Maílson da Nóbrega, Carlos Thadeu de Freitas, Paulo Yokota, ex-ministro da Fazenda e sócio-diretor da Tendências Consultoria Econômica ex-diretor do BC e economistachefe da Confederação Nacional do Comércio ex-diretor do BC e exprofessor da Universidade de São Paulo (USP) Qual a tendência da taxa de juro até o final do ano? A tendência é de alta, diante das pressões inflacionárias ainda presentes na economia. A Selic pode chegar a 13% até o final do ano. Para 2012, ano em que a inflação dificilmente convergirá para o centro da meta (4,5%), ao contrário do que assevera o BC, a Selic deve permanecer inalterada em 13% ao longo do ano. O centro da meta seria alcançado somente em 2013. O aumento do salário mínimo em 2012, da ordem de 14%, será uma fonte importante de pressão inflacionária. Apenas no item “empregada doméstica”, o impacto nos preços será de meio ponto percentual. A tendência, depois do aumento de 0,25 ponto percentual de hoje, é talvez mais um acréscimo de 0,25. Mas esse segundo aumento fica na dúvida. O quadro mudou e existem muitas incertezas no quadro externo e na economia. A economia doméstica desacelerou um pouco, a queda do dólar ajuda, mas ano que vem vai ter uma pressão inflacionária forte do aumento do salário mínimo e seguem os gastos com as obras da Copa, por exemplo. Então, não dá para começar a baixar agora, nem subir mais. Creio que essa taxa de 12,50% pode ficar por algum tempo. Acredito que não há mais necessidade de elevação da taxa Selic, mas admito que a pressão do setor financeiro é forte, e haverá ainda uma possibilidade de pequena elevação. A produção agropecuária que afeta os custos dos alimentos está boa, as demandas internacionais de commodities já passaram pelo pico, mas existem alguns serviços que continuam indexados, usando dados do passado. A economia brasileira já está desaquecida, tanto devido ao mercado interno quanto externo, e a elevação da Selic só aumenta o custo da divida pública. De que maneira as turbulências no cenário internacional podem afetar a estabilidade da economia brasileira? Se der o cenário mais provável, que seria o encontro de uma solução para o problema da dívida grega, a economia brasileira não deverá sofrer qualquer abalo. Se houver um calote desordenado dessa dívida, contaminando outros países europeus, pode ressurgir uma nova crise financeira mundial. A estabilidade da moeda brasileira será mantida. A consequência será uma forte redução do ritmo de crescimento. No caso de calote da dívida pública americana, um risco remoto, poderemos assistir a um desastre na economia americana e mundial. A não ser que a crise europeia tenha um tamanho semelhante à dos EUA, vai afetar pouco, mas vai afetar, sim. O Brasil vai ter de aprender a conviver com um excesso de dólares, o que significa que o câmbio pode cair mais, aumentar a oferta de crédito e elevar as pressões inflacionárias. O Brasil está em uma situação muito melhor do que muitos países desenvolvidos. Então, para o Brasil, essa crise significa abundância de dólares entrando. E, se aumentar muitos os juros, entra ainda mais. Mas a Europa não vai querer que o euro acabe e vai encontrar uma solução. Todo o mundo, inclusive as economias emergentes serão afetadas pelos problemas nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. Todos, incluindo países como a China e a Índia, estão reduzindo um pouco o seu crescimento econômico, e o Brasil não é uma exceção. As dificuldades para a exportação brasileira tendem a aumentar, e vamos depender mais do nosso mercado interno, enquanto os apertos fiscais tendem a continuar. Precisamos é tomar medidas para que o desaquecimento não seja tão violento.