a alta do dólar - Revista O Papel

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SÉRGIO BRITO
Setor Econômico
POR RICARDO JACOMASSI,
ECONOMISTA-CHEFE DA HEGEMONY
PROJEÇÕES ECONÔMICAS
: [email protected]
A ALTA DO DÓLAR
uem poderia pensar, alguns meses atrás, que o
Q
Segundo – a economia norte-americana surpreen-
valor do dólar passaria de R$ 2,00? A convicção
dentemente saiu do campo da estagnação e voltou a
sobre o controle dessa taxa cambial pairava so-
crescer. Os estímulos monetários baseados na injeção de
bremaneira em mesas de bancos, corretoras e pessoas
dólar no mercado doméstico estimulou o crescimento do
comuns. “Viva! O real é uma das poucas moedas fortes
Produto Interno Bruto (PIB) e, com isso, o mercado en-
no mundo!”, diziam.
tende que o governo reduzirá parte dos estímulos. Uma
O que se via eram importadores felizes (exportadores
política menos elástica atrai os dólares aplicados em ou-
nem tanto), consumidores com maior poder de compra e
tras economias, inclusive a do Brasil, pressionando a alta
turista brasileiro invadindo Miami para compras! Essas
do dólar no mundo inteiro.
atitudes e resultados reforçavam ainda mais a sensação
de fortaleza do real perante o dólar.
Terceiro – o saldo negativo de US$ 5,392 bilhões de
janeiro a maio de 2013 na balança comercial ante um
Acontece que o mundo real é como a economia real:
superávit de US$ 6,261 bilhões em igual período do ano
enquanto uns perdem, outros ganham. No caso brasileiro,
passado causou espanto no mercado brasileiro, colocan-
o setor que mais perdeu com o real forte foi a indústria de
do em xeque a sustentabilidade das contas externas. O
transformação, devido às suas condições de competitivi-
mercado indica que o governo precisará fazer captações
dade atreladas ao famigerado “custo Brasil”. Nessa rela-
de recursos cada vez mais robustas no mercado externo,
ção, os ganhadores foram os consumidores e o governo:
além de facilitar a entrada de capitais especulativos (a
no caso dos consumidores, a vitória deveu-se ao aumen-
redução do IOF para zero em aplicações de renda fixa e
to de seu poder de compra; no do governo, os ganhos
variável é o principal sinal).
foram devido ao crescimento da arrecadação com os im-
Esses três pontos analisados explicam uma grande
postos das vendas aos consumidores. As leis da natureza,
parcela da tendência de alta da moeda norte-americana.
porém, comprovam que nada é eterno – e a realidade
Além disso, distante da taxa de R$ 1,53 por dólar ne-
mostrou ao Brasil que o “faz de conta do dólar barato”
gociada em 26 de julho de 2011, previsões de alguns
tinha prazo de validade.
economistas mostram o dólar na faixa de R$ 2,20 a
Os economistas mais atentos tinham essa percep-
R$ 2,30. É bom, portanto, nos acostumarmos com mais
ção, mas faltava darem as mãos à palmatória para
volatilidade do câmbio e com as elevações dos preços de
admitir que o futuro chegaria colocando as coisas em
bens importados.
seus devidos lugares. Pode ser útil analisar a seguir
alguns dos sinais do mercado financeiro.
Ainda pouco conclusivo, outro importante elemento
na conta do câmbio é o horizonte eleitoral. Pensando em
Primeiro – o crescimento chinês em torno de 10% ao
sua reeleição, a presidente Dilma Roussef pode utilizar
ano parecia ser dádiva eterna, mas acabou definhando
instrumentos criativos de política econômica para segu-
para próximo dos 7,0% em 2012, o que provocou perple-
rar a paridade com o real, mas, com a desconfiança explí-
xidade nos mercados financeiros. Como o Brasil está cola-
cita dos mercados surgindo, o remédio poderá ter efeito
do com o país mandarim, qualquer sinal negativo é refle-
contrário e, mesmo com a atuação do Banco Central, um
tido imediatamente no câmbio. E foi isso que aconteceu.
dólar abaixo de R$ 2,00 é coisa do passado. n
18 Revista O Papel - junho/June 2013
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