Pronunciamento realizado pelo Deputado GILBERTO NASCIMENTO (PMDB/SP) na Sessão da Câmara dos Deputados, em / /2005. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. OS JUROS E A ECONOMIA 18,75% de juros básicos por ano é a mais alta taxa de juros do mundo – é quase impossível crescer e competir. O Banco Central não hesita em subir juros sempre que a inflação se encorpa e, para seus economistas, não tem como segurá-la senão através deste mecanismo. A taxa de juros é a baliza da economia do Brasil. Bancos e Instituições Financeiras. O governo precisa de dinheiro para financiar suas despesas. Para isso, vende títulos públicos (uma espécie de nota promissória). Entre os compradores desses papéis, destacam-se os bancos. A maior parte desses títulos vendidos pelo governo é corrigida pela taxa básica 1 de juros, a Selic. A taxa de juros brasileira é alta, uma das maiores do mundo. O rendimento proporcionado pelos papéis do governo explica boa parte da lucratividade recorde das instituições financeiras brasileiras nos últimos anos. O lucro das bancos segue trajetória inversamente proporcional à satisfação de seus clientes. Os bancos lucram também através das chamadas “arbitragens”. Captam recursos no exterior a juros baixos. Com o dinheiro, compram títulos brasileiros, sobretudo aqueles com remuneração atrelada à taxa básica de juros (Selic). Como a Selic está em alta (é de 18,75% ao ano atualmente, uma das maiores do mundo), a rentabilidade fica garantida. Com a arbitragem, é possível depois pagar a captação de dinheiro feita no exterior e, ainda assim, lucrar muito. Microcrédito. O governo lançou o programa pouco após a posse, no início de 2003, com a esperança de que os empréstimos destinados à população de baixa renda, a juros inferiores a 2% ao ano, cresceriam a ponto de jogar para baixo a taxa média do financiamento bancário, além de garantir um aumento substancial do volume de crédito concedido. No ano passado, porém, nem 40% do total estabelecido pelo governo foi direcionado pelos bancos ao Microcrédito. As instituições financeiras preferiram deixar o dinheiro parado nos cofres do BC a emprestar mais à população. 2 Para a grande maioria dos analistas econômicos, não havia necessidade disso e citam as altas menores de preços no atacado como sinal de que não há risco de descontrole da inflação. Contrariando a tese do Banco Central, está comprovado que a elevação dos juros inibe investimentos, piora o perfil da dívida pública e exige um maior esforço fiscal do governo. PARA O SETOR PRODUTIVO, as propostas da sociedade que surgem como alternativa à elevação dos juros usados para conter a inflação são ignoradas pelo Banco Central. Os juros reais, hoje em torno de 12%, são os mais altos do mundo, vindo em 2º lugar a Turquia com uma taxa real de 7,5% ao ano. O COMÉRCIO afirma que a alta dos juros não se justifica e compromete ainda mais o ritmo do crescimento da economia. Na FECOMÉRCIO-SP, o presidente da entidade criticou a decisão e afirmou que o varejo voltou a elevar suas taxas em dezembro. Segundo a mesma, as grandes lojas tentam segurar aumentos e os reajustes nas taxas tendem a ocorrer em lojas menores, com menor poder de barganha financeira. 3 PARA O SETOR INDUSTRIAL, seguramente isso vai afetar a atividade econômica, o que é lamentável, declarou o presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria. Na sua avaliação, o crescimento em 2005 deve ficar aquém das estimativas iniciais almejadas. A INDÚSTRIA DE BASE considera preocupante esta escalada da taxa SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de Custódia. As diversas medidas de combate à inflação já sugeridas exaustivamente pelas entidades representativas do setor produtivo, são cabíveis e possíveis, mas, no entanto, têm sido ignoradas com veemência, sem justificativa, afirma em nota oficial o Presidente da ABDIB – Associação Brasileira da Indústria de Base. Dados recentes sobre a economia já mostram uma desaceleração do crescimento econômico no final de 2004, apontando para um ritmo mais lento em 2005. Formando-se em todo o país, uma opinião de que, do ponto de vista do governo, é mais conveniente que a economia caminhe mais lentamente em 2005 – e que as rédeas possam ser afrouxadas em 2006 – do que correr o risco de um ajuste se mostrar necessário em ano eleitoral. Há um consenso dentre a classe política de que é inegável que há uma estranha coincidência entre o 4 ritmo que se impõe à economia e o calendário político, o que poderá se revelar danoso para a produção e o emprego. Após analisar os danos vislumbrados e constatados por tantas entidades importantes, destaquei as propostas que elas apresentam como alternativas não inflacionárias. - Quais são as causas dos aumentos dos juros? - O que fazer para mudar essa realidade? a) A gastança do governo é uma das principais delas. O governo torra dinheiro além do seu limite de arrecadação. Se controlasse suas despesas, daria ao Banco Central folga para cortar juros; b) O sistema tributário brasileiro é uma tragédia, o nível de gasto público é alto demais, sufoca o setor privado via juros elevadíssimos e o governo precisa de inflação ou de acréscimos sucessivos à dívida pública para pagar suas contas; c) Aprofundar a reforma e diminuir o déficit atual da Previdência; 5 d) Medidas em benefício da transparência e firmeza na manutenção da estabilidade; e) Um choque de produção através da elevação dos investimentos nos setores produtivos e da recuperação do nível de emprego e da massa salarial – instrumentos imprescindíveis para conter pressões inflacionárias; f) Uma política de investimentos também é alternativa à alta dos juros. Para CIESP – Centro das Indústrias de São Paulo – é preciso encontrar a taxa de juro de equilíbrio mais adequada para balancear metas de inflação realistas com os investimentos; g) Paulo Skaf, presidente da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, apresenta a fórmula da entidade: “Temos defendido o aumento da produção e a recondução dos gastos públicos como estratégias de combate à inflação. Apenas para lembrar, de janeiro a novembro de 2004, em relação a igual período de 2003, a receita da União cresceu 9,9%, mas seus gastos aumentaram 11,7%. h) É imprescindível também, o rebaixamento das taxas que definem os custos dos empréstimos dirigidos ao setor privado. Se estão mais altas, acabam por desestimular o aquecimento econômico; i) A política de juros altos tem tido um custo extraordinário. Ela sobrecarrega tremendamente as finanças públicas, contribui para a 6 sobrevalorização cambial, beneficia os mais ricos e concentra a renda nacional. Dificulta o investimento produtivo e o crescimento da economia; j) Juros mais altos desestimulam o consumo das famílias e inibem os investimentos das empresas – ou seja, desaceleram a economia. Esse desaquecimento costuma ser acompanhado por perdas na renda das pessoas, reduzindo o espaço para reajuste de preços. k) Até o FMI – Fundo Monetário Internacional, indica que os juros brasileiros são demasiadamente altos e citam a falta de concorrência bancária como causa. Falta competição no Setor. “Tem sempre uma política de governo beneficiando os bancos. Os balanços dos grandes bancos, no final de 2004, revelam rentabilidade de 30% sobre o patrimônio. Significa dobrar o patrimônio líquido em 2 anos e meio. Tem alguma coisa errada nisso. Conforme constatamos nas propostas apresentadas pelo setor produtivo, a austeridade e o sectarismo da atual política econômica estão muito aquém do nosso tão almejado crescimento sustentado, vigoroso e com distribuição de renda e inclusão social. O crescimento da indústria brasileira é um carro que começa a bater lata quando atinge uma velocidade acima de sua capacidade. 7 Em sondagem industrial publicada pela CNI – Confederação Nacional da Indústria no início de FEV/2005, a indústria brasileira já começou a sentir os efeitos da política de alta de juros. Mostra claramente uma redução do ritmo de crescimento, principalmente das grandes empresas. Os números já começam a refletir o aperto da política monetária. A FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo não tem dúvida do desaquecimento da economia e que em 2005 assistiremos resultados muito mais modestos do que poderíamos ter, diz Paulo Skaf. A política de juros altos do Banco Central irá inibir investimentos, retrair o consumo e afetar o saldo da balança comercial. Esta sondagem industrial revela também que no final de 2004 já havia elevação dos estoques e que os setores que mais os acumularam foram os setores considerados empregadores: couros e peles, vestuário e calçados, têxtil e papel e papelão. Para a FIESP, também o câmbio no nível em que se encontra é desestimulante para as vendas externas. Há empresas que estão pagando para honrar compromissos de exportação assumidos quando o dólar estava acima de 3 reais – que permitia exportação com rentabilidade. Prevê a FIESP que 8 muitas empresas deixarão de exportar. Uma cotação do dólar demasiado baixa pode ajudar no cumprimento da meta de inflação, mas tende a prejudicar o ajuste externo, reduzindo a competitividade das exportações brasileiras. A gente tem que tirar o chapéu para a capacidade dos empresários de continuar exportando mesmo com o câmbio em baixa. Conforme os juros aumentam, o dólar vem despencando e tende a cair ainda mais, porque assim aumenta a entrada de capital especulativo. Com esta última alta, mantemos os maiores juros reais entre os 217 países do mundo. O aumento de 0,5 ponto percentual nos juros básicos da economia vai procurar um aumento de R$2,4 bilhões no estoque da dívida (no período de 1 ano). Assim vem sendo sucessivamente cada vez que SELIC sobe, a dívida pública aumenta. ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial – criada em novembro-2003. Esta agência será responsável pela implantação da política industrial do governo. Aqui estão sendo definidos os setores considerados prioritários, onde o governo pretende começar a colher resultados práticos. São eles: softwares, farmacêuticos, semicondutores e bens de capital. 9 Do ponto de vista mais genérico, percebemos que estes 4 setores demandam mão-de-obra extremamente especializada, altamente qualificada, e o que vai ocorrer não será o aumento da oferta de emprego nessas áreas, mas a melhoria dos salários dos que já têm emprego. Se a intenção do governo fosse a de incentivar setores geradores de emprego, deveria ter escolhido a construção civil ou a área de prestação de serviços como estratégia prioritária. Entretanto, e com grave efeito, criou a MP 232/04, elevando o Imposto e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das empresas de prestação de serviços em geral, aumentando de 32% para 40%, a base de incidência pelo lucro presumido, a qual já havia sido aumentada. Com isso, o planejamento tributário das prestadoras de serviços fica seriamente prejudicado, devendo as empresas de médio e pequeno porte voltar à informalidade. Empresas consideradas fortes geradoras de empregos como: Prestadoras de serviços de limpeza, conservação, segurança, vigilância e locação de mão-de-obra, estas não estão contempladas pela ABDI. Deixo aqui o meu apelo para que o governo reveja imediatamente as prioridades da ABDI, sob pena de ver suplantada a grande oportunidade de gerar empregos. Não obstante tudo aqui já exposto, a alta do COPOM – Comitê de Política Monetária relativa a reunião de janeiro, que elevou a SELIC para 10 18,25%, sinaliza que o ciclo dos aumentos ainda não acabou e que os patamares poderão permanecer elevados por “um período suficientemente longo”. Como parlamentar e como cidadão do povo, não desejo continuar assistindo a esse espetáculo insólito. GILBERTO NASCIMENTO DEPUTADO FEDERAL 11