dispositivo de estimulação vagal ou o tratamento clínico otimizado. O principal objetivo será avaliar a combinação de todas as causas de mortalidade ou hospitalização por IC. Portanto, vemos que exceto pelos dispositivos de assistência circulatória de longa duração que já possuem lugar estabelecido e em ampliação na IC crônica, apesar de ainda pouco disponível, outros tratamentos invasivos mesmo que promissores, ainda carecem de melhor avaliação. 91 Ramires FJA et al. Farmacológico 92 A deficiência de ferro é uma co-morbidade comum na insuficiência cardíaca com impacto negativo nos desfechos clínicos16. A reposição de ferro tem sido proposta e avaliada no estudo CONFIRM-HF (Ferric CarboxymaltOse evaluatioN on perFormance in patients with IRon deficiency in coMbination with chronic Heart Failure)17 um estudo duplo-cego, controlado por placebo, que envolveu 304 pacientes estáveis com insuficiência cardíaca. Todos tinham deficiência de ferro, definido como um nível de ferritina sérica inferior a 100 ng/ ml, ou entre 100 e 300 ng/ml se a saturação de transferrina fosse inferior a 20%. Os indivíduos foram randomizados para receber ferro intravenoso (n=152, carboximaltose férrico), ou placebo (n=152, solução salina normal) durante 52 semanas. No braço ativo, a dose total média foi de 1500 mg de ferro durante o período do estudo de um ano (variando 500-3500 mg de ferro). Mais de 75% dos pacientes necessitaram no máximo duas injeções para corrigir e manter os níveis de ferro. O estudo demonstrou melhora na qualidade de vida, na classe funcional e no teste de caminhada de 6 minutos, além de sugerir uma associação à redução de internação por insuficiência cardíaca. Entretanto, do ponto de vista farmacológico, a grande expectativa atual foi criada pelo maior estudo já feito com pacientes com insuficiência cardíaca crônica. O estudo PARADIGM-HF18 (Prospective comparison of Angiotensin Receptor neprilysin inhibitors with Angiotensin converting enzyme inhibitors to Determine Impact on Global Mortality and morbidity in Heart Failure) randomizou 8442 pacientes em 47 países avaliando uma nova classe de fármacos, o inibidor da Nepresilina e de Receptores AT1 da angiotensina (sacubitril valsartana sódica hidratada). Esta nova molécula foi comparada ao tratamento mais atual e recomendado para IC, o enalapril o qual é o representante dos IECA mais estudado em IC crônica. Este estudo incluiu pacientes com FE<40%, IC classe funcional (NYHA) II-IV e com BNP/NT-proBNP elevados. O racional da nova molécula é um reequilíbrio do eixo neuro-humoral. Promove um bloqueio dos receptores AT1 da angiotensina, peptídeo este que promove uma complexa cascata de eventos culminando com vasoconstricção + fibrose miocárdica + ativação simpática, sendo este bloqueio efetivado por uma parte da molécula ocupada pela valsartana. Por outro lado, o novo fármaco estimula a elevação dos Peptídeos Natriuréticos Cerebrais (BNP), peptídeo este que estimula a vasodilatação + reduz fibrose miocárdica + reduz tônus simpático, portanto, reequilibrando todo o sistema. Essa ele- vação do BNP se dá pela outra parte da mesma molécula, o sacubitril, o qual inibe a nepresilina que degrada o BNP. Este estudo teve como desfecho primário a morte cardiovascular e hospitalização por IC combinados. Foi interrompido antes do tempo previsto, visto o benefício no objetivo primário e na mortalidade cardiovascular com o sacubitril valsartana sódica hidratada em comparação com o grupo enalapril. Tal benefício foi muito significante e observado em visita interina pré-programada pela comissão independente de segurança do estudo. Houve redução de 20% no desfecho combinado primário (morte cardiovascular/hospitalização por IC), 20% de redução de morte cardiovascular, 21% redução de hospitalizações, 16% de redução de morte por qualquer causa, 30% redução de visitas à emergência por IC, 23% de redução em múltiplas hospitalizações por IC, 18% de redução do tempo de permanência nas unidades de terapia intensiva, 31% menos uso de drogas vasoativas, melhora da qualidade de vida medida pelo KCCQ e redução dos níveis de NT-proBNP19. Todos esses desfechos secundários e subanálises com significância estatística. As principais variáveis de segurança do novo fármaco, tais como função renal, hiperpotassemia e angioedema revelaram, em algumas variáveis, resultados favoráveis ao sacubitril valsartana sódica hidratada em comparação ao enalapril e em outras sem diferenças. A hipotensão foi mais frequente no grupo do novo fármaco, mas não promoveu maior suspensão da droga estudada. Portanto, após a publicação desses resultados tão contundentes, e principalmente pela comparação ao que hoje é nível de recomendação IA em todas as diretrizes de IC no mundo, qual seja um IECA (enalapril), o impacto se mostrou muito positivo. Também, foi gerador de grande expectativa para o início do uso da nova classe no mundo real, esperando encontrar os mesmos resultados alcançados no estudo. Tal feito levaria á uma possível mudança de estratégia terapêutica nesta população de pacientes que aguarda há tempos um novo tratamento que de fato pode mudar a história natural da IC. Sempre mantendo em foco a manutenção do sucesso já alcançado com as outras classes descritas (beta-bloqueadores e bloqueadores de mineralocorticoides), exceto com a possível substituição dos IECA/BRA nas recomendações. Conflitos de interesse O autor Felix José Alvarez Ramires declara ser Coordenador Nacional do Estudo PARADIGM. REFERÊNCIAS 1. The Consensus Trial Study Group. 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Correspondência: Avenida Dr. Dante Pazzanese, 500, Vila Mariana, São Paulo - SP, 04012-909 [email protected] Pacientes admitidos com insuficiência cardíaca aguda descompensada (ICAD) devido a sua alta morbi-mortalidade demandam, medidas urgentes de alta complexidade e custo elevado. Por outro lado não identificamos nas últimas décadas medicações com comprovado benefício na reversão de quadros de falência ventricular aguda. Na busca por outras opções terapêuticas foram incorporados avanços tecnológicos nos dispositivos de assistência circulatória, que proporcionaram aos cardiologistas, intervencionistas e cirurgiões, a possibilidade de oferecer assistência circulatória de qualidade, aos pacientes admitidos com ICAD. Tanto como terapia de destino como ponte para o transplante cardíaco (TXC), os dispositivos podem hoje ser implantados cirurgicamente com abordagem clássica, por técnicas minimamente invasivas assim como percutaneamente. Novas bombas centrifugas e ventrículos artificiais não só tem se mostrado efetivos como tem inspirado projetos nacionais desenvolvidos em instituições como o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia em cooperação com a Escola Politécnica da USP. Descritores: Insuficiência cardíaca; Biomarcadores; Choque cardiogênico. ABSTRACT 94 Patients admitted with acute decompensated heart failure (ADHF) require urgent measures of high complexity and high cost, due to the high morbidity and mortality of the disease. On the other hand, we have not identified any medications, in recent decades, with proven benefit in reversing acute heart failure. In the search for other therapeutic options, technological advances have been incorporated into circulatory assist devices, which have enabled cardiologists, interventionists and surgeons to provide high-quality circulatory support for patients with ADHF. Whether as destination therapy or as a bridge to heart transplantation (HT), the devices can now be surgically implanted using the traditional approach, with minimally invasive techniques, or percutaneously. New centrifugal pumps and artificial ventricles have not only proven effective; they have inspired national projects developed in institutions like the Dante Pazzanese Institute of Cardiology, in cooperation with the Polytechnic School of the University of São Paulo. Descriptors: Heart failure; Biomarkers; Shock, cardiogenic. INTRODUÇÃO O tratamento da insuficiência cardíaca aguda descompensada (ICAD), ainda representa um desafio para o cardiologista, medicações que pareciam representar alternativas ao tratamento clássico como inotrópicos, não se mostraram tão efetivas na prática clínica. O envelhecimento populacional e a persistência das doenças do aparelho circulatório como principais causas de morte no mundo também são fatores relevantes nesse contexto1-4. Por outro lado, os dispositivos de assistência circulatória implantáveis passaram por um substancial aprimoramento tecnológico, e o transplante cardíaco (TXC) tem sido realizado com maior frequência e com menor incidência de complicações, ambos com benefícios comprovados na prática clínica5. Estudos sobre a história natural da insuficiência cardíaca (IC) demonstraram que pacientes que sofrem descompensação aguda tem maior probabilidade de morte e taxas de nova hospitalização superiores aos portadores de IC crônica. A ICAD afeta predominantemente pacientes mais idosos, pois se sabe que apenas 1% da população tem diagnóstico de IC antes de completar a quinta década, ao passo que depois 80 anos esse porcentual pode chegar a 10%4-6. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 94-9 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA: O QUE HÁ DE NOVO? Depois que o paciente se torna sintomático, a mortalidade aos dois anos é de cerca de 40% e pode chegar a 80% nos homens e 65% em mulheres nos seis anos seguintes. Após o primeiro episódio de edema agudo de pulmão, apenas 50% irão sobreviver ao final de um ano, e cerca de 80% dos pacientes com choque cardiogênico evoluem para óbito em uma semana6. Além disso, os pacientes que sobrevivem a essas complicações têm elevadas taxas de readmissão por causa cardiovascular aos 60 dias7-10. A piora da IC durante a internação também é um importante preditor de mortalidade e da necessidade do emprego de assistência circulatória mecânica10. DEFINIÇÃO A ICAD pode ser definida como uma síndrome caracterizada pela mudança rapidamente progressiva dos sintomas e sinais de IC demandando nova e urgente mudança na abordagem terapêutica, seja ela farmacológica, intervencionista ou cirúrgica. A ICAD pode ser causada por exacerbação de condição pré-existente ou por uma nova enfermidade11. AVALIAÇÃO CLÍNICA NA ADMISSÃO DO PACIENTE COM ICAD O diagnóstico precoce e preciso da ICAD tem implicações significativas no prognóstico dos pacientes admitidos com essa síndrome. O emprego dos critérios de Boston, e do escore ADHERE, que pode ser associado a outros escores de risco de mortalidade intra-hospitalar, como o OPTIMIZE e o GWTG-HF, constam das recomendações (classe I nível de evidencia A) da maioria das Diretrizes atuais de ICAD12. Diagnóstico laboratorial Os marcadores empregados no diagnóstico da ICAD, são o peptídeo natriurético, BNP ou o NT-proBNP amplamente utilizados na rotina da maioria dos serviços de emergência cardiológica. Na maioria dos estudos a precisão diagnóstica do BNP, usando um valor de corte de 100 pg/ ml foi de 83%, e o valor preditivo negativo foi de 90% para BNP < 50 pg/ml. Além disso, foi tão preciso em pacientes com déficit da função ventricular baixa quanto naqueles com fração de ejeção preservada. Os benefícios do emprego do NT-proBNP no diagnóstico de IC foram comprovados no estudo PRIDE. O nível de NT-proBNP aumenta com a idade, sendo o ponto de corte de 450 pg/ml para pacientes com menos de 50 anos de idade e de 900 pg/ml para os demais12. As troponinas, podem ser úteis nos casos de disfunção ventricular de origem isquêmica. Aproximadamente 14% dos pacientes atendidos por ICAD tem diagnóstico de infarto do miocárdio (IAM) e a elevação da troponina tem relação com pior prognóstico em curto prazo. No registro ADHERE elevações dos níveis séricos da troponina T e I (>0,01 mg/dL) foram preditores independentes de pior prognóstico intra-hospitalar e também após a alta. Novos biomarcadores de lesão miocárdica que se elevam quando ocorre lesão miocárdica, ativação neuro-hormonal, e remodelamento ventricular estão se mostrando promissores melhorando o diagnóstico e prognóstico em pacientes com ICAD. Estes incluem o peptídeo natriurético pró-atrial, ST2 Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 94-9 solúvel, a galectina-3 e a pró-adrenomedullina. Também tem sido empregados biomarcadores tais como a procalcitonina, e outros que predizem complicações da ICAD, como os marcadores de lesão renal13. OBJETIVOS DO TRATAMENTO DA ICAD Na fase precoce: diminuir sinais e sintomas de congestão em 6h, adequar oxigenação (SatO2 > 90%), manter diurese adequada: > 0,5 mL/Kg/h, evitar hipotensão (PAS < 90 mmHg), e reverter o distúrbio hemodinâmico. Também são alvos do tratamento da ICAD, a redução do BNP, das troponinas e da PCR, como também a correção dos distúrbios eletrolíticos, e a manutenção da função renal. Reduzir o tempo de internação e na fase tardia reduzir o tempo, prevenir a re-hospitalização e diminuir a mortalidade também são metas a serem atingidas12. A figura 1 contém o fluxograma com as recomendações da Diretriz Brasileira de IC aguda, para abordagem inicial dos pacientes com ICAD. No registro espanhol RICA, com 2.190 hospitalizações por ICAD, os pacientes com um episódio novo de IC foram comparados com os crônicos-descompensados, sendo também avaliados os grupos com fração de ejeção de ventrículo esquerdo(FEVE) preservada (FE> 50%) versus FEVE reduzida. Ao final de 90 dias foram analisados os fatores associados à mortalidade. Um total de 683 (31,2%) pacientes preenchem os critérios para IC nova, eram pacientes mais idosos, com etiologia mais frequentemente relacionada com a hipertensão, valores de pressão arterial e frequência cardíaca mais elevados na admissão, e com valores do peptídeo natriurético inferiores. Depois de três meses; 33 (5,2%) dos pacientes com IC de início recente foram a óbito (p <0,001). A análise multivariada mostrou uma correlação entre mortalidade e idade mais avançada (HR - 1,08) e menor prescrição de betabloqueadores na alta (HR 0,34). A FEVE não estava relacionada com a mortalidade. Pacientes com IC de início recente apresentaram um quadro clínico diferente dos pacientes crônicos-descompensados. Para este subgrupo de pacientes com IC aguda a idade avançada, maior comorbidade e não prescrição de beta-bloqueadores foram fatores preditivos de maior risco de mortalidade pós-alta14. A figura 2 contém o fluxograma recomendado pela Diretriz Brasileira de IC aguda, para o tratamento dos pacientes com ICAD. TRATAMENTO DA IC AGUDA DESCOMPENSADA O transplante cardíaco no Brasil tomou impulso substancial em meados dos anos 80 com a introdução da ciclosporina nos protocolos de imunossupressão. Os resultados obtidos em pacientes com cardiopatias diversas inclusive em chagásicos foram animadores9,10. Entretanto persiste a limitação da escassez de doadores, e ainda é elevada a mortalidade observada na fila de espera por um enxerto. Dados do Sistema Estadual de Transplantes do Estado de São Paulo mostram que a metade dos pacientes não sobrevive à espera de um doador, seja por piora da IC ou de outras complicações relacionadas a gravidade e complexidade dos pacientes15,16. Considerando-se a relevância e a gravidade da ICAD e 95 Pavanello R Anamnese / Exame Físico / RX tórax Critérios de Framingham / Boston - Dúvida diagnóstico IC confirmada BNP Bioimpedância Ecocardiograma US de tórax IC Sistólica x Diastólica ICA Nova Modelo de congestão IC Crônica agudizada Fator casual Eco / Rx de tórax / ECG / RM / CAT Causas de descompensação PAS na admissão Congestão 1 Fadiga Baixo débito Perfil Clínico - Hemodinâmico Quente - Congesto Quente - Seco Frio - Congesto Frio - Seco Eco - Hemodinâmico Bioimpedância US PAM / PVC / SG ADHERE Perfil hemodinâmico BNP / Tpl Avaliação da função renal - SCR Perfil de físico Alvos terapêuticos Figura 1. Fluxograma de abordagem inicial do paciente com ICAD. IC Aguda nova Congestão pulmonar c/ hipovolemia periférica 96 Fator causal + Fator desencadeante 85 - 140 mmHg > 140 mmHg Quente Congesto VNI Morf. NPS NTG Furos.? / + BB + IECA / BRA + Quente Congesto VNI NTG NPS Furos.+++ BB + IECA / BRA < 85 mmHg Quente Congesto Frio Congesto VN I Avaliar volemia NTG NPS Dobut. / Levosim. Furos.? / + BB susp. / reduzir 50% IECA BRA susp. VNI Avaliar volemia Dobutamina Furos.? / + BB reduzir 50% IECA / BRA susp. Frio Congesto VNI / TOT Avaliar volemia Dobutamina NE (PAS < 75 mmhg) BIA BB susp. IECA / BRA susp. Figura 2. Fluxograma da terapêutica da IC Aguda Nova. a relativa escassez de opções terapêuticas, o cardiologista pode ser levado a optar pelo emprego de técnicas de alta complexidade, alto custo e nem sempre com evidências robustas publicadas na literatura. A seguir comentaremos algumas dessas opções a fim de estimular o leitor a refletir sobre as mesmas, não como tratamento de rotina, mas sim para tê-las em mente em situações especiais, como por exemplo, nos casos de refratariedade à terapêutica convencional. ASSISTÊNCIA CIRCULATÓRIA E DISPOSITIVOS MECÂNICOS IMPLANTÁVEIS Os dispositivos de assistência circulatória mecânica Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 94-9 TRATAMENTO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA: O QUE HÁ DE NOVO? (DMAC) representam hoje importante opção terapêutica, no tratamento do choque cardiogênico e na manutenção do suporte circulatório na ICAD. São indicados como ponte para a posterior realização do TXC, como terapêutica de suporte no choque cardiogênico pós-infarto agudo do miocárdio e no pós-operatório de cirurgia cardíaca17,18. O número de pacientes submetidos a implante de dispositivos de assistência circulatória cresceu substancialmente nos últimos anos nos Estados Unidos. Stretch e cols. analisaram os resultados obtidos após o implante percutâneo no período de 2004-2012, observando aumento de 1.511% em comparação com um aumento de 101% em dispositivos não percutâneos. As taxas de mortalidade neste período baixaram de 41,1% em 2004 para 33,4% em 2011. Tendência semelhante foi observada para o subgrupo de pacientes com choque cardiogênico, passando de 51,6% para 43,1% ( p = 0,01)19-21. A elevada mortalidade secundária a falência ventricular, é a principal indicação para utilização de dispositivos de assistência circulatória mecânica, muitas vezes, a única chance de sobreviver durante a espera por um doador. Vários dispositivos têm sido empregados para servir como ponte para o TXC e os critérios de indicação da assistência circulatória mecânica estão bem estabelecidos, assim como seus benefícios22,23. Nos casos de indicação de assistência ventricular esquerda nos quais o paciente já tenha sido submetido a toracotomias prévias é possível implantar dispositivos com abordagem minimamente invasiva ou utilizando a robótica24. É também possível implantar dispositivos de assistência ventricular esquerda (DAVE) parcial ou auxiliar (micro-bomba), que podem ser usadas por longo prazo proporcionando um fluxo de até 4,25 L/min. Estes dispositivos também podem ser implantados com abordagem minimamente invasiva, sem toracotomia ou circulação extracorpórea. Quando implantados precocemente mostraram-se viáveis e associados a melhora significativa do perfil hemodinâmico e da qualidade de vida. No Registry for Mechanically Assisted Circulatory Support um total de 12 pacientes foram submetidos a esta técnica dos quais 11(92%) receberam alta hospitalar e estão atualmente vivos. O dispositivo foi eficaz em pacientes inotrópico-dependentes ou dependentes de balão intra-aórtico. Na avaliação tardia o diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo foi significativamente reduzido após três meses25. Outros DAVE tornaram-se uma importante ferramenta como ponte para o TXC. O HeartMate II por exemplo foi implantado em 23 pacientes consecutivos em classe funcional IV (NYHA) participantes do Registry for Mechanically Assisted Circulatory Support e não houve mortalidade durante os primeiros 30 dias de pós-operatório, a duração média de suporte foi de 522 dias (intervalo 47-1316 dias). A taxa de infecção foi baixa mesmo no clima tropical quente e úmido em Cingapura, podendo representar opção terapêutica aplicável em nosso meio26. No Registro Interagências para Suporte Circulatório Mecânico Assistido (INTERMACS), foram incluídos no Estados Unidos 7.404 pacientes sendo a estratégia de ponte para TXC e, a terapia de destino as principais indicações. Foi elevada a taxa de sobrevivência global em um ano27. Katz e cols avaliaram 276 pacientes com ICAD submetiRev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2): 94-9 dos a implante de assistência mecânica ventricular esquerda como ponte para o transplante ou terapia de destino em 27 centros. Foram analisadas as características clínicas, a mortalidade operatória, o tempo de hospitalização, as taxas de readmissão, os eventos adversos, a qualidade de vida e a sobrevida. A mortalidade global em 30 dias foi de 3%, e as taxas de sobrevida aos 6, 12 e 24 meses, respectivamente, foram de 92%, 88%, e 84% para a ponte para TXC e 81%, 70% e 64% para o grupo de terapia de destino, comparáveis com os resultados publicados pelo Registro INTERMACS. A mediana do tempo de internação para todos os pacientes foi de 21 dias, e o sangramento foi o evento adverso mais frequente. O acidente vascular cerebral ocorreu em 4% dos casos de ponte para TXC e 6% dos implantes como terapia de destino. Medidas de qualidade de vida e distâncias percorridas no teste de caminhada de 6 minutos mostraram melhoras sustentadas em todo o período de acompanhamento28. Foram destacadas abaixo alguns pontos relevantes do SCAI/ACC/HFSA/STS Clinical Expert Consensus Statement on the Use of Percutaneous Mechanical Circulatory Support Devices in Cardiovascular Care, com as indicações específicas para cada dispositivo29. 1. O implante percutâneo de DMAC fornece melhora hemodinâmica superior a terapia farmacológica. Isto é particularmente evidente para o Impella e Tandem-Heart. Estes dispositivos devem permanecer disponíveis e seu implante deve ser apropriadamente reembolsado. 2. Pacientes em choque cardiogênico representam grupo de alto risco , no qual a mortalidade tem permanecido elevada, apesar da revascularização e da terapia farmacológica. Implantes precoces de DMAC podem ser considerados em pacientes que não responderam a essas intervenções. 3. DMAC pode ser considerado para pacientes submetidos a intervenções coronárias percutâneas de alto risco, como aqueles que exigem múltiplos stents, nas lesões de tronco de coronária esquerda, naqueles não passíveis de indicação cirúrgica. 4. No choque cardiogênico o balão intra-aórtico (BIA) é menos eficaz do que as bombas de fluxo contínuo como a Impella e TandemHeart. ECMO pode proporcionar benefícios, particularmente para pacientes com déficit respiratório. 5. DMAC pode ser usado como um coadjuvante em procedimentos eletrofisiológicos de alto risco quando prolongados ou agravados por hipotensão arterial. 6. Na falência biventricular grave pode ser indicada a utilização de ambos DMAC percutânea direita e esquerda ou do tipo ECMO. 7. Análises iniciais sugerem custo-eficácia dos DMAC percutâneos para uso emergencial em comparação com ECMO ou ventrículo artificial implantado cirurgicamente, e para uso eletivo em comparação com o BIA. PROGNÓSTICO DA ICAD Diversos fatores podem ter impacto sobre o prognóstico dos pacientes com ICAD, a pressão arterial elevada na admissão, por exemplo, está associada a baixa mortalidade e menores taxas de readmissão. Os pacientes cuja patologia de base é a cardiopatia isquêmica tem o dobro da mortalidade após a alta se comparados aos portado- 97 Pavanello R 98 res de miocardiopatia idiopática dilatada. Pacientes com troponina plasmática elevada o dobro da mortalidade após a alta e o triplo de readmissões se comparados aos pacientes com troponina normal26. A hiponatremia que pode estar presente em até 25% dos casos de ICAD, eleva em duas a três vezes a mortalidade na fase hospitalar e após 60 dias, sendo considerada preditora independente de mau prognóstico30. Elevações do peptídio natriurético Tipo B estão associadas com maior mortalidade, novas internações, e as dosagens seriadas do BNP podem ser úteis no manuseio dos pacientes com ICAD. O estudo REDHOT, concluiu que níveis baixos de BNP durante a internação indicam melhor prognóstico28. Por outro lado níveis elevados de BNP pré-alta estão presentes em pacientes de alto risco de readmissão e de óbito. Outros fatores de mau prognósticos são a fração de ejeção do ventrículo esquerdo baixa, anemia, disfunção renal, diabetes e arritmias frequentes sustentadas31-32. Consideramos relevante a associação de disfunção renal em seus variados graus com o mau prognóstico dos pacientes com ICAD. Nesse subgrupo de pacientes o uso do BNP pode ser duvidoso exigindo níveis de corte mais elevados, ou o emprego de novos biomarcadores33. A ST2 que tem duas isoformas, uma trans-membrana e uma forma solúvel, é conhecida por ser um biomarcador em várias doenças cardiovasculares, incluindo a IC. A expressão de ST2 solúvel (SST2) é regulada por processo inflamatório, e não se sabia se o nível da SST2 poderia ser influenciado pela função renal. Estudo recente revelou que o SST2 foi um importante marcador de prognóstico em pacientes com IC crônica associada a insuficiência renal, mas existiam poucos dados sobre o papel da SST2 como um preditor de mau prognóstico em pacientes com ICAD. Min-Seok e colaboradores avaliando 66 pacientes admitidos com ICAD e insuficiência renal, demonstraram em análise multivariada, que a SST2 na alta, foi fator independente associado com morte e readmissão por IC, assim como nos três meses após a alta (IC 95%, P = 0,006). O estudo confirma a hipótese do benefício do uso deste novo biomarcador em pacientes com ICAD e insuficiência renal. A figura 3 mostra a especificidade e sensibilidade da SST2, em pacientes com ICAD associada a insuficiência renal34. demandando na maioria das vezes, medidas urgentes de alta complexidade e custo elevado. A despeito de recentemente terem sido divulgados os promissores resultados com o LCZ696, no estudo Paradigm HF, sua indicação está ainda restrita aos pacientes com IC crônica35. Embora com complicações imediatas e tardias menos frequentes que as observadas no início dos anos 90, os transplantes continuam limitados pela falta de doadores. Por outro lado os avanços tecnológicos, e a diversificação dos DMAC, proporcionaram aos cardiologistas, intervencionistas e cirurgiões, a possibilidade de oferecer assistência circulatória de qualidade, aos pacientes admitidos com ICAD. Tanto como terapia de destino como ponte para TXC. Os dispositivos podem hoje ser implantados cirurgicamente com abordagem clássica, por técnicas minimamente invasivas assim como percutaneamente. Em substituição ao BIA e ao ECMO o desempenho de novas bombas centrifugas e dos ventrículos artificiais não só tem se mostrado efetivo como tem inspirado projetos nacionais desenvolvidos em centros de pesquisa como o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, que em cooperação com a Escola Politécnica da USP, já concluiu a fase de testes do seu modelo de coração artificial auxiliar-CAA36,37. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conflitos de interesse Pacientes admitidos com ICAD requerem especial atenção do cardiologista devido a sua alta morbi-mortalidade Sensibilidade Sensibilidade 75% Especificidade 65% Especificidade Figura 3. Especificidade e sensibilidade da SST2, em pacientes com ICAD associada à insuficiência renal. Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS 1. Cleland JG, Gemmell I, Khand A, Boddy A. Is the prognosis of heart failure improving? Eur J Heart Fail.1999;1:229–41. 2. 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Nesta revisão vamos tratar das estratégias farmacológicas para evitar a SCR tipo 1, que é caracterizada pela piora abrupta da função cardíaca causando injúria renal. A disfunção renal é frequente nos pacientes com insuficiência cardíaca (IC) descompensada, chegando a 40% em alguns estudos. Os mecanismos responsáveis pela piora da função renal são múltiplos, dentre eles o baixo débito cardíaco, a congestão venosa, a hipovolemia, doença renal intrínseca e o uso de medicamentos. Os pacientes que apresentam IC e piora da função renal tem pior prognóstico e maior mortalidade. Inotrópicos, vasodilatadores, hidratação e diuréticos são importantes no manejo da IC descompensada e que podem prevenir ou reverter a piora da função renal quando utilizados corretamente. Descritores: Insuficiência cardíaca, Insuficiência renal, Diuréticos. 100 Abstract Cardiorenal syndrome (CRS) is the term used to link heart failure (HF) and renal failure (RF), and can be defined as an acute or chronic dysfunction of the heart or kidney, leading to secondary dysfunction in the other organ. This review addresses the pharmacological strategies for preventing type 1 CRS, which is characterized by an abrupt deterioration of heart function, causing renal injury. Renal dysfunction is common in patients with decompensated heart failure (HF), reaching as high as 40% in some studies. The mechanisms responsible for the deterioration of renal function are varied, and include low cardiac debit, venous congestion, hypovolemia, intrinsic kidney disease, and drug use. Patients who present HF and worsening of renal function have a worse prognosis and higher mortality. Inotropes, vasodilators, hydration and diuretics are important in the management of decompensated HF, and can prevent or revert deterioration of renal function when used correctly. Descriptors: Heart failure, Renal failure, Diuretics. Introdução A insuficiência renal (IR) é frequente na insuficiência cardíaca (IC) descompensada e sua presença está associada ao aumento da mortalidade1-3. A síndrome cardiorrenal (SCR) é o termo empregado para caracterizar a associação entre IC e IR, que pode ser definida como uma disfunção aguda ou crônica do coração ou do rim causando secundariamente disfunção aguda ou progressiva do outro órgão. A SCR pode ser classificada em cinco tipos,4 conforme a causa primária do distúrbio. Esta classificação enfatiza e esclarece a natureza bidirecional da síndrome. A SCR tipo 1 é caracterizada pela piora abrupta da função cardíaca (exemplo IC Aguda ou IC crônica descompensada) causando injúria renal aguda; a tipo 2 compreende a disfunção cardíaca crônica causando piora progressiva da função renal; a tipo 3 consiste na piora abrupta da função renal causando alteração cardíaca aguda como IC, arritmias e isquemia; a tipo 4 descreve a doença renal crônica contribuindo para a piora da função cardíaca e a tipo 5 reflete qualquer condição sistêmica que pode causar tanto IC quanto IR. Nesta revisão vamos tratar das estratégias farmacológicas para prevenir ou reverter a insuficiência renal em pacientes que internam com IC descompensada, ou seja, da SCR tipo 1. Os mecanismos que determinam a piora da função renal durante a IC descompensada são complexos. A piora da Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2):100-4 ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA PRESERVAÇÃO DE FUNÇÃO RENAL EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA função renal pode ser devido à baixa perfusão renal, baixo débito cardíaco, hipovolemia, congestão venosa, doença renal intrínseca ou causada pelas próprias drogas utilizadas no tratamento da IC, como Inibidores da ECA e bloqueadores dos receptores da angiotensina. Outros fatores associados com a disfunção renal são a vasoconstrição periférica e uso de contraste para obtenção de imagem diagnóstica 5-11. O Sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA), o Sistema Nervoso Simpático (SNS), a endotelina e o peptídeo natriurético contribuem inicialmente para o equilíbrio cardio-renal. Porém a ativação excessiva do SRAA e do SNS aumenta a resistência vascular periférica, causando um ciclo vicioso de piora progressiva das funções cardíaca e renal6. Dentre as possíveis explicações para a disfunção renal resultar em piora da evolução dos pacientes com IC estão: distúrbio hidroeletrolítico decorrente da insuficiência renal aguda, alterações no metabolismo das drogas prescritas, redução da resposta a estas medicações e necessidade de suspensão de medicamentos sabidamente benéficos. Krumholz demonstrou que a deterioração da função renal acarretou aumento da mortalidade em seis meses, com risco relativo de 1,5612. Ochiai ME et al. realizaram estudo em pacientes com IC sistólica e revelaram que a disfunção renal é preditora independente de pior prognóstico, com risco relativo de 1,04 para redução na depuração de creatinina para cada 1 ml/min durante acompanhamento de um ano13. A incidência da piora da função renal varia de acordo com o tipo de paciente estudado e do valor de corte definido para este desfecho. Em estudo que avaliou pacientes com IC descompensada, Weinfield et al, demonstraram que 21% dos pacientes evoluíram com piora da função renal, definida como aumento da creatinina acima de 25%14. Em outro estudo, que avaliou pacientes internados com IC descompensada, revelou-se uma incidência de piora da função renal (aumento da creatinina maior ou igual a 0,3 mg/dl) de 40% nos pacientes. Publicação de nosso grupo, no Instituto do Coração, revelou uma incidência de piora da função renal (aumento da creatinina > 0,3 mg/dl) em 26,39% dos pacientes internados15. Em estudo publicado por Heywood JT et al., onde foram estratificados os pacientes de acordo com os níveis de taxa de filtração glomerular, o risco de morte ao longo do acompanhamento foi diretamente proporcional a disfunção renal (Figura 1)16. Insuficiência Cardíaca Insuficiência Renal Risco de Morte Risco de morte de acordo com o grau de Insuficiência Renal 4,5 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 TFG>60 TFG 30 a 59 TFG<30ml/min Hoywood JT et al. J Cardiac Fail 2007:13:422-30 Figura 1. Risco de morte de acordo com a função renal. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2):100-4 Diuréticos A congestão venosa desempenha papel importante na piora da função renal em paciente com IC avançada. Em um estudo que acompanhou 145 pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca descompensada, os pesquisadores monitoraram a pressão venosa central (PVC) através do cateterismo da artéria pulmonar e observaram que a piora da função renal foi mais frequente em pacientes que apresentaram PVC elevada tanto na admissão quanto após tratamento. Por outro lado, a piora da função renal foi menos frequente entre os pacientes que apresentaram PVC ≤ 8 mmHg. Ou seja, a presença de congestão venosa é um importante fator responsável por disfunção renal. E os diuréticos são a terapia de escolha para controle da congestão17. O controle da hipervolemia na IC descompensada com o uso de diurético é essencial, entretanto o uso deste medicamento em excesso, pode acarretar piora da função renal. Dados do registro ADHERE18 que avaliou pacientes que internaram com IC descompensada e que utilizou furosemida intravenosa (iv), a população foi dividida em três grupos, de acordo com a dose de furosemida administrada: <80 mg, 81 a 160 mg e > 160 mg. Os pacientes foram estratificados quanto ao nível de creatinina basal (<1,2; 1,3 a 2,0; 2,1 a 3,0 e > 3,1 mg/dl de creatinina) para análise do desenvolvimento de piora da função renal, definida como um aumento da creatinina em mais que 0,5 mg/dl ou pela necessidade de diálise. A prescrição de mais de 160 mg de furosemida iv foi acompanhada de piora da função renal em 11% daqueles com creatinina <1,2 mg/dl, em 16,6% dos doentes com creatinina entre 1,3 e 2,0 mg/dl, em 21,5% dos pacientes com creatinina entre 2,1 e 3,0 mg/dl e em 30,8% daqueles com creatinina acima de 3,0 mg/dl. Os dados mostraram que, para cada elevação do valor basal de creatinina, houve uma piora da função renal diretamente relacionada com a dose de diurético empregada. Os diuréticos promovem melhora significativa na capacidade física e na qualidade de vida. Pacientes que persistem com sinais de congestão têm mais eventos no seguimento (morte ou rehospitalização por IC), enquanto os que ficam sem sinais de congestão têm melhor evolução. Estes achados mostram que o uso dos diuréticos não é deletério em pacientes com IC e congestão. Todas as evidências sugerem que o prognóstico é diretamente proporcional a dose de diurético necessária para manter o paciente compensado19-21. No estudo DOSE que testou o uso de altas doses de furosemida comparada com baixas doses para compensação, revelou que apesar da alteração transitória da função renal no grupo de altas doses, a mortalidade foi semelhante nos os dois grupos. Demonstrando uma segurança para utilização de doses mais elevadas22. O uso adequado dos diuréticos mantém quase a totalidade dos pacientes com IC assintomáticos ou pouco sintomáticos, com exceção daqueles com formas muito avançadas da doença. Nos pacientes que internam descompensados, a prescrição da dose ideal de diurético capaz de aliviar a congestão e não causar insuficiência renal é uma arte, porque fatores como o baixo débito cardíaco e a vasoconstricção intensa interferem neste ajuste19,20. Pesar todos os dias, medir a circunferência do tornozelo e a circunferência abdominal do paciente são formas seguras e simples de detectar precoce- 101 Cardoso JN 102 mente a retenção hídrica e controlá-la com ajuste da dose de diuréticos, evitando quadros congestivos mais intensos. A melhor evolução dos pacientes em tratamento nas clínicas de IC decorre também do melhor controle da congestão, obtido com o emprego de doses maiores de diuréticos, em relação aos pacientes sob tratamento usual23. Em estudo realizado em nosso serviço, com pacientes que internaram descompensados, utilizamos o peso para ajustar a dose da furosemida e não espoliar muito o doente, tendo como meta uma perda ponderal diária equivalente a -1,4% do peso/dia. Este esquema permitiu melhorar a congestão de forma mais rápida e eficaz, sem contudo causar piora da função renal quando comparado ao tratamento habitual15. Não há uma regra sobre a dose que deve ser administrada, porém nos pacientes com IC avançada a insuficiência renal reduz a eficiência dos medicamentos e doses mais elevadas podem ser necessárias para se obter o resultado desejado. Além disso, no paciente descompensado sempre devemos dar preferência ao uso do diurético endovenoso. Assim não teremos interferência na absorção do medicamento, que está prejudicada pela congestão sistêmica frequente nessa fase24. Devemos lembrar que os pacientes que usam diuréticos, sobretudo em altas doses, devem ser monitorados de perto com o intuito de prevenir depleção de volume, desequilíbrio eletrolítico e insuficiência renal. Diuréticos de alça e tiazídicos causam hiponatremia e também levam à perda de potássio e magnésio pela urina, podendo resultar em perda substancial desses elementos quando usados em associação, além de também causarem reações de pele, nefrite intersticial e hiperuricemia25. Devemos também lembrar, que a espironolactona pode causar hiperpotassemia, principalmente nos pacientes descompensados e que nestes casos devemos suspender seu uso transitoriamente para depois de estabilizado o nível de potássio, poder retornar com esse medicamento26 . Dopamina Giamouzis et al. no estudo DAD-HF27, publicado em 2010, compararam altas doses de furosemida à baixas doses desta, associada à dopamina, durante o tratamento da IC aguda. O objetivo era detectar uma possível diminuição na dose total de diurético utilizado, na incidência de piora da função renal e na indução de hipocalemia. Incluídos 60 pacientes admitidos por IC descompensada; alocados em dois grupos: trinta receberam altas doses de furosemida, em infusão contínua; os demais receberam baixas doses de furosemida associadas a doses de 5mcg/kg/min de dopamina, ministradas de forma contínua. Houve um aumento estatisticamente significativo na incidência de piora da função renal, determinada pelo aumento maior que 0,3 mg/dL de creatinina, nos pacientes submetidos à altas doses de furosemida. Neste grupo também foi relatada uma tendência à disfunção renal, quando o critério utilizado foi o decréscimo, superior a 20%, na TFG estimada; neste caso não houve significância estatística. A elevação dos níveis séricos de ureia e creatinina foi maior no grupo tratado com altas doses de furosemida, assim como a incidência de hipocalemia. A análise dos desfechos secundários revelou uma melhora clínica e da congestão volêmica semelhante entre os grupos. Entretanto, não é possível concluir que essa menor incidência de disfunção renal possa ser atribuída às baixas doses de dopamina, de furosemida ou à combinação das mesmas. Além disso, este foi um estudo com número reduzido de pacientes. Chen et al. no estudo ROSE, avaliaram o uso de baixas doses de dopamina e de neseritide, associadas, separadamente, ao tratamento com diuréticos de alça em pacientes com IC descompensada. O objetivo era a melhora da congestão volêmica com a preservação da função renal. Foram incluídos 360 pacientes, internados por descompensação aguda da IC. Como desfecho primário, analisaram a associação do volume urinário cumulativo e a variação da cistatina C, 72 horas após a randomização. Os pacientes foram randomizados em 3 grupos: 122 receberam baixas doses de dopamina; 119 baixas doses de neseritide e os 119 restantes, placebo. A dose de dopamina infundida foi de 2 mcg/kg/min. Comparando-se o grupo que recebeu dopamina ao que recebeu placebo, não houve diferença estatisticamente significativa tanto no volume urinário cumulativo, quanto na variação da cistatina C. Portanto, neste estudo, não há evidências que corroborem o uso da dopamina como medicação nefroprotetora28. Concluindo, a dopamina, em baixas doses, promove vasodilatação seletiva do leito renal; contribui com aumento da diurese e natriurese. No entanto, grandes estudos controlados não demonstraram benefício da dopamina na preservação da função renal. Há de se considerar, também, os efeitos adversos da dopamina, como os efeitos pró-arrítmicos. Inotrópicos Considerando que o baixo débito cardíaco apresenta papel relevante na disfunção renal durante a descompensação cardíaca, o uso do inotrópico é importante no manejo desta situação. Sendo assim, os inotrópicos podem ser uma arma terapêutica importante nos pacientes com baixo débito cardíaco e piora de função renal. Temos disponíveis a dobutamina, o milrinone e a levosimendana29-31. A dobutamina é o inotrópico mais utilizado na IC descompensada. Entre suas vantagens estão o baixo custo, a comodidade posológica e o aumento eficaz do débito cardíaco dose dependente. A dobutamina produz melhora hemodinâmica com aumento do débito cardíaco dose- dependente e tem posologia cômoda, com doses facilmente ajustáveis que não causam hipotensão. Deve se reservada para pacientes com IC agudamente descompensada com hipotensão ou choque cardiogênico. Este fármaco atua estimulando os receptores adrenérgicos beta 1 e beta 2, promovendo aumento da adenil-ciclase e em sequência aumento da concentração de cálcio intracelular. A infusão de dobutamina é iniciada com 2 a 3 ug/Kg/min e o aumento da dose é titulado de acordo com a resposta hemodinâmica dos pacientes (em geral inferior a 20 ug/Kg/min). Não há necessidade de ajuste para pacientes com disfunção renal. O milrinone é um inodilatador, que tem como mecanismo de ação a inibição da fosfodiesterase que aumenta a contratilidade cardíaca e produz dilatação arterial e venosa por intermédio do aumento das concentrações intracelulares de AMP cíclico e, consequentemente, de cálcio. Ele promove o aumento do débito cardíaco e queda da resistência vascular pulmonar e sistêmica, sem aumentar o consumo miocárdico de oxigênio. Há necessidade de correção da dose em caso de disfunção renal30. A levosimendana melhora o Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2):100-4 ESTRATÉGIAS FARMACOLÓGICAS PARA PRESERVAÇÃO DE FUNÇÃO RENAL EM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA AGUDA DESCOMPENSADA débito cardíaco devido à sensibilização dos canais de cálcio. Também é um inodilatador e não deve ser utilizada quando o clearance de creatinina for menor que 30 ml/min31. Dentre os três inotrópicos, a dobutamina é a que tem o melhor perfil e mais fácil manejo para pacientes mais graves e com função renal mais deteriorada. Vasodilatadores O uso de medicamentos necessários para o tratamento da doença, pode causar piora da função dos rins, entretanto a maioria dos pacientes com IC tolera uma disfunção renal leve a moderada. Os Inibidores da Enzima Conversora de Angiotensina (IECA) e de Bloqueadores do Receptor da Angiotensina (BRA) podem inicialmente causar piora da função renal pela vasodilatação da arteríola eferente, pela redução da pressão intraglomerular e com consequente diminuição da TFG. Entretanto, em longo prazo esse mecanismo preserva a função renal, pois impede a hiperfiltração glomerular8-10. Apesar do uso dos Inibidores da ECA (IECA) serem causa de piora da função renal, devemos evitar suspender essa classe de medicamentos pelos benefícios que eles trazem para o paciente. Entretanto, se creatinina aumentar acima de 3 mg/dl ou em casos de hiperpotassemia, pode ser difícil manter os IECA e nesses casos devemos substituir por hidralazina e nitrato32. Um fator que devemos também levar em consideração para suspender o IECA ou BRA é a rapidez na elevação da creatinina e avaliar a relação da creatinina atual com a creatinina basal. Além de sempre observar o nível de potássio sérico. Nos casos que optamos trocar por hidralazina e nitrato, devemos após estabilização do quadro cardiológico e renal avaliar o possível retorno para os IECA ou BRA. Inibidores da vasopressina Algumas estratégias não demostraram impacto na melhora da evolução renal em pacientes com insuficiência cardíaca. Um desses medicamentos testados foram os inibidores da vasopressina, como o tolvaptan e conivaptan, que aumentam significativamente a produção de urina diluída. Estudos onde foram comparados o tolvaptan com placebo, revelaram uma perda ponderal, aumento do volume e diminuição da osmolaridade urinária significativos no grupo tolvaptan, além de aumentar o sódio sérico de maneira significativa no início do tratamento com a droga ativa. Entretanto, esses estudos não demonstraram diferença significativa função renal, concentração de potássio, mortalidade e re-hospitalização quando comparados ao placebo33-36. Hidratação Na admissão do paciente portador de ICD é essencial classificá-lo quanto ao perfil clínico-hemodinâmico para instituição de medidas adequadas. Podemos utilizar a classificação proposta por Stevenson LW, que é baseada em dois parâmetros clínicos: congestão (estase de jugular, estertores pulmonares, edema de sacro/membros inferiores ou hepatomegalia) e perfusão (pressão arterial sistólica menor que 90 mmHg sintomático, má perfusão de extremidades, alteração nível de consciência ou insuficiência pré–renal). A presença de congestão é denominada de padrão úmido e a ausência de seco. Quanto a perfusão denominamos quente se bem perfundido e frio se mal perfundido. Seguindo esses critérios podemos encontrar quatro perfis clínico-hemodinâmicos diferentes: perfil A (quente e seco), perfil B (quente e congesto), perfil L (frio e seco) e perfil C (frio e congesto). Esta classificação permite orientar o tratamento do paciente descompensado. Os pacientes do grupo L, não apresentam congestão e podem apresentar piora da função renal devido a hipovolemia. Nesses pacientes o tratamento deve ser inicialmente a hidratação. Apenas nos casos em que a hidratação não seja suficiente para corrigir o baixo débito, vasodilatadores e inotrópicos poderão ser necessários37,38. Considerações finais Devemos avaliar constantemente a evolução da função renal no paciente com IC descompensada, pois é frequente e também um preditor de mau prognóstico. O diagnóstico e a prevenção da disfunção renal, com o ajuste do tratamento, melhoram a compensação cardíaca e o prognóstico. Utilizar a classificação clínico-hemodinâmica e ajustar os diuréticos, inotrópicos, vasodilatadores e a volemia são importantes para a boa evolução da função renal e cardíaca. Conflitos de interesse Os autores declaram não possuir conflitos de interesse na realização deste trabalho. Referências 1. Abraham WT, Fonarow GC, Albert NM, et al. 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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2015;25(2):100-4 ESTEJA PREPARADO PARA SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA Participe dos cursos do Centro de Treinamento Com objetivo de treinar profissionais da saúde e a população leiga para reconhecer e lidar com situações de emergência cardíaca, os treinamentos ministrados pelo centro utilizam equipamentos e salas modernas, o que garante o máximo realismo à situação simulada. Os instrutores são altamente capacidados e credenciados, de acordo com as regras e especificações da American Heart Association (AHA). Conheça mais sobre os cursos e inscreva-se! 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