CENTRO DE FARMACOVIGILÂNCIA DO CEARÁ (CEFACE) INFORME Nº 75 MARÇO - 2008 EM FARMACOVIGILÂNCIA Bulas incentivam automedicação – A importância da orientação do profissional de saúde A bula de medicamento é um documento de instrução impresso imprescindível no uso de medicamentos, pois fornece informações específicas sobre sua composição química, precauções /advertências /cuidados, formas de ministrar e até mesmo como preparar um medicamento1. Raynor (1993) concorda que os profissionais da saúde cumprem um papel importante no processo de aquisição da informação, devendo proporcionar aos pacientes tanto informação oral como escrita, contribuindo desta forma, na aquisição de conhecimento prévio por parte do paciente/leitor2. Um estudo recém-concluído do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) realizado a partir da inspeção das letras miúdas que acompanham 19 medicamentos, dentre eles: antidepressivos, antiinflamatórios, vasodilatadores, anti-reumáticos, anti-hipertensivos e hipolipemiantes, constatou que há diferenças significativas entre as informações dos medicamentos de referência (originais) e seus genéricos ou similares. A entidade (Idec) também comparou as bulas nacionais com as americanas, e encontrou que, no Brasil, por exemplo, o Voltaren® (Novartis) e o genérico Diclofenaco Sódico (Novartis) não trazem esse alerta. Nos Estados Unidos, os antiinflamatórios avisam, com destaque, do risco de morte por problemas cardiovasculares durante o tratamento. Em 2004, o antiinflamatório Vioxx® foi retirado do mercado no mundo inteiro após um estudo ter mostrado o aumento do risco de ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais3. O estudo do Idec também mostra que, o antidepressivo Prozac® (Eli Lilly), por exemplo, traz o alerta de que pacientes jovens podem ter idéias e comportamentos suicidas durante o tratamento. E avisa: "Os médicos devem ser consultados imediatamente se os pacientes de todas as idades relatarem quaisquer pensamentos suicidas". O Cloridrato de Fluoxetina (EMS), uma das versões genéricas do Prozac®, simplesmente não diz nada sobre esse risco3. Automedicação Há casos em que, segundo a avaliação do Idec, as bulas incentivam que os pacientes façam uso de remédios sem acompanhamento médico. No antidepressivo Zoloft® (da Pfizer), por exemplo, lê-se o seguinte: "Se você não responder à dose de 50 mg, pode aumentar a dose"3. O estudo apontou ainda que muitos medicamentos não trazem orientações caso o paciente se esqueça de tomar uma dose. Segundo o Idec, 11 dos 19 medicamentos não sanam essa dúvida. Para o coordenador da Sobravime (Sociedade Brasileira de Vigilância de Medicamentos), uma origem das falhas é o fato de as bulas não serem atualizadas periodicamente. Segundo ele, não há obrigatoriedade de notificação de efeitos adversos pelos médicos no Brasil. Apenas a indústria farmacêutica notifica, fazendo com que essas bulas estejam incompletas e desatualizadas. Os laboratórios fabricantes dizem que apenas seguem as determinações da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que seus folhetos têm a aprovação da agência. Para o Idec, a atuação da ANVISA está longe da ideal, pois permite que as bulas dos medicamentos de referência e as dos genéricos e similares sejam diferentes, embora o efeito no organismo deva ser, teoricamente, o mesmo. A pesquisa do Idec chegou à ANVISA e a mesma irá apurar as irregularidades. A partir dessas considerações o CEFACE solicita que, qualquer reação adversa observada com a utilização de medicamentos, seja notificada, se possível, através da Ficha Amarela de Notificação de Reações Adversas ou pelos telefones 3366-8276 ou 3366-8293. As notificações também poderão ser feitas através do site www.gpuim.ufc.br no link CEFACE enviando anexada a ficha de notificação ou pelo formulário de notificação de reações adversas e/ou queixas técnicas, disponível no endereço eletrônico: >>http://www.anvisa.gov.br/form/fármaco/index_pr of.htm Fonte: 1 - http://www.design.ufpr.br/Pesquisa/Publicacoes/Artigos/arquivos/PTLFujita.pdf ; 2- RAYNOR, D. K. T. (1992). Patient compliance – the pharmacist´s role. Int. Journal Pharm Practice. v.1. pp. 126-135.; 3. http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u371409.shtml Responsável: Helaine Cristina Alves de Vasconcelos (acadêmica de Farmácia) Eudiana Vale Francelino (Farmacêutica do CEFACE); Revisão: Profª Mirian Parente Monteiro.