Nave-Leal, E., Pais-Ribeiro, J. (2008). Estudo de validação da versão portuguesa do Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire. In: I.Leal, J.Pais-Ribeiro, I. Silva & S.Marques (Edts.). Actas do 7º congresso nacional de psicologia da saúde (pp.191194). Lisboa: ISPA Estudo de validação da versão portuguesa do Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire Elisabete Nave-Leal (1, 2), José Pais-Ribeiro (2) 1- Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa; 2- Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, Universidade do Porto A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome progressiva com alta incidência e prevalência e prognóstico adverso. A mortalidade aos cinco anos ronda os 75%, sendo de 50% para as neoplasias malignas (Carvalho, Sarmento & Fonseca, 2000). Com o envelhecimento e a prevenção da morte súbita por doença coronária, muitos pacientes desenvolverão cardiomiopatia, que dado a sua sintomatologia com cansaço e dispneia, consciência da sua mortalidade que pode conduzir a depressão e ansiedade e efeitos da terapêutica com frequente hospitalização prolongada conduz a isolamento social, com repercussões evidentes na qualidade de vida. O uso generalizado de instrumentos que medem a qualidade de vida na IC reflecte a importância que este conceito adquiriu em contexto clínico. É uma medida de alto valor prognóstico com poder preditivo quanto ao reinternamento e mortalidade (Alla et al., 2002; Rodriguez-Artalejo et al., 2005), sendo vasto o seu uso como indicador de resultados na intervenção em doentes com IC (Cleland et al., 2005; Grady et al, 2005). A oferta de instrumentos de qualidade de vida é esmagadora de entre medidas genéricas e específicas. No campo das medidas específicas, procedemos á tradução e validação para a população portuguesa da escala de qualidade de vida “Kansas City Cardiomyophaty Questionnaire” (KCCQ) desenvolvido por Green, Porter, Bresnahan & Spertus (2000). MÉTODO A escala de qualidade de vida do KCCQ foi submetida a um processo de tradução, revisão da tradução, discussão da validade de conteúdo e validade conceptual, verificação da complexidade da questão e da adequação cultural, “cognitive debriefing” com a população alvo, revisão geral do questionário, nomeadamente a aparência final. Participantes Participaram 130 sujeitos com diagnóstico de insuficiência cardíaca internados no hospital de Santa Marta, nos serviços de cardiologia, cirurgia cardiotorácica e medicina interna, que constituíram uma amostra de conveniência com idade M=65,67, variando entre os 21 e os 88 anos, com escolaridade M=5,09, variando entra a ausência de escolaridade e os 17 anos de escolaridade, 70% do sexo masculino, a maioria com má função do ventrículo esquerdo (80%). Material Segundo proposta dos autores, no acto da aplicação a escala do KCCQ deverá designarse por questionário de estado de saúde de cardiomiopatias. A versão portuguesa resultou numa versão semelhante à versão original com 23 itens distribuídos por 5 domínios: limitação física, sintomas, qualidade de vida, limitação social e autoeficácia. Aos sujeitos é pedido que responda ás 16 questões utilizando para o efeito escalas de Likert. Procedimento Após a construção da versão portuguesa da escala, como descrito antes, ela foi passada á população para a qual se destina, tendo sido seguidos todos os procedimentos éticos de acordo com as normas vigentes no hospital. No tratamento estatístico seguimos os passos dados pelos autores, comparando os resultados com os seus. A análise estatística recorreu ao SPSS (versão 15). RESULTADOS Consistência interna Esta versão passou por uma validação estatística semelhante à americana com a avaliação da consistência interna dos domínios e de dois somatórios: o estado funcional (junção dos domínios limitação física e sintomas) e sumário clínico (junção do somatório estado funcional e dos domínios qualidade de vida e limitação social), apresentando valores Alpha de Cronbach idênticos nos vários domínios e somatórios (α=0,63 a α=0,95), com excepção da limitação social onde obtivemos um valor mais baixo que o original (Quadro 1). Quadro 1: Consistência Interna do Questionário de Estado de Saúde de Cardiomiopatias Domínios do Questionário de Estado Alpha de Cronbach Alpha de Cronbach de Saúde de Cardiomiopatias (Versão Portuguesa) (Versão Americana) 0,87 0,84 0,74 0,67 0,63 0,90 0,95 0,90 0,88 0,78 0,86 0,62 0,93 0,95 Limitação física Sintomas Qualidade de Vida Limitação Social Auto-eficácia Estado Funcional Sumário Clínico CONCLUSÃO Os resultados obtidos parecem indicar a utilização do KCCQ em contexto português, na avaliação da qualidade de vida na insuficiência cardíaca. REFERÊNCIAS Alla, F., Briançon, S.,Guillemin, F., Juilliére, I., Mertés, P., Villemont, J. et al. (2002). Self-rating of quality of life provides additional prognostic information in heart failure. Insights into the EPICAL study. The European Journal of Heart failure, 4, 337343. Carvalho, R.,Sarmento, P. & Fonseca, C. (2000). Indicadores de prognóstico na insuficiência cardíaca. Revista da Faculdade de Medicina de Lisboa, 5(3), 33-46. Cleland, J., Daubert, J., Erdmann E., Freemantle N., Gras D., Kappenberger, L. et al. (2005). The Effect of Cardiac Resynchronization on Morbidity and Mortality in Heart Failure. New England Journal of Medicine, 352, 1539-1549. Green C., Porter C., Bresnahan D. & Spertus J. (2000). Development and evaluation of the Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire: A new health status measure for heart failure. Journal of American College of Cardiology, 35, 1245-1255. Grady, K., Naftel, D., White-Williams, C., Belg, A., Young, J., Pelegrin, D. et al. (2005). Predictors of quality of life at 5 to 6 years after heart transplantation. The Journal of Heart and Lung Transplantation, 24, 1431-1439. Rodriguez-Artlejo, F., Guallar-Castillón, P., Pascual, C., Otero, C., Montes, A., Garcia, A. et al. (2005). Health-related quality of life as a predictor of hospital readmission and death among patients with heart failure. Archives of Internal Medicine, 165, 1274-1279.