UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS MESTRADO EM EDUCAÇÃO SABERES DOS PROFESSORES DE FILOSOFIA DE ENSINO MÉDIO: ENTRE A FORMAÇÃO E A PRÁTICA PRISCYLLA KRONE MARTINS CORATTI SARSANO DE GODÓI SANTOS/SP 2013 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS MESTRADO EM EDUCAÇÃO SABERES DOS PROFESSORES DE FILOSOFIA DE ENSINO MÉDIO: ENTRE A FORMAÇÃO E A PRÁTICA PRISCYLLA KRONE MARTINS CORATTI SARSANO DE GODÓI Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação Stricto Sensu em Educação, da Universidade Católica de Santos, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação sob orientação da Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa Abdalla SANTOS/SP 2013 Os professores de filosofia ocupam o difícil lugar de transmissão, da provocação e do convite. Transmitem saberes, mas provocando o pensamento e convidando a pensar. Difundem certos conhecimentos, mas promovem sua apropriação pessoal. Tentam mostrar, em definitivo, que sobre toda a repetição é imprescindível que o filósofo sobrevoe o terreno dos saberes aceitos fixando o olhar agudo em cada um de eles, para interrogá-los e interrogar-se. Nisso radica sua atitude. Cerletti (2009, p.39) Dados Internacionais de Catalogação Sistema de Bibliotecas da Universidade Católica de Santos SibiU ______________________________________________________________________ G588s GODÓI, Priscylla Krone M. C. S. de. Saberes dos professores de Filosofia de Ensino Médio: entre a formação e prática / Priscylla Krone M. C. S. de Godói; Orientadora Maria de Fátima Barbosa Abdalla - Santos: [s.n.], 2013. 172 f.; 30 cm. (Dissertação de Mestrado) - Universidade Católica de Santos, Programa de Mestrado em Educação. 1.Ensino de Filosofia. 2.Professor de Filosofia. 3.Saberes. 4.Ensino Médio. I. Abdalla, Maria de Fátima Barbosa (Orientadora). II. Universidade Católica de Santos. III. Título. CDU 37(043.3) ______________________________________________________________________ COMISSÃO JULGADORA _______________________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa Abdalla Membro Nato - UNISANTOS _______________________________________________________ Profa. Dra. Ingrid Hötte Ambrogi Membro Titular – Mackenzie _______________________________________________________ Profa. Dra. Maria Angélica Rodrigues Martins Membro Titular - UNISANTOS AGRADECIMENTOS As palavras permeadas do sentimento de gratidão enaltecem aos que estiveram junto em cada momento importante do processo desse trabalho: Àqueles que me são queridos, que me ajudam a constituir-me enquanto ser humano, parente, amiga, professora e aluna; Aos gestores, diretores e coordenadores; professores e funcionários das instituições de ensino que sou docente; Àqueles que trilham as profundezas do conhecimento e almejam descobrir-se amantes da sabedoria; Àqueles que lutam diariamente e hoje constroem edificações para uma educação ainda para o futuro; Aos professores de Filosofia, meus sujeitos de pesquisa, que me permitiram conhecêlos, enquanto profissionais; Aos membros da banca examinadora - Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa Abdalla, Profa. Dra. Ingrid Hötte Ambrogi e Profa. Dra. Maria Angélica Rodrigues Martins - pela acolhida e contribuições, que serão vitais para o meu crescimento. Àqueles que nominalmente e, em qualquer tempo verbal e significância, se fazem presentes nesse trabalho: À Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa Abdalla, minha orientadora, escolhida pelo seu amor e dedicação incondicionais ao ser e estar professora e ao sentido e significado, que realmente lhe confere como orientadora; À Profa. Me. Márcia Heloísa Barboza Sampaio, ao Prof. Me. Fábio Cardoso Maimone e à Profa Dra. Daniela Taibo Ribeiro Xisto, efetivos responsáveis por essa caminhada. GODÓI, Priscylla Krone M. C. S. de. Saberes dos professores de Filosofia de Ensino Médio: entre a formação e a prática. (Dissertação) Mestrado em Educação. Universidade Católica de Santos, 2013. RESUMO Este trabalho tem como objetivo geral compreender quais saberes docentes estão presentes na percepção dos professores de Filosofia de Ensino Médio, de acordo com as necessidades de formação e a prática de seu ensino. Fundamentando-se nas ideias filosóficas desenvolvidas no contexto histórico educacional brasileiro, referendadas por Cartolano (1985), Alves (2002, 2009a, 2009b), Horn (2009), Gonçalves (2011) e Palma Filho (2011), assim como na análise de documentos oficiais (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006; SÃO PAULO, 2008, 2011), este estudo discute a presença curricular do ensino de Filosofia na Proposta e no Currículo do Estado de São Paulo. Também, baseia-se em referenciais teóricos como Lorieri (2002), Aspis (2004), Saviani (2004), Ghedin (2008), Cerletti (2009), Severino (2011) e Gallo (2012), no que diz respeito ao ensino e ao professor de Filosofia; além daqueles que tratam da formação de professores, dos saberes e práticas docentes, tais como Cunha (1997), Abdalla (2006), Rios (2010a, 2010b), Tardif (2012) e, em especial, Gimeno Sacristán (1995), ao abordar o sistema de práticas aninhadas. A pesquisa adota uma abordagem metodológica de caráter qualitativo, utilizando-se de um questionário aplicado a vinte e cinco professores de Filosofia da rede pública e privada do Estado de São Paulo. Os dados coletados foram analisados, também, por meio da técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 2011), e redimensionados em seis eixos temáticos, abrangendo: a trajetória de formação; o conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor; a percepção da docência; a percepção da realidade docente; as ações de sua prática; e a formação continuada. Os resultados indicam: 1º saberes relacionados à formação profissional (para os que não possuem graduação específica em Filosofia); saberes disciplinares, que relacionam a teoria com a prática, sendo determinantes para a atuação pedagógica; saberes curriculares, que revelam a importância de ações intra e extraclasses; e saberes experienciais, que fundamentam e acompanham o processo de formação, experiência e atuação docente; 2º saberes impressos na formação e na prática educativa, que constituem uma identidade profissional para esse professor; e 3º a necessidade de refletir sobre a superação das dificuldades quanto à estrutura das escolas, às condições de trabalho, aos investimentos da formação continuada; e ao uso e aprimoramento das novas tecnologias. Palavras-Chave: Ensino de Filosofia – Professor de Filosofia – Saberes – Ensino Médio GODÓI, Priscylla Krone M. C. S. de. Knowledge of Philosophy teachers of High School: between training and practice. (Dissertation) Education Master´s Degree. Santos Catholic University, 2013. ABSTRACT The main aim of this work is to understand the teaching expertise of Brazilian High School Philosophy teachers, with regard to training requirements and teaching practices. Based on the philosophical ideas developed in the Brazilian historical educational context by Cartolano (1985), Alves (2002, 2009a, 2009b), Horn (2009), Gonçalves (2011) and Palma Filho (2011), and an analysis of official documents (BRASIL, 1998, 1999, 2002 and 2006; SÃO PAULO, 2008, 2011), this work discuss the current status of Philosophy as a subject in official documents and in the curriculum of São Paulo schools. It also has its foundations in theoretical references such as Lorieri (2002), Aspis (2004), Saviani (2004), Ghedin (2008), Cerletti (2009), Severino (2011) and Gallo (2012), in respect to teaching and the Philosophy teacher, in addition to those authors who deal with teacher training, knowledge and practice, such as Cunha (1997), Abdalla (2006), Rios (2010a, 2010b), Tardif (2012) and, above all, Gimeno Sacristán (1995), regarding the established practice system. The research follows a methodological approach of a qualitative nature, using a questionnaire to interview 25 Philosophy teachers from private and public schools in São Paulo State. All collected data was analyzed using the content analysis technique (BARDIN, 2011), and regrouped into six thematic axes: academic training, knowledge of the documents which form the basis of the teacher’s work; the perception of teaching, the perception of the teaching reality; techniques and practice and continued professional training. The results show: 1st, knowledge related to professional training (for those who do not have a specific graduation in Philosophy); subject expertise, which relates theory and practice and is the fundamental basis for pedagogical action, curriculum knowledge which reveals the importance of actions inside and outside the classroom; and experiential knowledge, which forms the basis of and accompanies the process of teacher training, experience and performance; 2nd, knowledge acquired during training and educational practice, which constitutes a professional identity for this teacher; and 3rd, the need to reflect on how to overcome difficulties regarding school structure, work conditions, investment in continued training and the use and improvement of new technology. Keywords: Teaching Philosophy - Philosophy teacher – Knowledge - Expertise – Brazilian High School LISTA DE SIGLAS CEB/CNE – Conselho Educação Básica / Conselho Nacional de Educação CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas CNE/CES – Conselho Nacional de Educação / Conselho de Ensino Superior DCNEM – Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio DSND – Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional EMC – Educação Moral e Cívica EPB – Estudo dos problemas brasileiros OCEM – Orientações Curriculares Nacionais do Ensino Médio OSPB – Organização Social Política e Brasileira PCNEM – Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio PCN+ – Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio Mais PPP – Projeto Político Pedagógico SEE/SP – Secretaria de Educação do Estado de São Paulo USAID – Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Pesquisas selecionadas sobre o “Ensino de Filosofia no Ensino Médio”....12 Quadro 2 – Competências e habilidades de Filosofia....................................................45 Quadro 3 – Eixos, temas e subtemas.............................................................................47 Quadro 4 – Caracterização da faixa etária e de gênero dos sujeitos de pesquisa........75 Quadro 5 – Características quanto à formação dos sujeitos da pesquisa.....................76 Quadro 6 – Características quanto ao tempo de docência dos sujeitos da pesquisa, ao nível de ensino e ao tipo de instituição......................................................................78 Quadro 7 – Características atribuídas pelos sujeitos, que compõem um professor de Filosofia..........................................................................................................................97 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Sistema de Práticas Educativas Aninhadas .................................................66 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 10 CAPÍTULO 1 Breve histórico do componente curricular Filosofia ....................................................... 20 1.1 O ensino no período da colonização das terras brasileiras ............................... 21 1.2 As ideias positivistas ......................................................................................... 27 1.3 A Filosofia no século XX .................................................................................... 29 1.4 Os caminhos que levaram à obrigatoriedade curricular .................................... 40 CAPÍTULO 2 O professor de Filosofia na prática educativa ............................................................... 52 2.1 Sobre a Filosofia e o seu ensino ....................................................................... 53 2.2 O professor de Filosofia .................................................................................... 56 2.3 Os saberes docentes......................................................................................... 60 2.4 Os saberes na prática educativa ....................................................................... 63 CAPÍTULO 3 Os caminhos da pesquisa ............................................................................................. 68 3.1 A natureza da pesquisa ..................................................................................... 69 3.2 O campo e os sujeitos ....................................................................................... 74 3.3 As etapas e os instrumentos utilizados ............................................................. 78 CAPÍTULO 4 Os saberes docentes dos professores de Filosofia e suas práticas aninhadas.............83 4.1 Sobre os conhecimentos dos professores quanto aos documentos legais que amparam seu trabalho docente ......................................................... 84 4.2 Percepções da docência .................................................................................. 87 4.3 Sobre a percepção de sua realidade docente .................................................. 90 4.4 Sobre as ações de sua prática ......................................................................... 94 4.5 Sobre a formação continuada ......................................................................... 100 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 106 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 111 APÊNDICES................................................................................................................ 120 Apêndice 1 - Questionário............................................................................................121 Apêndice 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.........................................126 Apêndice 3 - Relação dos quadros...............................................................................127 Apêndice 4 - Quadro elaborado quanto à identificação dos sujeitos de pesquisa.......130 Apêndice 5 - Quadros elaborados a partir dos eixos temáticos...................................131 Eixo temático: Conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor - Quadros 8 a 10..........................................................................................134 Eixo temático: Percepção da docência - Quadros 11 e 12...........................................139 Eixo temático: Percepção da sua realidade docente - Quadros 13 a 15......................144 Eixo temático: Ações de sua prática - Quadros 16 a 20...............................................152 Eixo temático: Formação Continuada - Quadros 21 e 22.............................................166 ANEXO ....................................................................................................................... 171 Anexo nº 1 – Lei nº 11.684, de 02/07/2008..................................................................172 10 INTRODUÇÃO Ao buscar recordações antigas e que pudessem justificar minha trajetória, encontrei a lembrança de uma época em que colocava minhas bonecas sentadas no chão, uma ao lado da outra e virava para escrever na parede branca, com giz branco, no que, no imaginário infantil, seria minha lousa. Após algumas décadas, vislumbro que talvez, nesse momento, nasceram meus primeiros alunos e, quiçá, minha verdadeira vocação. Minha formação profissional estava se iniciando e durante a realização do curso de Magistério li Uma professora muito maluquinha, do Ziraldo e, nessa viagem literária, percebi que gostaria de ser uma professora diferente, daquelas que surpreendem a cada aula. Talvez, até estivesse sendo utópica, mas até o momento, quando me questionam o que eu seria se não fosse professora, respondo que seria infeliz! Das brincadeiras infantis ao exercício efetivo docente realizei o Magistério, graduação em Pedagogia e Filosofia, lato sensu em Fundamentos de uma Educação para o Pensar e diversos cursos com especialização em Filosofia para crianças e jovens. Iniciei minha vocação, assim acredito, como professora polivalente, de Ensino Fundamental I. Ao longo do tempo, concomitantemente e em períodos diferentes, assumi as duas funções: ora professora primária, ora professora de Filosofia. Entretanto, as aulas de Filosofia se tornavam mais interessantes e como em um dilema, logo assumi ser professora específica de Filosofia. A relação entre teoria e a prática no ensino de Filosofia sempre se mostrou como uma possibilidade de reflexão e ação na minha prática docente e nos estudos específicos que realizei. Dessa forma, entendemos que a proximidade e o estudo da teoria e da prática se relacionam com um tear em que as primeiras linhas, as linhas mestras, são colocadas lado a lado, sustentando as demais linhas que serão colocadas. Entretanto, mesmo com a presença de outras linhas, elas não se alteram. Oportunamente, meu ingresso, no Ensino Superior, ocorreu para ministrar a disciplina de Prática de Ensino para a formação de professores de Filosofia e, em especial, para o Ensino Médio. 11 Nesse aspecto, minha preocupação com o ensino de Filosofia se tornou maior, pois passei a ser formadora de professores e necessitava promover uma real aprendizagem a fim de torná-los habilitados para o exercício da docência. E talvez, nesse momento, tenha se fortificada a questão-problema que se desenvolve nessa pesquisa. Doravante, o ingresso no Mestrado em Educação possibilitou o contato mais próximo com a pesquisa e, principalmente, com situações sobre o estudo no Ensino Superior. Percebemos que, da mesma forma que esse estudo parte da relevância pessoal da autora, visto que provém de um momento de desenvolvimento da experiência docente já no Ensino Superior, desponta, também, para a investigação sobre o professor de Filosofia do Ensino Médio. A presente pesquisa de cunho educacional veio a assumir o objetivo de compreender quais saberes docentes estão presentes na percepção dos professores de Filosofia, no Ensino Médio, do Estado de São Paulo, de acordo com as necessidades de formação e a prática de seu ensino. A escolha da temática a ser desenvolvida nesse trabalho se fortalece com a sanção da Lei nº 11.684, de 02 de junho de 2008 (BRASIL, 2008), que traz a obrigatoriedade do ensino de Filosofia no Ensino Médio nos currículos brasileiros e nos estimula a realizar diversos questionamentos e reflexões sobre a prática do seu ensino. Diante da realidade oficial, é posto em análise questionamentos sobre a demanda de professores devidamente qualificados para a docência. Acreditase que os saberes que delimitam o ensino de Filosofia necessitam ser investigados, passando pela formação, a prática educativa e a profissionalização de seus docentes. Entende-se que o estudo desses saberes e as percepções dos professores sobre suas próprias práticas auxiliarão para responder à questão-problema: Quais saberes são necessários na formação e na prática dos professores de Filosofia do Ensino Médio? A pesquisa sobre o estado da arte possibilitou o aprofundamento dos temas mais estudados sobre o “ensino de Filosofia”. No geral, obtivemos sobre esse termo 2185 pesquisas, divididas entre 514 teses, 1601 dissertações e o restante: 70 profissionalizantes. Para uma pesquisa mais específica, 12 rastreamos os dados sobre o “Ensino de Filosofia no Ensino Médio” e chegamos a 364 trabalhos, que se estabeleciam em 62 teses, 275 dissertações e 27 profissionalizantes. Foi realizado um recorte das pesquisas mais significativas para a composição deste trabalho. O quadro apresentado, a seguir, revela os estudos que mais se assemelham à temática adotada nesta pesquisa. Quadro 1 – Pesquisas selecionadas sobre o “Ensino de Filosofia no Ensino Médio1” Ano Autor Título 1992 Sonia Maria Ribeiro de Por que Filosofia? Uma abordagem Souza histórico-didática do ensino de Filosofia no 2º grau 2002 Edna Maria Magalhães O Ensino de Filosofia na educação do Nascimento. de nível médio em Teresina (PI): relação entre formação inicial e prática pedagógica do (a) professor (a) de Filosofia 2003 Pedro Ergnaldo Os professores de Filosofia e os Gontijo sentidos de suas práticas docentes no ensino médio regular das escolas públicas do Distrito Federal. 2003 Raquel dos Santos O Ensino de Filosofia no Ensino Médio: uma abordagem históricodocumental 2003 Rejane Justen O professor de Filosofia no Ensino Ramborger Médio: uma reflexão sobre sua formação inicial. 2004 Evandro Luiz Ghedin A filosofia como práxis: pressupostos epistemológicos e implicações metodológicas para seu ensino na Escola Média. 2004 Guilherme Aparecido O ensino de Filosofia no Ensino Penna Médio: do prescrito ao chão da escola 2005 Paulo Ricardo Tavares Saberes do professor de Filosofia da Silveira. no nível médio 1 Nível de Stricto Sensu Doutorado Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Doutorado Mestrado Mestrado As pesquisas acima selecionadas apresentam proximidade com o objeto de pesquisa aqui tratado. 13 Ano Autor Título 2005 Wilson Rufino da Silva A prática de ensino na formação docente: conversando sobre os/as discentes-professores/as. 2007 Isaltino Dias A Filosofia no Ensino Médio: sentidos do exercício da docência. 2007 Márcia Eliane Araujo Um estudo sobre as necessidades Londero formativas dos professores de Filosofia na rede estadual de Ensino Médio, da cidade de Santa Maria 2011 Maria Fernanda Alves O ensino de filosofia no ensino Garcia Montero médio brasileiro: antecedentes e perspectivas Nível de Stricto Sensu Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Fonte: Base de Dados Capes. Disponível em: <www.capes.gov.br>. Acesso em: janeiro de 2013. Dentre as pesquisas elencadas, destacamos a relevância nos trabalhos apresentados por Souza (1992), Santos (2003) e Montero (2011), que evidenciam uma consulta aos documentos oficiais, marcando, assim, um estudo histórico-documental, que se coaduna no conhecimento necessário do processo histórico para entendimento do contexto atual da disciplina de Filosofia. Tal conhecimento nos permite entender questões curriculares e metodológicas, como também, os processos políticos e ideológicos presentes nos discursos desses documentos. Diante da perspectiva do real conhecimento dos professores e gestores sobre as exigências legais e as orientações pedagógicas, o estudo de caso do trabalho de Penna (2004) revelou um distanciamento dos sujeitos entre o que é prescrito e a efetiva práxis de seus sujeitos. Nesses termos, é nítido que sua pesquisa nos auxilia a inferir dados que se aproximam e confirmam esse distanciamento dos próprios sujeitos de pesquisa. A mesma metodologia é empregada por Nascimento (2002), que, por meio de um estudo de caso, reforça nosso interesse e aderência na mediação entre a formação e a prática docente, elevando os temas de saberes, formação e prática docente. Nessa mesma linha, encontramos Londero (2007), que pesquisou as modalidades de formação continuada, entendendo, assim, as necessidades formativas de seus sujeitos, vinculando-se ao que estamos investigando. 14 Os referenciais teóricos, em que nos apoiamos, na análise de conteúdo (BARDIN, 2011), bem como nos instrumentos de coleta de dados (pesquisa documental e questionários também foram empreendidos nos trabalhos de Silva (2005), que investigava sobre a formação docente, com um estudo voltado à prática de ensino. Na tese de Ghedin (2004), observamos uma didática para o ensino de Filosofia com orientações metodológicas, o que, mais adiante, projetou-se na publicação direcionada ao ensino de Filosofia para o Ensino Médio (GHEDIN, 2008) e referenciada em nossa pesquisa. A investigação dos sentidos de ensino está em Gontijo (2003), com o estudo dos diversos itens da prática pedagógica dos professores de Filosofia. Em contrapartida, Dias (2007) estabelece os sentidos que os professores atribuem à sua profissão. É, nesse aspecto, que acreditamos que há uma relação com nossa pesquisa, uma vez que os professores são nossos sujeitos de pesquisa. Entendemos que a investigação dos sentidos inicia o estudo que dá voz aos sujeitos pesquisados e que, durante o desenvolvimento de suas respostas, já estão analisando a própria prática docente e suas necessidades formativas. Nesse aspecto, o trabalho de Ramborger (2003) assume uma relação direta com nossa pesquisa, pois nos vincula à nossa investigação, no que se refere aos resultados preliminares a serem concluídos, em que devemos repensar nas questões pedagógicas e no desenvolvimento dos saberes que constituem o profissional professor de Filosofia. Objetivando conhecer os saberes dos professores de Filosofia, encontramos, também, a dissertação de Silveira (2005), que identifica os saberes construídos na ação pedagógica do professor, mostrando que a prática docente reforça que não existe uma separação entre o ensinar a filosofia e o filosofar. Entendendo que essa pesquisa se realizou com outros sujeitos, abordando a conceituação sobre os saberes docentes em Gauthier (1998) e em uma realidade estadual diferenciada, nosso objetivo visa investigar, dentro da realidade educacional do Estado de São Paulo, como os professores também percebem a relação da sua formação com a sua prática. 15 Podemos agregar a essas pesquisas, a dissertação de Mazullo (2012) que nos foi apresentada, no exame de qualificação, dada a relação com a questão curricular do componente de ensino de Filosofia, presente em nosso trabalho. Autores como: Cartolano (1985), Gimeno Sacristán (1998), Alves (2002, 2009a, 2009b), Horn (2009), Gonçalves (2011) e Palma Filho (2011) tratam, nessa pesquisa, do histórico do componente curricular de Filosofia. No que concerne às questões referentes ao ensino e especificamente ao professor de Filosofia, atemo-nos a Aspis (2004), Saviani (2004), Cerletti (2009) Severino (2011) e Gallo (2012). Sobre as práticas e necessidades dos saberes da docência e, consequentemente, da profissionalização dos professores nos apoiamos em Cunha (1997), Tardif (2012), Abdalla (2006) e Rios (2010a, 2010b). Com base nessas referências, procuramos desenvolver o objetivo geral de nossa pesquisa: compreender quais saberes docentes estão presentes na percepção dos professores de Filosofia, de Ensino Médio, de acordo com as necessidades de formação e a prática de seu ensino. No estudo realizado por Cunha (1997) sobre as práticas do bom professor, é descrita a pesquisa realizada, que apontou diversas habilidades necessárias para um professor. Assim, Maria Isabel Cunha concluiu que nas variáveis foram encontradas algumas habilidades desse profissional, que se sobrepõem e se tornam diferenciais no processo de ensino aprendizagem, bem como na execução de sua prática. As habilidades de um bom professor são dimensionadas na pesquisa de Cunha (1997) pela organização do contexto da aula, incentivo à participação do aluno, trato da matéria de ensino, variação de estímulos e uso da linguagem. Entretanto, tais habilidades remetem aos saberes experienciais, àqueles apreendidos na prática, que, de acordo com Tardif (2012, p.39), são incorporados em nossas experiências, enquanto docentes, na relação do saber-fazer e do saber-ser. O autor considera a prática do professor pertencente ao saber docente como um saber plural, visto que se integra a partir dos processos de formação 16 profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais diferenciados dos professores. Diante dessas diversidades visualizamos a pesquisa na busca da significação que os professores de Filosofia, sujeitos dessa pesquisa, tonalizarão para sua prática. Entender que necessitamos, enquanto professores, de uma gama de saberes para a execução do processo de ensino. De certa forma, o que fica evidente é que, acima da necessidade dos saberes relativos à formação profissional, necessitaremos verificar a relação que os professores estabelecem com esses saberes, pois, de acordo com Tardif (2012, p. 43-44), “nenhum saber é por si mesmo formador e, além disso, saber alguma coisa não é mais suficiente, é preciso também saber ensinar.” Juntamente com Tardif (2012), somos levados a inferir que o saber docente pode ser caracterizado como heterogêneo, pois provém da natureza do saber e da situação de seu corpo docente, dos seus saberes experienciais, que outrora são formados e construídos na sua própria experiência e prática, criando, assim, uma nova profissionalidade, em que é preciso ocorrer uma reforma no ensino dos formadores de professores. Nesse aspecto, visualizamos a escola enquanto contexto de profissionalização docente, de acordo com Abdalla (2006), que levanta pontos, que direcionam o trabalho educativo, as formas de como se faz a realidade e as perspectivas de enfrentar as próprias necessidades, contribuindo para as ações do professor, a aprendizagem do aluno e o aproveitamento do espaço escolar. A escola, segundo a autora (2006), passa a se estabelecer enquanto locus da produção docente onde professores aprendem e apreendem a sua profissão. Ocorre, assim, uma projeção de desafios em que a escola também aprende com seus professores, lidando com questões em torno da autonomia, das necessidades e das perspectivas docentes. Podemos perceber que, quando isso ocorre, temos professores que se comprometem na execução do projeto pedagógico e revelam esse comprometimento em suas práticas e ações docentes. A escola estará realmente para o professor como um espaço de “ser e estar na sua profissão” 17 (ABDALLA, 2006) e, para o aluno, como um ambiente de desenvolvimento cognitivo e social. É, nesse momento, que a pesquisa possui uma relação proximal ao que se refere Abdalla (2006), visto que necessitamos dar sentido àquilo que constará nas respostas dos sujeitos de pesquisa e, principalmente, relacionado à prática pedagógica destes sujeitos, que se estabelece, também, mediante ao projeto político pedagógico da escola em que os mesmos estão inseridos. Sendo estabelecida essa relação entre o saber-ser e o saber-fazer, que é advinda das necessidades que provêm da formação docente e de sua prática, estabelecemos, em nossa pesquisa, uma investigação balizada em quatro momentos e capítulos devidamente estruturados. Iniciamos a presente pesquisa com o primeiro capítulo, intitulado como Breve histórico do componente curricular Filosofia, que teve como objetivo conhecer a presença curricular do ensino e das ideias filosóficas no cenário histórico educacional brasileiro e nos documentos oficiais indicados para a Filosofia no Ensino Médio. Essa investigação histórica foi baseada na análise de referências bibliográficas, apoiadas em Cartolano (1985), Gimeno Sacristán (1998), Alves (2002, 2009a, 2009b), Horn (2009), Gonçalves (2011) e Palma Filho (2011). Necessário se fez dividi-lo em quatro subcapítulos, que tratavam desde o período da colonização das terras brasileiras, com a vinda e o ensino dogmático dos jesuítas; a influência das ideias positivistas que marcaram o componente curricular Filosofia nas escolas; as mudanças ocorridas no século XX e os caminhos que levaram à obrigatoriedade curricular, com a Lei nº 11. 684 (BRASIL, 2008), que altera o artigo 36, da Lei de Diretrizes e Bases/LDB 9394/96 (BRASIL, 1996). Foram realizados estudos de publicações oficiais sobre o Ensino Médio e, mais objetivamente, sobre Filosofia (BRASIL, 1998, 1999, 2002, 2006). Nesse aspecto, estendemos o estudo da Proposta Curricular e do Currículo do ensino de Filosofia, do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2008 e 2011) para verificação do que é vivenciado pelos nossos sujeitos de pesquisa, como também, se há referência com os documentos oficiais supracitados. 18 O segundo capítulo dessa dissertação, nomeado como O professor de Filosofia na prática educativa, contou com a análise da Filosofia e seu ensino mediada por Lorieri (2002), Saviani (2004), Severino (2011) e Gallo (2012). No item que se referia ao professor de Filosofia, recorremos a Aspis (2004), Ghedin (2008) e Cerletti (2009). E sobre os saberes docentes nos aliamos a Tardif (2012), e os saberes da prática educativa a Cunha (1997), Abdalla (2006) e Rios (2010a, 2010b), saberes esses alinhavados pelo sistema de práticas aninhadas de Gimeno Sacristán (1995). No terceiro capítulo nomeado como Os caminhos da pesquisa, discorremos sobre a investigação realizada por meio da aplicação de questionário com vinte e cinco (25) professores de Filosofia, no Ensino Médio, das redes privada e pública do Estado de São Paulo. O instrumento aplicado teve como objetivo descrever a natureza da pesquisa quanto à abordagem qualitativa mediada por Bogdan e Biklen (1994), como também, por Lüdke e André (1986). Mais adiante a caracterização e a contextualização da pesquisa, de acordo com suas etapas, os instrumentos utilizados como técnica de coleta, tratamento e análise de dados, mediante a abordagem da análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2011) e Franco (2008). O quarto e último capítulo foi intitulado como Os saberes docentes dos professores de Filosofia e suas práticas aninhadas. Consta da análise dos eixos temáticos abordados nos questionários que possibilitaram: uma análise mais restrita sobre a trajetória de formação de cada professor; a verificação se possuem conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor, delimitando o entendimento e aplicação sobre os documentos oficiais analisados no primeiro capítulo; a percepção da docência mediante uma análise da prática do professor referendada na formação recebida; a percepção da sua realidade docente, que integra a própria prática do professor, estabelecendo a construção de uma identidade conforme mencionado no segundo capítulo; as ações de sua prática onde os professores relatam e descrevem exemplos sobre suas experiências em sala de aula; e, por fim, sobre a formação continuada, explicitando como se dá e o que se torna fundamental e mais evidente para cada professor. 19 Esse capítulo forneceu subsídios por meio da aquisição de dados de pesquisa para compreendermos a relação que os professores de Filosofia estabelecem com os saberes de sua formação e prática docente, articulados ao sistema de práticas aninhadas. Cumprimos a análise com a leitura flutuante conforme transcrita por Bardin (2011) e Franco (2008), e finalizamos o capítulo com uma análise em relação aos saberes (TARDIF, 2012) e às práticas aninhadas (GIMENO SACRISTÁN, 1995). Nas Considerações Finais repensamos os conceitos abordados, intensificando com algumas propostas de ação anunciadas por meio de inferências dos discursos do nosso sujeito. 20 CAPÍTULO 1 BREVE HISTÓRICO DO COMPONENTE CURRICULAR FILOSOFIA (...) para se compreender o real significado da legislação não basta ater-se à letra da lei; é preciso captar o seu espírito. Não é suficiente analisar o texto; é preciso examinar o contexto. Não basta ler nas linhas; é necessário ler nas entrelinhas. (SAVIANI, 2004, p. 146) Revisitar o ensino de Filosofia ao longo de toda trajetória histórica brasileira implica em uma maior e profunda análise do espaço que a disciplina ocupou no currículo educacional. Seu estudo e entendimento, seja histórico e consequentemente curricular, legitima as ações empreendidas nos diversos segmentos de nossa sociedade, principalmente quando se enfatiza as práticas pedagógicas, passadas ou presentes, como também delimitará as possíveis ações necessárias e aguardadas para o futuro. Nesse aspecto, o presente capítulo trilha o percurso do ensino de Filosofia, a fim de conhecê-lo enquanto organização histórica curricular para entender como as ideias filosóficas foram desenvolvidas na formação ideológica e educacional do pensamento dominante do povo brasileiro. Sobre a questão do currículo, atemo-nos a Gimeno Sacristán (1998, p.17), que demonstra estar presente, no próprio currículo, uma expressão do equilíbrio dos interesses culturais, políticos, sociais e escolares do sistema educativo. Esses interesses se apresentam por meio das ações, que denotam os fins da educação. Entendendo, então, que tudo que é articulado e está demonstrado são os valores, crenças e conhecimentos desejados. Imbuídos de um reconhecimento histórico pela influência indígena, africana e pela dominação européia, vemos que havia, desde cedo, um controle exercido pela visão política e religiosa pela qual sempre estivemos dominados. Com o estudo desse contexto histórico, nossa pesquisa se inicia demonstrando a trajetória de como a Filosofia, enquanto disciplina, foi proposta 21 como opção e, sob esse ponto, poderemos inferir respostas sobre sua imanência no currículo educacional brasileiro. O que denota que sua presença e ausência nem sempre foi constante; o que efetivou, também, a dificuldade em se estabelecer um conceito sobre sua importância enquanto disciplina escolar. 1.1 O ensino no período da colonização das terras brasileiras A propagação do ensino jesuítico resgata toda a essência desde os idos da colonização brasileira, consagrando a experiência de um novo aporte populacional em terras brasileiras, assim como o pensamento em que a Filosofia muda e, até certo ponto, enriquece-se com a história. Tal feito se deve à prática filosófica da colônia cuja presença jesuíta foi marcante para a introdução da Filosofia no ensino, como também para a história da educação brasileira. Os jesuítas, pertencentes à Companhia de Jesus, fundada por Ignácio de Loyola, chegaram ao Brasil, em 1534, e traziam a responsabilidade de educar e catequizar os povos indígenas das colônias. Em sua criação, a Companhia de Jesus tinha um regime de trabalho organizado de acordo com os moldes militares. Segundo conta Cartolano (1985), mesmo com o intuito do fortalecimento da fé cristã, a presença dos jesuítas marcou um monopólio de pensamento que se afastava das ideias, de caráter científico, seguidas na Europa. Nesse aspecto, o que se processava, seja pelos experimentos e teorias2 de Francis Bacon (1561-1626), Galileu Galilei (1564-1642) e René Descartes (1596-1650), é negado por uma cultura teológica com traços de uma educação livresca. 2 O pensamento de Bacon (1561-1626) contribuía com ideias de observação e classificação da ciência, que visavam ao Empirismo, em que o conhecimento é obtido pela experiência sensível externa e vivenciada, ou seja, que não vem do Sagrado. Galileu possuía ideias contrárias ao que pregava a doutrina católica, pois acreditava no sistema heliocêntrico e no uso da matemática para comprovação de suas hipóteses científicas, contradizendo a visão tradicional do Universo. As ideias de Descartes, que vigoravam apresentadas pela dúvida metódica, confirmavam a existência e o saber verdadeiro da metafísica racionalista. 22 Essa presença se dava pelas questões que norteavam o status da metrópole, a qual desejava fortalecer a identidade católica por meio da conversão dos indígenas e dos colonos. A Filosofia estava, então, destinada à classe abastada, cujo objetivo ainda consistia na formação do homem formal, letrado, erudito e católico. Nesta perspectiva, Cartolano (1985, p. 20) destaca que: A filosofia foi no Brasil, desde os tempos coloniais, um luxo de alguns senhores ricos e ilustrados: do colono branco que aqui chegara e que constituíra a classe dominante na colônia, conservando os hábitos aristocráticos da classe dirigente da metrópole. Além do poder político e econômico, essa classe detinha os bens culturais “importados” e somente ela tinha acesso e direito à educação dirigida pelos jesuítas. Essa educação humanística era, juntamente com a posse da terra e de escravos, um sinal de classe. Como retratado, nas escolas jesuíticas, o ensino era voltado aos interesses da classe dominante da colônia e com cunho teológico. A cultura filosófica se esboçava nas características da escolástica aristotélica3, que negava a criticidade europeia crescente e se fortificava nas formas dogmáticas de pensamento confirmadas pela Igreja e o estudo dos autores e obras clássicas. Tal fato pode ser comprovado por meio da descrição do Ratio Studiorum (Plano de estudos) dos jesuítas. Sua programação se dividia entre o curso de humanidades, curso de Filosofia (escolástica) e, em seguida, curso de Teologia. A precisa descrição de Paim (1974) dos elementos que compunham o Ratio Studiorum, conforme trecho a seguir, já evidenciava o dogmatismo presente em seu plano de estudos, alicerçado nas ideias presentes que eram transmitidas. Assim, como deixa caracterizada a formação do professor de Filosofia, que antes de tudo era um religioso, que deveria possuir grande excelência no estudo teológico. É o que veremos a seguir: Consistia o curso superior em três anos de filosofia (Aristóteles) e quatro de Teologia (S. Tomás). A ideia básica defendida pela 3 Escolástica é o termo que se refere a uma doutrina da escola e, consequentemente, a doutrina filosófica aristotélica. É a tentativa de unificar os dogmas da fé cristã com as doutrinas filosóficas. Aristóteles (384-322 a.C) conferia Deus como um ato puro, o primeiro motor do mundo, motor imóvel, a Inteligência. Alves (2002, p. 10) explica que apesar de ser o principal autor estudado na Antiguidade, era feito com muito cuidado, para que seu estudo não comprometesse o dogma católico. 23 pedagogia da Companhia de Jesus era a de subordinação da filosofia à teologia. A primeira regra do professor de Filosofia estabelece que este deve proceder de modo a preparar os ouvintes para a Teologia. Na décima-quinta regra recomenda expressamente que “o professor de filosofia (a não ser que uma necessidade muito grave exija coisa diferente) não só tenha concluído o curso de Teologia, mas ainda o tenha repetido por dois anos, a fim de estar mais seguro da respectiva doutrina e de melhor poder servir à Teologia. Se alguns forem amigos de novidade ou de espírito demasiado livre, devem ser afastados sem hesitação do serviço docente”. (PAIM, 1974, p. 143-144) Mesmo com tamanha exigência na formação desse professor, ainda no final do Ratio Studiorum, havia uma lista das atitudes esperadas. Para a prática constante da Filosofia, dizia a regra: “em questões de alguma importância não se afaste de Aristóteles”, assim como, para Santo Tomás, os jesuítas enfatizaram: “de Santo Tomás, pelo contrário, fale sempre com respeito; seguindo-o de boa vontade todas as vezes que possível”. Em contrapartida, menciona com repúdio a presença de Averróis4 e diz “não reúna em tratado separado as digressões de Averróis [...] e, se alguma cousa boa dele houver de citar, cite-a sem encômios e, quando possível, mostre que hauriu em outra fonte” (FRANCA, 1952, p.159). Surpreendentemente, além de ensinar, cabia aos jesuítas favorecer e incutir obrigatoriamente a Filosofia por meio da concepção aristotélica e a religião com o estudo tomista. A presença de outros autores, como exemplifica a citação acima, era inadvertida, e tal pensamento se torna fundamental ao se tratar de autores como Averróis, que demonstrava uma incompatibilidade entre Filosofia e religião, diferentemente com o que apregoavam os jesuítas em sua doutrina, como expõe Franca (1952). Diante do exposto podemos caracterizar que a Filosofia expressa pela educação jesuítica manifestava sua ideologia autoritária, conservadora e de segregação. Essas características podem ser exemplificadas com o ensino baseado no dogmatismo para expurgar todo intelectualismo que 4 se Averróis (1126-1198) foi um filósofo, cuja tese se baseou contrária ao que era estabelecido pela religião. Concordava com Aristóteles, sobre a concepção de Deus enquanto motor imóvel. Sua doutrina é tida como uma teoria da dupla verdade, pois a razão (que é a teoria filosófica) está dissociada da fé (que é a teoria teológica) e, nesse ponto, concebe que para a fé a alma é imortal e o mundo é criado e, para a razão, a alma é corruptível e o mundo é eterno. 24 confrontasse aos que defendiam os conteúdos estabelecidos no Ratio, bem como a seleção dos que recebiam esse tipo de educação, ou seja, apenas os filhos dos proprietários e senhores ricos da colônia. Entre 1553 e 1556, ocorre, em Salvador, a fundação de um colégio da ordem dos jesuítas, onde se inicia o curso secundário. Cartolano (1985) descreve que o ensino da Filosofia surgia em uma das classes desse colégio e, a partir de 1575, era possível se obter o grau de bacharel e mestre em Artes e Filosofia. Assim como descrito em Paim (1974), compartilhamos que houve uma redução dos estudos da Filosofia e da Ciência à erudição e à retórica, em que se mantinha a argumentação teológica com a hegemonia de ensino dos jesuítas, padrão do ensino português. E os textos utilizados nesse curso eram de filósofos gregos e romanos adaptados à doutrina católica, bem como a língua oficial era o latim. Também, observamos que a Filosofia escolástica aristotélica, expressa nessa época, tinha a intenção de doutrinar e preparar uma elite intelectual, visto que havia a proibição de determinadas leituras, como as de Hobbes (1588-1679), Locke (1632-1704), Spinoza (1632-1677), Voltaire (1694-1778) e Rousseau (1712-1778), tolhendo o caráter crítico, analítico e investigativo do pensamento filosófico. A crise política e econômica que sofria Portugal, no século XVII, gerou uma instabilidade na colônia. Algumas reformas e mudanças realizadas pelo Marquês de Pombal (1699-1782) se mostravam evidentes, e o ensino, em que o cidadão deveria ser preparado para servir ao Estado e não à Igreja entre outros fatos, acabou resultando na expulsão dos jesuítas de Portugal, e é claro, do Brasil. Consequentemente, as ideias francesas de liberdade, fraternidade e igualdade ganhavam mais espaço em nosso país, e, com a valorização da ciência, o pensamento racionalista e revolucionário adentrava o território brasileiro. O ensino brasileiro perde a estrutura pedagógica criada pelos jesuítas e inicia as aulas régias, ou seja, aulas avulsas como: grego, hebraico, filosofia, teologia, retórica e poética, desenho e figura, aritmética, geometria e francês. Não havia, então, a necessidade de colégios para ministrar essas aulas ou qualquer que fosse o curso. A colônia brasileira passava a não possuir 25 devidamente uma política educacional e, acima de tudo, um sistema de ensino efetivo. Em seu estudo, Horn (2009) enfatiza a influência do iluminista Pe. Luis Antônio Verney, grande apreciador das ideias de Descartes, nas reformas pombalinas, que resultaram na instituição dessas aulas régias e de indivíduos leigos para ministrá-las. As reformas pombalinas trouxeram para o Brasil e para seu ensino, mais especificamente no Rio de Janeiro, a presença dos franciscanos que estabeleceram uma cátedra de Filosofia. Com a vinda de D. João VI e da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, uma série de mudanças foram realizadas. Podemos afirmar que a abertura dos portos ao mercado mundial contribuiu para a introdução de novas ideias, a formação da cultura brasileira e a educação escolarizada. De acordo com Alves (2002, p. 20), a educação escolarizada fora representada por uma estruturação do Ensino Superior que era responsável pela reprodução de quadros políticos e administrativos, que careciam o Estado. O crescente momento de expansão culminou na reformulação das faculdades existentes na Universidade de Coimbra, em Portugal. E, para atender à nova classe administrativa da colônia, foram criados novos colégios. Neste sentido, Cartolano (1985, p. 27) enfatiza que: A escola era a via de ascensão social e o título de doutor valia tanto quanto o de proprietário de terras, pois era garantia para a conquista do poder político e do prestígio social. A classe emergente incorpora e assimila as ideias da classe dominante da metrópole e nada a aproxima das classes dominadas que fornecem a força de trabalho; aliás, o trabalho físico, manual, dos negros, índios e imigrantes que cultivavam a terra, era tido como inferior e degradante. As ideias que se infiltravam na cultura brasileira vinham da Universidade de Coimbra, reformada por Pombal e influenciada pelas ideias iluministas da época; da universidade, esse novo espírito europeu conseguiu penetrar os redutos tradicionalistas e, rompendo teias conservadoristas, libertar o ensino e a cultura da “autoridade” e do aristotelismo medieval. A organização do campo educacional corroborava na expansão das escolas, na organização dos serviços de ensino, em que, nesse momento, o ensino primário e o secundário deveriam ser oferecidos pelas províncias e o ensino superior cabia ao poder central, que era Portugal. 26 Até 1822, de acordo com Alves (2002, p. 20), o ensino escolar esteve estruturado de acordo com o estabelecido por Pombal, em que predominava o caráter estatal e religioso em diferentes e isolados locais. Esse período de mudanças políticas e sociais aparece latente nas modificações ideológicas, que passariam a ser evidenciadas na estrutura do currículo, que se voltava para a formação profissional, negando a formação sacerdotal e a expansão da fé cristã. Nos idos de 1834, inicia a estruturação dos primeiros cursos de ensino superior, tidos como profissionalizantes, que seriam responsáveis pelo preenchimento dos quadros políticos e administrativos, conforme aponta Alves (2002, p. 20), a seguir: A Academia Militar e a Academia de Marinha, os cursos de medicina e cirurgia e o de matemática destinavam-se à formação de profissionais militares; para os não militares foram criados os cursos de agronomia, de química, de desenho técnico, de economia política e arquitetura. E mais tarde, no período da independência, foi criado o curso de direito, visando suprir a demanda por especialistas em legislação, bem como preparar os futuros parlamentares que atuariam no Congresso. Nesse aspecto, ainda indica o autor, sobre as disciplinas de ciências naturais, como: (...) (matemática, física, química, biologia e mineralogia) foram deslocadas do curso de filosofia, controlado pela Igreja, para os cursos médicos e para a academia militar, depois para a escola politécnica, da qual se separou. Percebemos que, aos poucos, despontavam as mudanças que chegavam ao Brasil onde já se estabelecia uma separação do que deveria ser ensinado, enfatizando uma mudança curricular mais a frente. Em 1837, é fundado o Colégio Pedro II, que vinha a ser o único mantido pelo governo central, cujas disciplinas possuíam um caráter propedêutico ao ensino superior, ainda mais, nos cursos de Teologia e de Direito. A filosofia estava presente juntamente com a retórica e a poética e, ao longo de todo o período imperial, como Alves (2002) aponta em seu estudo. Nesse período se processou uma pseudoautonomia, que atingiria certa independência política. A preocupação com a educação estava atrelada ao desenvolvimento da elite aristocrática, que se formava na Corte Portuguesa estabelecida no Brasil. A hipervalorização do ensino superior e o esquecimento 27 dos demais níveis são caracterizados, por Romanelli (1978, p. 38), como necessidade de qualificação para uma nova burguesia monárquica que se estabelecia em nosso país. Há de se considerar que, nessa nova abordagem cultural e política, os conteúdos dos cursos de Filosofia também sofreram reformulações, que traziam um teor mais humanístico e universalista. Consta ainda, de acordo com Cartolano (1985), que a inclusão da Filosofia era obrigatória nos currículos dos liceus e dos ginásios, desde o início do século XIX. 1.2 As ideias positivistas Nosso país estava em pleno avanço econômico e, como já mencionado, os ideais da Revolução Francesa de Liberdade, Fraternidade e Igualdade já faziam parte de nosso contexto social. As ideias positivistas já podiam ser sentidas nas escolas, cuja ciência já era tratada na busca de soluções ou respostas para os problemas encontrados. O positivismo estava centrado na renovação da cultura, na procura de uma criticidade que fora sucumbida com o ensino escolástico dos jesuítas. Uma das reformas, apresentadas por Horn (2009, p. 25), é a de 1879, “que tornava completamente livre o ensino primário e secundário do município da Corte e o superior em todo o Império [...] além de manter a cadeira de Filosofia no Colégio Pedro II, determinou sua inclusão no currículo das escolas normais”. Acreditamos que, com o positivismo, ainda estamos renegando a criticidade que é peculiar à Filosofia, e que esteve oprimida pelo sistema eclesiástico promovido pelos jesuítas. Auguste Comte (1798-1857), pensador francês que negava a metafísica e difundia a corrente filosófica positivista, se fez presente no ensino secundário brasileiro, com a predominância das ciências. Algumas disciplinas, tidas como obrigatórias 5, eram distribuídas de acordo com sua classificação das ciências. 5 As disciplinas obrigatórias eram: português, latim, grego, francês, inglês ou alemão (conforme a opção do aluno), matemática, astronomia, física, química, história natural, biologia, sociologia 28 Dessa forma, a orientação positivista tinha a “intenção de fundamentar na ciência a formação da escola secundária” e não via a filosofia como matéria doutrinal, diferente da tradição humanista clássica. Nesse ponto, rompe com a visão tradicionalista e dá aderência à reforma de Benjamin Constant doravante implementada, que visava a todos níveis de ensino como “formadores e não apenas preparadores às escolas superiores” (CARTOLANO, 1985, p. 35). Assim como o positivismo, a corrente evolucionista de Charles Darwin (1809-1882) provocava uma grande influência no pensamento europeu e nacional, chegando, também, a negar o estudo da metafísica frente ao evolucionismo das ciências positivas exaltando, contudo, o naturalismo. Assim nos afirma Costa (1956, p. 279): Negando a metafísica e afirmando que todo conhecimento está contido nas ciências positivas, o evolucionismo, como o positivismo, declaravam que o homem pode apenas investigar o mundo dos fenômenos. Esta filosofia positiva, naturalista, condizia com a mentalidade das elites brasileiras. A reforma de Benjamin Constant, nº 981, de 08/11/1890 (BRASIL, 1890), garantia a gratuidade do ensino primário, atrelado à liberdade e laicidade do ensino. Conforme seu pensamento já descrito, o ensino deveria ser formador e sua reforma eliminou a disciplina de Filosofia, iniciando um processo de presença e ausência no currículo, enfatizando as disciplinas científicas, caracterizando, assim, o ensino como enciclopédico. Nesse período vários nomes se tornaram ícones do pensamento filosófico brasileiro, tais como: Tobias Barreto (1839-1889), Silvio Romero (1851-1914), Clóvis Beviláqua (1859-1944), Farias Brito (1862-1917), Graça Aranha (1868-1931), entre outros. Chegaram a fundar jornais, revistas e associações para debaterem e expressarem suas ideias. Segundo Costa (1956, p. 166), Tobias Barreto teve merecida relevância pela fundação da “Escola de Recife” 6, registrando o que segue: e moral, geografia, história universal, história do Brasil, literatura nacional, desenho, ginástica, evoluções militares e esgrima, e música. 6 A Escola de Recife é tida como uma corrente filosófica, que se formou a partir dos movimentos cognitivos complexos de seus próprios participantes, que buscavam o diálogo filosófico emanado pelas ideias do Evolucionismo, Marxismo e do Positivismo, já presentes em terras brasileiras, e demais correntes sociológicas e antropológicas estrangeiras. 29 Pela primeira vez, a nossa pátria via um movimento intelectual que procurava abarcar a totalidade dos aspectos humanos. Até ali, quanto a ideias gerais e sistemas filosóficos, só conhecíamos a mistura pueril da teologia e metafísica ensinada nos colégios, não passando o mais da divagação literária. Com grande cabedal literário, Tobias Barreto ganhou grande significância pela divulgação e contribuição de suas ideias. Consideramos, até o presente momento, a passagem dos seguintes sistemas filosóficos pelo Brasil: o metafísico teológico, advindo da representação jesuítica embasada na doutrina aristotélico-tomista; o positivismo, com a valorização científica; e, por fim, a transcendência de um conhecimento para as ações humanas com a Escola de Recife. Dessa maneira, há que se ressaltar, então, que o ensino de Filosofia fora ministrado por religiosos, jesuítas e franciscanos, e leigos, com relevância aos grandes intelectuais. As mudanças até então demonstradas confirmam a perspectiva abordada por Gimeno Sacristán (1998) ao descrever o currículo como reflexo do conflito dos interesses dominantes da sociedade, que passou a atender novos valores. A questão política se evidenciava com o combate à Monarquia e à Igreja Católica, ao adentramos na república; e a sociedade brasileira, que estabelecia novos valores culturais e intelectuais, privilegia outros conhecimentos com reflexo na criação de novas instituições de ensino, que já começam a ganhar força nesse período. De fato, ocorre uma mudança nas ideias que embasavam o contexto filosófico brasileiro, não se tratava apenas de um novo referencial de educação imposto e, sim, a modificação de um pensamento que alicerçará a estrutura educacional. 1.3 A Filosofia no século XX Nesse século ocorrem sucessivas reformas, mudanças e modificações no currículo, tornando a presença da Filosofia indefinida no sistema educacional brasileiro. Nesse mesmo período, marcado pelo reconhecimento do território brasileiro como republicano, foi que Rui Barbosa (1849-1923) se 30 torna grande expoente na descentralização do poder monárquico, constituindo a federação enquanto forma de governo (CARTOLANO, 1985, p.42). Em 1908, é fundada, em São Paulo, a Faculdade Livre de Filosofia e Letras, sustentando a visão neotomista7. O ensino de Filosofia conta, nesse momento, com novas publicações de livros e, na sua grande maioria, com orientações católicas, como destacam Mazai e Ribas (2001). Tal fato pode ser alinhavado com a desintegração do ensino católico na educação escolar pública, pois, nesse momento, a educação se torna prerrogativa do Estado e portanto, seria laica, uma vez que as ideias positivistas predominavam. Nesse aspecto, a publicação de livros com visão católica seria uma forma de continuar alinhavando a religião e o incentivo à educação livresca. Entre outras mudanças, observamos que, com o advento da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), ocorreu uma desestabilização entre o campo e a cidade. Para a população que vivia na zona rural, as técnicas de cultivo não exigiam nenhuma preparação e nem mesmo alfabetização, sendo a educação formal – ou seja, escolar – um “produto”, que não despertava grandes interesses. Entretanto, para algumas famílias que pertenciam à classe média e operária urbana, procuravam a escola para obter um mínimo de condições para consecução de empregos nas poucas fábricas existentes e, assim, buscavam uma ascensão social pelo acesso à economia industrial. O que representará um maior atendimento às demandas das classes sociais; ou seja, uma preocupação com nosso sistema escolar (ROMANELLI, 1978, p.45). Ao aliarmos essas mudanças sociais e educacionais, entendemos quando Cartolano (1985) expõe o código Epitácio Pessoa, Decreto nº 3.914, de 20/01/1901 (BRASIL, 1901), que introduziu a Lógica no 6º ano do ensino secundário e retirou a Biologia, a Sociologia e a Moral, acentuando no currículo a área literária. Ressalta-se que, mesmo integrante do currículo, a Filosofia e a Lógica não eram exigidas nos exames, que oportunizavam a admissão nas escolas superiores. 7 Neotomismo é uma doutrina filosófica que propõe uma retomada do pensamento de São Tomás de Aquino (1227-1274), levando em conta as descobertas científicas e os problemas do mundo moderno. São Tomás mostrou ao mundo que havia nas obras de Aristóteles realmente uma filosofia autônoma e independente de dogmas (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996). 31 Na Reforma Rivadávia Corrêa, instituída pelo Decreto nº 8.659, de 05/04/1911 (BRASIL, 1911), houve uma liberdade de ensino por meio da desoficialização do ensino secundário, que deveria possuir um conteúdo próprio e não se tornar apenas um “estágio” para o ensino superior; e a Filosofia, é retirada do currículo. O Decreto nº 11.530, de 18/03/1915 (BRASIL, 1915), propôs uma nova reforma e a organização nos ensinos secundário e superior. A Reforma de Carlos Maximiliano continuou com o exame de admissão às escolas superiores, em que algumas disciplinas oferecidas seriam de curso facultativo como Psicologia, Lógica e História da Psicologia, por meio da exposição das doutrinas das principais escolas filosóficas. Segundo Cartolano (1985, p. 48-49), ao se referir a este Decreto, afirma que: Embora presente no texto legal, na realidade a filosofia inerente a esse curso facultativo teve pouca influência na preparação dos alunos para o ensino superior, pois somente para a prova oral do exame vestibular da Faculdade de Direito é que era exigida; no primeiro ano dessa faculdade, a filosofia aparece como cadeira obrigatória (Art. 177). As mudanças brasileiras continuavam se propagando em diversas áreas, e a educação continuava a sofrer com a diversidade de influências e os interesses das camadas sociais e os ideais de um novo ensino superior acadêmico. A Reforma de Rocha Vaz, Decreto nº 16.782 A, de 13/01/1925 (BRASIL, 1925), destinava-se ao ensino secundário, que passava de cinco para seis anos, concluindo com um estudo sobre a história da filosofia. Com um currículo extenso, tido como enciclopédico, era dada ênfase à formação do cidadão por meio de uma cultura geral presente nos interesses e doutrinas sociais dominantes. Ainda, de acordo com Cartolano (1985), esse tipo de ensino, enciclopédico e teórico, distanciava-se do preparo para o ensino superior, pois não fornecia uma instrumentação teórica para a possibilidade de ação e de transformação da realidade. Nesse aspecto, salientamos o que Gimeno Sacristán (1988, p. 18) observa com as reformas curriculares: (...) nos sistemas educacionais desenvolvidos obedecem pretensamente à lógica de que através delas se realiza uma 32 melhor adequação entre os currículos e as finalidades da instituição escolar, ou a de que com elas se pode dar uma resposta mais adequada à melhora de oportunidades dos alunos e dos grupos sociais. Advogamos com o autor citado, que, nesse momento, o currículo escolar ofertado não atendia às necessidades e aos interesses observados pela população, que desejava possibilidades de acesso econômico e social. A divisão social se tornava evidente no ensino e o acesso à educação, que gerava um crescente aumento das escolas técnicas, o que garantia um status desejado pela camada mais baixa da população. Enquanto as classes altas procuravam manter a seletividade, por meio da frequência nos cursinhos especializados, havia a procura e o encaminhamento para uma boa colocação nas universidades mais disputadas. O paradigma de uma educação superior trazia mudanças significativas para uma sociedade. A presença de universidades viabilizava determinantes que tangem a escolha, formulação e cumprimento de um objeto, metodologia e os objetivos propostos. Há, no tocante, uma preocupação com a formação integral em que o ser humano possa se desenvolver e estabelecer ações determinantes e coerentes. Entretanto, com a queda do preço do café e das exportações, devido à “quebra” da Bolsa de Nova York (1929), ocorre a ampliação do mercado interno e o desenvolvimento da industrialização nacional para conquista de uma hegemonia política, a fim de atender as camadas emergentes. Entretanto, é a partir de 1930, que de acordo com Romanelli (1978, p.49): (...) a crise delineou-se, portanto, como uma necessidade de se reajustar o aparelho do Estado às novas necessidades da política e da economia, ou seja, de se substituir urgentemente toda a estrutura de poder político que contribuiu para criar e manter a crise econômica. . A situação política brasileira enxerga nas eleições entre conservadores e liberais, o momento para reestruturar o poder. Por meio de um golpe de Estado, o candidato da Aliança Liberal, Getúlio Vargas, assume o governo durante quinze anos (1930-1945). Nesse cenário, diversas reformas foram empreendidas na educação brasileira. A Reforma de Francisco Campos, Decreto nº 21.241, de 04/04/1932 33 (BRASIL, 1932), estabelece um regime de estudos e frequência obrigatória, enfatizando um novo aspecto para a educação secundária. Uma nova estrutura para o curso secundário foi criada em que o dividia em dois ciclos. O primeiro era o fundamental (ginásio), com duração de cinco anos, que era obrigatório para o ingresso nas escolas superiores, pois dava uma formação básica geral. O segundo era complementar, com duração de dois anos, que preparava para o ingresso nas escolas de Direito, Medicina e Engenharia. A Filosofia estava presente no currículo desse ciclo complementar com aulas de História da Filosofia e Lógica. Percebemos que esse novo currículo refletia o que, segundo Cartolano (1985), estava sendo estabelecido como uma luta ideológica entre católicos e liberais, que resultara na inclusão de disciplinas específicas nos currículos do ciclo complementar. Chama a atenção, nesse momento, a presença dos “pioneiros” e participantes do Manifesto da Escola Nova (1932), nas pessoas de Fernando de Azevedo (1894-1974), com formação em Sociologia, e Anísio Teixeira (1900-1971), em Direito. Esse último foi o grande propagador, em solo brasileiro, das ideias de John Dewey (1859-1952), estabelecendo uma nova diretriz no currículo durante a Reforma. Ao lado deles, Lourenço Filho (18971970) também traz a linguagem científica e sociológica acompanhada pelo rigor do pensamento lógico, introduzida aos métodos e ao pensamento científico. Cartolano (1985, p. 57) afirma ainda que: O ambiente cultural e intelectual da época da Reforma Campos, as influências das novas ideias e métodos pedagógicos da Europa e Estados Unidos (naturalismo, sociologismo, evolucionismo e pragmatismo e, mais profundamente, o nominalismo, o racionalismo e o positivismo), as lutas ideológicas entre católicos e liberais em torno de alguns princípios educacionais (laicização e democratização do ensino, co-educação dos sexos), essa nova realidade, enfim, passou a orientar os programas da disciplina lógica, introduzindo os jovens nos métodos e no pensamento científico. Esse tipo de ensino se volta, então, para uma formação humanística, dando vazão ao posicionamento e à prática de atitudes e comportamentos vinculados à razão como desenvolvimento do raciocínio, em um processo de interpretação da experiência e das suas relações de pensamento, que, de certa 34 forma, confirma a conclusão de Paim (1974, p.330): “redundou à criação das Faculdades de Filosofia, premissa para a constituição de um foco de pensamento em oposição à mentalidade positivista vigente”. A Reforma Capanema, cujo Decreto nº 4.244, de 09/04/1942 (BRASIL, 1942), intitulada como Lei Orgânica do Ensino Secundário, traz uma nova estrutura para o Ensino Secundário, dividindo-o em dois ciclos: o ginásio, com duração de quatro anos; e o colégio, em três anos. Esse último se subdividia em científico, com ênfase no estudo das ciências e com aulas de Filosofia no 3º ano e, no clássico, que destacava a formação intelectual, com o estudo de Filosofia, no 2º e 3º anos. Devemos considerar, nesse ponto, além da valorização com a presença de aulas de Filosofia, sua instabilidade no número de aulas ministradas em cada nível, como exemplificaremos a seguir, já dando elementos para perceber, posteriormente, sua extinção do currículo. Inicialmente, a carga horária de Filosofia era de quatro aulas por semana na 2ª série do clássico e 3º ano do científico, e duas aulas no 3º ano do clássico. A Portaria, de 10/12/1945 (BRASIL, 1945), modificou para quatro aulas semanais na 3ª série do científico e três aulas nas séries do clássico. Doravante, a Portaria nº 966 (BRASIL, 1951), de 02/10/1951, alterou os programas das disciplinas dos cursos clássico e científico, passando a contar com três horas-aula semanais em ambas séries dos cursos. Por fim, a Portaria nº 54 (BRASIL, 1954) reduziu o mínimo de duas aulas semanais para o clássico e uma hora para o científico. É possível perceber que os saberes do ensino de Filosofia eram organizados de forma que contemplassem a Lei Orgânica do Ensino Secundário na “formação integral do adolescente e preparando-o para o ensino superior” (BRASIL, 1942). Eram desenvolvidos conteúdos relativos à lógica, metodologia científica e a importância da Filosofia. No que tange à moral, eram temas ligados à dignidade da pessoa humana, à consciência, aos grupos humanos, aos problemas ético-sociais e religiosos. Abarcavam, também, a educação moral e cívica, que incentivava o patriotismo, o nacionalismo e o civismo. 35 Alinhavado às mudanças descritas, voltamo-nos a Gimeno Sacristán (1998, p. 17) ao notarmos que o espaço no currículo, destinado às aulas de Filosofia, era constantemente revisto e reformulado, legitimando as práticas vigentes, que já expressavam o conflito das ideias da sociedade nos seus valores dominantes do processo educativo com a incerteza da permanência e a sua legitimidade da Filosofia enquanto disciplina. Com a queda da ditadura Vargas, em 1945, foram travadas lutas ideológicas entre políticos e educadores, que resultaram na edição da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei nº 4.024, de 20/12/1961 (BRASIL, 1961), sancionada pelo então presidente João Goulart. Tal lei confirmava a descentralização e garantia a liberdade de ensino, com ajuda financeira da União às escolas públicas e particulares, dando oportunidade para as mesmas escolherem seus próprios currículos, de acordo com a proposta do Conselho Federal de Educação. Nessa Lei, a Filosofia era indicada para o 2º ciclo e, como uma das cinco disciplinas sugeridas como complementares pelo Conselho, perde a obrigatoriedade adquirida anteriormente. O ensino secundário ficara, assim, junto ao ensino técnico, com duração de sete anos divididos nos dois ciclos: ginasial (com quatro anos) e colegial (com três anos). Manteve-se, também, o exame admissional para seu ingresso (CARTOLANO, 1985, p. 64). Desse modo já fica nítido o possível desaparecimento da Filosofia do currículo escolar brasileiro. Tal ponto, também, pode ser justificado e admitido, pois antes mesmo da obrigatoriedade do ensino de Educação Moral e Cívica, a Filosofia já havia perdido a obrigatoriedade. Mais adiante, isso se torna uma oportunidade para a primeira disciplina a ser colocada em evidência. A partir dessas escolhas, os dados, levantados por Cartolano (1985, p.66), demonstravam que a Filosofia se consagrava como “uma espécie de superdisciplina ou de um super-saber”, que estaria desenvolvendo o raciocínio lógico e metafísico. Essas características marcam a importância do seu ensino na preparação da elite e daqueles que ocupavam posições elevadas em nossa sociedade. Entretanto, o que pode se perceber com esse estudo, também presente no artigo de Gonçalves (2011), é que mesmo com todo o aspecto 36 positivo levantado, ocorria uma desvalorização das ciências humanas nas escolas de ensino secundário dando maior ênfase ao ensino tecnológico. Desde 1964, o Brasil já sofria com o golpe militar, a valorização das tecnologias e o desaparecimento das ciências sociais. Essa realidade se intensificou com o controle imposto por meio dos pactos realizados com outras nações. A educação é colocada, então, como papel ideológico, com valores culturais estrangeiros, técnicos e burocráticos. Um exemplo foi o acordo com a Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID). Foram instituídas a assistência e a cooperação financeira para organização do sistema educacional brasileiro, ajustando um novo modelo econômico, político e educacional, baseado em programas e projetos, que, em certo ponto, visavam ao controle político-ideológico social. E, segundo Cartolano (1985, p. 72): O ensino da Filosofia, não atendendo a essas solicitações tecnoburocráticas e político-ideológicas, já não servia aos objetivos das reformas que se pretendiam instituir na estrutura do ensino brasileiro. A sua extinção como disciplina, já optativa no currículo, em 1968, foi pensadamente preparada através de uma série de leis, decretos, pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação e do Conselho Estadual de São Paulo, que, neste caso, centralizavam as decisões da área educacional. Conforme exposto, foi por meio da Resolução nº 36, do Conselho Estadual de Educação, de 30/12/1968 (SÃO PAULO, 1968), que a Filosofia se tornou optativa a cada estabelecimento de ensino. Havia, nesse acordo, o intuito de um desenvolvimento da educação, baseado na formação de profissionais para atender ao desenvolvimento tecnológico, à aplicação das ciências e ao exercício civil e moral da segurança interna. Nessa situação, a Filosofia se mantém como uma disciplina divergente com o que é desejado, uma vez que ela fortifica a criticidade e não compactua com a alienação, a decisão de reprodução em massa de ideias e valores, que estava ascendendo em nosso país. Na valorização das tecnologias e na supressão do ensino das humanidades e ciências sociais, temos as disciplinas de: Filosofia, Psicologia e Sociologia, que são banidas do currículo; História e Geografia, que são integradas em Estudos Sociais e Organização Social e Política Brasileira 37 (OSPB). Pelo Decreto-lei nº 869, de 12/09/1969 (BRASIL, 1969), é oficializada a criação da disciplina de Educação Moral e Cívica. Cartolano (1985, p.73) detalha como essa disciplina é tida como Moral e Cívica, pois: “segundo os legisladores: tratava-se da educação moral e, mesmo, dos estudos de ‘problemas brasileiros’ e dos ‘estudos sociais’, que passavam a ser disciplinas responsáveis pela formação do ‘cidadão consciente”. Podemos entender o que, anteriormente, destinava-se a desenvolver e fomentar o aspecto da consciência e do saber posicionar-se com fundamento, agora era colocado como doutrinador. As medidas disciplinares e repressivas desejavam doutrinar, ditando comportamentos e modos de pensar. Baseavamse, ainda, conforme prossegue Cartolano (1985), nos valores da nacionalidade e da unidade nacional, no aprimoramento do caráter, na dedicação à família e à comunidade e, principalmente, no “culto da obediência à Lei, a preparação do cidadão, com base na moral católica, no patriotismo e na ação construtiva, visando o bem comum” (p. 73). Os adeptos da Filosofia, professores e, até mesmo, representantes de instituições, vivenciaram no auge do regime militar, mais precisamente no ano de 1968, seus piores momentos em que foram cassados, inquiridos, e até onde sabemos, perseguidos. Ao nos centrarmos na Lei nº 5.692/71 (BRASIL, 1971), verificamos algumas mudanças. O ensino foi organizado em 1º grau, 2º grau e supletivo. Sobre tal, expõe Romanelli (1978, p. 238): O ensino de 1º grau, além da formação geral, passa a proporcionar a sondagem vocacional e a iniciação para o trabalho. E o de 2º grau passa a constituir-se, indiscriminadamente, de um nível de ensino cujo objetivo primordial é a habilitação profissional. Urge, no proposto, uma preocupação no 2º grau, hoje, Ensino Médio, com a qualificação para o trabalho. Por conta do exposto, podemos identificar a categorização do curso normal e supletivo8, que também se preocupam com essa qualificação profissional. 8 Curso Normal era um curso de nível secundário com habilitação para o exercício do magistério nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Seus alunos, na grande maioria mulheres, eram conhecidas como normalistas. Ensino Supletivo é uma modalidade de ensino 38 O currículo foi reestruturado e organizado com as disciplinas de “núcleo comum”, fixadas pelo Conselho Federal de Educação, ou seja, obrigatórias em âmbito nacional. A “parte diversificada” ficou a cargo do Conselho Estadual de Educação. Os estabelecimentos de ensino ainda tinham o direito de propor matérias para seu ensino, de acordo com as particularidades de cada instituição. O “núcleo comum” se dividia em: Comunicação e Expressão (Língua Portuguesa e Língua Estrangeira), Estudos Sociais (História, Geografia, e Organização Social e Política do Brasil) e Ciências (Matemática e Ciências Físicas e Biológicas). Além desse núcleo, existiam outras disciplinas como de: Educação Moral e Cívica, que era obrigatória, e Ensino Religioso, que era facultativa para os alunos. A referida Lei apresentava uma ênfase na língua nacional e nas ciências exatas, a qual vislumbrava uma estimulação da preparação para o mercado de trabalho e a profissionalização. A carga horária das disciplinas da área de humanas era reduzida devido à valorização do desenvolvimento tecnológico. O estudo de Saviani (1997, p. 39) reforça esse momento de transição: Assim, no ensino médio já não bastava dominar os elementos básicos e gerais do conhecimento que resultam e ao mesmo tempo contribuem para o processo de trabalho na sociedade. Trata-se, agora, de explicitar como o conhecimento (objeto específico do processo de ensino), isto é, como a ciência, potência espiritual, se converte em potência material de produção. Tal explicitação deve envolver o domínio não apenas teórico, mas também prático sobre o modo como o saber se articula com o processo produtivo. Contudo, no curso Normal, destacava-se a disciplina de Filosofia da Educação, que vem corroborar na formação desses professores da antiga préescola e de 1ª à 4ª série. que tem como finalidade suprir a escolarização de adolescentes e adultos que não tenha sido concluída na idade adequada. A Lei 5692/71 (BRASIL, 1971) confere que esse ensino abrangerá necessidades próprias quanto sua estrutura, duração e regime escolar desde a iniciação ao ler, escrever e contar, como também à formação profissional definida em lei específica até o estudo intensivo de disciplinas do ensino regular e atualização de conhecimentos. 39 Com a deliberação da Lei nº 7044/82 (BRASIL, 1982), a Filosofia poderia adentrar na parte diversificada, de acordo com a escolha do estabelecimento de ensino, ou seja, seria facultativa. Todavia, mesmo que as escolas públicas a adotassem em seu quadro curricular, não possuíamos uma política educacional favorável. Apenas as escolas privadas teriam liberdade para organizar seu currículo, materiais e profissionais devidamente habilitados. É apresentado, então, um problema, que de certo modo reforçará a exclusão definitiva da Filosofia do currículo brasileiro. As reformas políticas empreendidas pelos governos militares obedeciam às ideias ideológicas da Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento (DSND), que visavam à formação de mão-de-obra barata para preenchimento das empresas, em especial, as multinacionais, que se instalavam e reorganizavam os currículos escolares de acordo com moldes tecnicistas. Alves (2002, p. 38) afirma que havia, assim, muito cuidado com a formulação de ideias contrárias do que era estabelecido, uma vez que o ensino de Filosofia não atendia às solicitações propostas e representava uma disciplina voltada para a liberdade de discussão de ideias, sistemas e teorias. A fim de demonstrar o problema que a Filosofia estava “causando” para as reformas políticas, foram ao longo desse período apresentadas estratégias que contribuíram para a exclusão da Filosofia do currículo educacional. Em se tratando do ensino público, enfatizavam a ausência de professores habilitados e concursos públicos, a possibilidade da manipulação da atribuição de aulas por parte de alguns diretores, como também a falta de recursos pedagógicos próprios para a disciplina. Entretanto, a preocupação nesse período, conforme descrito anteriormente, ainda era com a qualificação para o trabalho e o acesso ao ensino superior. Dessa forma, ficava evidente que não havia mais espaço para o ensino filosófico, que estava sendo substituído por Educação Moral e Cívica (EMC), Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e Estudo dos Problemas Brasileiros (EPB), esta última prevista para o nível superior. Mazai e Ribas (2001, p. 11) afirmam que: Até então, o ensino da disciplina de Filosofia, no Brasil, revestira-se sempre com a roupagem da alienação e do dogmatismo. Jamais a Filosofia visou à formação do espírito 40 crítico, pois assumiu o papel de geradora de status social com pensamentos vindos do estrangeiro, com ideias já prontas, ou seja, tinha função meramente ideológica. A Filosofia constituiuse como acrítica e ornamental, ou seja, como teoria longínqua da prática, uma repetição de doutrinas obscuras. Os valores atribuídos à Filosofia estavam agregados ao que desejavam as forças externas. A Filosofia além de representar uma ameaça ao poder e à ordem, já não possuía sua própria conceituação quanto ao que deveria ser ensinado, ao que representava por si. E, dessa forma, era somente uma transmissora das questões ideológicas que sustentavam, ou de certa maneira, alicerçavam outras concepções, deixando de assumir seu verdadeiro significado. E nesse ponto, advogamos com Cartolano (1985, p. 74): (...) à medida que se propunha formar consciências que refletissem sobre os problemas reais da sociedade. Nesse sentido, procurou-se aniquilar essa atividade reflexiva, substituindo-se por outra de caráter mais catequista e ideológico, a nível político. Com o final da ditadura militar, em 1985, e o resgate da autonomia dos estabelecimentos de ensino, a Filosofia iniciaria uma tentativa e um propenso retorno ao currículo escolar. Entretanto, ainda ficava latente a dúvida do que deveria se privilegiar em seu ensino. 1.4 Os caminhos que levaram à obrigatoriedade curricular No período (1985-1996), que compreende o fim da ditadura militar até a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1998), houve diversas manifestações, reuniões de grupos, sejam em âmbito estadual ou nacional, a fim de formular, analisar, discutir e levantar estratégias de ação para direcionar o encaminhamento do ensino de Filosofia na educação brasileira. Nesse ínterim, podemos registrar, no ano de 1983, o movimento realizado pela Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), do Estado de São Paulo, que culminou com o banimento de Educação Moral e Cívica enquanto disciplina obrigatória do quadro curricular. No artigo de Palma Filho (2011, p.21), é exposto o processo de readaptação das disciplinas de 41 Filosofia, Sociologia e Psicologia enquanto disciplinas do 2º grau (hoje, ensino médio), que poderiam ser escolhidas por cada escola estadual, pois outras disciplinas deveriam ter sua carga horária reduzida para incluí-las. Mais uma ação da CENP necessária de se salientar diz respeito ao que mais adiante trataremos, em nossa pesquisa, sobre os guias curriculares, que receberam o título de propostas curriculares. As disciplinas de Filosofia, Sociologia e Psicologia tiveram suas propostas inicialmente elaboradas em 1984. A segunda versão ocorreu em 1992, como expressa Gonçalves (2011, p.34), que “essa proposta teve o caráter de subsidiar a ação docente, estabelecendo conteúdos mínimos e objetivos a ser alcançados.” No ano de 1996, foi promulgada a LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), que indicava no artigo 36, parágrafo 1º, item III, que o educando deveria, ao final do Ensino Médio, demonstrar “domínio dos conhecimentos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania”. Tal fato poderia ser considerado hodiernamente como uma grande oportunidade para o retorno da Filosofia às bases curriculares da educação básica. Contudo, ao analisarmos criticamente o que está descrito na mencionada Lei, concluímos o quanto é extremamente vago, pois podemos inferir diversos questionamentos desde ao tipo de domínio a que essa Lei se refere, à concepção de cidadania, bem como à descrição de quais seriam os conhecimentos mencionados. Neste ponto, conclui-se, na publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM), por meio da Resolução CEB/CNE nº 3/98 (BRASIL, 1998), uma tentativa de maiores esclarecimentos para o que define e se pretende alcançar nesse referido nível de ensino. As DCNEM, explicitadas no artigo 1º, estão divididas em quinze artigos, que enfatizam as: (...) definições doutrinárias sobre princípios, fundamentos e procedimentos a serem observados na organização pedagógica e curricular de cada unidade escolar integrante dos diversos sistemas de ensino, em atendimento ao que manda a lei, tendo em vista vincular a educação com o mundo do trabalho e a prática social, consolidando a preparação para o exercício da cidadania e propiciando preparação básica para o trabalho. (BRASIL, 1998) 42 Em seu escopo, as diretrizes têm caráter filosófico, pois, assim como supracitado, definem todos os princípios, fundamentos e procedimentos que pensam seus elaboradores para regerem o ensino, atrelado aos valores de interesse social, os direitos e deveres, o respeito ao bem comum e a ordem entendida como democrática. Desse modo, fica evidente a indução de que as instituições deveriam realizar uma rigorosa revisão e reorganização dos seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), bem como metas e planos de ação a fim de atenderem ao que se estabelece nas DCNEM (BRASIL, 1998). Contudo, mesmo estando descrito, no décimo artigo sobre a organização curricular por áreas e a presença da Filosofia e da Sociologia, é no terceiro artigo que são demonstrados três princípios sustentados por áreas conceituais da Filosofia, como a Estética, Política e Ética, que norteiam e direcionam, no nosso entender, as próximas publicações federais e estaduais, principalmente, no que diz respeito a essas duas disciplinas. No que tange à Estética da Sensibilidade, a Resolução 3/98 (BRASIL, 1998) se fundamenta, em seu art. 3º, na expressão da subjetividade, da criatividade e no desenvolvimento e formação da identidade para a aceitação da diversidade e das variadas formas de expressão. Desse modo, ela é descrita como aquela que: (...) deverá substituir a da repetição e padronização, estimulando a criatividade, o espírito inventivo, a curiosidade pelo inusitado, e a afetividade, bem como facilitar a constituição de identidades capazes de suportar a inquietação, conviver com o incerto e o imprevisível, acolher e conviver com a diversidade, valorizar a qualidade, a delicadeza, a sutileza, as formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo e fazer do lazer, da sexualidade e da imaginação um exercício de liberdade responsável. (BRASIL, 1998) Em se tratando da Política da Igualdade, as DCNEM (BRASIL, 1998) se centram nos alicerces da representação da cidadania, da sociabilidade e da cultura, presentes em diversos setores de nossa sociedade como forma representativa governamental do Estado. Assim, ela se constitui e descreve a sua forma: (...) como ponto de partida o reconhecimento dos direitos humanos e dos deveres e direitos da cidadania, visando à constituição de identidades que busquem e pratiquem a igualdade no acesso aos bens sociais e culturais, o respeito ao 43 bem comum, o protagonismo e a responsabilidade no âmbito público e privado, o combate a todas as formas discriminatórias e o respeito aos princípios do Estado de Direito na forma do sistema federativo e do regime democrático e republicano. (BRASIL, 1998) E, como já anunciamos, o último item se refere à Ética da Identidade, que prima pelas variáveis, que se constituem na interação da identidade e no desenvolvimento da presença humana, descritas da seguinte maneira: (...) buscando superar dicotomias entre o mundo da moral e o mundo da matéria, o público e o privado, para constituir identidades sensíveis e igualitárias no testemunho de valores de seu tempo, praticando um humanismo contemporâneo, pelo reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do outro e pela incorporação da solidariedade, da responsabilidade e da reciprocidade como orientadoras de seus atos na vida profissional, social, civil e pessoal. (BRASIL, 1998) Os princípios estético, político e ético se cumprem alicerçados na subjetividade diante do favorecimento da formação da identidade como bases, que buscam ser igualitárias, e no fortalecimento das relações interpessoais com aqueles que participam do processo educativo; uma vez que são colocados como norteadores de fundamentos e procedimentos, que regem a organização pedagógica e curricular da escola devido ao favorecimento do desenvolvimento global do ser humano. Podemos inferir, diante do exposto, que a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 1999) prolonga o discurso iniciado anteriormente; uma vez que faz menção à recomendação de que os conteúdos filosóficos fossem contemplados e organizados mediante o desenvolvimento de competências e habilidades9 a serem trabalhadas em cada indivíduo e, ao mesmo tempo, estimuladas pelo educador. Na apresentação dos PCNEM, nos deparamos com a confirmação, que seria uma tentativa para o cumprimento da LDB (BRASIL, 1996), “é hora de retomar e atualizar a educação humanista, através de uma organização escolar curricular baseada em princípios estéticos, políticos e éticos” (BRASIL, 1999, p. 18). 9 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1999, p. 26) entendem que as competências e habilidades norteiam a seleção dos conteúdos mais significativos, atribuindo capacidades ao professor para apropriação e transposição de conhecimentos em novas situações para que ocorra o aprendizado. 44 Mais à frente, os pilares da educação, propostos pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI, da UNESCO (DELORS, 2000), que se apresentam como aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser se coadunam com os princípios das DCNEM (BRASIL, 1998), tal como segue: A estética da sensibilidade, que supera a padronização e estimula a criatividade e o espírito inventivo, está presente no aprender a conhecer e no aprender a fazer, como dois momentos da mesma experiência humana, superando-se a falsa divisão entre teoria e prática. A política da igualdade, que consagra o Estado de Direito e a democracia, está corporificada no aprender a conviver, na construção de uma sociedade solidária através da ação cooperativa e nãoindividualista. A ética da identidade, exigida pelo desafio de uma educação voltada para a constituição de identidades responsáveis e solidárias, compromissadas com a inserção em seu tempo e em seu espaço, pressupõe o aprender a ser, objetivo máximo da ação que educa e não se limita apenas a transmitir conhecimentos prontos. (BRASIL, 1999, p. 21, grifos nossos) A junção de todos os princípios e pilares se revestem dos mais profundos significados, que tangem os marcos históricos, geográficos, econômicos, políticos, jurídicos, sociológicos, antropológicos, psicológicos e filosóficos, que intitulam a área de Ciências Humanas e Tecnologias. Entretanto, o que se referia à Filosofia, ainda não era reconhecida como disciplina obrigatória e presente oficialmente nos currículos nacionais; uma vez, que os documentos mencionam “conhecimentos” e “competências”, e não, disciplina e conteúdos. A área de Ciências Humanas e Tecnologia contempla as competências e habilidades em Filosofia, indicando três funções ao relacionar-se com o mundo: ler, escrever e dialogar. Para atender a essas funções, o documento evidencia a necessidade de um desenvolvimento hermenêutico com as capacidades de análise, interpretação e representação por meio de uma reconstrução crítica e problematizadora. Desse modo, as competências e habilidades a serem desenvolvidas em Filosofia são descritas dada sua relevância da leitura de textos filosóficos de modo significativo, bem como a leitura de outros tipos de textos, que fomentam e subsidiam os debates argumentativos e as elaborações textuais escritas a fim 45 de promover a articulação de conhecimentos filosóficos com diferentes discursos, conteúdos e produções culturais, demonstrando e estimulando toda hermenêutica sócio-cultural. Nos PCNEM (BRASIL, 1999, p. 125), encontramos o quadro abaixo, que demonstra, com maior clareza, o que se pretende atingir: Quadro 2 – Competências e habilidades de Filosofia Representação e comunicação Investigação e compreensão Contextualização Sociocultural · Ler textos filosóficos de modo significativo. · Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros. · Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo. · Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes. · Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais. · Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoalbiográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica. Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio/PCNEM (BRASIL,1999, p. 125) Contudo, continuamos encontrando uma falácia entre o que se pretende na LDB (BRASIL, 1996), o que se estabelece nas DCNEM (BRASIL, 1998) e o que propõem os PCNEM (BRASIL, 1999) na seguinte questão: o que ensinar? A pergunta proeminente realizada, sustenta a necessidade de se estabelecer, no seu currículo, o que de fato será ensinado ou seja, a descrição dos seus conteúdos. Nesse aspecto, observa Gimeno Sacristán (1998, p. 19) que “o conteúdo é condição lógica do ensino, e o currículo é, antes de mais nada, a seleção cultural estruturada sob chaves psicopedagógicas dessa cultura que se oferece como projeto para a instituição escolar.” São esses conteúdos, que representarão uma ponte entre a prática escolar e o mundo de conhecimento, que se almeja para a educação. Nomeamos, assim, como uma dúvida metodológica ou até mesmo, histórica, uma vez, que nos lembramos do exposto sobre a falta de 46 conceituação e entendimento sobre o que a Filosofia e seu ensino representavam na educação brasileira. E, neste sentido, empreendemos o que tomamos a liberdade de chamar de máxima kantiana dos professores de Filosofia: ensina-se a filosofar ou se ensina a filosofia? Sobre essa duplicidade do sentido de ensinar, faremos algumas considerações no capítulo seguinte. Para se ensinar, não partimos do nada, do obscuro, e os PCNEM (BRASIL, 1999), de certa forma, reconhecem isso e enfatizam: Sendo evidente que o filosofar não se produz no vácuo, mas se desenvolve a partir de conteúdos concretos, vale dizer, sobre textos e discursos concretos, uma primeira escolha se impõe: não é possível pretender que o aluno construa uma competência de leitura filosófica sem que ele se familiarize com o universo específico em que essa atividade se desenvolve, sem que ele se aproprie de um quadro referencial a partir dos conceitos, temas, problemas e métodos conforme elaborados a partir da própria tradição filosófica (BRASIL, 1999, p. 102). São os itens referendados na citação acima, tais como: conceitos, temas, problemas e métodos, que são abordados em mais uma publicação, que, em 2002, chega aos profissionais da educação. Intitulada como PCN+ EM: Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002). Tal documento registra que se trata de um facilitador da organização do trabalho da escola por meio de um diálogo com os professores de Filosofia ou como se refere aos filósofos-educadores. Denota-se, a partir da leitura desse documento, uma conversa direta com o professor, explicitando “a articulação entre os conceitos estruturadores e as competências gerais que se desejam promover” (BRASIL, 2002, p.7). O presente documento trata especificamente do trabalho de planejamento do professor nas disciplinas das Ciências Humanas, com análises e recomendações para o desenvolvimento do projeto pedagógico da escola. Nota-se, com seu estudo, que existe um diálogo voltado ao professor de Filosofia, apontando conteúdos específicos, com a sugestão de três eixos temáticos subdivididos em três temas, diluídos por alguns subtemas alicerçados para o desenvolvimento das competências já sugeridas, tornando possível que seus conceitos, competências e conhecimentos sejam desenvolvidos e reforçados em conjunto, como podemos observar a seguir: 47 Quadro 3 – Eixos, temas e subtemas10 EIXOS TEMÁTICOS Relações de poder e democracia Temas 1. A democracia grega Subtemas · A ágora e a assembléia: igualdade nas leis e no direito à palavra · Democracia direta: formas contemporâneas possíveis de participação da sociedade civil 2. A democracia contemporânea · Antecedentes: - Montesquieu e a teoria dos três poderes - Rousseau e a soberania do povo · O confronto entre as ideias liberais e o socialismo · O conceito de cidadania 3. O avesso da democracia · Os totalitarismos de direita e esquerda · Fundamentalismos religiosos e a política contemporânea A construção do sujeito moral Temas Subtemas 1. Autonomia e liberdade · Descentralização do indivíduo e o reconhecimento do outro · As várias dimensões da liberdade (ética, econômica, política) · Liberdade e determinismo 2. As formas da alienação moral · O individualismo contemporâneo e a recusa do outro · As condutas massificadas na sociedade contemporânea 3. Ética e política · Maquiavel: as relações entre moral e política · Cidadania: os limites entre público e privado O que é Filosofia Temas Subtemas 1. Filosofia, mito e senso comum · Mito e Filosofia: o nascimento da Filosofia na Grécia · Mitos contemporâneos · Do senso comum ao pensamento filosófico 2. Filosofia, ciência e tecnocracia · Características do método científico · O mito do cientificismo: as concepções reducionistas da ciência · A tecnologia a serviço de objetivos humanos e os riscos da tecnocracia · A bioética 3. Filosofia e estética · Os diversos tipos de valor · A arte como forma de conhecer o mundo · Estética e desenvolvimento da sensibilidade e imaginação Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais Mais/PCN+ (BRASIL, 2002, p. 52-53) 10 O presente quadro tem como objetivo apenas ilustrar o que está sendo descrito. Não é nossa intenção fazer uma análise dos conteúdos abordados, apenas desejamos demonstrar que há um cuidado em apresentar os conteúdos propostos para serem verificados pelos professores. 48 Podemos perceber que ocorre um avanço e a confirmação da reformulação do Ensino Médio, bem como na preparação de seus professores, que vai desde a explicação sobre as competências e a articulação entre as áreas, corroborando com o trabalho iniciado nas DCNEM (1998) e o que está disposto no artigo 36, da LDB 9394/96 (BRASIL, 1996). Finda o documento com uma análise das práticas dos professores, que, ao entender da publicação, devem se encontrar em permanente formação. Essa relevância com os demais documentos é referendada com o estudo da publicação seguinte em âmbito federal. Em 2006, tivemos a publicação das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) que, dentre todos os itens descritos pelos documentos legais que a antecederam, organiza suas ações, a fim de “apontar e desenvolver indicativos que pudessem oferecer alternativas didático-pedagógicas para a organização do trabalho pedagógico, e para atender às necessidades e expectativas das escolas e dos professores na estruturação do currículo do ensino médio” (BRASIL, 2006, p. 8). As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) levantam a discussão a partir dessa nova estrutura do Ensino Médio, para a revisão dos cursos de formação e preparação de professores de Filosofia partindo mais à frente, para a ampliação da pós-graduação. É notável, ainda, que nesse caminhar se estabelecem desde subsídios para definição dos temas e conteúdos a serem trabalhados, além do material didático a ser utilizado. São abordadas, assim, discussões sobre a busca de uma caracterização e significação para a Filosofia, os objetivos da Filosofia nesse nível de ensino, as competências e habilidades já referendadas no próprio PCNEM e PCN+ (BRASIL, 1999 e 2002), a sugestão mais aprofundada dos conteúdos a serem desenvolvidos para a elaboração de propostas curriculares, e a metodologia, que expõe as técnicas mais utilizadas nas aulas, como também, as práticas pedagógicas da disciplina. São lícitas e de extremo reconhecimento, em um documento legal, a importância e a validade atribuídas ao profissional devidamente qualificado, que: 49 (i) solicita uma competência profissional específica, de sorte que os temas próprios da Filosofia devam ser determinados por uma tradição de leitura consolidada em cursos de licenciaturas próprios; (ii) solicita do profissional já formado continuidade de pesquisa e formação especificamente filosóficas; (iii) evita a gratuidade da opinião, com a qual imperariam docentes malformados, embora mais informados que seus alunos, suprimindo o lugar da reflexão e da autêntica crítica; e (iv) determina ainda o sentido da utilização de recursos didáticos e de quem pode usar bem esses recursos, de modo que sejam filosóficas as habilidades de leitura adquiridas. (BRASIL, 2006, p. 37-38) Publicações oficiais foram elaboradas para que o estudo e o preparo dos profissionais fosse mais incentivado. Inferimos, que, em âmbito federal, a legalização e possível obrigatoriedade da Filosofia, enquanto disciplina curricular, despontava com grande aderência. Contudo, em outubro de 2001, mesmo após tramitar por três anos na Câmara e no Senado Federal e ser aprovado pela Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei, que trazia o retorno da Filosofia como disciplina obrigatória no Ensino Médio foi vetado pelo então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Os argumentos que fundamentaram o veto foram o aumento orçamentário dos estados e municípios e a falta de professores formados para as exigências da obrigatoriedade da disciplina. Em 07 de julho de 2006, o Conselho Nacional de Educação confirma que as disciplinas de Filosofia e Sociologia se tornavam presença obrigatória nos currículos escolares em âmbito nacional. Todavia, efetivamente, em 02 de junho de 2008, o então vice-presidente da República, José Alencar, no exercício do cargo de Presidente da República sanciona a Lei nº 11. 684 (BRASIL, 2008), que altera o artigo 36 da LDB 9394/96 (BRASIL, 1996), para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do Ensino Médio em nível nacional. Dessa maneira, era necessária a elaboração de uma proposta pedagógica que respeitasse as diretrizes comuns já discriminadas e desenvoltas pelas DCNEM, PCNEM, PCN+ e OCNEM (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006), em âmbito estadual. E, nesse sentido, aponta Gonçalves (2011, p. 44): “a proposta curricular do estado de São Paulo respeita as Orientações Curriculares, acata os Parâmetros Curriculares e as disposições da LDB”. 50 Assim, entende-se que a elaboração de uma Proposta Curricular do estado de São Paulo11 possibilitaria consagrar uma base curricular, alinhavando conteúdos, competências e habilidades, que fossem desenvolvidos como projeto pedagógico alinhado ao processo de formação docente. Prossegue Gonçalves (2011, p. 44): Procura superar, a partir da adoção das competências e habilidades, “programas demasiadamente ambiciosos pela extensão e pelo caráter enciclopédico” (grifos da autora), como já foi feito em períodos anteriores. Para superar concepções passadas, considerando o próprio caráter do ensino a partir das competências e habilidades, adotou a abordagem temática da Filosofia. Há de se levar em conta que essa abordagem temática da Filosofia coaduna com as propostas federais a que já nos referimos. Entretanto, intensifica a possibilidade de abordagens realizadas pelo professor, como também a ampliação dos referenciais, que circundam os objetivos sociais e culturais da educação. Para permear esse aprofundamento, “a Filosofia pode assumir uma das suas principais funções, a de ser uma ferramenta conceitual, produtora de síntese, com o que animaria o debate multidisciplinar, elevando os padrões do Ensino Médio” (SÃO PAULO, 2008, p. 43). No ano 2011, essa Proposta se consagra efetivamente na publicação do Currículo do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2011)12. O Currículo se apresenta como um reflexo da proposta, que vigorava anteriormente, em que foram pesquisados e sujeitos à análise as práticas pedagógicas do que antes havia sido proposto. Esse documento, de acordo com sua própria descrição, apresenta-nos princípios orientadores para o desenvolvimento da prática educativa eleita para o Estado de São Paulo. O cerne desenvolvido em tal documento apresenta-se com os seguintes itens: um histórico sobre o ensino de Filosofia; os fundamentos para o ensino 11 A Proposta Curricular do Estado de Filosofia é um material de apoio didático, que conta com a Revista do Professor, Cadernos do Gestor, do Professor e do Aluno, que foram distribuídos a partir de 2009. 12 De acordo com as indicações desse próprio documento curricular há outras publicações, que garantem a gestão desse Currículo na escola. Nesses termos, temos: o Caderno do Gestor, dirigido às unidades escolares, aos professores coordenadores, diretores, professores coordenadores das oficinas pedagógicas e supervisores; os Cadernos do Professor e do Aluno, que são organizados por disciplina/série (ano)/bimestre em que são apresentadas as situações de aprendizagem para orientar o trabalho do professor no ensino dos conteúdos disciplinares específicos e a aprendizagem dos alunos. 51 de Filosofia e propriamente, para o ensino de Filosofia para o Ensino Médio; a organização de conteúdos; a metodologia de ensino-aprendizagem dos conteúdos básicos; os subsídios para a implantação do currículo; a organização das grades curriculares discriminadas pelos seus conteúdos, habilidades e competências, organizados por série/ano. Com todos os itens descritos nessa última publicação, destacando os conteúdos abordados, as competências e habilidades mencionadas, alinhamonos ao entendimento de Gimeno Sacristán (1998, p. 21), quando revela que “o currículo, evidentemente é algo que se constrói, seus conteúdos e suas formas últimas não podem ser indiferentes aos contextos nos quais se configura”; uma vez que há uma referência ao que está presente nos documentos anteriores como as DCNEM, PCNEM, PCN+ e OCNEM (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006). Por fim, podemos observar nesse contexto a disciplina de Filosofia a partir de uma presença indefinida, uma ausência definida, uma presença controlada, até mesmo uma presença inócua (ALVES, 2002). Percebe-se que se, anteriormente, foram criados mecanismos que incutiam ideias, que tangiam ao controle da sociedade e do desenvolvimento do pensar, na circunstância hodierna, a Filosofia entra no quadro curricular a fim de viabilizar o exercício da cidadania. Mediante essas disposições ideológicas, temporais e contraditórias, cumpriu-se a efetivação da Filosofia enquanto disciplina, que reverbera com outras demandas, que são norteadas por questões filosófico-pedagógicas, pela utilização de materiais, metodologia e didática de ensino aplicada, formação inicial e continuada de professores. Nesse ponto, referenciamos Alves (2009b), quando aborda que “é preciso voltarmos para o que fazer didático-pedagógico da Filosofia na sala de aula e, por conseguinte, repensar a formação filosóficopedagógica dos professores de Filosofia (licenciatura) para o magistério desse nível de ensino”, e, dessa forma, postergarmos a continuidade dessa discussão para o próximo capítulo. 52 CAPÍTULO 2 O PROFESSOR DE FILOSOFIA NA PRÁTICA EDUCATIVA Indagar sobre o que se pode saber é rejeitar a pretensão de afirmar que já se disse ou se escreveu tanto sobre os saberes que pouco resta a ser conhecido. [...] Assim é importante fazer a provocação no sentido de pensarmos sobre o que necessitamos, o que queremos e o que podemos saber. (RIOS, 2010b, p. 104) A análise empreendida no capítulo anterior nos permite pensar o ensino de Filosofia de acordo com a perspectiva histórica do componente curricular. Entretanto, ainda nos confrontamos com maior assertividade sobre algumas questões: como, o quê, por quê, para quem e quais objetivos ensinar? Algumas destas perguntas foram, de certo modo, esclarecidas pelos documentos oficiais DCNEM, PCNEM, PCN+, OCNEM (BRASIL, 1998, 1999, 2002, 2006) e o Currículo do Estado (SÃO PAULO, 2011). Porém, há especificidades que se configuram como elementos provocadores e devem ser levadas em conta para nos auxiliarem a estabelecer questões conceituais sobre a filosofia que estamos discutindo. Desse modo, em se tratando especificamente sobre seu ensino, compete-nos, em um primeiro momento, esclarecer um entendimento sobre que filosofia está sendo falada e, também, de que ensino estamos nos referindo. Autores, que tratam do ensino de Filosofia em diversos níveis e, aqui, podemos citar, mais enfaticamente, Cunha (2002; 2008), Lorieri (2002), Ghedin (2008) e Gallo (2012), nos convidam a estudar sobre a especificidade do professor de Filosofia em diversos níveis de ensino, bem como na necessidade de uma intervenção sobre o currículo e a formalização de uma possível metodologia para o ensino-aprendizagem. Nesse ponto, merece enfatizar que não desejamos, nessa dissertação, fazer um estudo didático ou metodológico sobre o ensino de Filosofia. Nossa perspectiva cumpre necessariamente o que foi apontado na introdução: compreender os saberes docentes presentes na 53 percepção dos professores de Filosofia, no Ensino Médio, mediante as necessidades da sua formação e prática de ensino. A partir desse entendimento delimitaremos nosso estudo na abordagem dos saberes docentes, de acordo com Tardif (2012), e por conseguinte, na prática educativa desse professor, com base em Abdalla (2006) e Cunha (1997). Assim como apontado nos documentos oficiais analisados, estamos buscando conhecer o que se pretende enquanto ensino de Filosofia na prática educativa desse professor, que vem a ser fundamentada nos seus saberes. 2.1 Sobre a Filosofia e o seu ensino Presentes, na LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996), as noções de Filosofia para o exercício da cidadania já denotam que a Filosofia se configura nas atitudes humanas e em como são apresentadas. Enquanto atividade de consciência humana, a Filosofia se constitui pelo pensar que, em seu processo cognitivo, se articula e recebe algumas características. Lorieri (2002, p. 96-100) descreve sete características para o pensamento. A primeira é que enquanto autônomo, o pensamento possibilita para o indivíduo um estímulo para pensar por si mesmo sobre qualquer assunto, tornando-se o autor da ideia. O pensamento crítico é aquele em que há uma problematização e uma reflexão a fim de ser “re-visto” o que já se encontrava como certo ou préestabelecido. Já o pensamento criativo nos possibilita buscar outras alternativas, que sejam reinventadas e, até mesmo, traçadas novas possibilidades. É tido como pensamento reflexivo, quando nos atemos ao que já foi pensado e nos colocamos a pensar novamente, com mais afinco. As três características que restam ser apresentadas, também são encontradas em Saviani (2004, p.20), que as considera pertinentes à reflexão filosófica e, portanto, as descreve como: radical, visto que o problema 54 investigado deve ser averiguado com profundidade, propondo ir a fundo em nossa compreensão, realizando uma análise minuciosa. A seguir, nos apresenta como rigoroso, para que não levemos em conta conclusões a priori, apressadas, em que não sejam apresentados fundamentos. Não obstante, o pensar ainda é conceituado como uma perspectiva de conjunto, ou seja, contextualizado, em que existe um contexto abrangente, que passa a ser examinado em todos os seus diversos segmentos. Essas características proporcionam que possamos pensar com mais clareza, de forma reflexiva e crítica, até mesmo sobre as questões mais simples que nos são apresentadas. Portanto, seu ensino confere uma expressiva contribuição e significação ao ser tratado com importância, conforme afirma Gallo (2012, p.39): A filosofia é, possivelmente, o campo de saber mais plurívoco e, portanto, aberto e suscetível de muitos equívocos. Não se pode falar em “filosofia” de forma geral, sem dizer de que filosofia falamos. Da mesma maneira, não se pode falar em “ensinar filosofia” como se se tratasse de algo geral e universal. Enunciando de forma um pouco diferente o que foi afirmado acima, falar em ensinar filosofia é falar em ensinar uma determinada filosofia, ou em ensiná-la a partir de uma determinada perspectiva. Para tal, tomamos por princípio esclarecer o pensamento que é corrente da dualidade kantiana sobre o ensinar filosofia ou ensinar a filosofar. É necessário elucidar que quando tratamos de ensinar Filosofia, quer dizer que se ensina algo como um produto que está presente no estudo da história da filosofia. Ao tocarmos em ensinar a filosofar, referimos-nos a um processo, que ocorre mediante o encaminhamento dado pelo professor às suas aulas, uma vez que o filosofar, seguindo as características acima descritas, deve ser exercitado por meio da análise, investigação e crítica dos sistemas filosóficos já existentes. Gallo (2012, p.44) nos explica que “filosofia é processo e produto ao mesmo tempo; só se pode filosofar pela história da filosofia e só se faz história filosófica da filosofia, que não é mera reprodução.” Nesses termos, o que os documentos analisados, no primeiro capítulo, enfatizam e norteiam sobre seu ensino é o trabalho integrado desse professor 55 entre uma retomada e a apresentação das ideias e dos conceitos trabalhados durante a história da Filosofia. O diferencial desse ensino está na abertura das aulas como um espaço de diálogo e reflexão para esse trato histórico em que há a possibilidade de um cruzamento dessas informações, permitindo que o aluno reflita sobre os temas e problemas existentes, e onde o processo a que se chega é o conceito, conforme apontado por Gallo (2012, p. 70-71): Se esperarmos da filosofia uma espécie de ensino ativo, mobilizado para que o estudante seja capaz de pensar por si mesmo (isto é, um aprendizado ativo), para além das experiências em que sua atividade não é mais do que uma “recognição” (...) então é necessário que ele faça a experiência do conceito, a experiência do pensamento conceitual. Para tanto, o processo educativo deve ter por base a experiência do problema como mobilizador e motor do pensamento, para que seja possível a criação conceitual. Esse parece ser o único caminho possível para que o ensino de filosofia não seja mais um mero “contar histórias” e seu estudo um mero “escutar histórias”. Entretanto, todo esse trabalho deve ser contextualizado para a vivência do educando e, nesse caso, é oportuno salientar que pensar nessas ideias e conceitos de maneira ativa e local, ou seja, na vida de cada um, bem como na sociedade atual, se torna mais salutar a proximidade com o aluno. Com isso, não se trata de realizarmos anacronismos com o pensamento histórico filosófico, mas trazê-lo mais próximo do aluno para que ele também pense sobre os conceitos apresentados, enfatizando o aprendizado ativo, o pensar por si mesmo e o seu processo de conceituação. Ao conceituar é necessário estabelecer o que se entendeu, permitindo uma maior reflexão e interpretação, relacionado ao seu pensamento criativo, que vai recriar os conceitos, de modo que norteiem todo o problema, possibilitando estabelecer, até mesmo, novos conceitos. Assim, lembra-nos Cerletti (2009, p.33) que “em toda filosofia há algo de repetição e algo de criação”. Ainda prossegue o autor: O que definirá a potência de um filosofar é a preponderância dos elementos de novidade ante os da continuidade. É o que marca o aparecimento de um pensamento original que julga, reacomoda ou transforma os conhecimentos filosóficos até então dominantes. 56 A realização desse exercício filosófico vai corroborando para que o aluno perceba, por meio da própria reflexão filosófica, o desenvolvimento de todo o seu pensamento, como pensava antes e depois. Esse momento possibilita ao aluno entender que mais do que conhecimentos específicos adquiridos, o exercício filosófico pode tornar-se uma prática na sua vida, como conclui Severino (2011, p.82): Cabe à Filosofia pois, ajudá-lo a compreender o sentido da própria experiência existencial, situando-a em relação ao sentido da existência humana em geral. Pode-se então dizer que o papel pedagógico da Filosofia, na condição de uma mediação curricular, é o subsidiar o jovem aprendiz a ler o seu mundo e a se ler inserido nele. Eis porque se diz que se quer levar o aluno à reflexão do exercício do pensamento, à apreensão do sentido das coisas. Contudo, para que essa percepção do aluno em relação ao seu aprendizado e desenvolvimento seja estimulada, é imprescindível nos atermos ao educador, que efetivamente, é o sujeito de nossa pesquisa. 2.2 O professor de Filosofia Como verificamos no capítulo anterior, os primeiros professores de Filosofia foram os religiosos, que ministravam, em suas aulas, o ensinamento da fé, permitindo que fosse aflorada, juntamente à religiosidade, a discussão metafísica e, de certo modo, fosse elevado o pensamento de filósofos cristãos. Determinado por questões diferentes, como também já verificamos, sejam sociais, políticas e educacionais, o outro grupo – dos leigos e grandes intelectuais – também foram apresentados como docentes. Desse modo nos voltamos para a realidade hodierna, em que podemos perceber claramente que o professor, que ministra aulas de Filosofia13, deve possuir curso superior de licenciatura, e, de preferência, que deveria ser de Filosofia. Entretanto, conforme apontará o capítulo, a seguir, sobre a formação dos sujeitos da pesquisa, nem sempre encontramos tal fato. 13 De acordo com o exposto pela LDB 9394/96, no artigo 62 (BRASIL, 1996), o profissional para atuar na educação básica (o que inclui o Ensino Médio) deve possuir curso superior de licenciatura, de graduação plena, em universidade e instituto superior de educação. 57 A formação do professor de Filosofia14 no curso de licenciatura não ocorre apenas com o estudo das disciplinas, que integram os conhecimentos específicos filosóficos ou também denominadas anteriormente, como puras. Há uma integração entre essas disciplinas e aquelas que fazem parte do quadro pedagógico. Há, para os professores em formação, um alicerce entre o que ensinar formado pelos conhecimentos das disciplinas filosóficas e o como, sustentado pelas disciplinas pedagógicas. Por meio da aprovação da Lei nº 11. 684 (BRASIL, 2008), a formação de professores de Filosofia se evidenciou mais necessária. Entretanto, em 2002, o Conselho Nacional de Educação publicou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciatura (CNE/CES 12/2002), que já determinavam o cumprimento de práticas pedagógicas e estágio para o aperfeiçoamento da relação teoria e prática. Visto que, como já descrevemos sobre o ensino de Filosofia que é proposto, cabe-nos alinhavar como o que se propõe se relaciona ao que se espera do professor. Para tal fato, atemo-nos a Ghedin (2008), Severino (2011) e Gallo (2012). Entendemos que um professor de Filosofia em sua formação adquire cabedal teórico, porém é imprescindível que se faça a mediação com alguns requisitos que são esperados dos alunos e, para tal, devem ser desenvolvidos pelo professor e, nesse ponto, ele precisa possuir tal competência. Sem dúvida, uma boa formação teórica é importante, e, neste sentido, o professor deve possuir um domínio abrangente e crítico da história da Filosofia, o que possibilita a clareza do que deve ser ensinado, do que pode interferir na escolha de materiais, no planejamento das aulas entre outros. Outro aspecto é relacionado a uma característica na atuação enquanto filósofo que possa articular entre ser professor e um pesquisador, para a realização de pesquisas, que demonstrem uma postura ativa de criação e de participação. 14 E, nesse aspecto, esclarecermos que tomaremos a definição de professor de Filosofia para nossa pesquisa, diferentemente de alguns autores que estudamos e, aqui, fazemos referência ao “professor filósofo”, de Cerletti (2009), ao “filósofo-professor”, de Gelamo (2009), e ao “filósofo educador” dos PCN+ EM: Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002). 58 Com essa disposição de ação, mais facilmente esse professor terá acesso a diferentes recursos musicais, literários, de filmes etc. O domínio cultural possibilita ao professor interagir com outras áreas, com outros tipos de textos, conhecer a realidade do aluno e incentivar outros gostos. De extrema importância o domínio das técnicas de leitura, interpretação e produção de textos filosóficos, uma vez que aparecem nas competências e habilidades do PCN (BRASIL, 1999) visando ao desenvolvimento dos alunos. Cumpre que o professor esteja habilitado para mediar essa aproximação aos textos, interpretação e transcendência por meio da produção textual dos estudantes. A partir desse momento, entende-se que ocorre, em cada profissional, uma construção ativa crítica, que podemos também chamar de subjetiva, em que cada qual reflete sobre o que lhe apraz enquanto ensino filosófico e se constitui enquanto profissional. Como afirma Cerletti (2009, p.9): Trata-se, muito mais do que ocasionais desafios pedagógicos, de verdadeiros questionamentos filosóficos e políticos. A docência em filosofia convoca os professores e as professoras como pensadores e pensadoras, mais do que transmissores acríticos de um saber que supostamente dominam, ou como técnicos que aplicam estratégias didáticas ideadas por especialistas para ser empregadas por qualquer um, em qualquer instância. A diversidade reflexiva e questionadora da Filosofia é, então, caracterizada pelo autor citado, como um problema filosófico do ensino de Filosofia. Nesse ponto, apoiamo-nos nessa caracterização a fim de analisar o profissional que está sendo constituído. O licenciando inicia um processo reflexivo desde sua postura enquanto aluno, percebendo: seus professores e o processo de ensino aprendizagem; a realidade educacional, presente no contato por meio do estágio; a posição ideológica a ser tomada; e sua contribuição social e educacional. Esse sujeito passa a se constituir professor desde o início dos seus estudos, das experiências vividas que acabam sendo internalizadas e transformadas em pensamentos e ações de como ensinar. Abdalla (2006, p. 31) vai utilizar o termo necessidades pessoais ou subjetivas para referir-se ao professor, enquanto pessoa na composição de suas experiências de vida, 59 extraindo, por outro lado, as necessidades profissionais e intersubjetivas, que se referem mais propriamente ao processo de autoconhecimento e conhecimento do outro. O constituir-se do professor é um movimento subjetivo; entretanto, é intrínseco nas relações que estabelece com aqueles que o rodeiam. Trata-se, então, de um processo de alteridade no qual há uma abertura do outro e de si mesmo. Esse laço de construção da identidade também é referendado por Rios (2010b, p. 121) como uma permanente construção implicada por um reconhecimento recíproco do “eu” e do “outro”. Visões que, a nosso entender, são fundamentais ao professor enquanto aprendiz e docente. Assim, podemos afirmar que qualquer professor, como também no caso do professor de Filosofia, vivencia e se forma à medida que interage com os demais. Esse professor em formação se mostra aberto às diferentes teorias e, neste processo, experiencia essa diversidade, criando relações com sua vivência enquanto aluno, seja nos espaços escolares e nas relações humanas confirmando, assim, as palavras de Cerletti (2009, p. 59): De tal modo que um professor dispõe – quase que “espontaneamente” – de uma multiplicidade de teorias, em geral desconexas, instáveis, desarticuladas, algumas até contraditórias entre si, que foram sendo incorporadas, fundamentalmente, em sua experiência inicial como aluno, em seguida como estudante de licenciatura e depois, finalmente, como professor regente. A carreira docente pode ser entendida como estabelecida enquanto ainda somos estudantes, até mesmo da educação básica. Entende-se que o professor é aquele que já vivenciou o ser aluno antes mesmo da sua escolha profissional. Já na formação docente há a possibilidade de adquirir posturas e posicionamentos que traçam sua posição enquanto o que é ensinar Filosofia e como ensiná-la. Essa posição de questionador é que se torna o diferencial do professor de Filosofia, pois expressa seu compromisso filosófico, que tem uma correlação por uma decisão pedagógica. O que Cerletti (2009, p.19) denomina como intervenção filosófica. O agir reflexivo de um professor de Filosofia é sustentado por uma série de elementos, que vai se constituindo no processo dialógico, seja com seus pares e alunos. Em alguns momentos, reafirmamos e percebemos que os 60 professores de Filosofia chegam a contagiar seus pares, depositando subliminarmente uma inquietude e o refletir constante sobre como ensinar e o que deve ser ensinado. Para Aspis (2004), as aulas de Filosofia são locais onde ocorrem experiências filosóficas, que são construídas nessa relação professor-aluno e, portanto, ensino-aprendizagem. As mesmas inquietações reflexivas, que a Filosofia provoca em seus professores, são experimentadas pelos alunos. Desse modo, Aspis (2004, p. 310) afirma: As aulas de filosofia, como lugar de experiência filosófica, têm como objetivo oferecer critérios filosóficos para o aluno julgar a realidade por meio da prática do questionamento filosófico e da construção de conceitos, por meio do exercício da criatividade e avaliação filosóficas. Assim, além dos critérios e do modo de pensar da indústria, do consumismo ou da mídia, além dos critérios e do modo de pensar da tradição e da ciência, o aluno passará a dispor dos critérios e do modo de pensar da filosofia para compor seu pensamento de forma autônoma, pois autoconsciente e, portanto, metacognitivo. Não há como negar que esse professor vai além do ensinar Filosofia, está preocupado com o desenvolvimento do próprio pensar de seu aluno, e busca em suas aulas uma prática intelectual, enfatizando seu potencial cognitivo. Nesses termos, verificamos que há uma linha tênue com os saberes docentes e, para melhor compreensão, passamos a estudá-los. 2.3 Os saberes docentes Para que possamos compreender as dimensões que permeiam a prática educativa do professor de Filosofia, no Ensino Médio, é necessário investigar sua trajetória, desde a formação, perpassando pelos conhecimentos, que se apresentam, ora teóricos, ora de sua prática, revelados pelos seus saberes. Assim, afirma Tardif (2012) que os saberes são apresentados desde a formação, bem como na descrição da experiência e prática docente. Nesse sentido, entendemos que há um conjunto de aspectos individuais e sociais, de experiências individuais e coletivas que se contextualizam e, de certa forma, se completam, incorporando uns aos outros. 61 Os saberes dos professores são entendidos dentro de seu contexto de vida e profissional. Eles se apresentam como uma incorporação na sua subjetividade, uma vez que antes da sua própria atuação, o professor já está imerso nesse mesmo universo, adquirindo a formação de seu saber, que é o espaço escolar. Tal fato expõe a preocupação de Tardif (2012, p.35), ao enfatizar a integração dos processos de formação, que doravante são coordenados por agentes educacionais. De acordo com o exposto acima, os saberes estão integrados devido à coordenação dos agentes educacionais; entre eles, o próprio professor, que se torna um dos responsáveis. Desse modo, o saber do professor cumpre uma característica cultural, na formação integral, bem como na transmissão e produção de outros saberes que estão ligados à competência técnica e pedagógica. Ocorre um processo relacional entre os professores e seus próprios saberes que integram sua prática. Além disso, os saberes docentes são classificados, por Tardif (2012, p. 36), como saberes da formação profissional, disciplinares, curriculares e experienciais. Assim, o autor caracteriza os saberes da formação profissional “como um conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação de professores (escolas normais ou faculdades de ciências da educação)”. Esses saberes são destinados propriamente à formação, e estão ligados à prática científica e à prática docente. Nos cursos de formação de professores de Filosofia, geralmente a produção científica fica imersa nos estudos das obras filosóficas, na participação em congressos e na própria produção de artigos que estão ligados à iniciação científica. A prática docente é, assim, incorporada pela realização de estágios e projetos em comunidades que visam à formação aliada aos conteúdos trabalhados pelas disciplinas pedagógicas. Tardif (2012, p. 37) ainda salienta que esses saberes conduzem o “arcabouço ideológico à profissão e, por outro, algumas formas de saber-fazer e algumas técnicas”. E o conhecimento produzido por meio desse saber acaba se transformando em prática científica articulada com a prática docente por meio da formação inicial ou contínua dos professores. 62 A caracterização desse saber nos remete novamente à discussão se ensinamos Filosofia ou ensinamos a filosofar, que já foi empreendida no início desse capítulo. Nesses termos, a perspectiva ideológica apresentada por cada professor na pesquisa de campo realizada, também pode ser vista propriamente na análise de sua prática. Na formação acadêmica o professor ainda encontra os saberes disciplinares, de que dispõem a nossa sociedade na forma de disciplinas, transmitidas pelos cursos e departamentos universitários independentes das faculdades de educação e dos cursos de formação de professores. Esses saberes “emergem da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes”, conforme destaca Tardif (2012, p. 38). Em relação aos estudos filosóficos, entendemos que esses saberes são aqueles provenientes das disciplinas chamadas de puras, ou seja, as disciplinas que fazem parte do estudo específico do curso de Filosofia. (CERLETTI, 2009), tais como: História da Filosofia, Lógica e Linguagem, Estética, Teoria do Conhecimento, Problemas Metafísicos, Hermenêutica Filosófica, Filosofia da Ciência, Filosofia Política, Ética, Filosofia da Religião, Filosofia Latino-Americana entre outras. Mesmo com o estudo dentro da formação específica, o próximo grupo, elencado por Tardif (2012, p. 38), são os saberes curriculares, que correspondem aos “discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita”. Esses saberes se referem aos programas escolares que os professores devem conhecer. Para o professor de Filosofia, esses saberes denotam o acesso e integração do que e como ensinar. Devemos enfatizar que esses saberes são norteados pelas diretrizes, apresentadas no capítulo anterior, principalmente, no que diz respeito às publicações oficiais (BRASIL, 1998, 1999, 2002 e 2006; SÃO PAULO, 2008 e 2011). Por fim, Tardif (2012) nos apresenta os saberes experienciais, que são aqueles que provêm da prática docente cotidiana. Tais saberes são “adquiridos através da experiência profissional e constituem os fundamentos da sua 63 competência” (TARDIF, 2012, p. 48). Esses saberes não provêm das instituições e nem da formação curricular, são formados pela subjetividade dada pela interpretação, compreensão e orientação de cada professor. Nessas circunstâncias, o que é evidenciado, nesse saber, é a relação dos professores com sua prática e como ela se revela, visto que esses saberes são aqueles que brotam da experiência individual e coletiva, na sua relação entre o saber-fazer e o saber-ser. Razão pela qual empreendemos o aprofundamento do próximo estudo. 2.4 Os saberes na prática educativa Uma vez que os saberes experienciais são verificados pela expressão da subjetividade docente, os professores tendem a demonstrar que adquiriam “traços da personalidade profissional ou seja, alguns ‘macetes da profissão’, que são chamados de habitus” (TARDIF, 2012, p.49). Nesse aspecto, relacionamos com o conceito de Bourdieu, apresentado, também, por Abdalla (2006, p. 79), em que se torna um “princípio gerador e unificador, que retraduz características intrínsecas e relacionais de uma posição em um estilo de vida unívoco”. Esse habitus, que nos referencia Abdalla (2006), pode provocar no docente sua própria conservação e/ou transformação, como também, de sua prática, por meio do (re) conhecer, (re) fazer e (trans) formar sua própria ação, em que a partir do seu trabalho e a relação com o conhecimento, estabelece um enfrentamento entre as situações pedagógicas e questões metodológicas. São estas as suas palavras, quando se refere a um estudo de caso em que o professor: (...) foi-se apropriando do próprio processo de formação, porque passou a: 1º) (re) conhecer melhor a sua realidade e as possibilidades, superando as necessidades pessoais/profissionais e organizacionais; 2º) assumir novas posições de enfrentamento, tomando consciência de suas próprias capacidades de compreender e interagir profissionalmente; 3º) intervir na realidade, imprimindo um novo 64 habitus, em correspondência com suas necessidades práticas (ABDALLA, 2006, p.80) A experiência para o professor o faz refletir e rever suas ações, tornando-as mais adequadas e modificando-as a cada desafio. O saber-ser e saber-fazer, descritos, então, por Tardif (2012), nos remete à pesquisa desenvolvida, também, por Cunha (1997, p.105-106) sobre os bons professores, que, na organização de seus dados, elencou três referenciais que orientam nosso pensamento sobre a prática dos docentes. O primeiro deles se refere às relações estabelecidas pelo professor com o ser e o sentir. Uma vez imbuído dos saberes experienciais, ou seja, da sua prática, o professor tem a possibilidade de elencar as situações que lhe são necessárias e, nesse aspecto, recorremos às considerações feitas por Abdalla (2006) sobre o (trans) formar sua ação. O segundo diz respeito às relações estabelecidas com o próprio saber, em que os saberes disciplinares e curriculares se entrecruzam para a produção de conhecimento, na relação entre teoria e prática. E, por fim, o terceiro referencial são as relações estabelecidas com o fazer, em que o professor mede sua execução, sua própria ação. Os saberes docentes integram, assim, as relações inferidas pelos professores dentro do seu sentir – saber – fazer, a fim de provocar e significar o sentido do ser e estar na profissão, que permite ao professor mobilizar as informações, que possui, a fim de mediar, também, sua aprendizagem uma vez que: Conhecer é aprender. Aprender é a apropriação do existente, produzir o novo, ressignificar o mundo. Conhecer para o professor é, portanto, sentir e compreender a realidade para ser possível escolher conscientemente, tomar decisões, intervir, buscar constantemente o novo, problematizando o velho, fazer o registro da história do grupo com o qual compartilhamos as múltiplas formas de conhecer: os múltiplos saberes (ABDALLA, 2006, p.95) Entendemos nesta perspectiva que são os saberes, por vezes, desconhecidos pelos próprios professores, que projetam as ações reflexivas, que permeiam a tríade - sentir – saber – fazer - desse profissional que, por 65 vezes, age na incerteza, mas busca referenciais para sua prática educativa, validados pela execução dentro de sua profissão. Saberes que, de acordo com Abdalla (2006, p.95), “se desdobram em objetivos sociais e pedagógicos, nas especificidades de conteúdo e metodologias, em um saber escolar (grifos da autora)”. Saberes, que ora se “estruturam/organizam o trabalho docente”, que fazem “refletir sobre a nossa prática” e o nosso próprio conhecimento e que “afeta existencialmente o professor” (p. 95). O “refletir sobre a nossa prática”, elencado por Abdalla (2006), alia ao que Gimeno Sacristán (1995) propõe ao descrever sobre as relações do professor com sua prática educativa. Vejamos como descreve o autor: Os professores não produzem o conhecimento que são chamados a reproduzir, nem determinam as estratégias práticas da acção. Por isso, é muito importante analisar o significado da prática educativa e compreender as suas consequências no plano da formação de professores e do estatuto da profissão docente (GIMENO SACRISTÁN, 1995, p.68) Dessa forma, ao analisarmos o professor e, no caso desta pesquisa, o professor de Filosofia, precisamos considerar sua prática educativa, entendendo que “o professor é responsável pela modelação da prática, mas esta é a intersecção de diferentes contextos” (GIMENO SACRISTÁN, 1995, p.74). E nesse aspecto, prossegue o autor: O docente não define a prática, mas sim o papel que aí ocupa; é através da sua atuação que se difundem e concretizam as múltiplas determinações provenientes dos contextos em que participa (GIMENO SACRISTÁN, 1995, p.74) Nesse sentido, cabe ressaltar que a prática educativa não depende unicamente do professor. Ou seja, está inserida em todo contexto pedagógico de sua atuação aliada ao contexto profissional, em que se permeiam suas ideologias, crenças, saberes, que legitimam sua prática, como também a seu contexto sociocultural, em que estão inseridos os valores e conteúdos considerados importantes. Todas essas influências que existem na educação sejam por ações diversas, que influem na prática didática dentro do espaço escolar, em nível 66 metodológico e na prática do professor constituem o sistema de práticas aninhadas, tal como demonstra a Figura a seguir. Figura 1 – Sistema de Práticas Educativas Aninhadas Fonte: Consciência e acção sobre a prática como libertação profissional dos professores (GIMENO SACRISTÁN, 1995, p. 69) De acordo com Gimeno Sacristán (1995, p. 74), esse sistema de práticas aninhadas é composto: 1º pela própria prática pedagógica de caráter antropológico, que é resultado da cultura e do entendimento partilhado pela sociedade; 2º pela prática institucionalizada, que gerencia o funcionamento e a estrutura do sistema escolar, a índole organizativa e as situações didáticas e educativas de sala de aula, enfatizando a prática profissional, ou seja, a profissionalização docente; 3º pelas práticas concorrentes, que são atividades práticas de caráter não pedagógico, são nomeadas como atividades escolares, que exercem influências nas atividades técnicas dos professores, influenciando e inibindo a autonomia dos docentes, o nível de formação e a organização coletiva. O sistema de práticas aninhadas nos auxilia a pensar nos contextos externos que interferem, seja diretamente ou subliminarmente nas ações do professor. Entender e discutir sobre sua prática educativa é compreender, no âmbito dos saberes de Tardif (2012), que há outras situações, externas, que 67 não possuem relação direta com os saberes docentes, mas com a prática educativa. No próximo capítulo, descreveremos os caminhos da pesquisa, destacando a organização e análise dos dados, que serão observadas no capítulo posterior, revelando como os professores se dispuseram a repensar conosco sobre sua prática e seus saberes. 68 CAPÍTULO 3 OS CAMINHOS DA PESQUISA Quando os enigmas se acotovelavam e nenhuma saída se anunciava, o caminho do campo oferecia boa ajuda: silenciosamente acompanhava nossos passos pela sinuosa vereda, através da amplidão da terra agreste. O pensamento sempre de novo as voltas com os mesmos textos ou com seus próprios problemas, retorna a vereda que o caminho estira através da campina. Sob os pés, ele permanece tão próximo daquele que pensa quando do camponês que de madrugada caminha para a ceifa. (HEIDEGGER, 1969) Na sua obra O Caminho do Campo (1969), Heidegger (1889-1976) nos convida para um passeio entre a poesia, a literatura, a infinitude presente nas suas palavras e no percorrer de todo o caminho que se presentifica. Esse caminho, que percorremos com o autor, é um momento de muita introspecção, em que nos calamos para ouvir os pequenos sinais que se desvelam em momentos infinitos e inesperados e, assim, se apresenta esse terceiro capítulo de nosso trabalho, que vai sendo desvelado por meio do contato com a pesquisa realizada. O presente capítulo tem como intuito descrever os fundamentos que balizaram nossa pesquisa, apresentando o percurso estabelecido e utilizado, que procurou investigar a percepção dos professores sobre seus próprios saberes e sua prática docente em Filosofia no Ensino Médio. Em um primeiro momento, enfocaremos sobre o que se trata essa pesquisa quanto à abordagem qualitativa, bem como justificaremos e fundamentaremos essa escolha mediada por Bogdan e Biklen (1994), como também, por Lüdke e André (1986). A seguir, no segundo momento, faremos a caracterização e contextualização dos sujeitos participantes, bem como a apropriação que fazem do seu meio educacional. Descreveremos depois, no terceiro momento, as etapas da pesquisa, os instrumentos utilizados como técnica de coleta, tratamento e análise de dados, 69 mediante a abordagem da análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2011) e Franco (2008). 3.1 A natureza da pesquisa A pesquisa, aqui proposta, tem cunho educacional e como enfoque teórico-metodológico a abordagem qualitativa, alicerçada nas características desenvolvidas por Lüdcke e André (1986, p.1), que tratam do envolvimento necessário entre a pesquisa e o pesquisador, em suas ações e realizações, a fim de “promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e conhecimento teórico”. Nesses termos, o distanciamento da pesquisadora enfatiza o processo que se torna uma característica fundamental, destacando todo o percurso de sua realização para uma análise cuidadosa e criteriosa, justificando a escolha da abordagem “ainda que existam formas de investigação qualitativa, onde todos partilham o objetivo de compreender os sujeitos com base nos seus pontos de vista” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 54). Compreender os pontos de vista dos sujeitos é uma forma de ancorar os objetivos apresentados pela abordagem qualitativa, evidenciando o desenvolvimento de conceitos sensíveis e o conhecimento da descrição de realidades múltiplas (p. 72-74). Ler, entender, compreender e inferir sobre as respostas apresentadas pelos professores de Filosofia, em relação aos seus saberes, representa a caracterização da dualidade constante do seu ensino, em que tramitamos entre o ensinar Filosofia ou ensinar a filosofar, enquanto instrumento necessário para o desenvolvimento cognitivo e crítico do indivíduo e na sua constituição enquanto professor, fundamentado no capítulo anterior dessa dissertação. As técnicas empregadas aqui foram reforçadas com o estudo de diversos documentos, caracterizados como oficiais e descritivos, - análise documental -, e a técnica da análise de conteúdo (BARDIN, 2011) a respeito do discurso dos sujeitos. 70 No desenvolvimento do primeiro capítulo, a técnica utilizada foi a análise documental, que se valeu do estudo de documentos referentes à abordagem curricular do ensino de Filosofia (FRANCA, 1952; COSTA, 1956; PAIM, 1974; CARTOLANO, 1985; MAZAI, RIBAS, 2001; ALVES, 2002; HORN, 2009; GONÇALVES, 2011) e oficiais, tais como a LDB, DCNEM, PCNEM, PCN+, OCNEM (BRASIL, 1996, 1998, 1999, 2002, 2006), e a Proposta Curricular e o Currículo (SÃO PAULO, 2008 e 2011). A utilização de documentos oficiais é encarada como uma análise subjetiva, de acordo com Bogdan e Biklen (1994) e, nesse aspecto, essa pesquisa vem de acordo com os caminhos que convergiam a cada publicação, como também ao que cada uma delas poderia aliar às explicações que o professor necessitasse para sua prática docente, uma vez que tivesse conhecimento desses documentos. Explicam, então, Bogdan e Biklen (1994, p.200): Embora existam estes e outros tipos de dados, iremos continuar, esperando que tenha compreendido a perspectiva de que os dados não são apenas aquilo que se recolhe no decurso de um estudo, mas a maneira como as coisas aparecem quando abordadas com um espírito de “investigação”. Nesses termos, ainda continuamos a pesquisa aliando esse pensamento, uma vez que os dados adquiridos nesses documentos nos dimensionam a uma apropriação de fundamentos para o percurso da investigação. E, assim, continuam os autores: Tornar-se um bom investigador qualitativo é, em parte, aprender esta perspectiva; os detalhes específicos são pistas úteis para a compreensão do mundo dos sujeitos. A investigação qualitativa envolve pegar nos objetos e acontecimentos e levá-los ao instrumento sensível da sua mente de modo a discernir o seu valor como dados. (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.200) O esforço de compreender os sentidos e significados presentes nas mensagens dos sujeitos de pesquisa é que trazem à baila a abordagem metodológica empregada nesse trabalho, que é caracterizada pela análise de conteúdo proposta por Bardin (2011) e Franco (2008). 71 Percebemos, com esse estudo, que coube à pesquisadora promover a interpretação e significação dos sentidos dentro das diversas respostas, a explicação das ocorrências e relações com os efeitos, para chegar, cada vez mais próximo dos dados obtidos com a pesquisa. Em relação a este aspecto, a pesquisa qualitativa auxilia no rigor, que o pesquisador deve possuir e encaminhar o método utilizado, em que repensamos as teorias filosóficas e educacionais, que abarcam todo o seu processo e vão se constituindo enquanto referências para o entendimento da pesquisa no que se relaciona aos saberes dos professores de Filosofia. Durante o caminho investigativo percorrido, entendemos que encontramos momentos de desconstrução de cada novo sentido, como também de reconstrução e, por assim dizer, uma nova construção típica de qualquer pesquisa, que tende a se aproximar da verdade e de um conhecimento científico. Os estudos de Bogdan e Biklen (1994), presentes também em Lüdke e André (1986, p.11), enfatizam cinco características de uma pesquisa qualitativa. A primeira diz respeito ao contato do pesquisador com o ambiente, onde ele passa a ser o investigador, e, desse modo, os dados que nos apropriamos, sejam nos documentos oficiais ou nos questionários 15. Contudo, para nossa pesquisa sobre os saberes dos professores de Filosofia, foi importante conhecer, por meio do Questionário, as percepções dos professores sobre sua própria prática docente e sobre o seu contexto de trabalho, a Escola e a sala de aula, para compreender, melhor, a relação que estabelecem entre a Filosofia e seus alunos. A segunda característica exposta se atenta aos dados coletados, que são descritivos. E, no que se refere a essa pesquisa, a presença no primeiro capítulo de um estudo com base nos documentos oficiais confirmam as palavras que são analisadas e são referências para as inferências produzidas sobre a visão do ensino de Filosofia, a prática e a atuação desses professores. Assim, explicam Bogdan e Biklen (1994, p. 49): 15 Sobre os questionários, explicitaremos mais adiante no item que se refere aos instrumentos utilizados. 72 A abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a ideia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para construir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objecto de estudo. Os estudos descritivos dessa pesquisa retratam uma preocupação, dando maior ênfase e alicerçando o problema de pesquisa que é exposto. Desse modo, a terceira característica é contemplada, pois também concordamos com os autores que o processo é mais valorizado que os resultados ou produtos. Esse tipo de estudo concentra-se no modo como as definições se formam e, a partir das respostas dos sujeitos, podemos avaliar como pensam e praticam o ensino de Filosofia, a concepção de suas práticas, do que entendem enquanto saberes e como interagem no processo de ensino aprendizagem, compondo uma análise transversal sobre o professor e o ensino de Filosofia. Não obstante ao que vem sendo retratado e será demonstrado no capítulo seguinte, a quarta característica enfoca a importância do significado atribuído às falas/relatos dos sujeitos de pesquisa. Tais relatos dos professores de Filosofia do ensino médio puderam estabelecer um diálogo também com os referenciais teóricos apresentados, confirmando o que Bogdan e Biklen (1994, p. 51) nos dizem a respeito de que não se faz pesquisa “de uma forma neutra”: Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhe permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflecte uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra. Nesse aspecto não estamos julgando as respostas dos professores. Enquanto pesquisadores, estamos investigando, interpretando suas falas e agrupando-as para serem relacionadas às perspectivas educacionais e ao significado que os sujeitos de pesquisa revelam em suas falas, tal como indicam Bogdan e Biklen (1994, p. 55): O significado que as pessoas atribuem às suas experiências, bem como o processo de interpretação, são elementos essenciais e constitutivos, não acidentais ou secundários àquilo 73 que é a experiência. (...) Os significados são construídos através das interações. Uma pesquisa qualitativa ainda apresenta a análise de dados, como quinta e última característica, que segue um processo indutivo, em que os dados coletados pelo pesquisador enfatizarão o que está sendo exposto teoricamente e os rumos e perspectivas que essa pesquisa tomará. É, nesse momento, que os sentidos e os significados das mensagens são inferidos, retratando a prática da análise dos dados pesquisados, assumida pela análise de conteúdo das mensagens dos sujeitos que participaram dessa pesquisa, conforme Bardin (2011) e Franco (2008). A análise de dados é comparada com um funil (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p.50), que no início está aberto e aos poucos vai adquirindo forma e consistência específica. Em nossa pesquisa, a análise de conteúdo (BARDIN, 2011; FRANCO, 2008) é encontrada na categorização das respostas dos sujeitos pesquisados e analisada pelos seus eixos temáticos. Para Bardin (2011, p.37), “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações”; assim, partimos da mensagem, de qualquer modalidade, que expressa um significado e um sentido. Essa mensagem é constituída de componentes ideológicos, que são desconstruídos no trabalho em si. Entretanto, essa desconstrução vai formar e adquirir uma nova consistência, assim como comparada ao funil, em que os dados passam a integrar-se como uma nova mensagem intercalada a outra, formando, contudo, novas e articuladas mensagens. Franco (2008, p.20) ainda explicita “um dado sobre o conteúdo de uma mensagem deve, necessariamente, estar relacionado, no mínimo, a outro dado”. A finalidade da análise de conteúdo é “produzir inferências sobre qualquer um dos elementos básicos de comunicação (...)” (FRANCO, 2008, p.29). É ela, que vai fazer a transição entre a descrição do que está sendo falado, com a interpretação, conferindo-lhe uma relevância teórica. Nesse aspecto, analisa Franco (2008, p.30): (...) toda análise de conteúdo implica comparações; o tipo de comparação é ditado pela competência do investigador no que 74 diz respeito a seu maior ou menor conhecimento acerca de diferentes abordagens teóricas. Nesse primeiro momento de organização, com a constituição de hipóteses, dedicamo-nos a uma pré-análise, seja pela exploração dos documentos oficiais ou pelas mensagens. Essa pré-análise, chamada de leitura flutuante estabelece o contato direto com os documentos a serem analisados, o conhecimento dos textos e as mensagens contidas. Surgem, então, as impressões, representações, emoções, conhecimentos e expectativas. Desse modo, a presente pesquisa é desenvolvida a priori com a análise documental e a posteriori com a aplicação de um questionário com professores de Filosofia, do Ensino Médio (APÊNDICE nº 1). As questões desse instrumento são abertas, determinando a livre resposta. Para Goldenberg (2001), a utilização de um questionário expõe a vantagem de uma maior uniformidade para a mensuração e, nesse ponto, cada questão deve estar atrelada aos objetivos de seu estudo. Nessa pesquisa, a divisão do questionário por eixos temáticos garantiu, para a pesquisadora, uma maior possibilidade para empreendê-los e analisá-los, bem como categorizálos. Por outro lado, proporcionou a cada sujeito a possibilidade de diversas interpretações, bem como expressar-se com maior liberdade. Esses eixos temáticos abordam: a trajetória de formação; o conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor; a percepção da docência; a percepção da sua realidade docente; as ações de sua prática; e a formação continuada, explicitadas no item 3.3 referente às etapas e aos instrumentos analisados. 3.2 O campo e os sujeitos Os sujeitos dessa pesquisa são vinte e cinco professores de Filosofia, que atuam no Ensino Médio. A escolha desses profissionais foi determinada pelo nível de ensino, em que atuavam e foi determinante lecionar Filosofia. Nesse aspecto escolhemos elencar todos os professores por ordem alfabética, numerá-los e chamá-los por Professor, acrescido de número para identificação. 75 De acordo com a caracterização da faixa etária, pudemos observar que nossos sujeitos são, em sua maioria, homens, e predomina a idade entre 31 a 40 anos. Quadro 4 - Caracterização da faixa etária e de gênero dos sujeitos de pesquisa Sexo Faixas etárias Feminino Masculino Entre 20-30 anos Entre 31-40 anos Entre 41-50 anos Entre 51-60 anos Acima de 60 anos 9 16 8 10 3 3 1 Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. No eixo temático Trajetória de formação do questionário, visualizamos a diversidade de graduações desses professores, bem como alguns dados mais significativos em nossa análise. Dentre os vinte e cinco sujeitos pesquisados, encontramos vinte que cursaram Filosofia, sendo que treze deles realizaram licenciatura e sete concluíram as duas modalidades (licenciatura e bacharelado), conforme o Quadro 5, exposto mais adiante. Desse modo, temos apenas cinco sujeitos pesquisados que não possuem graduação em Filosofia. Todavia, cabe salientar que possuem outros cursos de licenciatura. Cumpre expor, também, que um dos sujeitos, que possui licenciatura em Matemática, também possui uma graduação anterior, em área diferenciada (Publicidade e Propaganda). Nessa tabulação de dados, também verificamos que cinco (5) sujeitos possuem mais de uma licenciatura, e que três (3), entre eles, cursaram Filosofia e Pedagogia. No que pudemos constatar em relação à continuidade da formação, é que dezessete (17) sujeitos, dos vinte e cinco (25), possuem Pós-graduação lato sensu; porém, na sua grande maioria, não há relação intrínseca com a Filosofia. Podemos inferir e levantar alguns dados sobre especializações 76 correlatas à Educação como: gestão, didática, Psicopedagogia e educação à distância. Dentre esses dezessete (17) sujeitos, seis (6) também realizaram stricto sensu e possuem o título de mestre com dissertações defendidas nas áreas de Filosofia da Educação, Educação e Religião. Quadro 5 – Características quanto à formação dos sujeitos da pesquisa GRADUAÇÃO CURSO FILOSOFIA HISTÓRIA PORTUGUÊS ESTUDOS SOCIAIS CIÊNCIAS SOCIAIS MATEMÁTICA LICENCIATURA 13 1 1 1 1 1 BACHARELADO E LICENCIATURA 7 - PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU STRICTO SENSU 17 6 Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. A partir desses dados, julgamos prudente conhecer o tempo de docência desses sujeitos, o nível de ensino de atuação e os tipos de instituições em que lecionam. Sobre o tempo de docência, encontramos onze (11) professores que ministram aula entre seis e dez anos (QUADRO 6). Observamos quanto ao nível de atuação, que um número considerado, dezessete (17) professores, só ministram aulas no Ensino Médio, tornando, assim, nossa pesquisa mais evidente com o conhecimento mais aprofundado nesse nível de ensino. Sobre o que apuramos no Questionário, concluímos que, dos vinte e cinco (25) professores, oito (8) lecionam em outros níveis de ensino, que incluem Educação Infantil, Ensino Fundamental I e II, Educação de Jovens e Adultos e, até mesmo, Ensino Superior. Cumpre ressaltar, que alguns lecionam 77 em vários níveis assim, o quadro exposto a seguir (QUADRO 6) apresenta um total superior. Devemos observar que alguns sujeitos não especificaram em que nível do Ensino Fundamental e, desse modo, tabulamos como um item em geral. No que concerne ao tipo de instituição (QUADRO 6), a pesquisa mostrou que o campo de atuação de doze (12) professores são ambas instituições escolares (privadas e públicas), o que pode contribuir para uma melhor análise do desenvolvimento do professor, que tem oportunidade de estar presente em duas realidades educacionais diferenciadas. Há de se considerar que a disciplina de Filosofia na rede pública está presente unicamente em escolas estaduais de Ensino Médio. Vinte e dois (22) professores, que fazem parte dessa pesquisa, atuam em escolas de ensino privado e público de cidades da Baixada Santista. Cumpre enfatizar que as escolas municipais, estaduais e particulares estão divididas entre a Diretoria de Ensino da Região de Santos, que compreende as cidades de Santos, Bertioga, Cubatão e Guarujá, incluindo as escolas de: Vicente de Carvalho; e a Diretoria de Ensino da Região de São Vicente, que abrange os municípios de São Vicente, Praia Grande, Itanhaém, Mongaguá e Peruíbe. Dos restantes do número total de participantes de nossa pesquisa, dois sujeitos (Prof. 18 e Prof. 20) trabalham em escolas públicas e privadas na cidade de São Paulo, que são administradas pela Diretoria de Ensino de São Paulo, e o outro docente (Prof. 14) ministra aulas em uma escola estadual, na cidade de Jundiaí, no estado de São Paulo, administrada pela Diretoria de Ensino – Região de Jundiaí. 78 Quadro 6 – Características quanto ao tempo de docência dos sujeitos da pesquisa, ao nível de ensino e ao tipo de instituição COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA ATÉ 2 ANOS DE 3 A 5 ANOS DE 6 A 10 ANOS DE 11 A 20 ANOS DE 21 A 30 ANOS 3 6 11 3 2 SIM 17 ENQUANTO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO NÃO Ed. Inf. 1 Ens. Fundamental 4 Ens. Fund. I 1 Ens. Fund. II 3 Ens. Superior 5 EJA (Ed. De Jovens e Adultos) 3 PRIVADA 6 PÚBLICA 7 PRIVADA E PÚBLICA 12 TIPO DE INSTITUIÇÃO Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. 3.3 As etapas e os instrumentos utilizados Utilizamos, primeiramente, como instrumento de coleta de dados, um Questionário (APÊNDICE 1), subdividido em seis eixos temáticos que compreendem: 1- Trajetória de formação: em que cada professor possuía a oportunidade de relatar sua formação profissional; tempo, nível e tipo de instituição que é docente. 79 2- Conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor: com uma pergunta de múltipla escolha e duas outras abertas. Essas questões tinham como objetivo diagnosticar o conhecimento dos professores quanto aos documentos oficiais, estudados no primeiro capítulo dessa pesquisa e apresentados nominalmente aos professores. Bem como verificarmos os recursos materiais utilizados como referenciais no preparo e elaboração de suas aulas e como os sujeitos pesquisados enxergam as relações do que percebem na sala de aula, com o que é apresentado pelos documentos. As questões eram: Ø 1- Marque com X os documentos que possui conhecimento: ( ) Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 ( ) Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) ( ) Parâmetros Curriculares Nacionais ( ) PCN+ EM: Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais ( ) Orientações Curriculares para o Ensino Médio ( ) Proposta Curricular do Estado de São Paulo Ø 2- Você utiliza algum material didático – para o professor – como referência para estudo e preparação de aula? Quais? (Especifique cada um deles) Ø 3- Há relações entre as necessidades reais de aprendizagem e de ensino em sala de aula com os documentos citados acima? Quais? 80 3- Percepção da docência: com duas perguntas abertas, que se relacionavam à análise da sua própria prática mediante a formação recebida. As perguntas foram: Ø 1- Considera que sua formação influenciou e/ou auxiliou na sua maneira de lecionar? Em que aspectos? Procure dar alguns exemplos. Ø 2- Para além da formação específica em Filosofia, você considera também importante uma formação pedagógica? Justifique. 4- Percepção da sua realidade docente: com três perguntas abertas. Essas perguntas visavam a obter registros de professores de Filosofia sobre a prática dos próprios professores de Filosofia. Esse entendimento aprofundava uma análise além da sua própria prática, pois se entende que seria possível integrar os dados obtidos para compreender os saberes dos professores de Filosofia sobre as necessidades da prática docente. Com as seguintes questões: Ø 1- O que você pensa ser necessário para a ação do professor de Filosofia em sala de aula? Ø 2- Qual é o tipo de relação estabelecida entre os conhecimentos adquiridos em sua formação inicial e sua atuação como professor? Ø 3- Quais suas sugestões para a superação das possíveis dificuldades que você encontra no exercício da profissão? 81 5- Ações de sua prática: com cinco questões abertas, esse item evidenciava na pesquisa as ações do professor dentro de sua sala de aula, na formulação e uso de materiais de trabalho. As questões propostas foram abertas, pois o professor poderia relatar e descrever exemplos dos saberes relacionais à sua prática, bem como as experiências vivenciadas em sala de aula, de acordo com o que vemos: Ø 1- Na sua prática de professor, quais as técnicas e estratégias didáticas utilizadas em aula? Ø 2- Você acredita que existem saberes que são específicos da ação pedagógica do professor de Filosofia? Quais? Ø 3- Relate alguma situação vivenciada no exercício de sua profissão, que se relaciona diretamente com sua prática. Ø 4- Você pensa que a experiência do professor vai mudando a sua atuação? Exemplifique com algo que fazia anteriormente e já não realiza mais. Ø 5- Descreva sua experiência em ser professor de Filosofia. 6- Formação continuada: com duas perguntas abertas, esse eixo temático veio a exemplificar como se dá a formação continuada desses professores em relação àquilo que os próprios professores relatavam acreditar como fundamental para o professor de Filosofia. Verificamos as questões: Ø 1- Quais ações você realiza para aperfeiçoar sua prática? Ø 2- Para aqueles que são professores da rede Estadual de São Paulo: Quais têm sido as ações de formação continuada 82 oferecidas pela SEE/SP? Você teve oportunidade de participar de algumas? Esse Questionário foi aplicado entre o mês de outubro, do ano de dois mil e doze, e o mês de fevereiro de dois mil e treze. Foram enviados por email e entregues, pessoalmente, a cerca de trinta e cinco professores. Entretanto, chegamos impreterivelmente apenas à marca de vinte e cinco sujeitos. Notou-se uma resistência de alguns professores em colaborarem com a pesquisa. Entende-se que houve uma preocupação com o tempo dispensado para o preenchimento, bem como um melindre com a temática, que cremos que reflete um pouco do perfil do professor em sala de aula. O último dado exposto se tornou mais acentuado, pois alguns professores procurados para pesquisa possuíam algum contato ou conhecimento com a pesquisadora e quando observado esse ponto como dificultador, procuramos outros sujeitos para suprir o número mínimo para pesquisa. Passaremos, no próximo capítulo, a verificar as respostas dos sujeitos de pesquisa, em cada eixo temático, fundamentadas na técnica de análise de conteúdo, desenvolvida por Bardin (2011) e Franco (2008), como já foi mencionado. 83 CAPÍTULO 4 OS SABERES DOCENTES DOS PROFESSORES DE FILOSOFIA E SUAS PRÁTICAS ANINHADAS Faz-se preciso que o que é se ponha manifesto. (JASPERS, 1965, p. 141) O presente capítulo visa contemplar o objetivo geral dessa pesquisa, que almejou compreender quais saberes docentes se referem à formação e a percepção dos professores de Filosofia, de Ensino Médio, de acordo com suas necessidades de formação e prática do seu ensino. Por meio do questionário aplicado e da análise de conteúdo dos dados obtidos, contemplamos o objetivo específico que visa compreender a relação que os professores de Filosofia estabelecem com os saberes de sua formação e sua prática docente. De acordo como foi estabelecido no questionário, analisaremos cada eixo temático, expondo nossa percepção por meio da descrição de nossas inferências às palavras escritas dos sujeitos desta pesquisa. O eixo que se refere à trajetória de formação, em que são descritos faixa etária, gênero, formação e tempo de serviço dos sujeitos, foi suprimido dessa análise, pois já tratamos no capítulo anterior, e porque não se articula diretamente com o que pretendemos analisar. Nesses termos, a partir da análise dos eixos temáticos onde cumpriremos com a leitura flutuante transcrita por Bardin (2011) e Franco (2008), findaremos o capítulo com as categorias dimensionadas e analisadas em relação aos saberes (TARDIF, 2012) e às práticas aninhadas (GIMENO SACRISTÁN, 1995). 84 4.1 Sobre os conhecimentos dos professores quanto aos documentos legais que amparam seu trabalho docente Os documentos elencados para verificação do conhecimento dos professores, que foram analisados no primeiro capítulo desta pesquisa, se referiam à LDB 9394/96, DCNEM, PCNEM, PCN+EM, OCEM (BRASIL, 1996, 1998, 1999, 2002 e 2006) e à Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008) 16. Na tabulação das respostas dadas (QUADRO 8), os sujeitos pesquisados declararam possuir conhecimento dos documentos indicados. Nota-se que apenas um deles (Prof. 23) indicou desconhecimento da LDBEN (BRASIL, 1996). Tal fato, que muito nos surpreendeu, se diferencia do reconhecimento do último documento referente à Proposta Curricular do Estado (SÃO PAULO, 2008), visto que os professores (seis entre oito), que desconhecem esse documento, trabalham na rede privada de ensino e, assim, podemos inferir que não possuem acesso ao material de ensino da rede estadual. Nesses termos, temos uma justificativa para tal desconhecimento do material fornecido pela SEESP. Também não é de se estranhar que lhes sejam desconhecidos as OCEM (BRASIL, 2006), uma vez que normalmente os documentos possuem maior abordagem na atuação, prática e formação continuada do professor de escola pública17. A descrição realizada pelos sujeitos, dos materiais utilizados, confirma o reconhecimento da Proposta Curricular (SÃO PAULO, 2008) com a utilização das “apostilas”. Além disso, encontramos livros como referências não só para estudo e aprofundamento do professor, como também em materiais para as aulas. Nota-se, em alguns sujeitos, uma preocupação em contextualizar situações interdisciplinares, utilizar diferentes fontes de informação como periódicos, linguagens artísticas visuais e musicais, além de sites e redes sociais. Isto posto, destaca-se o reconhecimento dos professores para a necessidade de um ensino voltado ao aprofundamento das temáticas 16 O Currículo de Filosofia (SÃO PAULO, 2011) não entrou nesse questionário pois, não possuíamos essa informação no período em que elaboramos o questionário. 17 Cumpre salientar que esse e todos os demais documentos citados, estão disponíveis para acesso na internet, nos endereços: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf; http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=859&id=12598%3Apublicacoes&option=com_content &view=article entre outros. 85 contemporâneas, bem como de situações diárias, mantendo, assim, o desenvolvimento das competências e habilidades (Quadro 2) descritas no PCNEM (BRASIL, 1999), que enfatizam o conhecimento e a leitura de diferentes linguagens articuladas aos contextos socioculturais. Seguem alguns trechos que exemplificam o que foi mencionado anteriormente: O material didático oferecido para a disciplina de Filosofia, pela rede estadual de ensino, são apostilas bimestrais e livro didático. A escolha do livro didático foi atendida, utilizamos o livro Filosofando – Introdução à Filosofia, das autoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. As apostilas são utilizadas como material de apoio, por conter exercícios e alguns pequenos textos, seguindo a recomendação do Governo do Estado de São Paulo. O livro didático apresenta os conteúdos com maior profundidade e complexidade, sendo assim está em constante uso em sala de aula, fundamentando as aulas expositivas e oferecendo uma visão melhor do conteúdo. (Prof. 7, APÊNDICE 5, Quadro 9) Sim, é um auxílio para o desenvolvimento da aprendizagem, mas é necessário “filtrar” muito para atender às necessidades reais dos alunos, adaptar ao cotidiano deles, trazer mais para perto, fazendo analogias e fazendo com que eles reflitam o porquê de estarem estudando tais assuntos. (Prof. 12, APÊNDICE 5, Quadro 10) Creio que a relação entre Habilidades e aprendizagem de Filosofia é Ok e que o foco na cidadania não é exclusividade deste componente curricular, mas de todos. (Prof. 20, APÊNDICE 5, Quadro 10) As questões propostas nesse eixo temático nos possibilitaram descobrir as relações inferidas pelos professores entre os documentos legais e as necessidades de ensino e aprendizagem instauradas em sala de aula. Assim como defendido pelas DCNEM (BRASIL, 1998), também destacamos os três princípios, que tangem a Estética da Sensibilidade, a Política da Igualdade e a Ética da Identidade, e que são determinados por aspectos conceituais filosóficos e determinantes para o encaminhamento que é dado nas articulações entre teoria e prática. Observamos, nas respostas de nossos sujeitos de pesquisa, que aquilo que dispõem as diretrizes, se estabelecem nos materiais e, principalmente, nos discursos dos responsáveis pela formação inicial ou continuada dos professores. Além de apresentarem as questões políticas, descritas com muita precisão, alguns professores chegam a 86 inferir interesses partidários, como também notam que mesmo se tratando de questões políticas, ainda somos carentes de políticas educacionais viáveis, mais sérias e eficazes ao nosso sistema de ensino, tal como revela o Prof. 25: (...) Se há um problema sério em termos de políticas educacionais no Brasil, e com certeza há, este se mostra nas tantas políticas de governo apresentadas e aceitas e na ausência absurda de políticas de Estado. E aí nós poderíamos facilmente identificar uma grande dificuldade dos sistemas de ensino, principalmente, públicos no Brasil: a incapacidade de fazer uma gestão de qualidade, em que haja, sim, aplicação da gestão democrática. Mas, para isso, um dos requisitos fundamentais, que não temos, por exemplo, no sistema de ensino público estadual de São Paulo, são as políticas de Estado. (Prof. 25, APÊNDICE 5, Quadro 10) Outro item ainda lembrado, na fala dos sujeitos, que participaram da pesquisa, diz respeito à possibilidade que os materiais e o encaminhamento que as aulas tomam ao elevar o protagonismo juvenil. Nesse ponto, ainda confirmamos que tal temática faz parte dos itens propostos para a reformulação do Ensino Médio, descrito nos PCN (BRASIL, 1999), e do caráter político atribuído à disciplina de Filosofia, com ênfase no exercício da cidadania, presente na própria LDB 9394/96 (BRASIL, 1996). Tal como explicita o Prof. 20: (...) Penso que a filosofia política e os estudos de ética ajudam a pensar a cidadania, mas acho que há outras formas de abordagem também relevantes dentre os métodos de construção do pensamento filosófico. (APÊNDICE 5, Quadro 10) Se por um lado encontramos, nos próprios materiais utilizados e descritos pelos professores, a ligação entre o que se prega e o que se oferece, a realidade nas escolas começa a provocar um estranhamento. Mencionado por alguns professores (Prof. 5, Prof.14 e Prof. 15), entendemos que ocorre um um desequilíbrio na aplicabilidade da proposta do ensino de Filosofia nas escolas. Seguem o que registraram a respeito dos materiais didáticos para estudo e preparação de suas aulas, que retrata um pouco deste desequilíbrio: Os livros com que trabalho possuem apoio didático virtual (SM e Saraiva). Também utilizo o portal educacional da escola. Como sou professora de Filosofia da Educação, no curso de Pedagogia, também utilizo outras bibliografias. (Prof. 5, APÊNDICE 5, Quadro 9) A apostila Caderno do Professor da Secretaria do Estado da Educação São Paulo. Dicionário de Filosofia – Abbagnano. 87 Filosofia – Marilena Chauí. Filosofando e Temas de Filosofia – Maria Lúcia e Maria Helena Arruda. (Prof. 14, APÊNDICE 5, Quadro 9) Livros – Maria Lucia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins, Marilena Chauí, Gilberto Cotrim, Danilo Marcondes, Miguel Reale. Músicas – MPB e outros - (Alceu Valença, Chico Buarque, Caetano Veloso, Rita Lee, Luiz Gonzaga e outros). Vídeos da Filósofa Viviane Moisés (Série - Ser ou Não Ser?) e Mário Sergio Cortella, Paulo Ghiraldelli e outros. PowerPoint – figurativo/caixas de texto de períodos ou filósofos Jornal e revista (mídia) – atualidade circunscrita e assistida. Apostila do aluno e do Professor (SEE/SP).Tirinhas de Laerte, Mafalda, Macanudo, Mauricio de Sousa. Literaturas diversas – Machado de Assis, Jorge de Lima, Clarice Lispector, Millôr Fernandes. Poesias – Cora Coralina, Bertold Brecht, Carlos Drummond de Andrade. Obras de Artes – Tarsila do Amaral, Van Gogh, Piet Mondrian, Richard Wagner. (Prof. 15, APÊNDICE 5, Quadro 9) Alguns professores levantam, também, que nas próprias escolas ocorre a ausência das discussões sobre os referenciais teóricos e as questões pedagógicas que auxiliam o trabalho efetivo do professor na sala de aula. Desse modo, o estudo, o entendimento e a discussão dos documentos oficiais possibilitam aos professores reconhecerem o sistema educacional, além das questões políticas, da intencionalidade dos discursos e materiais propostos e disponíveis. Mas, acima de tudo, mesmo com o conhecimento dos documentos legais, para maior aderência e entendimento, é observada, como necessidade, a discussão desses referenciais pelos professores, tomando um caminho efetivo e um momento oportuno para serem traçadas novas diretrizes e planos de ação, que favoreçam as necessidades sentidas pela prática pedagógica, mesmo que seja em cada unidade escolar. 4.2 Percepções da docência As questões propostas nesse eixo temático nos possibilitaram refletir e analisar o pensamento dos professores pesquisados quanto à prática, estabelecendo elementos constitutivos e relacionais com sua formação. Os sujeitos dessa pesquisa afirmaram que a formação obtida na graduação teve relação direta com sua maneira de lecionar, o que nos leva a 88 confirmar o reconhecimento desses professores para uma relação existente entre os saberes específicos da Filosofia com os saberes da atuação pedagógica. Esses pontos norteiam aspectos da influência de formação que se registram desde os modelos e referência de professores, o conhecimento pedagógico, teórico e cultural, bem como a aquisição de procedimento e autonomia para a pesquisa e outros estudos. A necessidade e a influência da atuação pedagógica são expostas pelos professores como justificativa para o ensino de elementos técnicos, que norteiam o aprender a ensinar, a aplicação e manuseio de materiais, assim como estabelece um entendimento sobre a educação necessária à formação do professor dentro de seu processo de ensino-aprendizagem e da relação entre a teoria e a prática. Nas palavras do Prof.14, seria fazer as ligações possíveis entre os conceitos e tudo o que está “em jogo”, como observamos a seguir: O aspecto fundamental é a atenção com os conceitos. Quando alguém diz algo que envolve uma ideia é fundamental que o professor possa avaliar os conceitos, os critérios, os valores que estão em jogo. Daí a fazer a ligação com as escolas ou autores da filosofia. (Prof.14, APÊNDICE 5, Quadro 14) Especificamente com relação aos professores formadores, ou seja, dos cursos de graduação, entende-se que ocorre uma troca extremamente válida, pois possuem um papel de referência, até mesmo para aqueles sujeitos que negaram sua importância. No nosso entender, os professores, que fazem parte da formação de outros professores, sempre serão referência, seja positiva ou negativa, pois constituem paradigmas, até mesmo, para que não se reproduzam as mesmas condutas e que não sejam seguidos. Os sujeitos de nossa pesquisa ainda pontuaram a importância da experiência da troca com seus professores, a necessidade dos mesmos conhecerem os materiais didáticos disponíveis e utilizados no momento, a ênfase no estudo de questões ligadas à burocracia e legalidade dos documentos, que fazem parte das políticas educacionais, das avaliações institucionais e do ser professor, como já foi inferido no eixo temático anterior, que diz respeito à percepção da docência. Por exemplo, observem o que dizem 89 os professores em relação a estas questões, quando questionados sobre a importância da formação pedagógica na licenciatura de Filosofia: Sim. Penso que as licenciaturas deveriam exigir ao menos mais um ano nas questões pedagógicas que dizem respeito à área de leis e governança; isto é, orientação quanto a procedimentos legais e burocráticos quanto à função de professor. (Prof. 4, APÊNDICE 5, Quadro 12) Se for atuar no ensino, sim. Todo aquele que faz uma licenciatura precisaria, pelo menos, saber como aprendemos para depois pensar em como ensinar. Precisaria também ter claro o funcionamento dos sistemas de ensino, organização curricular, gestão da educação. Caso contrário, continua tudo como está aí, o império da indiferença. Perguntar, por exemplo, para uma pessoa, que está concluindo uma licenciatura, o que é avaliação institucional e ela não saber, é inadmissível. (Prof. 25, APÊNDICE 5, Quadro 12) Outro ponto nas respostas dos sujeitos de pesquisa, que nos chamou muito atenção, foi a desintegração de disciplinas, como Prática de Ensino e Didática, dos aspectos pedagógicos seja como indicadoras de técnicas e, também, apenas como socializações informais. Parece-nos que essas disciplinas são colocadas para os alunos universitários como apenas um exemplo de troca de experiências, o que desvalida o ensino e o entendimento das técnicas, dos métodos, das tendências pedagógicas e um aprofundamento de análise e aplicabilidade real ao ensino de Filosofia. Os exemplos, a seguir, registram as contradições entre as respostas, que já levantam um dado possível a ser investigado em outras pesquisas: A formação filosófica é com toda certeza muito importante, mas, no meu ponto de vista, ela acontece continuamente e sempre estará sendo desenvolvida. Já a formação pedagógica demanda uma relação de troca de experiências acima de tudo, e por isso, no decorrer da vida acadêmica, considero essa formação mais necessária, pois o espaço da universidade é um momento único de troca de experiências entre educandos e educadores. (Prof. 6, APÊNDICE 5, Quadro 12) Não vejo a formação pedagógica como algo de extrema necessidade, mais que a formação pedagógica, a didática e metodologia podem ser enriquecidas na área com trocas de experiências e constante avaliação de métodos. (Prof. 18, APÊNDICE 5, Quadro 12) 90 Ainda citam que a metodologia empregada nas aulas de Filosofia deve ser ensinada à parte, inferindo que há algo diferente e próprio da disciplina. Desse modo, podemos concluir que a formação específica em Filosofia se faz necessária e pontual no seu ensino, uma vez que os professores, que apresentaram maior tendência e discordaram da relação entre os saberes específicos e pedagógicos, não possuem formação em Filosofia. 4.3 Sobre a percepção de sua realidade docente O presente eixo temático teve como objetivo com suas três perguntas, refletir efetivamente sobre a prática docente dos professores pesquisados. As perguntas se dividiam em três categorias: das ações necessárias dos professores; da relação entre a formação e a atuação; e da superação da dificuldade que encontramos atualmente na educação. No que diz respeito às ações necessárias dos professores, os sujeitos de pesquisa descreveram diversas características sobre o professor de Filosofia, que tecem seu comportamento e o demonstram como ser humano. Podemos exemplificá-las como: ter uma postura humilde, bom senso, respeito ao pensamento do aluno, ser criativo, paciente, possuir valores éticos, ser dinâmico, curioso, dedicado, questionador, aberto ao diálogo e isento de preferências doutrinárias e ideológicas. Seguem, apenas, alguns exemplos ilustrativos: Ter uma postura humilde, já que a proposta da Filosofia deve ser a construção do conhecimento e não depósito de conteúdo, estar sempre atualizado e respeitar o pensamento dos alunos. Além de gostar de ler e refletir sobre o mundo. (Prof. 5, APÊNDICE 5, Quadro 13) Criatividade, disposição, embasamento, cultura e percepção. Atualmente, as mídias controlam a sociedade, nossos alunos vivem em um mundo totalmente informatizado, constantemente sendo atualizados. (Prof. 7, APÊNDICE 5, Quadro 13) Indubitavelmente uma boa formação, além de: paciência, perseverança, equilíbrio e bom senso. (Prof. 8, APÊNDICE 5, Quadro 13) 91 Pleno conhecimento filosófico e disposição para incitar nos alunos a importância do pensar, refletir e constituir opinião própria, sem deixar de conservar valores éticos indispensáveis para adequada relação social. (Prof. 9, APÊNDICE 5, Quadro 13) Acredito que o professor de Filosofia precisa, além de se mostrar isento de qualquer preferência por ideologias, religiões, partidos políticos, etc., ser exemplo de honestidade e polidez. Demonstrar-se interessado pelos alunos individualmente e prezar a fim de que eles possam adquirir, de forma cada vez mais efetiva, a liberdade de pensamento. (Prof. 23, APÊNDICE 5, Quadro 13) Sobre sua atuação foram listadas as ações que devem empreender o processo educativo do ensino de Filosofia, como: promoção de debate e atualização de assuntos presentes no cotidiano; facilitação e mediação do acesso ao conhecimento; boa formação; reconhecimento do objetivo da Filosofia e do seu ensino; proposta de atividades diferenciadas e interdisciplinares; entre outros. Entende-se que os itens descritos acabam sendo incorporados no próprio processo de formação e constituindo a identidade desse profissional. Desse modo, os fatores descritos pelos sujeitos, que representavam a relação entre a formação inicial e a atuação docente enfatizavam: a experiência; o conhecimento específico de Filosofia; a relação entre a teoria e a prática; a relação e transformação dos saberes com a realidade; o aperfeiçoamento formativo e profissional contínuo; a amplitude da visão; e a atenção para os conceitos desenvolvidos. Seguem alguns exemplos neste sentido: Com o passar dos anos, você acaba tendo conhecimento e experiências com os alunos. (Prof. 1, APÊNDICE 5, Quadro 14) Os conhecimentos específicos de Filosofia. A vivência do ambiente reflexivo durante o curso. O que seria “truncado”, por exemplo, se fosse em um curso à distância, pois foi fundamental os inúmeros e variados diálogos entre alunos e professores e entre os próprios alunos. (Prof. 2, APÊNDICE 5, Quadro 14) Uma relação de revisão contínua e adequação às questões teóricas e práticas. Penso que a atuação do professor seja inerente ao de pesquisador. (Prof. 4, APÊNDICE 5, Quadro 14) 92 Sempre tomo como referência os programas dos cursos que realizei na Graduação e tento trazer os debates realizados na academia, para que o que é ensinado nas escolas não fique tão distante do conhecimento universitário. (Prof. 5, APÊNDICE 5, Quadro 14) Como a própria expressão diz: formação inicial é apenas um início. O professor tem que ter consciência de dever estar em formação contínua por toda a sua vida, para estar sempre aperfeiçoando a sua prática. Deve aprender também observando os seus alunos, as suas reações, as suas falas. Essa abertura é fundamental para a formação do professor. (Prof. 17, APÊNDICE 5, Quadro 14) As informações que adquirimos ao longo de uma vida de formação docente só tem sentido à medida que criamos novos significados. Não consigo admitir que alguém estude três, quatro, vinte anos e ache que já está bom. Que já sabe o suficiente para aplicar ou para. O conhecimento é construído a todo instante. É isso que somos: seres do e para o conhecimento, como já nos apontava Aristóteles. Sendo assim, atualizo aquilo que aprendi à medida que vejo a necessidade de continuar, aprendendo mais e de diferentes maneiras para poder ensinar melhor. (Prof. 25, APÊNDICE 5, Quadro 14) Uma vez contempladas as características que descreviam esse profissional, e a relação entre a formação e a atuação, pedimos que fossem registradas sugestões para superação das dificuldades, que apareceram e assim, classificamos em três âmbitos: de estrutura, de ensino e do profissional. Quanto à estrutura, foram destacados: a disponibilidade de cursos e capacitações voltados à prática docente e ao ensino de Filosofia; maiores investimentos em recursos audiovisuais; valorização profissional e financeira do professor e, principalmente, do especialista em Filosofia; falta de materiais didáticos coerentes com a realidade vivenciada; diminuição da carga excessiva de trabalho; e integração dos professores, alunos, coordenação e direção, por meio do Projeto Político Pedagógico. Neste sentido, seguem alguns exemplos: Maior investimento na educação, como, por exemplo, recursos audiovisuais para utilização de métodos, que atraiam maior interesse dos alunos no processo de aprendizagem. (Prof. 9, APÊNDICE 5, Quadro 15) Acredito que seja necessário: valorizar o professor de Filosofia, estabelecer vínculos com os alunos, paciência, parceria com a direção/coordenação. (Prof. 10, APÊNDICE 5, Quadro 16) a. Estrutural. Carga excessiva de trabalho com as turmas. 93 b. Projeto Político Pedagógico. A existência formal, mas a ausência na prática. Filosofia acaba sendo um trabalho isolado. (Prof. 14, APÊNDICE 5, Quadro 15) Sobre o que tange ao ensino foram citados: modificação da proposta curricular do Estado de São Paulo; elaboração de um projeto político pedagógico consistente e efetivo; respeito por parte dos colegas de áreas diferentes; investimentos na relação entre o aprender e ensinar e nas novas tecnologias. Modificação substancial da proposta curricular do estado de SP; mecanismos reais para o professor disciplinar os alunos em aula; infraestrutura e salários melhores o que possibilitaria (entre outras coisas) de se manter em uma única escola, sem a necessidade de complementar aulas em outras escolas ou desenvolver outras atividades profissionais para se sustentar financeiramente. (Prof. 2, APÊNDICE 5, Quadro 15) a) Como diretriz: investir mais nas características do “aprender”, mais do que nos atributos do “ensinar”; b) Como procedimento: estudar mais as implicações das novas tecnologias no estudo da Filosofia. (Prof. 22, APÊNDICE 5, Quadro 15) E, consequentemente, ao que se refere ao professor, temos: o aprender constante e o desenvolvimento de como lidar com o jovem e as novas tecnologias; uso do diálogo com atributos de paciência, flexibilidade e conhecimento diversificado; escassez de tempo para preparação das aulas e empreendimentos interdisciplinares; formação continuada; estabelecimento de vínculos com os alunos, direção e coordenação; promoção de relações empíricas entre a Filosofia e a realidade vivenciada pelos educandos; formação pedagógica mais voltada para a prática em sala de aula. Seguem ainda mais alguns registros a este respeito: Lidar com o jovem no Ensino Médio e as novas tecnologias. (Prof. 1, APÊNDICE 5, Quadro 15) Paciência, conhecimento diversificado. (Prof. 3, APÊNDICE 5, Quadro 15) Falta de tempo para preparar as aulas, falta de real trabalho interdisciplinar e de mais aulas para desenvolver o debate. O material didático disponível também deixa a desejar. (Prof. 5, APÊNDICE 5, Quadro 15) 94 - Observação das diferentes realidades antes em que se está atuando. - Adaptação dos conteúdos por parte do professor, para que os alunos percebam de forma eficaz a atuação do conteúdo desenvolvido na rotina e na vida deles. - Buscar sempre uma prática interdisciplinar, utilizando-se dos conhecimentos ofertados pelas outras disciplinas para desenvolver seu próprio conteúdo. (Prof. 6, APÊNDICE 5, Quadro 15) Dadas as respostas, percebemos que o professor traz à baila diversas situações, que indicam modificações necessárias para a execução plena de seu ofício. Essas situações contrastam com disposições naturais de cada professor, peculiaridades das escolas, como também exigências da própria profissão. Notamos, ainda, que há um equilíbrio nas indicações do que seria necessário modificar, como também se apresentam como reflexos das práticas desses professores. E sobre a prática, tratemos no eixo temático, a seguir. 4.4 Sobre as ações de sua prática O presente eixo temático fora constituído por cinco questões, que se referiam às técnicas e estratégias utilizadas pelo professor, às opiniões dos professores em relação aos saberes que edificam sua ação pedagógica e a descrição de suas experiências. Na verificação das respostas sobre as técnicas e estratégias didáticas utilizadas pelos professores, encontramos exemplos diversificados que revelaram a preocupação de aulas preparadas e o acesso ao conhecimento. Encontramos, em comum, a promoção do debate como constituinte da aprendizagem dialógica filosófica, chegando a ser citada a preleção dialogada e as aulas expositivas. A utilização de estratégias com filmes e textos se refere às competências e habilidades (QUADRO 2) dos PCN (BRASIL, 1999). Vejamos alguns exemplos: Sensibilização dos alunos, aulas expositivas, filmes que possam agradar o aluno e que possibilitem um amplo espectro de reflexões ou acerca de uma temática específica, eventualmente realizamos alguma dinâmica e, também, utilização de textos que não sejam de filosofia ou letras de 95 músicas que remetem à reflexão. (Prof. 2 APÊNDICE 5, Quadro 16) Aulas expositivas dialogadas, com o uso de recursos audiovisuais, fóruns de discussão, leituras dirigidas, trabalhos de pesquisa individuais e em grupos, exibição de filmes e músicas. (Prof. 17, APÊNDICE 5, Quadro 16) A preocupação com a representação dos alunos quanto aos conceitos aprendidos é notada nas atividades em que manifestam o conhecimento adquirido por meio da composição de expressões artísticas (desenho, teatro, artesanato etc.) e produções textuais. Nesta perspectiva seguem alguns registros: A utilização em sala de aula são variadas como uma provocação por meio de interseção negativa (desafiando os alunos a superar um obstáculo e provocando-os com a devida cautela e após conhecer a historicidade do grupo.).Esteticidade seletiva: expor uma ideia, sentimento, situação por meio de maneiras individualizadas. Dados de semiose: utilização de habilidades individuais para expor algo (canto, desenho, leitura, e etc.). (Prof. 4, APÊNDICE 5, Quadro 16) - Leitura de leitura específica de autores da Filosofia; - Desenvolvimento de texto por parte dos educandos, visando proporcionar a oportunidade para que eles exponham suas ideias e opiniões; - Debate, em que se busca um confronto de ideias entre os educandos, levando-os a perceber como outros pensamentos sobre o mesmo assunto se desenvolvem. (Prof. 6, APÊNDICE 5, Quadro 16) Encontramos também, um professor que relatou, como técnica e estratégia, o bom humor. Ele nos diz que: “bom humor opera milagres, todo professor deve saber que é também um ator, sua sala de aula é seu palco e cada aula é uma representação inédita” (Prof. 8, APÊNDICE 5, Quadro 16). Tal exemplo nos leva a concluir, que, para a utilização de tão extensa lista de recursos, esse profissional deve possuir múltiplas habilidades que não se centram apenas no conhecimento e, sim, em como ele pode pensar, elaborar, refletir e se posicionar constantemente sobre suas estratégias. E, também, a utilização de recursos, chegando a indicar, ainda, aspectos sobre a sua própria personalidade. 96 Uma das questões centrais de nossa pesquisa foi apresentada nesse eixo temático, que indagava aos professores se acreditavam que existia algum saber que era específico da ação pedagógica do professor de Filosofia. Na tabulação dos dados encontramos três grupos de saberes. O primeiro diz respeito aos conhecimentos específicos do curso de Filosofia, ou seja, nomeados por Tardif (2012) como saberes disciplinares. Ao questionar sobre se estes professores acreditam que existem saberes que são específicos da ação pedagógica do professor de Filosofia, eis algumas de suas respostas: Sim, vidas e obras específicas. (Prof. 1, APÊNDICE 5, Quadro 17) Sim. No que diz respeito ao conhecimento, ciência, ética e estética. (Prof. 13, APÊNDICE 5, Quadro 17) Sim. Não se pode comparar a formação de um professor de matemática, por exemplo, com a de um professor de filosofia. Todos têm seu campo específico de atuação que são indispensáveis. A do professor de Filosofia acredito ser, a de provocar no aluno um olhar de estranhamento no sentido de facultar um crescimento integral fornecendo suporte psicológico e espiritual. (Prof. 23, APÊNDICE 5, Quadro 17) A seguir, constituímos o segundo grupo, com os saberes curriculares (TARDIF, 2012), que exemplificam: os saberes mais específicos da profissão docente dentro do agir do professor, na elaboração do seu plano de ensino; o entendimento sobre as questões interdisciplinares necessárias para o ensino; e a noção dos métodos a serem utilizados e sua aplicabilidade. Seguem alguns exemplos de acordo com esta categoria: Acredito que exista uma relatividade, pois se a adequação do currículo parte de uma premissa básica, de um ensino contextualizado, portanto, a formação deste docente é também específica e limitada. No entanto, talvez os saberes mais corriqueiros seja o domínio da História da Filosofia no Ocidente, e ainda, a estruturação do pensamento ocidental em sua forma e constituição (escrita). (Prof. 4, APÊNDICE 5, Quadro 17) Os saberes se entrecruzam em tantas disciplinas, são variados e concomitantes com o todo do ambiente escolar. (Prof. 7, APÊNDICE 5, Quadro 17) Sim, de acordo com o conteúdo a ser utilizado e apresentado, se encaminha para uma pesquisa que ajudará como ação 97 pedagógica em debates e orientação em apresentações. Para que exista um saber pedagógico, é necessário que antes haja um envolvimento com a pesquisa. Temas que possam englobar a parte filosófica para que haja uma discussão. (Prof. 21, APÊNDICE 5, Quadro 17) Por fim, o terceiro grupo diz respeito a algumas características, que foram mencionados e, dessa forma, elaboramos um quadro descritivo. Contudo, tais características são referidas mediante a prática que esse profissional já possui, o que nos leva a inferir serem seus saberes experienciais. Quadro 7 – Características atribuídas pelos sujeitos, que compõem um professor de Filosofia · · · · · · · · · · · · · · · Aberto a interações, diálogo, debate e discussões Atualizado Com capacidade de análise Crítico Cuidadoso com o pensar lógico Disponível Mediador Ouvinte Paciente Que promova exemplos e relações com a realidade Que negue a posse do conhecimento Questionador – Curioso – Provocador Reflexivo Tolerante Que visualize soluções Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. Tais características supracitadas revelam que os professores percebem que existe, para além dos saberes já citados no segundo capítulo (saberes da formação profissional, disciplinares, curriculares e experienciais), uma série de características, que o compõem como professor de Filosofia. 98 Mais uma vez, analisando as respostas, obtivemos uma unanimidade em relação ao que nossos professores pensam sobre sua prática educativa, de acordo com a experiência. Foram, significativamente, lembrados pelos sujeitos: a mudança de técnicas; estratégias e métodos utilizados nas aulas; a mudança do pensamento em relação a algumas atitudes e opiniões formadas que possuíam; como também, a forma e o tipo de avaliação que realizavam nas aulas e os assuntos abordados. Essas mudanças vão demonstrando que a experiência adquirida no exercício do magistério renova a prática do professor e o reconstitui a partir de suas vivências, de suas próprias constatações. De certa forma, é o que pressupõe Tardif (2012), com seus saberes experienciais. Salientamos, também, o pensar reflexivo, no exercício do pensamento crítico, no trabalho com seus alunos; porém, em primeiro lugar, consigo mesmo. Nesse mesmo eixo temático, ainda pedimos aos professores que relatassem alguma situação vivenciada em sua profissão e que se relacionasse com sua prática. As situações descritas evidenciavam ações e projetos empreendidos pelo professor como: realização de café filosófico; uso de questões de vestibular e incentivo à continuidade e estudo; promoção de debates, momentos de reflexão e discussão sobre temas problematizadores; aulas diferenciadas. Alguns relatos abordavam comparações e atitudes dos alunos, mediante experiências vividas em aulas ou proporcionadas pelos ensinamentos dos professores, seja enquanto conteúdo, seja na prática questionadora e reflexiva, como também na visão e no contato com o outro. Por meio das respostas obtidas no questionário, sobre a experiência de serem professores de Filosofia, visualizamos uma dimensão referente às relações interpessoais, ao comprometimento humano e ao compromisso de ensino-aprendizagem: características da práxis do professor. E assim, na resposta de cada profissional, estabelecemos e visualizamos a reconstituição do ser professor: Sim. Por exemplo, não querer criar laços de amizade com os alunos. Evidentemente há limites de envolvimento com os alunos, porém manter-se a postura “dura” do profissional, tão somente inviabiliza interações necessárias na busca de envolver o aluno com a natureza reflexiva e também sensível da disciplina. (Prof. 2, APÊNDICE 5, Quadro 19) 99 Sim, a experiência da docência vai ampliando a visão e permitindo enxergar coisas que só a experiência permite. Não dá para negar as transformações que vão acontecendo na prática em nome da experiência. Antes, eu fazia chamada todos os dias, e percebi que isso maquiniza demais o professor e o aluno, assim, faço dinâmicas e chamadas no primeiro bimestre e depois apenas as atividades comprovam a presença do aluno. (Prof. 15, APÊNDICE 5, Quadro 19) É impossível que um professor, procurando refletir sua atuação, não procure construir outras formas de atualizar ou ser docente. Certamente hoje sou mais paciente em relação ao tempo e modos de aprender de cada aluno, de cada grupo de pessoas às quais procuro ensinar. Certamente, tenho maior domínio dos contextos a serem construídos em sala de aula e quais conceitos fazer uso ou procurar construir. Tenho muito menos preocupação com as informações deste ou daquele filósofo, pois o que eles elaboraram serve tão somente como instrumentos de amostragem de como o homem pensou na história. Preocupo-me, sim, com o que os meus alunos são capazes de construir no seu “mundo” a partir do que veem, leem, escutam e refletem. (Prof. 25, APÊNDICE 5, Quadro 19) Também, foi possível compreender as contribuições percebidas por esses professores para a formação de seus alunos: Por exemplo, alguns alunos se aproximam para relatar seus problemas cotidianos, familiares e até mesmo confusões próprias da idade. A prática filosófica se aproxima muito de suas questões para ajudá-los a pensar em caminhos alternativos diante de seus problemas. Outro exemplo é o incentivo constante para que os alunos prestem o vestibular e estudem para isso. Periodicamente, formulo algumas questões de estudo a aplico testes em aula a fim de que eles acompanhem seus rendimentos. (Prof. 9, APÊNDICE 5, Quadro 18) Através dos debates filosóficos se percebe que procuram auxiliar na vivência de uma situação social. Pode haver um intercâmbio, onde eles (alunos) trazem informações observadas em seu dia a dia, apresentam tais fatos e se realizam os debates, acrescido com as informações que possuo tenta-se chegar a um denominador comum. Ex.: a questão da violência e a lei do silêncio dentro das favelas, outra questão é política, bem comum e corrupção. (Prof. 21, APÊNDICE 5, Quadro 18) Sim. Não obrigo mais meus alunos a copiarem a matéria. Percebi que a discussão e participação é mais produtiva. E não bato mais boca com os alunos, procuro debater os conflitos com argumentação. (Prof.5, APÊNDICE 5, Quadro 19) 100 Além disso, se entende o sentido atribuído ao papel de educação, bem como da própria Filosofia: Para mim é realmente algo muito excepcional, pois como professor de Filosofia me vejo em condições de proporcionar aos meus alunos momentos de reflexão que as outras disciplinas poucas vezes vão dar. E em um mundo onde não se há tempo para este tipo de momento é algo realmente necessário que a filosofia atue como uma janela de observação do mundo. (Prof.6, APÊNDICE 5, Quadro 20) Ao contrário do que alguns professores preconceituosos pensam, acredito que a Filosofia é indispensável para a boa formação do cidadão. Minha experiência tem sido muito gratificante, pois percebo que alguns alunos, muitas vezes desacreditados de si, conseguem boas notas por meio de sua participação e desenvolvimento de seus pensamentos e críticas, o que resultou consecutivamente em aumento de autoestima e, assim, fez com que esses alunos melhorassem também em seus rendimentos em outras disciplinas. Acredito que esses poucos resultados já colhidos é a resposta de um trabalho atencioso e comprometido. (Prof.9, APÊNDICE 5, Quadro 20) Um contínuo aprender a aprender, aprender a ensinar e aprender a pensar. (Prof. 22, APÊNDICE 5, Quadro 20) As ações sobre a prática, determinadas nesse eixo temático, não estabelecem posições diferenciadas para os professores que atuam em diferentes redes de ensino (privada e pública). 4.5 Sobre a formação continuada Para findarmos a análise dos eixos temáticos, passaremos para a verificação das respostas dos professores quanto às ações empreendidas para a formação continuada. Por meio dos relatos dos professores, entendemos que a formação continuada ocorre constantemente, seja formalmente ou informalmente. Citada entre a maioria, a leitura, em geral, é uma forte modalidade da busca contínua para atualização do professor, seja em termos específicos de Filosofia quanto de Educação, como também em conhecimentos e informações 101 diárias e gerais. Um exemplo disso é o registro de um dos professores de Filosofia: (...) Penso que a melhor ação é o diálogo com outros professores e, claro, leitura de textos filosóficos, especializados em educação, antropologia, imprensa diária, sociologia etc. Enfim, estar relativamente bem informado sobre o mundo, buscar acompanhar as produções de pesquisas tanto em Filosofia quanto as específicas sobre educação. O que fica mais fácil a partir do momento que se tem uma formação em pesquisa, ou melhor, em aprender a aprender. (Prof.2, APÊNDICE 5, Quadro 21) A utilização de novas tecnologias e redes sociais é bastante explorada com visitas a site e blogs. Aliado à compreensão das novas formas de comunicação, há de se levar em conta, o acesso à cultura nas suas múltiplas formas de expressão: teatro, cinema como também, viagens. Neste sentido, o Prof. 18 (APÊNDICE 5, Quadro 21) escreve que é preciso “investir em cursos de pós-graduação e viagens que dão conta de uma troca de riquezas culturais”. Já o Prof. 19 (APÊNDICE 5, Quadro 21) escreve que considera importante as seguintes ações: “leituras diferenciadas, vídeos e tecnologias”. A troca com os pares de Filosofia e professores de outras áreas do conhecimento, seja nos momentos de reuniões pedagógicas nas escolas ou nas instituições de ensino superior, estabelecem o retorno ao debate, troca de experiências, como também de novos materiais de estudo. A aquisição de livros foi citada apenas uma vez, e a dificuldade financeira para seu acesso não foi mencionada. Foram relatados, também: a formação de grupos de pesquisa para alunos e para os próprios professores; participação em cursos, fóruns, palestras, conferências, bem como cursos de pós-graduação, em que ocorre a ênfase à pesquisa e o aprendizado; além das publicações desse porte. Seguem mais algumas falas: Busco aperfeiçoar a minha prática por meio de leituras diferenciadas, pesquisas de temas diversos, participação efetiva dos HTPC’s, cursos de formação de professor oferecidos pela EFFP, Pós-Graduação. Participação de peças de teatro, filmes, grupos de pesquisas, debates, seminários, projetos, palestras etc.(Prof. 15, APÊNDICE 5, Quadro 21) Leitura constante de livros de filosofia, produção de artigos, organização de grupos de estudo para estudante e entre pares, 102 leitura diária de jornais e revistas, observação à blogosfera e sempre me manter fazendo algum curso. (Prof. 20, APÊNDICE 5, Quadro 21) Participo dos cursos oferecidos pela SEE SP, leio livros relacionados à prática pedagógica e busco refletir, a cada dia, a respeito da minha prática em sala de aula, tentando perceber aspectos positivos e negativos. (Prof. 24, APÊNDICE 5, Quadro 21) No que se refere aos professores que ministram aulas na rede pública estadual de São Paulo, a formação continuada também ocorre de acordo com o relato de alguns professores: Hoje, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo mantém diversos canais de estudo para os professores da rede pública de ensino, proporcionando uma reciclagem contínua destes educadores que por anos tiveram dificuldades em se aprimorar enquanto educadores devido a sua rotina diária de sala de aula. (Prof. 6, APÊNDICE 5, Quadro 21) Participo dos cursos oferecidos pela SEE SP, leio livros relacionados à prática pedagógica e busco refletir, a cada dia, a respeito da minha prática em sala de aula, tentando perceber aspectos positivos e negativos. (Prof. 24, APÊNDICE 5, Quadro 21) Dadas algumas percepções, os professores demonstraram descontentamento, pois nos parece que as formações e/ou cursos ministrados acabam trabalhando os conteúdos básicos, tentando atingir aos professores que não são graduados em Filosofia. Todavia, outros se manifestaram, alegando que já não ocorrem mais cursos com tanta frequência, como também não veem grande significação no conteúdo ministrado e na compensação salarial que acarretará. Seguem alguns registros: Participei do curso semipresencial “Filosofia & Vida”, promovido na época em que o prof. Gabriel Chalita era o Secretário da Educação do Estado de São Paulo. Foi muito proveitoso. São algumas ações de formação continuada que ao meu entender valem a pena; entretanto, entre elas tem muito curso que eu chamo de “remendão”. Parece que foram pensados para professores que tem uma formação precária em filosofia, por exemplo, aqueles formados a distância ou por “complementação” na área. (Prof. 2, APÊNDICE 5, Quadro 22) Não pretendo participar de mais nenhum curso que não seja para evolução funcional, o que também não compensa, pois fazer um curso de especialização de 18 meses para “evoluir” 103 6% por cento de aumento no piso salarial...Concluí que aprendo muito mais estudando sozinha, sou mais coerente... (Prof. 8, APÊNDICE 5, Quadro 22) O sistema de Estadual de Educação de São Paulo é uma vergonha! Dispomos de três grandes universidades públicas estaduais e o que temos efetivamente acontecendo no sentido de proporcionar, em forma de políticas públicas, para proporcionar a formação continuada do professor? – Muito pouco. Tão pouco que nem faz sentido citar. Sou professor da Rede há sete anos. E a cada ano o que sinto é a total falta de competência no sentido de gerir a “pasta” da Educação nesse estado, diga-se de passagem, o mais rico da federação. Faz-se um concurso, os iniciantes participam de um curso de formação ridículo e dizem que isso é formação continuada. É vergonha! (Prof. 25, APÊNDICE 5, Quadro 22) Podemos perceber, nos relatos dos professores, que a formação continuada nem sempre ocorre como um processo natural de suas aulas e da prática docente, embora muitos declarem que estão sempre pesquisando e se aprimorando. Mesmo a pergunta sendo voltada aos professores da rede estadual, podemos perceber que existe um descompasso nos limites do ensino privado e público, pois dificilmente a rede privada faz capacitações, como também orienta e coordena atividades específicas voltadas aos professores de Filosofia. O que vemos, então, são ações isoladas, que partem das editoras de materiais didáticos, como também do interesse particular de cada professor. O que despende um custo financeiro, como também tempo de dedicação, em que o professor pode necessitar afastar-se de alguma função ou quantidade de aulas para dedicar-se à sua formação. As análises inferidas nos eixos temáticos, realizadas nesse capítulo, possibilitaram delinear duas dimensões sobre os professores de Filosofia, do Ensino Médio. Em um primeiro momento, assim como delimitamos enquanto objetivo geral, foi possível identificarmos os saberes desses professores enquanto disciplinares, curriculares e experienciais. Todavia, no segundo momento, encontramos ações adversas que excedem os limites de um domínio metodológico e do espaço escolar, fazendo parte do contexto que influencia a prática didática desse professor 104 fortalecendo, assim, o que Gimeno Sacristán (1995) conceitua, e já tratamos no capítulo anterior, como sistema de práticas aninhadas. Encontramos essas ações nas características descritas pelos sujeitos sobre o professor de Filosofia (referente ao item 4.4, QUADRO 7) uma vez, que se trata de atitudes que o professor assume, mas não são adquiridos e/ou apreendidos em sua formação. Neste sentido verifiquemos os relatos de alguns professores. O primeiro deles volta-se para conhecer outros assuntos, além dos saberes disciplinares e curriculares. Retrata a necessidade de uma “bagagem cultural” presente no sistema social, que contemple novos conhecimentos, indicando que nem sempre são disponibilizados na formação docente. Veja a fala que segue: (...) Possuo formação em literatura, mitologia grega, introdução ao grego clássico, psicologia, línguas estrangeiras modernas, História da Educação, formação continuada etc. É de acordo com nossa bagagem cultural que desenvolvemos nosso trabalho, creio eu. (Prof. 8, APÊNDICE 5, Quadro 11) Também, indicam a importância da formação familiar, que consagra os primeiros ensinamentos e está inserida em uma educação assistemática, como vemos a seguir: (...) desde a formação familiar (nossa primeira sociedade) e depois na formação acadêmica, onde sempre busquei ver o lado humano, o social e partir do estudo do que os alunos trazem na essência, transferindo isso para o grupo, sempre discutindo, debatendo e refletindo sobre os assuntos em questão. (Prof. 12, APÊNDICE 5, Quadro 11) Uma outra questão diz respeito a estar na profissão por prazer, justificando a escolha dos docentes para suas ações, mesmo tendo ciência dos problemas e os limites apresentados pelo sistema educativo, suas práticas didáticas e educativas, como revela o trecho a seguir: O principal é gostar da profissão, porque educar é uma tarefa árdua. O segundo é estar sempre aberto a mudanças, porque, às vezes, você prepara a aula pensando que ela vai se desenrolar de uma forma e vê na aplicação que você tem que mudar a forma de abordagem, para aproveitar a dinâmica do momento, como algum assunto que aparece ou mesmo porque a estratégia não está dando certo. (Prof. 17, APÊNDICE 5, Quadro 13) 105 Ainda, é preciso destacar a importância da relação com os alunos, confirmando o professor como uma figura que se apresenta para além do respeito intelectual, tornando-se presente em uma relação de confiança e aconselhamento, conforme a fala do Prof. 9 (APÊNDICE 5, Quadro 18): Por exemplo, alguns alunos se aproximam para relatar seus problemas cotidianos, familiares e até mesmo confusões próprias da idade. A prática filosófica se aproxima muito de suas questões para ajudá-los a pensar em caminhos alternativos diante de seus problemas. Outro exemplo é o incentivo constante para que os alunos prestem o vestibular e estudem para isso. Periodicamente, formulo algumas questões de estudo a aplico testes em aula a fim de que eles acompanhem seus rendimentos. Ainda, é preciso destacar a importância da relação com os alunos, confirmando o professor como uma figura que se mostra para além do respeito intelectual, tornando-se presente em uma relação de confiança e aconselhamento. Em todas as circunstâncias apresentadas, deparamo-nos com situações que extrapolam o papel assumido e edificam o docente desde sua formação até as situações que conduzem sua prática. 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS É necessário sair da ilha para ver a ilha. (SARAMAGO, 1999) Na obra “O conto da ilha desconhecida”, de José Saramago (1999), há uma passagem que enfatiza como precisamos nos afastar para enxergar a ilha, e, no momento em que nos encontramos, concluímos que é necessário voltar à ilha, para anunciar o que vimos e encontramos. A presente pesquisa contribuiu para que, enquanto formadora de professores de Filosofia, realmente enxergasse de volta a minha própria ilha. Embarcar nessa viagem reflexiva e, em busca de diversos saberes, despertou no meu próprio ser, os saberes necessários para o exercício de minha ação docente no ensino superior. A participação no Grupo de Pesquisa do Programa de Mestrado possibilitou, ainda, a articulação com pessoas de temáticas diferenciadas, mas que se baseiam na formação de professores, produzindo e participando de eventos, que permitem a ampliação de uma rede de conhecimentos. A proposta de uma investigação sobre os saberes docentes trouxe, então, à baila a perspectiva de um estudo que pudesse efetivar e consagrar dois elementos primordiais: a formação e a prática. Desde o princípio pensávamos que a formação e a prática seriam como as primeiras linhas que são colocadas em um tear, uma ao lado da outra e cada qual sustentaria àquelas outras linhas que viriam, mantendo suas características próprias. Entretanto, não foi o que encontramos! Temos, é claro, as primeiras linhas, que a chamamos de linhas mestras – a formação e a prática – e na continuação do tear, as novas linhas, que são agregadas, começam a se misturar e acabam por alinhavar as duas linhas mestras. Elas não deixam de serem as mesmas, mas suas características se modificam nos novos cruzamentos. Entre a formação e a prática, o professor, quando começa a tecer sua história, vai se modificando, tecendo novos caminhos de sua formação e contornos para sua prática. Nessa analogia, não temos mais dois fios e, sim, 107 um emaranhado de fios, que se entrecruzam, possibilitando uma obra vista de diferentes ângulos, em seu verso e reverso, seu lado e avesso. Passemos a demonstrar como essas linhas concluíram sua modelagem. Na sua formação, os professores conhecem diversos documentos oficiais, têm acesso a eles e os estudam. Entretanto, nem sempre ocorre uma continuidade e acompanhamento desses estudos, uma vez que áreas de interesse e o acesso se modificam. Ficaram latentes, em nossa pesquisa, os fios da rede pública e da rede privada, pois, ao compararmos os conhecimentos dos professores, vimos diferenciais, que podem ser justificados em relação às publicações oficiais e o advento do uso de materiais. Tal comparação se torna frutífera para estudos posteriores, pois os sujeitos podem aliar-se para orquestrar o descompasso, que nos referimos durante a pesquisa, principalmente, em relação à questão do estudo sobre a formação continuada, garantida pelos professores do ensino público e almejada por aqueles do ensino privado. Partindo desse liame, estabelecemos como objetivo geral identificar quais seriam os saberes dos professores de Filosofia, no Ensino Médio, em relação à formação e à prática. Desse modo, o primeiro capítulo, nomeado por Breve histórico do componente curricular, estabeleceu a possibilidade de verificarmos como se efetivou a presença da Filosofia no contexto educacional, tornando-se difícil entender realmente sua posição devido à imanência provocada pela entrada e retirada do currículo brasileiro. O estudo dos documentos oficiais possibilitou um entendimento sobre como estavam se estabelecendo as diretrizes, que sustentariam o ensino de Filosofia. Entretanto, notamos que aos professores o entendimento e a constituição de um significado sobre a disciplina e o ser professor ainda está em formação, uma vez que o profissional também adquiriu uma figura desgastada, que, após a sanção da Lei 11.684 (BRASIL, 2008), tornou-se novamente participante da educação brasileira. No segundo capítulo, intitulado como O professor de Filosofia na sua prática educativa, prepara-nos para entender o que verificamos na explicação da abordagem metodológica dos eixos temáticos demonstrados no terceiro 108 capítulo, Os caminhos da pesquisa, e descritos no quarto capitulo, Os saberes docentes dos professores de Filosofia e suas práticas aninhadas. Foi possível entendermos que quanto à formação, os saberes da formação profissional são reconhecidos pelos professores formados em Filosofia, pois reconhecem a relação com sua atuação docente e percebem a influência dos professores e de como são influenciados por essa formação. Nossos cinco (5) sujeitos, que não possuem esta formação específica, citam, por vezes, essa necessidade. Em relação aos saberes disciplinares, encontramos como determinantes para a atuação pedagógica, ou seja, para os professores esses saberes ditam o que estão ensinando, uma vez que determinam os conteúdos aprendidos nas disciplinas puras do curso e ensinados aos alunos do Ensino Médio. Estabelecem, nesse ínterim, a relação entre teoria e prática, aquilo que aprenderam e que estão ensinando. Os saberes curriculares, que realizam a integração do que e como ensinar, aparecem como aqueles saberes da profissão docente do professor de Filosofia, em que verificamos as atividades empreendidas (QUADRO 16), intraclasse e extraclasse, sendo já descritas nos documentos oficiais estudados. Quanto aos saberes experienciais, a pesquisa confirmou que acontecem durante a própria formação da prática desse professor, nas situações ocorridas dentro do seu processo, enquanto professor, ou seja: no ensino-aprendizagem docente, no seu trabalho pedagógico, na sua atuação, isto é, em sua prática. Encontramos, assim, os saberes impressos tanto na formação quanto na prática desse professor, constituindo sua identidade profissional enquanto professor de Filosofia. É, nesse sentido, que não podemos fugir da caracterização de uma identidade do professor ao tratarmos dos saberes, da formação e da prática do professor. As necessidades apontadas pelos sujeitos de pesquisa aparecem como uma forma de superação das dificuldades que encontram no exercício de prática profissional, seja em relação à estrutura das escolas e de trabalho, seja 109 quanto aos investimentos da formação continuada, o uso e aprimoramento de novas tecnologias. Nessa tecelagem de conceitos sendo alinhavados, voltamos aos conceitos anunciados por Gimeno Sacristán (1995), Cunha (1997), Abdalla (2006) e Tardif (2012). A prática educativa realizada pelo professor não se encontra em um lócus apenas, há inúmeras situações que influenciam e tonalizam todo o processo, constituindo o sistema de práticas aninhadas, que nos permite entender que algumas situações, mesmo não estando dentro do contexto escolar, interagem com ele. Os saberes que vêm sendo adquiridos com a prática constituem a vivência e a experiência desses professores, e os fazem entender o sentido de “ser” e “sentir” enquanto professor, ressignificando seu papel na educação em geral e, especificamente, enquanto professor de Filosofia. Também, foi importante observar que estes professores estabelecem relações entre o “saber” na busca de sua formação continuada e o “fazer” na continuidade e aprimoramento de sua prática, conforme também destaca Cunha (1997, p. 105106). É o movimento de (re) conhecer, (re) fazer e (trans) formar em que o professor dentro de sua totalidade envolve novas possibilidades de ação, descartando seu comodismo e agindo sobre suas condições e necessidades ancoradas. Este movimento exige tomada de consciência, e como enfatiza Abdalla (2006, p. 48); Essa tomada de consciência exige pesquisa. Exige um conhecimento profissional que pense certo. Conhecimento que seja, como vimos, crítico e prenhe de possibilidades. O que implica conhecer, (re) fazer e transformar a realidade. E isso suscita uma construção permanente dos saberes da docência – científicos, pedagógicos, da experiência (culturais) – e do campo de suas relações (político-social), para ser possível ampliar, cada vez mais o espaço das possibilidades. Nesse processo, torna-se vital, a partir das necessidades articuladas pelos sujeitos, pensar o professor de Filosofia com possibilidade de saber ser e saber fazer como encontramos nos relatos sobre a experiência docente (QUADRO 20), sintetizado na fala deste sujeito: É simplesmente magnífico poder estar junto aos alunos e de alguma forma, mesmo que tímida, poder melhorar o ser 110 humano naquilo que ele tem de mais valioso que é a sua essência. (Prof. 23, APÊNDICE 5, Quadro 20) Nesse sentido, ouvir os professores atuantes nos convida a reavaliar o movimento curricular histórico que empreendemos no primeiro capítulo quanto à abordagem curricular da disciplina de Filosofia. Começamos a constituir uma nova história em nosso país e o ensino de Filosofia demonstra que ainda precisamos avaliar os percursos, desde a Lei nº 11. 684 (BRASIL, 2008), que têm apontado, nas salas de aula, algumas experiências sobre o próprio sentido e o papel da Filosofia, do seu ensino e da formação dos novos professores. Propomos, assim, que ocorra a instalação de grupos de estudo e discussão entre professores de Filosofia e gestores sobre as relações apresentadas pelos documentos oficiais e as ações que são empreendidas em sala de aula. E que seja revisto o empreendimento do verdadeiro papel da Filosofia enquanto processo crítico e reflexivo nas práticas escolares, bem como a revisão dos cursos superiores, para realmente formar egressos capacitados em seus saberes a fim de qualificar a prática docente. 111 REFERÊNCIAS ABDALLA, Maria de Fátima Barbosa. O senso prático de ser e estar na profissão. São Paulo: Cortez Editora, 2006. 120 p. (Questões da Nossa Época, nº 128). 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Maria de Fátima Barbosa Abdalla Mestranda: Priscylla Krone Martins Coratti Sarsano de Godói QUESTIONÁRIO Ø Identificação Nome: _______________________________________________________ Idade: _______________ Gênero: ( ) Masculino ( ) Feminino Ø Quanto à trajetória de formação Graduação: ( ) Bacharelado ( ) Licenciatura Curso: _______________________________________________________ Instituição: ___________________________________________________ Ano: _________ Pós graduação: _______________________________________________ Instituição: __________________________________________________ Ano: _________ Stricto Sensu: _________________________________________________ Instituição: ___________________________________________________ Ano: _________ 122 Há quanto tempo é professor de Filosofia? _________________________ Sempre lecionou Filosofia no Ensino Médio? ( ) Sim ( ) Não Tipo de instituição: ( ) Privada ( ) Pública Leciona Filosofia em outros níveis? Quais? _____________________________________________________________ _____________________________________________________________ Ø Conhecimento sobre os documentos que amparam o trabalho do professor 1- Marque com X os documentos que possui conhecimento: ( ) Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 ( ) Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM) ( ) Parâmetros Curriculares Nacionais ( ) PCN+ EM: Orientações Curriculares Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais ( ) Orientações Curriculares para o Ensino Médio ( ) Proposta Curricular do Estado de São Paulo 2- Você utiliza algum material didático – para o professor – como referência para estudo e preparação de aula? Quais? (Especifique cada um deles) __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3- Há relações entre as necessidades reais de aprendizagem e de ensino em sala de aula com os documentos citados acima? Quais? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 123 Ø Percepção da docência 1- Considera que sua formação influenciou e/ou auxiliou na sua maneira de lecionar? Em que aspectos? Procure dar alguns exemplos. __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2- Para além da formação específica em Filosofia, você considera também importante uma formação pedagógica? Justifique. __________________________________________________________ __________________________________________________________ Ø Percepção da sua realidade docente 1- O que você pensa ser necessário para a ação do professor de Filosofia em sala de aula? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2- Qual é o tipo de relação estabelecida entre os conhecimentos adquiridos em sua formação inicial e sua atuação como professor? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3- Quais suas sugestões para a superação das possíveis dificuldades que você encontra no exercício da profissão? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 124 Ø Ações de sua prática 1- Na sua prática de professor, quais as técnicas e estratégias didáticas utilizadas em aula? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2- Você acredita que existem saberes que são específicos da ação pedagógica do professor de Filosofia? Quais? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 3- Relate alguma situação vivenciada no exercício de sua profissão, que se relaciona diretamente com sua prática. __________________________________________________________ __________________________________________________________ 4- Você pensa que a experiência do professor vai mudando a sua atuação? Exemplifique com algo que fazia anteriormente e já não realiza mais. __________________________________________________________ __________________________________________________________ 5- Descreva sua experiência em ser professor de Filosofia. __________________________________________________________ __________________________________________________________ 125 Ø Formação continuada 1- Quais ações você realiza para aperfeiçoar sua prática? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 2. Para aqueles que são professores da rede Estadual de São Paulo: Quais têm sido as ações de formação continuada oferecidas pela SEE/SP? Você teve oportunidade de participar de algumas? __________________________________________________________ __________________________________________________________ 126 Apêndice 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Título: Saberes dos professores de filosofia de Ensino Médio: entre as necessidades formativas e as necessidades da prática. Orientador: Profa. Dra. Maria de Fátima Barbosa Abdalla Pesquisador: Priscylla Krone Martins Coratti Sarsano de Godói R.G.: 29.407.078-3 CPF.: 267420008-13 Telefone: 13- 30217420 / 81308771 Sou aluno(a) matriculado(a) no Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Educação – Mestrado em Educação – na Universidade Católica de Santos, onde desenvolvo pesquisa sobre os saberes relativos à prática docente e de formação dos professores de Filosofia do Ensino Médio, que tem por objetivo: Compreender quais saberes docentes são necessários na prática dos professores de Filosofia no Ensino Médio. Sua participação no estudo não acarretará em nenhum tipo de risco ou gasto financeiro. O anonimato de todas as pessoas que participarão da pesquisa será preservado, assim como as menções a pessoas ou Instituições durante as entrevistas/questionários. A participação nesta pesquisa é voluntária, e o afastamento da pesquisa não acarretará qualquer risco ou penalidade. Uma via deste documento de consentimento ficará em seu poder. Desde já agradeço por sua colaboração na realização deste estudo. Atenciosamente Pesquisador: Priscylla Krone Martins Coratti Sarsano de Godói CONCORDÂNCIA EM PARTICIPAR Eu, ___________________________________________________________, concordo em participar do estudo descrito. Assinatura do/a Participante:_______________________________________. Data:_____________________________ 127 Apêndice 3 – Relação dos Quadros Quadro 1 – Pesquisas selecionadas sobre o “Ensino de Filosofia no Ensino Médio” Ano Autor Título 1992 Sonia Maria Ribeiro de Por que Filosofia? Uma abordagem Souza histórico-didática do ensino de Filosofia no 2º grau 2002 Edna Maria Magalhães O Ensino de Filosofia na educação do Nascimento. de nível médio em Teresina (PI): relação entre formação inicial e prática pedagógica do (a) professor (a) de Filosofia 2003 Pedro Ergnaldo Os professores de Filosofia e os Gontijo sentidos de suas práticas docentes no ensino médio regular das escolas publicas do Distrito Federal. 2003 Raquel dos Santos O Ensino de Filosofia no Ensino Médio: uma abordagem históricodocumental 2003 Rejane Justen O professor de Filosofia no Ensino Ramborger Médio: uma reflexão sobre sua formação inicial. 2004 Evandro Luiz Ghedin A filosofar como práxis: pressupostos epistemológicos e implicações metodológicas para seu ensino na Escola Média. 2004 Guilherme Aparecido O ensino de Filosofia no Ensino Penna Médio: do prescrito ao chão da escola 2005 Paulo Ricardo Tavares Saberes do professor de Filosofia da Silveira. no nível médio 2005 Wilson Rufino da Silva A prática de ensino na formação docente: conversando sobre os/as discentes-professores/as. 2007 Isaltino Dias A Filosofia no Ensino Médio: sentidos do exercício da docência. 2007 Márcia Eliane Araujo Um estudo sobre as necessidades Londero formativas dos professores de Filosofia na rede estadual de Ensino Médio, da cidade de Santa Maria 2011 Maria Fernanda Alves O ensino de filosofia no ensino Garcia Montero médio brasileiro: antecedentes e perspectivas Nível de Stricto Sensu Doutorado Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Doutorado Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Mestrado Fonte: Base de Dados Capes. Disponível em: <www.capes.gov.br>. Acesso em: janeiro de 2013. 128 Quadro 2 – Competências e habilidades de Filosofia Representação e comunicação Investigação e compreensão Contextualização Sociocultural · Ler textos filosóficos de modo significativo. · Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros. · Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo. · Debater, tomando uma posição, defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes. · Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais. · Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoalbiográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica. Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio/PCNEM (BRASIL,1999, p. 125) 129 Quadro 3 – Eixos, temas e subtemas EIXOS TEMÁTICOS Relações de poder e democracia Temas 1. A democracia grega Subtemas · A ágora e a assembléia: igualdade nas leis e no direito à palavra · Democracia direta: formas contemporâneas possíveis de participação da sociedade civil 2. A democracia contemporânea · Antecedentes: - Montesquieu e a teoria dos três poderes - Rousseau e a soberania do povo · O confronto entre as ideias liberais e o socialismo · O conceito de cidadania 3. O avesso da democracia · Os totalitarismos de direita e esquerda · Fundamentalismos religiosos e a política contemporânea A construção do sujeito moral Temas Subtemas 1. Autonomia e liberdade · Descentralização do indivíduo e o reconhecimento do outro · As várias dimensões da liberdade (ética, econômica, política) · Liberdade e determinismo 2. As formas da alienação moral · O individualismo contemporâneo e a recusa do outro · As condutas massificadas na sociedade contemporânea 3. Ética e política · Maquiavel: as relações entre moral e política · Cidadania: os limites entre público e privado O que é Filosofia Temas Subtemas 1. Filosofia, mito e senso comum · Mito e Filosofia: o nascimento da Filosofia na Grécia · Mitos contemporâneos · Do senso comum ao pensamento filosófico 2. Filosofia, ciência e tecnocracia · Características do método científico · O mito do cientificismo: as concepções reducionistas da ciência · A tecnologia a serviço de objetivos humanos e os riscos da tecnocracia · A bioética 3. Filosofia e estética · Os diversos tipos de valor · A arte como forma de conhecer o mundo · Estética e desenvolvimento da sensibilidade e imaginação Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais Mais/PCN+ (BRASIL,2002, p. 52-53) 130 Apêndice 4 – Quadro elaborado quanto à identificação dos sujeitos de pesquisa Quadro 4 - Caracterização da faixa etária e de gênero dos sujeitos de pesquisa Sexo Faixas etárias Feminino Masculino Entre 20-30 anos Entre 31-40 anos Entre 41-50 anos Entre 51-60 anos Acima de 60 anos 9 16 8 10 3 3 1 Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. 131 Apêndice 5 – Quadros elaborados a partir dos eixos temáticos Quadros 5 a 7 Quadro 5 – Características quanto à formação dos sujeitos da pesquisa GRADUAÇÃO CURSO FILOSOFIA HISTÓRIA PORTUGUÊS ESTUDOS SOCIAIS CIÊNCIAS SOCIAIS MATEMÁTICA LICENCIATURA 13 1 1 1 1 1 BACHARELADO E LICENCIATURA 7 - PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU STRICTO SENSU 17 6 Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. 132 Quadro 6 – Características quanto ao tempo de docência dos sujeitos da pesquisa, ao nível de ensino e ao tipo de instituição COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA ATÉ 2 ANOS DE 3 A 5 ANOS DE 6 A 10 ANOS DE 11 A 20 ANOS DE 21 A 30 ANOS 3 6 11 3 2 SIM 17 ENQUANTO PROFESSOR DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO NÃO Ed. Inf. 1 Ens. Fundamental 4 Ens. Fund. I 1 Ens. Fund. II 3 Ens. Superior 5 EJA (Ed. De Jovens e Adultos) 3 PRIVADA 6 PÚBLICA 7 PRIVADA E PÚBLICA 12 TIPO DE INSTITUIÇÃO Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. 133 Quadro 7 – Características atribuídas pelos sujeitos, que compõem um professor de Filosofia · · · · · · · · · · · · · · · Aberto a interações, diálogo, debate e discussões Atualizado Com capacidade de análise Crítico Cuidadoso com o pensar lógico Disponível Mediador Ouvinte Paciente Que promova exemplos e relações com a realidade Que negue a posse do conhecimento Questionador – Curioso – Provocador Reflexivo Tolerante Que visualize soluções Fonte: Dados coletados por meio do questionário aplicado. 134 EIXO TEMÁTICO: CONHECIMENTO SOBRE OS DOCUMENTOS QUE AMPARAM O TRABALHO DO PROFESSOR Quadros 8 a 10 Quadro 8 – Resposta dos professores de Filosofia quanto aos documentos que possuem conhecimento DOCUMENTOS P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X - X X - X X X LDB 9394/96 X DCNEM X - X X X X X X X - X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X - - X X - X X X PCN X X X X X PCN+EM X OCEM X PROPOSTA - - X X - X X - - X X X X X X X X - - - X - - X X X - - X X X X X X X X X X X X X X - X - X X - - X TT 24 X 20 X 24 X X X 20 X - - - X - X - X X X 17 X X 17 135 Quadro 9 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Você utiliza algum material didático – para o professor – como referência para estudo e preparação de aula? Quais? (Especifique cada um deles) P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Livro Marilena Chauí, sites etc. Livros didáticos: “Filosofando”; “Convite à Filosofia” e apostilas de Filosofia da “proposta” curricular do Estado de SP. Internet, blogs. Cadernos do Professor Secretaria da Educação do Estado de São Paulo; Livro paradidático Gilberto Cotrim. Fundamentos da Filosofia Edição 2010; Material apostilado Ético. Módulo Filosofia. Os livros que trabalho possuem apoio didático virtual (SM e Saraiva). Também utilizo o portal educacional da escola. Como sou professora de Filosofia da Educação, no curso de Pedagogia, também utilizo outras bibliografias. - Apostila do professor do Estado de São Paulo. - Livros didáticos indicados pela Diretoria de Ensino. O material didático oferecido para a disciplina de Filosofia, pela rede estadual de ensino, são apostilas bimestrais e livro didático. A escolha do livro didático foi atendida, utilizamos o livro Filosofando – Introdução à Filosofia, das autoras Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. As apostilas são utilizadas como material de apoio, por conter exercícios e alguns pequenos textos, seguindo a recomendação do Governo do Estado de São Paulo. O livro didático apresenta os conteúdos com maior profundidade e complexidade, sendo assim está em constante uso em sala de aula, fundamentando as aulas expositivas e oferecendo uma visão melhor do conteúdo. Material oferecido pela SEE/SP. (Apostilas), livro didático de Filosofia. Além do material apostilado oferecido pelo governo, utilizo os livros didáticos de Gilberto Cotrim, Marilena Chauí e Pérsio Santos de Oliveira. Livros: Convite à Filosofia - Marilena Chauí, Coleção Compreender – de Christophe Rogue, Apostila para o professor fornecida pela escola. Site: www.filosofia.com.br; www.portaldoprofessor.mec.gov.br Sim, utilizo material apostilado. Livros didáticos, principalmente da Marilena Chauí e Gilberto Cotrim; Revista Educação e Revista Escola (alguns artigos); filmes, músicas, jornais e pesquisas na internet e até redes sociais (Facebook). Cadernos da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Filosofando: introdução à Filosofia. A apostila Caderno do Professor da Secretaria do Estado da Educação São Paulo. Dicionário de Filosofia – Abbagnano. Filosofia – Marilena Chauí Filosofando e Temas de Filosofia – Maria Lúcia e Maria Helena Arruda Livros – Maria Lucia de Arruda Aranha, Maria Helena Pires Martins, Marilena Chauí, Gilberto Cotrim, Danilo Marcondes, Miguel Reale. Músicas – MPB e outros - (Alceu Valença, Chico Buarque, Caetano Veloso, Rita Lee, Luiz Gonzaga e outros) Vídeos da Filósofa Viviane Mosé (Série - Ser ou Não Ser?) e Mário Sergio Cortella, Paulo Ghiraldelli e outros. PowerPoint – figurativo/caixas de texto de períodos ou filósofos Jornal e revista (mídia) – atualidade circunscrita e assistida Apostila do aluno e do Professor (SEE/SP) 136 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Tirinhas de Laerte, Mafalda, Macanudo, Mauricio de Sousa. Literaturas diversas – Machado de Assis, Jorge de Lima, Clarice Lispector, Millôr Fernandes. Poesias – Cora Coralina, Bertold Brecht, Carlos Drummond de Andrade. Obras de Artes – Tarsila do Amaral, Van Gogh, Piet Mondrian, Richard Wagner. Sim, o livro didático. (“Convite à Filosofia”; “Filosofando”, etc.) A escola utiliza o material do sistema de ensino Universitário. - Convite à filosofia: Marilena Chauí - Temas de Filosofia: Maria Lúcia de Arruda Aranha - Filosofando: Introdução à filosofia: Maria Lúcia de Arruda Aranha - Apostila ETAPA de FILOSOFIA (4 volumes). Livros Didáticos, Revistas específicas, Artigos, Apostila, músicas e filmes. Na verdade, uso materiais variados. Não me prendo a um. Os documentos norteiam mais a preparação do curso do que das aulas em si. Apostilas Filosofia e Vida – Governo Estado de São Paulo 2006. Cadernos do Professor – SEE São Paulo – Governo do Estado 2009. Apostilas Sistema Etapa e Sistema Dom Bosco. Livro Didático – Fundamentos da Filosofia – Gilberto Cotrim. Iniciação à Filosofia – Marilena Chauí. Revista de Filosofia. Chauí, Marilena. “Filosofia: Ensino Médio”, Ática (Série Brasil). Livro didático e apostilas fornecidas pela instituição além de material extraído da internet. Sim. As apostilas fornecidas pela SEE-SP e os livros: Convite à Filosofia, da M. Chauí e Fundamentos de Filosofia, do G. Cotrim. Sim. “Filosofando” – Maria Lúcia de Arruda Sampaio; “Convite à filosofia” – Marilena Chauí; “Introdução à história da filosofia” – Danilo Marcondes; “Filosofia: fundamentos e métodos” – Marcos Antonio Lorieri e outros; Vídeos, filmes, revistas, artigos, cujas temáticas tenham relações com o que estiver sendo estudado. 137 Quadro 10 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Há relações entre as necessidades reais de aprendizagem e de ensino em sala de aula com os documentos citados acima? Quais? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Sim, trabalho com textos e interpretação. Sim, porém a “Proposta Curricular do Estado de São Paulo” atende mais a interesses políticos partidários do que pedagógicos. Sim. Preparação da aula, pesquisa, propostas de trabalhos. Relação direta é impensável, pois os livros são referências teóricas: A necessidade parte de uma adequação gerenciada pela comunidade Escolar que define durante o ano letivo no planejamento. Certamente. O professor precisa conhecer o que o MEC, em âmbito nacional, espera do professor em sala de aula, mas alguns dos documentos estão desatualizados e não há discussão sobre eles nas reuniões pedagógicas. Sim, os documentos citados acima são produzidos e indicados de acordo com a necessidade real dos educandos e da necessidade intelectual do educador. O material didático é um apoio fundamental, o livro didático é um facilitador, sintetiza os conteúdos, amplia as discussões e propõem leituras interessantes. As apostilas são utilizadas como um apoio, considerando que são uma sugestão do governo estadual, podemos utilizar de acordo com a clientela. Em relação ao livro, a relação é pertinente, quanto às apostilas são mal elaboradas e muito pouco de seus conteúdos tem a ver com as reais necessidades: textos muito longos, pouco interessantes, conteúdos defasados, o modelo não foi atualizado desde que foi implementado há cinco anos. Há relações, sim, por exemplo, quando o PCN afirma da necessidade do aluno entender e perceber-se como cidadão dentro da história e de sua sociedade. Acredito que é uma necessidade urgente para o alunado ter essa perspectiva para construção de sua identidade como sujeito e protagonista da sociedade em que está inserido, capaz de compreender as transformações do mundo e, assim, agir de maneira ética, reflexiva e consciente. Há relação, pois os documentos aprimoram o conhecimento e a dinâmica em sala de aula. Sim. O trabalho é realizado respeitando a Lei de Diretrizes e Bases, e as atividades são realizadas de acordo com os Parâmetros Curriculares. Sim, é um auxílio para o desenvolvimento da aprendizagem, mas é necessário “filtrar” muito para atender às necessidades reais dos alunos, adaptar ao cotidiano deles, trazer mais para perto, fazendo analogias e fazendo com que eles reflitam o porquê de estarem estudando tais assuntos. Sim. Conhecimento, Ética, Arte, entre outros. No que se refere aos princípios educacionais, cidadãos sim. O problema é o pedagógico, onde alguns apontamentos estão em desalinho com a realidade local. Atingir o todo é algo complexo e trabalhoso. Penso que nem sempre as reais necessidades de aprendizagem dos alunos são contempladas. Temos uma sala numerosa de alunos, com uma diversidade aguçada em diversos aspectos. Os documentos citados são como pontes que tentam no auxílio da construção do conhecimento; entretanto, ainda são insuficientes para atender o todo. O atendimento ao todo (alunos/diversidade) requer mais que isso. Além de materiais, é preciso atualização do professor, um projeto pedagógico vinculado com as reais necessidades do aluno e da comunidade local, uma escola comprometida a caminhar com o aluno e o professor, bem como recursos tecnológicos e inovação na educação. Atender os discentes na totalidade 138 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 implica também no número de aluno, materiais, tecnologias, comunidade, família, escola, projetos, quadro completo de professores, outros profissionais da educação, e claro, atividades diferenciadas que contemple o aluno na prática e na teoria. Sim, tendo em vista que apontam dentre outras coisas, competências e habilidades que se esperam ser desenvolvidas com o ensino de Filosofia. Há relações. Os documentos dão as diretrizes e as orientações. Agora como o professor vai agir dentro da sala de aula é uma dinâmica que se aperfeiçoa com a prática. Sim, porém o acesso à cultura e à arte, temas frequentemente visitados pelos autores, não são abordados com profundidade, já que para muitos alunos, mesmo da rede privada, não dialoga com a cultura em que estão imersos. Sim, com todos os documentos citados. Creio que a relação entre Habilidades e aprendizagem de Filosofia é Ok e que o foco na cidadania não é exclusividade deste componente curricular, mas de todos. Penso que a filosofia política e os estudos de ética ajudam a pensar a cidadania, mas acho que há outras formas de abordagem também relevantes dentre os métodos de construção do pensamento filosófico. Há sim, porque através deles há um leque maior em relação ao conteúdo. Sim, referência paradigmática para os procedimentos didático-pedagógicos. Sim. Percebe-se, a partir do início, com determinada turma de alunos, que ocorre uma mudança na percepção de valores. O aluno, de forma geral, adquire certa autonomia de pensamento, a partir da concepção dos diversos pensadores. Parece que ocorre uma ampliação do horizonte cognitivo com uma visão mais crítica e isenta de alienação. Sim. Acredito que todos esses documentos se aproximam bastante da realidade da sala de aula. Bom, partindo da ideia de que é, no mínimo, complicado pensarmos qualquer forma de ensino sem organização, sem normatização, uma vez que vivemos em grupo, então, os documentos citados são importantes. Quanto à pergunta, se os documentos atendem às necessidades reais de aprendizagem e de ensino, bom, entendo que essa é uma pergunta muito genérica. Pois, se é verdade o que muitos críticos da educação dizem sobre a distância entre teoria e prática, em termos de educação, também é fundamental identificarmos as contribuições, por exemplo, da atual LDB. Cabe lembrar também que nenhum conhecimento é construído somente com a “prática” ou somente com a “ teoria”. Vejo que uns dos grandes problemas do ensino e aprendizagem não é o que dizem os documentos, mas sim, o não estudo, compreensão e crítica dos mesmos numa perspectiva de propor uma gestão da qualidade do ensino e da aprendizagem. Se há um problema sério em termos de políticas educacionais no Brasil, e com certeza há, este se mostra nas tantas políticas de governo apresentadas e aceitas e na ausência absurda de políticas de Estado. E aí nós poderíamos facilmente identificar uma grande dificuldade dos sistemas de ensino, principalmente, públicos no Brasil: a incapacidade de fazer uma gestão de qualidade, em que haja, sim, aplicação da gestão democrática. Mas, para isso, um dos requisitos fundamentais, que não temos, por exemplo, no sistema de ensino público estadual de São Paulo, são as políticas de Estado. 139 EIXO TEMÁTICO: PERCEPÇÃO DA DOCÊNCIA Quadros 11 e 12 Quadro 11 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Considera que sua formação influenciou e/ou auxiliou na sua maneira de lecionar? Em que aspectos? Procure dar alguns exemplos. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 Sim. O entendimento dos assuntos abordados. Sim. O principal aspecto foi no que tange a uma boa formação, isto é, na aquisição e amplitude de conhecimentos bem fundamentados e, também, na autonomia para aprendizagem de novos conteúdos de modo crítico e reflexivo. Sim, me espelhei em professores ótimos que me inspiraram. Bem, a questão da sistematização na Filosofia Ocidental e como a mesma é passada em aula corroboraram para a construção de um didatismo. As aulas com impacto mais profundo foram práticas de ensino e didática, que envolviam situações que exigiam buscar uma saída razoável diante dos limites individuais. Sim. Na Universidade tive professores de Filosofia, mas não possuíam didática e muitas vezes o conteúdo era inalcançável. Hoje, procuro utilizar uma linguagem mais acessível e relacionada com o cotidiano dos alunos. Considero que a minha formação auxiliou na minha maneira de lecionar sim, proporcionando subsídios para que eu pudesse desenvolver, de uma melhor maneira, as relações com os educandos em sala de aula. Mas de forma específica o que me influenciou como professor foi a minha relação com alguns bons professores, que encontrei em minha vida acadêmica, principalmente nas disciplinas ditas como pedagógicas. Sem dúvida influenciou. Minha formação inicial é no Curso Normal, antigo magistério. Estudei em uma excelente escola que, de fato, preparava os alunos para sala de aula, com uma grande carga horária de disciplinas práticas, se estendendo por quatro anos, não apenas três anos como no Ensino Médio. Estudei grandes nomes da Pedagogia, alguns aprofundados nas aulas de didática na Universidade. Atualmente, estou cursando Pedagogia, onde posso refletir sobre os métodos e estratégias em sala de aula. Um dos recursos que utilizamos tanto no Curso Normal, como na Pedagogia, são os jogos, estratégia que flui de maneira maravilhosa, levando a reflexão do conteúdo, gerando discussões instigantes e realmente transformando o conteúdo em algo vivo para o aluno. Totalmente. Possuo formação em literatura, mitologia grega, introdução ao grego clássico, psicologia, línguas estrangeiras modernas, História da Educação, formação continuada etc. É de acordo com nossa bagagem cultural que desenvolvemos nosso trabalho, creio eu. Sim. Minha formação foi constituída não somente pelo estudo específico dos conteúdos, mas também por debates acerca da realidade escolar, o que favoreceu o crescimento do interesse pela área e a construção de ideias e métodos para uma prática eficaz na docência. Com certeza auxiliou. Ex.: o conhecimento adquirido é necessário para preparar a aula e apresentá-la. Seguir o modo de aula de alguns professores e evitar 140 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 outros modelos. Sim, nos bons profissionais. Durante a formação você acaba se espelhando em alguns professores. Sim, desde a formação familiar (nossa primeira sociedade) e depois na formação acadêmica, onde sempre busquei ver o lado humano, o social e partir do estudo do que os alunos trazem na essência, transferindo isso para o grupo, sempre discutindo, debatendo e refletindo sobre os assuntos em questão. Sim. No aspecto didático. a. Segurança na exposição. b. Contorno rápido de situações imprevistas para uma nova atividade. c. A dinâmica para tratar/’linkar’ vários temas. Depende muito de quais formações, mas penso que a formação sempre influencia e auxilia na metodologia do professor em sala de aula. É claro que o currículo oculto apresenta as crenças e a cultura do professor. É preciso lembrar que muitas coisas da formação ficam apenas para o formador. A formação influencia/auxilia nos aspectos: percepção das habilidades e competência, linguagem técnica, formal e linguagem didática, orientação e pesquisas e trabalhos do aluno, na circunscrição de temas, na elaboração e apresentação de seminários, na forma de pensar do aluno. Sim, primeiramente dando aporte teórico, mas também com os diferentes modos dos professores lecionarem e tratarem a filosofia, que certamente acabam inspirando nossas aulas. Você acaba escolhendo o modo que deseja ou não desenvolver suas aulas, lembrando das aulas que teve. Sim, a minha formação auxiliou a partir dos exemplos de alguns professores e das aulas de prática de ensino, de didática e outras. Com certeza na abrangência e na própria construção do currículo, geralmente elaborado pelo docente e revisto pela coordenação. Ex.: Os alunos sentem-se mais seguros e participantes da proposta, quando percebem que o professor domina o conteúdo. Sim, pois os exemplos didáticos e os conteúdos ministrados foram alicerces para minhas aulas. Sim. Penso que de maneira exemplar, pois muitos professores me inspiraram e facilitaram minha inserção no mundo da docência. Acredito que minha formação não auxiliou na maneira de lecionar. Entretanto, influenciou a não ter os mesmos defeitos e vícios dos professores. Sim, o tipo de abordagem problematizadora que emprego decorre diretamente do perfil de formação que tive contato. Sem dúvida. Antes da faculdade, eu nunca tinha tido essa disciplina. Sempre estudei em escola pública e concluí o ensino médio em 1976. Não saberia nem por onde começar, não fosse a formação adquirida na faculdade. Percebo que sim. Como a maioria das aulas que tive foram marcadamente expositivas, sinto dificuldade, em alguns momentos, para sair dessa metodologia. Geralmente, nós estudamos métodos diferenciados, mas vivenciamos um único método – o tradicional – de modo que a experiência acaba tendo mais peso. A formação auxiliou e auxilia o tempo todo, até por que ela não termina. Influencia muito pouco. Talvez nos primeiros anos, em termos de prática de ensino e didática. É perceptível, de forma geral, a distância entre o que se faz nas salas de aula dos cursos de licenciatura e o que de fato o professor precisa saber e fazer na escola, no seu cotidiano. Esse déficit é algo crônico. Sinceramente, penso que os responsáveis estão pouco preocupados com isso. 141 Quadro 12 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Para além da formação específica em Filosofia, você considera também importante uma formação pedagógica? Justifique. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Em termos. A formação de Filosofia, já o suficiente para os temas abordados com o Ensino Médio. Sim, no tocante às disciplinas pedagógicas nos cursos de licenciaturas, pois o conhecimento da história, dos processos e técnicas em Educação contribuem para visões mais amplas da atividade docente. Sim. A formação pedagógica é importante na didática para com os alunos, no processo ensino-aprendizagem. Sim. Penso que as licenciaturas deveriam exigir ao menos mais um ano nas questões pedagógicas que dizem respeito à área de leis e governança; isto é, orientação quanto a procedimentos legais e burocráticos quanto à função de professor. Sim. Apesar dos cursos de licenciatura serem muito teóricos e muitos professores nunca estiverem em sala de aula, acredito ser importante a formação pedagógica para que os futuros docentes sejam preparados para o ambiente escolar. A formação filosófica é com toda certeza muito importante, mas, no meu ponto de vista, ela acontece continuamente e sempre estará sendo desenvolvida. Já a formação pedagógica demanda uma relação de troca de experiências acima de tudo, e por isso, no decorrer da vida acadêmica, considero essa formação mais necessária, pois o espaço da universidade é um momento único de troca de experiências entre educandos e educadores. Fundamental, não basta saber, é preciso transmitir isso ao outro. Sempre priorizei em minha formação a questão pedagógica. Considero que sem essa preparação, alguns objetivos em sala de aula seriam impossíveis de se realizarem. Sim. A formação pedagógica fornece elementos técnicos imprescindíveis. Considero importante. Inclusive, atualmente, estou inserido em curso de Aproveitamento em Pedagogia, pois acredito que a prática deve ser pensada antes de ser colocada em prática. Para ensinar, é preciso ter requisitos indispensáveis oferecidos pela Pedagogia. Não basta “amar” sua disciplina, é preciso aprender a ensinar, entender elementos fundamentais para o sucesso na profissão. Acredito que a formação pedagógica seja necessária pois fornece ao docente uma didática que ele não adquire na formação acadêmica. Há muitos professores com um conhecimento incrível sobre determinado assunto, mas que não consegue explicá-lo aos alunos por falta de didática. Sim. Para complementar meu conhecimento pedagógico. Sim, considero importante e acredito que todos os docentes deveriam estudar pedagogia antes de se aventurarem a enfrentar uma sala de aula. Haja vista que muitos profissionais, como os bacharéis em Direito vão lecionar filosofia, mas não têm didática nenhuma. Ensinar não é só saber o conteúdo, tem muito mais atrás disso. Sim. Pela visão geral sobre a educação. A parte pedagógica é a ‘reflexão e o fazer prático’ da teoria. No caso da filosofia, tal como se pensa entre o pensar e a reflexão sobre este pensar, não há intervalo prática/teoria. Mesmo assim é preciso que se tenha atenção com a parte pedagógica. Sim! A formação pedagógica é a formação do professor. O professor é 142 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 especialista em ensino-aprendizagem. E a formação pedagógica oferta esse cabedal e visão de ensino. Ter uma licenciatura é uma forma de ser “especialista” em determinado assunto, porém a formação pedagógica é a base da formação docente. Um professor sem pedagogia não tem uma visão total, ampla de todo o processo pedagógico. Em outros países como a Espanha, o candidato à docência faz pedagogia e licenciatura (uma área de especificidade) e, depois, faz uma prova para licenciar-se (dignidade do diploma/receber) nas duas. Licenciar-se em qualquer disciplina sem pedagogia, limita muito o/a professor (a) nas problemáticas da aprendizagem e da sala de aula. A pedagogia dá uma cosmovisão na formação do professor e o preparar de forma mais condizente a atender todos os ciclos/séries/módulos, instâncias e “necessidades” da escola. Certamente, o conteúdo filosófico por si só não garante a formação docente. A formação pedagógica traz o conhecimento e as possibilidades de trabalhar de fato em sala de aula com diferentes alunos, em diferentes contextos e possibilidades de desenvolvimento da didática em aulas diversificas. Além de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem e avaliações de forma mais significativas e não “intuitiva”. A formação pedagógica é essencial para facilitar a comunicação entre alunos e professores. Não adianta dominar o conteúdo, mas não saber passar aos alunos de forma que o conteúdo seja interessante para eles. Não vejo a formação pedagógica como algo de extrema necessidade, mais que a formação pedagógica, a didática e metodologia podem ser enriquecidas na área com trocas de experiências e constante avaliação de métodos. Essencial, porque auxilia na postura pedagógica e principalmente, nos conteúdos específicos. Certamente. Saber escrever e pensar filosoficamente não credencia ninguém a lecionar bem. Pensar os meios pelos quais as pessoas aprendem, conhecer a idade com que se lida e comunicar bem são habilidades que um professor deve ter e que julgo a pedagogia mais capaz de ensinar que a própria filosofia. Julgo necessária a leitura dos clássicos da pedagogia e também de nossos contemporâneos. Sim, é um dos problemas da educação brasileira. Digo em relação aos cursos voltados à licenciatura. Sim, pois “educar” e “conhecer” são atividades distintas, ainda que não separáveis, se completam, mas não se confundem totalmente. O material fornecido pelo Estado é de difícil aplicação e, na maioria das vezes, prefiro trabalhar com textos pesquisados na internet. Acredito ser de suma importância a formação pedagógica e, mais que isso, creio que dever-se ia fazer um trabalho de campo para se ter ideia da real situação de nossos adolescentes. Deveria haver uma melhor adequação tanto do material produzido e fornecido pelas entidades, como também das técnicas de ensino a fim de melhorar a sintonia entre a realidade atual e aquela que se pretende atingir. Sim. Uma formação pedagógica teórica, mas também prática, pois é necessário conhecer as diferentes metodologias de ensino, bem como as realidades do contexto escolar. É preciso saber como ensinar, não apenas o que ensinar. Se for atuar no ensino, sim. Todo aquele que faz uma licenciatura precisaria, pelo menos, saber como aprendemos para depois pensar em como ensinar. Precisaria também ter claro o funcionamento dos sistemas de ensino, organização curricular, gestão da educação. Caso contrário, continua tudo como está aí, o império da indiferença. Perguntar, por exemplo, para uma pessoa, que está concluindo uma licenciatura, o que é avaliação institucional e 143 ela não saber, é inadmissível. 144 EIXO TEMÁTICO: PERCEPÇÃO DA SUA REALIDADE DOCENTE Quadros 13 a 15 Quadro 13 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: O que você pensa ser necessário para a ação do professor de Filosofia em sala de aula? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 Promover o debate e esclarecimentos dos temas dos quais muitos não têm conhecimento. Autonomia para ensinar, um bom programa de aulas (com bons currículos para cada série) e instrumentos reais para desenvolver hábitos de estudo e uma razoável disciplina. Atualização diária, reflexão, debate. Escuta. A filosofia parte de um princípio de maleabilidade, o que faz dela algo orgânico. Portanto, se aula não está boa é devido a sua falta de relação com o meio, seja o assunto ou a forma como o mesmo é exposto. Ter uma postura humilde, já que a proposta da Filosofia deve ser a construção do conhecimento e não depósito de conteúdo, estar sempre atualizado e respeitar o pensamento dos alunos. Além de gostar de ler e refletir sobre o mundo. Inicialmente, o domínio dos conteúdos e, em segundo, a consciência de que o conteúdo apreendido por nós durante a faculdade não pode ser o mesmo desenvolvido em sala de aula. O professor de Filosofia deve ser em sala de aula um facilitador do acesso as diversas teorias e um mediador das discussões desenvolvidas em sala de aula. Criatividade, disposição, embasamento, cultura e percepção. Atualmente, as mídias controlam a sociedade, nossos alunos vivem em um mundo totalmente informatizado, constantemente sendo atualizados. Indubitavelmente uma boa formação, além de: paciência, perseverança, equilíbrio e bom senso. Pleno conhecimento filosófico e disposição para incitar nos alunos a importância do pensar, refletir e constituir opinião própria, sem deixar de conservar valores éticos indispensáveis para adequada relação social. Dinâmica, conhecimento, didática, interesse pelo cotidiano, curiosidade sobre os assuntos a serem abordados. Ser dinâmico. Primeiramente, deveriam mudar a grade curricular, pois só tem uma aula no 1º ano do Ensino Médio (Governo de São Paulo). Creio que o ensino da Filosofia deveria ser desde o ensino fundamental e que houvesse mais periódicos de assuntos contemporâneos associados com a filosofia. Paciência, dedicação e pesquisa. a. Não achar e não assumir o discurso de que a filosofia é a única que faz pensar. b. Não achar e não assumir o discurso de que a filosofia é a única que pensa e divulga valores morais ou de comportamento. c. Ser alguém inquieto com o mundo (diferente de neurose). d. Dominar o conteúdo filosófico. 145 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 e. Ter presente e explicitar o que se pensa e quer com a filosofia. A disciplina de Filosofia constitui-se sistematicamente complexa, entretanto é preciso lembrar que nosso papel antes de tudo está na construção do conhecimento do aluno, ou seja, na construção e na educação do pensar e pensar bem. Auxiliar o aluno a construir o conhecimento mergulhado no pensar. Propor atividades diferenciadas e dinâmicas que apresentem situação-problema que conecte o aluno com a realidade e seu “mundo”. Penso ser uma das ações importantes em sala de aula, um diálogo fraterno entre docente-discente, discente-docente. Ou seja, que seja recíproco esse diálogo e não monoglócico (sic). Ouvir o aluno e instigá-los em suas realidades e necessidades de aprendizagem. Lembrar que não estamos formando especialistas em Filosofia, mas formando no exercício do “bem” pensar e cidadão crítico/reflexivo. Estabelecer parcerias diversas na sala de aula que possam contribuir no processo. Ter sempre o foco na realidade, cultura, diversidade do aluno. Construir conjuntamente um contrato didático, que sirva de parâmetros auxiliares e disciplinadores da classe. Uma boa formação e vontade de aprender e dialogar (tanto do professor como dos alunos). Além de uma estrutura que permita leituras e filmes para discussões. O principal é gostar da profissão, porque educar é uma tarefa árdua. O segundo é estar sempre aberto a mudanças, porque, às vezes, você prepara a aula pensando que ela vai se desenrolar de uma forma e vê na aplicação que você tem que mudar a forma de abordagem, para aproveitar a dinâmica do momento, como algum assunto que aparece ou mesmo porque a estratégia não está dando certo. Domínio de conteúdo e suas relações com as outras áreas trabalhando a interdisciplinaridade, didática atrativa já que o conteúdo é denso e por vezes cansativo. Abordagem que dialogue com o momento atual em que vivemos, pois devido as suas características corre o risco de ficar em uma teorização redundante. Ser questionador. Preparo da aula, habilidade comunicativa e estratégia bem traçada. Acho fundamental que os estudantes conheçam os objetivos das aulas e acho que devem ser estimulados à leitura e ao debate. O tipo de conhecimento hoje exigido e esperado de um educador é aquele que ultrapassa os limites de uma formação específica, abre-se para outras áreas e formas de conhecimento, procura integração, diálogo, complementação para melhor compreender o que está acontecendo no mundo e com povo e seus fenômenos variados. Creio que seja necessário esse entendimento de mundo e saber fazer, quando necessário, uma transposição didática para que o nosso aluno entenda os objetivos dos filósofos e da filosofia. Várias condições, dentre elas, recursos materiais necessários, ambiente de estímulo a aprendizagem e capacidade de intervenção didática do educador. Acredito que o professor de Filosofia precisa, além de se mostrar isento de qualquer preferência por ideologias, religiões, partidos políticos, etc., ser exemplo de honestidade e polidez. Demonstrar-se interessado pelos alunos individualmente e prezar a fim de que eles possam adquirir, de forma cada vez mais efetiva, a liberdade de pensamento. Abertura ao diálogo, isto é, capacidade de escutar e falar de maneira tolerante. Compromisso com a reflexão, com a discussão e com a pesquisa. Estudo, Consciência crítica, bom senso e atitude. Vejo muitos professores de Filosofia só no falatório. Achando-se os melhores, mais críticos. Não entanto, são tão indiferentes quantos os demais em relação aos problemas de ensino e 146 aprendizagem das escolas onde trabalham ou até mesmo em relação a essa problemática no Brasil. Daí, pergunto o que isso muda? 147 Quadro 14 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Qual é o tipo de relação estabelecida entre os conhecimentos adquiridos em sua formação inicial e sua atuação como professor? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 Com o passar dos anos, você acaba tendo conhecimento e experiências com os alunos. Os conhecimentos específicos de Filosofia. A vivência do ambiente reflexivo durante o curso. O que seria “truncado”, por exemplo, se fosse em um curso à distância, pois foi fundamental os inúmeros e variados diálogos entre alunos e professores e entre os próprios alunos. Na minha formação, adquiri base para lecionar. Uma relação de revisão contínua e adequação às questões teóricas e práticas. Penso que a atuação do professor seja inerente ao de pesquisador. Sempre tomo como referência os programas dos cursos que realizei na Graduação e tento trazer os debates realizados na academia, para que o que é ensinado nas escolas não fique tão distante do conhecimento universitário. Talvez por ter uma formação recente, procuro sempre estar ligando minha atuação ao que vivenciei na faculdade. Durante o curso de Filosofia, são apresentados inúmeros filósofos, pensamentos, teorias; caberá ao professor em sala de aula transformar esses saberes em realidade para os alunos. Exatamente é o que busco a cada aula. De continuidade e aperfeiçoamento. Relação direta. Todos os conteúdos trabalhados com os alunos foram adquiridos na minha formação e amadurecidos com a prática, sem excluir outros conhecimentos adquiridos com outras leituras e estudo pessoal. A base para a preparação das aulas iniciais. Muitas aulas minhas foram formuladas a partir de textos lidos ainda na faculdade. Ao passar do tempo você vai adquirindo novas experiências. Como não sou formada em Filosofia, creio que os assuntos filosóficos (fragmentados) embutidos em todos os meus cursos, fizeram com que eu tivesse uma visão ampla de vários assuntos com diversas abordagens, facilitando a forma como eu atuo. E repasso isto aos meus alunos, creio que, de uma forma leve, sem muita cobrança e até com humor como ponto forte. Não respondeu. O aspecto fundamental é a atenção com os conceitos. Quando alguém diz algo que envolve uma ideia é fundamental que o professor possa avaliar os conceitos, os critérios, os valores que estão em jogo. Daí fazer a ligação com as escolas ou autores da filosofia. Antes de ser professor de Filosofia, já apreciava a filosofia e muito. Também já tinha formação em magistérios, e estudava Literatura Bíblica. O vínculo da formação inicial e minha atuação como docente são a pesquisa, leituras e estudos aplicados. No exercício da docência, a formação inicial e a atuação de professor, às vezes, tentam se distanciarem por constituírem focos diferentes e outras necessidades. Ademais, tento contextualizar e aproximar por meio de diálogos filosóficos na escola, na elaboração de formação contínua para professores nas temáticas filosóficas, na coordenação de projetos filosóficos, propostas de estudos e culminância como exposições dos filósofos e teatro. Ou seja, essas atividades dialogam com minha formação inicial e a docência. A todo o momento acabo retomando algo que fez parte de minha formação inicial. As aulas específicas trouxeram alguns conteúdos trabalhados e as de Prática de Ensino e Filosofia da Educação, certos aspectos práticos da 148 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 dinâmica em sala de aula. Como a própria expressão diz: formação inicial é apenas um início. O professor tem que ter consciência de dever estar em formação contínua por toda a sua vida, para estar sempre aperfeiçoando a sua prática. Deve aprender também observando os seus alunos, as suas reações, as suas falas. Essa abertura é fundamental para a formação do professor. Um se torna a meu ver a validação do outro, contando é claro com a experiência dos anos e a constante atualização. Fundamental, pois é a base para o desenvolvimento e crescimento profissional e pessoal. Acho que me tornaram apto a pesquisar e produzir novas formas de conectar a filosofia à realidade de forma a ser comunicada para os jovens. Salvo poucas lacunas, acho que minha formação foi bem didática. É uma relação abstrata, pois o conhecimento do conteúdo não toma como referência sua relevância para o ensino das crianças e jovens, e as situações de aprendizagem que nós vivemos, muitas vezes não propiciam a articulação desse conteúdo com a transposição didática. a) Referências modelares dos meus professores em termos de atitude educativa; b) Esquemas gerais de conceituação; c) Estímulo à constante investigação filosófica e educativa, etc Completude. Há muito tempo, antes de cursar a Universidade, sempre mantive contato com livros de cunho filosófico, sobretudo de conteúdo espírita. Minha formação acadêmica em Filosofia serviu para confirmar alguns conceitos que já os tinha como certos. Percebo que uso muitos dos conhecimentos que adquiri na minha formação inicial, mas acredito que faltaram alguns elementos na minha formação que são de grande importância para a prática docente. As informações que adquirimos ao longo de uma vida de formação docente só tem sentido à medida que criamos novos significados. Não consigo admitir que alguém estude três, quatro, vinte anos e ache que já está bom. Que já sabe o suficiente para aplicar ou para. O conhecimento é construído a todo instante. É isso que somos: seres do e para o conhecimento, como já nos apontava Aristóteles. Sendo assim, atualizo aquilo que aprendi à medida que vejo a necessidade de continuar, aprendendo mais e de diferentes maneiras para poder ensinar melhor. 149 Quadro 15 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Quais suas sugestões para a superação das possíveis dificuldades que você encontra no exercício da profissão? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Lidar com o jovem no Ensino Médio e as novas tecnologias. Modificação substancial da proposta curricular do estado de SP; mecanismos reais para o professor disciplinar os alunos em aula; infraestrutura e salários melhores o que possibilitaria (entre outras coisas) de se manter em uma única escola, sem a necessidade de complementar aulas em outras escolas ou desenvolver outras atividades profissionais para se sustentar financeiramente. Paciência, conhecimento diversificado. Preparar os alunos desde a Faculdade a estruturar um plano de carreira, pesquisa e estudos contínuos em grupo. (A FACULDADE PODERIA PROMOVER ENCONTROS DE SEUS EX-ALUNOS. RECICLAGEM, DIVULGAÇÃO DE PESQUISAS E ETC.) Falta de tempo para preparar as aulas, falta de real trabalho interdisciplinar e de mais aulas para desenvolver o debate. O material didático disponível também deixa a desejar. - Observação das diferentes realidades antes em que se esta atuando. - Adaptação dos conteúdos por parte do professor, para que os alunos percebam de forma eficaz a atuação do conteúdo desenvolvido na rotina e na vida deles. - Buscar sempre uma prática interdisciplinar, utilizando-se dos conhecimentos ofertados pelas outras disciplinas para desenvolver seu próprio conteúdo. Faz quase 15 anos que sou formada, considero que durante este período o quadro de disciplinas pedagógicas deve ter sido alterado, principalmente com a ampliação do curso para o bacharelado. Poderíamos contar com um número maior de cursos e capacitações voltados para a prática docente. Leciono em uma escola estadual que oferece data show, televisão 3D, televisões, DVDs, biblioteca, considero que todos esses recursos são importantes e devem ser utilizados. Oferecer o máximo e aceitar o melhor que cada aluno pode dar. Maior investimento na educação, como, por exemplo,recursos audiovisuais para utilização de métodos, que atraiam maior interesse dos alunos no processo de aprendizagem. Acredito que seja necessário: valorizar o professor de Filosofia, estabelecer vínculos com os alunos, paciência, parceria com a direção/coordenação. O reconhecimento. Na verdade, gostaria de me aprofundar me graduando em filosofia, e gostaria de ter tempo pra ler mais, assim entender mais e facilitar a transposição do conhecimento. Reconhecimento efetivo da profissão. a. Estrutural. Carga excessiva de trabalho com as turmas. b. Projeto Político Pedagógico. A existência formal, mas a ausência na prática. Filosofia acaba sendo um trabalho isolado. Antes de tudo, é preciso refletir sobre à prática pedagógica dentro de um contexto político, social e econômico. Esses três pilares estão conectados com a realidade de forma ampla, bem como o modelo de educação, a ideia de homem/mulher, cultura, religião etc. Partindo desses pontos, encontramos a família desesperada e vivendo uma realidade caótica, assim como uma escola sem encanto, atrasada, retrógada, 150 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 depredada, e sem ordem. Os problemas são diversos, é claro que fui mais além do que se inscreve em questão. Ademais, percebo que o aluno está jogado, e a escola despreparada para lhe dar com tantos problemas e diversidade. O modelo da escola atual não atende efetivamente os alunos com suas diversidades e múltiplas necessidades. Assim temos: o aluno “normal”, “dotado”, “especial”, “DP”, inclusões e outras situações. A pergunta que logo faço: o professor é pluripotente e polivalente? Pelo que sei para assumir essa fusão, o docente deve ser muito bem preparado, isso requer anos de formação e pesquisas, além de estágios e estágios. E não temos muito tempo para isso, e nem a escola espera a demora desse profissional. Em educação e em se tratando do Brasil é tudo emergencial. A educação no Brasil é emergencial e quantitativa. Não é uma educação pautada na qualidade e na prioridade. O aluno é jogado na escola e o professor é abandonado pela sociedade e governo. Assim, fica além de qualquer professor, porque posso garantir a minha competência, mas não posso garantir a competência da coordenadora, do diretor, do governador, e outros. Educação é um processo complexo, amplo, delicado e circular. Seguir eticamente todas as etapas desse processo é um desafio constante e reflexivo. Ou seja, a educação não é algo que começa aqui e não continua, dá-se um fechamento ou pretere algo sem muita explicação. Educação requer ética, estética, continuidade, coerência, investimento e politicas educacionais eficazes e comprometidas com a qualidade. Buscar parceirinhas diferenciadas como a parceirinha imprescindível da família e comunidade. Bem como apoio da escola nos sentindo amplo. Sou parte desse processo, e sei que só as minhas habilidades e competências e de alguns não vão solucionar esses processos em “megas rupturas.” Minha ação para tanto é no que acredito ser, “quem sabe faz a hora”. Assim, gosto de ter autonomia o suficiente para trabalhar com meus alunos em sala e fora. Para isso, busco parcerias, desenvolvo projetos de diversas necessidades dos alunos como: Feira de Profissões, Feira das Nações, Feira Temática/Filosófica, Café Temático, Formaturas, Teatros, Visitas Variadas, Nos Caminhos da Grécia Antiga e da Filosofia e outros. É difícil pensar nesta questão, pois nem sempre a superação de dificuldades depende de você, mas de questões institucionais. As maiores dificuldades encontradas, hoje para mim, são estruturais da instituição escolar, o que por mais que se faça, não é passível de alteração por um sujeito. Muita paciência e jogo de cintura. O professor tem que ser flexível. Tem que ter esperança diante da falta de entusiasmo dos alunos. Tem que estudar muito para aperfeiçoar sua prática, mas principalmente perceber a individualidade de cada ser humano com o qual está trabalhando. - O respeito da classe por parte dos colegas de áreas diferentes. - A valorização do profissional financeiramente. - O diálogo com as divergências em questão. Relacionar sempre a realidade e a vivência do educando, com os conteúdos aplicados. Minhas maiores dificuldades são quanto à burocracia e quanto à falta de material para melhor comunicar (recursos tecnológicos). Fora isso, não tenho dificuldade. Uso constante do diálogo, franqueza, paciência, perseverança e, domínio e uso das novas tecnologias da informação. a) Como diretriz: investir mais nas características do “aprender”, mais do que nos atributos do “ensinar”; 151 P23 P24 P25 b) Como procedimento: estudar mais as implicações das novas tecnologias no estudo da Filosofia. Penso ter respondido essa questão no item anterior (2) do subtítulo “Percepção da Docência”. Penso que uma formação pedagógica mais voltada para a prática da sala de aula, menos teórica, baseada em reflexões e discussões a partir de experiências realizadas em salas de aula. Não ser indiferente. Isso é um vício que se aprende, muitas vezes, fora da escola e que destrói o exercício qualitativo de nossa profissão além de nos desvirtualizar enquanto cidadãos. Penso que um bom professor é aquele que se envolve, pois antes sabe que é parte de um todo. Acho que falta esse sentimento em muitos professores, não se admitem como pessoas capazes de mudar o que está à sua volta, como se não fossem parte. É óbvio! Precisamos de melhor remuneração. Mas, sobretudo, o professor precisa se valorizar mais. Está cheio de gente aí que não acredita em si mesmo e está na sala de aula ensinando: o quê?- Pergunto, se não enxerga nem o seu próprio potencial... 152 EIXO TEMÁTICO: AÇÕES DE SUA PRÁTICA Quadros 16 a 20 Quadro 16 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Na sua prática de professor, quais as técnicas e estratégias didáticas utilizadas em aula? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 Uso da Informática e filmes. Sensibilização dos alunos, aulas expositivas, filmes que possam agradar o aluno e que possibilitem um amplo espectro de reflexões ou acerca de uma temática específica, eventualmente realizamos alguma dinâmica e, também, utilização de textos que não sejam de filosofia ou letras de músicas que remetem à reflexão. Recursos tecnológicos, gráficos, músicas, reportagens no dia a dia. A utilização em sala de aula são variadas como uma provocação por meio de Interseção negativa. (desafiando os alunos a superar um obstáculo e provocando-os com a devida cautela e após conhecer a historicidade do grupo.). Esteticidade seletiva: expor uma idéia, sentimento, situação por meio de maneiras individualizadas. Dados de semiose: utilização de habilidades individuais para expor algo (canto, desenho, leitura, e etc). Uso da lousa digital, documentários, filmes, trabalhos em grupo e estímulo a pesquisa. Além do debate com os alunos. - Leitura de leitura especifica de autores da Filosofia - Desenvolvimento de texto por parte dos educandos, visando proporcionar a oportunidade para que eles exponham suas idéias e opiniões - Debate, em que se busca um confronto de ideias entre os educandos levandoos a perceber como outros pensamentos sobre o mesmo assunto se desenvolvem. Aulas expositivas; filmes; vídeos; teatro; música; textos literários; notícias; discussões; debates; mesas redondas; seminários; tudo que possa ser um facilitador para o aprendizado. Bom humor opera milagres, todo professor deve saber que é também um ator, sua sala de aula é seu palco e cada aula é uma representação inédita. Utilização de filmes para posteriores debates e desenvolvimento de algum tema (quando há esse recurso na escola); trabalhos em torno de temas para discussões em grupo, a fim de favorecer o desenvolvimento de opiniões eo respeito pelo diferente, além de estreitar relações entre os alunos; leitura dirigida (quando há material didático suficiente) etc. Debate, textos, gibis, artesanato, filmes/documentários, data show. Aulas dinâmicas utilizando data show, lousa digital. Faço uso da oratória; debates; interpretação de textos, músicas, filmes, charges, obra de artes, poesias e poemas; exposição dos trabalhos realizados pelos alunos, tudo é compartilhado por todos para que sempre tenhamos um ciclo de opiniões e que cheguemos a uma conclusão, senso comum. Não respondeu. 153 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 a. A temática da Apostila da Rede Estadual, buscando contextualizá-la e a partir disto problematizá-la. b. Produção de texto de diversos tipos que abordem a temática. O processo ensino-aprendizagem supõe dinâmicas e metodologias diversas para a execução de aulas diferenciadas. Para tanto é preciso recursos e planos de aulas que visem cada vez mais uma melhor avaliação do processo. Em cada aula procuro sempre instigar os alunos acerca da realidade mesma para todos: e pesco a notícia/fato, que faz jus ao tema da aula, ao que se faz proposto. Os alunos que fazem o resumo das aulas anteriores e acrescenta algo que não entendeu ou que não fixou. As aulas são contempladas pelos planos de aulas que buscam atender as necessidades e abordagens dos temas curriculares. Um exemplo é trabalhar O mito da Caverna de Platão. É solicitado aos alunos que realizem uma pesquisa sobre o “Mito/Platão” e a fazer pequenas anotações para a aula seguinte. Antes de partilhar as pesquisas, os alunos assistem ao vídeo – O mito da Caverna de Platão, segundo a filósofa Viviane Mosé. Em sala partilhar material e fontes diferentes; O docente auxilia os alunos com um texto escolhido para ampliar o entendimento; Na hora da partilha é sugerido que os aprendizes façam recortes de imagens que aparecem no vídeo e nos textos, depois que relacionem as imagens com a nossa realidade. Faz-se necessárias algumas questões: O docente indaga algumas questões como: · Qual é a relação do Mito da Caverna com o conhecimento? · Qual é a preocupação do filósofo Platão com o Mito da Caverna? · Como podemos ilustrar o mito da caverna com a aprendizagem e a realidade? · Qual a ideia que se tem de mito? E o que é mito? Essas questões servem para debates e para ilustrações na lousa, construindo um mapa de conceitos. No final do processo os alunos vão apresentar um teatro livre que apresente os conceitos estudados em sala de aula. Aula expositiva dialogada; debates; seminários; leitura e discussão de texto bem como de filmes ou documentários, dentre outras. Aulas expositivas dialogadas, com o uso de recursos audiovisuais, fóruns de discussão, leituras dirigidas, trabalhos de pesquisa individuais e em grupos, exibição de filmes e músicas. Geralmente me utilizo de textos previamente preparados, powerpoint, filmes, músicas, debates e dinâmicas que dialoguem com o tema abordado. Ambiente diferenciado (roda, meia lua, etc...), preparar o tema a ser explicado, com um questionamento (música, artigo, etc...), após o envolvimento, o ensinamento desenvolve-se naturalmente. Trabalho com exposições orais, música, debate, filmes, imagens e com a lousa. Uso discurso dinâmico com algumas técnicas de oratória. Dialógica expositiva, com recortes de jornais, apresentação de matérias em revistas e apresentação de músicas. Principalmente: a) debates; 2) aulas expositivas; c) estudo de textos. A falta de recursos didáticos (monitores de vídeo nas salas, superlotação de salas, desconforto provocado pelo calor) entre outros, nos limitam a utilização de aulas expositivas e aplicação de textos manuscritos na lousa, técnicas usadas desde minha formação no primário há cerca de 50 anos e totalmente distante de nossa realidade. 154 P24 P25 Aula expositivo-dialogada. Debate. Exibição e análise de filmes. Leitura de textos filosóficos e literários. Seminários. Produção individual de textos. Exposição oral, dialogada, método de perguntas e respostas, chuva de ideias, sensibilização com trechos de filmes ou vídeos breves, uso de jornais e revistas, Grupo de observação e verbalização, trabalhos em grupos, juri simulado, pesquisa de campo etc. 155 Quadro 17 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Você acredita que existem saberes que são específicos da ação pedagógica do professor de Filosofia? Quais? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Sim, vidas e obras específicas. Não necessariamente, porém, por força da especificidade de sua formação, tende a ser mais crítico e reflexivo em suas ações. Penso eu, também, que as teorias educacionais tendem a ser mais consideradas por professores de filosofia. Sim, vida e obra do autor. Acredito que exista uma relatividade, pois se a adequação do currículo parte de uma premissa básica, de um ensino contextualizado, portanto, a formação deste docente é também específica e limitada. No entanto, talvez os saberes mais corriqueiros seja o domínio da História da Filosofia no Ocidente, e ainda, a estruturação do pensamento ocidental em sua forma e constituição (escrita). O exercício do constante diálogo e a disposição para o debate o que requer paciência e disposição. Não respondeu. Os saberes se entrecruzam em tantas disciplinas, são variados e concomitantes com o todo do ambiente escolar. Todos. A filosofia é a ciência mãe que tem por objeto de estudo o pensamento, daí ao infinito... todas as áreas podem ser experienciadas, dependendo apenas da formação do professor. Pela minha prática docente, percebo que os professores de Filosofia são mais tolerantes com alunos e com as diferenças, além de conseguirem enxergar soluções dessemelhantes para problemas frequentes na sala de aula e na escola como um todo. Não necessariamente. Acredito que o conhecimento deve ser amplo. Que cabe a ele mediar o debate e direcionar o assunto para que este não seja perdido. Mas ele não deve ser o detector de todo o conhecimento, deve estar sempre aberto as interações e contribuições dos alunos Não, o conhecimento é vasto para todos. Sim, existem os saberes curriculares e os científicos, não estão diretamente relacionado com a ação pedagógica, mas serve de pano de fundo tanto para ele quanto para os outros membros de sua categoria. No meu caso, jamais poderia lecionar matemática, por exemplo, precisaria saberes específicos para tal proeza. Sim. No que diz respeito ao conhecimento, ciência, ética e estética. O cuidado com o pensar lógico. O pensar pró diversidade/pluralidade pautado na tolerância. A atenção com os critérios e os valores morais e éticos. Não é exclusividade, mas é própria da filosofia. Saberes específicos constituem as multiplicidades, habilidades e competências do professor de filosofia, que segundo a Proposta Curricular do Estado de São Paulo e o quadro de Habilidades e Competências das disciplinas apresentam. Assim, no tangente aos saberes específicos existem sim, pelo fato de precisar imprescindivelmente do professor de Filosofia para lecionar certos assuntos ou para atribuir certas responsabilidades específicas do profissional da área. Cada disciplina têm saberes específicos da área como linguagem, tecnologias e códigos. Entretanto, todas apontam para uma ação comum: à aprendizagem de forma mais ampla e acessível que se possa apresentar ao aluno. A formação do discente para a vida, para a sociedade, para o futuro promissor. A ação pedagógica do professor de filosofia deve constar num plano de ensino, que por 156 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 sua vez estará vinculado ao Currículo do Estado de São Paulo e ao PPP da Unidade em que leciona. O plano de aula é a prova mais concreta da ação pedagógica do professor. Ações específicas do professor de Filosofia: diálogos profundamente e efetivamente filosóficos, Planos de Ensino (habilidades e competências), exercício constante do pensar de forma mais condizente possível ao aluno. Não que as outras disciplinas não propiciem aos alunos diálogos, pensamentos, e reflexão, mas as habilidades e competências são especificas de cada disciplina. As habilidades e competências permitem ao professor de filosofia construir um plano condizente e avaliar com mais coerência e aptidão. Assim, ação pedagógica da educação infantil e outras modalidades são diferenciadas e vinculadas aos planos de ações. Não necessariamente do professor de Filosofia, mas de todo bom professor, reflexivo e que saiba dar “uma boa aula”. O professor deve ter o conhecimento do conteúdo de sua disciplina, mas deve se manter atualizado e trabalhar com diferentes métodos em sala de aula, trazendo discussões para o diálogo com a classe. Talvez, ao professor de Filosofia cabe saber instigar a curiosidade e o questionamento nos alunos, mais do que outros professores, na medida em que pergunta o que o senso comum considera óbvio e trata de questões que, muitas vezes, não são práticas do cotidiano dos alunos. Acredito que o professor de Filosofia tem que ser um provocador. Ele tem que levar os alunos a aprender a construir suas próprias reflexões. Mesmo sabendo que há saberes que estão presentes em outras áreas. Na qualidade de especialista, o filósofo tem como propriedade de formação a capacidade de análise e crítica de todas as áreas do conhecimento, mas especialmente na área da política, educação e humana o que faz dele um especialista nessa área. Sim, a desestabilização, o questionamento, a busca por novas dúvidas etc. Creio que a habilidade de encaminhar raciocínios e a de produzir questionamentos. Outra coisa que acho fundamental é o conhecimento da realidade vivida dos estudantes. Quanto mais os exemplos se alinham com seus cotidianos e espaços próximos, acho que mais eles simpatizam com a aula. Sim, de acordo com o conteúdo a ser utilizado e apresentado, se encaminha para uma pesquisa que ajudará como ação pedagógica em debates e orientação em apresentações. Para que exista um saber pedagógico, é necessário que antes haja um envolvimento com a pesquisa. Temas que possam englobar a parte filosófica para que haja uma discussão. Sim, específicos, mas não exclusivos, tais como despertar no aluno o amor à verdade, a inquietação diante da realidade e o espírito investigativo em relação aos grandes temas que envolvem o homem, o mundo e Deus. Sim. Não se pode comparar a formação de um professor de matemática, por exemplo, com a de um professor de filosofia. Todos têm seu campo específico de atuação que são indispensáveis. A do professor de Filosofia, acredito ser a de provocar no aluno um olhar de estranhamento no sentido de facultar um crescimento integral fornecendo suporte psicológico e espiritual. Sim. Acredito que o saber dialogar, o saber ouvir e promover discussões, não obstante sejam saberes necessários aos professores de outras áreas são essenciais para o professor de filosofia. Bom, embora o conhecimento seja interdisciplinar, é importante identificarmos a forma como conhecemos, os instrumentos que são utilizados e como são utilizados na elaboração de novos conhecimentos. A Filosofia tem uma proposta de abordagem neste aspecto. Além da possibilidade de abertura do pensar a 157 outras realidades, o que a caracteriza como reflexiva, a Filosofia também possibilita, e só ela pode dar tal contribuição, a construção de um pensar bem, através da observação dos princípios racionais, da lógica, enfim. Ora, pensar todos pensamos e a todo instante. Agora pensar de forma organizada, refletida, isso exige de nós, por exemplo, identificarmos o que estamos pensando, por que estamos pensando nisso e para que pensamos em tal coisa. Vejo que esse é um dos maiores e mais belos desafios de ensinar filosofia, sobretudo, aos jovens. 158 Quadro 18 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Relate alguma situação vivenciada no exercício de sua profissão, que se relaciona diretamente com sua prática. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 Quando o aluno consegue fazer uma comparação de um filme com o conteúdo. Como que de alguns anos pra cá utilizamos as “apostilas” de Filosofia e evito avaliar os alunos por meio de provas (exceto provões quando estes ocorrem), há constantemente a tentativa pelos alunos de copiar as respostas dos colegas, mesmo tendo o professor à disposição declarada para orientá-los na feitura dos exercícios. Procuro conscientizar os alunos quanto ao equívoco dessa prática e, também, tento contornar tal situação, lendo com atenção cada resposta do aluno e logo eles percebem que realmente o faço. Numa dessas vezes em que eu estava corrigindo as apostilas chamei um dos alunos do sexo masculino e lhe questionei com o respeito devido se ele era casado com outro homem. Ele de pronto disse que não e se eu estava louco. Então, lhe mostrei sua resposta e aproveitei para lembrá-lo que em filosofia muitas das questões tem caráter pessoal (não quer dizer íntimo) e ele por ter copiado de uma colega sua a resposta sem ao menos se dar ao trabalho de ler, cometeu a falha de mencionar o “marido” da colega como seu. Aproveitei, também, este momento para orientar individualmente o aluno quanto às possíveis práticas que poderão lhe beneficiar em sua formação e sobre o malefício que é renunciar à reflexão. O aluno faz correspondência com o conteúdo e seu dia a dia. A aula como espaço de diálogo. No ano de 2012, a escola E. E. Prof. Diniz Martins sob a minha orientação promoveu um Café Filosófico com a discussão sobre a música negra e apresentação de uma peça teatral inspiradas nos contos de La Fontaine. Valendo-se do repertório e versatilidade de seus artistas, em gêneros teatrais como Farsa, Musical, Clown e Teatro de Objetos. Um dia um aluno disse que a aula de Filosofia dava dor de cabeça, mas a aula era legal. Foi um retorno que realmente as aulas são questionadoras e estimulam o pensamento. - Em todos os anos em que dei aula me utilizei muito das questões sobre vestibular, faculdade, cursos técnicos e etc. Que os nossos alunos do Ensino Médio são obrigados a pensar para discutir uma questão que para mim faz parte de uma postura filosófica, a questão do desenvolvimento de um pensamento autônomo, em que o sujeito é capaz de desenvolver suas próprias idéias. Após uma aula, discutimos a questão do livre-arbítrio com base no pensamento de Agostinho; que nos rendeu inúmeros questionamentos, a sala participou ativamente, percebi que havia de fato alcançado, quando muitos continuaram a discussão através de um site de relacionamento (Facebook). Quando o jovem percebe que algo é relevante, o primeiro lugar que isso aparece nos sites de relacionamento. Recebi certa vez de uma funcionária (que por ser “improvisada” não conhecia os alunos) um bilhete com um lápis novo que dizia – prof. D. vi um colega pegar um lápis de seu estojo, pedi a ele que devolvesse, não quis devolver, não foi o que você ensinou, fiquei muito triste. Coloque este lápis no lugar pois não concordo com o que ele fez. Por favor, não comente isso na sala, amo você. Foi certamente o mais valioso presente que já recebi nesta vida. Nunca soube quem era o aluno, era da primeira série. Este lápis continua sendo meu troféu. Por exemplo, alguns alunos se aproximam para relatar seus problemas cotidianos, familiares e até mesmo confusões próprias da idade. A prática filosófica se aproxima muito de suas questões para ajudá-los a pensar em 159 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 caminhos alternativos diante de seus problemas. Outro exemplo é o incentivo constante para que os alunos prestem o vestibular e estudem para isso. Periodicamente, formulo algumas questões de estudo a aplico testes em aula a fim de que eles acompanhem seus rendimentos. Aula: Ética e Cidadania. Após assistir a um vídeo mostrando uma pessoa pública descumprindo regras éticas numa sociedade, os alunos ficam boquiabertos com a atitude da pessoa em questão e pedem ao professor para espalhar a notícia para que ninguém mais acredite naquilo. O professor direciona o debate para melhor organizar ideias. Ao final fica decidido fazer um vídeo para a prevenção e apresentá-lo para outras salas. Sim, as reflexões diárias. Creio que cada turma é diferente e a prática docente vai do interesse e da disponibilidade que os discentes lhe oferecem. Se a turma é alegre, gostam de debater, de criticar, com certeza a aula será melhor, pois estarão extraindo mais de mim e eu deles. Ao contrário também pode acontecer, porém a aula não será tão dinâmica, podendo até ficar monótona. Não respondeu. As discussões sobre a moral e a ética sempre são tensas. A vantagem significativa dos vencimentos de um ‘aviãozinho’ em relação ao trabalho doméstico da mãe. Até construir um raciocínio sobre o que é trabalho, o que é o bem comum, o que é um ganho fácil. Isto tudo apresentando ou se referindo a critérios, princípios, valores, questões políticas. Nas ações da vivencia escolar em momentos diversos, percebo que os professores comportam-se em muitos casos semelhantes aos alunos. Certa feita numa reunião de HTPC, a coordenadora sugeriu e ofertou ao grupo, um vídeo acerca de educação inclusiva educação especial. Na hora do vídeo, lembro que os professores toda hora conversavam, riam alto, e sujaram o chão com pipoca servida no momento. Reclamaram que “não ganhavam para ver filminhos” e não aproveitaram quase nada; eu mal entendi o filme e comecei a rir também. Esse dia me fez refletir muito a pratica pedagógica e outros contextos. É difícil agradar ao professor. Reclamam muito e nada fazem de muito eficazes e concretos para mudar o cenário com deficiência. Além de apresentarem uma incoerência absurda na prática docente. O ponto mais importante é poder ver-se como aluno e retornar ao ser-professor e a cada retorno apresentar uma prática defendente e inovadora. “Buscar outros queijos, largar o queijo velho.” Não respondeu. Não respondeu. A discussão sobre situações do cotidiano que envolvem o exercício da cidadania e meio ambiente. Tema recorrente em nossos dias. Disciplina. Quando os jovens não estão envolvidos, nada funciona, proporcionando a indisciplina. Com o acolhimento e questionamento no início de cada aula, esse envolvimento é natural. Geralmente, começo a aula tocando uma canção que eles conheçam e logo todos estão em silêncio, prestando atenção e começo, então a conectar a canção com o tema daquela aula. Através dos debates filosóficos se percebe que procuram auxiliar na vivência de uma situação social. Pode haver um intercâmbio, onde eles (alunos) trazem informações observadas em seu dia a dia, apresentam tais fatos e se realizam os debates, acrescido com as informações que possuo tenta-se chegar a um denominador comum. Ex.: a questão da violência e a lei do silêncio dentro das favelas, outra questão é política, bem comum e corrupção. Realização de uma pesquisa, por parte dos alunos, de questões sobre Filosofia 160 P23 P24 P25 que aparecem em vestibulares no Brasil e no ENEM, com posterior debate sobre os sentidos das questões e das respostas encontradas. O fato de buscar informação, ensinar os alunos a se apropriar das ideias defendidas pelos filósofos faz com que o professor também adquira, com essa prática, uma forma diferente de enxergar o mundo, pois em determinadas situações é necessário ver o mundo pelo prisma de um aluno para que se possa atingi-lo. Uma aula de introdução à filosofia da religião com turmas do 1º ano do ensino médio, que se dividiu em três momentos: num primeiro momento, cada aluno recebeu uma palavra relacionada ao tema da aula, sendo que, em seguida, tinha de falar brevemente sobre essa palavra. Num segundo momento, foi promovido um debate, onde os alunos foram estimulados a fazerem perguntas uns aos outros, e a levantarem novas questões dentro dos temas trazidos pelas palavras. Por fim, um texto foi lido pelo grupo classe, e o professor realizou uma síntese dos temas discutidos. Qual prática? Profissional? Cotidiana? Familiar...Desculpa. Não compreendi a pergunta. 161 Quadro 19 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Você pensa que a experiência do professor vai mudando a sua atuação? Exemplifique com algo que fazia anteriormente e já não realiza mais. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 Sim. Deixar os textos para os alunos (só fazem a leitura), isso já não funciona. Sim. Por exemplo, não querer criar laços de amizade com os alunos. Evidentemente há limites de envolvimento com os alunos, porém manter-se a postura “dura” do profissional, tão somente inviabiliza interações necessárias na busca de envolver o aluno com a natureza reflexiva e também sensível da disciplina. Sim, sim preparação de aula. Sim. A maturidade de vida e escuta ajuda. O que foi realmente alterado foi não sofrer mais que o necessário dentro da flexibilização do cronograma, e atingir as metas quanto às habilidades e não somente os conteúdos. Sim. Não obrigo mais meus alunos a copiarem a matéria. Percebi que a discussão e participação é mais produtiva. E não bato mais boca com os alunos, procuro debater os conflitos com argumentação. Com toda certeza. Eu mesmo me prendia muito a questão da avaliação escrita e com hora marcada e com o passar dos anos percebi que em filosofia esta avaliação pode acontecer de uma forma mais suave, sem um formato específico, mas sim continuamente. Com certeza. Passei a perceber o que de fato leva o aluno a compreensão do conteúdo e o que o distancia, lembrando que cada turma tem suas particularidades e devemos sempre respeitar. Textos transcritos em sala de aula, se temos o material não existe necessidade de um novo relato, a não ser que não exista nenhuma referência nos materiais. Certamente. Aprendi a valorizar minhas cordas vocais... Acredito que sim. Com o passar do tempo a sociedade vai se transformando, e a prática escolar, de certa forma, acompanha essa mudança. Por estar três anos lecionando, ainda não tive nenhuma mudança significativa na minha prática docente para exemplificar, mas não descarto a possibilidade de mudar algo que possa não gerar resultados nas aulas. Acredito que sim, mas esta ideia não vale para todos. Já li textos inteiros em sala sem fazer comentário algum durante a leitura e ao final quis fazer um debate. A maioria dos alunos já havia perdido o foco. Hoje a leitura é bem menor e interrompida sempre para uma “chuva de ideias”. Com certeza. Novas práticas pedagógicas vão surgindo e o professor precisa crescer profissionalmente. Hoje as aulas são informatizadas, antes não era. Sim, quanto mais experiência adquirida, melhor o dinamismo em repassar aos alunos, tanto o conteúdo, quanto a própria maturidade e personalidade vão tomando novos moldes. Antes, eu queria que os alunos se preparassem, lessem textos antes da aula, mas isso não acontecia, então não cobro mais isso e faço as coisas acontecerem na sala mesmo, sem conhecimentos prévios. Sim. Amplia a forma de avaliação. Cada vez mais me vejo cobrado para que esquematize o que está sendo colocado/apresentado. Isto diminui o tempo de conversação e de reflexão em grupo. Não atender a nova dinâmica prejudica em muito todo o processo. Sim, a experiência da docência vai ampliando a visão e permitindo enxergar coisas que só a experiência permite. Não dá para negar as transformações que vão acontecendo na prática em nome da experiência. Antes, eu fazia chamada todos os dias, e percebi que isso maquiniza demais o professor e o aluno, assim, faço dinâmicas e chamadas no primeiro bimestre e depois apenas as 162 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 atividades comprovam a presença do aluno. Sim, novas experiências trazem novas ações. Um exemplo é que em meu primeiro ano tentava “competir” com o barulho da sala quando esta não estava interessada ou em um dia em que estavam bastante inquietos, assim, falando muito alto (mesmo sem gritar) e prejudicando minha própria saúde. Hoje, em uma situação desta, paro na frente da sala e fico em silêncio até que eles percebam e cobrem a atenção um do outro. Sim. Você acumula experiência a partir de sua ação. É a partir do erros e acertos, corrigindo e adaptando de acordo com cada turma, que você vai adquirindo recursos que vão facilitando sua prática e adequando seu trabalho com o seu público. Certamente que sim. Aulas que considerei não atraentes foram com o passar do tempo, substituídas por filmes e debates que percebi darem muito mais certo pelo apelo emocional que naturalmente produzem. Certamente. Iniciava com o conteúdo, sem envolvê-los. Hoje, há essa estratégia, que funciona naturalmente com todas as turmas. Antes eu formava grupos maiores para atividades, mas com o tempo, percebi que com menos gente nos grupos, mais eles trabalham. A experiência dos anos idos em sala de aula vai dando mais confiança ao professor. Anteriormente, eu preparava rascunhos e alguns lembretes para cada classe que eu entrasse, e sempre lia esses rascunhos em sala. Hoje em dia, faço a leitura, relembro o que é necessário e na atuação em sala de aula, eu vou “sentindo” a classe e apresentando o conteúdo com exemplos diferenciados a algumas turmas. Sim, no início de minha carreira, exigia dos alunos a leitura completa de algumas obras clássicas. Acredito na dinâmica conforme pregava Heráclito. Tudo sempre muda e a busca pela otimização deve ser uma constante. Devido ao meu pouco tempo de atuação, não consigo pensar em nada que tenha deixado de fazer para melhorar meu desempenho. Talvez, a forma de avaliação do conteúdo absorvido pelos alunos tenha mudado um pouco. Antes só avaliava trabalhos efetivamente realizados, hoje levo muito em conta a disciplina e participação dos alunos em aula. Com certeza, à medida que o professor faz a reflexão sobre sua prática, conserta seus erros e aprimora suas metodologias. Podemos aqui lembrar o sábio Heráclito de Éfeso: “Tudo flui”. “Tudo muda o tempo inteiro”. Partindo destas máximas, minha resposta só pode ser afirmativa. É impossível que um professor, procurando refletir sua atuação, não procure construir outras formas de atualizar ou ser docente. Certamente hoje sou mais paciente em relação ao tempo e modos de aprender de cada aluno, de cada grupo de pessoas às quais procuro ensinar. Certamente, tenho maior domínio dos contextos a serem construídos em sala de aula e quais conceitos fazer uso ou procurar construir. Tenho muito menos preocupação com as informações deste ou daquele filósofo, pois o que eles elaboraram serve tão somente como instrumentos de amostragem de como o homem pensou na história. Preocupome, sim, com o que os meus alunos são capazes de construir no seu “mundo” a partir do que veem, leem, escutam e refletem. 163 Quadro 20 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Descreva sua experiência em ser professor de Filosofia. P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 Agradável. A resposta a esta questão seria muito geral e extensa, por isso prefiro resumir a história pelo que penso ser mais significativo da minha trajetória profissional como professor de Filosofia. Não queria ser professor, procurei o curso de Filosofia por curiosidade, instigado, talvez, pelo meu gosto por cultura geral. Já havia cursado em Belo Horizonte, MG, Comunicação Social, tranquei o curso antes do seu término, continuei em São Paulo capital o curso de Propaganda e Marketing, cheguei a trabalhar na área, mas não gostei da demanda do mercado naquela ocasião. Vim morar em Praia Grande, SP, procurei a UniSantos e me interessei pelo curso. Antes disso só tive contato muito vago com a disciplina na Faculdade de Comunicação. Logo ao iniciar o curso me apaixonei pela área. E o que resta ao formado em Filosofia se não recorrer a outra formação fora do magistério? Ingressei no Estado, depois fiquei afastado durante um tempo realizando outras atividades. Retornei a lecionar, mas na rede federal e particular de educação. Passei no concurso para professor de Filosofia do Estado de SP e estou no Estado até hoje. Com o tempo comecei a gostar de lecionar e a sentir-me professor. Não que não fosse desde sempre um profissional sério, mas não me sentia envolvido completamente pela docência. Hoje, apesar da mazelas do ensino público e as próprias mazelas das comunidades que acolhemos nas escolas, penso e me sinto contribuindo, mesmo que aquém do que seria possível realizar em contexto político e econômico outro daquele que amargamos. Levar os alunos a uma reflexão profunda. Não sou. Estou sendo, penso que é um processo mutante, em que é necessário um processo autogênico constante. Adoro dar aula de Filosofia, pois gosto muito do exercício do diálogo, gosto de estudar para dar as aulas e estou em constante aprendizado, principalmente com os alunos. Para mim é realmente algo muito excepcional, pois como professor de Filosofia me vejo em condições de proporcionar aos meus alunos momentos de reflexão que as outras disciplinas poucas vezes vão dar. E em um mundo onde não se há tempo para este tipo de momento é algo realmente necessário que a filosofia atue como uma janela de observação do mundo. A proposta era unir áreas diferentes do conhecimento e a Filosofia, em uma determinada aula a área era a Literatura. Leciono no período noturno, onde os alunos estão cansados e focados em questões profissionais. Então, acendi velas pela sala toda e apaguei as luzes, para que pudessem prestar atenção apenas no texto, um tanto receosa que dormissem, o resultado foi excelente, todos puderam perceber o valor do texto literário e a possibilidade de estabelecer uma reflexão filosófica sobre o tema. Outra prática é contar um mito encenando, então me proponho a fazer os personagens e vou contando; tudo com cheio de caras, bocas, gestos; técnicas que adquiri em alguns cursos durante minha trajetória. Trabalhar com mil alunos visando despertar ao menos um para a continuação do estudo de filosofia e encontrar alunos que venham a ser melhores que eu. É o que me move. Ao contrário do que alguns professores preconceituosos pensam, acredito que a Filosofia é indispensável para a boa formação do cidadão. Minha experiência tem sido muito gratificante, pois percebo que alguns alunos, muitas vezes 164 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 P17 P18 desacreditados de si, conseguem boas notas por meio de sua participação e desenvolvimento de seus pensamentos e críticas, o que resultou consecutivamente em aumento de auto-estima e, assim, fez com que esses alunos melhorassem também em seus rendimentos em outras disciplinas. Acredito que esses poucos resultados já colhidos é a resposta de um trabalho atencioso e comprometido. Algo prazeroso e desafiador. Despertar interesse aos alunos do Ensino médio é uma tarefa árdua e cansativa, mas quando é alcançada é de uma realização extrema. A troca de reflexões, experiências vivenciadas no dia-a-dia. Não sou formada em filosofia, mas esporadicamente leciono, completando minha carga horária, pois faz parte das disciplinas correlatas dos meus cursos. Na escola particular, trabalhei com uma turma do 6º ano, onde trabalhava com eles conceitos-chaves, ética e moral, principalmente. No Estado, trabalho mais com a EJA, onde gosto e tento trabalhar os mesmos conceitos, mas também exijo que eles sejam mais críticos. Penso que é aceitável. Completo neste mês vinte anos de profissão. Primeiro momento de ‘pura’ aula expositiva. Depois a experiência de lecionar para as turmas, mas com professor em sala de aula. Outra dinâmica, outras estratégicas, equilíbrio para desenvolver o tema, atingir os estudantes e não se ‘queimar’ junto aos professores. Daí, o salto para trabalhar na formação de professores na área da filosofia. O trabalho junto aos universitários. E, agora, o trabalho exclusivo com o ensino médio na rede estadual. Desde a formação no Curso de Filosofia até hoje, minha visão de mundo modificou-se e muito. A filosofia ajudou-me e muito nos aspectos da vida. Uma melhor compreensão da vida e da minha existência, no exercício constante do pensar, discernimentos, reflexões e principalmente a me conhecer melhor, e a perceber que nada sei, nada sou absolutamente, e pouco tenho neste mundo. A Filosofia agregou valores e conhecimentos imprescindíveis a minha formação humana e ao exercício da cidadania. Bem como uma cosmovisão da realidade. Abriu meus olhos para determinados assuntos e coisas, tornou-me mais insaciável pelo conhecimento e fez-me mais amigo do conhecimento. Antes de mais, sou apaixonado pelo exercício da docência e claro, pela minha profissão, e ainda mais como professor de Filosofia. Mesmo que voltasse ao tempo dos 17 anos, farei sem hesitar novamente o curso de Filosofia. Comecei a lecionar na Escola Ary de Oliveira Garcia, desde então, o contato com os alunos gradativamente foi tirando-me de muito academicismo e exigência misturada com arrogância. Aos poucos fui percebendo que precisava de mais adequação seja quanto à linguagem ou postura para continuação do exercício. Aos poucos fui recebendo outra formação (vivência escolar) e sendo mais flexível com os alunos, que nada entendia das minhas aulas eruditas e técnicas. Não respondeu. Tenho pouca experiência ainda. Mas acredito que o trabalho do professor de filosofia não é fácil, porque a temática da filosofia para os jovens não os agrada muito, porque eles não veem utilidade prática e eles estão muito ligados naquilo que traz resultados práticos na vida deles. Acredito que algumas coisas você só percebe a importância com a maturidade. Ao mesmo tempo uma experiência positivamente marcante por ideal de vida e que a contradição da própria vida, às vezes, permite que seja injusta, pois não é valorizada por muitos. Ocorrem frustrações cotidianas, mas as mesmas são sempre superadas e reorientadas para a satisfação pessoal e da equipe com 165 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 quem trabalho. Vivenciar a cada dia um questionamento diferente, para o mesmo tema. Sou feliz com o que faço e faço com enorme prazer. Me esforço para cativá-los em relação ao conhecimento de textos filosóficos e da busca pela erudição, oferecendo sempre que possível, dicas culturais (cinema, exposições, shows, roteiros), lutando, também para que o ambiente de sala de aula seja prazeroso, mas honesto e comprometido. Tento sempre transformar a sala de aula e minhas aulas em algo mais descontraído, com informações necessárias da Filosofia e acontecimentos atuais, procurando levar o aluno a uma reflexão que habitualmente o aluno não faz. Busco em meus alunos um despertar para a curiosidade e interesse pelo conhecimento. Um contínuo aprender a aprender, aprender a ensinar e aprender a pensar. É simplesmente magnífico poder estar junto aos alunos e de alguma forma, mesmo que tímida, poder melhorar o ser humano naquilo que ele tem de mais valioso que é a sua essência. Atuo há dois anos como professor de Filosofia, buscando criar condições para que os alunos tenham uma autêntica experiência do pensar e não apenas entrem em contato com teorias. Para isso procuro ser um professor livre de preconceitos, aberto a ouvir o que os alunos têm a dizer a respeito dos temas que tratamos em sala de aula e expor esses assuntos por meio de uma linguagem acessível a eles. Além disso, procuro levar filmes atuais que deem abertura a discussões filosóficas. Isso já está dito no que escrevi até agora. 166 EIXO TEMÁTICO: FORMAÇÃO CONTINUADA Quadros 21 e 22 Quadro 21 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Quais ações você realiza para aperfeiçoar sua prática? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 P13 P14 P15 P16 Estudo, troca de informações. Comecei o doutorado da FE-USP em Educação. Entretanto, o curso (por sinal, muito bom) não atendeu às minhas expectativas pessoais, contudo aprendi muito durante o tempo que lá permaneci (2 anos). Penso que a melhor ação é o diálogo com outros professores e, claro, leitura de textos filosóficos, especializados em educação, antropologia, imprensa diária, sociologia etc. Enfim, estar relativamente bem informado sobre o mundo, buscar acompanhar as produções de pesquisas tanto em Filosofia quanto as específicas sobre educação. O que fica mais fácil a partir do momento que se tem uma formação em pesquisa, ou melhor, em aprender a aprender. Troca de informações, pesquisa, criação de estratégias. Pesquiso e estudo sempre que consigo, e o mais importante sempre em diálogo com outras áreas de conhecimento. Cursos de aperfeiçoamento, leitura de jornal, aquisição de livros e estudo. Hoje, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo mantém diversos canais de estudo para os professores da rede pública de ensino, proporcionando uma reciclagem contínua destes educadores que por anos tiveram dificuldades em se aprimorar enquanto educadores devido a sua rotina diária de sala de aula. Cursos, leituras, comparecimento em palestras, conferências. Estudar sempre, renovar, atualizar etc. Troca de experiências com professores mais experientes, leitura de conteúdo especifico e pedagógico, participação de fóruns, debates, e até mesmo diálogos com professores da faculdade a qual cursei Filosofia. Leitura, formação continuada, realização de debates e trocas com outros professores, reciclagem de atividades e didática. Muita leitura. Didaticamente eu tento ler cada vez mais, pesquisar, assistir documentários e entrevistas que me ampliem os conhecimentos. Participação em congressos, palestras, leituras de artigos, oficinas, entre outros. Participação em atividade oferecidas nas universidades. Rodas de conversa com os pares da filosofia. Busco aperfeiçoar a minha prática por meio de leituras diferenciadas, pesquisas de temas diversos, participação efetiva dos HTPC’s, cursos de formação de professor oferecidos pela EFFP, Pós-Graduação. Participação de peças de teatro, filmes, grupos de pesquisas, debates, seminários, projetos, palestras etc. Preparo as aulas todo final de semana, bem como nunca parei de estudar, não só em casa, mas em outra graduação, dois cursos de aperfeiçoamento, uma pós e agora o mestrado. Além disso a leitura constante de notícias e busca de filmes e documentários para levar para sala de aula algo sempre novo e “discutível” no âmbito da filosofia. 167 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Readequo sempre que percebo que ela está sendo ineficaz. Costumo ouvir as sugestões dos alunos, da forma como eles gostam de que a aula se desenvolva. Investir em cursos de pós graduação e viagens que dão conta de uma troca de riquezas culturais. Leituras diferenciadas, vídeos e tecnologias. Leitura constante de livros de filosofia, produção de artigos, organização de grupos de estudo para estudante e entre pares, leitura diária de jornais e revistas, observação à blogosfera e sempre me manter fazendo algum curso. Leituras, participação em pequenas palestras, grupos de leitura e estudos, filmes e palestra na internet. Leituras, participação em eventos que tematizem a prática docente e cursos de pós-graduação. Pesquisas, leituras, estudos. Participo dos cursos oferecidos pela SEE SP, leio livros relacionados à prática pedagógica e busco refletir, a cada dia, a respeito da minha prática em sala de aula, tentando perceber aspectos positivos e negativos. Estudo, participo, interajo, critico, proponho, procuro não ser indiferente e o principal, adoro ser avaliado, justamente é claro.. Participo de pelo menos três concursos todos os anos. Não consigo imaginar como alguém pode ensinar cidadania, por exemplo, afirmando abertamente que não suporta política, que não se envolve com os assuntos políticos da escola, da cidade ou do bairro onde mora. Não dá para aceitar que alguém seja um bom avaliador, que tenha competência para isso, se não suporta a ideia de ser avaliado. Isso é hipocrisia e hipocrisia, penso eu, não deveria ter espaço na Educação ou em qualquer mente. 168 Quadro 22 – Resposta dos professores de Filosofia à questão: Para aqueles que são professores da rede Estadual de São Paulo: Quais têm sido as ações de formação continuada oferecidas pela SEE/SP? Você teve oportunidade de participar de algumas? P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10 P11 P12 Não respondeu porque trabalha na rede privada. Participei do curso semipresencial “Filosofia & Vida”, promovido na época em que o prof. Gabriel Chalita era o Secretário da Educação do Estado de São Paulo. Foi muito proveitoso. São algumas ações de formação continuada que ao meu entender valem a pena, entretanto, entre elas tem muito curso que eu chamo de “remendão”. Parece que foram pensados para professores que tem uma formação precária em filosofia, por exemplo, aqueles formados a distância ou por “complementação” na área. Não respondeu, porque trabalha na rede privada. Efetivei neste ultimo ano, mas vejo que há iniciativas, porém sem um planejamento adequado, pois os projetos não são duradouros ou são mal orquestrados. Não respondeu porque trabalha na rede privada. - Como disse acima, hoje a Secretaria mantém a Rede do Saber que produz diversos cursos de extensão para professores de diferentes áreas. Eu já participei de alguns destes cursos e pude perceber que a estruturação é muito boa e que os conteúdos são muito pertinentes a necessidade dos educadores de hoje. O curso de Pedagogia e Pós-graduação em Filosofia, ambos pela UNESP, foram oferecidos pela SEE/SP, apenas para professores da rede estadual. Constantemente estamos recebendo informações de novos cursos e oportunidades de formação. Capacitações, cursos, Escola de formação de professores, especialização, pósgraduação, strito e lato senso. Participei de várias. A melhor: curso de Filosofia e Vida, 2005, para todos os professores da rede, não foi um curso tendencioso como os demais oferecidos, (capacitações, escola de formação, especialização) foi realmente voltado ao professor, com pessoal da área e altamente gabaritados. Muito diferente dos demais cuja única finalidade é “doutrinar o professor de acordo com os objetivos políticos pedagógicos vigentes”. Pouco importando que tais cursos sejam oferecidos em parceria com as mais “importantes” universidades estaduais como, por exemplo: Usp, Unesp, Unicamp e que, além de tudo, são extremamente mal estruturados. Sei bem o que estou dizendo, pois participei da primeira turma da Escola de (de) formação de professores e terminei agora o curso de especialização em filosofia REDEFOR/UNESP. Não pretendo participar de mais nenhum curso que não seja para evolução funcional, o que também não compensa, pois fazer um curso de especialização de 18 meses para “evoluir” 6% por cento de aumento no piso salarial...Concluí que aprendo muito mais estudando sozinha, sou mais coerente... Ainda não participei de formação continuada oferecida pela SEE/SP, mas é algo que pretendo participar no próximo ano. Não respondeu porque trabalha na rede privada. Não respondeu. Infelizmente, há muitos anos não têm sido oferecido nada para os professores de filosofia. 169 P13 P14 P15 P16 P17 P18 P19 P20 P21 P22 P23 P24 P25 Não há possibilidade devido os horários oferecidos, geralmente no sábado. Por vezes é oferecida oficinas de filosofia. Mas não é regular. São muitas as formações ofertadas pela SEE/SP. Encontro regional de professores de filosofia, oficinas de filosofia, orientação pedagógica e técnica, Escola de Formação de Professes. Bolsas de estudos de Pós Graduação e Graduação por meio de convênios com Faculdades diferenciadas, entre outros. Participei de dois cursos pela SEE/SP, EFAP – Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores. “Paulo Renato Costa Souza” e Fundap – A Conquista da Cidadania LGBT: A Política da Diversidade Sexual no Estado de São Paulo. ESAF – Disseminação de Educação Fiscal. Para Filosofia, especificamente, fiz o “rede aprende com a rede” em 2009, um curso de aperfeiçoamento, mas que não tem mais. E atualmente existe o REDEFOR, porém não consegui participar devido a certas burocracias de número de pessoas da escola e rede inscritos, bem como a preferência (na primeira edição) de pessoas que já estavam a mais tempos na rede. Não trabalho na rede estadual. Não respondeu porque trabalha na rede privada. Participo. REDEFOR, Rede do Saber e formação continuada. Atualmente, só leciono em escola privada e por isso, não estou acessando estas informações. Ao longo do ano é organizada pela Diretoria de Ensino ao menos 2 (duas) OT´s – Orientações Técnicas em Filosofia, sendo que participei de todas as orientações oferecidas pela Diretoria de Ensino de Santos ao longo da minha carreira. Cursos: Novas práticas de leitura e escrita na contemporaneidade. Curso: Informática na Escola, Noções, Criação de Blogues, Utilização de recursos tecnológicos em sala de aula. Entretanto, ainda não participei de nenhum curso específico na área de filosofia. Não leciono na rede Estadual há quase vinte anos. Participei de dois eventos ocorridos na Diretoria de Ensino de Santos, “Orientação Técnica para Professores Eventuais - Módulo I e II”. Quando ingressei na rede como professor efetivo, participei de um curso de seis meses sobre pedagogia e filosofia, especificamente o currículo de filosofia da rede. Em janeiro de 2013, concluo um curso de especialização oferecido pela rede em parceria com a UNESP. Ambos os cursos foram semi-presenciais, com predomínio de aulas à distância. O sistema de Estadual de Educação de São Paulo é uma vergonha! Dispomos de três grandes universidades públicas estaduais e o que temos efetivamente acontecendo no sentido de proporcionar, em forma de políticas públicas, para proporcionar a formação continuada do professor? – Muito pouco. Tão pouco que nem faz sentido citar. Sou professor da Rede há sete anos. E a cada ano o que sinto é a total falta de competência no sentido de gerir a “pasta” da Educação nesse estado, diga-se de passagem, o mais rico da federação. Fazse um concurso, os iniciantes participam de um curso de formação ridículo e dizem que isso é formação continuada. É vergonha! A falta de incentivos para o professor continuar estudando está aí para todos verem. Se um professor quiser se candidatar uma bolsa mestrado ou doutorado, o primeiro empecilho é a estabilidade (três anos no mínimo), depois a falta de apoio financeiro. Mais um agravante, suponha que eu me inscreva num mestrado para a Unicamp ou USP, como posso fazer pesquisa, participar de congressos, se ao mesmo tempo tenho que trabalhar? É um absurdo as diferenças existentes entre as condições oferecidas ao professor da rede estadual e o professor da rede federal de ensino, no caso da formação continuada. Na rede federal, além da remuneração que é muito superior, o professor que faz uma pós-graduação 170 stricto senso fica afastado de suas atividades durante a duração da mesma, recebendo seu salário de forma integral. Eu pergunto: por que tais condições não podem também ser oferecidas aos professores das redes municipal e estadual? Tive a honra de trabalhar por um ano no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo e vi bem de perto como existe um abismo entre os sistemas de ensino federal e estadual. É lastimável tal diferença. 171 ANEXO 172 Anexo nº 1 – Lei nº 11.684 de 02/07/2008 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 11.684, DE 2 DE JUNHO DE 2008. o Altera o art. 36 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio. O VICE–PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no exercício do cargo de PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: o o Art. 1 O art. 36 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com as seguintes alterações: “Art. 36. ..................................................................... ............................................................................................. IV – serão incluídas a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias em todas as séries do ensino médio. o § 1 .............................................................................. ............................................................................................. III – (revogado). ...................................................................................” (NR) o o o Art. 2 Fica revogado o inciso III do § 1 do art. 36 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996. o Art. 3 Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. o o Brasília, 2 de junho de 2008; 187 da Independência e 120 da República. JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA Fernando Haddad Este texto não substitui o publicado no DOU de 3.6.2008