Para evitar dor-de-cabeça (Gastronomia e Negócios – 31/08/2006) Carla Gomes Teste rápido: seu restaurante possui um manual de boas práticas operacionais? Qual a temperatura exata que a carne recém-chegada a sua cozinha deve ser armazenada? E seu fornecedor, tem uma boa aparência? Se você engasgou em algumas dessas perguntas, fique alerta, pois seu estabelecimento pode receber a qualquer momento um cliente inusitado: a vigilância sanitária. Entre todas as fiscalizações que um bar ou restaurante é submetido para receber sua licença de funcionamento, a da vigilância sanitária é uma das mais rigorosas. São tantas as exigências e detalhes exigidos nas leis que existem empresas que prestam consultoria somente nessa área de segurança alimentar, para ajudar os estabelecimentos a se enquadrarem nas regras Para entender melhor a necessidade de uma consultoria de segurança alimentar e como ela age é preciso saber antes o que os estabelecimentos devem cumprir. A fiscalização sanitária é municipal, portanto cabe à prefeitura vistoriar bares e restaurantes de sua cidade. As legislações podem apresentar algumas diferenças entre cada cidade, mas em grande parte seguem a resolução RDC 216, publicada pela Anvisa (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) em setembro de 2004. A resolução, que institui o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação, consolidou antigas portarias do Ministério da Saúde e resoluções da Anvisa. O texto determina que bares e restaurantes devem ter um manual de boas práticas operacionais. O manual precisa trazer todas as operações realizadas no local de forma detalhada, Brigada é treinada para manipular alimentos incluindo os chamados POPs e APPCC (leia no sem perigo de contaminação quadro abaixo). Isso significa apresentar o passo a passo de todas as ações do restaurante, desde o recebimento da mercadoria pelo fornecedor até o modo como o prato final é levado ao cliente. Deve constar no manual o alvará ou licença de funcionamento e comprovantes do responsável técnico. Todo estabelecimento deve possuir um responsável técnico. Em bares e restaurantes de pequeno e médio porte podem ser o próprio dono, desde que tenha feito curso para tal. Já os de grande porte devem possuir um responsável técnico profissional, ou seja, alguém que tenha registros do Conselho de Medicina Veterinária, de Nutrição (CRN) ou de Alimentos (CREA). No início de agosto, a legislação do município de São Paulo foi alterada com a publicação da Portaria 1.210. Nela, foram incluídas obrigatoriedades como a necessidade de ter ao menos um cardápio em braile, permitir a permanência de cães-guias, utilizar luvas na cozinha, manter formulários de cada recebimento de mercadorias, amostragem para selfservice e mudança na temperatura. Erros freqüentes Segundo Evanise Segala, subgerente da Área de Alimentos da Covisa (Coordenadoria de Vigilância Sanitária em Saúde da Cidade de São Paulo), os problemas mais encontrados nas vistorias são os relacionados à higiene dos funcionários e à manipulação dos alimentos. Para Eneo Alves da Silva Jr., especialista em segurança alimentar, o controle de tempo e temperatura na preparação dos alimentos é um ponto fundamental para garantir a saúde dos clientes. “Recentes pesquisas indicam em média que 41% dos surtos de DTAs (doenças transmitidas por alimentos) estão relacionados com o tratamento térmico inadequado, 79% com a conservação inadequada pelo frio, 83% devido ao tempo prolongado entre o preparo e o consumo e 45% devido à falta de higiene”, justifica. Nos Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) devem ser detalhados: Higienização de instalações, equipamentos e móveis: um roteiro de limpeza (o que, quem, como e quando). Higienização do reservatório: natureza da superfície referida, método de higienização, tempo de contato, temperatura. Controle integrado de vetores e pragas humanas: licença do responsável técnico, relatório dos produtos utilizados e registro dos produtos no Ministério da Saúde. Higiene e saúde dos manipuladores: freqüência e forma de utilização das mãos, procedimentos corretivos, exames atualizados, treinamento constante. Nas Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) deve ser analisados pontos críticos para segurança do alimento, conforme roteiro abaixo: Identificação do perigo Identificação do ponto crítico Estabelecimento do limite crítico Monitorização Ações corretivas Procedimentos de verificação Registro dos resultados Para evitar a contaminação entre alimentos, é necessário conhecer a temperatura de armazenamento adequado de cada produto. No caso das carnes, por exemplo, o ideal seria ter um congelador para carnes vermelhas, outro para frango e outro para peixes, pois cada um tem uma temperatura adequada diferente. Caso o estabelecimento não tenha condições financeiras ou espaço para ter equipamentos separados, a solução é colocar no mesmo congelador, em prateleiras diferentes e ter como referência para o ajuste o peixe, que exige a menor temperatura. No caso de restaurantes que recebem as carnes não beneficiadas e necessitam descongelá-las para cortar e armazenar, o cuidado deve ser redobrado. O correto é evitar esse tipo de processo, mas caso seja realmente necessário, deve-se descongelar a carne rapidamente e a uma temperatura máxima permitida para que ela continue em boas condições. Os cortes também devem ser feitos num curto espaço de tempo, para que a carne seja devolvida ao congelador o mais breve possível. Dicas para uma vistoria da Vigilância Sanitária ter acessível lista com nomes das autoridades sanitárias que têm autorização para vistoriar acompanhamento do responsável técnico do restaurante ter conhecimento prévio das exigências e demonstrar este conhecimento na vistoria (mesmo que não sejam uma prática no local) manter organizado todos os registros do estabelecimento Infrações e multas Infrações leves: fumar na cozinha, falta de uniforme, falta de material sanitário (como sabonete, papel higiênico), más condições de conservação – multa de R$ 100 a R$ 30 mil Infrações graves: más condições higiênicas (inclui trabalhador doente), exposição imprópria dos alimentos, superlotação nas geladeiras, falta de carteira de saúde, práticas inadequadas de preparo – multa de R$ 30 mil a R$ 100 mil Infrações gravíssimas: alimentos com validade vencida, produtos de origem clandestina, adulteração e fraude (de validades, por exemplo), desacato a autoridade, animais vivos sem licença – multa de R$ 100 mil a R$ 500 mil Outro erro grave é a displicência com o fornecedor. É imprenscidivel estar atento ao momento da entrega da mercadoria, prestar atenção na higiene do entregador e do veículo em que seu alimento foi transportado. Os responsáveis pelo restaurante devem fazer essa fiscalização do fornecedor, para garantir a boa procedência do alimento. Corrupção(Arbitrariedades) Na cidade de São Paulo, a fiscalização é realizada por equipes regionalizadas de cada subprefeitura. Ela pode ocorrer por demanda de cadastro (licença sanitária), por denúncia ou em operações da prefeitura. Como existem muitos casos de pessoas que se passam por vigilantes sanitários para extorquir dinheiro do estabelecimento, a Covisa decidiu disponibilizar todos os nomes dos agentes sanitários. O proprietário que quiser consultar deve acessar o site da prefeitura (veja abaixo). Durante a inspeção, o responsável técnico do estabelecimento deve acompanhar passo a passo a ação dos vigilantes. Caso seja encontrada alguma irregularidade, a autoridade sanitária lavrará um auto de infração no ato da inspeção, que pode gerar uma advertência sem multa, com multa ou até a interdição do local. O dono do estabelecimento tem direto de formular uma defesa e encaminhar para o órgão em dez dias. “A fiscalização e punição deve ser compatível à realidade do local, levando em conta seu tamanho, público, e situação financeira”, alertou o consultor Marco Amatti, em palestra sobre controle sanitário realizado no 3º Encontro de Negócios da Abrasel, em São Paulo. Para quem precisar se defender de multas e autuações da fiscalização, ele dá algumas dicas. Os responsáveis devem verificar, por exemplo, o horário da vistoria. Uma fiscalização pode ficar comprometida se foi realizada na hora do almoço, momento de grande fluxo no restaurante. Outra possibilidade é fazer uma defesa corretiva, argumentando que as adaptações serão feitas o mais rápido possível. A Prefeitura de São Paulo oferece cursos gratuitos de manipulação de alimentos. Basta se inscrever na Suvis (Supervisão de Vigilância em Saúde) mais próxima. A relação das sedes está no site da Vigilância Sanitária. Fonte: Marco Amatti Serviço: MAPA Assessoria – Capacitação & Negócios – Tel.: (11) 3229-2907 www.mapaassessoria.com Covisa – Tel.: (11) 3350-6624 / 3350-6628 http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/saude/vigilancia_saude Anvisa – Tel.: 0800 644 0644 www.anvisa.com.br 31/08/2006