INSTITUTO SUPERIOR EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E GESTÃO ESCOLAR TRANSTORNO DE DEFÍCIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE-TDAH Lindomar da Silva Andrade Orientador: Profº: Ilso Fernandes do Carmo. BRASNORTE/2010 INSTITUTO SUPERIOR EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA - AJES ESPECIALIZAÇÃO EM METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E GESTÃO ESCOLAR TRANSTORNO DE DEFÍCIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE-TDAH Lindomar da Silva Andrade [email protected] Orientador: Profº: Ilso Fernandes do Carmo. “Monografia apresentada como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Gestão Escolar.” BRASNORTE/2010 Dedico àqueles que se acham tomados de vontade e possuídos por uma grande força interior,à procura da construção de uma nova educação. Agradeço a Deus, por estar sempre presente em minha vida, me dando sabedoria e êxito. Aos meus familiares pelo apoio, amor, paciência e incentivo dado nas horas difíceis. (...) lembrem-se de que vocês são pastores da alegria e que a sua responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes faz um pedido: “Por favor, me ajude a ser feliz...” Rubens Alves RESUMO No cotidiano da sala de aula nos deparamos com alunos agitados, que arrancam os brinquedos de seus colegas, andam de um lado para o outro e não conseguem ficar muito tempo sentado, no mesmo lugar. Nunca terminam as tarefas solicitadas. Em algumas vezes chegam a ser agressivos. Esse comportamento, geralmente confundido com indisciplina, é característico de um distúrbio de atenção que, de acordo com GENTILE (2000), atinge 5% das crianças e adolescentes de todo o mundo: a hiperatividade. Conhecer os sintomas e aprender a lidar com esse problema é uma obrigação de qualquer professor que não queira causar danos a seus alunos. Eu como professora estou preocupada com a excessiva atividade motora e o baixo rendimento escolar destas crianças, que apresentam inúmeras dificuldades de aprendizagem relacionada à atenção e à concentração. Pois, mesmo sendo consideradas inteligentes são muito mal aceitas no grupo porque não conseguem parar, levantando-se, andam pela sala de aula distraindo-se perturbando os colegas, impacientando seus professores,promovendo a indisciplina. Diante disso busquei conhecer as concepções dos professores do ensino fundamental da escola Municipal de Educação Básica Adilson José Schumacher do município de Brasnorte MT, e pesquisar a temática da hiperatividade, ou seja, o transtorno de comportamento e déficit de atenção que através da pesquisa descobri um certo desconhecimento por parte dos educadores no que diz respeito a identificação do transtorno entre os escolares. Com este trabalho pretendi contribuir de uma maneira significativa para ajudar os professores que no seu dia-a-dia convivem com esse tipo de aluno, e com isto, ajudá-lo no seu desenvolvimento dentro do processo ensino/aprendizagem, pois hoje a escola precisa urgentemente mudar sua direção, pois com as novas tecnologias o ensino tem que ser mais dinâmico. Palavras- chave: Hiperatividade, Aprendizagem, Família e Escola. SUMÁRIO INTRODUÇÃO-----------------------------------------------------------------------------------------07 CAPÍTULO I 1. Evolução sobre o estudo da hiperatividade-------------------------------------------------09 CAPITULO II 2. Definição de Hiperatividade----------------------------------------------------------------------11 CAPÍTULO III 3. Como se manifesta a hiperatividade----------------------------------------------------------14 3.1 Quem Tem Desatenção Tem Necessariamente Hiperatividade ou Impulsividade?------------------------------------------------------------------------------------------15 CAPÍTULO IV 4. Diagnostico-------------------------------------------------------------------------------------------16 CAPÍTULO V 5. O contexto familiar da criança com TDAH V.II- Interações da criança com TDAH e sua família-----------------------------------------------------------------------------------------------21 5.1 Interações Da Criança Com TDAH e Sua Família---------------------------------------23 5.2 Recomendações aos pais da criança com TDAH----------------------------------------24 CAPÍTULO VI 6. O contexto escolar e a criança com TDAH--------------------------------------------------29 CAPÍTULO VII 7. A Aprendizagem e o Brincar de Crianças com TDAH------------------------------------31 CAPITULO VIII 8. Atividades indicadas para se trabalhar com o hiperativo---------------------------------34 8.1 Quebra cabeça. ----------------------------------------------------------------------------------34 8.2 Jogo da velha. -----------------------------------------------------------------------------------34 8.3 O que será?----------------------------------------------------------------------------------------35 8.4 Jogo de associação------------------------------------------------------------------------------35 8.5 Esportes---------------------------------------------------------------------------------------------35 8.6 Brinquedos e livros---------------------------------------------------------------36 CONCLUSÃO-------------------------------------------------------------------------------------------37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------------------------39 INTRODUÇÃO O presente trabalho teve como principal objetivo, analisar o conceito de hiperatividade, verificar a contribuição da participação da família e da preparação dos professores, necessária para trabalhar; propondo metodologias que auxiliem no rendimento desses alunos. Para a realização desse trabalho foi feito uma revisão bibliográfica e pesquisa de campo no Ensino Fundamental da escola Municipal de Educação Básica Adilson José Schumacher do município de Brasnorte MT, sobre o assunto hiperatividade. Este estudo foi suporte pela grande demanda dessa clientela em nossa escola e, muitas vezes, os próprios professores não sabem identificar alunos hiperativos e não encontram livros à disposição sobre o assunto para auxilio no processo ensino/aprendizagem. Por meio desse trabalho teve-se a oportunidade de verificar como identificar o aluno hiperativo, principalmente por seu comportamento, pois este é muito mais agitado que os demais alunos por se manter em constante atividade são impacientes e têm imensa dificuldade de concentração. Todos esses fatores colaboram para a identificação dessa criança desde o período pré-escolar, apesar de acontecer com maior freqüência na fase escolar, muitas vezes, porque a própria família acredita que seja uma fase transitória e acabam se tornando mais tolerantes. Por outro lado, há pais que não querem admitir que seu filho tenha comprometimento comportamental e, esta não aceitação, retarda o diagnóstico e, por conseqüência, o tratamento, fazendo com que a criança seja diagnosticada somente na idade escolar através de encaminhamento da escola para um neuropediatra. Também, alertaram-se os professores quanto ao tratamento e metodologia diferenciada que devem ser oferecidos aos alunos hiperativos.. O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade tem constituído um ponto nevrálgico no que concerne a sua diagnose em crianças. Embora os avanços científicos, ás tecnologias, os pesquisadores ainda procuram desvendar os “mistérios” que permeiam este tipo de transtorno de comportamento. É possível observar na literatura multidisciplinar o substancial número de relatos “de casos” de pessoas que experimentaram formas diversas de problemas decorrentes do distúrbio do comportamento e, indubitavelmente, a hiperatividade é considerada por sua complexidade um dos fatores que mais interferem no processo ensinoaprendizagem da criança. 08 Partindo do pressuposto da idéia de que os problemas que não podem ser curados devem ser efetivamente controlados, e o controle eficaz se dá através da compreensão de tais problemas. Para ajudar a criança hiperativa a ser bem sucedida, é essencial compreender o comportamento dessa criança, ver através dos olhos dessa criança, e fazer a distinção entre comportamento que resulta de capacidade e comportamento que resulta de desobediência deliberada. Diante disso esta monografia tem como objetivo apresentar subsídios para o educador quanto à hiperatividade, ou seja, transtorno de déficit de atenção. No primeiro capítulo apresenta a evolução do estudo sobre hiperatividade. O segundo capítulo traz a definição da hiperatividade sob a visão de alguns autores. O terceiro capítulo discorre sobre como se manifesta a hiperatividade e em qual idade é melhor detectada na criança. No quarto capítulo apresenta um diagnóstico da hiperatividade na visão de alguns autores. O quinto capítulo traz contribuições de como a família deve agir em relação à criança hiperativa para que não haja discriminação entre os irmãos e para que essa criança se sinta rejeitada. O sexto capítulo traz contribuições de como o professor deve atuar com relação à criança hiperativa para que não haja discriminação e motivos para que essa criança se sinta rejeitada pelo grupo que convive, ou seja, o grupo escolar. Já o sétimo capítulo apresenta o lúdico na hiperatividade, o jogo como atividade fundamental para a promoção e desenvolvimento da criança hiperativa. No oitavo capítulo apresentam-se sugestões de atividades para serem trabalhadas com os alunos hiperativos nas salas de aulas. CAPITULO I 1- EVOLUÇÃO SOBRE O ESTUDO DA HIPERATIVIDADE. As primeiras referências aos transtornos hipercinéticos na literatura médica aparecem na metade do século XIX. Entretanto, somente no início do século XX começou-se a descrever o quadro clínico de uma maneira mais sistemática. (PETRY, 1999). Segundo TREDGOLD, apud LEWIS (1993), no ano de 1908, o termo “disfunção cerebral mínima”, foi elaborado para classificar crianças que se mostravam impulsivas, desatentas e hiperativas. Contudo, não foi comprovado seguramente esse dado em todas as crianças com TDAH. Da mesma forma, foram acrescentados outros fatores como possíveis causas do TDAH: anormalidades genéticas, lesão perinatal, infecções, envenenamento por chumbo, traumatismo na cabeça, transtornos metabólicos, transtorno dos neurotransmissores, problemas dietéticos e fatores psicossociais. (LEWIS, 1993, p.387). Para Arlete Petry (1999), na década de 1940, falava-se em lesão cerebral mínima. A partir de 1962, passou-se a utilizar o termo disfunção cerebral mínima, reconhecendo-se que as alterações características da patologia relacionam-se mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas. Na década de 80, com surgimento da terceira edição do DSM-III, (Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais), cunhou-se o termo distúrbio de déficit de atenção, que podia ou não ser acompanhado de hiperatividade. Mas, como continuou o debate, em 1987, com a organização do DSM-IV, voltou-se a dar maior ênfase a hiperatividade, modificando o nome da patologia para distúrbio de hiperatividade com déficit de atenção. Em 1994, o pêndulo voltou-se para o centro e a patologia passou a ser designada distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade. De acordo com GOLDSTEIN (1996), em diversos momentos do século XX, tem-se referido a tais crianças como acometidas de inquietação, falha de controle moral, disfunção cerebral mínima, distúrbio pós-cefálico, reação hipercinético da infância, distúrbio de falta de atenção e distúrbio de atenção por hiperatividade, e mesmo que os rótulos tenham mudado o mesmo não acontece com o problema o qual permanece ao longo dos anos. 10 Mesmo, tendo sido conhecido desde o último século, e sido estudado exaustivamente, ainda hoje não se conhecem as causas concretas que ocasionam esse problema. Outro fator que tem sido muito citado na literatura segundo GOLDSTEIN( 1996), é a intoxicação por chumbo, sabe-se que a intoxicação grave por chumbo causa uma encefalopatia, e ocasiona na fase de recuperação certas dificuldades como: agitação, e a desatenção. Quando o chumbo era ingerido por crianças que comiam pedacinhos de placas contendo chumbo das paredes de casas e apartamentos mais antigos, ocorria envenenamento por chumbo, uma doença grave, e muitas vezes fatal. Muitas crianças morreram em conseqüência de edema cerebral. Algumas das crianças que sobreviveram aos graves episódios iniciais desenvolveram problemas de aprendizagem e comportamento. (GOLDSTEIN, 1996, p.59). Segundo BORGES (1997), a hiperatividade vem sendo bastante discutida em virtude de acarretar sérios problemas de interação social, hoje em dia é considerado um distúrbio que altera o comportamento e que mais é diagnosticada na escola. É também associada ao baixo rendimento escolar, porque os pequenos que sofrem desse distúrbio apresentam inúmeras dificuldades de aprendizagem relacionada à atenção e à concentração. Uma criança mesmo sendo considerada inteligente é muito mal aceita no grupo, porque não consegue parar, levantando-se, anda pela sala de aula distraindo-se perturbando os colegas, impacientando seus professores, promovendo a indisciplina. Conviver com uma criança hiperativa é muito difícil, pois em sua agitação ela consegue transformar a rotina de todos aqueles que dela se aproxima ou convive no dia-a-dia. O convívio familiar é totalmente alterado, pais, irmãos, professores, muitas vezes ficando sem saber o que fazer. Sendo o TDAH um distúrbio bastante freqüente na idade escolar, pouco se sabe sobre suas causas, apenas conhecemos suas manifestações sintomáticas, porém é um termo bastante usado para descrever uma criança com o comportamento agitado e desatento. (BORGES, 1997). CAPÍTULO II 2. DEFINIÇÃO DA HIPERATIVIDADE Segundo a psicóloga escolar e clínica, professora do curso de Psicologia da FTC, Vitoria da Conquista, BA, Carmem Virginia Moraes da Silva: O Transtorno de Hiperatividade com Déficit de Atenção (THDA) é uma doença que tem início na infância e atinge entre 3 a 5% de criança em idade escolar. Considerada como distúrbio crônico por não ser curável, tem como causa mais provável a hiperfunção dopaminérgica e noradrenérgica,que seriam responsáveis pela menor concentração e maior inquietação.(2003, p.08). Para RODHE & BENCZIC (1999), trata-se de um problema de saúde mental que possui três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade. Este transtorno tem um grande impacto na vida da criança ou adolescente e das pessoas com as quais convive. Pode levar a dificuldades emocionais, de relacionamento familiar e social, bem como a um baixo rendimento escolar. (RODHE & BENCZIC, 1999, p.37). Os problemas de atenção impedem que haja a seleção da informação essencial para que ocorra a aprendizagem. FONSECA (1995) considera a presença de dois ou mais estímulos como prejudicial a essas crianças, tanto ao nível visual como auditivo, e ainda comenta que conforme estudos atuais à atenção são controlada pelo tronco cerebral, e uma vez afetada esta unidade funcional, o cérebro está impedido de processar e conservar a informação, pondo em risco as funções de decodificação e codificação (FONSECA, 1995,p253). Quando não ocorre a seleção da informação o córtex poderá tornar-se confuso na hora de identificar a informação como relevante ou irrelevante e em algumas tarefas que precise mudar o controle da atenção, dificilmente as crianças com dificuldades de aprendizagem conseguem concluir esse processo. Além dos problemas de atenção, as crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam problemas perceptivos e de memória. O desenvolvimento perceptivo dependerá do desenvolvimento motor, portanto, o estágio sensório-motor é de grande relevância para o desenvolvimento da criança. FONSECA (1995), acrescenta que: A capacidade perceptiva de discriminar, analisar, sintetizar, reconhecer e armazenar estímulos e suas relações está indissociavelmente ligado à manipulação de objetos e à elaboração de respostas simples, compostas e complexas. O reconhecimento do objeto (contorno, forma, comprimento, largura, orientação, etc.) é inseparável da sua manipulação, motivo pelo qual a percepção envolve reciprocamente um componente motor. (p.255). Em relação aos problemas de memória o autor supracitado aponta a memória e a aprendizagem como processos indissociáveis, assegurando como ser 12 essa a razão pela qual as crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam constantemente problemas de memorização, conservação, consolidação, retenção, rememorização, rechaçada (visual, auditiva e tatilquinestésica), etc, da informação anteriormente recebida. (FONSECA 1995, p.266). Como conseqüência dessas falhas na memória, é importante lembrar que conforme FONSECA (1995): Esquecer é também sinônimo de desaprender, provavelmente porque não se operou uma organização interna que envolve processos neurológicos determinados. Os estímulos que estão na base da aprendizagem precisam ser identificados e discriminados, mas também armazenados, para que possam estar disponíveis e acessíveis para as funções expressivas. (p.268) Segundo BORGES (1997), um dos fatores que mais dificultam o rendimento escolar da criança hiperativa é o déficit de atenção, pois todo momento na classe sua atenção é requisitada pelos colegas e professores. Se a criança hiperativa tem dificuldades de atenção, toda sua aprendizagem pode estar comprometida. Sua atenção é flutuante, pois qualquer ruído ou movimento a impede de concentrarse no que começou a fazer. A criança não consegue memorizar bem e tudo que aprendeu deve ser ensinado no dia seguinte. Quanto mais o professor: “exige a atenção, mais aumenta a tensão emocional e se reduz sua capacidade de prestar atenção.” (BORGES, 1997, p. 88). Segundo Abram Topczewski (1999) ,autor de um dos poucos livros em português sobre o tema, a maioria dos hiperativos têm problemas escolares pela dispersão,desatenção,falta comportamento,não de concentração conseguem aprendizado.Há,porém,hiperativos com e atingir um em conseqüência os desempenho do seu objetivos no escolar muito bom,conseguem fazer as tarefas muito rapidamente,mas não ficam quietos e atrapalham a dinâmica da classe. Os pacientes que não apresentam dificuldades no aprendizado conseguem executar as tarefas de modo rápido e eficiente, mas como terminam antes que os outros ficam a atrapalhar o trabalho dos colegas por conta da hiperatividade. Esse comportamento causa insatisfação ao grupo, que passa a reclamar e a interferência do professor, ao chamar a atenção do aluno, tem como objetivo primordial o de manter a classe organizada, provocando uma reação agressiva por parte do aluno, além de acentuar a hiperatividade. (TOPAZEWSKI, 1999, p. 57). Segundo PATTO (1991), a criança hiperativa é sempre candidata ao fracasso escolar, pois seu comportamento é turbulento e suas dificuldades de aprendizagem fogem à norma escolar e ao que é esperado de um bom-aluno. Segundo Goldstein & Goldstein 13 as crianças hiperativas podem não ter bom desempenho escolar, embora como um grupo, pareça ter potenciais de aprendizagem iguais aos das crianças normais. Nos anos escolares posteriores, entretanto, o impacto em longo prazo de não prestar atenção ou de não completar a lição acaba tendo um efeito negativo sobre o progresso escolar. A falta das aptidões básicas de atenção; bem como a falta de pratica na utilização dessas aptidões, começa a cobrar seu preço para o sucesso. (1994, p.108) É importante que os pais busquem terapia para adquirirem informação e apoio, diminuindo assim o sentimento de frustração e isolamento que atinge à família. É aconselhável que os pais não se prendam demasiadamente ao problema da hiperatividade da criança, faz-se necessário um descanso, ocupando-se de outras atividades prazerosas a fim de amenizar o desgaste emocional que é uma constante na vida familiar, como também incentivar criança a participar de projetos de seu interesse contribuindo, assim, com uma melhoria na concentração. O papel da escola é fundamental na observação da criança hiperativa, pois geralmente ela costuma nos intervalos se meter em brigas, ou brincar quase sempre sozinha, tenta chamar atenção ou se comporta como se fosse alienada. As meninas que sofrem da doença são mais distraídas, falam demais ou simplesmente se isolam. Os meninos não conseguem manter amizades por muito tempo são agitados e interrompem a aula constantemente. Na idade escolar, a criança hiperativa começa a se aventurar no mundo e já não tem à família para agir como amortecedor. O comportamento, antes aceito como engraçadinho ou imaturo, já não é tolerado... Ela precisa agora aprender a lidar com regras a estrutura e os limites de uma educação organizada e seu temperamento simplesmente não se ajusta muito bem as expectativas da escola. (GOLDSTEIN, 1996, p. 106). CAPÍTULO III 3. COMO SE MANIFESTA A HIPERATIVIDADE. As características do TDAH aparecem bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O distúrbio é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração de no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete anos. De acordo com ROHDE e BENCZILK (1999) o TDAH caracteriza por dois grupos de sintomas: (1) desatenção e (2) hiperatividade (agitação) e impulsividade. Os seguintes sintomas, segundo ROHDE e BENCZILK (1999), fazem parte do grupo de desatenção: *Não prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido; *Ter dificuldades para concentrar-se em tarefas e ou jogos; *Não prestar atenção ao que lhe e dito (“estar no mundo da lua”); *Ter dificuldade em seguir regras e instruções ou não terminar o que começa; *Ser desorganizado com tarefas e materiais; *Evitar atividades que exijam um esforço mental continuado; *Perder coisas importantes; *Distrair-se facilmente com coisas que não têm nada a ver com o que está fazendo; *Esquecer compromissos e tarefas. Os seguintes sintomas, segundo ROHDE e BENCZILK (1999), fazem parte do grupo de hiperatividade/impulsividade: a) ficar remexendo as mãos ou os pés quando sentado; b) não parar sentado por muito tempo; c) Pular, correr excessivamente em situações inadequadas, ou ter uma sensação interna de inquietude; d) Ser muito barulhento para jogar ou divertir-se; e) Ser muito agitado (“a mil por hora”, “ou um foguete”; 15 f) Falar demais; g) Responder às perguntas antes de terem sido terminadas; h) Ter dificuldades de esperar i) Intrometer-se em conversas ou jogos dos outros. 3.1 QUEM TEM DESATENÇÃO TEM NECESSARIAMENTE HIPERATIVIDADE OU IMPULSIVIDADE? Segundo ROHDE e BENCZIK (1999), não. Pesquisas mostram, segundo ROHDE e BENCZIK (1999), que existem três tipos de TDAH: a)TDAH com predomínio de sintomas de desatenção. As crianças que apresentam este tipo de TDAH têm muitos sintomas de desatenção (pelo menos seis da lista de sintomas do grupo de desatenção) e não apresentam ou têm poucos sintomas de hiperatividade/impulsividade ( menos de seis da lista de sintomas do grupo de hiperatividade/impulsividade). Este tipo parece ser mais comum em meninas e estar associado a maiores dificuldades de aprendizagem. b)TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade. As crianças que apresentam este tipo de TDAH têm, ao contrario, muitos sintomas de hiperatividade/impulsividade (pelo menos seis da lista de sintomas do grupo de hiperatividade/impulsividade) e não apresentam ou têm poucos sintomas de desatenção (menos de seis da lista de sintomas do grupo de desatenção). Este tipo parece ser mais comum em crianças menores e estar associado a maiores dificuldades de relacionamento com amigos e colegas e a mais problemas de comportamento. (c)TDAH combinado. As crianças que apresentam este tipo de TDAH têm, ao mesmo tempo, muitos sintomas de desatenção e de hiperatividade/impulsividade (seis tanto da lista de sintomas do grupo de desatenção quanto da lista de hiperatividade/impulsividade). Este tipo parece estar associado a prejuízos globais maiores na vida da criança. CAPÍTULO IV 4. DIAGNÓSTICO O diagnóstico do TDAH, segundo TIBA (2002), é um processo de múltiplas facetas. Diversos problemas biológicos e psicológicos podem contribuir para a manifestação de sintomas similares apresentados por pessoas com TDAH. Por exemplo: a falta de atenção é uma das características do processo de depressão. Impulsividade é uma descrição típica de delinqüência. O diagnóstico de TDAH, segundo TIBA (2002), pede uma avaliação ampla. Não se pode deixar de considerar e avaliar outras causas para o problema, assim é preciso estar atento à presença de distúrbios concomitantes (comorbidades). O aspecto mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico clínico e desenvolvimental. A avaliação do TDAH inclui, freqüentemente, um levantamento do funcionamento intelectual, acadêmico, social e emocional. O exame médico também é importante para esclarecer possíveis causas de sintomas semelhantes aos do TDAH (por exemplo: reação adversa à medicação, problema de tireóide, etc). O processo de diagnóstico deve incluir dados recolhidos com professores e outros adultos que de alguma maneira, interagem de maneira rotineira com a pessoa que está sendo avaliada. Embora se tenha tornado prática popular testar algumas habilidades como resolução de problemas, trabalhos de computação e outras, a validade dessa prática bem como sua contribuição adicional a um diagnóstico correto, continuam a ser analisadas pelos pesquisadores. No diagnóstico de adultos com TDAH, mais importante ainda é conseguir o histórico cuidadoso da infância, do desempenho acadêmico, dos problemas comportamentais e profissionais. À medida que aumenta o reconhecimento de que o transtorno é permanente durante a vida da pessoa, os métodos e questionários relacionados com o diagnóstico de um adulto com TDAH estão sendo padronizados e tornados cada vez mais acessíveis. Há algumas diferenças notáveis entre um portador de TDAH e um, mero mal-educado. O portador de TDAH continua agitado diante de situações novas, isto é, não consegue controlar seus sintomas. Já o mal-educado, primeiro avalia bem o terreno e manipula situações buscando obter vantagens sobre os outros. Diagnósticos apressados e equivocados têm feito pessoas mal-educadas ficarem à vontade para serem mal educadas sob o pretexto de que estão 17 dominadas pelo TDAH. O fato de serem consideradas doentes facilita a aceitação de seu comportamento impróprio". (TIBA, 2002, p. 152). É mais fácil agir sem a necessária adequação de ser humano e cair na escala animal liberando tudo o que se tem vontade de fazer... "Concentrar-se dá trabalho. Exige esforço mental. (TIBA, 2002, p.152). Como a criança não suporta isso, começa a se agitar, a prestar atenção em outra coisa. Antes dos pais lidarem com o filho como apenas um mal-educado, ou como um portador do TDAH, é importante que consulte um médico e receba a orientação correta, base fundamental da boa educação. "Tanto o portador de TDAH como o mal-educado são irritáveis por falta de capacidade de esperar. A espera é um exercício". (TIBA, 2002, p. 153). Muitos pais demoram muito a procurar ajuda ou não aceitam um diagnóstico de hiperativo, por achar que é coisa de idade, que toda criança é agitada e isso irá passar. Porém, quando o distúrbio demora a ser diagnosticado, a partir de sua puberdade, pode procurar as drogas, álcool, a fim de superar suas dificuldades em adaptar-se à vida. Para fazer um diagnóstico, é necessário um psiquiatra, que deverá fazer um rol de perguntas com os pais e pessoas do seu convívio como professores, empregados e outros que mantêm contato com o suposto hiperativo. De acordo com a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), Eletroencefalograma, Mapeamento Cerebral, Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética evocada não podem fornecer este diagnóstico. Segundo GOLDSTEIN & GOLDSTEIN (1994), um diagnóstico minucioso da hiperatividade na infância deve incluir um histórico da família e do desenvolvimento do seu filho. As informações do histórico relativas a outros problemas que a família teve, os métodos para impor a disciplina, ou sinais precoces de temperamento difícil, as lembranças dos pais sobre os acontecimentos da vida da criança, são fundamentais para o diagnóstico. Essa coleta de dados deve incluir: Histórico, Inteligência, Personalidade Desempenho escolar, Amigos, Disciplina e comportamento em casa, Comportamento em sala de aula. É importante para os pais entenderem que não há nenhum resultado ou observação isolada que confirme ou exclua o diagnóstico de hiperatividade em uma criança. Durante o processo de avaliação do filho, os pais são consumidores que estão comprando conhecimentos, informações e opinião. Eles tem o direito de a mais que um simples rótulo ou cinco minutos de explicação em relação 18 a natureza do problema e sua solução. (GOLDSTEIN&GOLSTEIN,1994. p. 47). Ainda segundo GOLDSTEIN& GOLDSTEIN (1994), o objetivo da avaliação não é classificar seu filho ou decidir sobre o tratamento em particular e que o diagnóstico de hiperatividade não implica que qualquer tratamento isolado pode solucionar todas as dificuldades da criança em todas as situações, pois a maioria dos problemas vivenciados por uma criança hiperativa não pode ser evitado, porém, eles podem ser eficientemente administrados. Afirma BORGES (1997), que crianças com todas as características da hiperatividade são comumente avaliadas como tendo um comportamento normal por alguns médicos pediatras, quando não são observados traçados anormais no encefalograma, descartando-se assim a presença da hiperatividade e que esta conduta pode ocasionar muitos equívocos, pois perde-se tempo precioso de atendimento a muitas crianças que poderiam estar sendo devidamente acompanhados, evitando-se que comportamentos inadequados instalem-se de forma definitiva. Referindo-se a essa questão GOLDSTEIN & GOLDSTEIN A ignorar esses primeiros sinais de hiperatividade representa um erro por parte dos pais e de nossa comunidade médica e clínica. Embora uma intervenção precoce possa não curar a hiperatividade ou temperamento difícil, ela pode representar um grande passo no sentido de minimizar a extensa lista de problemas secundários desenvolvidos por uma criança hiperativa. (1994, p. 78- 9). quantidade de ações em que o sujeito se engaja, segundo GOLDSTEIN&GOLDSTEIN (1994), pode constituir um sintoma que, na maioria das vezes é difícil reconhecer quando avaliados sozinhos, devido à ambigüidade de seus limites com um comportamento normal. Com efeito, a quantidade de atividade pode ser eminentemente variável de um individuo para outro. Analisada como conduta isolada, supondo o caráter mórbido quando manifesta a incapacidade do sujeito de se engajar numa ação. Constitui, então, uma anomalia, na maioria dos casos uma ruptura com relação à própria norma do sujeito, enquanto perda da liberdade de agir pela a coação a agir. Este sinal é característico de todos os estados de excitação, principalmente dos estados maníacos. Quando inscrita num contexto psicopatológico, mais amplo que outorga seu estatuto de anomalia (fuga para frente), seu reconhecimento fica mais fácil. O tratamento do TDAH envolve uma abordagem múltipla, englobando intervenções psicossociais e psicofarmológicas, no âmbito das intervenções psicossociais, o primeiro passo deve ser educacional, 19 através de informações claras e precisas à família a respeito do distúrbio. Muitas vezes, é necessário um programa de treinamento para os pais, a fim de que aprendam a manejar os sintomas dos filhos. É importante que eles conheçam as melhores estratégias para o auxilio de seus filhos na organização e no planejamento das atividades. Segundo GOLDSTEIN& GOLDSTEIN (1994), crianças hiperativas em uso de ritalina obtêm uma melhora com redução dos sintomas. A ritalina melhora o grau de atenção e reduz o comportamento impulsivo hiperativo diminuindo problemas em casa, na escola, e na vizinhança. Afirma GOLDSTEIN&GOLDSTEIN (1994), que a decisão de adotar a intervenção por medicação deve ser tomada apenas após cuidadosa consideração dos riscos e dos benefícios da medicação, apesar da ritalina ser altamente eficaz, mas existem efeitos colaterais brandos tais, como perda de sono ou apetite, além de efeitos colaterais graves que incluem psicose ou convulsões, sendo que tais efeitos não resultam em danos permanentes. Segundo BORGES (1997), a adaptação e ajustamento da criança hiperativa necessitam de uma intervenção terapêutica. Dois tipos de medidas têm sido adotadas: as terapias comportamentais (que inclui terapias de modificação e terapias cognitivas) e os estimulantes. Ainda segundo BORGES (1997), antes de se iniciar qualquer terapia comportamental é necessário conhecer certos princípios e condições: para se efetuar um programa de modificação do comportamento é imprescindível uma análise completa dos comportamentos problemáticos, seus componentes, os eventos que os acompanha ou desencadeiam o contexto no qual aparecem. Os pais e professores são os principais responsáveis na aplicação do programa. O programa de modificação de comportamento é um processo longo e difícil e deve ser planejada de forma rigorosa. É necessário estabelecer objetivos realistas sem visar necessariamente o desaparecimento completo do comportamento desviante. De acordo WENDER (1980), algumas delas tinham desordens de comportamentos que incluíam desabilidades educacionais específicas, problemas agressivos. Havia uma melhora significativa no desempenho escolar em metade das crianças. Uma grande proporção delas tornou-se emocionalmente controlada. Desde os anos 40 muitos tipos de medicamentos têm sido experimentados no tratamento do TDAH. Estimulantes como as anfetaminas (Benzedrina e Dexedrina) metilofenidrato (Ritalina), o permolina (Cylert), a cafeína e o deanol têm sido muito utilizado. Hoje, prescreve-se o metilofenidato ou ritalina em 90% dos casos. Se a ritalina é ingerida ás oito horas, às dez horas da manhã, o efeito então diminui durante as quatro hortas seguintes e maior parte de sua capacidade de melhorar o comportamento hiperativo 20 desaparece entre o meio dia e as duas da tarde. (apud, GOLDESTEIN & GOLDESTEIN, 1994, p. 213). CAPITULO V 5 - O CONTEXTO FAMILIAR DA CRIANÇA COM TDAH Nem sempre as famílias conseguem perceber as diferenças comportamentais, especialmente quando não tem outros filhos. Muitas vezes acreditam tratar-se de uma fase transitória, e, com isso, tornam-se mais tolerantes. “A acomodação, por parte dos pais, a este tipo de comportamento faz com que não percebam o quanto este se desviam do padrão tolerável”. (TOPCZEWSKI, 1999, p. 37). Em decorrência disso, não enxergam e não admitem a existência do quadro hiperativo. São as mães que recebem as reclamações escolares, sentem diretamente as dificuldades no relacionamento com os filhos e, muitas vezes, devem lidar com a questão sem a participação efetiva dos pais. Os pais justificam a sua ausência por estarem atarefados, terem agendado reuniões importantes e inadiáveis ou viagem de interesse profissional que os compromete de comparecer, inclusive nas consultas médicas, entrevistas com psicólogos, pois para a maioria dos pais esta providência é inaceitável. Nem sempre há unanimidade na determinação da hiperatividade, pois às vezes em que a criança se apresenta hiperativa na escola e isto não é percebido ou não é considerado pelos pais, em casa De acordo TOPAZEWSKI,(1999) o comportamento hiperativo pode desestabilizar a relação do casal, que deve procurar administrar, em conjunto, os desvios comportamentais apresentados pelo filho, pois as discórdias do casal têm repercussão negativa relevante sobre o comportamento emocional da criança, o que agrava a hiperatividade. A vida doméstica se torna mais difícil, os encontros não mais denotam prazer, mas justamente o oposto, ou seja, o desprazer. A vida do casal se altera, comprometendo também a sua relação afetiva e sexual, em particular. Os horários das refeições tornam-se desgastantes, quando, na realidade deveriam ter clima tranqüilo, com momentos de descontração e prazer para integrar a família. Acontece exatamente o contrário, pois nestas horas é que os ânimos ficam acirrados, tornando mais evidentes as cobranças e discussões. (p. 49). Segundo TOPCZEWSKI (1999, p. 28), muitas vezes, no consultório médico a criança apresenta um comportamento mais tranqüilo, o que deixa os familiares admirados, sugerindo que as queixas referidas são de outra criança. Diante disso, o pediatra até tranqüiliza os familiares. Há outras situações, ainda, em que os pais discordam entre si, pois a mãe considera a criança hiperativa, mas o pai não aceita esta apreciação, alegando ser esse comportamento próprio da idade, e que ele, o 22 pai, apresentava comportamento semelhante, na mesma fase da infância. Na sua época era considerado, somente, como criança peralta, mas atualmente, na idade adulta está muita bem adaptada, sob os aspectos sociais, familiares e profissionais, aparentemente sem seqüelas. Deve-se considerar também, que os pais não mostram a criança quais são seus verdadeiros limites e, com isso, muitas vezes elas ficam exportas a situações adversas, inclusive de perigo. Por outro lado, há, também, pais que não querem admitir que seu filho apresente algum comprometimento comportamental, consideram as queixas em relação ao seu filho como sendo uma questão pessoal de antipatia ou de intolerância. Esta não aceitação por parte dos pais retarda o diagnóstico e, por conseqüência, o tratamento. Há pais que informam ter apresentado na infância comportamento semelhante ao do filho, mas superaram com o passar do tempo, apesar das dificuldades vivenciadas na época. Muitos não se recordam dos detalhes e necessitam recorrer às informações dos familiares próximos. Outros têm uma memória fotográfica das vivências passadas, e citam as situações desconfortáveis pelas quais passaram em várias ocasiões da sua vida escolar, familiar ou social. Segundo BARKLEY (2000), isso ocorre, provavelmente, quando eles não suspeitam que muita coisa estava errada com seu filho, ou mesmo se o pai de um amiguinho levanta a possibilidade de existir algum problema. Quando são os últimos a saberem que seu filho é portador de TDAH, é comum rejeitarem, negarem ou minimizarem a extensão do problema, outros pais aceitam, com alívio, a informação sobre TDAH abraçando seu diagnóstico como resposta a uma incansável busca. Essas famílias geralmente sentem-se aliviadas do peso que carregavam quanto à incerteza e a culpa. De acordo BARKLEY, freqüentemente o pai e a mãe de uma criança com TDAH são rotulados de negligentes, desatentos na educação. Para alguns, um diagnóstico de TDAH provoca ira e raiva contra aqueles que os culpam pela a falta de controle do problema dos filhos e ira voltada a todos que garantam que nada estava errado. Quando os pais descobrem finalmente que não são culpados, a ira e ressentimento não são reações exageradas. (2000, p.152). De fato, é compreensível e natural reação de tristeza diante da informação; quase todos os pais se angustiam com a perda do estado de anormalidade e chegam a pensar que o filho saudável já não existe mais, daí percebem que o filho 23 necessita de auxílio para lidar com o seu problema, e ser protegido quando ameaçado, proporcionando condições para que a criança com TDAH se desenvolva ao máximo ou se adaptem tão bem como crianças normais. WENDER (1980), considera que os pais precisam ser absorvidos da auto tortura por pecados que nunca cometeram... isso reduzirá sua ansiedade e depressão... diminuindo o fardo da família. Diz também: definir uma criança infeliz e não como má muitas vezes diminuirá a hostilidade dos pais, permitindo-lhes se comportar de modo mais terapêutico. Quando os pais amadurecem e passam a aceitar o filho com suas dificuldades e limitações, então saberão acolhê-lo no seio familiar e ajudaram a ser incluído no meio. TAYLOR, apud BORGES (1997), observa que crianças hiperativas podem provocar a falência emocional de uma família. Algumas vezes, os pais ficam sem saber como agir, porém, outras vezes, adaptam-se bem ao estilo da criança. Geralmente, o que se observa comumente é se instalam entre os membros da família tensões, tornando conflituosas todas as atividades da vida cotidiana. No entanto, é imprescindível a aceitação dos pais diante das dificuldades do seu filho, de modo que eles possam assumir e cumprir o desafiante papel no progresso da criança. Assim, eles devem propiciar de forma ativa situações que favoreçam desenvolver a autonomia da criança, alicerçando através do amor, do bom relacionamento familiar, da aceitação dos colegas, dos professores, do sucesso escolar, social dentre outros. Os pais deverão encontrar situações prazerosas para seu filho, seja em esportes, artes, e deverão enxergar além das suas limitações e perceber seus esforços, empenhos e talentos. 5.1 - INTERAÇÕES DA CRIANÇA COM TDAH E SUA FAMÍLIA Os primeiros estudos de observação direta de interação de mães e seus filhos com TDAH foram realizados por CAMPBELL, da University of Pittsburgh, em 1975. CAMPBELL, apud BARKLEY (2000), observou que meninos com TDAH iniciaram mais interações do que outros quando trabalhando com suas mães, necessitando também de mais ajuda. Essas crianças, a curto prazo, pareciam necessitar de mais atenção, mais conversa e solicitavam mais intensamente e ajuda de suas mães. 24 BARKLEY (2000), refletindo também sobre essa interação, verificou que as crianças portadoras do distúrbio eram muito submissas, mais negativas, mais capazes de abster-se das tarefas e menos persistentes em concordar com as normas impostas por suas mães. Queixas que BARKLEY (2000), ouviu de mães de crianças com TDAH é que elas parecem se comportar melhor com os pais. Observou ainda que ainda eram menos negativas com seus pais e mais capazes de permanecer um maior período de tempo em tarefas do que com suas mães. Ainda segundo BARKLEY (2000), deve haver algo relacionado ao fato de que as mães carregam mais responsabilidade de interagir com a criança com TDAH do que os pais no ambiente de casa. As mães parecem contar mais com razão e afeto par conquistar a obediência do filho. Como as crianças com TDAH não seguem instruções muito bem e não são sensíveis a elogios, essa forma de proceder parece motivá-los bem menos. Os pais podem racionalizar e repetir menos ordens, podendo impor punição imediata pela não submissão. Não podemos descartar o fato do tamanho físico e de maior força do pai, que podem ser intimidadores para uma criança com TDAH. O relacionamento de uma criança com TDAH e seus irmãos e irmãs parece ser diferente daquele observado em outras famílias. Elas gritam com maior freqüência com seus irmãos e são mais impacientes e suscetíveis a assumirem um comportamento inapropriado, problemático. Os irmãos de uma criança com TDAH tendem a crescer cansados, ansiosos por conviver com um comportamento tão instável e desafiante. Alguns se ofendem com o grande peso da tarefa que carregam, se comparados com criança portador do distúrbio. Certamente, o maior tempo e atenção que a criança recebe dos pais é fonte de inveja, ciúmes, queixas, especialmente quando os irmãos sem TDAH são os mais novos. Alguns reagem com raiva, pois essas crianças são dispensadas de atividades e responsabilidades, ou tem mais oportunidades de ganhar recompensas pelo o comportamento que, rotineiramente, se espera deles sem recompensa... por um lado, os irmãos podem ficar com ciúmes e com raiva e, contudo. Apresentarem um interesse velado em preservar o estado dessa criança hiperativa. (GOLDSTEIN &GOLDESTEIN, 1994, p.123). 5.2 - RECOMENDAÇÕES AOS PAIS DA CRIANÇA COM TDAH 25 Afirma BORGES (1997), que o pai, geralmente, se coloca mais distante e tem menos oportunidade de se enervar, pois não participa diretamente dos cuidados à criança. São, portanto, as mães que mais se lastimam e se preocupam, por não saberem como agir com essa criança. GOLDSTEIN & GOLDESTEIN (1994), sugere uma série de postura que os pais devem tomar: 1- Educação: sugere que os pais considerem que a educação a essa criança deve ser apropriada para isso, devem se informar, conhecer a literatura especializada, para saberem como agir. 2- Controle: recomendam que os pais considerem que o domínio, paciência, tolerância, conhecimento, aptidão, compreensão, capacidade de controle e, acima de tudo, amor. 3- Maneira de divertir a criança: os pais devem descobrir oportunidades de diversão com a criança, tornando cada dia agradável, estimulando atitudes positivas à criança. 4- Apoio aos pais: os pais devem se apoiar mutuamente, com a participação do casal em todas as atividades e intervenções, de forma coerente. 5- Escola: apoio e tolerância às iniciativas da escola. 6- Autoestima: os pais devem ajudar a criança a construir uma boa auto-estima. Atividades em que ela seja bem sucedida devem ser estimuladas. 7- Amigos: os pais devem estimular a manutenção das amizades, ajudando-a nessa tarefa, facilitando as interações sociais. 8- Irmãos: os pais não podem esquecer-se dos outros irmãos, mesmo que despendam mais tempo à sua criança hiperativa. Segundo BORGES (1997), os pontos citados são bastante pertinentes, mas ele acredita que estão muito distantes da realidade das crianças que sofrem desse distúrbio, por se tratarem de crianças cujas famílias geralmente são formadas por pessoas simples, com pouca ou nenhuma instrução, sobrevivendo à custa de muito trabalho e sacrifício. Alguns dos pais nem mesmo percebem as implicações que o comportamento da criança poderá ter para o futuro. Alunos com TDAH parecem ter potencial de aprendizagem igual ao das outras crianças. Entretanto, é na escola que eles enfrentam seus maiores problemas. Já na Educação Infantil, a criança precisa aprender a lidar com as regras, a estrutura e os limites de uma educação organizada. Sendo que é importante que pais e professores entendam os motivos que levam esse aluno a não 26 corresponder ao que se espera dele. Na família, a primeira dúvida surge na hora de escolher a escola, pois a escola escolhida deve defender valores semelhantes aos defendidos pela família e seguir o mesmo caminho que ela pretende trilhar, para que a educação da escola seja complementar à da casa. Pois esses alunos precisam de apoio e intervenção acadêmica com maior intensidade. Haverá a necessidade de acomodações, que respeitem a especificidade das necessidades de cada um e, para isso, é preciso verificar o nível de conhecimento da direção e dos professores a respeito do assunto. Se os professores conhecerem realmente as dificuldades vividas pelas famílias de crianças com TDAH, é provável que compreendam as atitudes dos pais, da mesma forma que estes podem se sensibilizar com a situação dos professores quando percebem as reais dificuldades que seus filhos encontram e provocam dentro da sala de aula. Os professores são, freqüentemente, aqueles que mais facilmente percebem quando o aluno apresenta problemas de atenção, aprendizagem, comportamento ou emocionais/afetivos e sociais. É papel da escola é procurar esclarecer as causas dos problemas. A primeira avaliação deve ser feita por um grupo interno; depois, as preocupações são transmitidas aos pais, mostrando-se opções para um diagnóstico correto, que pede a avaliação de profissionais de outras áreas. Uma vez determinado o problema, pais, professores e terapeutas planejam juntos as estratégias e intervenções a serem implementadas (modificação do ambiente, adaptação do currículo, adequação do tempo de atividade, acompanhamento de medicação etc.). Dentre os vários fatores que afetam positivamente o desempenho de um aluno com TDAH está a estruturação, na sala de aula e durante o tempo de estudo em casa. Uma sala de aula estruturada não significa um ambiente rígido, tradicional. Ao contrário, pode ser criativa, colorida, ativa e estimulante. A estrutura se estabelece através de comunicação clara e precisa, regras bem definidas, expectativas bem explicadas, recompensas e conseqüências coerentes e um acompanhamento constante. A rotina de atividades deve ser programada (com períodos de descanso definidos) e os alunos devem ser supervisionados e ajudados na organização do lugar de trabalho, do material, das escolhas e do tempo (BORGES, 1997). Atualmente, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelo aluno com TDAH e sua família, é a realização da tarefa de casa. Nesse sentido, os professores precisam lembrar, segundo BORGES (1997) que um estudante com TDAH (e/ou com problemas de aprendizagem) leva 3 a 4 27 vezes mais tempo para fazer uma lição do que seus colegas! É necessário fazer adequações para que a quantidade de trabalho não exceda o limite da possibilidade. O objetivo da lição de casa é revisar e praticar os conteúdos da aula. Acima de tudo, o dever de casa não deve ser jamais um castigo ou conseqüência de comportamento inadequado na escola. Freqüentemente, professores de crianças com TDAH sentem tanta frustração quanto seus pais. Assim como seus alunos, são seres humanos únicos, com características específicas, e nenhum conjunto isolado de sugestões e estratégias funciona na inter-relação de todos os professores com todos os alunos. Há necessidade de ajuste de ambas as partes. Algumas vezes, várias intervenções são experimentadas antes que um resultado positivo apareça. Daí a necessidade de se escolher a escola e o método de ensino mais adequados para o aluno, especialmente aquele com TDAH. O sucesso escolar de crianças com TDAH exige uma combinação de intervenções terapêuticas, cognitivas e de acompanhamento. Com esse apoio, a maioria pode, perfeitamente, acompanhar classes regulares. De acordo BORGES em sua dissertação de mestrado (1997), crianças que desde bebê demonstram estar sempre em alerta, choram com freqüência são difíceis de acalmar, têm sono perturbado e vivem sempre irritados, e aos dois anos têm dificuldade de parar, escutar ou atender, quando chegam na pré-escola essas características permanecem tendendo a se agravar já que começam a conviver com pessoas fora do seu círculo familiar, passando a ser percebidas como importunas, dominadoras e inconseqüentes. Seu comportamento torna-se motivo de exigências e discriminações por seus professores e seus companheiros. Quando vão para alfabetização, demora muito mais do que as outras a ler e escrever, pois seu esquema corporal é alterado pela inquietação e agitação motora. Manter-se sentado, permanecer calada, atenta e concentrada, são atributos que ele não consegue desenvolver, não escreve na linha e quebra seguidamente a ponta do lápis, levantando-se para ir ao cesto apontá-lo. A maioria das crianças com hiperatividade ao começarem a escola, tornam-se candidatas a sucessivas repetências desde os primeiros anos do ensino fundamental. A entrada da criança a obriga a se adaptar a um grupo maior, a cooperar com os colegas em atividades estruturadas, a ficar longo tempo sentado, se para crianças normais essas exigências são difíceis, para crianças hiperativas torna-se angustiante. 28 Na idade escolar, a criança hiperativa começa a se aventurar no mundo e já não tem a família para agir como amortecedor. O comportamento, antes aceito como engraçadinho ou imaturo, já não é tolerado... Ela precisa agora aprender a lidar com regras, a estrutura e os limites de uma educação organizada e seu temperamento simplesmente não se ajusta muito bem às expectativas da escola. (GOLDSTEIN, 1996, p.106). Segundo GOLDSTEIN (1996), muitas crianças hiperativas também vivenciam comportamentais ou emocionais secundários na escola como conseqüência de sua incapacidade de satisfazer as exigências da sala de aula. Esses problemas muitas vezes se desenvolvem em resposta a fracassos freqüentes e repetidos, algumas crianças tornam-se deprimidas e retraídas, enquanto se tornam irritadas e agressivas. E na primeira ou segunda série as outras crianças tornam-se cada vez mais cientes das incapacidades das crianças hiperativas na sala de aula. CAPÍTULO VI 6. O CONTEXTO ESCOLAR E A CRIANÇA COM TDAH Uma sala de aula eficiente para crianças desatentas e hiperativas, segundo GOLDSTEIN (1998) deve ser organizada e estruturada, o professor deve estar preparado para receber uma criança portadora de TDAH e procurar conhecer melhor o quadro do distúrbio, para saber como lidar com ela. Depois um programa de reforço baseado em ganhos e perdas, deve ser parte integrante do trabalho de classe. A avaliação deve ser freqüente e imediata. Recomenda-se ignorar pequenos incidentes. O material didático deve ser adequado às habilidades da criança, estratégias que facilitem a autocorreção, e que melhorem o comportamento nas tarefas, devem ser ensinadas. As tarefas, segundo GOLDSTEIN (1998), devem variar, mas continuar sendo interessantes para os alunos, os horários de transição, bem como os intervalos e reuniões especiais devem ser supervisionadas. Pais e professores devem manter uma comunicação freqüente, os professores precisam estar atentos à qualidade do reforço negativo do seu comportamento. O professor deve criar facilidades para que a criança com TDAH adquira novas amizades, pois os amigos são essenciais para o desenvolvimento dessa criança. A instabilidade comportamental, a ansiedade e a falta de concentração em algumas crianças hiperativas fazem com que as outras crianças se afastem delas, pois por não compreenderem a sua forma de relacionamento, acabam as considerando inconvenientes. Assim sendo, algumas vezes, as crianças hiperativas acabam sendo excluído pelos os amigos, o que poderá provocar alguns transtornos emocionais, pois a falta de companheirismo poderá trazer para algumas delas sentimentos de solidão e ansiedade (LOPES, 2002). Pois sabemos que, pessoas diferentes aprendem de maneiras diferentes. Assim o sucesso da aprendizagem depende do planejamento de determinadas competências com alternâncias de metodologia e dinamismo no processo de ensino aprendizagem. De acordo com Gilda Rizzo: "proporcionar atividades variadas que ocupe a criança o maior período de tempo possível, dando a ela liberdade de escolha e de movimentos." (1985, p.307), pode auxiliar uma melhor conduta no trato com o 30 hiperativo. Somente o trabalho livre e diversificado pode favorecer esse tipo de criança que também se mostra satisfeita na incumbência de realizar tarefas auxiliando o professor. ROHDE e BENCZIK (1999), listam algumas sugestões para Intervenção do professor que poderão tornar mais fácil e agradável o seu trabalho com estas crianças e adolescentes. Lance mão de estratégias e recursos de ensino flexíveis até descobrir o estilo de aprendizado do aluno. Isso ira ajudá-lo a atingir um nível de desempenho escolar mais satisfatório. *Crie um caderno “casa-escola-casa”. Isso é fundamental para melhorar a comunicação entre os pais e você. *Assinale e elogie os sucessos da criança tanto quanto for possível. Ela já convive com tantos fracassos que precisa de toda estimulação positiva que puder obter. *Sempre que possível, transforme as tarefas em jogos. A motivação para aprendizagem certamente aumentara. *Avalie mais pela qualidade e menos pela quantidade das tarefas executadas. (ROHDE e BENCZIK, 1999, p.85). 7.- A APRENDIZAGEM E O BRINCAR DE CRIANÇAS COM TDAH As atividades lúdicas, além de facilitarem a aprendizagem, atendem a determinados interesses e necessidades sociais, pois favorecem a socialização e a cooperação entre os alunos. A escola deve promover situações significativas de aprendizagem, propondo atividades desafiadoras que possibilitem a construção de conhecimentos, dando oportunidades ao aluno de ser mais criativo, participativo e ativo, tornando-se um ser com iniciativa pessoal e autonomia, levando-o a adquirir atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade Para isso, faz-se necessário que o professor elabore aulas interessantes e diversificadas, saindo da rotina e que explorem diferentes habilidades nos educandos, o que trará benefícios significativos para suas vidas. Como tão bem observou FERNÁNDEZ (2001): Brincando descobre-se à riqueza da linguagem; aprendendo, vamos apropriando-nos dela. Brincando inventamos novas histórias; o aprendizado permite historiar-nos, sermos nossos próprios biógrafos. Jogar é pôr a galopar as palavras, as mãos e os sonhos. (, p.36). Segundo VYGOTSKY (1988), PIAGET (1990), WINNICOTTI (1971), o jogo está presente como um papel de fundamental importância na educação, principalmente na educação infantil; no entanto, CHATEAU (1987) adverte para que a educação não se limite somente ao jogo, pois isso levaria o homem a viver num mundo ilusório e cita o jogo apenas como uma preparação para o trabalho, exercício, propedêutica. (CHATEAU, 1987.p,155). Sua teoria fundamenta-se nas relações mútuas entre jogo e trabalho; de acordo com o autor, o jogar exige um esforço muito grande, e quase sempre tem como objetivo cumprir uma tarefa; portanto, o jogo é um dever tanto quanto uma tarefa escolar; e desta forma, o jogo passa a ter um caráter moral. Além disso, o jogo e o trabalho possuem valores sociais. Jogando, a criança entra em contato com outras crianças, passa a respeitar os diferentes pontos de vistas, e isso irá favorecer a saída de seu egocentrismo original. Para MAIA (1993), o jogo está presentes nas mais diversas fases e atividades da vida humana, englobando desde o desenvolvimento físico, psicomotor e cognitivo até o afetivo e social. (MAIA, 1993,p.36). Em relação a esse aspecto, CLAPARÈDE, apud CHATEAU (1987), confirma que é preciso tomar muito cuidado para que o jogo não se torne apenas um 32 divertimento, desprezando essa parte de orgulho e de grandeza humana que dá seu caráter próprio ao jogo humano. (CHATEAU, 1987. p124). Conforme BROUGÈRE (1998), o jogo nos dá a oportunidade de descobrir informações sobre o nosso meio que contribuem para nossa visão de mundo, e para várias formas de aprendizagens. (BROUGÈRE, 1998. p190). Através dos jogos, são exercitados aspectos físicos e mentais do indivíduo. Portanto, por que não aprender matemática, leitura, escrita, de uma forma prazerosa, interativa, em que trocamos pontos de vista, conhecemos melhor o outro, convivemos de uma maneira harmoniosa e feliz? Por mais que haja desgaste físico, algumas frustrações, o prazer que sentimos ao jogar, ao brincar, são imensuráveis. O jogo chega a ser considerado por FREUD. apud BOSSA, 2000 como uma atividade criativa e curativa, pois permite à criança (re) viver ativamente as situações dolorosas que viveu passivamente, modificando os enlaces dolorosos e ensaiando na brincadeira as suas expectativas da realidade. (BOSSA, 2000, p111). O prazer moral proporcionado pelo jogo deverá ser transposto para a educação, calcada na atividade espontânea do jogo. A criança precisa superar obstáculos, precisa querer superá-los. De acordo com CHATEAU (1987), a verdadeira alegria, a alegria humana, é aquela que se obtém num triunfo sobre si, num domínio de si. Por mais cansativo que seja o jogo, o prazer da vitória é gratificante. (CHATEAU, 1987:128). De acordo com VYGOTSKY (2004), a aprendizagem é um processo social. É possibilitada através das áreas de desenvolvimento proximal, isto é, da distância entre a zona de desenvolvimento real, que se costuma determinar através das soluções independentes de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, ou seja, aquilo que a criança ainda não sabe, mas que pode aprender. A zona de desenvolvimento proximal pode ser ilustrada através daquilo que a criança faz hoje com auxílio de adultos ou mesmo de crianças mais hábeis, mas que amanhã poderá fazer por si mesma. Tendo-se por norte a afirmação de VYGOTSKY (2004), no sentido de que, no processo de aprendizagem e desenvolvimento, para cada passo que a criança dá adiante no aprendizado, são dois passos que ela avança no desenvolvimento, é inegável que cresce em importância a atuação do professor nesse processo. 33 De fato, cabe a ele estimular constantemente a atenção da criança com TDAH, para que a mesma não se perca a qualquer novo estímulo do ambiente. Para possibilitar que a criança fixe atenção em um único brinquedo ou brincadeira por um tempo suficiente para o máximo aproveitamento daquela experimentação, com uma melhor interação com aquele objeto e mesmo com os colegas. Assim pode conseguir também aproximação aos demais. Relacionar-se com os colegas é estar em ambiente proximal, aproveitar os modelos, orientações e mesmo a afetividade com os pares. VYGOTSKY (1991), destacou a importância do brincar para os processos de aprendizagem e desenvolvimento da criança, pois é através desse ato que a criança reproduz experimentações e vivências que percebe do mundo exterior, e, ainda, que pode relacionar-se com outras crianças. Ele também destacou que o brincar nem sempre é considerado uma atividade que dá prazer à criança, já que outras atividades dão experiências de prazer muito mais intensas do que o brincar como, por exemplo, o chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie com a mesma. No entanto, o ato de brincar é de suma importância no desenvolvimento e aprendizado da criança. As situações problema contidas na manipulação de certas matérias, se estiverem adequadas às necessidades do desenvolvimento da criança, fazem-na crescer através da procura de soluções e de alternativas. (CUNHA, 1988, apud BARROS, 2002, p. 60). 8 ATIVIDADES INDICADAS PARA SE TRABALHAR COM O HIPERATIVO. De acordo CUNHA (1997) os alunos hiperativos têm dificuldade em se concentrar e dificilmente se interessam por atividades pedagógicas tradicionais e sedentárias. Nesse caso selecionamos algumas atividades que são divertidas e ao mesmo tempo exigem atenção e concentração, jogos de competição em grupo que são altamente motivadores e socializadores sugeriram também que os professores se utilizem ao máximo de recursos de multimídia como TV, DVD e computador, pois em geral eles se interessam muito por tudo isso, mas claro com conteúdos ingressos nos temas a ser trabalhados, onde eles possam se desenvolver cognitivamente brincando. 8.1 QUEBRA-CABEÇA O quebra-cabeça é um tipo de brinquedo que desafia a inteligência da criança. O interesse que desperta pode estar relacionado ao grau de atração e o de dificuldade que ele apresenta: se for fácil demais, não constituirá desafios, mas também, se for difícil demais, provocará desistência ao invés de motivação. Quando o brinquedo tiver um grau de dificuldade muito alto, pode-se montar em cima de uma prancha e riscar as suas formas e numera-las para facilitar sua utilização. “Essa atividade estimula o pensamento lógico, composição e decomposição de figuras, discriminação visual, atenção e concentração”. (CUNHA, 1997, p. 45). 8.2 JOGO DA MEMÓRIA Pensamento e inteligência são sinônimos, pois o pensamento representa o uso ativo da inteligência. A fonte da inteligência é a experiência, que provoca o funcionamento do pensamento em seu nível mais alto. A teoria de Piaget afirma que o desenvolvimento global da inteligência é a base sobre a qual repousa todo aprendizado. A aprendizagem só acontece se a criança tiver mecanismos por meio dos quais possa relacionar as informações. Todas as características da inteligência humana vêm à tona através do processo de desenvolvimento. 35 Diante disso, CUNHA (1997, p. 48) cita que: “O jogo da memória estimula o pensamento, memorização, identificação de figuras, estabelecimento do conceito de igual e diferente e orientação espacial”. 8.3 O QUE SERÁ? Quando o ambiente da escola é estimulante, faz surgir interesses que irão gerar energia para que sejam perseguidos. As brincadeiras de “adivinhar” são muito estimulantes porque constituem desafio explícito. Se forem bem conduzidas, levarão as crianças a descobrirem que poderão alcançar melhores resultados se fizerem perguntas mais objetivas. Isso pode ser feito também, limitando-se o número de perguntas que cada criança ou grupo pode fazer para chegar à resposta correta. Esse jogo estimula pensamento lógico, dedução, reconhecimento do todo através de uma parte, atenção e observação, nomeação e discriminação visual.(op cit.). 8.4 JOGOS DE ASSOCIAÇÃO Sendo a linguagem um sistema de símbolos, ela deve ser sempre associada à experiência direta. O vocabulário e os conceitos devem ser introduzidos sempre através de atividades concretas, desenvolvidas pelas crianças, para que tenham real significado. Estimula o pensamento, associação de idéias, linguagem verbal, criatividade, atenção e concentração e percepção visual. (CUNHA, 1997, p. 50). 8.5 ESPORTES Todo tipo de esportes são bons para hiperativos, principalmente os coletivos, que não só ajudam a gastar a energia, como ensinam a obedecer regras. Não há necessidade de cortar atividades da agenda, pois eles funcionam bem e com bastante adrenalina (NEVES, 2005, p. 53). 36 8.6 BRINQUEDOS E LIVROS Brinquedos recomendados são os que prendam a atenção e exercícios que ajudam na coordenação motora ajudam na memória e na hiperatividade. O tempo em frente ao videogame deve ser limitado. Como é excitante, os hiperativos podem passar mais tempo jogando e não se dedicando às outras atividades. Para incentivar a leitura, os pais e professores devem preferir livros com letras grandes, frases curtas, muitas figuras, histórias curtas e interessantes. (CUNHA 1997). CONCLUSÃO Procurando entender os caminhos que me levasse a melhor compreensão do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e como agir com estas crianças em sala de aula ,decidi escrever sobre o assunto. A cada nova fonte pesquisada via com minha curiosidade aguçada, tamanha era a gama de informações novas que adquiri e registrei passo a passo, de como proceder e agir com uma criança portadora de TDAH. Constatei que o TDAH é um distúrbio e como tal deve ser tratado, sendo que não tem cura e que o tratamento apenas melhora os sintomas e que deve ser administrado de acordo com o comprometimento, ministra-se medicamentos para diminuir a hiperatividade motora e melhorar a atenção. Em alguns casos mais leves, o auxilio de uma terapia comportamental com o portador do distúrbio e com a família já ameniza os sintomas do TDAH; em casos mais graves, exige-se uma ação multidisciplinar: pais, professores, médicos, terapeutas, e medicamentos. O papel do professor é fundamental para auxiliar no diagnóstico do TDAH, visto que a hiperatividade só fica evidente no período escolar, quando é preciso aumentar o nível de concentração para aprender. Deste modo, é importantíssimo o professor estar bem orientado e ter conhecimentos sobre o TDAH para identificar uma criança sem limites de uma hiperativa. O portador do TDAH precisa ter na escola um acompanhamento especial, já que não consegue conter seus instintos, tumultuando a sala de aula, a vida dos colegas e dos seus professores. É preciso aplicar uma ação didática- pedagógica direcionada para esta criança, visando estimular sua auto-estima, levando em conta a sua falta de concentração, e criando atividades lúdicas diversificadas para que não haja um comprometimento durante sua aprendizagem. Fica, portanto um alerta aos professores para que haja uma reflexão sobre a sua práxis pedagógica perante a criança portadora do transtorno de déficit de atenção /hiperatividade,pois como vimos é tão inteligente quanto às outras crianças,basta-nos saber entendê-las. O professor será o elo entre a família e o especialista, durante o tratamento, pois seu papel não é o de dar diagnóstico, mas sim de esclarecer aos pais que este 38 distúrbio se não for tratado, gera inúmeras complicações para seu convívio social, levando-o à depressão e até mesmo à busca de drogas, à insatisfação e à infelicidade, a um conflito interno por não atender as atividades dos dia a dia, e à rejeição gerada pelos demais companheiros da escola. Concluí que a hiperatividade não tem cura, mas precisa ser tratada e que nem todas as crianças que apresentam comportamentos não aceitáveis são hiperativos e sim precisam de limites para aprenderem a conviver em grupos sociais. Para aqueles que desejam continuar refletindo, pesquisando, trilhando enfim caminho para sua formação deixo uma reflexão, pois, nós educadores, costumamos abraçar a teoria que nos dá apoio e temos dificuldades de olhar para dentro de nós mesmos e para as crianças com as quais convivemos diariamente, não as crianças dos livros das teorias, mas aquelas de carne, osso e alma que vêm a nós, que nos escolheram para aprender alguma coisa e para ensinar-nos outras tantas lições se pudermos ouvi-las. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDA. Associação Brasileira do Déficit de Atenção – Como diagnosticar crianças e adolescentes. Disponível em: http://www.tdah.org.br. Acesso dia 18 ago. 2010. BARKLEY, R. A. Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Porto Alegre: Artmed, 2000. BARROS, J. M. Gramático. Jogo infantil e hiperatividade. Rio de Janeiro: Sprit, 2002. BENCZIK, Edyleine Belline Peroni. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: atualização diagnóstica e terapêutica. 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