MARCOS HERMES, DIVULGAÇÃO Tratamento além do remédio Se você faz de tudo para dormir mas não consegue, está sempre cansado durante o dia e a privação de sono começa a atrapalhar suas atividades e causar estresse, pode ser hora de procurar um especialista, principalmente se esses sintomas já duram mais de três meses. Eduardo Garcia, da Sonoclin, destaca que, pelo fato de os distúrbios de sono levarem a diversas outras doenças, descobrir o problema e iniciar o tratamento o quanto antes é fundamental para reduzir danos à saúde. O tratamento vai depender do grau da doença (leve, moderada ou grave) e da presença de outras doenças associadas, como do coração, diabetes ou até neurológicas. Os exames incluem a polissonografia, que é quando o paciente dorme uma noite na clínica para ter seu sono monitorado, e a partir daí se define o tratamento adequado – e nem sempre ele passa por medicamentos. – Remédio para dormir nunca é o tratamento único da insônia, pois depois de um tempo ele vai perder o efeito, além de deixar um efeito grogue no dia seguinte. A pessoa tem de procurar um especialista porque há coisas que ela precisa mudar para melhorar seu sono; a medicação é dada só pelo profissional, por um curto período de tempo, junto com outras medidas – diz Luciana Palombini. As soluções para apneia, distúrbio do sono mais comum, podem incluir desde tratamento cirúrgico até o uso de máscaras que permitem uma boa respiração durante o sono, as chamadas CPAP. A cirurgiã-dentista Natalia Guerra lembra que outra opção são os aparelhos intraorais, que promovem uma ampliação do espaço da orofaringe (garganta) durante o sono, por meio do reposicionamento da mandíbula. O tratamento dos distúrbios do sono pode envolver ainda outros profissionais além de médicos e dentistas, tais como fonoaudiólogos e fisioterapeutas. O importante é ter formação na área. Você sabia? O sono costuma ser uma causa frequente de acidentes de trânsito – algumas pesquisas dizem que ele responderia por até 40% dos casos, chegando a 60% se somados ao cansaço. Músico escreveu “Clube da Insônia” ‘Não dormir é terrível’ DIOGO SALLABERRY Ivone Coleti faz plantão no Samu na noite e madrugada e usa as manhãs para cuidar da casa e ir à academia Nem só de artistas vive a madrugada – há muitos profissionais que precisam trabalhar enquanto outros estão dormindo. É o caso da técnica em enfermagem Ivone Coleti, 46, que há quatro anos atua como plantonista do Samu no horário das 20h às 8h. E se engana quem pensa que, ao chegar em casa, ela vai direto para a cama: – Dificilmente durmo (ao chegar em casa). Chego, tomo um banho, arrumo a casa, e três vezes por semana vou à academia pela manhã. É somente depois do almoço que ela repousa um pouco, das 13h30min às Trabalho durante a madrugada 11 15h30min. Como os plantões são uma noite sim, outra não, prefere deixar o sono para as noites de folga. Mesmo nessas, entretanto, acorda várias vezes, o que não afeta sua disposição e seu bom humor no dia seguinte. – Antigamente, cheguei a trabalhar num hospital, à noite, e num postinho, de dia – lembra, acrescentando que aí, sim, sentia-se cansada. Ela brinca que alguns colegas a chamam de zumbi, por essa falta de sono, enquanto eles gostam de chegar em casa e dormir. Para ela, isso só é considerado nos dias mais frios e chuvosos. – Adoro meu turno, fui feita para trabalhar à noite. Me sinto bem, e tenho tempo para tudo. . ALMANAQUE . 1º/2 ABR 17 A relação com o sono sempre foi algo conturbado para o músico Tico Santa Cruz. Em meados de 2004, quando estava numa rotina bastante estressante com o Detonautas, sempre na estrada, ele resolveu colocar no papel suas angústias, percepções e sentimentos. Surgia o blog Clube da Insônia, nome com que, anos depois, batizou seu primeiro livro, publicado pela editora caxiense Belas-Letras. – Eu passava noites em claro escrevendo, e por esse motivo batizei o blog dessa forma – conta, por e-mail. Tico relata que funciona melhor nas madrugadas, e, hoje, vê que não se trata necessariamente de insônia, mas da troca da noite pelo dia. Nem sempre foi assim: – No auge de minhas reais insônias, no período que criei o blog, estive no Instituto do Sono em São Paulo e eles me monitoraram ao longo de uma semana. O resultado foi assustador: dormi cerca de 10 a 12 horas em sete dias. O músico acrescenta que estava se tornando “praticamente um zumbi”. – Eles me deram 10 anos de vida no máximo se mantivesse aquele ritmo insano. Quando tive um intervalo na turnê, procurei uma psicoterapeuta que começou então um tratamento. Em paralelo, comecei a praticar ioga, o que melhorou muito minhas condições de vida, e logo passei a dormir as oito horas que precisava para recuperar inclusive a minha voz. Atualmente, procura dormir oito horas por noite (“na maioria das noites”), mas ainda passa as madrugadas em claro. Para Tico, trocar o dia pela noite não é problema: o ruim é se não for possível descansar, tornando isso um tormento perigoso. – Não dormir é terrível.