Fonte: O Globo Bye, bye dólar baixo Apesar da injeção de US$ 31 bi em 34 intervenções do BC, moeda subiu 8,2% em apenas dois meses Daniel Haidar, Gabriela Valente, Lino Rodrigues e Janaina Lage [email protected] queda de braço no câmbio /strong> Dois meses depois de iniciar uma queda de braço com o mercado financeiro, o Banco Central (BC) já injetou ao menos US$ 30,9 bilhões no mercado em operações equivalentes à venda de dólar no mercado futuro. Apesar das 34 intervenções realizadas no período, a moeda americana acumula alta de 8,23% e o real se tornou a moeda mais depreciada entre as 16 divisas monitoradas pela Bloomberg. O cálculo, realizado pela Kapitalo Investimentos, não inclui os cerca de US$ 9 bilhões em operações de rolagem de contratos realizadas nos últimos meses. A estratégia do BC divide analistas, mas num ponto há consenso entre os economistas ouvidos pelo GLOBO: a era do dólar barato parece ter chegado ao fim. Com a mudança de cenário, economistas já revisam suas projeções para dezembro e as apostas variam entre R$ 2,25 e R$ 2,45, patamar quase impensável no início do ano. - Depreciar para R$ 2,45 não quer dizer que estamos em momento de crise, onde o Brasil não tem mais acesso a capital estrangeiro. É um ajuste necessário para que o país passe a ser atrativo e empresas fiquem mais competitivas - afirma Diego Donadio, estrategista de câmbio do BNP Paribas, que prevê esta cotação no fim do ano. /strong> De outro lado, Felipe Salto, economista da consultoria Tendências, que prevê uma cotação de R$ 2,25 no fim do ano, espera que o BC continue a intervir para manter a moeda americana abaixo de R$ 2,30. - O BC tem instrumentos para debelar essas pressões. Em um cenário mais adverso pode até vender reservas. Mas, por enquanto, é provável que continuem as operações de swap - disse, em referência à ação equivalente à venda de dólares no mercado futuro. - O BC tem instrumentos para debelar essas pressões. Em um cenário mais adverso pode até vender reservas. Mas, por enquanto, é provável que continuem as operações de swap - disse, em referência à ação equivalente à venda de dólares no mercado futuro. Ontem, a moeda fechou cotada a R$ 2,288, uma queda de 0,6% após uma intervenção do BC no valor de US$ 1,7 bilhão no mercado futuro. A Bolsa caiu 1,36%, aos 48.474 pontos. O gatilho para a escalada do dólar foi a indicação pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que pode começar a reduzir as compras mensais de US$ 85 bilhões em títulos públicos ainda neste ano, dependendo do ritmo de retomada da economia americana. E a incerteza sobre o cronograma deste movimento acabou levando investidores a se desfazer de ativos em países emergentes e antecipar compras de dólar. Mas este não é o único fator de instabilidade no cenário externo. Para Carlos Thadeu de Freitas, exdiretor do Banco Central, um fator crucial é a definição do sucessor de Ben Bernanke na presidência do Fed. O mandato do atual presidente acaba em janeiro. A desaceleração da economia chinesa, com apostas numa expansão inferior a 7%, também é fator de preocupação por seu impacto sobre commodities e exportações. Segundo Armando Castelar, da FGV, o resultado disso já é visível nos resultados da balança comercial, que registrou de janeiro a julho o maior déficit de sua história: US$ 4,9 bilhões, e no déficit em conta corrente, de 3,82% do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) de janeiro a junho. - Se a economia não desacelerar, esse déficit vai crescer. Nesta dinâmica a desvalorização é necessária para equilibrar as contas externas. Não estamos diante de uma desvalorização trivial - disse. /strong> Para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a deterioração na conta corrente foi o fator que surpreendeu o mercado e leva agora boa parte dos economistas a colocar suas projeções para o dólar em revisão: - Se tivermos este ano um superávit comercial de US$ 3 bilhões já será muito bom. Isso é uma frustração e traz de volta a questão que o déficit em conta corrente está num nível incômodo em relação ao PIB, o que não se via há muito tempo. As preocupações se estendem ainda quanto ao efeito do dólar sobre a inflação, que nos 12 meses até junho acumula alta de 6,7%, acima do teto da meta definida pelo governo, de 6,5%. Com tantas variáveis a considerar, começa a ser discutida na equipe econômica a hipótese de tirar a última barreira para a entrada de capital especulativo. Uma das propostas defendidas por economistas é a suspensão da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos com prazo menor que um ano. O governo sabe que o capital que entraria não seria de boa qualidade, mas poderia frear a alta do dólar. O arsenal do governo é limitado. Algumas medidas foram tomadas como a isenção de IOF para as aplicações Com tantas variáveis a considerar, começa a ser discutida na equipe econômica a hipótese de tirar a última barreira para a entrada de capital especulativo. Uma das propostas defendidas por economistas é a suspensão da cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre empréstimos com prazo menor que um ano. O governo sabe que o capital que entraria não seria de boa qualidade, mas poderia frear a alta do dólar. O arsenal do governo é limitado. Algumas medidas foram tomadas como a isenção de IOF para as aplicações de estrangeiros em renda fixa. Antes, a alíquota era de 6%. Somente em junho, os ingressos cresceram 867% na comparação com o mesmo mês de 2012. Entraram US$ 7,2 bilhões com esse tipo de papel. No entanto, o número não significa apenas uma procura maior pelo juros, que estão em alta. Significa também que os investidores estão saindo de aplicações na Bolsa. A ação do BC até agora é alvo de divergências entre economistas. A instituição informa que o câmbio é flutuante e que a autarquia não opera para fixar uma determinada cotação. Apenas impede as chamadas "estilingadas" da moeda americana, ou seja, atua para evitar solavancos de alta e de queda no preço da divisa. No entanto, os técnicos da equipe econômica admitem que atuam para tentar chegar em um patamar que não seja prejudicial à inflação e nem para a indústria brasileira. Para Carlos Thadeu de Freitas, a estratégia é equivocada, e o BC deveria lançar mão de medidas regulatórias para reduzir a especulação no mercado de dólar futuro, mas teme que a ação seja interpretada como controle de capital. - O BC está perdendo a aposta com o mercado. Já passou da hora de mudar de estratégia - disse. Para o diretor de pesquisa do banco Nomura, Tony Volpon, a autoridade monetária poderia lançar mão de operações no mercado à vista, considerando o colchão de reservas de mais de US$ 370 bilhões. - É hora de parar com esse fetiche de não usar as reservas. O BC não pode dar a senha pro mercado de que a crise piorou ao usar reserva física - disse. De outro lado, Castelar afirma que a atuação do BC é correta e está apenas evitando pânico no mercado diante da procura de empresas por proteção contra a oscilação da moeda. Para o economista, o BC está permitindo que a moeda se desvalorize da forma mais transparente possível. Mas avalia que a nova realidade trará mudanças para a economia, beneficiando a indústria, que ficará mais competitiva e alterando hábitos de consumo. - Os brasileiros vão ficar mais pobres, seus salários vão valer menos em dólar. Do carro a viagem para Miami, tudo ficará mais caro. O cenário externo foi benevolente com o Brasil nos últimos dez anos. Agora, esse negócio começa a mudar. Fonte: O Globo tudo ficará mais caro. O cenário externo foi benevolente com o Brasil nos últimos dez anos. Agora, esse negócio começa a mudar. Fonte: O Globo