Estado de São Paulo, 30 de janeiro de 2017 Otimismo com o dólar não deve perdurar Moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 3,1261, menor valor desde outubro; movimento reflete maior confiança na economia do País Por: Douglas Gavras A tendência de queda do dólar e o registro de cotações mais baixas da moeda ante o real, como observado no pregão de hoje, não devem passar do primeiro trimestre e tendem a não sobreviver à divulgação de dados negativos de indústria e comércio do início do ano, de acordo com analistas. Os resultados fracos da economia que estão por vir devem jogar um balde de água fria no investidor. Foto: Paulo Whitaker/Reuters Otimismo com o Brasil ajudou na valorização do real Nesta segunda-feira, 30, os investidores intensificaram as vendas de dólares, levando a moeda norte-americana à vista a cair 0,74%, atingindo o patamar de R$ 3,1261 – o menor desde outubro. A Bovespa teve um recuo de 2,62%, encerrando o dia aos 64.301,73 pontos. “Esse movimento de desvalorização frente ao real é um reflexo do otimismo recente dos mercados com a economia brasileira. Os investidores reconhecem que a inflação vem apresentando um comportamento bastante favorável, o que abre uma ‘avenida’ para a redução da taxa de juros, e para que a economia tenha um desempenho positivo em 2017”, analisa José Luis Oreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo o economista, o mercado brasileiro tem se beneficiado por estar no melhor dos dois mundos: uma taxa de juros alta e muito atrativa para o investidor, mas com uma sinalização de queda para os próximos meses, abrindo a perspectiva de reativação da economia brasileira. “Isso leva a um aumento de captação da Bolsa brasileira.” Ele lembra que o governo não tem hoje muitos trunfos para reaquecer a economia do País, além da redução dos juros, já que as exportações de bens manufaturados não decolam pela falta de vantagem cambial, o consumidor ainda está evitando fazer despesas e o governo não tem recursos para investir. “Esse otimismo, que faz o dólar baixar, no entanto, não deve passar do primeiro trimestre. É um sentimento exagerado e a realidade irá, fatalmente, se impor. Pode se manter pelos próximos dias ou semanas, mas muito em breve, os mercados deverão ser afetados pela atividade industrial fraca, que ainda trará números bem ruins.” Na visão de Oreiro, ainda levará tempo para que as quedas da Selic tenham impacto e, até o fim do ano, será preciso torcer para que a política de redução de juros por parte do Banco Central não tenha sido aplicada tarde demais. “A queda dos juros deveria ter começado em agosto. Agora, é preciso pisar fundo no acelerador da Selic e torcer para dar tempo de salvar o ano.” “Essa tendência de dólar mais baixo não tem condições de perdurar. Vamos entrar em uma fase em que o dólar, globalmente, se fortalece, pela combinação de estímulo fiscal e aperto monetário”, estima o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central. “O Fed, banco central dos Estados Unidos, deve seguir com seus processos de alta de juros. O governo Trump e a política fiscal de estímulo começam em um momento de uma economia bem próxima do pleno emprego. Vai haver pressão na inflação, que está baixa demais.” Ele não prevê, no entanto, que o dólar chegue ao patamar de R$ 4 em um futuro próximo. Reflexo doméstico. Ainda que o ambiente externo tenha contribuído para o movimento, foram fatores domésticos que definiram a intensidade da baixa da moeda americana registrada nesta segunda-feira. O resultado das contas do Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central), por exemplo, veio melhor do que as projeções oficiais e alimentou a confiança no ajuste das contas públicas. Para o mercado, o impacto foi de queda mais intensa do dólar, que já vinha sendo alimentada por expectativas de entrada de recursos estrangeiros no Brasil. As homologações das delações dos executivos da Odebrecht pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, foram bem vistas pelos agentes financeiros e favoreceram a queda do dólar. “Os investidores aguardam agora os desdobramentos”, afirma o diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva. “Tudo isso é positivo, do ponto de vista da recuperação da confiança no País e os exportadores seguem vendendo no mercado à vista e no futuro.” O clima de cautela com as políticas de imigração tomadas por Donald Trump dominaram Wall Street. A pressão também foi sentida na Europa. A Bolsa de Londres caiu 0,92%, a de Paris, 1,14% e a de Frankfurt, 1,12%. Para os próximos dias, analistas consideram a possibilidade de o dólar chegar a níveis ainda mais baixos. Na agenda, está a decisão de política monetária do Federal Reserve e o dados de emprego dos Estados Unidos. /COLABORARAM LUCAS HIRATA, GABRIELA KORMAN e PAULA DIAS