UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Regina Luísa de Freitas Marino Práticas educativas parentais e sua relação com o perfil comportamental e desempenho cognitivo de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade SÃO PAULO 2015 Regina Luísa de Freitas Marino Práticas educativas parentais e sua relação com o perfil comportamental e desempenho cognitivo de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade Orientador: Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro Apoio: Bolsa CAPES Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação de Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de mestre. SÃO PAULO 2015 M337p Marino, Regina Luísa de Freitas Práticas educativas parentais e sua relação com o perfil comportamental e desempenho cognitivo de crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade / Regina Luísa de Freitas Marino – 2015. 171 f. : il. ; 30 cm. Dissertação (Mestrado em Distúrbios do Desenvolvimento) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2015. Referências bibliográficas: f. 130 - 141. 1. TDAH. 2. Funções executivas. 3. Práticas educativas parentais. 4. Comportamentos internalizantes. 5. Comportamentos externalizantes. I. Título. AGRADECIMENTOS Ao fazer uma retrospectiva destes anos de mestrado, fiquei surpresa com o quão enriquecedora foi essa experiência e o quanto me transformei desde o primeiro dia de aula. Além do valioso conhecimento que aprendi nesse programa, seja com professores ou colegas, levo comigo também a amizade de pessoas incríveis que me acompanharam ao longo dessa jornada e que foram essenciais para que eu conseguisse concluí-la da melhor forma possível: sã e feliz, rs! Quero agradecer aqui a todos que fizeram parte desta jornada comigo e que, portanto, são corresponsáveis pelo sucesso dela. Em primeiro lugar, agradeço àquele que me apresentou para o mundo da pesquisa, da avaliação infantil e do amor em fazer o bem ao próximo: Luiz Renato Rodrigues Carreiro, meu orientador. Nunca uma palavra foi tão justa, você me orienta desde o início nesta vida acadêmica (quando eu não tinha experiência alguma, mas apenas muita vontade de aprender) e se hoje o meu “norte” é frutífero foi porque você me preparou para saber alcançá-lo e colher os frutos no futuro. Obrigada pela paciência, pela confiança nestes anos de parceria, pelas oportunidades, por ter me ensinado tanto e por tudo que ainda vai me ensinar, pois ainda vem muitos desafios pela frente e eu preciso de você, rs! Obrigada por tudo! À Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira. Cris, o seu jeito de colocar amor e dedicação em tudo que faz me encanta. Nós nos aproximamos muito nestes dois anos e fico muito feliz por isso. Obrigada pelas conversas maravilhosas, pelo conhecimento que compartilha comigo, pelas oportunidades e por acreditar no meu trabalho. Você também é muito importante na minha formação e fonte de inspiração pra mim. Estou feliz que este trabalho recebeu o seu olhar cuidadoso e competente. Muito obrigada. À Ana Carolina Monnerat Fioravanti Bastos pela gentileza dos ensinamentos e pelo cuidado com que revisou meu trabalho, contribuindo imensamente com ele. Pude sentir o seu amor pelo o que faz em cada comentário e me senti extremamente cuidada ao ler sua revisão. Obrigada pelo aceite do meu convite e pela disponibilidade em viajar para São Paulo para compor a minha banca. Ao grupo do Protocolo de TDAH que esteve comigo no dia-a-dia, trabalhando em equipe e trocando conhecimento. Um privilégio fazer parte deste grupo há tanto tempo e conhecer pessoas tão competentes, generosas e dispostas a ensinar e a aprender. Agradeço a todos do grupo, aos que já saíram e aos que chegaram recentemente, mas principalmente à Tally Tafla, Ana Flávia Astorfi, Ana Beatriz Badia, Mayara Miyahara, Carla Cantiere, Karla Faria, Naiara da Silva, Deisy Emerich, Gisele Baraldi, Maria Aparecida Martin, Vera Rocha, Adriana Ribeiro, Rebeca Orselli, Luciana Coltri, Camila Chiquetto, Ronê Paiano, Leilany Rocha, Ana Paula Campos, Nádia Giaretta, Fernanda Costa, Isabela Neves, Ana Fernandes, César Lacerda, Victor Amoroso, Allison Siqueira, Eduardo Milan e Luis Fernando Macedo. Aproveito para agradecer também aos participantes desta pesquisa que passaram pelo protocolo. Muito obrigada. Brinquei que a Ana Paula Micieli teria um lugar especial na dedicatória e aqui está: Aninha, obrigada por ter sido essa amiga maravilhosa, por ter me acompanhado em vários sábados até tarde no Mackenzie, por ter colocado a “mão na massa” comigo, por me incentivar e me ensinar a ser forte nos momentos de desespero. Aprendi muito com você e sentirei saudades das nossas conversas entre um prontuário e outro, rs. À Camila Cruz Rodrigues e Simone Fuso, por terem me recebido de braços abertos para o estágio docente, por todo o valiosíssimo conhecimento que me passaram, mas, principalmente, pela amizade que vou carregar pra sempre. Obrigada pelo apoio, pela torcida, pelos almoços, pelas conversas deliciosas e pela contribuição direta neste trabalho e na minha formação. Admiro muito o amor com que passam o conhecimento e a competência de vocês. Aos amigos que fiz no mestrado e que contribuíram, mesmo que indiretamente, para a realização deste trabalho, seja pelas conversas, pelos incentivos ou pelos desabafos. Em especial à Karen Ricci, Adriana Pagaime, Giselle Machado, Gislene Santana, Fernanda Pierin, Glauce Conti, Tânia Freire, Patrícia Botelho, Ana Alem, Cindy Morão, Gabriel Brito, Camila León, Arcênio Júnior e Marina Trunci. Ao Haim Fridman, Daniele Aparecida e Mayara Paschoal por tornarem este processo mais fácil, com orientações, conversas, risadas e auxílio, sempre solícitos em me ajudar. À Gisele Alves, Ísis Rodrigues e Carina Pereira, por me mostrarem o real sentido de trabalho em equipe, companheirismo e amizade. Vocês foram importantíssimas para que esta conquista fosse possível. Obrigada pelos incentivos para que eu fizesse o mestrado, pelo conhecimento valioso que me passaram, pelas melhores conversas, pelas risadas, pelo apoio e por me ensinarem a ser profissional e a confiar em mim mesma. Vocês são especiais e este trabalho tem um pouco de vocês! À Irene Leme, Ivan Rabelo, Sílvia Pacanaro e Caroline Ferreira pelo aprendizado, pelas experiências enriquecedoras que tivemos juntos e pela amizade. Às minhas amigas: Nathalia Ishikawa, Fabiana Rangel, Julia Gama e Mariana Martinez por estarem presentes me apoiando desde a faculdade. Às amigas de infância que sempre estão ao meu lado, mesmo distantes: Ana Laura Paiva e Daniela Garcia. À Letícia Brodoloni e Najara Almeida, psicólogas incríveis que me inspiram diariamente. Obrigada pelo carinho e por cuidarem tão bem de mim. Aprendi muito com vocês e com o amor que vocês demonstram pela profissão. À minha família: tios e primos, em especial à Fernanda Guimarães Ikawa pelo amor e carinho sempre presentes desde quando éramos crianças. Aos meus pais, Kátia Yamaguti de Freitas Marino e Dalton Luis de Andrade Marino, que são meus modelos de dedicação, força, sabedoria e humildade. Vocês me ensinaram a colocar amor e alma em tudo o que eu faço, sem esperar nada em troca. Obrigada pela paciência nos momentos de desespero, pelo suporte e, principalmente, pelo amor incondicional! Sempre fomos só nós três e juntos descobrimos a força gigantesca da nossa união e amor. Tenho muito orgulho de ser filha de vocês e de tudo o que já vivemos e aprendemos juntos. Enquanto eu tiver vocês ao meu lado, eu não temerei nada. Saibam que vocês cumprem com maestria o papel de pais e eu dedico esta conquista a vocês! Ao meu companheiro de vida e melhor amigo, Rafael Peta Echeverria, pela certeza de estar sempre ao meu lado em todos os momentos, sejam alegres ou tristes. Rafa, saiba que você foi fundamental para que eu conseguisse concluir esta etapa, seja pelo incentivo diário, pela compreensão nos momentos de desespero e cansaço, mas, principalmente, por acreditar em mim e me encorajar para os desafios da vida. Obrigada pelo amor que demonstra em cada gesto de carinho e cuidado comigo, por acreditar na minha capacidade e por dar leveza na minha vida. Espero conseguir retribuir todo o bem que me faz. Tenho muita sorte de ter encontrado alguém incrível como você, sempre em busca de conhecimento e de fazer o bem aos outros! Você só me faz crescer! Eu te amo! À família do meu namorado que eu amo e que já considero como minha. Em especial à minha cunhada e irmã, Karina Peta Echeverria, que me ensinou a compartilhar e me salvou deste mundo de filha única, rs. Kaká, obrigada pela companhia nos estudos pela madrugada, pelo apoio e amizade. Admiro muito a sua força, competência, caráter e sinceridade! À minha avó, Tiduko Yamaguti de Freitas, por me ensinar a batalhar pelo o que quero e a ser uma pessoa do bem. Com ela aprendi que é possível ser determinada e forte sem ser necessário perder a ternura e a bondade! Você faz muita falta, vó! Ao meu avô, Rosário Marino Netto, pelas melhores lembranças de infância que alguém poderia ter. Tenho certeza que ele está orgulhoso da sua bambina. Saudades eternas. RESUMO A interação entre pais e filhos constitui o relacionamento mais intenso da criança na infância e, com isso, as práticas educativas parentais contribuem para o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo. Esses aspectos relacionais tornam-se ainda mais importantes ao se tratar de famílias de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Esse transtorno caracteriza-se por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade que interfere no funcionamento ou desenvolvimento. Crianças com TDAH frequentemente apresentam déficits nas funções executivas e podem apresentar problemas na regulação comportamental, com problemas tanto externalizantes como internalizantes, sendo mais dependentes do feedback e monitoração de seus pais para balizarem seus comportamentos. Deste modo, o objetivo geral deste estudo foi verificar as associações entre práticas educativas dos responsáveis e perfis cognitivos das crianças com TDAH e perfis comportamentais tanto das crianças quanto de seus responsáveis. A amostra foi composta por 26 crianças e seus responsáveis e professores. A idade das crianças era entre 6 e 16 anos, todas com diagnóstico de TDAH obtido por meio de um protocolo interdisciplinar de avaliação neuropsicológica, comportamental e clínica para crianças e adolescentes com queixa de desatenção e hiperatividade. Os instrumentos aplicados nos pais foram o Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos (ASR), Inventário de Estilos Parentais (IEP), Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida (WHOQOL-bref) e Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 6 e 18 anos (CBCL/6-18). Já os professores das crianças responderam ao Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 6 e 18 anos – Formulário para o professor (TRF/6-18). Para traçar o perfil cognitivo em termos de desempenho em funções executivas das crianças, foram analisados o Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) e o Conners’ Continuous Performance Test II (CPT-II). Por fim, foram feitas análises de correlação de Spearman entre os escores das diferentes escalas dos instrumentos. Como resultados, foi encontrado que padrões caracterizados por práticas negativas se associaram a maior frequência de problemas de comportamento e menos indicadores de funcionamento adaptativo tanto nas crianças como nos cuidadores. Contrariamente, as práticas positivas se associaram a comportamentos adequados e a melhor funcionamento adaptativo da dupla cuidadorcriança. Também se mostrou com este estudo que o uso de práticas parentais negativas está associado, no geral, a piores habilidades em funções executivas, sendo o inverso também verdadeiro. Além disso, foi possível demonstrar também que práticas parentais negativas são mais frequentemente escolhidas e usadas por responsáveis com baixos indicadores de suporte social e familiar, bem como de qualidades de vida, o que mostra que estes responsáveis apresentam níveis altos de conflitos familiares. Por fim, foi visto ainda que problemas de comportamentos nos responsáveis estão associados a outros problemas comportamentais nas crianças. No sentido contrário, altas habilidades sociais que caracterizam um bom funcionamento adaptativo dos responsáveis estão relacionadas ao desenvolvimento nas crianças de competências sociais e a um bom rendimento escolar. Portanto, estes resultados reforçam a importância de se considerar a família no tratamento de crianças com TDAH, bem como na prevenção do agravamento dos sintomas. Palavras Chaves: TDAH; Funções executivas; Práticas educativas parentais, Comportamentos internalizantes; Comportamentos externalizantes. ABSTRACT Parent-child interaction is the most intense relationship of the child in childhood and the parenting practices contribute to their emotional and cognitive development. These relational aspects become even more important when dealing with families of children with Attention Deficit Disorder and Hyperactivity Disorder (ADHD). This disorder is characterized by a persistent pattern of inattention and/ or hyperactivity and impulsivity that interferes with the functioning or development. Children with ADHD often show deficits in executive functions and can present problems in behavioral regulation, with both externalizing and internalizing problems, being more dependent on feedback and monitoring of their parents to regulate their behavior. Thus, the aim of this study was to investigate the associations between parenting practices of caregivers and cognitive profiles of children with ADHD and behavioral profiles of both children and their guardians. The sample comprised 26 children and their caregivers and teachers. The age of the children was between 6 and 16, all diagnosed with ADHD confirmed through an interdisciplinary protocol that provides a neuropsychological, behavioral and clinical assessment for children and adolescents referred with inattention and hyperactivity symptoms. The caregivers responded to Adult Self-Report (ASR), Parenting Style Inventory (IEP), Perception of Family Support Inventory (IPSF), World Health Organization Quality of Life (WHOQOL) - Bref and Child Behavior Checklist for ages 6-18 (CBCL/6-18). The children's teachers responded to the Teacher Report Form for ages 6 – 18 (TRF/6-18). To trace the cognitive profile in terms of children´s executive function performance, we analyzed the Wisconsin Card Sorting Test (WCST) and Conners’ Continuous Performance Test II (CPT-II). Finally, Spearman´s correlation analyses were run between scores of the different scales of the instruments. As a result, it was found that patterns characterized by negative parenting practices were associated with higher frequency of behavioral problems and less adaptive functioning indicators in both children and the caregivers. In contrast, positive parenting practices were associated with appropriate behaviors and adaptive functioning of both caregiver and child. The study also shows that the use of negative parenting practices is associated, in general, with the worst in executive functions abilities, and the reverse is also true. Moreover, it was also possible to demonstrate that negative parenting practices are more often chosen and used by caregivers with low social and family support indicators as well as quality of life, which shows that those responsible have high levels of family conflict. Finally, it was also seen that the caregiver behavior problems are associated with other behavioral problems in children. On the other hand, developed social abilities of caregivers, which characterize a good adaptive functioning, are related to the development of children's social abilities and a good school performance. Therefore, these results reinforce the importance of considering the family in the treatment of children with ADHD, as well as in preventing the worsening of symptoms. Key words: ADHD; Executive Functions; Parenting Practices, Internalizing Behavior; Externalizing Behavior. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 16 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 18 2.1. Desenvolvimento Infantil .................................................................................... 18 2.2. Funções Executivas .............................................................................................. 20 2.2.1. Memória Operacional .................................................................................... 21 2.2.2. Controle Inibitório ......................................................................................... 23 2.2.3. Flexibilidade Cognitiva ................................................................................. 24 2.2.4. Atenção Seletiva ............................................................................................ 25 2.2.5. Desenvolvimento das Funções Executivas ................................................... 25 2.3. Funcionamento Adaptativo e Ajustamento Comportamental .............................. 27 2.4. Práticas Educativas Parentais ............................................................................... 29 2.4.1. Práticas Educativas Parentais e Funções Executivas ........................................ 32 2.4.2. Práticas Educativas Parentais e Problemas de Ajustamento Comportamental . 34 2.5. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) ................................ 36 2.5.1. Caracterização do TDAH .............................................................................. 36 2.5.2. Curso e Desenvolvimento do Transtorno ...................................................... 42 2.5.3. TDAH e Problemas de Ajustamento Comportamental e Funcionamento Adaptativo ............................................................................................................... 43 2.5.4. Perfil Neuropsicológico do TDAH ............................................................... 44 2.5.4.1. Funções Executivas e TDAH ................................................................. 45 2.5.5. Neurobiologia do TDAH ............................................................................... 46 2.5.6. Etiologia, Fatores de Proteção e de Risco do TDAH .................................... 47 2.5.7. TDAH e Dinâmica Familiar .......................................................................... 50 3. OBJETIVOS ............................................................................................................... 54 4. MÉTODO ................................................................................................................... 55 4.1.Tipo de Pesquisa ................................................................................................... 55 4.2. Local de Pesquisa ................................................................................................. 55 4.3. Participantes ......................................................................................................... 56 4.4. Instrumentos......................................................................................................... 59 4.4.1. Inventário de Estilos Parentais (IEP) ............................................................ 59 4.4.2. Questionários para Avaliação Comportamental ............................................ 60 4.4.2.1. Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos/Adult SelfReport (ASR) ....................................................................................................... 60 4.4.2.2 Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 6 e 18 anos/ Child Behavior Checklist for ages 6-18 (CBCL/6-18) .............................. 61 4.4.2.3 Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 06 e 18 anos – Formulário para o Professor/ Teacher Report Form for ages 6 - 18 (TRF/6-18) ........................................................................................................... 62 4.4.3. Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref” ................................................................................................................................. 63 4.4.4. Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) .................................... 63 4.4.5. Questionário Sociodemográfico .................................................................... 64 4.4.6. Conners’ Continuous Performance Test II (CPT II) ..................................... 64 4.4.7. Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) .................................. 64 4.4. Procedimentos de Coleta de Dados...................................................................... 65 4.5. Análise de Dados ................................................................................................. 67 5. RESULTADOS .......................................................................................................... 69 6. DISCUSSÃO ............................................................................................................ 108 6.1. Práticas Educativas Parentais ............................................................................. 110 6.1.1. Monitoria Positiva ....................................................................................... 110 6.1.2. Comportamento Moral ................................................................................ 112 6.1.3. Punição Inconsistente .................................................................................. 113 6.1.4. Negligência.................................................................................................. 115 6.1.5. Disciplina Relaxada..................................................................................... 116 6.1.6. Monitoria Negativa ..................................................................................... 117 6.1.7. Abuso Físico ................................................................................................ 117 6.1.8. Escala Total do IEP ..................................................................................... 120 6.2. Perfil Comportamental dos Responsáveis ......................................................... 123 6.2.1. Problemas de Ajustamento Comportamental .............................................. 123 6.2.2. Funcionamento Adaptativo ......................................................................... 125 7. CONCLUSÃO .......................................................................................................... 127 8. REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 130 8. ANEXOS .................................................................................................................. 142 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Critérios Diagnósticos do TDAH de Acordo com o DSM-5 ........................ 37 Tabela 2. Distribuição na amostra das crianças por idade. ........................................... 57 Tabela 3. Distribuição na amostra das crianças por escolaridade. ................................ 57 Tabela 4. Distribuição na amostra das crianças por nível de funcionamento intelectual (QI) obtido por meio do WISC-III. ................................................................................ 58 Tabela 5. Distribuição por idade dos responsáveis na amostra. .................................... 58 Tabela 6. Distribuição por nível de escolaridade dos responsáveis na amostra. ........... 59 Tabela 7. Distribuição por nível socioeconômico dos responsáveis na amostra. .......... 59 Tabela 8. Índices dos testes cognitivos e respectivas funções avaliadas ...................... 66 Tabela 9. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da amostra no Inventário de Estilos Parentais - IEP .............................................................................. 69 Tabela 10. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da amostra no Inventário de Percepção do Suporte Familiar - IPSF ..................................................... 70 Tabela 11. Descrição das médias e desvios-padrão da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref. ................................... 71 Tabela 12. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre seus próprios problemas de comportamento na Escala das Síndromes do ASR. .......................................................................................................................... 74 Tabela 13. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre seus próprios problemas de comportamento internalizantes, externalizantes e totais da Escala das Síndromes do ASR. ............................................ 74 Tabela 14. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da autopercepção dos responsáveis na Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR. ............................. 74 Tabela 15. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre os problemas de comportamento das crianças na Escala das Síndromes do CBCL/6-18. ............................................................................................. 76 Tabela 16. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre os problemas internalizantes, externalizantes e totais das crianças na Escala das Síndromes do CBCL/6-18 ............................................................................ 76 Tabela 17. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre as crianças na Escala Total de Competências do CBCL/6-18. ........ 77 Tabela 18. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os problemas de comportamento das crianças na Escala das Síndromes do TRF/6-18. ................................................................................................ 78 Tabela 19. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os problemas internalizantes, externalizantes e totais das crianças na Escala das Síndromes do TRF/6-18 ............................................................................... 78 Tabela 20. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os comportamentos de desatenção e hiperatividade/impulsividade das crianças no TRF/6-18. .................................................................................................. 79 Tabela 21. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre as crianças na Escala Total de Competências do TRF/6-18. ............. 79 Tabela 22. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas- WCST. ............................................................................................................... 81 Tabela 23. Descrição da quantidade de categorias completadas do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem.................................... 82 Tabela 24. Descrição dos ensaios para completar a primeira categoria no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. ............ 82 Tabela 25. Descrição do total de ensaios administrados no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem.................................... 82 Tabela 26. Descrição da quantidade de fracassos em manter o contexto no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. ............ 83 Tabela 27. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices de omissões, comissões, detectabilidade e perseverações do Teste de Desempenho Contínuo de Conners - CPT-II. ................... 85 Tabela 28. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices de Tempo de reação, Erro padrão do tempo de reação, Variabilidade e Estilo de Resposta do CPT-II.................................... 85 Tabela 29. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças nos índices de tempo de reação e desvio padrão do tempo de reação, ambos por mudança de bloco e por mudança no intervalo inter-estímulo, do CPT-II..................... 86 Tabela 30. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e competências das crianças no CBCL/6-18. .............. 87 Tabela 31. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e funcionamento adaptativo das crianças no TRF/6-18 ........................................................................................................................ 90 Tabela 32. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de desatenção e hiperatividade de crianças no TRF/6-18. ......................... 92 Tabela 33.Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e desempenho das crianças nos testes cognitivos aplicados (WCST e CPT-II)................ 93 Tabela 34. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR. ............................................................................................................................... 96 Tabela 35. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e percepção do suporte familiar do IPSF e da qualidade de vida do WHOQOL-Bref. 100 Tabela 36. Correlações estatisticamente significativas entre problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR e problemas de comportamento e competências das crianças no CBCL/6-18. ..................................... 102 Tabela 37. Correlações estatisticamente significativas entre problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR e problemas de comportamento e competências das crianças no TRF/6-18. ........................................ 105 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Descrição dos resultados em porcentagens da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref por domínio ............... 72 Figura 2. Descrição por item dos resultados em porcentagens da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref ................ 72 16 1. INTRODUÇÃO No estudo do desenvolvimento humano, as expressões do crescimento biológico em um ambiente social devem ser pensadas de maneira interdependente. Assim, tornase cada vez mais importante integrar duas áreas de conhecimento: a neurociências e a psicologia, principalmente devido às evidências apresentadas na literatura de que o ambiente, incluindo as experiências relacionais que nele acontecem, exerce impacto substancial no desenvolvimento do organismo, incluindo modificações no próprio sistema nervoso (STILES, 2009; KOLB, WHISHAW, 2002; MUSZKAT, 2006; COSENZA, GUERRA, 2011). A interação de pais e filhos constitui o relacionamento mais intenso da criança na infância, pois representa o cerne do ambiente em que a criança está exposta, principalmente em seus primeiros anos de vida (BERNIER et al., 2012). Com isso, a relação entre pais e filhos torna-se extremamente relevante de ser estudada, uma vez que contribui para o desenvolvimento da criança. Essa relação é influenciada por vários fatores, especialmente levando-se em consideração o conjunto de estratégias adotadas pelos pais para educar seus filhos, chamadas de práticas educativas parentais. Já o estilo parental é o nome dado a esse conjunto de práticas educativas utilizadas pelos pais na interação afetivo-emocional estabelecida com seu filho, com o intuito de orientá-lo (GOMIDE et al., 2005). Segundo Gomide (2006), essas práticas podem estar associadas ao desenvolvimento de comportamentos pró-sociais (Práticas Positivas: Monitoria positiva e Comportamento moral) ou a comportamentos antissociais (Práticas Negativas: Monitoria negativa ou estressante, Punição inconsistente, Disciplina relaxada, Abuso físico e Negligência). Os aspectos relacionais tornam-se ainda mais importantes ao se tratar de famílias de crianças e adolescentes com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Este transtorno é definido pelo DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) como um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por prejuízos associados à desatenção, desorganização e/ou hiperatividade e impulsividade, os quais são incompatíveis com a idade ou grau de desenvolvimento do sujeito. Os aspectos relacionais podem ser prejudicados principalmente devido à dificuldade destas crianças e adolescentes de autorregularem seus comportamentos, 17 sendo mais dependentes do feedback e monitoração de seus pais ou responsáveis para balizarem seus atos (BARKLEY, 1997). Com isso, esforços no sentido de compreender melhor a dinâmica familiar de crianças com TDAH são importantes e devem ser valorizados, pois dessa forma contribui-se para o desenvolvimento de programas preventivos e interventivos focados nos pais de crianças com o transtorno, como, por exemplo, treino de práticas parentais. O TDAH consiste em um problema de saúde pública na atualidade devido ao surgimento dos sintomas em idade precoce, sua alta prevalência, alta comorbidade com outros transtornos e o impacto direto no ambiente escolar, social e familiar (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). O fortalecimento de políticas públicas que também abarquem a família de crianças com TDAH, melhorando a qualidade de vida dos membros da família, faz-se necessário no cenário atual de saúde pública no Brasil. Na área da saúde mental da infância e adolescência, há uma carência no país de serviços especializados que, além de insuficientes, são desigualmente distribuídos, dificultando o acesso pela comunidade (PAULA et al, 2012). Deste modo, o objetivo deste estudo foi verificar as associações entre práticas educativas dos responsáveis e perfis cognitivos das crianças com TDAH e perfis comportamentais tanto das crianças com TDAH quanto de seus responsáveis. 18 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Desenvolvimento Infantil Do ponto de vista da neurociência, o sistema nervoso é responsável pela compreensão do ambiente circundante e pela produção de comportamentos em função das demandas internas e externas, entretanto estes comportamentos são modelados por fatores ambientais. Ao mesmo tempo, a constante interação entre organismo e ambiente guia o desenvolvimento do sistema nervoso. Com isso, é de extrema importância entender essa interação complexa e contínua entre organismo e meio ambiente (STILES, 2009; KOLB, WHISHAW, 2002). A criança já nasce com um sistema nervoso organizado em termos de estruturas neurais, mas não com relação à sua funcionalidade. Um bom exemplo disso é com relação ao sistema visual, pois a criança ao nascer já tem pronto o circuito neural básico da visão, já sendo capaz de enxergar. Entretanto, sua acuidade visual ainda é precária, enxergando apenas a uma pequena distância sem precisão. À medida que essa criança interage e é estimulada pelo ambiente, são formadas novas sinapses neste circuito neural ao mesmo tempo em que as sinapses já existentes são mantidas e fortalecidas, aprimorando o sistema visual da criança. Este mesmo processo ocorre com os demais sentidos e com a habilidade motora, por exemplo. Portanto, no que se refere ao desenvolvimento da criança, a interação com o ambiente é de extrema importância, pois é dessa interação que novas conexões nervosas serão formadas e aprimoradas em termos funcionais em seu sistema nervoso (COSENZA, GUERRA, 2011). O cérebro da espécie humana, embora apto para desenvolver certas capacidades, necessita de um aprendizado, mesmo para funções bem simples, como, ainda no exemplo citado, a habilidade de enxergar precisamente. Neste caso, a aprendizagem ocorre em um período muito precoce da vida da criança, não deixando registros conscientes (COSENZA, GUERRA, 2011). Deste modo, o desenvolvimento humano não pode ser entendido de maneira desvinculada do conceito de aprendizagem, pois ‘desenvolver’, tanto no sentido cognitivo como no orgânico, refere-se ao estabelecimento de relações de aprendizagem que ocorre por meio de um processo de troca e comunicação intensa entre o organismo e o meio ambiente (MUSZKAT, 2006). O organismo sofre modificações em sua estrutura física e funcional, alterando padrões 19 de conexões sinápticas de acordo com as influências ambientais. Assim, abordar o desenvolvimento humano envolve necessariamente aprendizagem que, por sua vez, depende de plasticidade cerebral. (MUSZKAT, 2006). A plasticidade cerebral refere-se a uma capacidade do cérebro em se adaptar às mudanças do ambiente. Essa resposta do cérebro a eventos ambientais ocorre tanto com relação ao ambiente externo, como também ao ambiente interno, como, por exemplo, a presença de hormônios, lesões e genes anormais. A plasticidade cerebral é entendida como uma mudança adaptativa na estrutura e função do sistema nervoso decorrente de experiências vivenciadas por este organismo (KOLB, WHISHAW, 2002; MUSZKAT, 2006; COSENZA, GUERRA, 2011). O termo sugere uma maleabilidade do cérebro, como um plástico que pode ser moldado de diferentes formas. O cérebro é, então, moldado de acordo com as experiências ambientais a que é exposto (KOLB, WHISHAW, 2002), portanto, sabe-se que não existem dois cérebros iguais, pois o desenvolvimento cerebral dependerá também da história de vida que é única para cada indivíduo (COSENZA, GUERRA, 2011). A plasticidade cerebral funciona em diversos níveis: o neuroquímico, ao permitir a modificação de neurotransmissores e neuromoduladores durante o crescimento e desenvolvimento humano; o hedológico, ao envolver diferentes padrões de conexão entre os neurônios e o número de sinapses ativas; e o comportamental, ao modificar estratégias cognitivas de acordo com os desafios ambientais (MUSZKAT, 2006). A plasticidade, portanto, permite uma contínua reorganização das conexões sinápticas, constituindo a base tanto da aprendizagem como da modificação comportamental (COSENZA, GUERRA, 2011), pois o fato das conexões sinápticas se tornarem mais complexas, consequentemente permite maior complexidade comportamental (KOLB, WHISHAW, 2002). O cérebro precisa de um longo período de maturação que se estende até os anos da adolescência. Com isso, o sistema nervoso é extremamente plástico nestes anos iniciais, com enorme capacidade de formação de novas sinapses. Embora diminua com o envelhecimento, a plasticidade permanece durante todo o curso de vida, o que significa que mesmo na velhice a capacidade de aprendizagem é mantida, ainda que a custo de esforços muito maiores que na juventude (COSENZA, GUERRA, 2011; MUSZKAT, 2006; KOLB, WHISHAW, 2002). 20 Como já exposto, ocorrem alterações no sistema nervoso ao longo da vida, mas existem dois momentos considerados cruciais no desenvolvimento. O primeiro ocorre em torno da época do nascimento, quando há um ajuste com relação à quantidade de neurônios que serão mantidos nos circuitos neurais. Já o segundo momento ocorre na época da adolescência, quando acontece um grande rearranjo destes neurônios junto a um acelerado processo de eliminação de sinapses em diferentes regiões do cérebro. Além disso, é também nesta fase em que há um aumento na eficácia dos circuitos neurais, uma vez que aumenta a mielinização das fibras nervosas, potencializando a condução das informações. Portanto, essas modificações que ocorrem na adolescência têm a função de preparar o indivíduo para as exigências da vida adulta (COSENZA, GUERRA, 2011). Um exemplo de área cerebral que tem maturação tardia é o lobo frontal, principalmente o córtex pré-frontal, o qual tem papel crucial na expressão das funções executivas, de interesse neste trabalho e que será abordada na próxima seção. Os lobos frontais continuam a se desenvolver bastante durante a adolescência, atingindo a maturidade apenas no final deste período, em torno dos dezesseis anos de vida. Com isso, determinados comportamentos que dependem de habilidades de funções executivas demoram a se tornar mais complexos (KOLB, WHISHAW, 2002; MALLOY-DINIZ et al., 2008). Assim, o estudo do desenvolvimento humano deve considerar variáveis neurobiológicas, além das sociais e culturais, posto que estas variáveis estão em constante interação, influenciando o curso do desenvolvimento. A plasticidade cerebral faz com que seja de extrema relevância estudar o impacto da cultura, educação e o ambiente no desenvolvimento dos organismos, cuja expressão se dá em repertórios comportamentais e habilidades cognitivas diferentes. Portanto, a aquisição dos comportamentos e o desenvolvimento cognitivo dependem também de experiências ambientais (MUSZKAT, 2006). O impacto ambiental é ainda maior quando se trata do desenvolvimento de funções cognitivas complexas, com período mais estendido de maturação cerebral em comparação às outras funções, como é o caso das Funções Executivas (COSENZA, GUERRA, 2011; BERNIER et al., 2012). 2.2. Funções Executivas As Funções Executivas, também conhecidas como controle executivo ou controle cognitivo, referem-se a uma série de processos cognitivos que possibilitam ao indivíduo controlar e regular seu comportamento frente às demandas e exigências 21 ambientais. Portanto, as funções executivas são indispensáveis para a adaptação do indivíduo no ambiente (GAZZANIGA, IVRY, MANGUN, 2006; DIAMOND, 2013). Este conjunto de habilidades que compõem as funções executivas torna possível que uma pessoa direcione seu comportamento para atingir uma meta, avalie a eficiência de um comportamento durante sua execução e consiga abandoná-lo caso não esteja surtindo o efeito desejado e adotar outros comportamentos mais eficientes. As funções executivas são responsáveis pelo gerenciamento e orientação das demais funções cognitivas, bem como dos comportamentos e emoções (MALLOY-DINIZ et al., 2008). As funções executivas são habilidades essenciais para um desenvolvimento cognitivo, social e psicológico adequado e, por conta disso, são necessárias para o bom desempenho acadêmico e apropriado estabelecimento de interação social. Há consenso na literatura quanto às funções executivas de que não se trata de um construto unitário, mas sim composto por diversos componentes, entretanto os diversos autores apresentam divergências quanto à identificação de tais componentes (SEABRA et al., 2014). No geral, existe uma concordância com relação às três funções executivas principais, a saber, controle inibitório, memória operacional e flexibilidade cognitiva, e a partir desses componentes são derivadas outras funções superiores como raciocínio, planejamento e resolução de problemas (DIAMOND, 2013). Além dessas, as funções executivas também englobam a atenção seletiva, o planejamento de ações e consequente monitoramento de tais comportamentos para verificar se estão sendo eficazes (GAZZANIGA, IVRY, MANGUN, 2006, MALLOY-DINIZ et al., 2008). Como o presente trabalho abordará apenas quatro componentes das funções executivas, as quais são: controle inibitório, memória operacional, flexibilidade cognitiva e atenção seletiva, somente tais funções serão abordadas nesta seção. 2.2.1. Memória Operacional A memória operacional (também conhecida por memória de trabalho) refere-se à habilidade de reter as informações na memória e manipulá-las mentalmente. A memória operacional trata-se de uma memória transitória que armazena e processa as informações necessárias ao desempenho de uma tarefa que requer raciocínio. Portanto, o ato de raciocinar não seria possível sem este tipo de memória. A memória operacional é ativada a todo o momento, sendo indispensável para o desempenho efetivo das tarefas do dia-a-dia (DIAMOND, 2013, COSENZA, GUERRA, 2011). Os dois tipos de memória operacional, verbal e não-verbal (isto é, visuoespacial), são relacionados à 22 característica da informação que será manipulada e serão explicadas abaixo (DIAMOND, 2013). De acordo com Cosenza e Guerra (2011), são componentes da memória operacional: memória imediata (também conhecida por memória sensorial), sistema de repetição e mecanismo de ativação de registros já armazenados na memória de longo prazo. A memória imediata corresponde a uma ativação dos sistemas sensoriais em que a informação foi recebida (por exemplo, a audição quando a informação é verbal). Esta memória imediata dura apenas alguns segundos e serve para verificar se a informação recebida é importante o suficiente para ser mantida ou se pode ser descartada. Uma vez identificada sua relevância, a informação será mantida por um tempo maior por meio do sistema de repetição, que pode ocorrer mediante recursos verbais ou imaginação visual. A utilização de recursos verbais para a memorização é chamada de ‘alça fonológica’, sendo que esta repetição verbal pode ocorrer silenciosamente ou em voz alta. Já a utilização de imagens mentais como estratégia para a memorização de informação ocorre em um processo chamado de ‘esboço visuoespacial’. Ambos os processos, alça fonológica e esboço visuoespacial, dependem de circuitarias neurais diferentes, o que torna possível processar informações apenas verbalmente ou apenas visualmente. Tal sistema de repetição tem capacidade limitada quanto à extensão da informação que pode ser mantida em processamento, sendo a atenção extremamente importante neste processo. Já o mecanismo de ativação de registros já armazenados na memória de longo prazo é responsável por possibilitar que a nova informação recebida seja conservada por mais tempo. Caso esta informação nova possa ser associada com outra já consolidada ou a sinais e pistas que levam a esta informação, a memória operacional pode fazer com que esta nova informação fique disponível por um período maior, o qual pode ser horas ou até dias. A memória operacional difere da memória de curto prazo, sendo que esta última consiste apenas na retenção da informação na mente por um breve período, sem manipulá-la ou sustentá-la enquanto processa outras informações como ocorre na memória operacional. Entretanto, o desenvolvimento da memória de curto prazo é precursor do desenvolvimento da memória operacional (DIAMOND, 2013). 23 2.2.2. Controle Inibitório O controle inibitório refere-se à habilidade de inibir respostas não adequadas à determinada situação, mas que competem com respostas mais apropriadas devido à sua maior automaticidade. O controle inibitório envolve a capacidade de uma pessoa de controlar sua atenção, seus comportamentos, seus pensamentos e suas emoções. No que tange à capacidade adaptativa, uma pessoa sem controle inibitório fica à mercê de seus impulsos e pensamentos (DIAMOND, 2013), sendo incapaz de inibir comportamentos inadequados e de regular sua própria conduta, comprometendo sua autonomia comportamental (GIL, 2002) Por exemplo, o controle inibitório da atenção faz com que uma pessoa consiga selecionar e manter o foco da atenção de acordo com as suas intenções sem se distrair com outros estímulos concorrentes. Essa capacidade, que será abordada mais adiante, é chamada de atenção seletiva ou controle atencional, pois se trata de uma atenção endógena, top-down, voluntária e direcionada a um objetivo (DIAMOND, 2013). Portanto, a atenção seletiva depende da habilidade de controle inibitório, pois ela só é possível quando conseguimos inibir o direcionamento de nossos recursos atencionais para os estímulos distratores e alocá-los exclusivamente no processamento dos estímulos relevantes ao objetivo da tarefa (DAVIDSON et al., 2006). Já a inibição cognitiva envolve a capacidade de resistir à interferência de memórias ou pensamentos não desejados e atua auxiliando a memória operacional. Ambas as inibições, da atenção e de processos dos pensamentos, são chamadas de controle de interferências (DIAMOND, 2013). Outro aspecto do controle inibitório é o autocontrole, ou inibição de respostas, que consiste no controle do comportamento ou de uma emoção para consequentemente controlar um comportamento. Trata-se da capacidade de resistir às tentações e não agir por impulso. O autocontrole é necessário, por exemplo, para que uma pessoa consiga permanecer em uma tarefa apesar das distrações concorrentes e consiga termina-la apesar da vontade de desistir e fazer algo mais interessante. Com isso, a capacidade de postergar gratificações é fundamental para um autocontrole efetivo, ou seja, a capacidade de não se envolver em uma atividade imediata prazerosa para obter uma gratificação ainda maior em longo prazo. Todos esses processos de controle inibitório contribuem para a capacidade de autorregulação que inclui a inibição de respostas comportamentais e inibição da atenção ao mesmo tempo em que se mantêm altos níveis 24 de estimulação emocional, motivacional e cognitiva (DIAMOND, 2013). Portanto, o controle inibitório fornece uma medida do controle da atenção e dos comportamentos de uma pessoa (DAVIDSON et al., 2006). O controle inibitório e a memória operacional ocorrem concomitantemente, sendo que é necessário reter um objetivo na mente para saber o que é relevante e o que deve ser inibido. Ao se concentrar em uma informação sustentada na memória operacional, aumentam-se as chances de que esta informação guie o comportamento da pessoa, diminuindo a probabilidade dessa pessoa cometer um erro por falta de controle inibitório, ou seja, dar uma reposta que seria mais automática ou usual quando esta deveria ser inibida. Por outro lado, para que uma pessoa consiga relatar diversos fatos ou ideias e articulá-los no raciocínio, criando novas formas de pensar, é necessário que esta pessoa seja capaz de inibir a tendência de pensar somente em um fato ou ideia, como também consiga inibir antigos padrões de pensamento. Além disso, para manter o foco em algo é preciso inibir distrações internas e externas. Quando este controle inibitório falha, a mente da pessoa começa a divagar (DIAMOND, 2013). 2.2.3. Flexibilidade Cognitiva A habilidade de flexibilidade cognitiva aparece mais tardiamente no desenvolvimento, pois depende das demais funções executivas principais: controle inibitório e memória operacional. A flexibilidade cognitiva, oposto da rigidez, envolve a habilidade de uma pessoa de se ajustar às mudanças ambientais ao alterar suas perspectivas, foco atencional e curso do raciocínio, além de permitir-se seguir outras regras. A capacidade de alterar perspectivas pode ocorrer tanto na esfera espacial (isto é, ver um objeto/problema por outro ângulo) quanto interpessoal (isto é, colocar-se no lugar de outra pessoa). Para tanto, é necessário controle inibitório para inibir a perspectiva prévia em vigor e ativar na memória operacional a nova perspectiva em andamento. É necessária flexibilidade cognitiva para uma pessoa mudar de ideia, admitir que estivesse errada e tirar proveito de oportunidades não previstas (DIAMOND, 2013). Tal função executiva parece estar diretamente relacionada à criatividade, pois permite ao indivíduo abordar as situações por formas diferentes e novas, libertando-se de padrões rígidos de comportamento (DIAMOND, 2013; SEABRA et al., 2014). 25 Déficits na flexibilidade cognitiva podem resultar em padrão de rigidez tanto cognitivo quanto comportamental, chamado de perseveração, relativo à incapacidade de ajustar o comportamento de acordo com os feedbacks recebidos pelo meio, impactando a autorregulação da pessoa. O padrão de perseveração pode resultar em comportamentos repetitivos e não adaptativos (SEABRA et al., 2014). 2.2.4. Atenção Seletiva Também conhecida como controle atencional e atenção executiva, a atenção seletiva corresponde à habilidade de direcionar a atenção para um determinado estímulo, enquanto ignora os demais que estão em volta, considerados distratores (NAHAS, XAVIER, 2006), ou seja, refere-se à capacidade de sustentar um foco de atenção de forma prolongada, ao mesmo tempo em que inibe todo o restante que possa competir com esse foco de atenção (COSENZA, GUERRA, 2011). Como já visto, para a eficácia deste mecanismo atencional, é fundamental a atuação do controle inibitório para resistir às distrações e permitir que a atenção seja sustentada em apenas um foco. A atenção seletiva faz parte de um circuito atencional chamado executivo, que conta com uma importante parte localizada em uma área do córtex pré-frontal (COSENZA, GUERRA, 2011). A atenção seletiva trata-se de uma atenção endógena, top-down, voluntária e direcionada à um objetivo (DIAMOND, 2013). Por isso, está diretamente relacionada aos mecanismos de autorregulação, sendo considerada essencial para o funcionamento adaptativo, pois é necessária na modulação dos comportamentos frente às demandas cognitivas, sociais e emocionais de uma dada situação. A atenção seletiva também é importante para uma aprendizagem adequada (COSENZA, GUERRA, 2011). 2.2.5. Desenvolvimento das Funções Executivas Do ponto de vista filogenético, as funções executivas atingiram seu ápice de desenvolvimento na espécie humana, representando um importante marco adaptativo. Já com relação ao desenvolvimento ontogenético, a maturidade das funções executivas é alcançada mais tarde quando comparada às outras funções cognitivas. As funções executivas são resultantes de atividades distribuídas de diferentes circuitos neurais, sendo que o córtex pré-frontal exerce papel essencial para o funcionamento adequado das funções executivas. São três os circuitos relacionados ao córtex pré-frontal e ao desempenho das funções executivas: circuito dorsolateral, circuito lateral orbitofrontal e circuito do cíngulo anterior (MALLOY-DINIZ et al., 2008). O córtex pré-frontal tem amadurecimento lento, tornando-se plenamente funcional apenas na segunda década de 26 vida da pessoa, especificamente no período da adolescência (COSENZA, GUERRA, 2011). Este amplo desenvolvimento pós-natal do córtex pré-frontal deixa uma longa janela de oportunidade onde o ambiente exerce maior impacto no desenvolvimento desses sistemas frontais do cérebro e, consequentemente, das funções executivas (BERNIER et al., 2012). O estudo de Pureza e colaboradores (2013) comparou o desempenho em tarefas que avaliam funções executivas em 90 crianças de desenvolvimento típico de escolas públicas, com idade entre seis e 12 anos, as quais foram divididas em três grupos: 6-7 anos, 8-10 anos e 11-12 anos. Esses autores encontraram que o executivo central da memória operacional e o controle inibitório apresentam acentuado desenvolvimento entre 6-7 anos e 8-10 anos. Além disso, também observaram que as habilidades de planejamento e flexibilidade cognitiva se desenvolvem mais tardiamente, pois o grupo com 11-12 anos apresentou uma diferença de desempenho estatisticamente significativa comparado com os grupos etários mais jovens. De acordo com Davidson e colaboradores (2006), crianças mais novas encontram maior dificuldade em tarefas em que é necessário principalmente inibir respostas e, conforme ficam mais velhas, a dificuldade passa a ser maior em tarefas que demandam principalmente a manipulação de muitas informações na memória, ou seja, quando há alta demanda de memória operacional. Estes autores também encontraram que crianças com 13 anos ainda não desempenham no mesmo nível que adultos em tarefas que avaliam flexibilidade cognitiva, mesmo quando a demanda de memória operacional na tarefa é mínima, indicando que a habilidade de flexibilidade cognitiva tem um período maior de desenvolvimento. Os resultados destes estudos mostram que, apesar de a idade exercer um papel importante em todos os componentes das funções executivas, uma vez que o desempenho melhora conforme a idade aumenta, existem diferentes trajetórias de desenvolvimento para cada habilidade que compõe as funções executivas. Segundo Goldberg (2002), as funções executivas funcionam como um centro coordenador dos outros sistemas neurais. O autor faz analogia das funções executivas com um maestro de uma orquestra, pois a orquestra pode continuar sem a presença do maestro, mas ficará comprometida sem a sua liderança. O mesmo acontece com as funções executivas, pois caso haja prejuízos, a atividade de diferentes sistemas neurais se tornará menos eficiente, impactando negativamente a capacidade da pessoa de 27 regular seus comportamentos. As funções executivas, portanto, são essenciais para um adequado funcionamento adaptativo e ajustamento comportamental da criança. 2.3. Funcionamento Adaptativo e Ajustamento Comportamental O manual do DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), apesar de abordar a importância de avaliar o funcionamento adaptativo nos transtornos do neurodesenvolvimento, acaba atrelando o conceito principalmente à Deficiência Intelectual quando o conceito deveria ser tratado com igual ênfase nos demais transtornos. Com isso posto, ainda de acordo com o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), funcionamento adaptativo refere-se à quão bem uma pessoa, quando comparada com outras da mesma faixa etária e condições socioculturais semelhantes, desenvolve as habilidades necessárias para ter autonomia e responsabilidade social. O manual elenca três domínios em que a pessoa precisa ter um desempenho satisfatório para um adequado funcionamento adaptativo, sendo estes domínios: conceitual (acadêmico), social e prático. O domínio conceitual envolve competências voltadas para a área acadêmica, possibilitando a aprendizagem, tais como habilidades preservadas em memória, linguagem, raciocínio numérico, dentre outras, O domínio social envolve habilidades que promovam interações sociais positivas e que possibilitem a construção de uma rede social de amigos, como a capacidade de perceber sentimentos dos outros, avaliar situações sociais para saber qual seria a resposta mais adequada e habilidades de comunicação interpessoal. Por fim, o domínio prático referese à capacidade de uma pessoa de gerir sua própria vida, incluindo cuidados pessoais, responsabilidades escolares, organização pessoal para conseguir realizar as tarefas e demandas diárias e autocontrole comportamental. Portanto, altos índices de problemas de comportamentos, ou seja, inadequado ajustamento comportamental, podem comprometer o funcionamento adaptativo das crianças e adolescentes, pois decorrem de uma manifestação recorrente de dificuldade em manter comportamentos de autocontrole. Com relação à definição do termo “problemas de comportamento”, há uma dificuldade de se encontrar um consenso na literatura, o que resulta no comprometimento da identificação, análise e intervenção de comportamentos que são considerados inadequados. Por um lado, existe a vertente médica ou biológica que compreende o termo ‘problemas de comportamento’ fundamentalmente por meio de seus sintomas, com descrição da topografia e da frequência, e por outro lado, há um 28 grupo robusto de autores que concebem o termo mais funcionalmente, em termos de déficits e excessos de comportamentos. Entretanto, parece haver um consenso quanto ao entendimento de que ‘problemas de comportamento’ se refere a desvios de comportamentos esperados do ponto de vista social (BOLSONI-SILVA, DEL PRETTE, 2003). Para Bolsoni-Silva (2003), estas duas vertentes são, na verdade, complementares, uma vez que a descrição da topografia e da frequência dos problemas de comportamento é útil e necessária para a análise funcional, na medida em que fornece pistas sobre as variáveis das quais o responder é função. De acordo com Achenbach e Edelbrock (1978), crianças com problemas de comportamento apresentam dificuldades no relacionamento com os pares e com os adultos de sua convivência. Tais problemas de comportamento podem ser operacionalizados em duas classes: internalizantes e externalizantes. Os problemas de comportamento internalizantes referem-se a controle excessivo das emoções, pensamentos e comportamentos que podem limitar as experiências sociais e criar obstáculos para a adaptação da criança. São alguns exemplos a depressão, o retraimento social, inibição e ansiedade. Já os problemas de comportamento externalizantes são aqueles em que, ao contrário dos internalizantes, há pouco controle das emoções, pensamentos e comportamentos, repercutindo diretamente no ambiente, pois o indivíduo age no meio. São alguns exemplos a agressividade, a impulsividade, oposição e hiperatividade (ACHENBACH, EDELBROCK, 1978). Como os problemas externalizantes são aqueles em que a pessoa executa uma ação no meio, são facilmente identificados por outras pessoas. Em contrapartida, problemas internalizantes são aqueles que não exercem impacto no meio, sendo, consequentemente, mais difíceis de serem observados. (ACHENBACH, RESCORLA, 2000). Como já visto, crianças com prejuízos nas funções executivas podem ter problemas na regulação comportamental, e consequentemente podem apresentar problemas de comportamentos tanto externalizantes como internalizantes. Por exemplo, déficits em controle inibitório leva a criança a ficar mais propensa a reagir prontamente aos estímulos ambientais, não conseguindo inibir comportamentos que não seriam adequados para a circunstância em detrimento de outros mais apropriados, ou seja, sendo impulsiva, o que configura um problema de comportamento externalizante. Além disso, essa criança pode ter dificuldade em lidar com as frustrações e tornar-se ansiosa 29 por conta desta sua dificuldade, o que caracteriza um problema de comportamento internalizante (HAN; DELIS; HOLDNACK, 2008). De acordo com Skinner (1984), os problemas de comportamento são multideterminados, sendo que há tendências genéticas, mas é a história de vida e a cultura a que uma criança está exposta que selecionam e mantém o seu repertório de comportamentos. A literatura indica que são diversas as variáveis que contribuem para o surgimento e manutenção dos problemas de comportamento, sendo que um ambiente familiar desorganizado, com presença de conflitos conjugais e de práticas educativas inadequadas utilizadas pelos pais, constitui um importante fator no desenvolvimento de comportamentos antissociais de crianças (BOLSONI-SILVA; DEL PRETTE; OISHI, 2003; BOLSONI-SILVA, 2003). 2.4. Práticas Educativas Parentais De acordo com Weiss e colaboradores (2006), um ambiente familiar que proporcione estimulação cognitiva, ou seja, aquele que promove a autonomia, a aprendizagem, a criatividade e a autoestima da criança, apresenta influência positiva em seu desenvolvimento cognitivo. Já um ambiente carente desta estimulação pode atuar como inibidor, sendo que seus efeitos negativos se acumulam ao longo do curso do desenvolvimento da criança e o impacto piora com o avançar da idade. A capacidade da família de estabelecer uma rotina diária também é considerado um fator importante no desenvolvimento da criança e tal rotina envolve o manejo de demandas do dia-a-dia para atingir objetivos à longo prazo em vez de resolver apenas crises e estresses momentâneos. Além disso, tão importante quanto à organização, por meio da rotina, no desenvolvimento da criança, é também importante a qualidade de relacionamento entre pais e filhos (WEISNER et al., 2005; WEISS et al., 2006). A interação entre pais e filhos constitui uma das relações mais intensas e duradouras do início da infância (BERNIER et al., 2012), sendo que a família atua como mediadora das relações que a criança estabelece com o mundo (ANDRADE et al., 2005). A família é considerada o primeiro ambiente de socialização da criança, pois é neste contexto que a criança aprende a se relacionar (REGALLA; GUILHERME; SERRA-PINHEIRO, 2007). É na dinâmica familiar que a criança adquirirá todos os seus repertórios comportamentais de base, uma vez que os pais ou responsáveis são a primeira e principal fonte de reforçamento e modelo para os filhos (PRUST; GOMIDE, 2007) 30 Apesar da relação familiar exercer um importante papel no desenvolvimento da criança, a literatura sugere que se trata de uma relação bidirecional e não unidirecional, posto que esta relação se constitui em um processo dinâmico, mútuo e interativo (O´CONNOR; SCOTT, 2007). Essa relação é influenciada por vários fatores, especialmente levando-se em consideração o conjunto de estratégias adotadas pelos pais para educar seus filhos. Uma importante referência sobre relações familiares foi o autor Baurimd (1966) que estudou sobre estilo parental, definido por este autor como um padrão consistente de interação com os filhos, sendo descrito três estilos existentes: autoritativo, autoritário e permissivo. O estilo autoritário engloba comportamentos dos responsáveis que restringem a independência das crianças, forçando-as a seguir regras estritas. Pais que adotam este estilo primam pela obediência às regras da casa e usam controle aversivo em suas práticas educativas. O estilo permissivo, de modo contrário, envolve permitir que as crianças se autorregulem sem regras ou disciplina. Já o estilo autoritativo é considerado o estilo mais adequado para Baurimd, pois neste estilo os pais explicam o raciocínio por trás das regras estabelecidas, equilibrando exigência dos filhos com capacidade dos responsáveis de serem responsivos às suas necessidades (MARSIGLIA et. al., 2007). No Brasil, Gomide e colaboradores (2005) definiram estilo parental como a nomenclatura usada em referência à um conjunto de práticas educativas ou estratégias utilizadas pelos pais ou responsáveis na interação afetivo-emocional estabelecida com seu filho, com o objetivo de orientá-lo. Ao todo, Gomide (2006) descreve sete práticas educativas, sendo que duas estão ligadas ao desenvolvimento de comportamentos prósociais (Práticas Positivas: Monitoria positiva e Comportamento moral) e cinco ao desenvolvimento de comportamentos antissociais (Práticas Negativas: Monitoria negativa ou estressante, Punição inconsistente, Disciplina relaxada, Abuso físico e Negligência). O estudo de Gomide e colaboradores (2005) encontrou que os pais de famílias com estilo parental positivo apresentavam altas habilidades sociais, ausência de sintomas de depressão e baixa incidência de estresse. Já entre os pais das famílias com estilo parental negativo, houve repertório insuficiente em habilidades sociais, presença de indicadores de estresse, como também de sintomas de depressão. 31 As práticas parentais que, em conjunto, caracterizam o estilo parental adotado são descritas a seguir de acordo com o modelo apresentado por Gomide (2006). A prática parental de monitoria positiva refere-se a toda prática que envolve atenção, demonstração de afeto e carinho para com a criança. Nesta prática, os pais têm conhecimento sobre a vida de seu filho, aonde se encontra naquele exato momento e quais as atividades que exerce no dia-a-dia, porém sem serem invasivos. Já a prática educativa de comportamento moral, outra prática positiva, refere-se à capacidade dos pais em transmitir aos seus filhos os valores, tais como senso de justiça e honestidade. Esta prática fornece subsídios que auxilia no discernimento da criança do que é certo e do que é errado em termos de valores. Com relação às práticas parentais negativas, uma delas é a monitoria negativa ou supervisão estressante. Para Gomide (2006), tal prática consiste na tentativa excessiva de controlar a vida de seus filhos e na apresentação frequente de instruções que não são consideradas geralmente por seus filhos. A monitoria negativa transforma o clima do ambiente familiar em hostil, no qual o filho geralmente esconde o que acontece em sua vida na tentativa de manter a sua privacidade e fugir do controle excessivo. A negligência, outra forma de prática parental, consiste em não suprir as necessidades dos filhos, seja essa necessidade emocional ou de ordem prática. Portanto, os pais que praticam a negligência, podem interagir com seus filhos de forma não afetuosa, sem demonstrar carinho e amor, como também podem se ausentar de suas responsabilidades como pais, não orientando seus filhos quando necessário. Outra prática negativa levantada por Gomide (2006) é a punição inconsistente, caracterizada pela atribuição de punição ou reforço de um comportamento de acordo com o humor dos pais e não de acordo com as contingências. Portanto, a prática educativa depende unicamente do humor dos pais e não do comportamento dos filhos. Nestes casos, a criança aprende a discriminar apenas o humor de seus pais, ficando desorientadas com relação à pertinência ou não de seu comportamento, ou seja, aprende a reconhecer quando os seus pais estão de bom humor para poderem emitir determinado comportamento, mas fracassam em reconhecer se este comportamento emitido é ou não adequado para aquela contingência. Já com relação à prática de abuso físico, Gomide (2006) ressalta que os pais se utilizam de força física para agredir e machucar seus filhos sob a justificativa de estarem 32 educando seus filhos. Por último, na disciplina relaxada, as regras que os pais estabelecem para seus filhos não são cumpridas, ou seja, os pais apenas ameaçam seus filhos, mas quando o comportamento indesejado é emitido pelos filhos, estes não são punidos. 2.4.1. Práticas Educativas Parentais e Funções Executivas O estudo realizado por Bernier, Whipple e Carlson (2010) buscou investigar a relação prospectiva entre qualidade da interação mãe-filho e o desenvolvimento das funções executivas em amostra de crianças típicas. A amostra consistiu em 80 duplas mãe-filho, dos quais 44 eram meninas e 36, meninos. Foram realizadas quatro visitas: a primeira quando o filho tinha entre 12 e 13 meses, a segunda aos 15, a terceira aos 18 e a quarta quando a criança completava 26 meses de idade. Com relação às variáveis de interação mãe-filho, foram avaliadas nos dois primeiros encontros a sensibilidade materna, capacidade da mãe de se colocar no lugar do filho e entender suas necessidades, chamada de mind-mindedness, e suporte materno de autonomia. Já no que se refere às funções executivas da criança, tais habilidades foram avaliadas em dois momentos: aos 18 e aos 26 meses de idade. No primeiro encontro com a criança (18 meses), foi avaliada a memória operacional. Já no segundo (26 meses), além da memória operacional, também foram avaliados o controle inibitório e a flexibilidade cognitiva. Este estudo fornece uma das primeiras evidências longitudinais de que a qualidade da relação precoce mãe-filho pode ser útil na compreensão da origem e desenvolvimento de diferenças individuais de funções executivas em crianças, sendo que quanto melhor for a qualidade desta interação, melhor tende a ser o desempenho posterior em tarefas que exigem funções executivas. Este estudo evidenciou a influência das práticas parentais nos domínios cognitivo e comportamental da criança, principalmente no que se refere ao desenvolvimento das habilidades de autorregulação. Os resultados sugerem que o suporte para autonomia não somente parece se relacionar mais consistentemente com as funções executivas da criança do que a sensibilidade materna e capacidade da mãe de entender as necessidades do filho ao se colocar em seu lugar, como também o suporte para a autonomia parece ser o intermediador de tais funções. De acordo com estes autores, a criação de um ambiente encorajador da autonomia frequentemente está associada à também altos graus de sensibilidade materna e capacidade de entender as necessidades do filho, mas o contrário nem sempre é verdadeiro. Outro resultado importante, de acordo com as análises realizadas, é que 33 enquanto o suporte para autonomia foi responsável pela estabilidade do desempenho em funções executivas nos dois momentos da testagem, a capacidade para entender as necessidades do filho respondeu pelas alterações que ocorreram no desempenho em funções executivas de uma avaliação para outra. Outro estudo de Bernier e colaboradores (2012) examinou a relação prospectiva entre qualidade do ambiente familiar até o segundo ano de vida e o desenvolvimento das funções executivas no terceiro ano de idade em crianças sem transtornos do desenvolvimento. Participaram da pesquisa 62 famílias compostas por pai, mãe e filho. Os critérios de exclusão consistiram em crianças nascidas pré-termo e presença de deficiência ou atraso no desenvolvimento. Foram realizados cinco encontros com a família: quando a criança tinha 12, 15 e 18 meses, bem como quando completou 2 e 3 anos de idade. Nestes encontros foram avaliadas a qualidade da interação comportamental entre pais e filhos, percepção de segurança no apego da criança e desempenho em funcionamento executivo da criança. Estes autores definem apego infantil como o resultado percebido pela criança dos comportamentos usados pelos pais na interação com ela, sendo inferido diretamente a partir do próprio comportamento da criança. Como resultados, foram encontrados que a qualidade da interação comportamental dos pais e a relação de apego entre pais e filhos estão associadas ao desempenho da criança em tarefas de funções executivas, principalmente contribuindo para o desenvolvimento de flexibilidade cognitiva e memória operacional. Já Schroeder e Kelley (2009) encontraram que níveis altos de conflitos familiares e desorganização no ambiente familiar foram relacionados a dificuldades de controle inibitório do comportamento e metacognição de crianças com idade entre 6 e 12 anos sem transtornos do desenvolvimento, de acordo com a percepção dos pais. Para Cosenza e Guerra (2011), até as funções executivas se desenvolverem plenamente no final da adolescência e início da idade adulta, os pais ou cuidadores (principalmente) e a comunidade social são responsáveis por atuarem como provedores externos das funções executivas para a criança. Essa atuação envolve supervisionar o comportamento da criança, ajudá-la na resolução de problemas e raciocínio, como também corrigi-la quanto aos erros cometidos. Portanto, as práticas educativas parentais exercem forte influência na promoção e desenvolvimento de funções executivas nos filhos. Entretanto, nos dias atuais, de acordo com a percepção destes autores, há muitos pais que não podem mais estar tão próximos de seus filhos por conta de jornadas 34 extensas de trabalho, dificultando a atuação como provedores externos de tais funções. Em contrapartida, o estudo realizado por Martins (2014), que analisou a relação entre práticas parentais e ambiente familiar sobre o desempenho em tarefas que avaliam funções executivas de crianças pré-escolares de 3 a 6 anos com desenvolvimento típico, mostrou o efeito negativo ao controlar excessivamente os filhos, característico da prática educativa parental de monitoria negativa. A autora encontrou que quanto maior a responsividade emocional e verbal, ou seja, as verbalizações e interações de caráter afetivo do responsável com a criança, menor é a capacidade desta de atenção alternada. A hipótese da autora é a de que o controle externo demasiado pode dificultar o desenvolvimento da capacidade da criança em se autorregular, o que as torna dependentes de direcionamento externo. Com isso, destaco a importância dos pais de encontrarem um equilíbrio ao atuar como provedores externos de funções executivas para o filho, permitindo com que a criança participe ativamente deste processo e oferecendo oportunidades para que ela possa colocar em prática o que aprendeu por repetição de ações dos pais. Apesar da forte influência das práticas parentais no desenvolvimento das funções executivas dos filhos, Bernier, Whipple e Carlson (2010) reforçam que o surgimento da habilidade de autorregulação na criança pode contribuir para a manutenção da interação harmoniosa entre pais e filhos, o que, por sua vez, propicia um ambiente favorável para o aprimoramento de tais habilidades. A relação, portanto, entre práticas parentais e funcionamento executivo não é causal, mas bidirecional, ou seja, um influencia o outro. 2.4.2. Práticas Educativas Parentais e Problemas de Ajustamento Comportamental Segundo Bolsoni-Silva e Del Prette (2003) existe relação direta entre práticas educativas parentais e problemas de comportamento, pois a família pode estimular estes problemas de comportamentos por meio de práticas parentais negativas como negligência, disciplina relaxada e punição inconsistente. Além disso, a criança que sempre reage com determinado comportamento (por exemplo, agressividade) frente à uma contingência aversiva no âmbito familiar tende a repetir este padrão de comportamento também na esfera escolar. 35 Conti (1997) considera algumas atitudes dos pais como fatores de proteção do desenvolvimento da criança. Algumas dessas atitudes seriam: a estimulação do desenvolvimento da competência social do filho (por exemplo, os pais servindo como modelo socialmente habilidoso, encorajando atitudes que visam a autonomia e expressando frequentemente afeto positivo), o suporte fornecido pelos pais (por exemplo, valorização do filho, interação calorosa e relação de apoio e incentivo entre pais e filhos), e, por último, o uso de práticas disciplinares mais verbais, no lugar de físicas. O estudo de Salvo, Silvares e Toni (2005) teve por objetivo identificar quais práticas educativas poderiam ser preditoras de problemas de comportamentos. Participaram trinta crianças, com idades entre onze e treze anos, da rede pública de ensino, e um de seus pais. Foram aplicados o Inventário de Estilos Parentais (IEP) e Child Behavior Checklist (CBCL/6-18) e foram realizadas análises de regressão estatística com os escores dos instrumentos. Os autores encontraram que as práticas parentais de Monitoria Positiva e Comportamento Moral são variáveis preditoras de comportamentos pró-sociais, e a ausência de uso dessas práticas aliada ao uso de práticas negativas predizem problemas de comportamento. No mesmo sentido, o estudo de Nunes e colaboradores (2013) examinou a influência das práticas parentais na ocorrência de problemas de comportamento externalizantes e internalizantes. Participaram do estudo 289 crianças de duas escolas do Sul do Brasil e 205 cuidadores, totalizando 494 participantes. Estes autores encontraram que a existência de rejeição parental (prática parental de negligência) está positivamente relacionada com a ocorrência de problemas externalizantes e internalizantes, mais especificamente agressividade, ansiedade e depressão. Outro dado interessante encontrado foi a relação inversamente proporcional entre problemas internalizantes e nível de escolaridade do pais, uma vez que o nível de escolaridade pode influenciar na forma como os pais educam os filhos. Já o trabalho de Gomide e colaboradores (2005) correlacionaram as práticas parentais com indicadores de depressão, estresse e habilidades sociais em amostra composta por oito casais e seus filhos adolescentes (idade entre 14 e 17 anos), sendo metade das famílias identificadas como de risco e a outra metade como de não-risco, de acordo com o Estilo Parental dos responsáveis determinado pelo Inventário de Estilos Parentais (IEP). Estes autores encontraram que o 36 uso frequente de práticas positivas está associado à responsáveis com altos indicadores de habilidades sociais e com menos sintomas de estresse e depressão, e vice-versa. De acordo com a meta análise apresentada por O´Connor e Scott (2007), há evidências acumuladas na literatura sobre a relação entre qualidade de relacionamento dos pais com seus filhos e problemas internalizantes (como depressão, ansiedade e queixas somáticas) e problemas externalizantes (como hiperatividade e transtorno de conduta) da criança. Essa influência das práticas parentais sobre os problemas de comportamento se agrava quando a criança apresenta um transtorno psiquiátrico, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e ainda mais quando não recebe as intervenções adequadas, podendo aumentar os comportamentos inadequados, característicos de cada quadro psiquiátrico. 2.5. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) 2.5.1. Caracterização do TDAH De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, o surgimento dos sintomas deve ocorrer na infância, durante o período do desenvolvimento da criança. O TDAH é caracterizado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que exerce impacto no funcionamento pessoal, social e acadêmico da criança ou adolescente. A desatenção pode ser identificada na criança com TDAH por meio de comportamentos que indiquem dificuldade para finalizar tarefas, como, por exemplo, divagação durante a execução de atividades, falta de persistência, desorganização e menor capacidade para manter o foco na tarefa. Tais comportamentos não são consequência de desafio por parte da criança ou falta de compreensão sobre como executar a tarefa. Já a hiperatividade pode ser compreendida pela presença de atividade motora excessiva (por exemplo, correr, escalar e conversar em demasia) que ocorre em circunstâncias em que este comportamento não é adequado socialmente. Por fim, a impulsividade refere-se a ações e tomadas de decisões precipitadas que ocorrem sem planejamento e reflexão prévia acerca das possíveis consequências em longo prazo, podendo inclusive causar danos físicos à criança, como, por exemplo, atravessar a rua sem olhar. Outro comportamento impulsivo é a intromissão social, ou seja, a 37 incapacidade de aguardar a sua vez para falar, interrompendo os demais a todo instante em uma conversa, por exemplo. A impulsividade pode ser decorrente de uma dificuldade em postergar a gratificação (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). A Tabela 1 a seguir apresenta os critérios diagnósticos do TDAH retirados do DSM5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), sendo nove comportamentos relacionados à desatenção (Critério A1) e nove relacionados à hiperatividadeimpulsividade (Critério A2). Tabela 1: Critérios Diagnósticos do TDAH de Acordo com o DSM-5 Desatenção (Critério A1) (a) Frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades (ex. negligência ou deixa passar detalhes, o trabalho é impreciso). (b) Frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas (ex. dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas) (c) Frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente (ex. parece estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia) (d) Frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho (ex. começa as tarefas, mas rapidamente perde o foco e facilmente perde o rumo) (e) Frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades (ex. dificuldade para organizar tarefas sequenciais, dificuldade em manter materiais e objetos pessoais em ordem, trabalho desorganizado e desleixado, mau gerenciamento do tempo, dificuldade em cumprir prazos) 38 (f) Frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado (ex. trabalhos escolares ou lições de casa; para adolescentes mais velhos e adultos, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos) (g) Frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (ex. materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos e celular) (h) Com frequência, é facilmente distraído por estímulos externos (para adolescentes mais velhos e adultos, pode incluir pensamentos não relacionados) (i) Com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas (ex. realizar tarefas, obrigações; para adolescentes e adultos, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados) Hiperatividade-impulsividade (Critério A2) (a) Frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira (b) Frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado (ex. sai do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar) (c) Frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado (em adolescentes ou adultos, pode se limitar a sensações de inquietude) (d) Com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente (e) Com frequência “não para”, agindo como se estivesse com o “motor ligado” (ex. não consegue ou se sente desconfortável em ficar parado por muito tempo, como em restaurantes, reuniões; outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar) 39 (f) Frequentemente fala demais (g) Frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída (ex. termina frases de outros, não consegue aguardar a vez de falar) (h) Frequentemente tem dificuldade para esperar sua vez (ex. aguardar em uma fila) (i) Frequentemente interrompe ou se intromete (ex. mete-se nas conversas, jogos ou atividades; pode começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão; para adolescentes e adultos, pode intrometer-se em ou assumir o controle sobre o que os outros estão fazendo) Para uma criança ser considerada desatenta e/ou hiperativa-impulsiva pelo DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), é necessário que ela apresente seis ou mais dos sintomas listados no manual diagnóstico para cada critério (A1 = desatenção ou A2 = hiperatividade/impulsividade). Os sintomas devem manifestar-se por pelo menos seis meses em nível incompatível com o esperado para o desenvolvimento da criança. Portanto, o TDAH pode se apresentar de diferentes formas em um indivíduo, sendo composto por três apresentações dependendo dos sintomas manifestados: 1) Apresentação combinada: a criança apresenta, nos últimos seis meses, seis ou mais sintomas tanto do critério A1 (desatenção) quanto do critério A2 (hiperatividade-impulsividade). 2) Apresentação predominantemente desatenta: a criança apresenta sintomas nos últimos seis meses que preenchem o critério A1 (desatenção), mas não o A2 (hiperatividade-impulsividade). 3) Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: a criança apresenta sintomas nos últimos seis meses que preenchem o critério A2 (hiperatividadeimpulsividade), mas não o A1 (desatenção). Ainda segundo os critérios diagnósticos do DSM-5 para o TDAH, a criança deve ter manifestado os sintomas antes dos doze anos de idade em dois ou mais ambientes, como, por exemplo, na escola e em casa. Tais sintomas não podem ser mais bem 40 explicados por outro transtorno mental. Além disso, é de extrema importância que os sintomas impactem negativamente nas atividades sociais e acadêmicas da criança (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Comorbidade é um termo utilizado para remeter a uma condição em que uma pessoa apresenta dois ou mais transtornos concomitantemente (MALLOY-DINIZ et al, 2008). No caso do TDAH, a ocorrência de outros transtornos psiquiátricos é alta, sendo que, de acordo com o levantamento descrito por Hidalgo-Vicario (2007), mais de 85% dos casos que apresentam o transtorno têm pelo menos uma comorbidade associada, e entorno de 60% apresentam pelo menos duas comorbidades. Os transtornos comórbidos ao TDAH, que ocorrem com maior frequência, são o Transtorno de Conduta e o Transtorno Opositor Desafiante, sendo que este último pode alcançar mais de 50% dos casos de TDAH. Outro transtorno relativamente frequente e comum é o Transtorno Específico de Aprendizagem. Já o Transtorno de Ansiedade e o Transtorno Depressivo Maior ocorrem em uma minoria de indivíduos com TDAH, embora ainda com maior frequência que na população geral. Outros transtornos que podem ser comórbidos ao TDAH incluem o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, os transtornos de tique e o Transtorno do Espectro do Autismo. O manual também aponta para o fato de que a maioria das crianças e dos adolescentes com Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor apresenta sintomas que também preenchem os critérios necessários para o diagnóstico do TDAH. Em contrapartida, o contrário não é verdadeiro, ou seja, uma porcentagem menor de crianças com TDAH preenchem os critérios para Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Portanto, é importante descartar o quanto antes se há patologias associadas ao TDAH, pois a evolução do transtorno difere com a presença de comorbidades associadas (MALLOY-DINIZ et al., 2008). De acordo com a American Psychiatric Association (2013), a taxa de comorbidade parece variar em função da apresentação do transtorno. Por exemplo, o Transtorno Opositor Desafiante ocorre em comorbidade ao TDAH em torno de metade das crianças com apresentação combinada e por volta de apenas um quarto das com apresentação predominantemente desatenta. Já o Transtorno de Conduta é comórbido ao TDAH em cerca de um quarto daqueles com a apresentação combinada. 41 O diagnóstico do TDAH é baseado em critérios puramente clínicos, ou seja, não existe um exame ou teste patognomônico que confirme o diagnóstico. A identificação do TDAH deve considerar os aspectos dimensionais do transtorno, já que os comportamentos avaliados (desatenção e hiperatividade-impulsividade) são comuns às crianças da mesma idade, mas devem ser muito mais graves e persistentes, atingindo os critérios diagnósticos já apresentados. Portanto, o diagnóstico é dificultado devido à apresentação heterogênea do transtorno, altas taxas de comorbidades e diferentes apresentações, somada à dificuldade de diferenciar os sintomas do TDAH dos comportamentos normais de crianças da mesma idade. O diagnóstico deve levar em consideração a história clínica detalhada da criança e a observação direta pelos pais, professores e profissionais (SINGH, 2008; STEFANATOS, 2007) De acordo com Malloy-Diniz e colaboradores (2008), a auto-observação de uma pessoa com TDAH é geralmente imprecisa, sendo importante o uso de múltiplos informantes no processo para aumentar a precisão diagnóstica. Ainda segundo esses autores, dependendo da fonte de informação, a percepção dos sintomas pode variar, sendo que os professores tendem a valorizar mais os sintomas de TDAH que os pais, por exemplo. A avaliação neuropsicológica e comportamental pode contribuir substancialmente para o diagnóstico, levantando prejuízos associados ao transtorno (MALLOY-DINIZ et al., 2008, CARREIRO et al., 2014). Entretanto, para dificultar ainda mais o diagnóstico, além da heterogeneidade existente em cada apresentação do transtorno, há também uma variabilidade de desempenho da própria criança com TDAH dependendo da tarefa que está executando e de seu nível de motivação. Quando altamente motivadas, podem até mesmo ser extremamente concentradas, mas apresentarem flutuação da atenção em outras atividades. Portanto, a avaliação neuropsicológica pode, muitas vezes, não ser capaz de identificar as reais dificuldades da criança com TDAH caso sua motivação seja alta o suficiente para mantê-la focada na execução das tarefas que compõem esta avaliação (SEIDMAN et al., 2004). Nestes casos, não encontrar na avaliação neuropsicológica resultados que apontam déficits associados ao TDAH não exclui o diagnóstico do transtorno. O mesmo pode ser estendido à observação da avaliação comportamental, ou seja, a ausência de sintomas observados também não exclui o diagnóstico, pois a criança pode controlar voluntariamente os sintomas por determinado tempo tanto em situações novas e estimulantes (MALLOY-DINIZ et al., 2008), como em situações em que recebem recompensas frequentes por emitirem comportamentos 42 adequados, quando estão sob supervisão ou quando em interação em situações individualizadas, como ocorre no consultório (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). De acordo com o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), algumas características, apesar de não serem exclusivas do TDAH, auxiliam no diagnóstico por conta da sua ocorrência frequente em pessoas com o transtorno. Tais características frequentemente associadas são: atrasos leves no desenvolvimento linguístico, motor ou social, baixa tolerância à frustração e irritabilidade ou labilidade do humor. Mesmo quando a comorbidade com um Transtorno Específico de Aprendizagem é ausente, é comum um prejuízo no desempenho escolar da criança. Novamente, é importante ressaltar que não há um marcador biológico que seja diagnóstico do TDAH. A frequência do TDAH é maior para o sexo masculino na população geral, com proporção de cerca de 2:1 nas crianças. No que se refere à apresentação do transtorno, geralmente as meninas manifestam primariamente sintomas de desatenção e os sintomas de hiperatividade/impulsividade, quando presentes, tendem a declinar mais rapidamente, quando comparada com os meninos. Além disso, a prevalência do TDAH na maioria das culturas é de cerca de 5% em crianças e 2,5% em adultos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). O estudo de Polanczyk et al., (2007) encontrou prevalência de TDAH de 5,29% na população mundial. 2.5.2. Curso e Desenvolvimento do Transtorno Os pais ou responsáveis inicialmente percebem uma atividade motora excessiva na criança quando esta começa a engatinhar, entretanto é difícil distinguir se esta atividade motora difere do que seria esperado para a idade. Na pré-escola, o principal sintoma observado é a hiperatividade, já a desatenção fica mais evidente quando a criança entra para o ensino fundamental, época em que o transtorno geralmente é identificado, já que os sintomas começam a ser prejudiciais neste contexto (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Os déficits neurológicos do TDAH podem levar a prejuízos funcionais ou psicológicos secundários. Por exemplo, a dificuldade de manter a atenção pode inviabilizar a aquisição de habilidades educacionais básicas que formariam a base para 43 futuras aprendizagens, o que pode resultar em prejuízo escolar. Consequentemente, é possível que a criança desenvolva ansiedade, depressão e baixa estima (BUSH, 2010). Nos anos iniciais da adolescência, geralmente os sintomas ficam relativamente estáveis, mas algumas pessoas apresentam piora no curso do transtorno, com o surgimento de comportamentos antissociais. O TDAH pode persistir na vida adulta, impactando também a esfera profissional (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). De acordo com Costa et al. (2014), a remissão dos sintomas na idade adulta ocorre para apenas um terço das crianças com TDAH. Além do prejuízo no desempenho profissional, estas pessoas têm tendência a se envolverem mais em comportamentos sexuais de risco, acidentes automobilísticos e a cometerem mais infrações de trânsito. Também apresentam maior probabilidade do que seus pares para desenvolver transtorno de personalidade antissocial na idade adulta, o que aumenta as chances de abuso por substâncias e situações de encarceramento (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). Os sinais de hiperatividade geralmente se apresentam na idade adulta de forma diferente, como dificuldade para relaxar, sensação de inquietação, dificuldade para priorizar, comportamento social desajustado e manutenção de ambientes desorganizados (COSTA et al., 2014). Na idade adulta, há a presença da desatenção, da dificuldade de planejamento e da impulsividade, que pode permanecer problemática mesmo quando os sinais de hiperatividade são reduzidos nesta fase (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). 2.5.3. TDAH e Problemas de Ajustamento Comportamental e Funcionamento Adaptativo Além da própria hiperatividade e impulsividade do TDAH que já configuram problemas de comportamento externalizantes, a presença das comorbidades mais frequentes no TDAH, ou seja, Transtorno Opositor Desafiante e Transtorno de Conduta são considerados também problemas externalizantes. O Transtorno Opositor Desafiante (TOD) caracteriza-se por padrão de comportamento negativista, desafiador, desobediente e hostil com figuras de autoridade. Quando em comorbidade com este transtorno, a criança apresenta acessos de raiva e irritabilidade constantes. Na maioria dos casos, o TOD evolui para o Transtorno de Conduta (TC) que se refere a um padrão repetitivo e persistente de comportamentos em que os direitos básicos dos outros e as regras sociais são violadas pela criança que não sente culpa ou remorso, associado à delinquência (COSTA et al., 2014). 44 Já com relação aos problemas de comportamento internalizantes, o fato das crianças com TDAH encontrarem dificuldade maior com a regulação emocional as torna mais vulneráveis à apresentarem sintomas de depressão e de ansiedade (BLACKMAN, OSTRANDER, HERMAN, 2005). Park e colaboradores (2014) encontraram que quanto mais os pais encorajam a autonomia dos filhos com TDAH nos primeiros anos de vida, menor é a tendência destas crianças de manifestarem sintomas depressivos mais tarde. Já o estudo de Becker e colaboradores (2013) examinou, em amostra de crianças com TDAH de apresentação predominantemente desatenta, as relações entre baixa competência na interação social com os pares e problemas internalizantes e externalizantes. Os autores encontraram que quanto maior a dificuldade na interação social com pares, maior também a probabilidade de meninas com TDAH apresentarem sintomas de depressão e ansiedade. Esta relação estatisticamente significativa não foi replicada para os meninos. No que se refere aos comportamentos externalizantes, os autores não encontraram relação estatisticamente significativa com competência social rebaixada tanto para meninos, como para meninas. As consequências prováveis decorrentes dos sintomas característicos do TDAH, como dificuldade na interação social com os pares e desempenho escolar insatisfatório, interferem no funcionamento adaptativo de crianças com o transtorno (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013). De acordo com estudo realizado por Roizen e colaboradores (1994), crianças com TDAH com nível de funcionamento cognitivo dentro da média (M=101, DP=6) obtiveram pontuações na faixa limítrofe e abaixo da média em instrumento que avalia funcionamento adaptativo. Além disso, uma criança com TDAH impacta o funcionamento adaptativo de sua família também, pois os responsáveis precisam ficar atentos com relação às crianças em tempo integral, restando pouco tempo para se dedicarem a cuidar deles próprios, podendo inclusive afetar o relacionamento conjugal (HARPIN, 2005). 2.5.4. Perfil Neuropsicológico do TDAH Com relação aos aspectos neuropsicológicos, segundo Costa e colaboradores (2014), o TDAH apresenta-se de forma heterogênea, pois indivíduos com o transtorno podem ter prejuízo em diferentes domínios cognitivos. Esta diversidade no perfil do transtorno é explicada pela própria heterogeneidade do TDAH, como a alta taxa de comorbidade 45 associada, a história familiar e o gênero, que promove uma variabilidade na apresentação dos sintomas. Entretanto, esses autores elencaram os domínios gerais que frequentemente estão prejudicados em pessoas com TDAH, os quais são: atenção; funções executivas frias; regulação de estado; motivação e processamento de informação temporal. Embora reforcem que nenhum déficit neuropsicológico é suficiente para explicar o transtorno, estes autores acreditam que o prejuízo da atenção não é o principal aspecto cognitivo do transtorno, mas sim o prejuízo da autorregulação representada pelas funções executivas. Douglas (2005) argumenta que, independentemente da apresentação do transtorno, o problema principal do TDAH está justamente relacionado a processos autorregulatórios que controlam a atenção, a inibição ou a organização. 2.5.4.1. Funções Executivas e TDAH Na tentativa de abarcar os déficits comportamentais e cognitivos associados ao TDAH, Barkley (1997) propôs um modelo hierárquico para explicar o transtorno quando há a presença de sintomas de hiperatividade/impulsividade, ou seja, na apresentação combinada ou na predominantemente hiperativa/impulsiva. Nestas duas formas de apresentação do transtorno, o autor explica que o principal déficit encontrado está relacionado à dificuldade de inibir respostas, ou seja, está relacionado à função executiva de controle inibitório. Para Barkley (1997), as demais funções executivas dependem de uma capacidade adequada de controle inibitório para funcionarem efetivamente. Quando o controle inibitório se apresenta prejudicado, além do consequente prejuízo nas demais funções executivas, o controle motor também é impactado. Por fim, a capacidade de sustentar a atenção também é reduzida em decorrência da dificuldade de controlar o comportamento. Crianças com TDAH quando comparadas com crianças sem o transtorno da mesma faixa etária, apresentam desempenho menor em regulação do comportamento e em habilidades metacognitivas, indicando déficits em funções executivas (SCHROEDER, KELLEY, 2008). O estudo de O´Brien e colaboradores (2010), encontrou que crianças com TDAH comparadas com crianças sem o transtorno, com idade entre 8 e 13 anos, apresentam ampla e consistente disfunção executiva em três componentes: inibição de respostas, memória operacional (verbal e espacial) e planejamento. Os autores não encontraram nenhuma diferença entre as apresentações de TDAH no desempenho em funções executivas. 46 De acordo com Malloy-Diniz e colaboradores (2008), a literatura indica que o TDAH está frequentemente associado a déficits nas funções executivas, sendo denominada por alguns autores como transtorno disexecutivo, mas a presença de prejuízo das funções executivas não é obrigatória no transtorno. Com isso, a ausência de prejuízos nas funções executivas de pacientes com TDAH é indicativo de melhor prognóstico devido à melhor aderência e resposta à intervenção. 2.5.5. Neurobiologia do TDAH O TDAH parece estar associado a alterações estruturais e químicas de circuitarias neurais que envolvem principalmente o córtex pré-frontal, região cerebral relacionada às funções executivas, como já visto. O aprimoramento de técnicas não invasivas de neuroimagem, como a Ressonância Magnética Funcional por Imagens (fMRI), possibilitou uma quantidade maior de estudos que investigam os correlatos neurais do TDAH (DICKSTEIN et al., 2006). De acordo com Szobot e colaboradores (2001), os circuitos neurais associados ao TDAH incluem o córtex pré-frontal, núcleos da base e cerebelo, envolvendo também a via dopaminérgica. Na mesma direção, o estudo de revisão de Seidman, Valera e Makris (2005) encontrou que o achado mais replicado na literatura é volume cerebral significativamente menor em pessoas com TDAH, principalmente no córtex pré-frontal dorsolateral, indicando o importante papel desta área, mas também no caudado, globo pálido, corpo caloso e cerebelo. Já a meta análise realizada por Dickstein e colaboradores (2006) forneceu evidências de que pessoas com TDAH quando comparadas com controles, apresentam um padrão consistente de hipoatividade nos lobos frontais, que afeta os córtices: cingulado anterior, pré-frontal dorsolateral, pré-frontal inferior e orbitofrontal. A hipoatividade frontal encontrada também exerce impacto em áreas relacionadas, como núcleos da base e córtex parietal. Por outro lado, os autores também encontraram algumas regiões cerebrais que são mais ativadas em pessoas com TDAH que em controles, como córtex insular, indicando que o TDAH não é caracterizado apenas por um hipofuncionamento. Os autores sugerem que pessoas com TDAH podem ter outras áreas cerebrais recrutadas para compensar esta hipoativação de regiões importantes para o desempenho de determinadas tarefas cognitivas ou, ainda, que a ativação de outras áreas pode interferir no recrutamento de áreas cerebrais que seriam mais adequadas. O estudo de Max e colaboradores (2005) examinou, por meio de estudos de neuroimagem, crianças e adolescentes com faixa etária entre cinco e 19 anos que 47 sofreram acidente vascular encefálico focal. Os autores registraram, para cada participante, a extensão das lesões que eram localizadas em regiões cerebrais variadas e verificaram se as diferentes lesões contribuíam para algum déficit específico ou transtorno. Os autores encontraram que os sintomas de desatenção compatíveis com o TDAH, induzidos pelo dano cerebral, parecem ter suas bases neuroanatômicas nos lobos frontais e no circuito de atenção executiva. O circuito de atenção executiva é responsável por inibir uma resposta mais automática ou inibir a atenção a um estímulo mais competitivo, sendo composto pelo córtex cingulado anterior, pelo córtex préfrontal e pelos núcleos da base, particularmente o estriado (MAX et al., 2005). Bush (2010) aponta para a importância do córtex cingulado anterior dorsal no TDAH por exercer papeis críticos na atenção, processamento cognitivo, detecção de estímulos novos, inibição de respostas e motivação. Portanto, a disfunção deste córtex pode direta ou indiretamente levar a todos os principais sintomas do TDAH (desatenção, hiperatividade e impulsividade), além de poder explicar o fato de que pessoas com TDAH podem ter excelente desempenho em tarefas quando estão altamente motivadas, uma vez que o córtex cingulado anterior dorsal também participa do circuito de recompensas/motivação. 2.5.6. Etiologia, Fatores de Proteção e de Risco do TDAH Segundo van Loo e Martens (2007), transtornos do neurodesenvolvimento referemse a um grupo de transtornos com características comportamentais específicas causadas por alterações no desenvolvimento cerebral. Transtornos do neurodesenvolvimento podem ser divididos em quatro subgrupos de acordo com a sua etiologia genética. O primeiro grupo é caracterizado por uma aneuploidia que se refere a um número anormal de cromossomos, como ocorre, por exemplo, na Síndrome de Down. O segundo grupo é devido à microdeleções no cromossomo, como é o caso da Síndrome de WilliamBeuren. No terceiro grupo, somente um único gene é afetado, sendo a Síndrome do XFrágil um exemplo deste grupo. Por fim, o quarto grupo, no qual o TDAH faz parte, é composto por transtornos de etiologia complexa. O quarto grupo é chamado de multifatorial porque se acredita que os transtornos deste grupo são causados pela interação de fatores genéticos, ambientais e epigenéticos. De acordo com Archer, OscarBerman e Blum (2011), mecanismos epigenéticos consistem na interação entre gene e ambiente que resulta na alteração da expressão do gene sem acarretar mudanças na sequência de DNA, ou seja, há alteração do fenótipo sem que ocorra modificação no 48 genótipo do indivíduo. A alteração no gene pode resultar tanto em sua maior expressão, processo conhecido por acetilação, quanto em seu silenciamento, chamado metilação. É importante ressaltar que, de acordo com Artigas-Pallarés (2013), na epigenética, a influência ambiental atua como um fator indissociável dos mecanismos biológicos, atuando, na verdade, como modulador da expressão dos genes. Embora não haja dúvidas quanto à presença de componentes genéticos na etiologia destes transtornos chamados multifatoriais, ainda não se sabe claramente na literatura quais são todos os genes responsáveis (VAN LOO, MARTENS, 2007). No caso do TDAH, sabe-se que o transtorno, com alta taxa de herdabilidade, tem origem poligênica, com a participação de múltiplos genes de pequeno efeito, sendo apenas alguns desses genes já identificados: os dos receptores D4 e D5 de dopamina, do gene transportador da dopamina e do gene transportador e receptor de serotonina (BIEDERMAN, FARAONE, 2005) Por ser o TDAH um transtorno multifatorial, a interação entre genes de suscetibilidade e fatores de risco ambientais pode influenciar o curso de desenvolvimento, o que explica a enorme variabilidade de apresentações clínicas de pessoas com o transtorno. Enquanto a identificação dos genes responsáveis auxilia na compreensão do surgimento dos sintomas do transtorno, a literatura aponta para o papel importante de fatores ambientais na determinação do desfecho em termos de sintomas manifestados, mesmo não sendo as principais causas do surgimento dos sintomas (THAPAR et al., 2007). Com isso, a criança pode ter seu desenvolvimento negativamente afetado se for submetida a certas condições que aumentariam sua vulnerabilidade, chamados de fatores de risco. Tais fatores vêm sendo cada vez mais reconhecidos como um processo, ou seja, o número total de fatores de risco a que uma criança é exposta, o período de tempo, o momento da exposição e o contexto são mais importantes do que, por exemplo, uma única exposição grave em sua vida (PESCE et al., 2004). Com relação ao TDAH, como fatores de risco temperamentais, o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) elenca alguns traços que, apesar de não serem específicos do TDAH, podem predispor uma criança ao desenvolvimento do transtorno. Alguns dos traços associados ao TDAH são níveis menores de inibição do comportamento, afetividade negativa e uma busca incessante por novidades. 49 Já como fatores de risco genéticos e fisiológicos, o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) aponta para a herdabilidade do transtorno, pois é frequente sua recorrência em parentes biológicos de primeiro grau. De acordo com o manual diagnóstico, o TDAH não está associado à características físicas específicas e assinala que atrasos motores sutis ou outros indicadores neurológicos leves podem ocorrer. Por fim, os fatores de risco ambientais também são elencados pelo DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), os quais são baixo peso ao nascer (abaixo de 1.500 gramas), tabagismo e consumo de álcool na gestação, infecções como a encefalite e exposição a toxinas ambientais como o chumbo. O manual diagnóstico também destaca a importância da dinâmica familiar desajustada como fator de risco para o TDAH, incluindo as práticas educativas de negligência e abuso infantil, bem como a permanência da criança em múltiplos lares adotivos. As diferentes trajetórias no curso de desenvolvimento de pessoas com o transtorno também remetem ao construto de resiliência, conhecido por fatores de proteção, e que é complementar aos fatores de risco. Apesar de ainda não existir consenso na literatura quanto à definição de resiliência, a maioria dos pesquisadores concorda que se refere à algum nível de funcionamento adaptativo após um período de exposição significativa à eventos aversivos. A diferença central entre fator de risco e fator que promove resiliência é que o primeiro remete a consequências negativas no desenvolvimento e o segundo amortece estas consequências. (MODESTO-LOWE, YELUNINA, HANJAN, 2011). A presença de fatores que promovem resiliência está associada ao prognóstico favorável. No TDAH, são alguns fatores protetivos relacionados às variáveis da própria criança: a baixa severidade de sintomas, a ausência de comorbidades, nível de funcionamento intelectual acima da média, tratamento medicamentoso, boas habilidades sociais, com interação adequada com os pares (MODESTO-LOWE, YELUNINA, HANJAN, 2011), e percepção de funcionamento familiar adequado (MOMBELLI et al., 2011). De acordo com Buitelaar e Medori (2010), o melhor preditor na infância de adaptação na idade adulta não é o nível de funcionamento intelectual, desempenho acadêmico ou comportamentos em sala de aula, mas sim a competência social da criança, ou seja, o quão bem ela consegue interagir com os pares. Interações negativas 50 com os pares podem levar à problemas de comportamento internalizantes, como diminuição da autoestima e aumento de sintomas de ansiedade e de depressão. Já com relação às variáveis ambientais, a família e, principalmente, os pais constituem importante fator protetivo, como: alta qualidade de vida, fontes disponíveis de suporte familiar, ausência de sintomas psiquiátricos nos pais e boas habilidades parentais por meio de uso de práticas educativas parentais adequadas. O treinamento de pais pode resultar em efeitos protetivos na família dessas crianças com TDAH ao ensinar habilidades parentais e aumentar a confiança dos pais no uso de tais habilidades (MODESTO-LOWE, YELUNINA, HANJAN, 2011). 2.5.7. TDAH e Dinâmica Familiar Crianças com transtornos do neurodesenvolvimento precisam de mais organização no ambiente familiar, em termos de estabelecimento de rotinas, que crianças sem transtornos, e consequentemente são fonte adicional de stress vivenciado na família (WEISNER et al., 2005). No caso do TDAH, de acordo com o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013), padrões de interação familiar na infância podem influenciar o curso do transtorno, contribuindo para o desenvolvimento secundário de problemas de comportamentos. Schroeder e Kelley (2009) examinaram a relação entre funcionamento executivo, ambiente familiar e práticas parentais em crianças com e sem TDAH. O estudo foi realizado apenas com pais de crianças entre seis e doze anos que relataram sua percepção acerca das variáveis investigadas. De acordo com o relato dos pais, foi verificado uma capacidade inferior de crianças com TDAH em regularem seus comportamentos e menores habilidades metacognitivas quando comparadas com crianças sem o transtorno. Os pais de crianças com TDAH também reportaram mais ocorrência de conflitos familiares e de desorganização familiar, bem como menor estabelecimento de limites em comparação aos pais de crianças sem o transtorno. Com exceção do estabelecimento de limites e regras, o estudo não encontrou diferenças entre os grupos no que se refere aos estilos parentais. Contrariamente ao esperado, estes autores não encontraram relação estatisticamente significativa entre estilos parentais, ambiente familiar e funcionamento executivo em crianças com TDAH, mas encontraram tal relação estatisticamente significativa para crianças sem o transtorno. Ou seja, para crianças sem TDAH, os autores encontraram que quanto mais estruturado e 51 coeso for o ambiente familiar e quanto menor for a ocorrência de conflitos familiares, maior tende a ser a capacidade da criança de controlar o seu próprio comportamento. Entretanto, este estudo conta com algumas limitações como a coleta de dados ter sido exclusivamente com base na percepção dos pais e o diagnóstico de TDAH das crianças ter sido realizado por diferentes profissionais e métodos. De acordo com Barkley (1997), crianças com TDAH, justamente por apresentarem dificuldades na autorregulação, dependem mais do feedback externo dos pais para regularem seus comportamentos que crianças da mesma idade sem o transtorno. A consistência entre os feedbacks fornecidos pelo pai e pela mãe, por exemplo, é fundamental para evitar o surgimento de problemas de comportamento em crianças com TDAH, pois estas são menos tolerantes às inconsistências (HARVEY, 2000). Por outro lado, a dependência constante de diretrizes externas pode interferir na jornada de trabalho dos pais, reduzindo as horas de trabalho por ano, uma vez que precisam dispender mais tempo auxiliando seus filhos nas atividades diárias quando comparados com pais de crianças sem o transtorno (KVIST; NIELSEN; SIMONSEN, 2011) Além disso, há evidências de que os comportamentos característicos de crianças com TDAH contribuem no aumento de estresse vivenciado pelos pais (MODESTOLOWE; DANFORTH; BROOKS, 2008, THEULE et al. 2012, MODESTO-LOWE et al., 2014, WIENER et al., 2015), aumentando a probabilidade de optarem por estratégias educativas menos adaptativas para lidarem com os filhos (GOMIDE et al, 2005). Com relação às variáveis relacionadas aos pais, além da incidência de estresse, outras também estão fortemente associadas às práticas parentais negativas, como presença nos pais de transtorno psiquiátrico, principalmente depressão, e baixas habilidades sociais (GOMIDE et al., 2005). Já Anastopoulos e colaboradores (1992) relataram relação entre altos níveis de estresse parental e problemas de comportamento agressivo entre crianças com TDAH. Duarte (2013) avaliou indicadores de saúde mental e prática de estilos parentais em pais de crianças e adolescentes com Síndrome de Williams – SWB (com deficiência intelectual) e comparou com um grupo de pais de filhos com queixa de TDAH (que não apresentavam deficiência intelectual). O método usado foi o descritivo correlacional, sendo a amostra composta por 30 pais de filhos com queixa de TDAH e 24 pais de 52 filhos com SWB. Os resultados mostraram que apesar do índice positivo de práticas parentais adequadas desempenhadas pelos dois grupos, o uso de práticas negativas foi observado, incluindo a negligência e o abuso físico. O grupo de pais (TDAH) apresenta percepção deficitária acerca do suporte familiar recebido e da qualidade de vida no domínio das relações sociais. Os dois grupos de pais, SWB e TDAH, apresentaram índices de ansiedade, depressão e queixas somáticas com perfil classificatório clínico e limítrofe, sendo este índice superior no grupo de pais (TDAH). Ellis e Nigg (2009) encontraram diferenças nas práticas usadas pelas mães e pelos pais de crianças com TDAH, além de tendências de uso de certas práticas de acordo com os sintomas das crianças. No estudo destes autores, foi encontrado para ambos os pais o uso de punição inconsistente, e somente para os pais (e não mães), o uso de negligência. Além disso, encontraram que o uso da prática de Punição Inconsistente pela mãe era restrito a crianças com apresentação combinada do transtorno, mas o uso das práticas pelos pais estava associado à todas as formas de apresentação. Johnston e Jassy (2007) proporam um modelo que preconiza que os sintomas de TDAH manifestados no início do desenvolvimento pelas crianças, como, por exemplo, dificuldade de modular o estado emocional, direcionar sua atenção e ter comportamentos imprevisíveis e impulsivos, representam desafios na habilidade dos pais de serem responsivos às necessidades da criança, ou seja, de exercerem controle de uma maneira firme, consistente e ao mesmo tempo sensível às necessidades do filho. Consequentemente, os pais apresentarão dificuldades em fornecer diretrizes externas essenciais para auxiliar a criança na posterior aquisição e desenvolvimento de habilidades autorregulatórias. Os sintomas de TDAH, portanto, resultam em sobrecarga parental, aumentando a probabilidade dos pais não adotarem práticas consistentes (cedendo frente aos comportamentos da criança), serem hiper-reativos em suas práticas (explosões de raiva constantes) ou, ainda, evitando o contato com os filhos (negligência). Além dos sintomas dos filhos, o modelo contempla outras variáveis que podem comprometer a habilidade parental, sendo algumas destes variáveis a presença de psicopatologia nos pais, a presença de stress e a discórdia conjugal. Entretanto, de acordo com este modelo proposto, esta dificuldade na habilidade parental acarretaria em frustração e afeto negativo nas crianças, favorecendo o aprendizado por elas de comportamentos oposicionistas e coercitivos. É importante destacar que este modelo 53 não considera as práticas dos pais como fator causal do desenvolvimento de problemas de contuda e oposicionistas em crianças com TDAH, mas sim como uma das variáveis que certamente contribui para este desfecho. Reforça-se, portanto, a necessidade de mais estudos e, consequentemente, a criação de programas de apoio que focalizem a dinâmica e o funcionamento dessas famílias, a fim de promover saúde mental, qualidade de vida e práticas parentais adequadas para pais de crianças e adolescentes com TDAH. 54 3. OBJETIVOS O objetivo geral deste estudo foi verificar as associações entre práticas educativas dos responsáveis e perfis cognitivos das crianças com TDAH e perfis comportamentais tanto das crianças com TDAH quanto de seus responsáveis. Como objetivos específicos, o estudo se propõe a: 1) avaliar quais tipos de práticas educativas parentais estão relacionadas com diferentes problemas de comportamento das crianças, bem como com suas competências sociais; 2) avaliar quais práticas educativas parentais estão relacionadas com habilidades de funções executivas das crianças; 3) avaliar quais perfis comportamentais, níveis de percepção de qualidade de vida e de suporte social dos responsáveis estão relacionados com práticas educativas parentais adotadas; 4) avaliar quais perfis comportamentais dos responsáveis estão associados com problemas de comportamento e competências sociais das crianças. 55 4. MÉTODO 4.1.Tipo de Pesquisa Trata-se de um estudo transversal com amostra de conveniência e correlacional, pois busca compreender o grau em que diversas variáveis estão relacionadas mutuamente e verificar se é possível predizer o comportamento de uma variável a partir de outra por meio da quantidade de variância comum ou compartilhada. É importante salientar que o estudo correlacional não possibilita interpretações que estabeleçam uma relação de causa e efeito entre as variáveis (URBINA, 2007), não sendo este também o objetivo deste estudo. 4.2. Local de Pesquisa O presente trabalho provém de um projeto mais amplo de pesquisa desenvolvido pelos professores Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira, Luiz Renato Rodrigues Carreiro e Salomão Schwartzman no Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento (PPGDD) da Universidade Presbiteriana Mackenzie, vinculado ao Grupo de Estudos em Psicodiagnóstico e Intervenção em Distúrbios do Desenvolvimento (GEPID), cadastrado no CNPq. Tal projeto mais amplo chamado “Correlações entre avaliações neuropsicológica, comportamental e clínica e testes computadorizados de atenção para rastreamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças e adolescentes” constitui-se de uma avaliação neuropsicológica, comportamental e clínica para crianças e adolescentes com queixa de TDAH (CARREIRO et al., 2014). Tal serviço é oferecido gratuitamente para a comunidade desde 2008 e ainda encontra-se em funcionamento. Inicialmente, apesar de realizada uma anamnese com os pais ou responsáveis, este projeto era focado somente na avaliação de crianças e adolescentes encaminhadas com a queixa. Com o passar do tempo, emergiu a necessidade de um olhar mais direcionado para a família (principalmente pais ou responsáveis). Com isso, em 2011, foi inserido no protocolo de pesquisa, uma avaliação dos familiares das crianças e adolescentes, com o intuito de compreender melhor a dinâmica familiar na qual a criança ou adolescente encaminhado está inserido. 56 Os dados foram coletados na clínica psicológica da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), localizada na cidade de São Paulo, como parte do protocolo de pesquisa já mencionado. 4.3. Participantes Os participantes foram selecionados do protocolo de avaliação neuropsicológica, comportamental e clínica para crianças e adolescentes com queixa de TDAH (CARREIRO et al., 2014). Como critérios de inclusão dos responsáveis, foram selecionados somente aqueles adultos que passam pelo menos quatro horas por dia interagindo de alguma forma com o filho. Desta forma, o responsável terá sido exposto a uma quantidade considerável de situações possíveis de observar o comportamento emitido pela criança. Outro critério de inclusão foi o preenchimento pelos pais do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006), questionário introduzido no protocolo apenas em 2011 quando a família passou a ser contemplada na avaliação. Para as crianças, o recebimento de diagnóstico compatível com TDAH a partir deste protocolo de avaliação foi considerado critério de inclusão. Outro critério de inclusão foi com relação às idades dos cuidadores e das crianças, devido à composição das amostras normativas dos instrumentos que foram utilizados nesta pesquisa. Portanto, os responsáveis deveriam ter entre 18 e 59 anos e as crianças entre 6 e 18 anos. O protocolo, desde 2008 até o momento deste trabalho, já avaliou 138 crianças e adolescentes com sinais de desatenção e hiperatividade. Como um dos critérios de inclusão era a confirmação do diagnóstico, dessas 138 crianças e adolescentes, apenas 52 receberam o diagnóstico. Destas 52, somente 26 tinham o IEP preenchido pelos pais, uma vez que este inventário foi introduzido apenas em 2011. Em contrapartida, a presença de rebaixamento cognitivo das crianças configurou critério de exclusão, sendo mensurado pelo QI do WISC-III (FIGUEIREDO, 2002), ou seja, todos os participantes que obtivessem QI menor que 70. Entretanto, nenhum participante foi excluído por esse critério. Com base nestes critérios, para este estudo a amostra foi composta por 26 crianças que tiveram diagnóstico compatível com TDAH, e seus respectivos responsáveis e professores. Para caracterização das crianças, a idade variou entre 6 e 16 anos (M = 9,5, DP =2,84), tendo distribuição na amostra conforme apresentado na Tabela 2. Destas 26 crianças, 17 eram meninos e 9, meninas. Com relação à forma de apresentação do 57 transtorno, nove foram identificados, de acordo com os critérios diagnósticos do DSMIV-TR (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002), como predominantemente desatentos e 17 com apresentação combinada, ou seja, com sintomas tanto de desatenção como de hiperatividade-impulsividade. No que se refere ao tipo de administração escolar, 22 crianças estudavam em colégio particular e apenas quatro em escola pública. Já a escolaridade das crianças pode ser consultada na Tabela 3, abaixo. Por último, os participantes obtiveram QI na Escala Wechsler de Inteligência para Crianças – WISC-III (FIGUEIREDO, 2002) entre 87 e 155 (M = 114,42, DP = 16,40), valores apresentados na Tabela 4. Tabela 2. Distribuição na amostra das crianças por idade. Idade Frequência Porcentagem Porcentagem acumulada 6 4 15,4 15,4 7 4 15,4 30,8 8 2 7,7 38,5 9 5 19,2 57,7 10 3 11,5 69,2 11 2 7,7 76,9 12 2 7,7 84,6 13 1 3,8 88,5 14 1 3,8 92,3 15 1 3,8 96,2 16 1 3,8 100,0 Total 26 100,0 Tabela 3. Distribuição na amostra das crianças por escolaridade. Escolaridade Frequência Porcentagem Porcentagem acumulada 1o ano EF 4 15,4 15,4 2o ano EF 6 23,1 38,5 3o ano EF 2 7,7 46,2 4o ano EF 5 19,2 65,4 5o ano EF 2 7,7 73,1 6o ano EF 1 3,8 76,9 7o ano EF 3 11,5 88,5 8o ano EF 1 3,8 92,3 9o ano EF 1 3,8 96,2 1o ano EM 1 3,8 100,0 Total 26 100,0 Nota: EF= Ensino Fundamental; EM=Ensino Médio 58 Tabela 4. Distribuição na amostra das crianças por nível de funcionamento intelectual (QI) obtido por meio do WISC-III. QI Frequência Porcentagem Porcentagem Acumulada 87 1 3,8 3,8 91 1 3,8 7,7 98 2 7,7 15,4 100 1 3,8 19,2 103 1 3,8 23,1 105 2 7,7 30,8 107 3 11,5 42,3 109 1 3,8 46,2 110 1 3,8 50,0 115 1 3,8 53,8 117 3 11,5 65,4 118 2 7,7 73,1 119 1 3,8 76,9 123 1 3,8 80,8 129 2 7,7 88,5 143 1 3,8 92,3 148 1 3,8 96,2 100,0 155 1 3,8 Total 26 100,0 Já com relação à caracterização dos responsáveis, a amostra foi composta por 23 mães biológicas, um pai biológico, uma avó biológica e uma mãe adotiva. Os responsáveis tinham idade entre 29 e 50 anos (M = 39,42, DP = 5,77), sendo possível verificar a distribuição na amostra na Tabela 5, abaixo. O nível de escolaridade dos responsáveis pode ser consultado na Tabela 6. Já o nível socioeconômico (ANEP, 2008) dos participantes da amostra variou da classe A1 até a classe C2, sem nenhum participante das classes D e E. A distribuição na amostra do nível socioeconômico pode ser consultada na Tabela 7. Tabela 5. Distribuição por idade dos responsáveis na amostra. Idade responsável Frequência Porcentagem Porcentagem acumulada 29 1 3,8 3,8 30 1 3,8 7,7 33 2 7,7 15,4 34 1 3,8 19,2 35 2 7,7 26,9 36 3 11,5 38,5 59 37 1 3,8 42,3 38 2 7,7 50,0 39 1 3,8 53,8 41 2 7,7 61,5 42 3 11,5 73,1 44 1 3,8 76,9 45 1 3,8 80,8 46 2 7,7 88,5 48 1 3,8 92,3 49 1 3,8 96,2 50 1 3,8 100,0 Total 26 100,0 Tabela 6. Distribuição por nível de escolaridade dos responsáveis na amostra. Nível de escolaridade Frequência Porcentagem Porcentagem acumulada Analfabeto/ até 3a série 1 3,8 3,8 Até 4a série Completo 2 7,7 11,5 Ensino Fundamental Completo 1 3,8 15,4 Ensino Médio Completo 10 38,5 53,8 Ensino Superior Completo 12 46,2 100,0 Total 26 100,0 Tabela 7. Distribuição por nível socioeconômico dos responsáveis na amostra. Nível socioeconômico Frequência Porcentagem Porcentagem acumulada A1 1 3,8 3,8 A2 3 11,5 15,4 B1 7 26,9 42,3 B2 8 30,8 73,1 C1 4 15,4 88,5 C2 3 11,5 100,0 Total 26 100,0 4.4. Instrumentos 4.4.1. Inventário de Estilos Parentais (IEP) 60 O inventário avalia sete práticas educativas parentais, sendo duas positivas (monitoria positiva e comportamento moral) e cinco negativas (monitoria negativa, punição inconsistente, disciplina relaxada, negligência e abuso físico). É composto por 42 itens, sendo cada prática educativa representada por um conjunto de seis itens. As respostas são em formato de escala likert de três pontos, ou seja, o respondente precisa escolher entre sempre (2 pontos), às vezes (1 ponto) e nunca (0 ponto) para as afirmações apresentadas. O IEP possui três versões, duas em que o filho responde sobre os pais (uma versão em que o filho responde em relação à mãe e outra em relação ao pai) e uma terceira versão de autoaplicação, que será utilizada neste estudo, em que os pais respondem sobre suas estratégias para orientar seu filho. O IEP fornece um índice de estilo parental, obtido por meio da subtração da soma das práticas negativas da soma das práticas positivas. A partir do escore bruto encontrado no índice, deve ser consultado o percentil correspondente. Os percentis são agrupados em quatro categorias que caracterizam a eficácia do estilo parental dominante, sendo que tais categorias indicam desde uma ótima prática parental até práticas parentais de risco. Há tabelas normativas separadas pelo gênero do cuidador (GOMIDE, 2006). 4.4.2. Questionários para Avaliação Comportamental Os próximos três instrumentos (ASR, CBCL/6-18 e TRF/6-18) pertencem ao Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado (ASEBA) de Achenbach e Rescorla, que possibilita comparações entre relatos permitindo verificar alterações do padrão comportamental da pessoa em função do sexo e faixa etária. 4.4.2.1. Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos/Adult SelfReport (ASR) Composto por 126 itens e no formato de autorrelato, este inventário é utilizado para obter informações sobre problemas de comportamento e funcionamento adaptativo de adultos de 18 a 59 anos. O ASR gera os seguintes perfis e escalas: Perfil das Síndromes, que engloba as escalas de problemas internalizantes e de problemas externalizantes; Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM; Escala do Funcionamento Adaptativo e Escala de Abuso de Substâncias. O Perfil das Síndromes contempla problemas relacionados a isolamento/depressão, ansiedade/depressão, queixas somáticas, problemas de pensamento, problemas de atenção, comportamento de quebrar regras, comportamento agressivo e comportamento intrusivo. Já o Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM engloba problemas de depressão, de ansiedade, somáticos, de 61 personalidade evitativa, de personalidade antissocial, e de déficit de atenção e hiperatividade. A Escala do Funcionamento Adaptativo obtém informações acerca dos amigos, família, trabalho, parceiro e educação. Por último, a Escala de Abuso de substâncias aborda o uso pelo respondente de tabaco, álcool e drogas. As respostas são dadas em uma escala likert de três pontos, sendo 0- atribuído se um item não é verdadeiro, 1 – se é pouco verdadeiro ou às vezes verdadeiro e 2 - se é muito verdadeiro ou frequentemente verdadeiro. Os escores brutos são inseridos no programa de computador Assessment Data Manager 7.2, onde são convertidos em escores ponderados (escores T), que se distribuem em faixas que oscilam entre ausência de problemas (normalidade), problemas limítrofes e problemas considerados clínicos (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Para o presente projeto, serão aplicadas a Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo. As principais ideias abordadas pelos itens estão apresentadas no Anexo 1 para a Escala das Síndromes e Anexo 2 para a Escala de Funcionamento Adaptativo. 4.4.2.2 Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 6 e 18 anos/ Child Behavior Checklist for ages 6-18 (CBCL/6-18) O inventário é preenchido pelos pais ou responsáveis acerca dos comportamentos de crianças e adolescentes de 6 a 18 anos, nos últimos seis meses. Composto por 136 itens, o inventário é dividido em duas partes, sendo a primeira parte destinada a avaliação da competência social/ funcionamento adaptativo da criança ou adolescente e a segunda parte referente à identificação de problemas de comportamento. A Escala de Competências fornece escores para envolvimento social, desempenho acadêmico e engajamento em atividades. Já a segunda parte, que identifica perfis comportamentais, é composta pela Escala das Síndromes, que contempla as escalas de problemas internalizantes e de problemas externalizantes, e pelo Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM. A Escala das Síndromes engloba problemas referentes à ansiedade/Depressão; Isolamento/Depressão; Queixas Somáticas; Problemas Sociais; Problemas de Pensamento; Problemas de Atenção; Comportamento de Quebrar Regras e Comportamento Agressivo. Já o Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM engloba problemas de depressão, de ansiedade, somáticos, de déficit de atenção e hiperatividade; desafiador opositivo e de conduta (ACHENBACH, RESCORLA, 2001, BORDIN et al., 2013). As respostas e a geração dos perfis ocorrem da mesma forma que no ASR. Para o presente projeto, serão aplicadas a Escala das Síndromes e a Escala Total de 62 Competências do CBCL/6-18. As principais ideias abordadas pelos itens estão apresentadas no Anexo 3 para a Escala das Síndromes e Anexo 4 para a Escala Total de Competências. 4.4.2.3 Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes entre 06 e 18 anos – Formulário para o Professor/ Teacher Report Form for ages 6 - 18 (TRF/6-18) O inventário é preenchido pelo professor que informa a sua percepção em relação ao comportamento apresentado pela criança nos últimos seis meses; A primeira parte deste inventário constitui o Perfil da Escala do Funcionamento Adaptativo, permitindo identificar o perfil de competências social e escolar da criança. Na segunda parte, o informante preenche questões atribuindo respostas pensadas nos últimos seis meses. O respondente deve marcar as perguntas com 0 (zero) se o mesmo não é verdadeira, 1 (um) se é um pouco verdadeira ou algumas vezes verdadeira, e 2 (dois) se é muito verdadeira ou frequentemente verdadeira. As respostas a essas questões geram, como no CBCL/6-18, o Perfil das Escalas das Síndromes e o Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM. O Perfil das Escalas das Síndromes envolve os problemas de comportamento internalizantes (Ansiedade/Depressão, Isolamento/ Depressão, Queixas Somáticas), problemas de comportamento externalizantes (Violação de Regras e Comportamento Agressivo) e Problemas Totais (Problemas de comportamento Internalizantes e Externalizantes, Problemas de Sociabilidade, Problemas de Pensamento e Problemas de Atenção). Já o Perfil das Escalas Orientadas pelo DSM envolve Problemas Afetivos, Problema de Ansiedade, Problemas Somáticos, Problemas de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Problemas de Oposição e Desafio e Problemas de Conduta. Outras Escalas destes inventários são Ritmo Cognitivo Lento, Problemas Obsessivo-Compulsivo e Problemas de Estresse Pós-Traumático (ACHENBACH, RESCORLA, 2004, 2001). As respostas e a geração dos perfis ocorrem da mesma forma que no ASR e no CBCL/6-18. Para o presente projeto, serão aplicadas a Escala das Síndromes e a Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18. As principais ideias abordadas pelos itens estão apresentadas no Anexo 5 para a Escala das Síndromes e Anexo 6 para a Escala de Funcionamento Adaptativo. 63 4.4.3. Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida “WHOQOL-bref” Versão reduzida do WHOQOL-100 (FLECK et al., 2000) que, por sua vez, foi desenvolvido a partir de um enfoque transcultural, visando refletir a percepção que a pessoa avaliada tem de seu contexto cultural, social e do meio ambiente. Desenvolvido pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial de Saúde, o instrumento é de rápida aplicação e composto por 26 questões, sendo duas perguntas gerais sobre qualidade de vida e as outras representando as 24 facetas do WHOQOL-100, divididas em quatro domínios: Físico, Psicológico, Relações Sociais e Meio Ambiente. O domínio Físico engloba itens que investigam se o respondente sente dor e desconforto, energia ou fadiga para a realização das tarefas diárias, como está o seu sono e repouso, sua mobilidade, suas atividades no dia-a-dia, se depende de medicação ou de tratamentos e como está sua capacidade de trabalho. O domínio psicológico versa sobre sentimentos positivos e negativos do respondente com relação à vida, sua autoestima, aceitação de sua aparência física e espiritualidade. O domínio Relações Sociais mensura o quão satisfeito o respondente está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos e colegas), com sua vida sexual e com o apoio que recebe da comunidade. Por último, o domínio Meio Ambiente refere-se a quão satisfeito o respondente está com a sua segurança física, lugar aonde reside, meio de transporte, serviços de saúde, oportunidades de recreação e lazer, entre outros. Derivado do WHOQOL-100, o WHOQOL-bref, utilizado nesta pesquisa, é resultado da necessidade de instrumentos curtos que demandem pouco tempo de aplicação, mas que preservem as características psicométricas do instrumento original. Para apuração dos dados, será utilizado um software em Excel desenvolvido por Pedroso, Pilatti, Gutierrez e Picinin (2010) 4.4.4. Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF) O inventário é composto por 42 afirmações relacionadas a situações familiares em que o sujeito deve marcar a frequência com que cada situação acontece em sua família. O objetivo do IPSF é avaliar o quanto as pessoas percebem seu suporte familiar, de acordo com três fatores: Afetivo-consistente, Autonomia e Adaptação Familiar. O fator Afetivo-consistente refere-se à expressão de afetividade, tanto verbal como não verbal, entre os membros da família, sendo possível verificar se há comunicação entre os membros para resolução de problemas, clareza das regras familiares e acolhimento pela família. Já o fator Autonomia avalia se há relações de 64 confiança, liberdade e privacidade entre os membros. Por fim, o fator Adaptação Familiar refere-se à existência de comportamentos e sentimentos negativos do respondente com relação aos demais membros da família, como raiva, irritação, vergonha, incompreensão e a existência de relações familiares agressivas. O fator Adaptação Familiar é o único do IPSF que é pontuado de forma invertida, ou seja, quanto maior a pontuação, mais adaptado o respondente estará em sua família. A pontuação obtida para cada fator e para o índice total é transformada em percentil e classificada como baixo, médio-baixo, médio-alto ou alto (BAPTISTA, 2010). 4.4.5. Questionário Sociodemográfico Possibilitará a caracterização do participante e de seus dados, além de obter a classe econômica do pesquisado. Esta pesquisa e sistema de classificação econômica são baseados no modelo da ANEP – Associação Nacional de Empresas de Pesquisa (2008). 4.4.6. Conners’ Continuous Performance Test II (CPT II) O Teste de Desempenho Contínuo de Conners (EPSTEIN et al., 2003; CONNERS et al., 2003) é computadorizado e se propõe a avaliar mecanismos envolvidos na função da atenção-concentração. Consiste na apresentação, na tela de um computador, de letras em intervalos variáveis de tempo. O participante recebe instruções para pressionar a tecla de espaço ou o botão esquerdo do mouse sempre que surgir qualquer letra menos o X. Quando o X aparece na tela, a resposta deve ser inibida. O teste avalia os erros e o tempo de reação da criança. Os resultados são comparados a uma amostra normativa composta por grupo clínico (com provável TDAH) e controle (sem características do transtorno). O resultado global é dado pela porcentagem de probabilidade de o indivíduo se situar em um dos dois grupos que compõem a amostra. Também são fornecidos indicadores sobre o estado de vigilância da criança durante a execução do teste. Há estudos com a população brasileira (MIRANDA et al., 2012). 4.4.7. Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (WCST) Considerado uma excelente medida do funcionamento do lobo pré-frontal, ou seja, das funções executivas, o Teste Wisconsin de Classificação de Cartas (CUNHA et al., 2005) é composto por quatro cartas estímulos e um baralho de 128 cartas que o examinando utiliza para responder ao teste. Tais cartas apresentam uma configuração 65 específica de cor, forma e número. As diversas formas possíveis são cruzes, círculos, triângulos ou estrelas. As cores em que as formas estão impressas podem ser amarelo, vermelho, azul ou verde. Já a quantidade de formas apresentadas em cada cartão pode variar de um a quatro estímulos. O examinando é instruído a associar a carta recebida com uma das quatro cartas modelo. Para isso, ele deve estabelecer relações entre as cartas que podem ser em função da cor, número ou forma dos estímulos das cartas. O examinando só poderá saber se a relação estabelecida está certa ou errada, não sendo revelada qual a regra vigente em cada rodada. Após dez acertos consecutivos, a regra é alterada e uma nova categoria de associação se inicia. O examinando precisa, então, orientar-se pelos feedbacks fornecidos pelo aplicador para descobrir qual a nova regra vigente. As respostas são avaliadas com fundamento em três dimensões: correta e incorreta, ambígua e não ambígua, perseverativa e não perseverativa. Os escores que serão utilizados são número total de acertos, de erros perseverativos, fracasso em manter o contexto e respostas de nível conceitual. 4.4. Procedimentos de Coleta de Dados Os dados dos participantes foram extraídos do protocolo de pesquisa de Carreiro e colaboradores (2014), já submetido e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Presbiteriana Mackenzie (CEP/UPM n° 1232/04/2010 e CAAE n° 0039.0.272.000-10). Os dados utilizados para estudo foram coletados entre 2011 e 2015. No protocolo desenvolvido por Carreiro e colaboradores (2014), os próprios pais ou responsáveis procuram a clínica do programa citado em busca de uma avaliação de seus filhos que, na maioria das vezes, foram encaminhados pela escola. No que se refere à avaliação neuropsicológica e comportamental, após uma triagem presencial, os pais são convidados a comparecerem a mais dois encontros, com duração aproximada de 60 minutos cada, que se destina à avaliação tanto dos pais como da criança. Com relação aos inventários autoaplicáveis, os pais sempre são acompanhados na sala em caso de haver alguma dúvida durante o preenchimento. No final do processo, é realizada a devolutiva aos responsáveis acerca da avaliação. Os instrumentos aplicados nos pais ou responsáveis são o Questionário Sociodemográfico, Inventário de Autoavaliação para Adultos (ASR), Inventário de Estilos Parentais (IEP), Inventário de Percepção de Suporte Familiar (IPSF), 66 Instrumento Abreviado de Avaliação da Qualidade de Vida (WHOQOL-bref) e Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes (CBCL/6-18). Já os professores das crianças de ambos os grupos respondem somente ao Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes – Formulário para o professor (TRF/618). Para traçar o perfil cognitivo das crianças de ambos os grupos, são aplicados somente o Teste Wisconsin de Classificação de Cartas e o Conners Continuous Performance Test (CPT). Os indicadores de funcionamento cognitivo utilizados e as respectivas funções avaliadas estão descritas na Tabela 8 abaixo: Tabela 8. Índices dos testes cognitivos e respectivas funções avaliadas Teste Índice Wisconsin Número de erros perseverativos: Persistir em Função Avaliada Flexibilidade uma resposta errada cognitiva Número de acertos Memória operacional Fracasso em manter o contexto: Erra após Memória sequência de pelo menos cinco acertos operacional consecutivos Respostas de nível conceitual: Conjunto de pelo Memória menos três acertos consecutivos, indicando que a operacional criança sabe qual a categoria vigente Teste Índice Função Avaliada CPT Detectabilidade: habilidade de descriminar entre Atenção seletiva alvos e não alvos Número de omissões: não resposta motora Atenção seletiva quando era esperado a resposta Número de comissões: resposta motora quando o Controle inibitório correto era não resposta Tempo médio de resposta (HRT – Hit Reaction Atenção seletiva 67 Time) Desvio padrão: consistência na velocidade da Atenção seletiva e resposta sustentada Variabilidade de consistência na velocidade da Atenção seletiva e resposta sustentada Perseverações: respostas aleatórias ou Controle inibitório antecipadas HRT por mudança de bloco: alteração de Atenção sustentada velocidade de resposta entre blocos de ensaio Omissões por bloco: alvos perdidos por blocos Atenção seletiva e atenção sustentada Comissões por bloco: respostas incorretas a não Controle inibitório e alvos por bloco atenção sustentada HRT intervalo inter-estímulo (ISI): alteração na Atenção seletiva velocidade da resposta em diversos intervalos Omissões pelo ISI: alvos perdidos pelo ISI Atenção seletiva Comissões pelo ISI: respostas incorretas a não Atenção seletiva e alvos pelo ISI controle inibitório 4.5. Análise de Dados Todos os dados obtidos por meio dos instrumentos citados foram analisados de modo quantitativo, corrigidos de acordo com as instruções que constam nos respectivos manuais e os resultados foram comparados com a amostra normativa. As respostas aos itens dos inventários de comportamento CBCL/6-18, ASR e TRF/6-18 foram inseridas no software do Sistema de Avaliação Empiricamente Baseado de Achenbach (Achenbach System of Empirically Based Assessmente – ASEBA), chamado de Software Assessment Data Manager (ADM), o qual apurou as respostas e classificou os comportamentos de acordo com a amostra normativa correspondente do Grupo Standard. Apesar das normas brasileiras integrarem o Grupo 3 para o CBCL/6-18 e 68 TRF/6-18 (RESCORLA et al., 2012), o ASR ainda não tem normas específicas para o Brasil. Por conta disso, foram usadas as normas do Standard para comparação dos diferentes instrumentos ASEBA para ter a mesma base de referência. Já o WHOQOLbref, os dados foram apurados no software em Excel desenvolvido por Pedroso, Pilatti, Gutierrez e Picinin (2010). Com relação às analises estatísticas, seguindo orientações de Dancey e Reidy (2006) devido ao tamanho amostral reduzido, foram realizadas análises de correlação de Spearman entre os escores das diferentes escalas dos instrumentos para verificar a associação entre as práticas educativas parentais e indicadores de problemas de comportamento e competências sociais das crianças, bem como entre práticas parentais adotadas e desempenho das crianças em testes que avaliam funções executivas. Também foram realizadas análises de correlação (rho de Spearman) entre as práticas educativas e perfis comportamentais parentais, bem como com os níveis percebidos pelos responsáveis de qualidade de vida e suporte familiar. Por fim, foram realizadas análises de correlação (rho de Spearman) entre os perfis comportamentais dos responsáveis e das crianças. As análises dos dados foram realizadas no pacote estatístico Statistical Package for Social. Sciences – SPSS, versão 20.0. 69 5. RESULTADOS Em primeiro lugar, será realizada uma descrição do desempenho dos participantes nos instrumentos aplicados para que seja possível conhecer como a amostra se comportou nos constructos avaliados. No que se refere às práticas educativas parentais usadas pelos responsáveis da amostra avaliado pelo IEP (GOMIDE, 2006), os resultados podem ser visualizados na Tabela 9. É importante ressaltar que os responsáveis podem fazer uso de mais de uma prática. A maioria dos participantes obteve um desempenho regular acima da média e ótimo nas práticas positivas de Monitoria Positiva (77%) e Comportamento Moral (69,2%), indicando um uso frequente destas práticas pela amostra. Já com relação às práticas consideradas negativas, houve uma variação de frequência de uso. Quase metade dos participantes da amostra relatou fazer uso frequente da prática de Punição Inconsistente e de Negligência (46,2% e 46,1%, respectivamente), situando-se para estas práticas na faixa de risco ou regular abaixo da média. Já quanto às práticas negativas de Abuso Físico e Monitoria Negativa, houve um predomínio de uso avaliado como de risco ou regular abaixo da média dessas práticas, contemplando 76,9% da amostra para a primeira prática e 69,2% para a segunda. A única prática negativa em que a maior parte dos participantes obteve desempenho regular, acima da média ou ótimo foi a prática de Disciplina Relaxada, totalizando 69,2% da amostra. Ou seja, a prática de Disciplina Relaxada não representa uma prática frequentemente usada pelos responsáveis da amostra estudada. Com relação ao Estilo Parental adotado, o qual refere-se ao conjunto das práticas parentais adotadas, a amostra ficou com 50% dos participantes com estilo avaliado como de risco ou regular abaixo da média, e 50% com estilo considerado regular acima da média ou ótimo. Tabela 9. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da amostra no Inventário de Estilos Parentais - IEP Monitoria Positiva Comportamento Moral F % F % F % F % Risco 3 11,5 3 11,5 4 15,4 7 26,9 Regular abaixo da média 3 11,5 5 19,2 8 30,8 5 19,2 10 38,5 4 15,4 1 3,8 4 15,4 10 38,5 14 53,8 13 50,0 10 38,5 26 100,0 26 100,0 26 100,0 26 100,0 Classificação Regular acima da média Ótimo Total Punição Inconsistente Negligência 70 Disciplina Relaxada Monitoria Negativa F % F % F % F % Risco 6 23,1 11 42,3 16 61,5 9 34,6 Regular abaixo da média 2 7,7 7 26,9 4 15,4 4 15,4 Classificação Abuso Físico Estilo Parental Total Regular acima da média Ótimo 7 26,9 5 19,2 0 0,0 7 26,9 11 42,3 3 11,5 6 23,1 6 23,1 Total 26 100,0 26 100,0 26 100,0 26 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Com relação à percepção dos responsáveis quanto ao suporte familiar que recebem (Tabela 10), avaliado pelo IPSF (BAPTISTA, 2010), 60% e 64% da amostra relataram satisfação alta ou médio alta quanto ao fator Afetivo-Consistente e ao fator Adaptação Familiar, respectivamente. Tais dados significam que apenas um pouco mais da metade da amostra tem acolhimento em sua família, com expressão de afetividade e diálogo entre os membros familiares, bem como ausência de comportamentos e sentimentos negativos com relação aos demais membros da família. Resultado similar se aplica ao fator Autonomia, em que 68% reportou percepção alta ou médio alta de relações de confiança, liberdade e privacidade entre os membros de sua família. Por último, o índice total do IPSF indicou que apenas metade (52%) da amostra está satisfeita com o suporte que recebe de sua família, classificando este suporte como médio alto ou alto. Os demais 48% percebem o suporte recebido como baixo ou médio baixo. Tabela 10. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da amostra no Inventário de Percepção do Suporte Familiar - IPSF AfetivoConsistente Adaptação Familiar Autonomia IPSF Total F % F % F % F % Baixo 5 20,0 3 12,0 4 16,0 7 28,0 Médio Baixo 5 20,0 6 24,0 4 16,0 5 20,0 Médio Alto 3 12,0 5 20,0 5 20,0 2 8,0 Alto 12 48,0 11 44,0 12 48,0 11 44,0 Classificação Total 25 100,0 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Um participante não respondeu este instrumento 71 Já com relação à percepção pelos responsáveis da qualidade de vida, os resultados estão apresentados por domínio (Tabela 11 e Figura 1) e por conteúdo abordado em cada item (Figura 2) no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref (FLECK et al., 2000). A Tabela 11 e a Figura 1 apresentam as pontuações do grupo nos diferentes domínios do WHOQOL-Bref, sendo que a Tabela 11 contém as médias e desvios-padrão e a Figura 1 as porcentagens de satisfação do grupo nestes domínios. Ao analisar o desempenho dos responsáveis como um grupo, todos os domínios, de certa forma, receberam avaliação final satisfatória. Entretanto, dentre todos os domínios, houve avaliação melhor do domínio de relações sociais e pior do domínio de meio ambiente. Tais resultados indicam que houve uma tendência por parte dos responsáveis deste estudo a estarem mais satisfeitos com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos e colegas), com sua vida sexual e com o apoio que recebe da comunidade do que com a sua segurança física, lugar onde reside, meio de transporte, serviços de saúde e oportunidades de recreação e lazer. Já a Figura 2 mostra uma visão geral do grupo no que se refere à satisfação refletida em cada item do WHOQOL-Bref. É possível verificar que os responsáveis, de modo geral, estão muito satisfeitos com a sua capacidade de mobilidade física (item “Quão bem você é capaz de se locomover?)” e poucos satisfeitos no que se refere aos itens de dor e desconforto (item “Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa?”), dependência de medicações ou de tratamentos (item “O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária?”) e de sentimentos negativos (“Com que frequência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão?”). Ou seja, os responsáveis da amostra tenderam a ter pontuações elevadas nestes três itens. Tabela 11. Descrição das médias e desvios-padrão da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref. Domínio WHOQOL-Bref M DP Físico 14,68 2,32 Psicológico 14,39 2,29 Relações Sociais 15,09 2,92 Meio Ambiente 13,52 1,96 TOTAL 14,26 1,71 Legenda: M = Média; DP = Desvio-Padrão 72 Físico 66,76 Psicológico 64,97 Relações Sociais 69,33 Ambiente 59,50 TOTAL 64,10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 1. Descrição dos resultados em porcentagens da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref por domínio Dor e desconforto Energia e fadiga Sono e repouso Mobilidade Atividades da vida cotidiana Dependência de medicação ou de tratamentos Capacidade de trabalho Sentimentos positivos Pensar, aprender, memória e concentração Auto-estima Imagem corporal e aparência Sentimentos negativos Espiritualidade/religião/crenças pessoais Relações pessoais Suporte e apoio pessoal Atividade sexual Segurança física e proteção Ambiente do lar Recursos financeiros Cuidados de saúde Novas informações e habilidades Recreação e lazer Ambiente físico Transporte Auto-avaliação da Qualidade de Vida 33,00 61,46 59,00 90,00 61,00 36,00 65,00 59,00 63,00 75,00 69,00 39,00 63,00 69,00 73,00 66,00 67,00 69,00 41,00 73,00 64,00 47,00 54,00 61,00 63,00 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Figura 2. Descrição por item dos resultados em porcentagens da amostra no Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOL-Bref 73 No que se refere à percepção dos responsáveis sobre seus próprios problemas de comportamento, mensurada pela Escala das Síndromes do ASR (ACHENBACH, RESCORLA, 2001) e apresentada na Tabela 12, os participantes de uma maneira geral relataram poucos problemas de comportamento. Serão apresentados os problemas de comportamento relatados pelos responsáveis por ordem de maior frequência de classificação clínica ou limítrofe: Ansiedade/Depressão (20,9%), Problemas Somáticos (20,9%), Quebrar Regras (20,9%), Agressividade (20,8%), Retraimento Social (16,7%), Problemas de Atenção (16,7%). Apenas um participante relatou problemas com o pensamento e nenhum fez menção à comportamento intrusivo. Quanto à percepção dos problemas externalizantes, internalizantes e totais, reportados na Escala das Síndromes do ASR a partir dos problemas de comportamento, os resultados podem ser verificados na Tabela 13. Dos problemas apresentados, houve um predomínio dos problemas internalizantes (45,8%) com relação aos externalizantes (29,2%), o que resultou em 29,2% de problemas totais apresentados pela amostra. Na Tabela 13, ainda são apresentados os resultados para a amostra com relação aos itens críticos do instrumento. Os itens considerados críticos no ASR referem-se à comportamentos que podem colocar em risco a integridade física do respondente, no caso o responsável pela criança, como também a das pessoas a sua volta. Como pode ser observado, a maior parte dos responsáveis (87,5%) teve pontuação baixa nestes itens, situando-se na faixa normal. Já na Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR (Tabela 14), apenas 25%, 16% e 15% da amostra obteve classificação entre clínico e limítrofe nos índices de Forças Pessoais, de Parceiro e de Trabalho, respectivamente. Ou seja, com relação ao parceiro e trabalho, a maior parte dos responsáveis relatou ter relações satisfatórias nestas duas áreas. Já no que se refere às forças pessoais, a maioria também se considera aberta à novas experiências e atenta às necessidades do próximo. Os demais índices foram ainda mais satisfatórios para a amostra, com apenas 8,4% com classificação considerada clínico ou limítrofe no que se refere à existência de uma rede de amigos próximos e todos os participantes situaram-se na faixa normal no índice referente à qualidade das relações estabelecidas com os membros da família. Com isso, a média de adaptação foi normal para a maior parte dos participantes (91,7%). Nenhum participante relatou fazer uso de substâncias. 74 Tabela 12. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre seus próprios problemas de comportamento na Escala das Síndromes do ASR. ASR Classificação Clínico Ansiedade/ Depressão Retraimento Social Problemas Somáticos Problemas com Pensamento F % F % F % F % 4 16,7 1 4,2 1 4,2 0 0 Limítrofe 1 4,2 3 12,5 4 16,7 1 4,2 Normal 19 79,1 20 83,3 19 79,1 23 95,8 Total 24 100,0 24 100,0 24 100,0 24 100,0 Classificação Clínico Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade Comportamento Intrusivo F % F % F % F % 3 12,5 3 12,5 4 16,7 0 0,0 Limítrofe 1 4,2 2 8,3 1 4,2 0 0,0 Normal 20 83,3 19 79,2 19 79,1 24 100,0 Total 24 100,0 24 100,0 24 100,0 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Dois participantes não responderam este instrumento. Tabela 13. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre seus próprios problemas de comportamento internalizantes, externalizantes e totais da Escala das Síndromes do ASR. ASR Classificação Problemas Internalizantes Problemas Externalizantes Problemas Totais Itens Críticos F % F % F % F % Clínico 9 37,5 5 20,8 6 25,0 2 8,3 Limítrofe 2 8,3 2 8,4 1 4,2 1 4,2 Normal 13 54,2 17 70,8 17 70,8 21 87,5 Total 24 100,0 24 100,0 24 100,0 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Dois participantes não responderam este instrumento. Tabela 14. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da autopercepção dos responsáveis na Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR. ASR Classificação Forças Pessoais Amigos Parceiro F % F % F % Clínico 4 16,7 1 4,2 1 5,3 Limítrofe 2 8,3 1 4,2 2 10,5 Normal 18 75,0 22 91,7 16 84,2 Total 24 100,0 24 100,0 19 100,0 75 Família Classificação Trabalho Média de Adaptação F % F % F % Clínico 0 0,0 1 7,7 0 0,0 Limítrofe 0 0,0 1 7,7 2 8,3 Normal 24 100,0 11 84,6 22 91,7 Total 24 100 13 100,0 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Dois participantes não responderam a este instrumento. As escalas “Parceiro” e “Trabalho” eram optativas. No que se refere à percepção dos responsáveis quanto aos problemas de comportamento das crianças mensurado no CBCL/6-18 (ACHENBACH, RESCORLA, 2001), os resultados estão disponíveis na Tabela 15. O principal problema relatado pelos responsáveis e que é compatível com a queixa que motivou a busca pela avaliação foi o problema de atenção, com 84,6% da amostra entre clínico e limítrofe. O segundo problema mais frequente nas crianças, de acordo com o relato dos responsáveis, foi ansiedade/depressão (65,4%), seguido de problemas sociais, problemas com o pensamento e agressividade (57,7% para cada problema). Já para os demais problemas de comportamento, mais da metade das crianças foram classificadas pelos responsáveis na faixa normal, como pode ser observado em problemas somáticos (65,4%), retraimento/depressão (65,4%) e comportamento de quebrar regras (80,8%), não representando problemas de comportamento frequentes na amostra enquanto grupo estudado. Com isso, como mostra a Tabela 16, as crianças foram percebidas com alto índice tanto de problemas internalizantes (80,8% entre clínico e limítrofe) como de problemas externalizantes, embora de menor frequência que o primeiro (65,3% entre clínico e limítrofe), resultando em 88,4% de problemas totais entre clínico e limítrofe. Assim como ocorreu com os responsáveis no ASR, houve predominância de problemas internalizantes nas crianças, segundo a percepção dos responsáveis. Já na Escala Total de Competências do CBCL/6-18 (Tabela 17), 60% das crianças da amostra tiveram desempenho na escola entre clínico e limítrofe, o que significa que apresentam problemas na escola, podem já ter repetido algum ano escolar ou frequentar sala de recursos especiais. No que se refere ao desempenho social e em atividades das crianças, 30,7% e 46,2% das crianças, respectivamente, foram classificadas como clínico ou limítrofe de acordo com a percepção dos responsáveis. Com isso, o índice total de competências, calculado a partir do desempenho nas três subescalas anteriores, foi classificado como normal apenas para 36% das crianças. 76 Tabela 15. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre os problemas de comportamento das crianças na Escala das Síndromes do CBCL/6-18. CBCL/6-18 Classificação Ansiedade/ Depressão Retraimento/ Depressão Problemas Somáticos F % F % F Problemas Sociais % F % Clínico 10 38,5 6 23,1 4 15,4 9 34,6 Limítrofe 7 26,9 3 11,5 5 19,2 6 23,1 Normal 9 34,6 17 65,4 17 65,4 11 42,3 Total 26 100,0 26 100,0 26 100,0 26 100,0 Classificação Problemas com o Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade F % F % F % F % 10 38,5 19 73,1 2 7,7 10 38,5 Limítrofe 5 19,2 3 11,5 3 11,5 5 19,2 Normal 11 42,3 4 15,4 21 80,8 11 42,3 Total 26 100,0 26 100,0 26 100,0 26 100,0 Clínico Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Tabela 16. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre os problemas internalizantes, externalizantes e totais das crianças na Escala das Síndromes do CBCL/6-18 CBCL/6-18 Classificação Problemas Internalizantes Problemas Externalizantes Problemas Totais F % F % F % Clínico 19 73,1 14 53,8 20 76,9 Limítrofe 2 7,7 3 11,5 3 11,5 Normal 5 19,2 9 34,6 3 11,5 Total 26 100,0 26 100,0 26 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. 77 Tabela 17. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos responsáveis sobre as crianças na Escala Total de Competências do CBCL/6-18. Classificação Clínico Competências em Atividades F % 6 23,1 CBCL/6-18 Competências Competências Sociais Escolares F % F % 3 11,5 6 24,0 Total Competências F 12 % 48,0 Limítrofe 6 23,1 5 19,2 9 36,0 4 16,0 Normal 14 53,8 18 69,2 10 40,0 9 36,0 Total 26 100,0 26 100,0 25 100,0 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: A escala “Escola” não foi respondida por um dos participantes, não sendo possível calcular o Total de Competências para esta criança. Com relação à percepção pelos professores quanto aos problemas de comportamentos das crianças pelo TRF/6-18, os resultados podem ser verificados na Tabela 18. Contrariamente aos responsáveis, os professores perceberam bem menos problemas de comportamentos no ambiente escolar, sendo que nenhum problema de comportamento foi frequentemente percebido. Os problemas de comportamento classificados como normais pelos professores serão apresentados por ordem de maior frequência, ou seja, aqueles que estão mais ausentes na amostra. São eles: problemas somáticos (92%), problemas com o pensamento (84%), ansiedade/depressão (80%), depressão (76%), problemas sociais (76%), comportamento de quebrar regras (76%), problemas de atenção (72%) e agressividade (68%). Considerando todos os problemas interalizantes, 36% das crianças obteve classificação clínica para este índice, em comparação à 48% que obteve classificação entre clínico e limítrofe para os problemas externalizantes. Com isso, o índice de problemas totais foi clínico ou limítrofe para 64% da amostra. Diferentemente da percepção dos responsáveis, os professores perceberam mais problemas extenalizantes (Tabela 19). Já na Tabela 20, é possível verificar os resultados das crianças para os comportamentos de desatenção e hiperatividade/impulsividade que constituem escala separada do TRF/6-18. Nesta escala, os professores relataram comportamentos de desatenção e hiperatividade/impulsividade dentro da faixa normal para 64% e 72% das crianças, respectivamente, o que indica presença maior de comportamentos de desatenção que de hiperatividade/impulsividade, percebidos pelos professores no ambiente escolar. 78 Por último, na Escala Total de Competências do TRF/6-18 apresentada na Tabela 21, os professores relataram desempenho normal para mais da metade das crianças da amostra nas seguintes subescalas: felicidade (83,3%), desempenho acadêmico (72%), esforço (68%), aprendizagem (58,3%) e bom comportamento (52%). Com isso, o índice total de competências, calculado a partir da soma das subescalas, foi avaliado como normal apenas para 52,2% das crianças da amostra. Tabela 18. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os problemas de comportamento das crianças na Escala das Síndromes do TRF/6-18. TRF/6-18 Classificação Ansiedade/ Depressão Depressão Problemas Somáticos % F % Problemas Sociais F % F Clínico 4 16,0 1 4,0 2 8,0 1 4,0 Limítrofe 1 4,0 5 20,0 0 0,0 5 20,0 Normal 20 80,0 19 76,0 23 92,0 19 76,0 Total 25 100,0 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Classificação Clínico Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras F % Agressividade F % F % F % F % 3 12,0 2 8,0 6 24,0 4 16,0 Limítrofe 1 4,0 5 20,0 0 0,0 4 16,0 Normal 21 84,0 18 72,0 19 76,0 17 68,0 Total 25 100,0 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Um professor não respondeu este instrumento. Tabela 19. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os problemas internalizantes, externalizantes e totais das crianças na Escala das Síndromes do TRF/6-18 TRF/6-18 Problemas Internalizantes F % Problemas Externalizantes F % Clínico 9 36,0 10 Limítrofe 0 0,0 Normal 16 Total 25 Classificação Problemas Totais F % 40,0 10 40,0 2 8,0 6 24,0 64,0 13 52,0 9 36,0 100,0 25 100,0 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Um professor não respondeu este instrumento. 79 Tabela 20. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre os comportamentos de desatenção e hiperatividade/impulsividade das crianças no TRF/6-18. TRF/6-18 Desatenção Classificação Hiperatividade/ Impulsividade F % F % 3 12,0 3 12,0 Limítrofe 6 24,0 4 16,0 Normal 16 64,0 18 72,0 Total 25 100,0 25 100,0 Clínico Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Um professor não respondeu este instrumento. Tabela 21. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem da percepção dos professores sobre as crianças na Escala Total de Competências do TRF/6-18. TRF/6-18 Classificação Clínico Desempenho Acadêmico F % F % F % 6 4 16,0 7 28,0 24,0 Esforço Bom Comportamento Limítrofe 1 4,0 4 16,0 5 20,0 Normal 18 72,0 17 68,0 13 52,0 Total 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Classificação Aprendizagem Felicidade Soma dos Itens F % F % F % Clínico 4 16,7 2 8,3 4 17,4 Limítrofe 6 25,0 2 8,3 7 30,4 Normal 14 58,3 20 83,3 12 52,2 Total 24 100,0 24 100,0 23 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Um professor não respondeu este instrumento. As escalas “Aprendizagem” e “Felicidade” não foram respondidas por um participante, sendo que não foi o mesmo nas duas escalas. Com isso, não foi possível calcular o total para duas crianças. No que se refere ao desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos testes cognitivos, os resultados serão apresentados a seguir. Na Tabela 22 estão disponíveis os resultados do desempenho nos índices do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas - WCST. A partir dos dados disponibilizados na tabela, é possível verificar que as crianças e adolescentes da amostra não fizeram uma quantidade significativa de erros no instrumento, pois todos os participantes situaram-se dentro ou acima da média quanto aos erros e ao percentual de erros. Entretanto, apesar de não terem cometido muitos erros, a maior parte da amostra teve erros qualificados como perseverativos. Ou seja, dos erros cometidos, a maioria era do tipo perseverativo em que 80 a criança insistia em uma resposta mesmo após saber que estava errada na tentativa anterior. Do total de crianças da amostra, 92% e 64% obteve classificação entre moderadamente comprometido e abaixo da média para erros perseverativos e para percentual de erros perseverativos, respectivamente. Consequentemente, foram poucos os erros do tipo não-perseverativo, com 84% para os índices de total de erros perseverativos e de percentual de erros perseverativos. Já quanto às respostas perseverativas, que englobam tanto os erros quanto os acertos (possível no caso de respostas ambíguas), mais da metade da amostra (64% e 56%) também teve número elevado de respostas deste tipo, com desempenho classificado entre moderadamente comprometido e abaixo da média nos índices de total de respostas perseverativas e de percentual de respostas perseverativas, respectivamente. No que se refere às respostas de nível conceitual, que indicam que a criança entendeu qual era a categoria vigente, apenas um participante teve desempenho não satisfatório, classificado como levemente comprometido neste índice. Os demais tiveram desempenho considerado dentro ou acima da média. A Tabela 23 apresenta quantas categorias os participantes conseguiram completar, sendo que praticamente metade (52%) da amostra conseguiu completar todas as seis categorias. Já a Tabela 24 apresenta quantos ensaios foram necessários para os participantes completarem a primeira categoria. A partir desta informação é possível saber quantas tentativas foram feitas até que a criança entendesse qual era critério vigente ao se subtrair o número total usado de ensaios por dez (quantidade de acertos consecutivos necessário para uma categoria ser completada). Com isso, a maior parte da amostra (68%) aprendeu rapidamente qual era o princípio vigente, necessitando de no máximo duas tentativas para descobrir a regra e completar a categoria. Apenas 8% da amostra precisou de uma quantidade elevada de tentativas (entre 54 e 74 tentativas) até descobrir qual era o princípio vigente e os 24% restantes da amostra tiveram desempenho intermediário, ou seja, não foram extremamente rápidos na descoberta do critério, mas também não demoraram como os 8% já mencionados. Estes 24% precisaram entre 4 e 11 tentativas até descobrir a categoria correta. No caso da quantidade de ensaios usada para realizar o teste, a Tabela 25 mostra que quase metade da amostra (48%) precisou usar todas as cartas (ensaios) do baralho para realizar o teste. Os demais participantes conseguiram completar as seis categorias do teste antes de esgotar as cartas do baralho, com total de cartas usadas variando entre 81 86 e 123. Já na Tabela 26 é possível verificar se houve fracasso em manter o contexto no teste, ou seja, se os participantes erraram após sequência de pelo menos cinco acertos consecutivos no teste, e quantos fracassos ocorreram. Do total da amostra, 60% teve pelo menos um fracasso em manter o contexto. Tabela 22. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas- WCST. Total de Erros Classificação Percentual do Total de Erros Respostas Perserverativas F % F % F % 0 0 0 0 1 4,0 0 0 0 0 9 36,0 0 0 0 0 6 24,0 Moderadamente comprometido Levemente comprometido Abaixo da média Dentro da média Acima da média 7 28,0 5 20,0 7 28,0 18 72,0 20 80,0 2 8,0 Total 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Classificação Moderadamente comprometido Levemente comprometido Abaixo da média Dentro da média Acima da média Total Classificação Moderadamente comprometido Levemente comprometido Abaixo da média Dentro da média Acima da média Percentual de Respostas Perseverativas F % Erros Perseverativos Percentual Erros Perseverativas F % F % 1 4,0 3 12,0 2 8,0 9 36,0 13 52,0 11 44,0 4 16,0 7 28,0 3 12,0 9 36,0 1 4,0 7 28,0 2 8,0 1 4,0 2 8,0 25 100,0 25 100,0 25 100,0 Erros Não Perseverativos Percentual de Erros Não Perseverativos Percentual de Respostas de Nível Conceitual F % F % F % 0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 8,0 2 8,0 1 4,0 2 8,0 2 8,0 0 0,0 8 32,0 8 32,0 7 28,0 13 52,0 13 52,0 17 68,0 Total 25 100,0 25 100,0 25 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Uma criança não respondeu este instrumento. 100,0 82 Tabela 23. Descrição da quantidade de categorias completadas do Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. Categorias Completadas F % 1 1 4,0 2 1 4,0 3 5 20,0 4 4 16,0 5 1 4,0 6 13 52,0 Total 25 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Uma criança não respondeu este instrumento. 100,0 Tabela 24. Descrição dos ensaios para completar a primeira categoria no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. Ensaios Primeira Categoria F % 10 2 8,0 11 9 36,0 12 6 24,0 14 1 4,0 15 1 4,0 17 2 8,0 20 1 4,0 21 1 4,0 64 1 4,0 84 1 4,0 Total 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Uma criança não respondeu este instrumento. Tabela 25. Descrição do total de ensaios administrados no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. Ensaios Administrados F % 86 1 4,0 87 2 8,0 92 1 4,0 93 1 4,0 99 2 8,0 101 1 4,0 102 1 4,0 109 1 4,0 116 1 4,0 83 118 1 4,0 123 1 4,0 128 12 48,0 Total 25 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Uma criança não respondeu este instrumento. Tabela 26. Descrição da quantidade de fracassos em manter o contexto no Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST em frequência e porcentagem. WCST Fracasso para Manter o Contexto 0 F % 10 40,0 1 7 28,0 2 4 16,0 3 1 4,0 4 3 12,0 Total 25 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Uma criança não respondeu este instrumento. 100,0 Com relação ao desempenho no Teste de Desempenho Contínuo de Conners CPT-II, os resultados dos índices de omissões, comissões, detectabilidade e perseverações estão apresentados na Tabela 27. De acordo com os dados desta tabela, a maioria das crianças e adolescentes (75%) cometeu poucas omissões, com desempenho entre dentro da média e boa performance, o que significa que, no geral, tiveram resposta motora quando era esperado na tarefa. Resultado similar ocorreu com a quantidade de comissões em que também 75% da amostra teve o desempenho neste índice classificado como dentro ou acima da média, o que indica que conseguiram inibir a resposta motora quando era necessária essa inibição. Já no índice de detectabilidade que avalia a capacidade de discriminar entre alvo e não alvo, 70,8% da amostra teve desempenho entre dentro da média e muito boa performance. Por fim, no índice de perseverações, um pouco mais da metade (62%) dos participantes teve desempenho satisfatório, entre dentro da média e muito boa performance. Portanto, de um modo geral, não foram cometidos números elevados de respostas perseverativas, ou seja, respostas motoras executadas em menos de 100 milissegundos após o aparecimento do estímulo. De acordo com o manual (CONNERS et al., 2003), do ponto de vista fisiológico é impossível que o examinando perceba e reaja a um estímulo tão rapidamente, configurando respostas motoras antes de 100 milissegundos perseverativas, pois seriam respostas aleatórias ou antecipadas. em respostas 84 Já os dados referentes ao tempo de reação (velocidade de resposta) estão apresentados na Tabela 28. Metade da amostra (50%) apresentou tempo de reação dentro da média, 16,7% teve tempo de reação um pouco rápido e 33,3% foi classificado com tempo de reação entre atipicamente lento ou um pouco lento, quando comparados com a média. Com relação ao desvio padrão do tempo de reação, 62,5% da amostra teve desempenho satisfatório, entre dentro da média e boa performance. Esta é uma medida que indica a consistência no tempo de resposta. No que se refere à variabilidade dessa consistência na velocidade da resposta, ou seja, o quanto o participante consegue manter a consistência no tempo de reação ao longo do teste, um pouco mais da metade (58,3%) dos participantes da amostra teve desempenho satisfatório neste índice, entre dentro da média e boa performance. Quanto ao estilo de resposta, que avalia a acurácia da resposta em detrimento da velocidade, um pouco mais da metade dos participantes (58,3%) teve desempenho dentro da média e o restante (41,7%) obteve classificação entre marcadamente ou levemente atípico, o que indica que estes participantes se importaram mais em ser rápidos do que em serem precisos nas respostas. Já na Tabela 29 são apresentados os resultados da amostra nos índices de tempo de reação e desvio padrão do tempo de reação, ambos por mudança de bloco e por mudança no intervalo inter-estímulo. Com relação à medida de tempo de reação por mudança de bloco, a maior parte dos participantes (83,4%) teve desempenho classificado entre dentro da média e muito boa performance, o que indicou que não houve tendência a uma lentidão no tempo de reação conforme progressão do teste para a maioria das crianças e adolescentes avaliados. Já na medida de desvio padrão do tempo de reação por mudança de bloco, também a maior parte (70,8%) das crianças e adolescentes tiveram desempenho satisfatório, classificado como dentro da média e muito boa performance, indicando que a consistência no tempo de reação foi mantida ou aumentada conforme o teste progredia para boa parte da amostra. Com relação à mudança no intervalo inter-estímulos, ou seja, nos três intervalos de aparecimento do estímulo (1, 2 e 4 segundos), 75% e 66,7% da amostra obtiveram pontuações entre dentro da média e muito boa performance nos índices de tempo de reação e desvio padrão do tempo de reação, respectivamente. Estes resultados indicam que a maioria dos participantes tende a ter uma reação mais rápida e com menor chance de erro conforme o tempo para aparecer o estímulo era maior, o que é esperado. 85 Tabela 27. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices de omissões, comissões, detectabilidade e perseverações do Teste de Desempenho Contínuo de Conners - CPT-II. Omissões Comissões Classificação F % F % Marcadamente atípico 3 12,5 1 4,2 Levemente atípico 3 12,5 5 20,8 Dentro da média 12 50,0 13 54,2 Boa performance 6 25,0 2 8,3 Muito boa performance 0 0,0 3 12,5 Total 24 100,0 24 100,0 Detectabilidade Classificação Perseverações F % F % Marcadamente atípico 2 8,3 5 20,8 Levemente atípico 5 20,8 4 16,7 Dentro da média 11 45,8 9 37,5 Boa performance 4 16,7 6 25,0 Muito boa performance 2 8,3 0 0,0 Total 24 100,0 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Duas crianças não responderam este instrumento. Tabela 28. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças e adolescentes da amostra nos índices de Tempo de reação, Erro padrão do tempo de reação, Variabilidade e Estilo de Resposta do CPT-II. Classificação Tempo de Reação (HRT) F % Atipicamente lento 3 12,5 Um pouco lento 5 Dentro da média Um pouco rápido Total Classificação Erro padrão do Tempo de Reação (HRT Std.error) F % Marcadamente atípico 3 12,5 20,8 Levemente atípico 6 25,0 12 50,0 Dentro da média 7 29,2 4 16,7 Boa performance 8 33,3 Muito boa performance 0 0,00 Total 24 100,0 24 100,0 86 Variabilidade Classificação Estilo de Resposta F % Marcadamente atípico 2 8,3 Levemente atípico 8 Dentro da média Classificação F % Marcadamente atípico 1 4,2 33,3 Levemente atípico 9 37,5 8 33,3 Dentro da média 14 58,3 Boa performance 6 25,0 Boa performance 0 0,0 Muito boa performance 0 0,0 Muito boa performance 0 0,0 Total 24 100,0 Total 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem. Nota: Duas crianças não responderam este instrumento. Tabela 29. Descrição dos resultados em frequência e porcentagem do desempenho das crianças nos índices de tempo de reação e desvio padrão do tempo de reação, ambos por mudança de bloco e por mudança no intervalo inter-estímulo, do CPT-II Classificação Marcadamente atípico Levemente atípico Dentro da média HRT por Mudança de Bloco HRT Desvio Padrão por Mudança de Bloco F % F % 3 12,5 3 1 4,2 10 41,7 HRT por Mudança no ISI HRT Desvio Padrão por Mudança no ISI F % F % 12,5 3 12,5 2 8,3 4 16,7 3 12,5 6 25,0 9 37,5 12 50,0 9 37,5 Boa 9 37,5 6 25,0 6 25,0 6 25,0 performance Muito boa 1 4,2 2 8,3 0 0,0 1 4,2 performance Total 24 100,0 24 100,0 24 100,0 24 100,0 Legenda: F= Frequência; %=Porcentagem; HRT= Tempo de Reação; ISI= intervalo inter-estímulo. Nota: Duas crianças não responderam este instrumento. Uma vez conhecido o desempenho da amostra nos diferentes domínios avaliados, serão apresentados os resultados das análises de correlação do presente estudo. Para tanto, serão retomados os objetivos específicos para facilitar a apresentação dos resultados e posterior discussão. O primeiro objetivo deste trabalho foi avaliar quais tipos de práticas educativas parentais estão relacionadas com problemas de comportamentos das crianças, bem como com suas competências sociais. Para atingir este objetivo, foram realizadas análises de correlação de Spearman entre os escores do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006) e os escores T das Escala das Síndromes e Escala Total de Competências do Inventário de Comportamentos para 87 Crianças e Adolescentes - CBCL/6-18 (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Na Tabela 30, são apresentadas somente as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05). Para verificar todas as correlações entre ambos os instrumentos, os resultados estão disponibilizados no Anexo 7. Tabela 30. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e competências das crianças no contexto familiar CBCL/6-18. Escalas IEP Monitoria Positiva rho de Spearman p Problemas Sociais -0,452* 0,021 Problemas com o Pensamento -0,476* 0,014 Problemas de Atenção -0,392* 0,048 Comportamento de Quebrar Regras -0,400* 0,043 Agressividade -0,529** 0,006 Problemas Externalizantes -0,544 ** 0,004 Problemas Totais -0,500** 0,009 26 Quanto mais a prática de Monitoria 26 Positiva foi usada pelos responsáveis, menor foi a ocorrência nas crianças seguintes problemas de 26 dos comportamentos, segundo a percepção dos responsáveis: 26 Problemas Sociais, Problemas com o 26 Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento de Quebrar Regras, 26 Agressividade, Problemas Externalizantes e Problemas Totais. 26 Competências em Atividades 0,581** 0,002 26 Total Competências 0,552** 0,004 25 -0,456* 0,019 26 Problemas de Atenção 0,453* 0,020 26 Agressividade 0,427* 0,029 26 Problemas Externalizantes 0,401* 0,043 26 Problemas Somáticos -0,429* 0,029 26 Ansiedade e Depressão Problemas com o Pensamento 0,450* 0,021 26 0,461* 0,018 26 Problemas Internalizantes 0,508** 0,008 26 Problemas Totais 0,433* 0,027 26 CBCL Comportamento Problemas com o Moral Pensamento Punição Inconsistente Negligência Disciplina Relaxada n Interpretação da análise O uso da prática parental de Monitoria Positiva está diretamente associado com um melhor desempenho das crianças em atividades e em competências. Quanto mais frequente foi o uso da prática parental positiva de Comportamento Moral, menos as crianças apresentaram problemas com o pensamento, de acordo com o relato dos responsáveis O uso da prática parental de Punição Inconsistente está relacionado a um aumento percebido pelos responsáveis de problemas de atenção, agressividade e problemas externalizantes nas crianças. A prática parental negativa de Negligência está associada à menor percepção pelos responsáveis da existência de problemas somáticos nas crianças. O uso da prática parental negativa de Disciplina Relaxada está diretamente correlacionado com o aumento, relatado pelos responsáveis, de problemas internalizantes, como ansiedade e depressão e problemas com o pensamento, além de problemas totais nas crianças. 88 Monitoria Negativa Abuso Físico Agressividade 0,396* 0,045 Problemas de Atencão 0,592** 0,001 Comportamentos de Quebrar Regras 0,398* Agressividade 0,671** Problemas Externalizantes 0,642** Problemas Totais 0,480* O uso da prática parental negativa chamada Monitoria Negativa está 26 associado a um aumento de agressividade nas crianças, de acordo com a percepção dos responsáveis. 26 A prática parental negativa de Abuso Físico está diretamente correlacionada ao aumento de 0,044 26 problemas externalizantes, como quebrar regras e agressividade, <0,001 26 problemas de atenção e problemas nas crianças, segundo <0,001 26 totais percepção dos responsáveis. 0,013 26 26 Quanto mais adequado foi o Estilo Parental usado pelos responsáveis, Agressividade -0,536** 0,005 26 menores foram os problemas relatados de atenção, problemas Problemas Externalizantes -0,531** 0,005 26 externalizantes, principalmente a * -0,447 0,022 26 agressividade, e problemas totais nas Estilo Parental Problemas Totais crianças. Total O uso de estilos parentais adequados, Competências em 0,429* 0,029 26 por parte dos responsáveis, Atividades correlacionou-se com melhora no desempenho das crianças em 0,426* 0,034 25 atividades e em competências sociais, Total Competências segundo relato dos responsáveis. Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam Problemas de Atenção -0,600** 0,001 aos dois instrumentos. Nota: A escala “Escola” não foi respondida por um dos participantes, não sendo possível calcular o Total de Competências para esta criança De acordo com os dados apresentados na Tabela 28, as práticas educativas parentais positivas e o estilo parental total adequado se correlacionaram com a diminuição de problemas de comportamento nas crianças, segundo a percepção dos responsáveis. De modo mais detalhado, o uso frequente da prática de Monitoria Positiva, ou seja, toda prática que envolve atenção, demonstração de afeto e carinho para com a criança, foi relacionado à diminuição de problemas sociais, problemas com o pensamento, problemas de atenção, comportamento de quebrar regras, agressividade, problemas externalizantes e problemas totais. No caso da prática Comportamento Moral, outra prática positiva que se refere à capacidade dos pais em transmitir os valores aos seus filhos, o seu uso frequente pelos responsáveis se associou apenas à diminuição de problemas com o pensamento nas crianças. Quanto ao estilo parental total, quanto mais adequado foi considerado o estilo, menos foram os problemas de atenção, agressividade, externalizantes e totais relatados pelos pais nas crianças. 89 Em contrapartida, o uso de práticas educativas parentais negativas foi positivamente associado a um aumento de problemas de comportamentos nas crianças. A prática negativa de Punição Inconsistente, caracterizada pela atribuição de punição ou reforço de um comportamento de acordo com o humor dos pais, está relacionada a um aumento de problemas de atenção, comportamentos agressivos e problemas externalizantes nas crianças. A prática parental de Negligência que consiste em não suprir as necessidades dos filhos e se ausentar das responsabilidades como responsáveis, está associada à menor percepção pelos responsáveis da existência de problemas somáticos nas crianças. O uso da prática parental de Disciplina Relaxa em que os responsáveis não cumprem as próprias regras que criaram, foi relacionada a um aumento de problemas internalizantes, como ansiedade e depressão e problemas com o pensamento, além de problemas totais nas crianças. Já a prática Monitoria Negativa, caracterizada por uma tentativa excessiva dos responsáveis para controlar a vida dos filhos, foi correlacionada positivamente apenas com o comportamento agressivo nos filhos. Ou seja, quanto mais frequente o uso desta prática, mais recorrente também foi o relato de comportamentos agressivos nos filhos. Por último, a prática negativa de abuso físico, em que os responsáveis se utilizam de força física para agredir e machucar seus filhos sob a justificativa de estarem educando, foi associada positivamente a um aumento de diversos problemas externalizantes as crianças, como quebrar regras e agressividade, problemas de atenção e problemas totais, segundo percepção dos próprios responsáveis. No que se refere às competências da criança, apenas a prática parental positiva de Monitoria Positiva e o estilo parental total apresentaram correlação significativa. Ambos, Monitoria Positiva e estilo parental total adequado, foram positivamente correlacionados com melhor competência em atividades e total de competências da criança. Como o CBCL/6-18 refere-se à percepção dos responsáveis acerca dos comportamentos das crianças, foram usados também os dados do TRF/6-18 que contempla a visão do professor sobre as crianças para tirar o viés do relato do responsável que é o mesmo que responde sobre as práticas parentais usadas. Portanto, ainda para atingir o primeiro objetivo proposto de avaliar quais tipos de práticas educativas parentais estão relacionadas com problemas de comportamentos das crianças, bem como com suas competências sociais, foram realizadas análises de 90 correlação de Spearman entre os escores do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006) e os escores T das Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo do Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes - TRF/6-18 (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Na Tabela 31, são apresentadas somente as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05). Para verificar todas as correlações entre ambos os instrumentos, os resultados estão disponibilizados no Anexo 8. Tabela 31. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e funcionamento adaptativo das crianças no contexto escolar - TRF/6-18. Escalas IEP Monitoria Positiva Punição Inconsistente Negligência TRF rho de Spearman p n Problemas de Atenção -0,421* 0,036 25 Problemas Somáticos 0,416* 0,039 25 Problemas com o Pensamento 0,513** 0,009 25 Problemas de Atenção 0,608** 0,001 25 Problemas Totais 0,483* 0,014 25 Desempenho Acadêmico -0,521** 0,008 25 Desempenho Acadêmico -0,538** 0,006 25 Problemas Totais -0,418* 0,038 25 Desempenho Acadêmico 0,488* 0,013 25 Estilo Parental Total Interpretação da análise O uso da prática parental de Monitoria Positiva pelos responsáveis associou-se à uma diminuição de problemas de atenção nas crianças em sala de aula. Quanto mais a prática de Punição Inconsistente foi usada pelos responsáveis, mais os professores identificaram os seguintes problemas de comportamentos nas crianças: problemas somáticos, problemas com o pensamento, problemas de atenção e problemas totais. O aumento da frequência da prática de Punição Inconsistente pelos responsáveis associou-se à piora de rendimento acadêmico da criança avaliado pelo professor. O aumento da frequência da prática de Negligência pelos responsáveis associou-se à piora de rendimento acadêmico da criança avaliado pelo professor. Quanto mais adequado foi o Estilo Parental usado pelos responsáveis, menor foi o relato de problemas totais da criança pelo professor. Quanto mais adequado foi o Estilo Parental usado pelos responsáveis, melhor foi o desempenho acadêmico da criança, avaliado pelo professor. 91 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. Nota: Um professor não respondeu ao TRF/6-18. Em comparação com os resultados do CBCL/6-18, foram encontradas menos correlações significativas entre as práticas educativas usadas pelos responsáveis e os problemas de comportamento e competências na criança no contexto escolar. Apesar de menos correlações significativas, a mesma tendência se manteve, ou seja, as práticas parentais positivas e estilo parental total adequado se associaram com diminuição de problemas de comportamento e aumento de desempenho na área de competências. O uso da prática de Monitoria Positiva pelos responsáveis se associou a um menor relato de problemas de atenção nas crianças e o uso adequado de estilo parental também foi correlacionado com diminuição dos problemas totais e com melhora no desempenho acadêmico das crianças. Também seguindo na mesma linha dos resultados com o CBCL/6-18 em que práticas parentais negativas se associaram a um aumento de problemas de comportamento nas crianças, a prática de Punição Inconsistente apresentou correlações estatisticamente significativas com o aumento dos seguintes problemas: somáticos, com o pensamento, de atenção e totais nas crianças. Junto com a prática de Punição Inconsistente, a prática de Negligência mostrou associação negativa com o desempenho acadêmico, ou seja, quanto mais frequentes foram usadas estas duas práticas, piores foram os desempenhos acadêmicos das crianças, segundo o relato do professor. Além das Escalas das Síndromes e de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18, foram realizadas análises de correlações entre as práticas parentais do IEP e os escores de desatenção e hiperatividade de uma escala do TRF/6-18 específica para estes comportamentos, separada das demais escalas. Os resultados dessas correlações podem ser consultados na Tabela 32. Entretanto, apenas as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05) foram inseridas nesta tabela. Para verificar todas as correlações entre estes instrumentos, os resultados estão disponibilizados no Anexo 9. 92 Tabela 32. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de desatenção e hiperatividade de crianças no TRF/6-18. Escalas IEP rho de Spearman p n Interpretação da análise Desatenção -0,401* 0,047 25 Hiperatividade -0,420* 0,036 25 O uso da prática de Monitoria Positiva pelos responsáveis foi associado à diminuição de comportamentos de desatenção e hiperatividade nas crianças no ambiente escolar. Desatenção 0,448* 0,025 25 Hiperatividade 0,489* 0,013 25 TRF Monitoria Positiva Punição Inconsistente Abuso Físico Estilo Parental Total Hiperatividade Hiperatividade 0,483* -0,420* 0,014 0,037 A prática Punição Inconsistente usada pelos responsáveis se correlacionou à ocorrência de problemas de desatenção e hiperatividade nas crianças, em sala de aula. 25 O uso de Abuso Físico pelos responsáveis foi associado à comportamentos de hiperatividade nas crianças na escola. 25 Quanto mais adequado o estilo parental usado pelos responsáveis, menor foi a ocorrência de hiperatividade nas crianças em sala de aula. Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. Nota: Um professor não respondeu ao TRF/6-18. Os dados da Tabela 32 indicam que a prática de Monitoria Positiva está associada negativamente com a ocorrência de comportamentos de desatenção nas crianças no ambiente escolar, enquanto que a prática de Punição Inconsistente remete a um aumento deste problema, de acordo com o professor. A Monitoria Positiva e um adequado estilo parental usado pelos responsáveis estão relacionados à diminuição de sinais de hiperatividade nas crianças, ao passo que as práticas negativas de Punição Inconsistente e Abuso Físico se relacionam diretamente com a ocorrência deste comportamento no ambiente escolar. 93 Para contemplar o segundo objetivo específico do trabalho, o qual é avaliar quais práticas educativas parentais estão relacionadas com habilidades de funções executivas das crianças; foram realizadas análises de correlações de Spearman entre os escores do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006) e os escores T dos testes cognitivos aplicados nas crianças, os quais foram: Teste Wisconsin de Classificação de Cartas – WCST (CUNHA et al., 2005) e Teste de Desempenho Contínuo de Conners – CPT-II (EPSTEIN et al., 2003; CONNERS et al., 2003). As correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05) podem ser visualizadas na Tabela 33. Para verificar todas as correlações entre os instrumentos citados, os resultados estão disponibilizados no Anexo 10. Tabela 33.Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e desempenho das crianças nos testes cognitivos aplicados (WCST e CPT-II). Escalas IEP Monitoria Positiva Comportamento Moral rho de Spearman p n -0,593** 0,002 25 -0,558** 0,004 25 -0,553** 0,004 25 -0,534** 0,006 25 -0,558** 0,004 25 -0,542** 0,005 25 -0,436* 0,029 25 -0,411* 0,046 24 -0,427* 0,038 24 0,434* 0,027 24 CPT Comissões -0,536** 0,007 24 CPT Detectabilidade -0,654** 0,001 24 WCST/CPT-II WCST Total de Erros WCST Percentual de Total de Erros WCST Respostas Perseverativas WCST Percentual de Respostas Perseverativas WCST Erros Perseverativos WCST Percentual de Erros Perseverativos WCST Erros Não Perseverativos CPT Comissões CPT Detectabilidade WCST Respostas de Nível Conceitual Interpretação da análise O uso da prática parental de Monitoria Positiva pelos responsáveis se associou a menores pontuações em diversos indicadores negativos do WCST e do CPT-II listados a seguir: Total de erros, percentual de total de erros, respostas perseverativas, percentual de respostas perseverativas, erros perseverativos, percentual de erros perseverativos e erros não perseverativos no WCST. Já no CPT-II, comissões e detectabilidade O uso da prática positiva de Comportamento Moral se associou à pontuações elevadas no escore de respostas de nível conceitual no WCST, como também à menos comissões e menores pontuações em detectabilidade no CPT-II. 94 WCST Total de Erros 0,399* 0,048 25 WCST Ensaios para Primeira Categoria 0,415* 0,039 25 CPT Omissões -0,516** 0,010 24 WCST Total de Acertos WCST Respostas Perseverativas WCST Percentual Respostas Perseverativas -0,470* 0,018 25 * 0,028 25 0,436* 0,029 25 Monitoria Negativa WCST Erros Não Perseverativos 0,406* 0,044 25 A prática Monitoria Negativa foi relacionada à mais erros do tipo não perseverativo no WCST. Abuso Físico WCST Fracasso em Manter o Contexto 25 O uso de Abuso Físico se correlacionou com menor quantidade de fracassos em manter o contexto no WCST. Negligência Disciplina Relaxada 0,440 -0,401 * 0,047 A prática de Negligência se correlacionou positivamente com total de erros e quantidade de ensaios para completar a primeira categoria no WCST. Contrariamente, a prática de Negligência foi associada à poucas omissões da criança no CPT-II. O uso da Disciplina Relaxada foi associado a menos acertos, mais respostas perseverativas e maior percentual de respostas perseverativas no WCST. WCST Total de -0,447* 0,025 25 Erros WCST Percentual -0,413* 0,040 25 Quanto mais adequado foi o estilo Total de Erros parental adotado pelos responsáveis, WCST Respostas -0,516** 0,008 25 menos erros totais, erros perseverativos Perseverativas e respostas perseverativas foram Estilo Parental WCST Percentual cometidos pelas crianças no WCST. O Total de Respostas -0,486* 0,014 25 estilo adequado também foi associado a Perseverativas menores percentuais de total de erros, WCST Erros -0,456* 0,022 25 de respostas perseverativas e de erros Perseverativos perseverativos. WCST Percentual de Erros -0,435* 0,030 25 Perseverativos Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. Nota: Uma criança não respondeu ao WCST e duas não responderam ao CPT-II. Nota: A direção das correlações do teste Wisconsin foi invertida para acompanhar o mesmo raciocínio de interpretação dos escores T do CPT-II, o qual é: quanto maior, pior o desempenho. No caso do Wisconsin, a interpretação era ao contrário, quanto maior a pontuação, melhor o desempenho. Como é possível de ser observado na Tabela 33, de uma maneira geral, o uso de práticas parentais positivas pelos responsáveis se associou à menores pontuações em diversos indicadores negativos de desempenho do WCST e do CPT-II, ao passo que o uso de práticas negativas se correlacionou com pior desempenho nestas tarefas cognitivas, apesar de algumas exceções que serão apresentadas a seguir. O uso frequente da prática parental de Monitoria Positiva foi correlacionado a menores quantidades de erros, de respostas perseverativas, erros perseverativos e erros 95 não perseverativos, bem como menores percentuais de total de erros, de respostas perseverativas e de erros perseverativos no WCST. O uso da prática também positiva de Comportamento Moral se correlacionou à maiores pontuações no escore de Respostas de Nível Conceitual, ou seja, a criança entendeu qual era a categoria vigente que ela deveria associar as cartas mais frequentemente. Já no CPT-II, o uso de ambas as práticas positivas se associou à menores quantidades de comissões e detectabilidade. No que tange às práticas educativas negativas, a prática de Negligência foi relacionada a um número maior de erros e à uma quantidade maior de ensaios para completar a primeira categoria no WCST. Já no CPT-II, a correlação com omissões foi negativa, ou seja, esta prática foi associada com menor número de omissões neste teste. Com relação à prática de Disciplina Relaxada, houve correlação positiva com respostas perseverativas e com percentual de respostas perseverativas no WCST. Ainda sobre esta prática, foi encontrada correlação negativa com total de acertos no WCST, ou seja, quanto mais esta prática foi usada, menos acertos as crianças fizeram no teste. O uso da Monitoria Negativa se associou apenas à maior número de erros não perseverativos no WCST. Já a prática de Abuso Físico se associou à melhor desempenho em um índice do WCST, o índice de fracasso em manter o contexto. Com relação ao Estilo Parental Total, quanto mais adequado foi o estilo parental adotado pelos responsáveis, menos erros totais, erros perseverativos e respostas perseverativas foram cometidos pelas crianças no WCST. O estilo adequado também foi associado a maiores percentuais de total de erros, de respostas perseverativas e de erros perseverativos. O terceiro objetivo específico deste trabalho consiste em avaliar quais perfis comportamentais, níveis percebidos de qualidade de vida e de suporte social dos responsáveis estão relacionados com práticas educativas parentais adotadas. Considerando primeiro a análise que investiga a relação entre práticas educativas parentais e perfis comportamentais dos responsáveis, foram realizadas análises de correlações de Spearman entre os escores do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006) e os escores T das Escalas das Síndromes e do Funcionamento Adaptativo do Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos – ASR (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Estes resultados podem ser vistos na Tabela 34. 96 Tabela 34. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR. Escalas IEP ASR 0,030 24 Amigos 0,485* 0,016 24 Parceiro 0,477* 0,039 19 Família -0,506* 0,012 24 Ansiedade e Depressão 0,640** 0,001 24 Retraimento Social 0,506* 0,012 24 * 0,031 24 0,460* 0,024 24 0,502* 0,012 24 <0,001 24 0,481* 0,017 24 0,516** 0,010 24 Agressividade Comportamento de Quebrar regras Itens Críticos ** 0,616 0,001 24 0,702** <0,001 24 ** <0,001 24 ** 0,006 24 * 0,011 19 0,658 -0,543 Parceiro -0,568 Média de adaptação -0,760** <0,001 24 Problemas com o Pensamento -0,440* 0,032 24 Ansiedade e Depressão 0,498* 0,013 24 0,455 * 0,026 24 Problemas de Atenção 0,467 * 0,021 24 Comportamento de Quebrar Regras Problemas Externalizantes 0,689** <0,001 24 0,482* 0,017 24 Problemas Totais 0,485* 0,016 24 0,409 * 0,047 24 0,493 * 0,014 24 0,447 * 0,029 24 Retraimento Social Retraimento Social Monitoria Negativa 0,769 ** Problemas Externalizantes Amigos Disciplina Relaxada 0,441 Problemas Internalizantes Problemas Totais Negligência n -0,443* Somático Problemas com o pensamento Problemas de atenção Punição Inconsistente p Agressividade Monitoria Positiva Comportamento Moral rho de Spearman Agressividade Problemas Internalizantes Interpretação da análise O uso da prática parental de Monitoria Positiva associou-se à menos comportamentos de agressividade nos responsáveis. Quanto maior foi a satisfação do responsável com relação aos amigos e ao parceiro, maior foi a frequência do uso da prática parental de Monitoria Positiva Quanto maior foi a satisfação do responsável com relação à família, menor foi a frequência do uso da prática parental de Comportamento Moral Quanto maior foi a frequência de uso da prática parental de Punição Inconsistente, maior foi também a ocorrência de diversos problemas de comportamentos nos responsáveis, os quais foram: ansiedade/depressão, retraimento social, problemas somáticos, problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes, internalizantes e totais. Além disso, a prática também se associou positivamente à pontuação mais alta nos itens críticos do ASR. O uso da prática de Punição Inconsistente foi associado com menor satisfação dos responsáveis com os amigos e parceiro, resultando em média de adaptação também menor. O uso da prática de negligência foi correlacionado à menos problemas com o pensamento nos responsáveis O uso da prática Disciplina Relaxada foi associada à existência dos seguintes problemas de comportamentos nos responsáveis: ansiedade/depressão, retraimento social, problemas de atenção, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes e problemas totais. O uso da prática de monitoria negativa correlacionou-se positivamente com diversos problemas de comportamento nos 97 responsáveis, os quais foram retraimento social, agressividade, internalizantes, Problemas Totais 0,460* 0,024 24 problemas externalizantes e totais. Amigos -0,419* 0,042 24 O uso da prática de Monitoria Negativa foi associado com menor satisfação dos responsáveis com os Média de adaptação -0,546** 0,006 24 amigos e com menor média de adaptação. Ansiedade e Depressão 0,434* 0,034 24 Quanto maior foi a frequência de uso da prática parental de Abuso Físico, Agressividade 0,641** 0,001 24 maior foi também a ocorrência dos Comportamento de Quebrar * problemas de 0,499 0,013 24 seguintes Regras comportamentos nos responsáveis: Itens Críticos 0,496* 0,014 24 ansiedade/depressão, agressividade, ** Problemas Externalizantes 0,629 0,001 24 comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes e totais. Abuso Físico Além disso, a prática também se Problemas Totais 0,433* 0,034 24 associou positivamente à pontuação mais alta nos itens críticos do ASR. ** Parceiro -0,676 0,001 19 O uso da prática de Abuso Físico foi associado com menor satisfação dos ** Média de adaptação -0,546 0,006 24 responsáveis com o parceiro e com menor média de adaptação. ** Ansiedade e Depressão -0,560 0,004 24 Quanto mais adequado o Estilo Parental adotado, menor foi a Problemas de Atenção -0,410* 0,047 24 ocorrência dos seguintes problemas de comportamentos nos responsáveis: Agressividade -0,673** <0,001 24 ansiedade/depressão, problemas de atenção, agressividade, Comportamento de Quebrar -0,546** 0,006 24 comportamento de quebrar regras, Regras internalizantes, Itens Críticos -0,457* 0,025 24 problemas externalizantes e totais. Além disso, a -0,483* 0,017 24 prática também se associou Estilo Parental Problemas Internalizantes Total Problemas Externalizantes -0,646** 0,001 24 negativamente à pontuação nos itens críticos do ASR, ou seja, quanto mais adequado o estilo parental, menor a Problemas Totais -0,527** 0,008 24 pontuação nos itens críticos do instrumento. * Amigos 0,511 0,011 24 O uso de um Estilo Parental adequado foi relacionado à maior Parceiro 0,633** 0,004 19 satisfação dos responsáveis com os ** Média de adaptação 0,540 0,006 24 amigos e parceiro, resultando em média maior de adaptação. Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam Problemas Externalizantes 0,460* 0,024 24 aos dois instrumentos. Nota: Dois participantes não responderam ao ASR. As escalas “Parceiro” e “Trabalho” eram optativas. De acordo com os dados apresentados na Tabela 34, as práticas educativas parentais positivas e o estilo parental total adequado se correlacionaram com diminuição de problemas de comportamento nos responsáveis. Os resultados mostram que para esta amostra, houve tendência de uso da prática parental de Monitoria Positiva por responsáveis com baixos escores em agressividade, pois a correlação entre estes indicadores foi negativa. Já no que se refere ao estilo parental total, o uso de um estilo 98 adequado foi associado a menor ocorrência nos responsáveis dos seguintes problemas de comportamentos: ansiedade/depressão, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas internalizantes, externalizantes e totais. Além disso, a prática também se associou negativamente à pontuação nos itens críticos do ASR, ou seja, os responsáveis com estilo parental adequado tendem a ter menos comportamentos que podem colocar em risco a sua integridade física e a das pessoas a sua volta. No que tange às práticas parentais negativas, o seu uso foi associado com maior ocorrência de problemas de comportamentos nos responsáveis, com exceção de Negligência, o que será explicado adiante. A prática de Punição Inconsistente foi a que mais apresentou correlações estatisticamente significativas com os problemas de comportamento. De acordo com os dados, quanto maior foi a frequência de uso desta prática parental, maior foi também a ocorrência de diversos problemas de comportamentos nos responsáveis, os quais foram: ansiedade/depressão, retraimento social, problemas somáticos, problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes, internalizantes e totais. No caso da prática de Monitoria Negativa, houve associação positiva com retraimento social, agressividade, problemas internalizantes, externalizantes e totais. Já a prática de Disciplina Relaxada foi correlacionada com os seguintes: problemas de ansiedade/depressão, retraimento social, problemas de atenção, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes e problemas totais nos responsáveis. No que se refere à prática de Abuso Físico associou-se à responsáveis com maiores índicadores de ansiedade/depressão, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes e totais. Além disso, as práticas de Abuso Físico e Punição Inconsistente também se associaram positivamente à pontuação mais alta nos itens críticos do ASR, ou seja, os responsáveis que fazem uso frequente destas práticas tendem a ter mais comportamentos que podem colocar em risco a sua integridade física e a das pessoas a sua volta. Por fim, o uso da prática de negligência foi correlacionado a menos problemas com o pensamento nos responsáveis. Com relação aos indicadores de funcionamento adaptativo dos responsáveis, foram encontrados altos indicadores de adaptação atrelados às práticas educativas parentais positivas e o estilo parental total adequado, com exceção da prática de Comportamento Moral, reportada a seguir. É possível verificar que quanto maior foi a 99 satisfação do responsável com relação aos amigos e ao parceiro, maior foi a frequência do uso da prática parental de Monitoria Positiva e mais adequado foi Estilo Parental Total. No caso deste último, o estilo parental adequado foi também associado a um aumento na média de adaptação do responsável. Por fim, quanto melhor foi a relação do responsável com a família, menor foi a frequência do uso da prática parental de Comportamento Moral. No sentido inverso, as práticas parentais negativas estão relacionadas à diminuição de indicadores de funcionamento adaptativo nos responsáveis. O uso das práticas de Monitoria Negativa, Punição Inconsistente e estilo parental de risco foi associado a responsáveis com poucos amigos próximos e não satisfeitos com suas amizades. Já as práticas de Punição Inconsistente, Abuso Físico e estilo parental de risco se correlacionaram negativamente com o indicador Parceiro, ou seja, com responsáveis que não estão satisfeitos com seu companheiro e com o relacionamento. O uso frequente das práticas de Monitoria Negativa, Punição Inconsistente, Abuso Físico e estilo parental de risco se relacionaram à menores pontuações em média de adaptação. Já para verificar a relação entre práticas educativas parentais e níveis de percepção de qualidade de vida e suporte social, foram realizadas correlações de Spearman entre os escores do Inventário de Estilos Parentais – IEP (GOMIDE, 2006) e os escores tanto do Inventário de Percepção do Suporte Familiar – IPSF (BAPTISTA, 2010) como do Instrumento abreviado de avaliação da qualidade de vida - WHOQOLBref (FLECK et al., 2000). Tais resultados podem ser verificados na Tabela 35. 100 Tabela 35. Correlações estatisticamente significativas entre práticas educativas do IEP e percepção do suporte familiar do IPSF e da qualidade de vida do WHOQOL-Bref. IEP Monitoria Positiva IPSF/WHOQOL Monitoria Negativa p n Interpretação da análise O uso frequente da prática parental de monitoria positiva foi associado com maior pontuação no fator AfetivoConsistente. IPSF_AfetivoConsistente 0,420* 0,036 25 IPSF_AfetivoConsistente IPSF_Adaptação Familiar WHOQOL_Físico -0,435* 0,030 25 -0,641** 0,001 25 -0,542** 0,005 25 <0,001 25 -0,532** 0,006 25 -0,490* 0,013 25 -0,748** <0,001 25 Punição WHOQOL_Psicológico Inconsistente WHOQOL_Relações Sociais WHOQOL_Meio Ambiente WHOQOL_Total Disciplina Relaxada rho de Spearman -0,648 ** IPSF_Autonomia -0,456* 0,022 25 IPSF_Adaptação Familiar WHOQOL_Psicológico WHOQOL_Relações Sociais WHOQOL_Total IPSF_AfetivoConsistente IPSF_Adaptação Familiar WHOQOL_Físico -0,506** 0,010 25 * 0,029 25 -0,437* 0,029 25 -0,624** 0,001 25 -0,798** <0,001 25 -0,705** <0,001 25 -0,436* 0,030 25 -0,437 O uso frequente da prática parental de Punição Inconsistente está associado com menor satisfação dos responsáveis em todos os domínios de qualidade de vida (Físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e total), bem como com menores pontuações nos fatores Adaptação Familiar e no AfetivoConsistente. O uso frequente da prática parental de Disciplina Relaxada foi associado à menor percepção de autonomia pelo responsável em sua família Quanto mais frequente foi o uso da prática parental de Monitoria Negativa, menor foi a satisfação nos domínios psicológico, relações sociais e total em qualidade de vida, bem como menor foi a pontuação em adaptação familiar. O uso frequente da prática parental de Abuso Físico está associado com menor satisfação dos responsáveis em todos os domínios de qualidade de vida (Físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e total), bem como com menores pontuações nos fatores Adaptação Familiar e no AfetivoConsistente. Abuso Físico WHOQOL_Psicológico -0,477* 0,016 25 WHOQOL_Relações -0,654** <0,001 25 Sociais WHOQOL_Meio -0,414* 0,040 25 Ambiente WHOQOL_Total -0,696** <0,001 25 IPSF_AfetivoO uso de um Estilo Parental adequado foi 0,621** 0,001 25 Consistente relacionado à maior satisfação dos IPSF_Adaptação responsáveis com os domínios 0,621** 0,001 25 Familiar Estilo psicológico, relações sociais e total de 0,427* 0,033 25 Parental Total WHOQOL_Psicológico qualidade de vida, bem como com maiores pontuações nos fatores WHOQOL_Relações 0,455* 0,022 25 Adaptação Familiar e no AfetivoSociais Consistente. WHOQOL_Total 0,602** 0,001 25 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos três instrumentos. Nota: Um participante não respondeu ao IPSF e WHOQOL. 101 De acordo com os dados apresentados na Tabela 35, a prática de Monitoria Positiva foi correlacionada positivamente com o fator Afetivo-Consistente do IPSF, o que indica que esta prática é mais usada por pessoas que relatam níveis altos de expressão de afetividade entre os membros da família. Com relação às práticas negativas, o uso de Disciplina Relaxada se associou a responsáveis com menor percepção de autonomia em sua família. Já o uso frequente das práticas de Punição Inconsistente e de Abuso Físico se correlacionou à menor percepção de expressividade de afeto dentro da família. Além disso, estas práticas (Punição Inconsistente e Abuso Físico) junto com a Monitoria Negativa, se associaram a altos níveis de comportamentos e sentimentos negativos do respondente com relação aos demais membros da família, como raiva, irritação, vergonha, incompreensão e a existência de relações familiares agressivas. Com relação à qualidade de vida mensurada pelo WHOQOL-Bref, as práticas negativas de Punição Inconsistente e Abuso Físico estão associadas com menor satisfação dos responsáveis em todos os domínios de qualidade de vida (físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e total). Quanto à prática de Monitoria Negativa, quanto mais frequente foi o uso desta prática, menores foram as pontuações nos domínios psicológico, relações sociais e total de qualidade de vida. Estes mesmos índices de qualidade de vida também se correlacionaram com o estilo parental total, com a exceção do valor destas correlações que foram negativas, ou seja, quanto mais adequado foi o estilo adotado, maior foi a satisfação dos responsáveis com os domínios psicológico, relações sociais e total de qualidade de vida. Nas Tabelas 34 e 35, são apresentadas somente as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05). Para verificar todas as correlações entre os instrumentos citados, os resultados estão disponibilizados nos Anexos 11 e 12. Para contemplar o quarto e último objetivo específico, o qual era avaliar quais perfis comportamentais dos responsáveis estão associados com problemas de comportamento e competências sociais das crianças, foram realizadas análises de correlação de Spearman entre os escores T das Escalas das Síndromes e do Funcionamento Adaptativo do Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos – ASR (ACHENBACH, RESCORLA, 2001) e os escores T das Escalas das Síndromes e Total de Competências do Inventário de Comportamentos para Crianças e 102 Adolescentes - CBCL/6-18 (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Na Tabela 36, são apresentadas somente as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05). Para verificar todas as correlações entre ambos os instrumentos, os resultados estão disponibilizados no Anexo 13. Tabela 36. Correlações estatisticamente significativas entre problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR e problemas de comportamento e competências das crianças no CBCL/6-18. Escalas ASR Retraimento social Problemas Somáticos Agressividade rho de Spearman p n Interpretação da análise Ansiedade e Depressão 0,518** 0,009 24 Problemas Somáticos 0,414* 0,044 24 Problemas Internalizantes 0,556** 0,005 24 A presença de retraimento social nos responsáveis foi associada positivamente com problemas somáticos, ansiedade e depressão e problemas internalizantes nas crianças. CBCL Ansiedade e Depressão 0,448* 0,028 24 Problemas Sociais 0,421* 0,040 24 Problemas de Atenção 0,498* 0,013 24 Agressividade 0,668** <0,010 24 Problemas Externalizantes 0,629** 0,001 24 * 0,012 24 Problemas Totais Competência Social -0,447* 0,028 24 Problemas com o Pensamento 0,530** 0,008 24 Problemas de Atenção 0,507* 0,011 24 Agressividade 0,510* 0,011 24 0,407 * 0,048 24 Problemas Externalizantes 0,472 * 0,020 24 Problemas Totais 0,504* 0,012 24 Problemas Internalizantes Comportamento de Quebrar Regras 0,504 Competência Social -0,583** 0,003 24 A ocorrência de problemas somáticos nos responsáveis foi associada à ocorrência de ansiedade e depressão nas crianças. A ocorrência de agressividade nos responsáveis correlacionou-se positivamente com os seguintes problemas de comportamento nas crianças: problemas sociais, problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais. Com relação à competência social, a correlação foi negativa, indicando que quanto mais agressivos os responsáveis são, piores são as competências sociais das crianças. A ocorrência do comportamento de quebrar regras nos responsáveis correlacionou-se positivamente com os seguintes problemas de comportamento nas crianças: problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, problemas internalizantes, externalizantes e totais. Com relação à competência social, a correlação foi negativa, indicando que quanto mais frequentes os comportamentos de quebrar regras dos responsáveis, piores são as competências sociais das crianças. 103 Agressividade 0,536** 0,007 24 Problemas Externalizantes 0,492* 0,015 24 Competência Social -0,411* 0,046 24 Problemas de Atenção 0,508* 0,011 24 Agressividade 0,637** 0,001 24 ** 0,002 24 Problemas Totais 0,504 * 0,012 24 Competência Social -0,507* 0,011 24 Agressividade 0,434* 0,034 24 Problemas de Atenção -0,531* 0,019 19 -0,544 * 0,016 19 Problemas Externalizantes -0,510 * 0,026 19 Problemas Totais -0,519* 0,023 19 Problemas Sociais Problemas com o Pensamento 0,415* 0,044 24 * 0,011 24 Comportamento de Quebrar Regras 0,418* 0,042 24 Itens Críticos Problemas Externalizantes Problemas Externalizantes Problemas Totais Agressividade Parceiro Família 0,600 0,511 Quanto mais alta a pontuação nos itens críticos do ASR pelos responsáveis, maior foi a ocorrência de agressividade e problemas externalizantes nas crianças. Contrariamente, quanto mais alta a pontuação nos itens críticos, melhor foi o desempenho das crianças em competência social. A presença de problemas externalizantes nos responsáveis foi associado à ocorrência de problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais nas crianças. Já com relação à competência social das crianças, esta piora quanto mais problemas externalizantes os responsáveis apresentam. Quanto mais problemas de comportamento os responsáveis apresentaram, mais agressivas as crianças eram. Quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com o parceiro, menos problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais as crianças apresentavam. Quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com a família, menos problemas sociais, com o pensamento, comportamentos de quebrar regras e problemas totais as crianças apresentavam. Problemas Totais 0,506* 0,012 24 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos três instrumentos. Nota: Dois responsáveis não responderam ao ASR. As escalas “Parceiro” e “Trabalho” eram optativas. Como pode ser observado na Tabela 36, de uma maneira geral, os problemas de comportamento apresentados pelos responsáveis se associaram positivamente à ocorrência também de outros problemas de comportamento nas crianças, na percepção do próprio responsável. Responsáveis com altos indicadores de retraimento social da amostra foram relacionados com filhos com os problemas de comportamentos internalizantes de ansiedade, depressão e problemas somáticos. Já a presença de problemas somáticos nos responsáveis foi associada à ocorrência de ansiedade e depressão nas crianças. Alto indicador de agressividade nos pais foi correlacionado à também ocorrência nas crianças, de acordo com a percepção dos responsáveis, de problemas sociais, problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais. A ocorrência do comportamento de quebrar regras nos responsáveis foi o 104 indicador comportamental que mais apresentou correlações positivas com problemas de comportamento nas crianças, os quais foram problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, problemas internalizantes, externalizantes e totais. A presença de problemas externalizantes nos responsáveis foi associada à ocorrência de problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais nas crianças. Quanto maiores foram os indicadores de problemas de comportamento nos responsáveis, maior também foi a frequência de relato de comportamentos agressivos nas crianças. Além disso, a existência de problemas de comportamento externalizantes dos responsáveis, como agressividade, comportamento de quebrar regras e comportamentos que ameaçam a integridade física do próprio responsável e a das pessoas a sua volta, estão relacionados à pior desempenho em competência social das crianças. Com relação aos indicadores de funcionamento adaptativo, quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com seu companheiro e com o relacionamento, menos problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais das crianças foram relatados. Já no que se refere à área familiar, a satisfação dos responsáveis com as relações familiares foi associada à menos problemas sociais, problemas com o pensamento, comportamentos de quebrar regras e problemas totais das crianças, pela percepção dos responsáveis. Novamente, como o CBCL/6-18 refere-se à percepção dos responsáveis acerca dos comportamentos das crianças, foram usados também os dados do TRF/6-18 que contempla a visão do professor sobre as crianças para tirar o viés do relato do responsável que é o mesmo que responde sobre os seus próprios problemas de comportamento e funcionamento adaptativo. Portanto, ainda contemplando o quarto objetivo específico deste trabalho, foram realizadas análises de correlação de Spearman entre os escores T das Escalas das Síndromes e do Funcionamento Adaptativo do Inventário de Autoavaliação para Adultos de 18-59 anos – ASR (ACHENBACH, RESCORLA, 2001) e os escores T das Escalas das Síndromes e Total de Competências do Inventário de Comportamentos para Crianças e Adolescentes - TRF/6-18 (ACHENBACH, RESCORLA, 2001). Na Tabela 37, são apresentadas somente as correlações que foram estatisticamente significativas (p<0,05). Para verificar todas as 105 correlações entre ambos os instrumentos, os resultados estão disponibilizados no Anexo 14. Tabela 37. Correlações estatisticamente significativas entre problemas de comportamento e funcionamento adaptativo dos responsáveis no ASR e problemas de comportamento e competências das crianças no TRF/6-18. Escalas ASR Problemas de atenção rho de Spearman p n Interpretação da análise A ocorrência de problemas de atenção nos responsáveis foi negativamente associada ao desempenho acadêmico das crianças. Ou seja, quanto mais problemas de atenção os responsáveis apresentavam, piores eram os rendimentos acadêmicos das crianças. TRF Desempenho Acadêmico -0,456* 0,029 23 Problemas de Atenção 0,572** 0,004 23 Desempenho Acadêmico -0,449* 0,031 23 Quebrar Regras Desempenho Acadêmico -0,417* 0,048 23 O comportamento de quebrar regras nos responsáveis foi relacionado à piora no desempenho acadêmico das crianças. Itens Críticos Desempenho Acadêmico -0,586** 0,003 23 Quanto mais alta a pontuação nos itens críticos do ASR pelos responsáveis, pior foi o rendimento acadêmico das crianças. Problemas de Atenção 0,460* 0,027 23 Desempenho Acadêmico -0,491* 0,017 23 Agressividade Problemas Externalizantes Amigos Problemas com o Pensamento Parceiro Bom Comportamento 0,507 * Trabalho Desempenho Acadêmico 0,583* -0,426* A presença de agressividade nos responsáveis foi associada à ocorrência de problemas de atenção nas crianças e piora no seu rendimento acadêmico. A presença de problemas externalizantes nos responsáveis foi associada à ocorrência de problemas de atenção nas crianças e piora no seu rendimento acadêmico. 23 Quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com relação aos amigos, menos problemas com os pensamentos nas crianças foram relatados pelos professores. 0,032 18 Quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com relação ao parceiro, melhor foi o comportamento das crianças na escola. 0,047 12 Quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com relação ao trabalho, melhor foi rendimento escolar das crianças. 0,043 106 Quanto maior era a média de adaptação dos responsáveis, menores eram os problemas de atenção e problemas totais Problemas Totais -0,431* 0,040 23 das crianças em sala de aula. Já com Média relação ao desempenho acadêmico, foi Adaptação encontrada correlação positiva com média de adaptação dos responsáveis, Desempenho 0,496* 0,016 23 indicando que quanto melhor era a Acadêmico adaptação, melhor era o rendimento acadêmico da criança. Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam Problemas de Atenção -0,540** 0,008 23 aos três instrumentos. Nota: Dois responsáveis não responderam ao ASR. As escalas “Parceiro” e “Trabalho” eram optativas. Um professor não respondeu ao TRF/6-18 A partir dos resultados apresentados na Tabela 37, é possível verificar que, comparado à percepção dos responsáveis no CBCL/6-18 quanto aos problemas de comportamento e competências das crianças, a visão dos professores destas crianças levantou menos correlações significativas com os comportamentos dos seus responsáveis. A ocorrência de alguns problemas de comportamento nos responsáveis foi associada a um aumento de problemas de atenção nas crianças, como também a um pior rendimento acadêmico delas. No que se refere ao aumento de problemas de atenção nas crianças, segundo avaliação do professor, tal aumento se correlacionou com a ocorrência de problemas externalizantes, como agressividade, nos responsáveis. Já o desempenho acadêmico apresentou correlações negativas com a presença nos responsáveis de problemas de atenção e de problemas externalizantes, como agressividade e comportamento de quebrar regras. Ou seja, quanto mais os responsáveis apresentavam estes problemas de comportamento, pior era o rendimento escolar das crianças quando avaliado pelo professor. Além disso, o rendimento acadêmico também foi negativamente correlacionado com pontuações nos itens críticos no ASR, indicando que quanto mais frequente os responsáveis relataram apresentar comportamentos que colocam em risco a sua integridade física e a das pessoas a sua volta, pior foi avaliado o rendimento acadêmico das crianças pelo professor. Já no que se refere aos indicadores de funcionamento adaptativo dos responsáveis, os resultados na tabela indicam que quanto mais os responsáveis relataram estar satisfeitos com sua rede de amizades, menos problemas com os pensamentos nas crianças foram percebidos pelos professores. Quanto à média de adaptação dos responsáveis, quanto mais se mostravam adaptados de acordo com as respostas no ASR, menores eram os problemas de atenção e problemas totais das crianças, segundo o professor. Em contrapartida, alguns indicadores de funcionamento 107 adaptativo dos responsáveis se correlacionaram positivamente à determinadas competências das crianças. Altas pontuações nos indicadores Trabalho e Média de Adaptação do ASR foram relacionadas a também altas pontuações na avaliação do rendimento acadêmico da criança pelo professor. Ou seja, quanto mais satisfeitos os responsáveis relataram estar com às relações estabelecidas no ambiente de trabalho e ao seu desempenho profissional, melhor foram as avaliações dos professores quanto ao desempenho escolar das crianças. O mesmo ocorreu para a média de adaptação, pois quanto mais adaptados os responsáveis eram, de acordo com as respostas no ASR, melhor era também o rendimento acadêmico das crianças. Por fim, também foi encontrado que quanto mais os responsáveis estavam satisfeitos com seu companheiro e com o relacionamento, melhor era o comportamento das crianças na escola. 108 6. DISCUSSÃO Os resultados encontrados indicam um padrão em que o uso de práticas parentais positivas está associado à menor ocorrência de problemas de comportamento e maiores indicadores de funcionamento adaptativo, bem como melhor desempenho em funções executivas. Em contrapartida, o uso de práticas negativas correlacionou-se a crianças com maior frequência de diferentes problemas de comportamento, menores indicadores de funcionamento adaptativo e pior desempenho executivo. De modo geral, os resultados corroboram os dados da literatura sobre a importância de considerar os fatores ambientais, incluindo as experiências relacionais, no desenvolvimento de crianças (STILES, 2009) com transtorno do neurodesenvolvimento, pois as crianças desenvolvem-se a partir da interação constante entre ambiente e o próprio organismo (COSENZA, GUERRA, 2011). As interações relacionais e experiências ambientais adquirem impacto ainda maior na infância e adolescência por serem épocas que representam períodos do desenvolvimento nos quais ocorrem alterações significativas no sistema nervoso. De acordo com Cosenza e Guerra (2011) e Muszkat (2006), a formação de novas conexões sinápticas e constante reorganização dessas conexões no sistema nervoso decorrentes de experiências ambientais vivenciadas pelo organismo só é possível devido à plasticidade cerebral. A plasticidade cerebral constitui, portanto, a base do aprendizado, viabilizando a modificação de comportamentos pelo organismo (COSENZA; GUERRA, 2011), pois quanto mais complexas forem as conexões sinápticas estabelecidas, mais complexos serão os comportamentos emitidos (KOLB; WHISHAW, 2002). No que tange às experiências relacionais vivenciadas na infância e adolescência, segundo Bernier e colaboradores (2012), a interação entre pais e filhos constitui-se o relacionamento mais intenso e importante da criança, pois representa o cerne do ambiente em que a criança está exposta. A criança adquire a maior parte de seus repertórios comportamentais de base na dinâmica familiar, uma vez que os pais ou responsáveis são a primeira e principal fonte de reforçamento e modelo para os filhos (PRUST, GOMIDE, 2007). Com base nisso, diferentes práticas parentais constituem diferentes estímulos na infância e diferentes fontes de reforçamento e modelo para os filhos, favorecendo a aquisição de determinados repertórios comportamentais e habilidades cognitivas, como demonstrado pelo presente trabalho. 109 Bernier, Whipple e Carlson (2010) evidenciaram a influência das práticas parentais nos domínios cognitivo e comportamental da criança, principalmente no que se refere ao desenvolvimento das habilidades de autorregulação. Pensando que crianças com TDAH apresentam dificuldades justamente em processos autorregulatórios devido a hipoatividade dos lobos frontais, responsável pelo prejuízo em funções executivas associado ao transtorno (DISCKSTEIN et al., 2006; BUSH, 2010; MALLOY-DINIZ et al., 2008), a constância de regras e diretrizes externas fornecidas pelos responsáveis torna-se ainda mais importante para estas crianças (BARKLEY, 1997). Também é importante considerar que o TDAH é um transtorno multifatorial, em que há interação entre genes de suscetibilidade e fatores ambientais (VAN LOO, MARTENS, 2007). De acordo com Thapar e colaboradores (2007), esta interação pode influenciar o curso do desenvolvimento, sendo responsável pela ampla variedade de apresentações clínicas de pessoas com TDAH. Os fatores ambientais acabam exercendo um papel crucial no desfecho em termos dos sintomas manifestados (THAPAR et al., 2007), sendo que o próprio DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) destaca a importância da dinâmica familiar, incluindo as práticas parentais adotadas, como fator que pode atuar no desenvolvimento tanto como de risco, agravando a sintomatologia do transtorno, como de proteção, ao amortecer os prejuízos associados aos sintomas. Por outro lado, o fato das crianças terem TDAH, por conta dos próprios sintomas do transtorno, impacta o funcionamento adaptativo de suas famílias, já que os responsáveis precisam ficar atentos com relação às crianças em tempo integral, restando pouco tempo para se dedicarem a cuidar deles próprios, o que faz com que os pais vivenciem uma sobrecarga estressante de cuidados (ROIZEN et al., 1994). O aumento do estresse vivenciado acaba também favorecendo a escolha pelos pais de práticas parentais negativas (GOMIDE et al., 2005). Com isso, torna-se importante resgatar a noção de que a relação familiar é bidirecional e não unidirecional, uma vez que trata-se de um processo dinâmico, mútuo e interativo, em que os comportamentos da criança influenciam o dos responsáveis e vice-versa, compondo-se em um ciclo vicioso (O’CONNOR, SCOTT, 2007). Além disso, outros fatores contribuem para a escolha de práticas parentais, sejam positivas ou negativas, como demonstrado pelo presente trabalho, os quais são saúde mental do próprio cuidador e percepção de suporte recebido da família, da comunidade e de qualidade de vida. 110 Para ampliar a compreensão, os dados serão também discutidos por prática parental adotada, bem como por problemas de ajustamento comportamental e indicadores de funcionamento executivo dos responsáveis. 6.1. Práticas Educativas Parentais 6.1.1. Monitoria Positiva O uso frequente da prática parental Monitoria Positiva foi associado à maior expressão de afetividade entre os membros da família, o que significa que além dos responsáveis conseguirem demonstrar afeto e carinho para com a criança (característica desta prática), existe uma reciprocidade na família quanto a demonstração desse afeto, sendo possível afirmar que o próprio ambiente propicia o uso desta prática. Além disso, a prática também foi associada à melhor comunicação entre os membros familiares para resolução de problemas, sugerindo habilidades sociais desenvolvidas nos responsáveis e indicando existir abertura para diálogo na dinâmica familiar. Tal abertura facilita o conhecimento pelos responsáveis sobre o que acontece na vida de seus filhos sem precisar ser invasivos. Os resultados também indicaram que os responsáveis que faziam uso frequente desta prática tinham menos indicadores de agressividade, o que reforça a habilidade destes responsáveis em resolverem problemas por meio do diálogo, não precisando se utilizar de comportamento agressivo para esta finalidade. Também foi encontrado que quanto maior a satisfação do responsável com relação aos amigos e ao parceiro, maior foi a frequência do uso da prática parental de Monitoria Positiva com as crianças, o que reforça as habilidades sociais desenvolvidas dos responsáveis que utilizam tal prática. Segundo Gomide (2003), responsáveis que usam de forma frequente a prática de Monitoria Positiva necessariamente precisam ter alto repertório de habilidades sociais. A prática de Monitoria Positiva também se relacionou a um melhor desempenho das crianças em atividades e em competências totais. No sentido contrário, quanto mais a prática de Monitoria Positiva foi usada, menor foi a ocorrência nas crianças dos seguintes problemas de comportamento, segundo a percepção dos responsáveis: Problemas Sociais, Problemas com o Pensamento, Problemas de Atenção, Comportamento de Quebrar Regras, Agressividade, Problemas Externalizantes e Problemas Totais. A diminuição no caso dos problemas sociais, dos comportamentos agressivos e de quebrar regras, provavelmente se deve às altas habilidades sociais que 111 os responsáveis têm e que, consequentemente, devem ter sido ensinadas às crianças e desenvolvidas por elas. Ou seja, as crianças devem ter aprendido por observação dos responsáveis um repertório de comportamentos pró-sociais, como conversar para resolver um problema e pedir quando se quer algo, que torna desnecessário o uso de comportamentos agressivos e de quebrar regras. De acordo com estudo de Salvo, Silvares e Toni (2005), o uso ou a ausência de uso da prática de Monitoria Positiva pelas mães, sozinha, foi uma variável preditora do desenvolvimento de dois comportamentos: sociabilidade e agressividade. Portanto, estes autores encontraram que a ausência desta prática foi preditora de comportamento agressivo em crianças de desenvolvimento típico, e a sua presença, em contrapartida, contribuiu para o desenvolvimento de sociabilidade nessas crianças. Esta prática, quando frequentemente usada pelos responsáveis, foi associada apenas à diminuição dos comportamentos de desatenção e hiperatividade das crianças no ambiente escolar. Johnston e Jassy (2007) defendem que as primeiras manifestações dos sintomas de TDAH, como dificuldade em modular seu estado emocional e em direcionar a atenção, já constituem um desafio considerável na capacidade dos pais de serem responsivos em suas práticas educativas, ou seja, de responderem apropriadamente às pistas que as crianças fornecem e de exercerem controle sobre a criança de forma sensível às suas necessidades, mas de maneira firme, características representadas pela prática de Monitoria Positiva. Portanto, é possível pensar que quanto menos graves são os sintomas associados ao TDAH nas crianças, mais os responsáveis conseguem ser responsivos em suas práticas, pois o fato das crianças terem TDAH já pode ser considerado como um fator que pode dificultar o uso de práticas positivas. Com relação ao desempenho cognitivo, o uso frequente da prática foi associado à menor quantidade de erros, sejam perseverativos ou não, e de respostas perseverativas. Ou seja, as crianças habituadas a receberem esta prática tendem a ter habilidade de flexibilidade cognitiva preservada, indicando que conseguem alterar seu foco atencional e curso do raciocínio para se ajustar às demandas do ambiente. O uso da prática também se associou a menores quantidades de erros por comissões, ou seja, menor número de respostas motoras quando o correto era realmente não emitir resposta no teste, indicando maior controle inibitório nestas crianças. Por último, esta prática se associou a menores pontuações no índice de detectabilidade, ou seja, menor habilidade para 112 discriminar o estímulo alvo dos distratores, sugerindo menor habilidade de atenção seletiva, o que será discutido mais adiante. 6.1.2. Comportamento Moral Contrariamente ao esperado, quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com suas relações familiares, menor foi a frequência do uso da prática educativa parental positiva de Comportamento Moral. A hipótese para este resultado é a de que, por conta do bom relacionamento com os familiares e frequente contato da criança com os demais membros da família, os responsáveis não precisam o tempo inteiro ficar explicitando ou informado o que é justo ou não em termos de valores, mas as crianças aprendem por observação direta no contato familiar, pois apenas o comportamento dos responsáveis já é suficiente para este aprendizado. Entretanto, são necessários mais estudos para corroborar tal hipótese. Com relação às crianças, quanto mais frequente foi o uso da prática de Comportamento Moral pelos cuidadores, menos as crianças apresentaram problemas com o pensamento, de acordo com o relato dos responsáveis. Já nos testes cognitivos, a prática se associou a pontuações elevadas no escore de respostas de nível conceitual no WCST, indicando que essas crianças tem uma habilidade maior em descobrir qual é o critério vigente de associação, apesar de nem sempre conseguirem sustentar estas respostas. A prática também foi relacionada à menor número de comissões, ou seja, menor número de respostas motoras quando o correto era realmente não emitir resposta, indicando maior controle inibitório nestas crianças. Além disso, esta prática também se associou a menores pontuações em detectabilidade no CPT-II, ou seja, menor habilidade para discriminar o estímulo alvo dos distratores. Este último resultado ocorreu para as duas práticas positivas (Comportamento Moral e Monitoria Positiva), indicando que o uso destas práticas se associa à menor habilidade em atenção seletiva. Tal resultado pode ser explicado pelo fato de talvez esta habilidade não ser exigida da criança, pois o próprio ambiente supre essa necessidade, o que impacta na aquisição e desenvolvimento desta função cognitiva. Muitas vezes, os pais na intenção de proteger e preservar a criança, acabam se antecipando para resolver problemas pela criança e não oportunizam situações para que determinadas habilidades sejam desenvolvidas por ela, prejudicando sua capacidade de se autorregular, ou fazendo com que essas habilidades se desenvolvam mais tardiamente em função da sua relação com as demandas ambientais. De acordo com a teoria de Baumrind (1966), é necessário um equilíbrio entre a capacidade do ambiente (no caso, 113 os pais) de responder às necessidades do filho e, ao mesmo tempo, de exigir comportamentos adequados que visam à autonomia e autocontrole. Para Muszkat (2006), a aquisição de comportamentos e o desenvolvimento cognitivo dependem também de experiências ambientais. O impacto do ambiente torna-se ainda maior quando se trata do desenvolvimento de funções cognitivas complexas, como é o caso das funções executivas que demandam período mais estendido de maturação cerebral em comparação às outras funções (COSENZA, GUERRA, 2011; BERNIER et al., 2012). De acordo com estudo de Pureza e colaboradores (2013), existem diferentes trajetórias de desenvolvimento para cada habilidade que compõe as funções executivas, sendo que as mudanças que ocorrem no ambiente exercem impacto nestas diferentes trajetórias por meio da plasticidade cerebral. Entretanto, de maneira geral, as práticas positivas se correlacionaram com menos problemas de comportamento, corroborando os resultados encontrados na literatura (SALVO, SILVARES, TONI, 2005; BOLSONI-SILVA, DEL PRETTE, 2003, NUNES et al., 2013, O´CONNOR, SCOTT, 2007). Segundo Conti (1997), para desenvolver repertório adequado de comportamentos, pais precisam estimular o desenvolvimento da competência social do filho (ao servir de modelo socialmente habilidoso, ao encorajar atitudes que visam a autonomia e expressar frequentemente afeto positivo), oferecer suporte emocional (ao valorizar a criança e estabelecer relações de confiança com o filho), e usar práticas disciplinares mais verbais, no lugar de físicas. 6.1.3. Punição Inconsistente A prática educativa negativa de Punição Inconsistente foi encontrada em responsáveis que relataram menor satisfação em todos os domínios de qualidade de vida (físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e total). Portanto, houve uma tendência a esta prática ser usada por responsáveis que relataram se sentir no dia-a-dia com menos disposição física e com autoestima mais baixa, bem como menos satisfeitos com as relações sociais estabelecidas e com o ambiente físico que residem. No que se refere às relações sociais, foi encontrada menor satisfação dos responsáveis tanto com as relações de amizade, com poucos amigos próximos, quanto com a relação com o parceiro. No mesmo sentido, o uso desta prática também se associou a responsáveis com níveis mais baixos de adaptação na família, na qual predomina um clima hostil, com pouca expressão de afetividade entre os membros e pouca clareza nas regras familiares estabelecidas. 114 Também foi encontrado que quanto maior a frequência de uso desta prática, maior foi a ocorrência de diversos problemas de comportamento nos responsáveis, sendo estes: ansiedade/depressão, retraimento social, problemas somáticos, problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes, internalizantes e totais. Além disso, a prática também se associou positivamente à presença nos responsáveis de comportamentos considerados de risco, que podem ameaçar a segurança física tanto do próprio responsável como dos outros à sua volta. No que se refere aos comportamentos da criança percebidos pelo responsável, o uso desta prática foi relacionado à ocorrência de problemas de atenção, agressividade e problemas externalizantes. Esse aumento de problemas de comportamento pode ser explicado pelo fato da criança educada predominantemente por esta prática ficar sob controle do humor dos pais para emitirem um comportamento, sem aprenderem a discriminar se seu comportamento foi adequado ou não para uma contingência específica (GOMIDE, 2006). Já alguns problemas de comportamento das crianças em sala de aula foram correlacionados com uso frequente desta prática, como problemas somáticos, problemas com o pensamento, problemas de atenção, hiperatividade e problemas totais. A maior ocorrência de desatenção nestas crianças foi unânime no relato dos dois informantes. De acordo com Evinç e colaboradores (2014), quanto mais os pais se utilizam da prática de punição inconsistente, maior é a probabilidade de os filhos apresentarem problemas de atenção e hiperatividade. Tal dado pode ser mais bem compreendido pela maior dificuldade de crianças com TDAH, quando comparadas com crianças sem o transtorno, de autorregularem seus comportamentos, o que as tornam mais dependentes do feedback e monitoração de seus pais ou responsáveis para balizarem seus atos (BARKLEY, 1997). Portanto, estas crianças precisam mais de pistas externas para se autorregularem e quanto menos consistentes os responsáveis forem na atribuição de reforço ou punição aos comportamentos emitidos por elas, menos elas conseguem prever as consequências de seus atos. De acordo com estudo de Ellis e Nigg (2009), foi encontrada uma tendência de uso inconsistente de disciplina pelos pais de crianças com TDAH, mesmo quando controlado os sintomas de desatenção e hiperatividade dos próprios pais ou os comportamentos compatíveis com transtorno de conduta e opositor desafiante das crianças. O desempenho acadêmico das crianças frequentemente educadas por esta prática também foi considerado pior. 115 Entretanto, com relação ao desempenho nos testes cognitivos, não foi encontrada nenhuma correlação significativa com esta prática. 6.1.4. Negligência A prática educativa parental negativa de Negligência foi associada a menor frequência de relato de problemas com o pensamento pelos responsáveis. Esse fato nos chamou atenção e podemos pensar que pais com estilo caracterizado por Negligência podem não perceber seus comportamentos como inadequados ou estranhos, o que pode levar a redução no autorrelato da ocorrência de problemas com o pensamento que se expressam por “escutar vozes ou ver coisas que não existem e ter comportamentos ou ideias estranhas”. Também foi encontrada menor percepção pelos responsáveis da existência de problemas somáticos nas crianças, o que pode ser explicado pela dificuldade dos responsáveis de reconhecer queixas de fundo emocional nas crianças devido à falta de conhecimento do que se passa na vida delas, o que é característico desta prática. Entretanto, o estudo nacional de Nunes e colaboradores (2013) encontrou associação entre rejeição parental (prática parental de negligência) e ocorrência de problemas externalizantes e internalizantes, mais especificamente agressividade, ansiedade e depressão. A prática usada pelos responsáveis de Negligência foi associada a um pior desempenho escolar. Dados da literatura têm mostrado associações entre práticas de negligência e baixo desempenho acadêmico, inclusive com indicadores de atrasos no desenvolvimento cognitivo (OSOFSKY, 2003). O auxílio dos pais na realização de lições de casa contribui para o desenvolvimento de repertório de comportamentos de estudar, contribuindo para a aprendizagem da criança (GONIDA; CORTINA, 2015). Portanto, a ausência de envolvimento dos pais nestas atividades escolares, característico da prática de negligência, contribui para um baixo rendimento escolar dos filhos. De acordo com Gonida e Cortina (2015), o engajamento dos pais na realização do dever de casa aproxima a esfera escolar da esfera familiar, promovendo o desenvolvimento de habilidades acadêmicas e de conhecimentos específicos. As crenças dos pais sobre o desempenho escolar também exercem um papel importante na motivação e comportamentos dos filhos (ECCLES, 2007), pois quanto menos os pais acreditam no sucesso escolar do filho, menor é a autoconfiança da criança na sua própria capacidade de desempenho acadêmico (GONIDA; CORTINA, 2015). 116 A prática de Negligência também se associou ao pior desempenho em tarefas que avaliam funções executivas, como elevado número de erros e necessidade de uma quantidade maior de tentativas para descobrir qual a categoria vigente no WCST. Contrariamente, a prática de Negligência foi associada a poucas omissões da criança no CPT-II, indicando melhor desempenho em atenção seletiva. Provavelmente, o fato de a criança ter pouco ou nenhum direcionamento externo fez com que ela precisasse desenvolver esta habilidade sozinha para conseguir suprir as demandas do dia-a-dia, mas a elevado custo de resposta. O estudo de Martins (2014) também encontrou relação positiva entre determinadas práticas parentais negativas e funções cognitivas específicas de crianças, como entre punição inconsistente e flexibilidade cognitiva. 6.1.5. Disciplina Relaxada O uso frequente da prática parental negativa de Disciplina Relaxada foi associado à menor percepção de autonomia pelo responsável em sua família, ou seja, com menos relações de confiança estabelecidas, como também com menos liberdade e privacidade entre os membros familiares. O uso da prática de Disciplina Relaxada foi também associado à existência dos seguintes problemas de comportamentos nos responsáveis: ansiedade/depressão, retraimento social, problemas de atenção, comportamento de quebrar regras, problemas externalizantes e problemas totais. Já no que se refere às crianças, a prática foi associada a um aumento, relatado pelos responsáveis, de problemas internalizantes, como ansiedade e depressão e problemas com o pensamento, além de problemas totais. Segundo Bolsoni-Silva e Del Prette (2003) existe relação direta entre práticas negativas e problemas de comportamento, pois a família pode estimular estes problemas de comportamentos por meio destas práticas. Sobre o desempenho cognitivo das crianças, o uso da Disciplina Relaxada foi associado a menos acertos e a mais respostas perseverativas no WCST, indicando habilidades menos desenvolvidas de memória operacional e flexibilidade cognitiva. O aumento de respostas perseverativas pode ser explicado pela falta de constância em que estas crianças recebem diretrizes externas para regularem seus comportamentos, o que faz com que elas fiquem menos sob controle de regras fornecidas pelo ambiente. 117 6.1.6. Monitoria Negativa Com relação ao uso da prática parental de Monitoria Negativa, foi encontrado que os responsáveis que usavam frequentemente esta prática tendiam a estarem mais insatisfeitos com os domínios: psicológico, relações sociais e total em qualidade de vida. Portanto, estes responsáveis relataram menor autoestima e menor contentamento com as relações sociais estabelecidas, com poucos amigos próximos. Além disso, esta prática foi associada a responsáveis com níveis mais baixos de adaptação na família, na qual predominam comportamentos e sentimentos negativos entre os membros que tendem a ter relações familiares agressivas. De acordo com Moghaddam e colaboradores (2013), família de crianças com TDAH lidam com baixo suporte familiar e com relacionamentos entre os membros mais conturbados. Além disso, estes autores também encontraram que pais de crianças com TDAH tendem a ser menos permissivos e mais rígidos, com estabelecimento de regras estritas e constante monitoração dos filhos (Monitoria Negativa), quando comparado aos pais de crianças sem o transtorno. O uso da prática de Monitoria Negativa se associou à ocorrência de diversos problemas de comportamento nos responsáveis, como retraimento social, agressividade, problemas internalizantes, externalizantes e totais. Já com relação às crianças, o uso da prática foi correlacionado apenas com comportamentos agressivos no contexto familiar, provavelmente como uma tentativa das crianças de protegerem suas privacidades que são constantemente violadas pelos responsáveis nesta prática. O estudo de Salvo, Silvares e Toni (2005) com crianças de desenvolvimento típico encontrou que o uso pela mãe da prática de Monitoria Negativa é preditora do desenvolvimento de problemas externalizantes, problemas com a atenção e de problemas internalizantes. Com relação ao desempenho nos testes cognitivos, a prática Monitoria Negativa foi relacionada somente a mais erros do tipo não perseverativo no WCST. 6.1.7. Abuso Físico Assim como na prática de Punição Inconsistente, houve uma tendência de uso da prática de Abuso Físico por responsáveis que relataram menor satisfação em todos os domínios de qualidade de vida (físico, psicológico, relações sociais, meio ambiente e total). Portanto, quanto mais frequente foi o uso dessa prática na amostra, os responsáveis relataram estar menos dispostos fisicamente e ter autoestima mais baixa, bem como reportaram estar mais insatisfeitos com as relações sociais estabelecidas e com o seu ambiente físico. 118 O uso desta prática também se associou a responsáveis com níveis mais baixos de adaptação na família, na qual predominam comportamentos e sentimentos negativos entre os membros que tendem a ter relações familiares agressivas. Além disso, foi associado a responsáveis que pertenciam à famílias com pouca expressão de afetividade e pouca clareza nas regras familiares estabelecidas. A prática também se associou a um maior descontentamento com relação ao parceiro. Tais resultados indicam que o próprio ambiente social favorece o uso desta prática considerada de risco, pois não fornece o mínimo de apoio e acolhimento, o que mostra que estes cuidadores precisam urgentemente de orientações e suporte quanto a forma de manejar suas crianças. O estudo de revisão da literatura de Gallo e Williams (2005) identificou diversos fatores que contribuem para o surgimento de comportamentos violentos, tais quais fatores estressantes relacionados ao baixo nível socioeconômico, viver em ambiente desestruturado (permeado por violência, ruído forte e constante e cômodo pequeno para o tamanho familiar), fracasso no emprego, uso de álcool e drogas, e conflitos familiares. No que se refere às características comportamentais dos responsáveis, quanto maior foi a frequência de uso da prática de Abuso Físico, maior foi também a ocorrência de problemas externalizantes, tais quais agressividade e comportamento de quebrar regras, bem como mais frequentes foram os comportamentos considerados de risco que podem ameaçar a segurança física tanto do próprio responsável como dos outros à sua volta. A prática também se correlacionou à maior frequência de ansiedade, depressão e problemas totais nos cuidadores. Segundo a revisão da literatura feita por Crandall, Deater-Deckard e Riley (2015), pais com baixa capacidade de controle emocional têm maior probabilidade de se envolverem em práticas de abuso físico. A prática de Abuso Físico foi associada a um aumento de problemas externalizantes também nas crianças, como quebrar regras e agressividade. De acordo com a literatura, crianças com TDAH que sofreram abuso físico são percebidas pelos pais, professores e pares como excessivamente agressivas (BRICOE-SMITH E HINSHAW, 2006). É provável que o aprendizado das crianças, a partir do modelo observado dos cuidadores, de que o comportamento agressivo seria o mais adequado para resolução de conflitos e frustrações, fará com que essas crianças reproduzam este padrão de comportamento com pares. Práticas de abuso físico favorecem o desenvolvimento do comportamento agressivo nos filhos devido à frequente exposição da criança ao comportamento violento que passa a ser aceito por ela como um 119 comportamento viável e até adequado (EVINÇ et al., 2014). Com relação ao comportamento de quebrar regras que também apresentou aumento nas crianças, é provável que esses indicadores configurem um conjunto de sinais que também estão presentes em outros transtornos psiquiátricos comórbidos ao TDAH, como o Transtorno Oposicionista Desafiante e Transtorno de Conduta. Johnston e Jassy (2007) apresentaram um modelo que considera as práticas parentais como variáveis que contribuem para o desenvolvimento de comportamentos disruptivos característicos destes transtornos comórbidos ao TDAH, sendo que alguns estudos especificaram ser a prática de abuso físico um fator de risco para este desfecho (ZWI et al., 2011; FORD et al, 2000). Considerando que os resultados apresentados anteriormente indicaram que o uso da prática de Monitoria Positiva está associado à diminuição destes comportamentos, sugere-se treino destas habilidades em responsáveis que utilizam a prática de Abuso Físico em crianças com comportamentos disruptivos. Além disso, ainda no que se refere ao contexto familiar, também houve correlação da prática com aumento de problemas de atenção e de problemas totais nas crianças. No âmbito escolar, a prática teve relação com aumento de comportamento hiperativo das crianças. Estes resultados correspondem ao desfecho verificado em outros estudos da literatura em que a prática de abuso físico se associou à maior probabilidade de problemas de atenção e hiperatividade nas crianças (EVINÇ et al., 2014; HADIANFARD, 2014 MOGHADDAM et al. 2013, ELLIS, NIGG, 2009). Para Hadianfard (2014), crianças com TDAH são mais propensas que crianças sem o transtorno a serem vítimas de práticas parentais de violência, principalmente de abuso psicológico. De acordo com Evinç e colaboradores (2014), mães de crianças com TDAH com apresentação predominantemente hiperativa utilizam com maior frequência práticas disciplinares físicas que mães de crianças com TDAH com apresentação combinada ou predominantemente desatenta ou, ainda, que mães de crianças sem o transtorno. A hiperatividade parece estar associada a um aumento do estresse vivenciado pelos pais justamente pela dificuldade de manejar este comportamento, oportunizando a escolha de práticas coercitivas pelos pais na tentativa de controlar imediatamente o comportamento hiperativo do filho (EVINÇ et al., 2014), uma vez que os problemas externalizantes repercutem diretamente no ambiente (ACHENBACH, RESCORLA, 2000). Duarte (2013) também encontrou uso frequente da prática de abuso físico em amostra de crianças com TDAH. Tal resultado se repetiu no presente 120 estudo em que 76,9% dos responsáveis da amostra relataram fazer uso frequente desta prática. Já com relação ao desempenho em testes que avaliam funções executivas, a prática se correlacionou apenas com menor quantidade de fracassos em manter o contexto no WCST. Provavelmente, essas crianças ficam demasiadamente sob controle do ambiente para regularem seus comportamentos para evitar consequências aversivas, o que contribui para um melhor desempenho nesta habilidade. Entretanto, o melhor desempenho nesta habilidade específica está relacionado a alto custo de resposta, pois as crianças apresentam diversos problemas de comportamento, principalmente do tipo externalizante, como já apresentado. 6.1.8. Escala Total do IEP O uso de um Estilo Parental adequado, ou seja, com predominância de práticas educativas positivas, foi relacionado à maior satisfação dos responsáveis com os domínios psicológico, relações sociais e total de qualidade de vida, o que indica que estes responsáveis estão mais satisfeitos com sua autoimagem e com a qualidade das relações de amizade estabelecidas, indicando que estes responsáveis recebem suporte da comunidade social em que está inserido. Também foi encontrado que quanto mais adequado o estilo parental, mais frequente é a expressão de afetividade entre os membros da família e, consequentemente, ocorrem menos comportamentos e sentimentos negativos entre os membros. Portanto, estilo parental adequado está associado a um maior nível de adaptação familiar. Klassen, Miller e Fine (2004) encontraram que, quando comparados com pais de crianças sem o transtorno, pais de crianças com TDAH reportam significativamente mais problemas emocionais, comportamentais, de saúde mental e menor autoestima. Complementarmente, o estudo realizado por Martin e colaboradores (2014) demonstrou a importância de se desenvolver grupos de suporte emocional para familiares de crianças com transtornos do desenvolvimento, pois a percepção de suporte se relacionou à menor ocorrência de indicadores de ansiedade, depressão e estresse em pais de desenvolvimento atípico. Os resultados mostraram também que quanto mais adequado o Estilo Parental adotado, menor foi a ocorrência dos seguintes problemas de comportamentos nos responsáveis: ansiedade/depressão, problemas de atenção, agressividade, comportamento de quebrar regras, problemas internalizantes, externalizantes e totais. 121 Além disso, a prática também se associou negativamente à ocorrência de comportamentos considerados de risco nos responsáveis, indicando que responsáveis com estilo parental adequado tendem a ter menos comportamentos que possam ameaçar sua segurança e a de outros a sua volta. De acordo com estudo de Gomide e colaboradores (2005), foi verificado que pais que optavam por práticas negativas não tinham repertório suficiente de habilidades sociais e apresentavam sintomas de depressão e altos níveis de estresse. Sobre a redução dos problemas de atenção nos responsáveis que usam estilo parental adequado, é necessário lembrar os componentes genéticos imbricados na etiologia do transtorno, responsáveis pela sua alta taxa de herdabilidade. Pais que também apresentam TDAH tendem a ter mais prejuízos em suas competências parentais, sendo que a presença nos pais dos sintomas de TDAH está relacionado a uma maior gravidade dos sintomas nos filhos com o transtorno (AGHA et al., 2013). Chronis-Tuscano e colaboradores (2008) encontraram que mães com sintomas de TDAH geralmente usam práticas parentais inadequadas, principalmente permeadas pela disciplina inconsistente. Tal dado foi corroborado pelo presente estudo, pois ambas as práticas parentais negativas em que não há constância de comportamentos (isto é, Disciplina Relaxada e Punição Inconsistente) foram associadas com a ocorrência de problemas de atenção nos responsáveis. Com relação às crianças, o uso adequado de estilo parental foi encontrado em crianças com menos problemas relatados de atenção, problemas externalizantes, principalmente a agressividade, e problemas totais, na percepção dos responsáveis. O estilo parental adequado se associou a crianças com menos sinais de hiperatividade e problemas totais de comportamento, observados em sala de aula pelo professor, e com melhor desempenho acadêmico. De acordo com Harpin (2005), crianças com TDAH apresentam maior probabilidade de vivenciarem fracasso ou, até mesmo, evasão escolar. Portanto, saber que o uso de práticas positivas contribui de alguma forma para um melhor rendimento escolar nestas crianças é importante para se pensar em intervenções como treino de habilidades parentais. O uso adequado do estilo também foi encontrado em crianças com melhor desempenho em atividades e em competências sociais, o que é de extrema relevância uma vez que Buitelaar e Medori (2010) encontraram que o melhor preditor na infância de adaptação na idade adulta não é o nível de funcionamento intelectual, desempenho acadêmico ou comportamentos em sala de aula, 122 mas sim a competência social da crianças em termos de qualidade de interação com os pares. Neste mesmo sentido, Becker e colaboradores (2013) encontraram que quanto maior era a dificuldade de meninas com TDAH na interação social com os pares, maior era também a probabilidade de apresentarem problemas internalizantes, como depressão e ansiedade. A associação de práticas parentais positivas com crianças que apresentam melhor rendimento acadêmico e competências sociais é um resultado importante, uma vez que o DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2013) elenca a dificuldade na interação social com os pares e desempenho escolar insatisfatório como consequências prováveis em crianças com TDAH devido aos sintomas característicos do transtorno. Para Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi (2003), diversas são as variáveis que contribuem com o surgimento e manutenção dos problemas de comportamento, como, por exemplo, práticas parentais inadequadas e presença de conflitos conjugais. De maneira geral, os estudos sobre programas parentais apontam que os aspectos mais importantes de uma intervenção para prevenir problemas de comportamento das crianças são: ensinar os pais a serem menos punitivos em suas práticas educativas, a utilizarem monitoria positiva, a usarem reforçamento positivo, a melhorarem a comunicação interpessoal, a ampliarem a rede de apoio, bem como ensinar a desenvolverem habilidades para aumentar o envolvimento com o filho e para resolver problemas e conflitos (RIOS, WILLIAMS, 2008) Quanto ao desempenho nos testes cognitivos, quanto mais adequado foi o estilo parental adotado pelos responsáveis, menos erros totais, erros perseverativos e respostas perseverativas foram cometidos pelas crianças no WCST, sugerindo habilidades desenvolvidas de flexibilidade cognitiva e memória operacional. Estes resultados corroboram o estudo de Bernier e colaboradores (2012) em que encontraram que a qualidade da interação comportamental entre pais e filhos e a relação de apego estabelecida entre eles nos primeiros anos de vida estão relacionadas ao desenvolvimento posterior de flexibilidade cognitiva e memória operacional. Por outro lado, Wagner e colaboradores (2015) verificaram em seu estudo que as crianças com pior funcionamento executivo tinham níveis mais elevados de cortisol salivar e seus pais relataram maior estresse parental. O stress parental, como já visto, está associado a maior probabilidade dos pais de optarem por estratégias educativas menos adaptativas para lidarem com os filhos (GOMIDE et al, 2005). 123 Entretanto, ao analisar cada prática parental, seja positiva ou negativa, foi possível observar quer o uso destas práticas apresentou maior número de correlações significativas com variáveis de ajustamento comportamental das crianças quando comparado com as variáveis referentes ao desempenho cognitivo delas. Talvez as práticas parentais exerçam maior impacto no autorregulamento emocional de crianças com TDAH e não tanto no autorregulamento cognitivo, apesar de relacionados, mas tal hipótese precisa ser investigada com mais estudos. Outra explicação é o fato de crianças com TDAH, em tarefas estruturadas e quando altamente motivadas, conseguirem ter desempenho satisfatório nas funções cognitivas avaliadas (SEIDMAN et al., 2004). Ainda, neste mesmo sentido, o estudo de Schroeder e Kelley (2009) não encontrou relação estatisticamente significativa entre estilos parentais, ambiente familiar e funcionamento executivo em crianças com TDAH, mas encontraram tal relação estatisticamente significativa para crianças sem o transtorno. O presente estudo, entretanto, encontrou correlações significativas entre práticas parentais e funcionamento executivo, mas apenas em menor quantidade quando comparada as variáveis comportamentais. Uma possível justificativa para a diferença entre os resultados dos dois estudos refere-se ao fato de Schroeder e Kelley (2009) utilizarem medidas de relato de pais sobre desempenho de funções executivas das crianças e o presente trabalho fez uso de medidas diretas de funções executivas das crianças por meio de testes psicológicos. 6.2. Perfil Comportamental dos Responsáveis 6.2.1. Problemas de Ajustamento Comportamental No que se refere aos problemas de comportamento apresentados pelos responsáveis da amostra, a ocorrência tanto de retraimento social quanto de problemas somáticos nos responsáveis foi associada à presença de ansiedade e depressão nas crianças. Apenas a presença de retraimento social nos cuidadores foi correlacionada com apresentação nas crianças de queixas somáticas e problemas internalizantes. Nenhum destes problemas de comportamento nos responsáveis foi associado a algum comportamento das crianças observado em sala de aula pelo professor. Já quanto aos problemas externalizantes dos responsáveis, em geral, houve correlação positiva com a presença nas crianças de problemas atencionais, problemas externalizantes, como agressividade, e problemas totais na percepção dos responsáveis. 124 Entretanto, a maior frequência de problemas externalizantes nos responsáveis se associou apenas a maior ocorrência de problemas de atenção nas crianças observada pelo professor no contexto escolar. Houve correlação estatisticamente significativa entre problema de comportamento agressivo dos responsáveis e problemas comportamentais das crianças do tipo: problemas sociais, problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais. Já quanto aos comportamentos emitidos pela criança no contexto escolar, apenas foi encontrada correlação entre comportamento agressivo nos responsáveis e problemas atencionais da criança em sala de aula. Já responsáveis com comportamentos de quebrar regras foi associado a um aumento nas crianças de problemas com o pensamento, problemas de atenção, agressividade, problemas internalizantes, externalizantes e totais no contexto familiar. No ambiente escolar, não foi encontrada correlação entre esta característica parental e problemas de comportamento nas crianças. Com relação aos responsáveis que apresentam comportamentos de risco, foi verificada a ocorrência nas crianças de agressividade e problemas externalizantes no ambiente familiar. Entretanto, no que se refere aos comportamentos emitidos no contexto escolar, não se encontrou correlação significativa entre as variáveis comportamentais. Por fim, quanto mais problemas totais os responsáveis apresentaram, mais agressivas as crianças eram nas relações familiares. De acordo com Harpin (2005), crianças com TDAH, quando comparadas com crianças sem o transtorno, apresentam mais indicadores de problemas emocionais e de problemas de saúde mental, bem como menos satisfação com sua autoestima. Ainda comparando com controles, essa autora encontrou que o comportamento, no geral, é mais inadequado em crianças com TDAH. Na escola, o desempenho acadêmico das crianças foi inversamente proporcional a ocorrência dos seguintes problemas de comportamento nos responsáveis: problemas de atenção, quebrar regras, agressividade, comportamentos de risco e problemas externalizantes. De modo geral, o presente estudo encontrou uma quantidade menor de correlações significativas quando o comportamento da criança era avaliado pelo professor comparado à avaliação do comportamento pelo responsável. Esse resultado corrobora o encontrado por Ribeiro (2014) de que os responsáveis de crianças com 125 TDAH tendem a relatar mais problemas de comportamentos que os professores, diferentemente do grupo sem TDAH, em que aconteceu o contrário, ou seja, os professores reportaram mais problemas. Entretanto, ainda de acordo com aquela autora, os índices de concordância no relato para estes dois informantes no grupo de TDAH foi alta, reforçando a importância de se colher informações de diferentes pessoas e ambientes em que a criança está inserida. 6.2.2. Funcionamento Adaptativo Sobre os indicadores de funcionamento adaptativo dos responsáveis na amostra, foi encontrado que quanto mais satisfeitos os responsáveis estavam com o parceiro, menos problemas de atenção, agressividade, problemas externalizantes e totais as crianças apresentavam em casa. No que se refere ao ambiente escolar, a satisfação com as relações conjugais dos responsáveis foi relacionada a melhor comportamento das crianças em sala de aula. Já a satisfação dos cuidadores quanto às relações familiares foi associada a menos problemas sociais, problemas com o pensamento, comportamentos de quebrar regras e problemas totais nas crianças no contexto familiar. O estudo de Klassen, Miller e Fine (2004) encontrou que os sintomas das crianças com TDAH exercem um impacto na saúde mental de seus pais e restringem demasiadamente o tempo que eles têm para cuidarem de suas próprias necessidades, interferindo, desta forma, no tempo dispendido com a família e na coesão familiar. De acordo com Harpin (2005), dificuldades nas relações familiares podem deixar as crianças com TDAH se sentindo tristes, com comportamentos agressivos ou com comportamentos de quebrar regras. Também de acordo com esta autora, crianças com TDAH tendem a ter menos atividades em família, quando comparadas com crianças sem o transtorno. Agora com relação apenas à avaliação dos comportamentos das crianças no contexto escolar, foi encontrado que quanto maior a satisfação dos responsáveis quanto aos relacionamentos com os amigos, menos problemas com os pensamentos as crianças apresentavam. Já com relação à satisfação na esfera profissional dos responsáveis, houve associação com melhor rendimento escolar das crianças na escola. Ainda com relação ao desempenho escolar das crianças, foi encontrado que quanto mais problemas de atenção os cuidadores apresentavam, pior era o rendimento das crianças na escola. No estudo de Chronis-Tuscano e colaboradores (2008), foi verificado que durante observação da interação mãe-filho na execução de lição de casa, as mães com sintomas 126 de TDAH apresentaram menos comportamentos associados com práticas parentais adequadas e mais emissões de comando repetitivos. Por fim, no que tange aos resultados deste estudo, quanto maior era a média de adaptação dos responsáveis, menores eram os problemas de atenção e problemas totais das crianças. Também foi encontrada correlação positiva da média de adaptação com melhor desempenho acadêmico das crianças, indicando que quanto melhor era a adaptação dos cuidadores, melhor era o rendimento acadêmico da criança. 127 7. CONCLUSÃO Com este trabalho, foi possível demonstrar como diferentes práticas de educação parental podem ser associadas a diferentes padrões de comportamento nos filhos e nos próprios responsáveis. Padrões caracterizados por práticas negativas se associam a maior frequência de problemas de comportamento e menos indicadores de funcionamento adaptativo, tanto nas crianças como nos cuidadores. Contrariamente, as práticas positivas se associam a comportamentos adequados e ao melhor funcionamento adaptativo da dupla cuidador-criança. Também se mostrou com este estudo que o uso de práticas negativas está associado, no geral, a piores habilidades em funções executivas, sendo o inverso também verdadeiro, ou seja, o uso de práticas positivas está relacionado a melhores habilidades em funções executivas. Entretanto, de acordo com os resultados deste estudo, o uso de práticas parentais, sejam positivas ou negativas, apresentou maior número de correlações significativas com variáveis de ajustamento comportamental das crianças quando comparado com as variáveis referentes ao desempenho cognitivo delas. Talvez as práticas parentais exerçam maior impacto no autorregulamento emocional de crianças com TDAH e não tanto no autorregulamento cognitivo, apesar de relacionados, mas tal hipótese precisa ser investigada com mais estudos. Outra explicação é o fato de crianças com TDAH, em tarefas estruturadas e quando altamente motivadas, conseguirem ter desempenho satisfatório nas funções cognitivas avaliadas. Além disso, foi possível demonstrar também que práticas parentais negativas são mais frequentemente escolhidas e usadas por responsáveis com baixos indicadores de suporte social e familiar, bem como de qualidades de vida, o que mostra que estes responsáveis apresentam níveis altos de conflitos familiares. Por fim, foi visto ainda que problemas de comportamentos nos responsáveis estão associados a outros problemas comportamentais das crianças. No sentido contrário, altas habilidades sociais que caracterizam um bom funcionamento adaptativo dos responsáveis estão relacionadas ao desenvolvimento nas crianças de competências sociais e a um bom rendimento escolar. Portanto, este estudo além de encontrar relação positiva entre os problemas de comportamentos dos responsáveis e os das crianças, encontrou que a saúde mental, e percepção do suporte familiar e de qualidade de vida dos cuidadores, além da própria saúde mental da criança, influenciam na escolha das práticas parentais adotadas. Com isso, encontrar que práticas parentais positivas e altos níveis tanto de percepção de 128 suporte familiar quanto de qualidade de vida estão associados à redução de problemas de saúde mental nas crianças e nos responsáveis, reforça a relevância de se considerar a família no tratamento de crianças com TDAH, bem como na prevenção do agravamento dos sintomas, por meio de treino de práticas parentais ao ensiná-los habilidades para melhor manejar os comportamentos do filho decorrentes da própria sintomatologia do transtorno. Geralmente, a grande preocupação com relação a crianças com o transtorno está relacionada a reduzir os impactos dos comportamentos característicos do TDAH no ambiente escolar, o que significa que a família frequentemente fica fora de foco. Este estudo buscou mostrar a importância de se considerar a família no tratamento de crianças com TDAH, pois, ao se fazer isso, desenvolvemos habilidades nos responsáveis para conseguirem lidar com as dificuldades decorrentes da sintomatologia do transtorno, garantindo uma melhora dos sintomas em longo prazo. Com isso, recomenda-se que nas avaliações clínicas gerais de crianças e adolescentes com TDAH sejam verificados e trabalhados os tipos predominantes de práticas educativas parentais, pois elas são variáveis mediadoras importantes, tanto para o tratamento imediato da criança como para o prognóstico desta, o que resultará em promoção de saúde mental nessa população. O estudo teve algumas limitações, como tamanho amostral reduzido, sendo necessários estudos futuros com amostra ampliada para buscar correlações em função das diferentes apresentações do transtorno, como também em função do gênero. Outra limitação foi a impossibilidade de controlar o uso de medicamentos pelas crianças, uma vez que estudos na literatura apontam que o comportamento dos pais sofre alteração positiva após o início de tratamento medicamentoso devido à rápida melhora nos principais sintomas do transtorno. Também são importantes estudos que investiguem separadamente as práticas parentais das mães das usadas pelos pais para verificar se há constância nas práticas adotadas por ambos os cuidadores. Por fim, faz-se necessário também investigar as mesmas variáveis aqui estudadas em comparação com um grupo controle, ou seja, como são as relações entre práticas parentais e perfis comportamentais dos responsáveis e de crianças de desenvolvimento típico, como também entre práticas parentais e desempenho em testes cognitivos destas crianças. 129 Como uma das forças deste estudo está o fato de terem sido avaliadas apenas crianças que receberam o diagnóstico de TDAH e não aquelas com sinais de desatenção e hiperatividade, motivo pelo qual o tamanho amostral foi reduzido. Além disso, também configurou-se como força o diagnóstico de TDAH ter sido confirmado pelo mesmo neurologista infantil, bem como o uso de múltiplos informantes na avaliação dos problemas de comportamento e competências das crianças. A percepção do professor quanto aos problemas de comportamento das crianças foi extremamente relevante nesta pesquisa, pois tirou o viés da percepção dos pais que poderia estar influenciada inclusive pelas próprias práticas parentais adotadas. Foram investigadas também outras variáveis que, como visto, são fatores intermediadores de práticas educativas parentais inadequadas, como a saúde mental do cuidador, percepção de suporte familiar e de qualidade de vida, bem como características comportamentais dos responsáveis em relação a sintomatologia típica de TDAH neles próprios, se tivermos em conta os componentes familiares imbricados na etiologia do transtorno. 130 8. REFERÊNCIAS ACHENBACH, T. M., RESCORLA, L. A. Manual for the ASEBA Preschool forms & Profiles. Burlington: University of Vermont, Research Center for Children, Youth, & Families, 2000. ACHENBACH, T. M.; RESCORLA, L. A. Manual for the ASEBA school-age forms profiles. 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Ideia central dos itens que compõem a Escala das Síndromes do CBCL/618. ANEXO 5. Ideia central dos itens que compõem a Escala de Competências Totais do CBCL/6-18. ANEXO 6. Ideia central dos itens que compõem a Escala das Síndromes do TRF/6-18. ANEXO 7. Ideia central dos itens que compõem a Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18. ANEXO 8. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala Total de Competências do CBCL/6-18 ANEXO 9. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18. ANEXO 10. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores da Escala de Desatenção e Hiperatividade do TRF/6-18. ANEXO 11. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T dos testes cognitivos (WCST e CPT-II). ANEXO 12. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR. 143 ANEXO 13. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores dos WHOQOL-Bref e IPSF. ANEXO 14. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores da Escala das Síndromes e Escala do Funcionamento Adaptativo do ASR e Escala das Síndromes e Escala de Competências Totais do CBCL/6-18 ANEXO 15. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores da Escala das Síndromes e Escala do Funcionamento Adaptativo do ASR e do TRF/6-18 144 ANEXO 1. Ideia central dos itens que compõem a Escala das Síndromes do ASR. Escala das Síndromes ASR Problemas Internalizantes Problemas Externalizantes Ansiedade/ Depressão Retraimento Social Problemas Somáticos Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Agress. Quebrar Regras Comportamento Intrusivo 12. Sente-se sozinho 25. Não se dá bem com pares 51. Sente tontura 9. Tem pensamentos obsessívos 1. É muito esquecido 3. Discute muito 6. Usa drogas (sem ser álcool ou cigarro) 7. Convencido 13. Confuso ou desorientado 30. Relações 18. Machuca-se de 54. Cansa-se sem 8. Dificuldade para insatisfatórias com propósito ou já tentou se motivo se concentrar sexo oposto matar 5. Culpa os outros pelos problemas 20. Estraga ou 19. Tenta chamar destrói suas coisas atenção 56a. Sente dores 36. Machuca-se (sem causa acidentalmente de forma médica) frequente 11. Dependente dos outros 16. Malvado com outros 23. Desrespeito regras de todos os lugares 74. Gosta de se exibir 14. Chora muito 42. Prefere ficar sozinho 22. Preocupado com o futuro 48. Acha que os outros não gostam dele 56b. Sente dor de cabeça (sem causa médica) 40. Escuta sons ou vozes que não existem 17. Sonha muito acordado 28. Não se dá bem com família 26. Não sente culpa após ter feito algo errado 93. Fala demais 31. Medo de pensar ou fazer algo ruim 60. Poucas coisas lhe dão prazer 56c. Sente náuseas, enjoos (sem causa médica) 46. Tem movimentos nervosos/ tiques 53. Dificuldade para planejar o futuro 37. Mete-se em muitas brigas 39. Anda em más companhias 94. Provoca muito os outros 33. Crença de que ninguém gosta dele 65. Recusa-se a falar 56d. Problemas com olhos (não corrigidos por óculos) 63. Prefere estar com pessoas mais velhas 59. Não termina tarefas 55. Oscila entre excitação e depressão 41. Impulsivo 104. Mais barulhento que os pares 145 Escala das Síndromes ASR Problemas Internalizantes Problemas Externalizantes Ansiedade/ Depressão Retraimento Social Problemas Somáticos Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Agress. Quebrar Regras 34. Acha que os outros o perseguem 67. Dificuldade para fazer/manter amigos 56e. Problemas de pele (sem causa médica) 66. Tem ações compulsivas 61. Desempenho profissional baixo 57. Ataca fisicamente outras pessoas 43. Mente ou engana 70. Vê coisas que não existem 64. Dificuldade para priorizar 68. Grita ou berra muito 76. Comportamento irresponsável 84. Tem comportamento estranho 78. Dificuldade para tomar decisões 81. Comportamento instável 82. Rouba 85. Tem ideias estranhas 101. Absenteísmo no trabalho 86. Teimoso ou facil de se irritar 90. Bebe demais bebidas alcoólicas 35. Sente-se sem valor 69. Reservado 45. Nervoso ou tenso 111. Evita se relacionar 56f. Tem dores de estômago ou barriga (sem causa médica) 56g. Têm vômitos (sem causa médica) 47. Sem autoconfiança 56h. Coração disparado (sem causa médica) 50. Medroso ou ansioso 56i. Partes do corpo entorpecidas (sem causa médica) 102. Sente-se sem energia 87. Labilidade emocional 92. Faz coisas ilegais 52. Sente-se muito culpado 100.Tem problemas com o sono 105. Considerado desorganizado pelos outros 95. Esquentado 114. Não arca com responsabilidades financeiras 108. Tende a perder coisas 97. Ameaça machucar pessoas 117. Tem problemas para administrar dinheiro 71. Envergonha-se facilmente Comportamento Intrusivo 146 Escala das Síndromes ASR Problemas Internalizantes Ansiedade/ Depressão Problemas de Atenção Agress. Quebrar Regras 91. Pensa em suicídio 119. Presta pouca atenção a detalhes 116. Aborrece-se facilmente 122. Tem dificuldade para manter emprego 103. Triste ou deprimido 121. Tende a se atrasar nos compromissos 118. Muito impaciente 107. Sente que não pode ser bem sucedido 112. Muito preocupado 113. Preocupado com relações com sexo oposto Retraimento Social Problemas Somáticos Problemas Externalizantes Problemas com Pensamento Comportamento Intrusivo 147 ANEXO 2. Ideia central dos itens que compõem a Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR. Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR Média de Adaptação Forças Pessoais Amigos Parceiro Família Trabalho Educação I.a. Quantos amigos próximos tem (sem incluir família) II.a. Se dá bem com parceiro III.a. Quão bem se relaciona com irmãos (comparado com pares) IV.a. Trabalha bem com outros V.a. Se dá bem com outos estudantes 2. Sabe aproveitar oportunidades I.b. Quantas vezes por semana tem contato com amigos II.b. Dificuldade para dividir responsabilidades com parceiro III.b. Quão bem se relaciona com irmãs (comparado com pares) IV.b. Dificuldade para se relacionar com chefes V.b. Alcança o que está dentro de sua capacidade 4. Desenvolve suas habilidades I.c. Quão bem se dá com amigos II.c. Sente-se satisfeito com parceiro III.c. Quão bem se relaciona com a mãe (comparado com pares) IV.c. Faz bem seu trabalho V.c. Tem dificuldade para terminar tarefas 15. É muito honesto I.d. Qual a frequência por mês que recebe visitas dos amigos II.d. Gostam de atividades semelhantes III.d. Quão bem se relaciona com o pai (comparado com pares) IV.d. Dificuldade para terminar seu trabalho V.d. Satisfeito com sua situação educacional 49. Capaz de fazer algumas coisas melhor do que os pares IV.e. Satisfeito com sua situação de trabalho V.e. Faz coisas que podem reprová-lo 73. Cumpre as responsabilidades para com a família II.e. Discordam quanto a administração do lar II.f. Tem problemas com família do parceiro III.e (1-4) Quão bem se relaciona com filhos (comparado com pares) III.f. Quão bem se relaciona com enteados (comparado com pares) IV.f. Faz coisas que ameaçam perder seu trabalho 80. Luta pelos seus direitos II.g. Gosta dos amigos do parceiro IV.g. Falta ao trabalho sem justificativa 88. Gosta de estar com as pessoas II.h. Incomoda-se com comportamento do parceiro IV.h. Acha seu trabalho muito estressante 98. Gosta de ajudar os outros IV.i. Preocupado demais com seu trabalho 106. Gosta de ser justo com os outros 109. Gosta de experimentar 123. Considerase feliz Nota: Para os itens "b", "e"," f" e "h" de Parceiro, para os itens "b", "d", "f", "g", "h" e "i' de Trabalho e para os itens "c" e "e" de Educação , as pontuações são invertidas. 148 ANEXO 3. Ideia central dos itens que correspondem aos Itens Críticos e Outros Problemas. ASR Itens Críticos 6. Usa drogas (sem 66. Tem ações ser álcool ou compulsivas cigarro) Outros Problemas 10. Dificuldade para parar sentado 75. Acanhado ou tímido 8. Dificuldade para se concentrar 70. Vê coisas que não existem 21. Estraga ou destrói coisas de outros 77. Dorme mais durante dia/noite (comparado com pares) 9. Tem pensamentos obsessívos 84. Tem comportamento estranho 24. Não come bem como deveria 79. Tem problemas de fala 10. Dificuldade para parar sentado 90. Bebe demais bebidas alcoólicas 27. Sente ciúmes dos outros 83. Entedia-se facilmente 14. Chora muito 91. Pensa em suicídio 29. Medo de certos animais, situações ou lugares 89. Impulsivo 16. Malvado com outros 92. Faz coisas ilegais 32. Acha que precisa ser perfeito 96. Pensa demais em sexo 18. Machuca-se de propósito ou já tentou se matar 97. Ameaça machucar as pessoas 38. Relações insatisfatórias com vizinhos 99. Não gosta de ficar muito tem no mesmo lugar 21. Estraga ou destrói coisas de outros 103. Triste ou deprimido 44. Sente-se sobrecarregado 110. Gostaria de ser do sexo oposto 40. Escuta sons ou vozes que não existem 58. Cutuca partes do corpo 115. Irriquieto ou agitado 55. Oscila entre excitação e depressão 62. Desastrado 120. Dirige muito rápido 57. Ataca fisicamente outras pessoas 72. Preocupado com a família 149 ANEXO 4. Ideia central dos itens que compõem a Escala das Síndromes do CBCL/6-18. CBCL/6-18 Problemas Internalizantes Retraimento Social/ Ansiedade/ Depressão Depressão Problemas Externalizantes Problemas Somáticos Problemas Sociais Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade 14. Chora muito 5. Poucas coisas lhe dão prazer 47. Tem pesadelos 11. Dependente dos adultos 9. Tem pensamentos obsessívos 1. Infantil para sua idade 2. Toma bebida alcoólica escondido 3. Discute muito 29. Medo de certos animais, situações ou lugares, sem incluir escola 42. Prefere ficar sozinho 49. Tem prisão de ventre/intestino preso 12. Reclama de solidão 18. Machuca-se de propósito ou já tentou se matar 4. Não termina o que começa 26. Não sente culpa 16. Cruel com outros 30. Medo da escola 65. Recusa-se a falar 51. Tem tonturas 25. Não se dá bem com pares 31. Medo de fazer algo ruim ou errado 69. Reservado 54. Sente-se muito cansado sem motivo 27. Sente ciúme ou inveja 40. Escuta sons ou vozes que não existem 46. Tem movimentos repetitivos 32. Necessidade de fazer tudo perfeito 75. Acanhado ou tímido 56a. Sente dores (sem causa médica) 34. Acha que os outros o perseguem 58. Cutuca partes do corpo 13. Confuso ou desorientado 43. Mente ou engana os outros 33. Crença de que ninguém gosta dele 102. Pouco ativo 36. Machuca-se com frequência 59. Mexe nas partes íntimas em público 17. Distraído, perde-se em seus pensamentos 63. Prefere estar com pessoas mais velhas 35. Sente-se sem valor 103. Infeliz, triste ou deprimido 38. Alvo de gozações 60. Mexe demais nas partes íntimas 41. Impulsivo 67. Foge de casa 45. Nervoso ou tenso 111. Isola-se 48. Os pares não gostam dele 66. Tem ações compulsivas 61. Baixo desempenho escolar 72. Põe fogo nas coisas 56b. Sente dor de cabeça (sem causa médica) 56c. Sente náuseas, enjoos (sem causa médica) 56d. Problemas com olhos (não corrigidos por óculos) 8. Dificuldade para se concentrar 10. Hiperativo 28. Desrespeita as regras em todos os lugares 39. Anda em más companhias 19. Exige atenção 20. Destrói suas coisas 21. Destróis as coisas dos outros 22. Desobediente em casa 23. Desobediente na escola 37. Mete-se em muitas brigas 150 CBCL/6-18 Problemas Internalizantes Problemas Somáticos Problemas Sociais Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade 50. Medroso ou ansioso 57e. Problemas de pele (sem causa médica) 62. Desajeitado 70. Vê coisas que não existem 78. Desatento 73. Tem problemas sexuais 57. Ataca fisicamente os outros 52. Sente-se muito culpado 57f. Tem dores de estômago ou barriga (sem causa médica) 64. Prefere estar com pessoas mais novas 76. Dorme menos que os pares 80. Fica com o olhar parado 81. Rouba em casa 68. Grita muito 71. Preocupado com o que os outros vão pensar dele 56g. Têm vômitos (sem causa médica) 79. Tem problemas de fala 83. Acumula coisas sem valor 82. Rouba fora de casa 86. Teimoso e mal humorado 90. Fala palavrões 87. Labilidade emocional Ansiedade/ Depressão 91. Fala de suicídio 112. Muito preocupado Retraimento Social/ Depressão Problemas Externalizantes 84. Tem comportamento estranho 85. Tem ideias estranhas 92. Fala ou anda dormindo 100. Tem problemas com o sono 96. Pensa demais em sexo 99. Fuma cigarro 101. Mata aula 88. Facilmente emburrado 89. Desconfiado 94. Gosta de gozar dos outros 105. Usa drogas (sem ser álcool e cigarro) 95. Tem crises de birra 106. Comete atos de vandalismo 97. Ameaça as pessoas 104. Muito barulhento 151 ANEXO 5. Ideia central dos itens que compõem a Escala de Competências Totais do CBCL/6-18. Escala das Competências CBCL/6-18 Competências em Atividades Competências sociais Competências escolares VII.1. Média de desempenho I.a. Número de esportes que III.a. Número de escolar (comparado com pratica organizações que frequenta pares) I.b. Média de dedicação e III.b. Média de participação VII.2. Frequenta classe desempenho nos esportes nas organizações especial (comparado com pares) (comparado com pares) II.a. Número de outras atividades que realiza V.1. Número de amigos próximos VII.3. Já repetiu ano escolar II.b. Média de dedicação e desempenho nas atividades (comparado com pares) V.2. Frequência de contato com amigos VII.4. Tem ou já teve problemas na escola IV.a. Número de tarefas ou trabalhos que realiza VI.a-c. Comportamento com outros IV.b. Média do desempenho nas tarefas (comparado com pares) VI.d. Comportamento sozinho Nota: Para os itens VII.2, 3 e 4 de Competências escolares, as pontuações são invertidas. 152 ANEXO 6. Ideia central dos itens que compõem a Escala das Síndromes do TRF/6-18. Escala das Síndromes TRF/6-18 Problemas Internalizantes Problemas Externalizantes Ansiedade/ Depressão Retraimento Social/ Depressão Problemas Somáticos 14. Chora muito 5. Poucas coisas lhe dão prazer 51. Tem tonturas 11. Dependente dos adultos 9. Tem pensamentos obsessívos 29. Medo de certos animais, situações ou lugares, sem incluir escola 42. Prefere ficar sozinho 54. Sente-se muito cansado sem motivo 12. Reclama de solidão 18. Machuca-se de propósito ou já tentou se matar 30. Medo da escola 65. Recusa-se a falar 56a. Sente dores (sem causa médica) 25. Não se dá bem com outros alunos 40. Escuta sons ou vozes que não existem 31. Medo de fazer algo ruim ou errado 69. Reservado 56b. Sente dor de cabeça (sem causa médica) 27. Sente ciúme ou inveja 32. Necessidade de fazer tudo perfeito 75. Acanhado ou tímido 56c. Sente náuseas, enjoos (sem causa médica) 33. Crença de que ninguém gosta dele 102. Pouco ativo 35. Sente-se sem valor 45. Nervoso ou tenso Problemas Sociais Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade 1. Infantil para sua idade 2. Faz sons com a boca ou outros barulhos durante a aula 26. Não sente culpa 3. Discute muito 28. Desrespeita as regras na escola 6. Desafia os funcionários da escola 4. Não termina o que começa 39. Anda em más companhias 16. Cruel com outros 46. Tem movimentos repetitivos 7. Gosta de contar vantagem 43. Mente ou engana os outros 19. Exige atenção 34. Acha que os outros o perseguem 58. Cutuca partes do corpo 8. Dificuldade para se concentrar 63. Prefere estar com pessoas mais velhas 20. Destrói suas coisas 56d. Problemas com olhos (não corrigidos por óculos) 36. Machuca-se com frequência 66. Tem ações compulsivas 10. Hiperativo 82. Rouba 103. Infeliz, triste ou deprimido 57e. Problemas de pele (sem causa médica) 38. Alvo de gozações 70. Vê coisas que não existem 13. Confuso ou desorientado 90. Fala palavrões 111. Isola-se 57f. Tem dores de estômago ou barriga (sem causa médica) 48. Os pares não gostam dele 83. Acumula coisas sem valor 15. Inquieto 96. Preocupado com sexo 21. Destróis as coisas dos outros 23. Desobediente na escola 37. Mete-se em muitas brigas 153 Escala das Síndromes TRF/6-18 Problemas Internalizantes Retraimento Social/ Depressão Problemas Externalizantes Problemas Somáticos Problemas Sociais Problemas com Pensamento Problemas de Atenção Quebrar Regras Agressividade 56g. Têm vômitos (sem causa médica) 62. Desajeitado 84. Tem comportamento estranho 17. Distraído, perdese em seus pensamentos 98. Chega atrasado na aula 57. Ataca fisicamente os outros 52. Sente-se muito culpado 64. Prefere estar com pessoas mais novas 85. Tem ideias estranhas 22. Dificuldade para seguir instruções 99. Fuma cigarro 68. Grita muito 71. Preocupado com o que os outros vão pensar dele 79. Tem problemas de fala 24. Perturba outros alunos 101. Mata aula 76. Estourado, tem comportamento imprevisível 41. Impulsivo 105. Usa drogas (sem ser álcool e cigarro) 77. Frastra-se facilmente Ansiedade/ Depressão 50. Medroso ou ansioso 81. Magoa-se quando criticado 91. Fala de suicídio 106. Necessidade de agradar os outros 108. Medo de errar 112. Muito preocupado 49. Dificuldade para aprender 53. Fala na vez do outro 60. Desmotivado 61. Baixo desempenho escolar 67. Perturba a aula 86. Teimoso e mal humorado 87. Labilidade emocional 88. Facilmente emburrado 89. Desconfiado 94. Gosta de gozar dos outros 72. Desorganização nos trabalhos 95. Tem crises de birra 73. Irresponsável 97. Ameaça as pessoas 154 Escala das Síndromes TRF/6-18 Problemas Internalizantes Retraimento Ansiedade/ Depressão Social/ Problemas Somáticos Depressão Problemas Externalizantes Problemas Sociais Problemas com Pensamento Problemas de Atenção 74. Gosta de fazer palhaçadas 78. Desatento 80. Fica com o olhar parado 92. Rendimento inferior à sua capacidade 93. Fala demais 100. Não consegue cumprir as tarefas 109. Choraminga Quebrar Regras Agressividade 104. Muito barulhento 155 ANEXO 7. Ideia central dos itens que compõem a Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18. Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18 Desempenho acadêmico VII. Desempenho escolar atual (comparado com pares) Esforço Comportamento Aprendizagem VIII.1. Quanto se esforça (comparado com pares) VIII.2. Quão apropriado é seu comportamento (comparado com pares) VIII.3. Quanto aprende (comparado com pares) Felicidade VIII.4. Quão feliz é (comparado com pares) 156 ANEXO 8. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala Total de Competências do CBCL/6-18 cbcl Ansiedade/ Depressão cbcl Retraim/ Depressão cbcl Problemas Somáticos cbcl Problemas Sociais IEP_MP IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF -,134 -,004 ,237 -,130 ,450* ,208 ,192 -,195 ,512 26 ,984 26 ,243 26 ,526 26 ,021 26 ,309 26 ,348 26 ,340 26 -,209 -,216 -,028 ,196 ,337 ,112 -,145 -,193 p ,306 ,288 ,891 ,337 ,092 ,588 ,481 ,345 n 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman ,104 -,066 -,071 -,429* ,263 -,035 -,172 ,127 p ,612 ,751 ,731 ,029 ,194 ,865 ,400 ,537 26 26 26 26 26 26 26 26 -,452* -,173 ,148 -,037 ,185 ,009 ,328 -,273 ,021 ,397 ,470 ,858 ,367 ,965 ,102 ,177 26 26 26 26 26 26 26 26 -,476* -,456* ,115 -,177 ,461* -,026 ,326 -,333 p ,014 ,019 ,577 ,387 ,018 ,898 ,105 ,096 n 26 26 26 26 26 26 26 26 -,392* -,240 ,453* ,363 ,386 ,213 ,592** ,600** p ,048 ,238 ,020 ,068 ,051 ,295 ,001 ,001 n 26 26 26 26 26 26 26 26 -,400* -,225 ,104 ,221 ,021 ,025 ,398* -,329 p ,043 ,269 ,614 ,279 ,918 ,902 ,044 ,101 n 26 26 26 26 26 26 26 26 -,529** -,177 ,427* -,192 ,377 ,396* ,671** ,536** p ,006 ,388 ,029 ,349 ,058 ,045 ,000 ,005 n 26 26 26 26 26 26 26 26 -,162 -,147 ,179 -,088 ,508** ,236 ,076 -,237 ,430 ,475 ,383 ,668 ,008 ,246 ,712 ,244 26 26 26 26 26 26 26 -,544** -,200 ,401* -,098 ,280 ,333 ,642** ,004 ,327 ,043 ,634 ,166 ,096 ,000 26 ,531** ,005 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman p n rho de Spearman n rho de Spearman p n cbcl Problemas com o Pensamento rho de Spearman rho de Spearman cbcl Problemas de Atencão cbcl Quebrar Regras cbcl Agressividade cbcl Internalizantes cbcl Externalizantes rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman p n rho de Spearman p n IEP 157 cbcl Problemas Totais cbcl Atividades IEP_MP IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF IEP -,500** -,375 ,249 -,142 ,433* ,145 ,480* -,447* ,009 ,059 ,219 ,488 ,027 ,479 ,013 ,022 26 26 26 26 26 26 26 26 ,581** ,365 -,118 -,366 -,316 -,067 -,259 ,429* ,002 ,067 ,566 ,066 ,116 ,747 ,201 ,029 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman ,337 ,176 -,132 -,179 -,294 -,093 -,382 ,372 p ,092 ,389 ,520 ,382 ,144 ,652 ,054 ,062 n 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman ,311 ,237 -,152 -,369 -,340 ,063 -,109 ,261 p ,131 ,255 ,469 ,070 ,097 ,763 ,604 ,207 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ,552** ,353 -,089 -,374 -,348 ,008 -,319 ,426* ,004 ,084 ,673 ,066 ,088 ,968 ,121 ,034 25 25 rho de Spearman p n rho de Spearman p n cbcl Competência Social cbcl Escola cbcl Total Competencia rho de Spearman p n 25 25 25 25 25 25 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 158 ANEXO 9. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo do TRF/6-18. trf Ansiedade/ Depressão IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF -,032 ,046 ,302 ,056 ,007 ,132 ,010 -,121 p ,879 ,826 ,142 ,789 ,975 ,529 ,964 ,564 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,259 -,335 ,202 ,138 ,251 ,056 ,049 -,277 p ,211 ,102 ,333 ,511 ,227 ,789 ,817 ,180 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,144 ,068 ,416* ,347 ,067 ,273 -,007 -,251 p ,493 ,748 ,039 ,089 ,749 ,188 ,972 ,226 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,338 -,117 ,339 ,174 ,110 -,016 ,177 -,303 p ,098 ,578 ,098 ,406 ,599 ,940 ,396 ,141 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,198 -,092 ,513** ,059 ,348 ,151 ,175 -,357 p ,342 ,662 ,009 ,778 ,088 ,472 ,402 ,080 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,421* -,029 ,608** ,011 -,002 ,197 ,265 -,375 p ,036 ,890 ,001 ,957 ,992 ,346 ,200 ,065 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,180 -,075 ,243 ,121 -,050 ,183 ,367 -,296 ,388 ,720 ,242 ,565 ,811 ,382 ,071 ,151 25 25 25 25 25 25 25 25 -,170 -,140 ,182 -,015 -,010 ,259 ,323 -,307 ,417 ,506 ,385 ,942 ,963 ,210 ,115 ,136 25 25 25 25 25 25 25 25 -,149 -,132 ,339 ,104 ,203 ,098 ,002 -,230 ,477 ,530 ,097 ,622 ,330 ,640 ,993 ,270 25 25 25 25 25 25 25 25 -,171 -,131 ,231 ,019 -,040 ,304 ,373 -,339 ,413 25 ,532 25 ,267 25 ,927 25 ,849 25 ,140 25 ,066 25 ,098 25 rho de Spearman rho de Spearman trf Depressão trf Problemas Somáticos trf Problemas Sociais trf Problemas com o Pensamento trf Problemas de Atenção trf Quebra rRegras trf Agressividade rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman p n rho de Spearman p n trf Internalizantes trf Externalizantes IEP Total IEP_MP rho de Spearman p n rho de Spearman p n 159 trf Problemas Totais trf Performance Acadêmica IEP_MP IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF IEP Total -,353 -,131 ,483* ,162 ,041 ,186 ,331 -,418* ,083 ,532 ,014 ,438 ,846 ,373 ,106 ,038 25 25 25 25 25 25 25 25 ,295 ,064 -,521** -,538** -,306 -,123 -,362 ,488* ,152 ,761 ,008 ,006 ,137 ,559 ,076 ,013 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,276 ,181 -,171 ,007 ,166 ,219 ,034 ,058 p ,182 ,385 ,413 ,974 ,428 ,292 ,871 ,782 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,330 -,013 -,282 ,113 ,070 -,153 -,320 ,236 p ,107 ,950 ,172 ,590 ,740 ,465 ,118 ,256 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,386 ,122 -,197 -,388 -,019 ,173 -,108 ,249 p ,063 ,571 ,357 ,061 ,929 ,420 ,617 ,240 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,204 -,082 ,178 -,150 ,374 ,383 ,245 -,259 p ,339 ,703 ,406 ,485 ,072 ,064 ,249 ,222 n 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman ,237 ,147 -,114 -,229 ,255 ,215 -,014 ,103 p ,276 ,504 ,604 ,294 ,240 ,325 ,948 ,639 n 23 23 23 23 23 23 23 23 rho de Spearman p n rho de Spearman p n trf Esforço trf Bom Comportamento trf Aprendizagem rho de Spearman trf Felicidade trf Soma Itens Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 160 ANEXO 10. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores da Escala de Desatenção e Hiperatividade do TRF/6-18. IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF -,401* -,011 ,448* ,045 ,124 ,002 -,045 -,208 p ,047 ,958 ,025 ,831 ,553 ,992 ,830 ,317 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,420* -,161 ,489* -,052 -,130 ,303 ,483* -,420* ,036 ,443 ,013 ,806 ,535 ,141 ,014 ,037 25 25 rho de Spearman trf Desatenção trf Hiperatividade IEP Total IEP_MP rho de Spearman p 25 25 25 25 25 25 n Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 161 ANEXO 11. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T dos testes cognitivos (WCST e CPT-II). WCST Total Acertos IEP_MP IEP_CM -,105 -,374 ,128 p ,609 ,060 n 26 IEP_MN IEP_AF -,006 ,521** ,035 ,212 -,309 ,532 ,978 ,006 ,865 ,298 ,125 26 26 26 26 26 26 26 ,593** ,072 -,306 -,399* -,334 -,145 -,217 ,447* p ,002 ,731 ,137 ,048 ,102 ,490 ,297 ,025 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ,558** ,050 -,291 -,388 -,274 -,126 -,187 ,413* p ,004 ,812 ,159 ,055 ,184 ,550 ,370 ,040 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ,553** ,251 -,376 -,107 -,440* -,155 -,384 ,516** p ,004 ,227 ,064 ,612 ,028 ,458 ,058 ,008 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ,534** ,204 -,364 -,065 -,436* -,150 -,378 ,486* p ,006 ,327 ,073 ,756 ,029 ,474 ,062 ,014 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ** ,168 -,330 -,152 -,280 -,135 -,360 ,456* ,004 ,423 ,107 ,468 ,175 ,521 ,077 ,022 25 25 25 25 25 25 25 25 ,542** ,145 -,332 -,132 -,280 -,106 -,340 ,435* p ,005 ,490 ,104 ,529 ,175 ,613 ,096 ,030 n 25 25 25 25 25 25 25 25 ,436* ,036 -,255 -,297 -,057 -,406* -,187 ,367 p ,029 ,866 ,219 ,149 ,786 ,044 ,370 ,071 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,343 -,068 -,261 -,202 ,092 -,363 -,140 ,264 p ,093 ,748 ,208 ,334 ,660 ,075 ,506 ,202 n 25 25 25 25 25 25 25 25 -,088 * -,017 ,008 ,331 -,077 ,180 -,211 rho de Spearman IEP_N IEP Total IEP_DR rho de Spearman IEP_PI WCST Total Erros WCST Percentual Total Erros WCST Respostas Perseverativas WCST Percentual Respostas Perseverativas WCST Erros Perseverativos rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman p n WCST Percentual Erros Perseverativos WCST Erros Não Perseverativos WCST Percent Erros Não Perseverativos rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman WCST Respostas Nível Conceitual WCST Percentual Respostas Nível Conceitual ,558 -,434 p ,670 ,027 ,935 ,970 ,098 ,708 ,379 ,300 n 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman ,212 -,159 -,081 -,184 -,284 -,157 -,011 ,165 p ,309 ,447 ,701 ,378 ,169 ,453 ,960 ,431 n 25 25 25 25 25 25 25 25 162 WCST Categorias Completas WCST Ensaios Primeira Categoria WCST Fracasso Contexto WCST Aprendendo Aprender IEP_MP IEP_CM IEP_PI IEP_N IEP_DR IEP_MN IEP_AF IEP Total rho de Spearman ,324 -,187 -,334 -,217 ,122 -,366 -,177 ,257 p ,106 ,360 ,095 ,287 ,552 ,066 ,388 ,204 n 26 26 26 26 26 26 26 26 * -,357 -,080 ,039 ,231 rho de Spearman ,129 ,096 -,060 p ,531 ,642 ,772 ,032 ,073 ,698 ,851 ,256 n 26 26 26 26 26 26 26 26 -,272 -,277 ,307 -,179 ,344 ,248 ,441* -,386 p ,179 ,171 ,127 ,382 ,085 ,221 ,024 ,051 n rho de Spearman 26 26 26 26 26 26 26 26 rho de Spearman ,360 -,055 -,283 -,181 -,403 -,199 -,088 ,298 p ,084 ,800 ,181 ,396 ,051 ,351 ,682 ,157 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,161 -,169 ,084 -,516** ,083 ,001 ,059 -,027 p ,451 ,429 ,697 ,010 ,700 ,995 ,784 ,899 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,411* -,536** -,028 ,008 -,078 -,290 ,089 -,169 p ,046 ,007 ,897 ,972 ,718 ,168 ,681 ,430 n rho de Spearman cpt omissões rho de Spearman cpt comissões cpt HitRT cpt HitRT Std.error 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman ,241 ,302 -,159 -,348 -,131 ,020 ,059 ,227 p ,256 ,152 ,457 ,096 ,542 ,926 ,784 ,285 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,103 -,093 -,110 -,327 -,206 ,044 ,067 ,030 p ,634 ,665 ,608 ,118 ,334 ,839 ,756 ,889 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,114 -,116 -,082 -,249 -,282 ,049 ,092 -,001 p ,594 ,589 ,704 ,241 ,182 ,818 ,670 ,997 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,427* -,654** -,027 -,112 -,062 -,189 ,104 -,219 p ,038 ,001 ,901 ,602 ,773 ,378 ,628 ,305 n 24 24 24 24 24 24 24 24 ,086 -,037 -,196 -,258 -,248 ,030 ,035 ,112 ,690 ,865 ,360 ,224 ,242 ,889 ,870 ,602 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman ,174 ,250 ,265 -,303 ,237 ,321 ,196 -,103 p ,416 ,239 ,212 ,150 ,265 ,126 ,358 ,631 n 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman rho de Spearman cpt Variabilidade rho de Spearman cpt detectabilidade cpt perseveracões rho de Spearman p n cpt hitRT BlockChange -,421 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 163 ANEXO 12. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores T da Escala das Síndromes e Escala de Funcionamento Adaptativo do ASR. asr Ansiedade/ Depressão IEP MP IEP CM IEP PI -,350 -,276 ,640** ,093 ,192 ,001 IEP N ,102 ,635 24 24 24 -,074 -,142 p ,730 n rho de Spearman p asr Problemas Somáticos asr Problemas Pensamento asr Problemas de Atenção asr Agressividade asr Quebrar Regras asr Comportament o Intrusivo asr forças asr Itens Críticos IEP MN IEP AF IEP Total ,498* ,376 ,434* -,560** ,013 ,070 ,034 ,004 24 24 24 24 24 ,506* ,156 ,455* ,409* ,179 -,356 ,509 ,012 ,466 ,026 ,047 ,402 ,088 24 24 24 24 24 24 24 24 -,222 -,076 ,441* ,010 ,182 ,389 ,246 -,333 p ,297 ,722 ,031 ,964 ,394 ,060 ,246 ,112 n 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman ,062 ,053 ,460* 24 ,440 ,214 ,359 ,269 -,214 p ,773 ,807 ,024 ,032 ,314 ,085 ,204 ,315 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,238 -,066 ,502* ,088 ,467* ,355 ,335 -,410* p ,263 ,760 ,012 ,684 ,021 ,088 ,110 ,047 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,443* -,053 ,769** ,057 ,401 ,493* ,641** -,673** p ,030 ,807 ,000 ,793 ,052 ,014 ,001 ,000 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,319 -,101 ,481* ,064 ,689** ,276 ,499* -,546** p ,129 ,640 ,017 ,767 ,000 ,191 ,013 ,006 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,158 ,158 ,202 ,054 ,179 ,106 ,305 -,207 p ,462 ,460 ,345 ,802 ,403 ,620 ,148 ,332 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,385 -,118 -,278 ,356 n asr Retraimento Social IEP DR rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman * rho de Spearman ,184 ,231 -,293 ,069 p ,389 ,277 ,164 ,749 ,063 ,581 ,189 ,088 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,291 -,081 ,516** ,000 ,269 ,322 ,496* -,457* p ,167 ,706 ,010 ,999 ,204 ,125 ,014 ,025 n 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman 164 asr internalizantes asr externalizantes IEP_ MP IEP_ CM IEP_ PI IEP _N IEP_ DR IEP_ MN IEP_ AF IEP Total -,272 -,217 ,616** ,113 ,379 ,447* ,351 -,483* p ,199 ,308 ,001 ,600 ,068 ,029 ,093 ,017 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,387 -,013 ,702** ,098 ,482* ,460* ,629** -,646** p ,061 ,950 ,000 ,650 ,017 ,024 ,001 ,001 n 24 24 24 24 24 24 24 24 -,271 -,117 ,658** ,067 ,485* ,460* ,433* -,527** p ,200 ,585 ,000 ,756 ,016 ,024 ,034 ,008 n 24 24 24 24 24 24 24 24 ,485* ,330 ,543** ,128 -,056 -,419* -,333 ,511* p ,016 ,115 ,006 ,552 ,796 ,042 ,112 ,011 n 24 24 24 24 24 24 24 24 ,477* ,182 -,568* ,031 -,448 -,260 ,676** ,633** p ,039 ,456 ,011 ,901 ,054 ,282 ,001 ,004 n 19 19 19 19 19 19 19 19 -,340 -,506* -,185 ,001 ,281 -,280 ,064 -,168 p ,105 ,012 ,388 ,996 ,183 ,185 ,765 ,432 n 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman ,067 ,080 -,133 ,116 ,196 -,251 -,221 ,238 p ,828 ,794 ,664 ,705 ,522 ,408 ,469 ,433 n 13 13 13 13 13 13 13 13 rho de Spearman ,362 -,094 ,760** ,120 -,214 ,546** ,546** ,540** p ,083 ,661 ,000 ,576 ,315 ,006 ,006 ,006 n 24 24 24 24 24 24 24 24 rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman asr Problemas Totais rho de Spearman asr Amigos rho de Spearman asr Parceiro rho de Spearman asr Família asr Trabalho asr Média Adaptação Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 165 ANEXO 13. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores do IEP e os escores dos WHOQOL-Bref e IPSF. IEP MP IPSF Afetivo Consistente IPSF Adaptação Familiar IPSF Autonomia WHOQOL Domínio Físico WHOQOL Domínio Psicológico WHOQOL Domínio Relações Sociais WHOQOL Domínio Meio Ambiente WHOQOL Total rho de Spearman IEP CM IEP PI IEP N IEP DR IEP MN IEP AF IEP Total ,420* ,167 -,435* -,272 -,303 -,316 ,798** ,621** ,036 ,424 ,030 ,189 ,141 ,124 ,000 ,001 25 25 25 25 25 -,064 -,332 -,304 -,506** ,621** ,129 ,762 ,105 ,140 ,010 25 ,705** ,000 25 ,312 25 ,641** ,001 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,310 ,117 -,264 ,064 -,456* -,316 -,309 ,356 p ,132 ,579 ,203 ,763 ,022 ,124 ,133 ,080 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,257 -,104 ,542** -,048 -,372 -,369 -,436* ,385 p ,216 ,621 ,005 ,820 ,067 ,069 ,030 ,057 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,135 ,032 ,648** ,144 -,280 -,437* -,477* ,427* p ,520 ,880 ,000 ,493 ,174 ,029 ,016 ,033 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,148 ,197 ,532** ,113 -,051 -,437* ,654** ,455* p ,482 ,346 ,006 ,591 ,810 ,029 ,000 ,022 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,253 -,200 -,490* -,265 -,220 -,331 -,414* ,369 p ,223 ,337 ,013 ,201 ,290 ,106 ,040 ,070 n 25 25 25 25 25 25 25 25 rho de Spearman ,354 -,062 ,748** -,070 -,307 -,624** ,696** ,602** p ,083 ,767 ,000 ,741 ,136 ,001 ,000 ,001 n 25 25 25 25 25 25 25 25 p n rho de Spearman p n ,001 Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos. MP=Monitoria Positiva; CM= Comportamento Moral; PI=Punição Inconsistente; N=Negligência; DR=Disciplina Relaxada; MN=Monitoria Negativa; AF=Abuso Físico; IEP=Estilo Parental Total. 166 ANEXO 14. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores da Escala das Síndromes e Escala do Funcionamento Adaptativo do ASR e Escala das Síndromes e Escala de Competências Totais do CBCL/6-18 asr Ans/ Dep. cbcl Ans./ Dep. cbcl Retraim./ Dep. cbcl Prob. Somático cbcl Problemas Sociais cbcl Probl. Pensam. cbcl Probl. de Atenção asr Ret. Social asr Probl. Som. asr Probl. Pens. asr Probl. Atenção asr Agres. asr Queb. Regra ,257 ,518** ,448* ,167 ,261 ,394 ,387 -,015 p n rho de Spearman p n rho de Spearman ,226 24 ,009 24 ,028 24 ,434 24 ,219 24 ,057 24 ,062 24 ,090 ,202 -,060 -,050 ,062 -,047 ,676 24 ,345 24 ,780 24 ,818 24 ,773 24 ,183 ,414* ,215 ,213 p ,391 ,044 ,313 n 24 24 24 rho de Spearman asr Comp. Intrus. asr Itens Crít. asr intern. asr extern. asr Probl. Totais asr forças asr Amigo ,331 ,355 ,389 ,351 -,057 -,042 -,383 ,142 -,036 -,264 ,943 24 ,114 24 ,089 24 ,060 24 ,093 24 ,792 24 ,844 24 ,106 19 ,508 24 ,907 13 ,213 24 ,187 ,007 -,117 ,023 ,001 ,025 -,245 -,243 ,189 ,346 ,029 ,078 ,827 24 ,382 24 ,973 24 ,585 24 ,917 24 ,997 24 ,908 24 ,249 24 ,252 24 ,439 19 ,098 24 ,924 13 ,717 24 ,253 ,151 ,217 -,110 ,189 ,230 ,177 ,215 ,135 ,132 -,077 ,002 ,224 -,034 ,318 ,234 ,482 ,309 ,609 ,376 ,280 ,409 ,314 ,530 ,538 ,753 ,993 ,461 ,873 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 * ,338 ,251 ,294 ,163 ,388 ,191 ,047 -,129 -,438 * ,091 -,131 asr parc. asr família asr trab. asr Média Adapt. rho de Spearman ,167 ,152 ,246 ,153 ,112 p ,436 ,480 ,246 ,475 ,601 ,040 ,106 ,236 ,163 ,448 ,061 ,371 ,828 ,547 ,061 ,044 ,768 ,543 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 rho de Spearman ,402 ,368 ,270 ,052 ,336 ,332 ,530** ,038 ,279 ,348 ,352 ,388 -,156 -,187 -,387 ,511* -,106 -,143 p ,052 ,077 ,202 ,808 ,108 ,113 ,008 ,862 ,186 ,095 ,091 ,061 ,465 ,381 ,102 ,011 ,730 ,504 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 rho de Spearman ,317 ,340 ,364 ,044 ,244 ,498* ,507* -,010 ,377 ,330 ,508* ,349 -,400 -,251 -,531* ,346 -,067 -,298 p ,132 ,104 ,081 ,838 ,250 ,013 ,011 ,963 ,070 ,115 ,011 ,095 ,053 ,236 ,019 ,098 ,828 ,158 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 ,421 ,415 167 cbcl Quebrar Regras cbcl Agress. asr Ans/ Dep. asr Ret. Social asr Probl. Som. asr Probl. Pens. asr Probl. Atenção asr Agres. asr Queb. Regras asr Comp. Intrus. asr Itens Crít. asr intern. asr extern. asr Probl. Totais asr forças asr Amigo asr parc. asr familia asr trab. asr Média Adapt. -,051 -,206 ,030 -,110 -,028 ,149 ,129 ,218 ,080 -,050 ,156 -,016 -,051 -,131 -,145 ,418* -,088 ,101 ,814 ,333 ,890 ,608 ,896 ,486 ,548 ,306 ,711 ,817 ,467 ,941 ,812 ,542 ,554 ,042 ,774 ,638 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 ,372 ,249 ,363 ,378 ,382 ,668** ,510* ,340 ,536** ,372 ,637** ,434* -,033 -,195 -,544* ,290 ,038 -,325 ,073 ,240 ,081 ,069 ,066 ,000 ,011 ,105 ,007 ,073 ,001 ,034 ,879 ,360 ,016 ,170 ,903 ,121 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 rho de Spearman ,260 ,556** ,299 ,157 ,266 ,304 ,407* ,025 ,198 ,305 ,346 ,321 -,084 -,094 -,342 ,226 ,033 -,190 p n ,221 24 ,005 24 ,155 24 ,464 24 ,209 24 ,148 24 ,048 24 ,909 24 ,353 24 ,147 24 ,098 24 ,126 24 ,698 24 ,661 24 ,152 19 ,288 24 ,914 13 ,374 24 rho de Spearman ,322 ,183 ,329 ,321 ,328 ,629** ,472* ,311 ,492* ,325 ,600** ,380 -,090 -,199 -,510* ,357 ,014 -,255 p ,124 ,393 ,117 ,126 ,117 ,001 ,020 ,139 ,015 ,121 ,002 ,067 ,675 ,352 ,026 ,087 ,964 ,230 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 rho de Spearman ,308 ,321 ,322 ,183 ,273 ,504* ,504* ,211 ,355 ,310 ,504* ,355 -,159 -,207 -,519* ,506* ,027 -,159 p ,143 ,126 ,125 ,393 ,196 ,012 ,012 ,322 ,088 ,141 ,012 ,089 ,458 ,331 ,023 ,012 ,932 ,457 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 -,070 ,154 ,055 ,184 -,103 -,077 -,112 -,114 -,145 ,044 -,069 ,007 -,165 ,341 -,032 -,167 ,050 ,071 ,745 ,472 ,798 ,388 ,633 ,722 ,603 ,596 ,499 ,837 ,749 ,973 ,442 ,103 ,897 ,434 ,870 ,741 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 -,274 -,091 -,366 -,108 -,351 -,447* -,583** -,248 -,411* -,283 -,507* -,351 ,243 ,077 ,141 -,332 ,405 ,026 p ,195 ,674 ,078 ,615 ,093 ,028 ,003 ,243 ,046 ,181 ,011 ,093 ,253 ,722 ,565 ,113 ,170 ,903 n 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 24 19 24 13 24 rho de Spearman p n rho de Spearman p n cbcl Intern. cbcl Extern. cbcl Probl. Totais cbcl Atividade rho de Spearman p n rho de Spearman cbcl Comp. Social 168 cbcl Escola cbcl Total Comp. asr Ans/ Dep. asr Ret. Social asr Probl. Som. asr Probl. Pens. asr Probl. Atenção asr Agres. asr Queb. Regras asr Comp. Intrus. asr Itens Crít. asr intern. asr extern. asr Probl. Totais asr forças asr Amigo asr parc. asr familia asr trab. asr Média Adapt. rho de Spearman ,130 ,123 ,166 ,395 ,159 ,165 ,149 ,204 ,061 ,202 ,199 ,220 ,110 ,139 ,089 -,125 -,117 ,106 p ,555 ,578 ,448 ,062 ,467 ,452 ,498 ,351 ,783 ,355 ,363 ,313 ,619 ,528 ,727 ,570 ,717 ,631 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 -,100 ,146 -,067 ,154 -,109 -,206 -,258 -,136 -,298 -,007 -,209 -,046 -,009 ,156 ,076 -,310 ,177 ,023 ,649 ,505 ,760 ,484 ,619 ,345 ,235 ,537 ,167 ,974 ,338 ,835 ,967 ,477 ,765 ,149 ,581 ,916 23 23 23 23 23 23 23 12 23 rho de Spearman p n Legenda: *p<0,05; 23 **p ≤ 23 0,001; 23 p = 23 nível de significância; 23 n 23 = número 23 de participantes que responderam 23 aos 18 dois instrumentos. 169 ANEXO 15. Coeficientes de correlação e nível de significância estatística encontrados entre os escores da Escala das Síndromes e Escala do Funcionamento Adaptativo do ASR e do TRF/6-18 asr Ans./ Dep. trf Ans./ Dep. trf Dep. trf Probl. Som. trf Probl. Pens. asr Probl. Som. asr Probl. Pensam. asr Probl. Atenç ão asr Agress. asr Queb. Regras asr Comp. Intrus . asr forças asr Itens Crít. asr intern. asr extern . asr Probl. Totais asr Amigos asr parc. asr famili a asr trab . asr Média Adapt. rho de Spearman ,079 ,246 ,022 ,181 ,199 ,294 -,040 ,060 ,303 ,210 ,102 ,202 ,121 -,290 ,382 -,328 ,320 -,372 p ,720 ,259 ,921 ,407 ,363 ,173 ,854 ,784 ,160 ,335 ,644 ,355 ,583 ,179 ,118 ,126 ,310 ,081 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman ,290 ,379 ,147 ,202 ,266 ,088 ,126 -,204 -,257 ,291 ,216 ,082 ,130 -,262 ,171 ,045 ,493 -,316 p ,179 ,075 ,503 ,355 ,219 ,688 ,567 ,351 ,236 ,178 ,322 ,711 ,554 ,228 ,496 ,839 ,104 ,141 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 ,194 ,257 ,096 ,167 ,069 ,291 -,120 -,256 -,056 ,228 ,199 ,147 ,138 -,269 -,009 -,199 ,065 -,319 ,376 ,236 ,662 ,446 ,754 ,178 ,586 ,238 ,799 ,296 ,363 ,503 ,532 ,215 ,973 ,362 ,840 ,138 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman ,098 ,137 -,123 ,057 -,076 ,169 ,026 ,019 ,219 ,176 -,041 ,120 -,054 -,304 -,379 ,208 ,114 -,301 p ,657 ,532 ,576 ,796 ,731 ,440 ,908 ,933 ,315 ,422 ,854 ,585 ,808 ,159 ,121 ,340 ,723 ,162 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman ,184 ,354 ,033 ,122 ,087 ,308 ,145 ,141 -,114 -,029 ,127 ,250 ,203 -,426* -,175 ,027 ,065 -,360 p ,401 ,097 ,880 ,578 ,693 ,153 ,510 ,521 ,603 ,897 ,563 ,250 ,352 ,043 ,486 ,902 ,841 ,091 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman p n trf Probl. Sociais asr Retrai m. Social 170 asr Ans./ Dep. trf Probl. Atenção trf Queb. Regras trf Internal. trf Probl. Totais asr Probl. Pensam. asr Probl. Atenç ão asr Agress. asr Queb. Regras asr Comp. Intrus . asr forças asr Itens Crít. asr intern. asr extern . asr Probl. Totais asr Amigos asr parceiro asr famili a asr trab . asr Média Adapt. ,243 ,278 ,165 ,272 ,193 ,572** ,146 ,183 ,225 ,311 ,231 ,460* ,267 -,392 -,331 -,159 ,158 -,540** p ,265 ,199 ,451 ,209 ,377 ,004 ,508 ,404 ,303 ,149 ,290 ,027 ,218 ,064 ,180 ,470 ,624 ,008 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 -,124 ,075 -,123 -,153 -,329 ,100 -,132 -,173 ,159 ,001 -,159 ,027 -,197 -,225 -,465 ,136 ,319 -,255 p ,572 ,734 ,577 ,487 ,125 ,649 ,549 ,430 ,468 ,995 ,470 ,904 ,367 ,302 ,052 ,536 ,311 ,241 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 -,096 -,003 -,216 ,149 -,198 ,164 -,052 ,145 ,315 ,079 -,161 ,122 -,155 -,039 -,168 ,115 ,335 -,046 p ,663 ,990 ,323 ,498 ,365 ,455 ,812 ,509 ,144 ,721 ,462 ,579 ,479 ,861 ,506 ,603 ,287 ,834 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman ,201 ,382 -,014 ,216 ,288 ,262 ,044 -,015 ,037 ,231 ,158 ,207 ,170 -,369 ,288 -,130 ,376 -,405 p ,357 ,072 ,950 ,322 ,182 ,226 ,841 ,947 ,867 ,290 ,473 ,342 ,438 ,083 ,247 ,553 ,229 ,056 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 -,101 ,031 -,145 ,086 -,214 ,199 -,058 ,088 ,277 ,074 -,141 ,149 -,143 -,124 -,218 ,076 ,264 -,134 p ,647 ,888 ,508 ,697 ,328 ,363 ,791 ,689 ,201 ,738 ,521 ,496 ,515 ,573 ,384 ,732 ,407 ,541 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman ,078 ,193 -,057 ,132 -,025 ,368 ,019 ,106 ,253 ,228 ,014 ,290 ,019 -,370 -,300 ,016 ,122 -,431* p ,724 ,376 ,798 ,547 ,910 ,084 ,930 ,629 ,245 ,296 ,951 ,180 ,932 ,082 ,226 ,944 ,705 ,040 n 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 rho de Spearman rho de Spearman trf Extern. asr Probl. Som. rho de Spearman rho de Spearman trf Agres. asr Ret. Social 171 asr Retrai m. Social asr Probl. Som. asr Probl. Pensam. asr Probl. Atenç ão asr Comp. Intrus . asr forças -,409 -,237 -,125 -,286 -,456* -,449* -,417* -,180 ,190 p ,052 ,276 ,569 ,187 ,029 ,031 ,048 ,412 n 23 23 23 23 23 23 23 -,095 ,117 ,025 -,078 ,100 ,131 p ,667 ,594 ,909 ,723 ,651 n 23 23 23 23 -,104 -,023 -,056 p ,635 ,915 n 23 rho de Spearman asr Ans./ Dep. trf Perform. Acad. trf Esforço trf Bom Comp. trf Aprend. trf Felicid. trf Soma Itens asr intern. asr extern . asr Probl. Totais asr Amigos asr parceiro asr famili a asr trab . asr Média Adapt. -,586** -,288 -,491* -,348 ,254 ,221 ,021 ,583* ,496* ,386 ,003 ,182 ,017 ,104 ,241 ,378 ,924 ,047 ,016 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 ,167 ,187 ,030 -,091 ,021 ,216 ,144 ,081 ,053 ,043 ,105 ,148 ,553 ,445 ,394 ,891 ,679 ,923 ,321 ,513 ,713 ,834 ,846 ,746 ,502 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 -,147 -,078 -,242 -,181 -,187 -,144 -,151 -,047 -,248 -,107 -,038 ,507* ,065 ,129 ,287 ,801 ,503 ,724 ,266 ,407 ,392 ,511 ,492 ,830 ,253 ,628 ,864 ,032 ,769 ,689 ,184 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 23 18 23 12 23 ,006 ,221 ,242 ,152 ,172 ,002 ,055 ,010 -,053 -,064 ,173 ,053 ,210 ,127 ,300 -,165 ,349 ,119 p ,980 ,323 ,277 ,501 ,445 ,992 ,809 ,966 ,816 ,779 ,441 ,815 ,349 ,573 ,242 ,462 ,293 ,598 n 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 17 22 11 22 rho de Spearman ,069 ,131 -,185 -,113 ,022 ,166 ,130 ,305 -,030 -,180 ,033 ,177 ,111 -,404 -,386 ,292 ,413 -,136 p ,761 ,560 ,411 ,617 ,922 ,461 ,564 ,168 ,895 ,424 ,885 ,431 ,624 ,062 ,125 ,187 ,207 ,546 n 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 22 17 22 11 22 rho de Spearman ,041 ,209 ,047 -,025 ,142 ,029 ,078 ,041 -,136 -,107 ,113 ,053 ,152 -,075 ,059 ,040 ,286 -,007 p ,859 ,364 ,840 ,913 ,538 ,900 ,736 ,860 ,558 ,644 ,625 ,818 ,510 ,746 ,827 ,863 ,423 ,978 n 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 21 16 21 10 21 rho de Spearman rho de Spearman rho de Spearman asr Agress. asr Queb. Regras asr Itens Crít. Legenda: *p<0,05; **p ≤ 0,001; p = nível de significância; n = número de participantes que responderam aos dois instrumentos.