Febre Reumática – Prof. Edgar Aula 2 – 15/03/11 (...Continuação) Pessoal vamos terminar então essa parte dos reumáticos, a gente revisa hoje um pouquinho do tratamento. Só lembrando que no material de vocês os Diagnósticos Diferenciais como Artrite, Cardite, Coréia, Nódulos Subcutâneos e Eritema Marginado, ai estão várias situações que os pacientes poderão apresentar durante o curso de uma doença e que uma delas, a febre reumática, praticamente mostra cinco sinais maiores (critérios maiores de Jones) e algumas doenças que vocês vão ver depois, que a gente tem que fazer o diagnóstico, como por exemplo, doença reumática: lúpus com coreia (coreia lúpica), doenças reumáticas todas com eritema marginado. Algumas doenças sistêmicas dão manifestações articulares ou sistêmicas compatíveis com uma possível febre reumática. Por exemplo, a coreia é a mais tardia de todas, quer dizer, 6 meses ou 1 anos após um evento de dor de garganta, podemos ter uma manifestação de coreia. A coreia aparece em vários tipos de encefalites, no lúpus e nessa parte de doenças autoimunes. TRATAMENTO DA FR AGUDA No momento que vocês detectarem ou suspeitarem de critérios maiores com dados laboratoriais, quando for em crianças (que seja um doença entre 5 e 15 anos) é necessário a hospitalização nos casos em que ocorra cardite. Nós vimos que a cardite pode ser leve, moderada ou severa. Nos casos de cardite moderada e severa onde ocorre manifestação de ICC classe II (dispneia, taquicardia, presença de sopro, estertores de base, cansaço, ortopinéia) serão indicados hospitalização. E a outra é a coreia em que o paciente se recolhe na cama 24h, fica dormindo praticamente, por causa da coreia, é uma situação incapacitante, então o paciente tem que ficar no hospital para conseguirmos controlar. Vamos dirigir o tratamento principalmente para nossa cardite. O principal é o repouso, pois precisamos de um repouso para diminuir o débito cardíaco. Esse repouso pode ser domiciliar no início, desde que a gente consiga controlar os sinais da Insuficiência Cardíaca, nesse período inicial de duas a três semanas após a manifestação da doença. Na cardite moderada ou grave, em geral, se recomenda 4 semanas de repouso, tentando evitar qualquer atividade de esforço físico maior. No momento das normalizações laboratoriais e sintomáticas, a gente vai liberando as atividades físicas (banho, caminhada). Temos marcadores de inflamação (Velocidade de Sedimentação Globular e Proteína C Reativa), que na medida que diminuem de valor, se ai liberando o paciente para as atividades físicas. Quanto a temperatura, recomenda-se o paracetamol e a dipirona, lembrando que o paracetamol tem ação hepática e a dipirona pode levar a hipotensão e efeito tóxico na medula. E NÃO é indicado os anti-inflamatórios não esteroides (cataflam, cetoprofeno, ibuprofeno) e AAS. Nesse período de repouso na amigdalite, na faringite ou duas semanas após o surto, se tenta manter a febre baixa e o repouso. É importante para o tratamento, erradicar o estreptococo da nossa orofaringe e o tratamento da faringoamigdalite. Após tratar, se faz a opção da profilaxia secundária (penicilina) TRATAMENTO DAS COMPLICAÇÕES DA FR AGUDA Na artrite, que é uma manifestação maior, se usa os AINES e o desaparecimento dos sintomas é rápido, com 2 a 3 dias de anti-inflamatório o paciente fica aliviado. O AAS é a primeira opção como anti-inflamatório nas artrites reumáticas. Não é indicado o uso de corticoides nas artrites reumatoides. A artrite é incapacitante, a pessoa não caminha porque dói nas articulações. A Cardite, que é outra complicação, se usa dose anti-inflamatória da própria artrite (que é o AAS) e os pacientes têm que ser controlados para as manifestações de ICC (com diurético, digitálicos para baixar a frequência, controle da temperatura, redução da ingesta de sódio, repouso) e na cardite moderada ou grave se faz uso de prednisona por quilo de peso, por duas a três semanas. Na coreia se usa o Haloperidol (duas tomadas), anticonvulsivantes (ác. Valpróico e carbamazepina). A cardite refratária, que é aquela em que se fez o tratamento com AAS, mas o paciente não evoluiu bem, fez uso de prednisona e não melhorou, o paciente continua com manifestações de ICC grave (até com edema agudo), então se faz a pulsoterapia com metilpredisolona EV (não precisam decorar a dose) A cirurgia cardíaca na FR aguda está indicada na presença de lesão valvar grave, principalmente por ruptura de cordas tendíneas ou por perfuração de cúspides. Não é o mais comum em se ver em uma criança ou no adulto jovem. Como que a gente cura esse paciente? Primeiro, olhar a manifestação de febre, as reações inflamatórias, PCR, VSG, diminuindo os valores gradativamente a partir da segunda semana. Nos pacientes com cardite, se faz sempre o controle com ECG, RX de tórax e o ecocardiograma(avaliar a fração de ejeção). Lembrar que o PR, que é a condução atrioventricular, fica alargado. Após 1 mês, se faz essa reavaliação para saber se vai ficar sequela ou não, pois podemos curar totalmente esse paciente. Quanto a profilaxia primária, nós temos quatro drogas a base de penicilina (Penicilina G, Penicilina V. Amoxicilina e Ampicilina) em que o estreptococo responde. Em caso de alergia a penicilina, se usa a Eritromicina, a Clindamicina e a Azitromicina. As doses a gente sempre vai ter que olhar na hora, não precisamos decorar. Na profilaxia secundária, usamos a penicilina benzatina, que será feito naqueles doentes que tiveram cardite e ficaram com sequelas reumatológicas. Então se fará de 21 em 21 dias a dose por quilo de peso recomendada. Isso aqui tem que prestar atenção, muito comum em prova de residência: Nas gestante, não há restrição quanto ao uso de Corticosteroides e penicilina, porém fica contraindicado qualquer AINES, anticonvulsivantes e Inibidores da ECA por mal formação fetal Não vou falar sobre anticoagulação agora, pois ainda não é o momento. Atualmente existem 12, até 13 tipos de tentativa de vacinação a base da proteína M da parede da bactéria INSUFICIÊNCIA MITRAL São as grandes valvulopatias que a gente vai se deparar na vida, no consultório, no ambulatório, nas complicações de outras doenças ocasionadas por essas doenças degenerativas do aparelho valvar. O aparelho mitral é um folheto anterior e posterior, e no momento que eles estiverem afastados, irá ocorrer regurgitação do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo durante a sístole, o que levará a um aumento de volume. Só para lembrar débito cardíaco = volume sistólico x frequência cardíaca. Nós temos anel mitral, folheto valvular, cordoalha e músc. papilares e qualquer alteração dessas 4 estruturas, pode levar a uma insuficiência mitral. As causas mais comuns são: febre reumática, doença endocárdica e o traumatismos de tórax são bastante comuns nesses aparelhos. Com a doença do Anel Mitral, pode haver por dilatação do ventrículo esquerdo (o coração dilata e o anel dilata junto) e calcificação (degeneração que ocorre nas pessoas mais idosas) Da cordoalha tendinosa, teremos a Ruptura primária, Ruptura secundária a doenças infecciosas (onde a Endocardite é a mais comum), o traumatismo e a doença do prolapso da valva mitral (Síndrome de Barlow que a gente vai ver). Dos músculos papilares, nós temos a isquemia (pela cardiopatia isquêmica, que é bastante comum), dilatação ventricular (pela miocardiopatia dilatada), ausência de músculo papilar (paciente pode ter mal formação congênita) e processos infiltrativos. A história natural da febre reumática ou das doenças que acometeram a válvula é muito lenta, apresenta um desenvolvimento lento, e o organismo vai se adaptando. Primeiro pega só o folheto, depois pode haver regurgitação, o átrio começa a dilatar, nessa dilatação atrial os folhetos são ainda mais afastados, aumentando a regurgitação ventricular, aumentando a sobrecarga de volume do ventrículo, que começa a se dilatar e assim, todo aparelho mitral vai se adaptando e vai se dilatando. Nas doenças mais graves de insuficiência mitral aguda, devemos pensar em ruptura de cordoalha e principalmente no infarto do miocárdio. Na era pré-cirúrgica esses pacientes com Insuficiência Mitral tinham sobrevida de 80% em 5 anos no momento em que eram detectados e sobrevida de 60% em 10 anos. Quando tinha dupla lesão mitral piorava a situação e a Insuficiência Mitral Severa temos 45% de sobrevida em 5 anos. Se tivermos uma manifestação do folheto ou do anel mitral, ou até de pequenas alterações da cordoalha tendinosa e dependendo do grau de insuficiência que vai ter esse anel do sistema valvar, nós poderemos tolerar qualquer tipo de esforço (como em qualquer insuficiência cardíaca) durante 5, 10, 15, 20 anos. O paciente às vezes nem sabe que tem. As manifestações são clássicas: dispneia de esforço (porque está regurgitando para o átrio) O átrio esquerdo sendo regurgitado, ele que tem uma superfície de 4cm, começa a ficar tenso, para tolerar a fração regurgitada, acaba sofrendo hipertrofia e chega ao ponto em que essa dilatação acaba fazendo com que se perca a sístole atrial. A sístole atrial contribui 30% da sístole ventricular. Imagina então, que nós perdemos a sístole atrial, por fibrilação atrial, por distensão das câmaras atriais, nós perdemos uma contribuição grande para o ventrículo esquerdo que já está ruim, o que irá piorar ainda mais a manifestação de dispneia e cansaço. Chega um ponto que não vemos mais isso, pois as pressões retrógradas são tão grandes que o paciente começa a ter hepatomegalia, turgência jugular, derrame pleural e anasarca. Quando tivermos uma manifestação aguda de um edema agudo de pulmão, às vezes tratamos o edema, mas não sabemos nem a causa, o paciente pode ter apresentado uma crise hipertensiva, uma cardiopatia isquêmica, ingesta de volume maior de sal, e às vezes, tratando esse edema agudo, acabamos detectando um sopro e a partir dessa manifestação aguda (desde que não seja um infarto) a gente vai procurar a causa desse sopro que é a insuficiência mitral. Na ausculta cardíaca, devemos sempre procurar as “foneses das bulhas”. Hipofonese e hiperfonese mostra que alguma coisa está errada. Lembrando que se o ventrículo está bom e os folhetos afastados, o movimento dos folhetos vão estar um pouco diminuídos, então teremos uma B1 menos intensa e as pressões retrógradas do meu átrio esquerdo faz com que eu tenha uma 2ª bulha hiperfonética, pois eu estou precisando de força para ejeção. Então meu componente aórtico e pulmonar (principalmente o aórtico) estão encurtados. Vamos ter então uma B2 aumentada por hipertensão pulmonar, dependendo do grau de comprometimento da pressão da artéria pulmonar. A B3 nos indica que há uma disfunção ventricular, a B3 é explicada por um enchimento ventricular rápido, pois precisamos de ejeção, e esse ventrículo já está me dizendo que eu tenho distensão e sobrecarga desse ventrículo com disfunção. O sopro é o mais fácil de auscultar, se ausculta no foco mitral que se irradia pra linha axilar anterior e para o dorso, dependendo sempre da intensidade que nos temos dessa regurgitação. A intensidade do sopro NÃO condiz com a intensidade da doença. Sopros de alta frequência não são tão graves quanto um sopro praticamente inaudível. O que é o sopro? É a resistência da passagem do sangue pelos aparelhos valvares. Imagina se o ventrículo não tiver mais forca de contração e um aparelho valvar muito afastado por dilatação desse anel, irá fazer com que esses folhetos nem mais produzam uma 1ª Bulha, de tão hipofonética, e o sopro já não tem mais resistência, o que é um sinal de gravidade. No Eletrocardiograma vamos esperar na fase aguda um PR aumentado. Se tiver regurgitação para o átrio (o sangue do ventrículo, em vez de ir para aorta ele vai para o átrio, o que irá distender o átrio) teremos um sinal indireto de sobrecarga atrial esquerda (podendo dar Hipertensão Arterial, valvulopatias, miocardiopatia). Se tivermos um eletro mostrando um átrio esquerdo com tamanho “X” e daqui a 1 ano eu peço um novo eletro e o átrio esquerdo aumentou mais ainda (não só pelo eletro, mas também com o ECO) é sinal que essa regurgitação está aumentando. Com o decorrer da evolução da insuficiência mitral, nos temos sobrecarga ventriculares esquerda, porque nós temos regurgitações, adaptação volumétrica do ventrículo. O átrio distendido sobre pressão, acaba fibrilando e com isso perdemos a contratilidade atrial, que é um problema sério para nossa insuficiência cardíaca e esses pacientes que fibrilam apresentam uma alteração chamada êmbolos. No RX, como em qualquer doença cardiovascular com sobrecarga de volume, nós vamos apresentar: - cardiomegalia (aumento de área cardíaca), - linhas de B de Kerley (congestão pulmonar dependendo da fase), - calcificação do anel mitral (principalmente no idoso). O ecodoppler é o método mais útil para avaliação da função ventricular na ausência da insuficiência cardíaca, e nós vamos avaliar: - o grau de regurgitação mitral - o anel mitral - a fração de ejeção - quantificar o átrio (saber quanto de volume que se tem no átrio). A Ressonância Magnética é um método bem melhor para avaliar o volume regurgitante para os átrios. O Cateterismo Cardíaco se perde quando for indicar cirurgia para esse paciente. Com isso, já avaliamos as condições ventriculares e principalmente a posição das artérias. Diagnóstico Diferencial A Comunicação Interventricular aparece um sopro no mesocárdio, em crianças. A insuficiência Tricúspide dá um sopro na região do bordo esternal esquerdo, na região epigástrica, de baixa frequência e às vezes temos turgência jugular. Um paciente com dor no peito, que apresente um sopro e dizendo que tem dor no peito, lembrando que ele possa apresentar cardiopatia isquêmica e que apresente ruptura do folheto posterior ou de cordoalha tendinosa por cardiopatia isquêmica. Como esse sopro é na linha paraesternal e pode irradiar um pouco para cima, às vezes é confundido com estenose aórtica. A associação Dupla Lesão Aórtica (insuficiência mitral + estenose mitral) é a clássica ausculta nossa em um paciente reumático, e se chama Dupla Lesão Mitral, em que mesmo o paciente estando insuficiente, a válvula está com estenose. Um paciente que apresenta alterações no sistema oro-valvar, está mais propenso em desenvolver Endocardite Infecciosa. Tratamento Devemos tratar a sobrecarga de volume, que é a insuficiência. Usamos: - Inibidor da ECA - Redução do Sódio - Diuréticos Cuidar na fibrilação atrial, pois pacientes fibrilados irão complicar mais. Tem alguns dados de tratamento cirúrgico, mas não é pra nós, pois o nosso tratamento é clínico. Para terminar então: Insuficiência mitral crônica, sem sintomas, é solicitado um Ecocardiograma, e se avalia função ventricular, fração regurgitante. Se esse paciente tem fração de ejeção normal, e diâmetro de tamanho normal, sem estar fibrilado ou sinais de Hipertensão Pulmonar, se faz um tratamento clínico e segue acompanhando. Caso ele desenvolva Fibrilação Atrial ou Hipertensão Pulmonar secundária, será encaminhado para correção da valva mitral (cirurgia). Paciente com função de ejeção baixa, com diâmetro ventricular esquerdo maior que 45mm, também é indicado para cirurgia. Se o paciente for sintomático, também será feito o Ecocardiograma, e praticamente já tenhamos que entrar no procedimento que é Valvoplastia ou troca valvar, que irá depender da fração de ejeção. Se for menor que 30% vai para o transplante cardíaco e caso seja maior que 30% é feita a troca mitral de todo o anel. Mas em pacientes muito avançados, não tem mais o que fazer, pois não adianta trocar uma válvula, no momento que o coração dilatou. Depois que chegar na classe III ou IV já apresenta dano miocárdico com sobrecarga tanto de volume quanto de pressão.