CONEXÃO FAMETRO: ÉTICA, CIDADANIA E SUSTENTABILIDADE XII SEMANA ACADÊMICA ISSN: 2357-8645 O uso de anfotericina B no tratamento de endocardite infecciosa: uma revisão integrativa Flavio Rodrigues Lopes Filho*;Ana Isabela Costa Carneiro; Dino César da Silva Clemente; Prof. Dr. João Jaime Giffoni Leite FAMETRO – Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza [email protected] Título da Sessão Temática: Processos de Cuidar RESUMO Introdução: A anfotericina B, apesar de todos os seus efeitos colaterais e comprovada resistência de algumas espécies de fungos aos fármacos, ainda sendo o melhor método de tratamento, devido sua eficácia perante infecções sistêmica, resultando em doenças, como a endocardite fúngica. Desenvolvimento: Foi realizado nos mês junho e julho a busca de publicações, tendo como fontes as seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Utilizaram-se os seguintes descritores: “anfotericina B”, “endocardite fúngica”, “antifúngicos”. Resultados: A anfotericina B é o antifúngico mais potente e eficaz relacionado a enfermidades sistêmicas e apresentando novas tecnologias capazes de reduzir seus efeitos adversos. Conclusão: O uso desse antifúngico vem sido bastante estudado e utilizado no tratamento de infecções fúngicas, tornando necessário mais estudo e maior relevância de casos para facilitar a análise de futuros trabalhos. Palavras-chave: Endocardite infecciosa. Anfotericina B. Antifúngicos. INTRODUÇÃO As terapêuticas utilizadas para combater infecções fúngicas se encontram ainda em um estreito arsenal de antifúngicos divididos nas classes dos azóis, das equinocandinas (Paphitou et al., 2002) e dos poliênicos, representados pela nistina, usada principalmente em tratamentos de candidíase oral (Zambom, C, 2016) e pela anfotericina B, inicialmente isolada em 1955 e naturalmente produzida pela bactéria Streptomyces nodosus. Após a descoberta, a anfotericina B tornou-se um dos principais antifúngicos no tratamento de infecções fúngicas sistêmicas (Fillipin, F.B; Souza, L.C; 2006). A ação antifúngica da anfotericina B consiste na sua atuação de ligar-se no ergosterol, esteroide que se apresenta na membrana de fungos sensíveis, o que altera sua permeabilidade e ocasiona a perda de constituintes citoplasmáticos, porém apesar de ser em uma menor quantidade, ela também se liga ao colesterol presente em células humanas, provocando alterações e resultando em reações adversas e efeitos colaterais (Martinez, R. 2006). Além da sua afinidade com o colesterol, a anfotericina B também apresenta ações relativas às células do sistema imunológico, o que torna essencial seu conhecimento, devido ao seu elevado uso em pacientes imunodeprimidos (Fillipin, F.B; Souza, L.C; 2006). Dentre os efeitos 1 imunomoduladores pode destacar a interferência em propriedades leucocitárias, como por exemplo, a inibição da quimiotaxia, produção de anticorpos, diminuição significativa da fagocitose (Falci, D.R; Pasqualotto, A.C, 2015). As reações adversas da anfotericina B podem ocorrer de forma imediata, ou seja, logo após sua infusão, ocasionando febre, calafrios, taquicardia, hipertensão arterial, náuseas, vômitos e taquipnéia (Martinez, R. 2006), também podendo ocorrer hipocalcemia, hipernatremia, diurese aumentada, hipomagnesemia, disfunção renal e efeitos tóxicos sobre a medula óssea, mas as reações também podem ser tardias. A intensidade e gravidade das reações adversas variam de acordo com o tempo de tratamento e de paciente para paciente (Fillipin, F.B; Souza, L.C; 2006). Os principais fungos sensíveis a anfotericina B são os de Candida spp., principalmente a Candida albicans, existindo muitas espécies que já apresentam resistência ao fármaco. A anfotericina B possui atividades fungicida e/ou fungistática também em algumas espécies de Aspergillus spp., Histoplasma capsulatum, Cryptococcus neoformans, Coccidioides immitis e Blastomyces dermatidis (Fillipin, F.B; Souza, L.C; 2006; Falci, D.R; Pasqualotto, A.C, 2015). A anfotericina B, apesar de todos os seus efeitos colaterais e a comprovada resistência de algumas espécies de fungos aos fármacos, ainda encontra-se sendo o melhor método de tratamento, devido a sua eficácia perante infecções sistêmica, que resultam em enfermidades como, a endocardite fúngica (FALCI, D.R; PASQUALOTTO, A.C, 2015) A endocardite fúngica consiste na colonização e proliferação de agentes fúngicos, na superfície endotelial do coração. Vários fatores podem diferenciar o tratamento e o grau de severidade no paciente que adquiriu a enfermidade, como condições próprias do hospedeiro, sendo comum em pacientes transplantados, em pacientes imunossuprimidos e soropositivos, o uso de drogas endovenosas, e o agente causador da patologia. O diagnóstico consiste na junção de informações como histórico clínico, exames físicos, hemocultura para identificação do agente causador, ecocardiograma e outros (Sénior, J.M; Ricardo, J.A.G; 2015). Com base em estudos e pesquisas, este trabalho tem por objetivo realizar uma revisão integrativa, abordando os casos de endocardite fúngica, ressaltando o uso da anfotericina B, com foco nas suas reações adversas e nas principais espécies sensíveis ao antifúngico, também avaliando as espécies com maior resistência e possíveis outros tratamentos para os mesmos. DESENVOLVIMENTO / PERCURSO METODOLÓGICO O trabalho proposto teve como método escolhido, a revisão integrativa, que tem como finalidade reunir, resumir, conforme uma avaliação crítica e síntese das evidências disponíveis do tema investigado. Foi realizado nos mês junho e julho a busca de publicações, tendo como fontes as seguintes bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e na Scientific Eletronic Library Online (SciELO). Utilizou-se os 2 seguintes descritores: “anfotericina B”, “endocardite fúngica”, “antifúngicos”. Foi utilizado como tema norteador: o uso de anfotericina B em infecções fúngicas sistêmicas, principalmente as que desenvolvessem patologias no coração, como endocartide fúngica. Os critérios de inclusão foram: pesquisas que relatassem o uso do antifúngico anfotericina B para infecções sistêmicas, principalmente as ocasionadas por fungos e que acometessem o coração, publicadas em português, inglês e espanhol, datadas dentro do período de 2004 e 2016, nos formatos de artigos e relatos de casos clínicos. Foram excluídas publicações que não fizessem parte do tema norteador e datadas antes de 2004. Os resultados foram apresentados de forma descritiva e para facilitar a compreensão, foi realizada a confecção de tabelas, ressaltando os bancos de dados e os objetivos e resultados presentes nos artigos. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS No processo de busca pelos artigos, foram encontrados 16 artigos, porém 6 foram descartados por não se tratarem completamente da temática abordada. Utilizando 10 artigos para a amostra, em que 6 estão disponíveis na SciELO (60%), 2 na LILACS e 2 na BVS. Com base na tabela 1, é possível constatar a importância da anfotericina B para o tratamento de infecções fúngicas sistêmicas, mesmo com suas reações adversas presentes na maioria dos pacientes, sendo hoje, já utilizadas novas tecnologias a fim de diminuir essas reações, como é o caso da anfotericina B lipossômica, promovendo a diminuição da toxicidade do fármaco e promovendo o aumento da sua eficácia, onde é citada nos artigos 3, 5, 6, 8, 9 e 10. Anfotericina B lipossomal consiste na integração de anfotericina B integrada a lipossomos unilamelares, quando entra em contato com células fúngicas, ocorre a degradação lipossômica e assim a anfotericina B entra em contato com o ergosterol, podendo iniciar seu mecanismo de ação. E com as formulações lipídicas, a afinidade pela molécula HDL, faz com que o fármaco seja excretado mais rapidamente, assim diminuindo a nefrotoxicidade. Nos artigos 2, 6 e 8 são demonstrados casos de imunodeprimidos como recém-nascidos e pacientes que possuem próteses são mais acometidos pelas doenças, o que não ocorre no artigo 10, em que o paciente é imunocompetente e mesmo assim, apresenta meningite e endocardite, conseguindo ser tratado com anfotericina B. Tabela 1- Distribuição dos artigos sobre o uso de anfotericina B segundo onúmero do estudo, título, objetivo e resultado. (Fortaleza - CE). N.º 1 3 TÍTULO OBJETIVO DO ARTIGO RESULTADO Frequency of Candida species in a tertiary care hospital in Triangulo Mineiro, Minas Gerais State, Brazil Colher amostras de pacientes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia e contabilizar a frequência da Candida spp, sensibilidades aos antifúngicos e polimorfismo genético. O agente etiológico em destaque são os da Candida spp. As doses utilizadas de anfotericina B in vitro foram 0,03 – 48 horas, tendo como resultado a resistência das espécies C. albicans, C. krusei, C. glabrata e C. kefir. 2 Caso 3/2006 – Lactente com endocardite fúngica na via de saída do ventrículo direito Relatar o caso clínico de endocardite fúngica, em que o paciente foi submetido a cirurgia. 3 Atualização no uso de agentes antifúngicos Abordar o espectro de ação, aspectos farmacológicos e toxicológicos e eficácia clínica em relação a anfotericina. 4 Quercetin and rutin as potential agentes antifungal against Cryptococcus spp. Avaliar o efeito antifúngico e o potencial efeito protetor de citotoxicidade da combinação de anfotericina B com quercetina ou rutina em enfermidades sistêmicas. 5 Eficiência terapêutica formulações lipídicas anfotericina B das de Descrever o uso e eficácia da anfotericina B em encapsulamento de base lipossômica, com o intuito de reduzir sua toxicidade e aumentar sua eficiência terapêutica. 6 Candida glabrata meningitis and endocarditis: a late severe complication of candidemia Relatar a infecção sistêmica de uma paciente pelo patógeno C. glabrata e reportar a resistência do mesmo aos antifúngicos azóis. 7 Interference of melanin in the susceptibility profile of Sporothrix species to amphotericin B Investigar a interferência da melanina na suscetibilidade do uso de anfotericina B para tratar infecções sistêmicas de esporotricose. 8 Endocardite fúngica com embolizacão central e periférica: um caso clínico Relata o caso de um paciente que apresentou endocardite fúngica, realizou substituição de válvula por prótese e apresentou reincidências da enfermidade sistêmica. 4 No caso em questão, soube que era infecção fúngica após eletrocardiograma e melhora do paciente com tratamento com anfotericina B por 28 dias e foi constatada no momento da cirurgia a presença de hifas hialinas, não realizando hemocultura para identificar a espécie. O artigo fala dos tipos de anfotericina B usadas nos tratamentos, como formulações lipídicas com doses de 0,6 a 1,5 mg/kg/dia, a lipossomal com 3 mg/kg/dia e a de dispersão coloidal com 3 a 4 mg/kg/dia. Os agentes etiológicos relatados no artigos são Candida albicans e Cryptococcus neoformans em que é comparado a utilização da associação da anfotericina B (doses de 0,0625 mg/ml) com rutina e quercetina (doses de 125 endo como resultado uma eficiência maior no tratamento se utilizando das associações. O artigo relata o uso de anfotericina B por depressão coloidal, em que concentrações maiores, como 4 mg/kg/dia, ocasiona vômitos, náuseas e calafrio. Além de nessas doses 18% dos pacientes apresentarem febre e 41% tremores, sendo os mais comuns. Também relata que o uso de anfotericina B lipossomal diminuiu os efeitos adversos de comprometimento renal. O agente etiológico relatado é a Candida glabrata, em que se foi empregado fluconazol por 10 dias, mas após não surtir efeito, teve o uso interrompido. Após foi utilizado Anfotericina B em doses de 3 mg/kg/dia por 4 semanas associado a 400 mg de fluconazol. Após a melhora, se prosseguiu o tratamento apenas com fluconazol. O artigo relata testes em espécies de Sporothrix spp. Em que foi utilizada doses de anfotericina B em amostras com melanina e amostras sem melanina e foi verificado que a mesma afeta a eficiência do medicamento. O agente etiológico relatado é a Candida albicans e é comentado o uso de doses de 3 – 5 mg/kg/dia associada ou não a flucitosina com doses de 25g/kg, 4 vezes ao dia) foi administrado anfotericina B desoxicolato em doses de 0,6 – 1 mg/ kg/ dia associada ou não a 9 Tratamiento con caspofungina de endocarditis por Candida tropicalis resistente a fluconazol Relata o caso de um paciente que apresentou endocardite fúngica pelo patógeno Candida tropicalis, tendo demonstrado resistência ao fluconazol. 10 Meningite e endocardite infecciosa causada por Rhodotorula mucilaginosa em paciente imunocompetente. Relata o caso de um paciente que apresentou endocardite fúngica pelo patógeno Rhodorula mucilaginosa. flucitosina ou uma equinocandina, como a caspofungina, com doses de 50 – 150 mg por dia. O agente etiológico relatado é o Candida tropicalis demonstra resistência ao fluconazol, logo é administrado anfotericina B, porém acumulou-se no organismo 550 mg da droga, ocasionando problemas renais, assim foi administrado caspofungina se utilizando inicialmente 70 mg e depois se prosseguiu com 50 mg. O agente etiológico relatado é o Rhodotorula mucilaginosa, primeiramente foi administrado aciclovir associado a niprussiato de sódio, após o diagnóstico identificando o patógeno, o tratamento foi modificado para anfotericina B lipossomal , logo o paciente apresentou reações de declínio da função renal, necessitando ter a dose ajustada. As associações de fármacos são citadas nos artigos 4, 8 e 9, onde no primeiro apresentou resultados satisfatórios para algumas espécies de fungos, como as cepas de Cryptococcus, sendo utilizada a associação de anfotericina B com quercetina ou rutina. No artigo 8 é citado o uso e fluconazol com outros antifúngicos apresentando melhoras de casos de pacientes com endocardite fúngica de válvula nativa ou prótese. Já no artigo 9, é relatada a associação com caspofungina, devido a resistência do patógeno ao fluconazol, assim o paciente apresentando melhora. As reações tóxicas de antifúngicas é relatada no artigo 8, tendo sido colocada como precaução devido ao histórico de insuficiência hepática do paciente, ocasiona pela hepatite C crônica, citada, logo sendo evitado o uso de antifúngico quando o paciente se apresentava estável. A resistência de fungos aos antifúngicos é relatada nos artigos 1, 3, 5, 6, 7, 9 e 10, principalmente relacionados aos antifúngicos do grupo azóis, como fluconazol, itraconazol, sendo assim substituído imediatamente pelo tratamento, geralmente por via endovenosa, com a anfotericina B. Porém, no artigo 3 relata algumas espécies resistentes a anfotericina B, como Trichosporon spp., Pseudallescheria boydii, Cladosporium spp. e Phialophora spp. No artigo 1, relata principalmente a resistência dos fungos da Candida spp, como C. krusei e C. glabrata. No artigo 7, é relatado o processo de interferência da melanina, na eficácia dos antifúngicos, principalmente da anfotericina B. Em testes in vitro foi observado que este pigmento protege as células contra a anfotericina B, dificultando ou até mesmo impedindo sua ação. A melanina se mostra como um importante fator de virulência para algumas espécies de fungos, fornecendo proteção ao fungo contra danos oxidativos causados por fagócitos e radiações ionizantes, além de proteger contra a ação do antifúngico, como a anfotericina B. A melanina também é uma característica para identificação de algumas espécies de fungos como Cryptococcus neoformans e C. gattii. 5 Por fim, a anfotericina B é o antifúngico mais potente e eficaz relacionado a enfermidades sistêmicas e depende também da quantidade de tempo para se conseguir o diagnóstico da doença, a fim de que se trate de maneira rápida e menos grave. Nos artigos estudados verificou-se que 80% obtiveram cura da infecção com o devido tratamento, 10% apresentou sequelas após ficar hospitalizados e 10 % foram a óbito. CONSIDERAÇÕES FINAIS Foram analisados 10 artigos relacionados ao uso de anfotericina B nas infecções sistêmicas fúngicas, publicados entre 2004 e 2016, localizados em revistas e periódicos nacionais e internacionais de Medicina, apresentando um número notável de publicações evolvendo o uso desse antifúngico no tratamento dessas enfermidades. A anfotericina B se destaca como o principal fármaco para se utilizar no tratamento de enfermidades sistêmicas ocasionadas por fungos, mesmo levando em conta as reações adversas evidentes e a resistência em relação a algumas espécies de fungos. Também se notou a evolução tecnológico envolvendo o fármaco, para tentar diminuir suas reações, como a formulação com encapsulamento lipossômico, além de poder também se realizar associações com outros fármacos para garantir a melhora do paciente. Nos casos relatados, a maioria dos tratamentos com anfotericina B obteve êxito e garantiu a melhora do paciente, apresentando sequelas ou não, todavia alguns pacientes evoluíram a óbito. O uso desse antifúngico vem sido bastante estudado, principalmente pelo frequente aumento de casos relacionados a infecções sistêmicas que acometem órgãos como o coração, sendo assim, necessários mais estudos e maior relevância de casos para facilitar a análise de futuros trabalhos. REFERÊNCIAS 1 - Xavier, S. 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