REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 23 O ALUNO, A ESCOLA, O PROFESSOR: RELAÇÕES DO APRENDER OLIVEIRA-SILVA, Janaina1 Resumo: Neste artigo abordamos a relação entre três aspectos fundamentais na constituição escolar: o aluno, a escola e o professor. Questionamos como a relação entre as partes é importante para a efetividade do binômio ensino-aprendizado. Palavras-chave: Ensino; relações de aprendizado; ensino-aprendizado. Abstract: In this article discussing the relationship between three fundamentals aspects in the constitution school: the student, the school and the teacher. Discussing as the relationship between the parties is important to the effectiveness of teaching-learning binomial. Key-words: Teaching; relations of learning; teaching-learning. Considerações iniciais Consideramos que a educação escolar de hoje está não em crise, mas em fase de reestruturação. Para isso, pensamos ser importante questionar sobre os âmbitos que inferem nessa constituição. Será a partir da ligação estabelecida entre a escola, o aluno e o professor que se dará ou não o sucesso escolar e como as relações entre eles é passível de observação para uma melhor compreensão das questões de ensino. A relação professor-aluno Peças fundamentais, embora complexas, são as relações humanas na realização das interações dele como indivíduo. Desta forma, a análise da relação entre professor/aluno envolve circunstâncias próprias desse tipo de relacionamento, sem contudo, excluir as bases comuns aos demais tipos de relações. Interação que se caracteriza pela seleção de elementos inerentes ao processo de aprendizagem, no qual a organização e a sistematização didática servirão como base para facilitar o aprendizado dos alunos e exposição do conteúdo material pelo professor. Será realmente que um bom aprendizado se dará como responsável apenas do SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 24 entrelaçamento entre o conteúdo ‘transmitido’ e o aprendizado, ou mais, sobre o resultado desse processo de aprendizado? Evidentemente se nos pusermos sob esta perspectiva o que nos acarretará será a sensação de plena frustração, pois não se deve esperar que em uma sala todos os alunos saiam dali detentores da plenitude do conteúdo. Frustração que permeia constantemente a vida escolar. Por outro lado, isso não significa que por não serem todos os alunos que ‘entenderão’ a matéria que o professor deverá se eximir de suas responsabilidades, como, por exemplo, a de dignificar sua profissão, com empenho e não com mera lassitude. A relação professor-aluno é uma condição do processo de aprendizagem e não se pode desvinculá-la daquilo que a permeia: um programa, normas da instituição de ensino que, em dúvidas, influenciam nesse processo. E daí surge um conflito inerente a essa relação na escola brasileira (talvez mundial): é uma relação que se baseia no convívio de classes sociais, culturas, valores e objetivos diferentes. Quanto ao primeiro aspecto notado, podemos relacioná-lo ao fato de que a escola de hoje tem como clientela pessoas que pertencem a uma heterogênea coletividade de classes sociais. Sim, se pensarmos na escola de duas, três ou mais décadas atrás, veremos que seu público estaria mais associado à chamada classe média. Oras, se esta mudou, logo, o público da escola também mudou. Uma mudança que até este momento está calcada num período de transição, onde as aparências lhe são bastante nebulosas, e mesmo que se objetive entender e rearranjar e/ou reestruturar o ensino, não se consegue, pois essa mudança não está tão clara o quanto se imagina. Ao compararmos a escola de cunho particular e a pública, veremos que a primeira se deu conta que seu público mudou e já faz inserções em sua estruturação pertinentes a essa mudança. Já a escola pública, talvez por ser de maior porte, anda não consegue enxergar com a clareza necessária esse rol de mudanças. Não estamos querendo, tampouco sugerindo eu a segunda passe a administrar a Instituição do mesmo modo como a primeira, mas sugerimos que seus profissionais fixem o olhar numa nova perspectiva que se rompe desde as ultimas décadas do século XX e continua em transição neste século XXI. SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 25 Olhar este que será necessário para um maior envolvimento profissional e técnico, pois assim a educação passará a ser priorizada e valorizada com a devida consciência. Não há uma prescrição. Há a necessidade de um redirecionamento de postura profissional, de conduta. Acreditamos que a escola mudará – para melhor – e conseguirá atingir seu papel socializador, moralizante e didático na medida em que se propuser esse novo foco. Com isso, a relação professor-aluno, tão problematizada, poderá ser entendida como parte de um processo necessário e não apenas como um elemento típico da falência institucional. Tudo isso está diretamente ligada à relação professor-aluno. Por se tratar de uma relação humana, será, sempre ou quase, conflitante, mas, com vistas no que propomos, há a possibilidade de um acréscimo naquilo que a escola se justifica como instituição: ensinar. A escola, como um todo, passa por uma crise de sentido; os alunos não sabem porque vão a ela, a falta de significação do que é estudar, a evasão, a reprovação e a violência que existem nas mais diferentes formas acabam por transformar esta relação professor-aluno ainda mais conflitante e difícil de ser trabalhada. A Ritualização da Escola A perspectiva de escola como instituição é reforçada em trabalhos como os de AQUINO (2000a) e AQUINO (2000b). A estrutura do relacionamento da escola com a sociedade é apresentada de forma institucional e definida dentro de um modus operandi. Os elementos dessa relação institucional são: o agente (profissional da educação), a clientela (beneficiários diretos da ação institucional escolar), o mandante (aquele que sustenta a ação institucional) e o público (beneficiário indireto da ação escolar, que tem por papel avaliar os resultados desta). O modus operandi da relação entre agente e clientela nada mais é que a ritualização da instituição escolar. AQUINO (2000a) apresenta uma visão de ritualização escolar sob o ponto de vista de Michel Foucault que tem por hipótese uma “sociedade disciplinar”. O trecho a seguir descreve a idéia apresentada por Aquino (2000a, p. 147): As instituições disciplinares teriam-se constituído, segundo Foucault, consonantes a procedimentos de controle bastante minuciosos. Dentre SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 26 eles, destacamos aqueles voltados a racionalização do espaço, do tempo e dos corpos dos indivíduos sob sua tutela. É necessária uma reflexão aprimorada sobre as bases da ritualização escolar. Apesar da escola trabalhar com o conhecimento e possuir como resultado de seu trabalho a formação (iniciação) de pessoas sua estrutura de organização é muito similar a de outras instituições sociais. A ritualização ou ainda, a sistematização de uma rotina de estrutura escolar é necessária e fundamental para a construção e consolidação da instituição. Esta ritualização é tão fundamental que sua existência pode, até certo ponto, colocar em risco sua eficiência e potência. Aquino (2000b, p. 60) comenta essa situação no trecho: Disso decorre, a nosso ver, que toda relação institucionalizada, que se queira fecunda, não pode prescindir de algumas condições fundamentais quanto a seu funcionamento, as quais implicam desde o estabelecimento dos parâmetros de conduta para ambas as partes até principalmente, a explicitação contínua dos objetivos, limites e horizontes da relação, sob pena de se confundi-la com outros tipos de enquadres institucionais e, portanto, colocar se em risco sua potência ou eficácia. A possibilidade de mudança e transformação do cotidiano escolar não deve ser negada. Ela é fundamental para a adaptação da instituição para atender os anseios de seu público, porém, não pode perder de vista seus objetivos. Um aspecto particular desse cotidiano da escola que envolve diretamente o agente e a clientela é o estabelecimento de um contrato pedagógico. O contrato pedagógico nada mais é que o reforço do ritual institucional acrescido de características próprias do trabalho e perfil de cada agente (professor). AQUINO (2002, p. 97) apresenta de forma clara os elementos do contrato pedagógico: (...). É importante lembrar, de largada, que a proposta de contrato se diferencia bastante da idéia de regimento escolar. Não é possível conceber a idéia de contrato como se tratasse de uma espécie de regimento interno das salas de aula. Não é. O contrato não opera numa dimensão proibitiva. Ao contrário. Suas cláusulas dão a conhecer o que é necessário para que possamos levar a cabo a tarefa que lá nos reuniu. (...). No caso da idéia de contrato pedagógico, a proposta é a de organizar os trabalhos em sala de aula com base da explicitação contínua das regras constitutivas do campo de conhecimento em jogo. SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 27 Trata-se daquele conjunto de regras que dão a conhecer, para ambas as partes, quais as exigências operacionais para as aulas de determinado curso ou disciplina. Trocando em miúdos, são as condições de funcionamento da relação professor-aluno. A relação aluno-professor é estabelecida de forma individual e única. É importante construir meios neste relacionamento através dos quais seja possível a solução de impasses, ou seja, a renegociação do contrato em casos especiais. O contrato por si só não garante o reconhecimento e respeito à autoridade do professor. É necessário que o agente restabeleça seu papel de forma a reconstruir sua relação diariamente, ou seja, se faz necessário assinalar que o reconhecimento de agente com autoridade não é algo natural e/ou automático, e isso se fará presente nas atitudes do agente. Em seu trabalho, Dubet (1997) ressalta um outro ponto que também condiz com a realidade do estudante brasileiro. O autor constatou que era preciso ocupar constantemente os alunos, pois, caso isto não ocorresse, eles logo começavam a falar em sala de aula. Mas será mesmo isso um método de maior valia para a Escola brasileira? É fato que quando os alunos se vêem cobertos de atividades, muitos sequer iniciam seu desenvolvimento, optando pela desistência imediata de algo que lhe causaria um sentimento próximo ao de se enfadonhar. Por outro lado, se estes mesmos alunos forem instigados com questionamentos desafiadores sobre o conteúdo, haverá maior produtividade e o aproveitamento será mais positivo. Mas e como instigá-los sem tornar a prática docente lúdica por extremo? Acreditamos que a resposta para esta pergunta esteja em cada professor que pretender investir-se nesse horizonte. Queremos dizer com isso que não existem formulas prontas e redondas cabíveis em cada sala de aula brasileira. Há, isso sim, indícios que levam a um maior ou menor grau de aproveitamento, visto que, como todos sabemos, cada aula é diferente da outra, a cada turma, a cada dia. Considerações finais Notamos que muitos aspectos podem e devem ser questionados em relação à prática de ensino – que aqui foi entendida como um conjunto de elementos e da relação entre eles. Priorizamos, neste trabalho, um foco sobre as relações que permeiam e, muitas vezes, constituem dramas. SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950 REVISTA MULTIDISCIPLINAR DA UNIESP 28 Nosso objetivo não era de apontar soluções para os descompassos, mas propor um questionamento acerca de um processo: o de aprendizado, sob o viés das relações humanas professor-aluno e dessas relações com a Instituição escola. Acreditamos ter levantado alguns pontos sobre esse processo e com isso refletido um pouco sobre os mais diversos papéis inerentes ao ensino. Reflexão esta que saiu do ambiente puramente escolar e saltou para o lado de fora dos muros das escolas, incluindo nela uma aproximação com a própria sociedade, visto que se é ela que concede ou não uma renovação, é a partir dela, e com ela, que devemos refletir. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, J. G. “O mal-estar da escola contemporânea”. In:_____. Do cotidiano escolar. SP: Summus, 2000, p.135-56. ______. “Autoridade docente, autonomia discente”. In:______. Do cotidiano escolar. SP: Summus, 2000, p.57-87. ______“A desritualização radical da sala de aula”. In:______. Diálogo com educadores. SP: Moderna, 2002, p.96-110. DUBET, F. “Quando o sociólogo quer saber o que é ser professor”. Revista Brasileira de Educação, n.5-6, 1997, p.222-31. 1 Mestre em Letras pela USP e membro do Grupo de Pesquisa Produção Escrita e Psicanálise – GEPPEP (http://paje.fe.usp.br/~geppep/index.htm). E-mail para contato: [email protected]. SABER ACADÊMICO - n º 06 - Dez. 2008/ ISSN 1980-5950