Carta Econômica Fevereiro de 2014 Após uma retração do PIB no terceiro trimestre de 2013, a atividade econômica no Brasil voltou a rodar em ‘modo lento’, com continuidade dos descompassos entre oferta e demanda. A indústria retraiu em novembro e o comércio apresentou uma melhora de seu volume de vendas, com especial recuperação de vendas em supermercados, neste mesmo mês. Além disso, dentre os principais indicadores coincidentes da economia, houve queda generalizada dos indicadores de confiança (consumidor, comércio, serviços, indústria e construção civil) na economia em janeiro. Neste contexto, o mercado revisou para baixo tanto as projeções de crescimento para 2014 quanto para 2015. Temos comentado que a economia brasileira apresenta hoje potencial de crescimento bastante reduzido. Mantemos esta visão para o médio prazo, no entanto, já observamos certa mudança, mais benigna, na composição deste crescimento. Em nossa expectativa para 2014, mesmo que o crescimento seja baixo, os desequilíbrios entre crescimento da demanda e oferta diminuirão, com melhora no nível de investimentos e suavização do consumo, pelo lado da demanda, e dinamismo mais positivo da indústria, pelo lado da oferta. Nossa expectativa de crescimento em 2014 e 2015 é de 1,5% e 2,7%, respectivamente. Nossa expectativa de inflação mais baixa no início de 2014 mostrou-se acertada. O IPCA de janeiro deve elevar em 0,6%, abaixo dos 0,92% de dez/13. A retração do item transportes e dos serviços exercerá peso significativo para a inflação do mês. De qualquer forma, a inflação em 2013 foi de 5,9%, número acima do esperado e acima da inflação em 2012. Novamente, nossa projeção para 2014 para a inflação ao consumidor continua em 5,5% e não projetamos convergência da inflação para a meta neste ano, uma vez que os efeitos da alta da Selic em 2013 devem manifestar-se sobre os preços com mais intensidade somente em 2015. Em relação à política monetária, o BC manteve o sua postura mais forte no combate à inflação e elevou novamente em janeiro a meta para a taxa Selic, para 10,50% aa. Na ata da reunião, o COPOM deixou em aberto se irá manter o ritmo de alta ou se irá reduzir a intensidade do aperto monetário. No entanto, o comitê fez uma avaliação mais benigna para o crescimento econômico nos próximos períodos, sinalizando que o aperto monetário já surtiu efeitos sobre a atividade econômica. Continuamos a esperar que os juros subam novamente em fevereiro, em um ritmo menor, e atinjam 10,75% a.a. no início de 2014. A economia internacional no início do ano ficou marcada por um choque de confiança em relação aos mercados emergentes. O contínuo tratamento de jogo de tabuleiro para a política econômica na Argentina finalmente atingiu o mercado cambial. Houve pesada desvalorização do peso argentino e o governo foi obrigado a liberalizar a compra e dólares pela população. Na Turquia, o excessivo déficit em conta corrente (7% do PIB), causado por um forte desequilíbrio na balança comercial e por um perfil de financiamento deste déficit de curto prazo também saltaram os olhos do mercado que ‘puniu’ a cotação da moeda deste país. Nossa visão é de que os desequilíbrios em alguns emergentes, principalmente em conta corrente, são efeitos de uma conjuntura de uma busca por um crescimento acima do potencial por um período prolongado de tempo. Estes ciclos tendem a terminar com um forte ajuste monetário, desvalorização cambial e recessão na economia. No entanto, não são desequilíbrios estruturais e não são causas para defaults de dívidas, seja público ou privado. Há motivo para preocupação, mas não suficiente para gerar uma crise de balanços de pagamentos para os emergentes. Economista-Chefe Gustav Gorski [email protected] Crescimento do PIB – acum. 4 trim. Fonte: Quantitas, IBGE. IPCA - % 12 meses Fonte: Quantitas, IBGE. Meta para Taxa Selic - % ao ano Fonte: Quantitas, Banco Central. Taxa de Câmbio – R$/US$ Fonte: Quantitas, Banco Central. *Cenários Quantitas para Brasil