Área temática: Marketing Título: Sites de compras coletivas e decisões de marketing: um estudo de caso em Uberlândia/MG NATHANE EVA SANTOS PEIXOTO Universidade Federal de Uberlândia [email protected] MARCELA FERREIRA OLIVEIRA Universidade Federal de Uberlândia [email protected] VÉRICA MARCONI FREITAS DE PAULA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (UFU) [email protected] VERONICA ANGELICA FREITAS DE PAULA Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Resumo A difusão da internet, com o crescente número de pessoas tendo acesso a ela, tem trazido novas formas de comunicação e interação das empresas com seus mercados. Recentemente apresentado ao público brasileiro, um novo formato de contato entre as empresas e seus potenciais consumidores, são os sites de compras coletivas, que tem se tornado uma importante ferramenta de marketing considerando a sua repercussão. Esse fato é observável através da evolução no número de sites deste tipo e também no número de pessoas cadastradas e com acesso a esses sites. Dessa forma, nota-se a relevância do tema, visto que é um assunto atual e com crescimento exponencial, sendo necessário o mapeamento das influências desta ferramenta de comunicação nas ações e resultados de marketing das empresas. Este artigo analisa anúncios em sites de compra coletiva de empresas situadas em Uberlândia/MG por meio de um estudo de caso único com a segunda empresa que mais vendeu cupons entre outubro/2010 e março/2011 através de um dos maiores sites de compras coletivas do Brasil. Esta pesquisa identifica as vantagens e desvantagens, bem como os resultados obtidos na utilização de anúncios em sites de compra coletiva para a empresa estudada. Palavras-chave: Marketing; Comunicação; Sites de compra coletiva 1 Abstract The growing number of people accessing internet is helping develop new ways of communication and interaction between companies and their markets. Group-buying websites represent one of these new ways recently presented to Brazilian customers. Considering its implications, group-buying websites are becoming an important marketing tool. It may be seen through the growing number of these websites and also in the growing number of people registered and accessing these websites. Therefore, it is a relevant up-to-date issue. It is important to identify and analyse the influences of this marketing tool in companies´ communication actions and marketing results. This paper analyses the case of a company located in Uberlandia/MG. This company was responsible for the offer that achieved the second higher number of coupons selled in the period of October, 2010 to march, 2011 in Uberlandia. The offer was presented through one of the biggest group-buying websites in Brazil. This research identifies advantages, disadvantages and results obtained through offers in group-buying websites. Key words: Marketing; communication; group-buying websites 2 Área temática: Marketing Título: Sites de compras coletivas e decisões de marketing: um estudo de caso em Uberlândia/MG 1. Introdução As estratégias de marketing dizem respeito às ações tomadas pelas organizações no mercado. Analisa-se neste modelo o mercado alvo e o composto de marketing que compreende as variáveis que a empresa consegue controlar para satisfazer às necessidades do público-alvo (MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997). As empresas devem ser capazes de gerar, informar e oferecer valor aos clientes. Desta forma torna-se importante a formulação de um plano de marketing, que é a principal ferramenta utilizada para coordenar e direcionar o esforço de marketing, funcionando no nível estratégico e tático. O plano de marketing estratégico tem a tarefa de estabelecer o mercadoalvo e de transparecer a proposta de valor que será entregue. O plano de marketing tático aponta as táticas de marketing, que abrangem as características do produto, promoção, comercialização, determinação do preço, canais de venda e serviços (KOTLER, KELLER, 2006). Ainda segundo Kotler e Keller (2006, p. 532), “A comunicação é o meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores - direta ou indiretamente sobre os produtos e marcas que comercializam”, sendo que através da comunicação eficiente as instituições visam conquistar credibilidade, simpatia e confiança dos stakeholders (AMARAL, 2008). As instituições devem oferecer mais do que bons produtos, acessíveis e com preços atraentes, é indispensável que a empresa assuma a função de comunicadora e promotora das informações, devendo comunicar-se tanto com as partes interessadas atuais e potenciais quanto com o público geral (KOTLER; KELLER, 2006). Kotler e Keller (2006) afirmam ainda que a maior dificuldade das empresas não é comunicar, mas sim estabelecer como e com que frequência comunicar. A empresa deve ainda se esforçar para estimular a fidelização do cliente por meio de reforços positivos (AMARAL, 2008). As ações de promoção acompanham a evolução da tecnologia, possibilitando assim a migração da comunicação massiva para a comunicação personalizada. Os canais eletrônicos, variantes do marketing direto, permitem desta forma maior interação e individualização do consumidor (AMARAL, 2006; KOTLER; KELLER, 2008). Com o desenvolvimento da internet surgiu o e-commerce que compreende as transações de compra e venda de produtos e serviços. Turban e King (2004) afirmam que o marketing viral, um dos modelos de negócios mais comuns no comércio eletrônico, permite expandir o conhecimento da marca e aumentar as vendas dos produtos. Por meio deste processo, as pessoas são estimuladas a enviar mensagens e convidar amigos para aderirem a algum programa. No meio digital e em especial nos sites de compras coletivas as pessoas são estimuladas a espelharem informações para outras pessoas o que equivale ao antigo “boca-a-boca”. Além disso, quando o conteúdo é transmitido por amigos ou parentes sua credibilidade é aumentada sem exigir nenhum gasto adicional para o comerciante (PORTER; GOLAN, 2006 apud GIGLIO 2010). A lógica do funcionamento dos sites de compras coletivas é simples. Primeiro é definido o número mínimo de compradores e o prazo da oferta, que aparece no site em contagem regressiva. Posteriormente a oferta é anunciada, sendo validada somente quando o número mínimo de vendas for alcançado dentro prazo estipulado (SANTOS; CYPRIANO, 3 2010). Os sites de compras coletivas funcionam como intermediários de vendas e recebem uma comissão que varia de 20% a 50% do valor pago pelos clientes, o restante fica com as lojas que anunciam as ofertas (BETTI, 2011). Para alcançar o número mínimo de vendas os usuários recorrem às redes sociais tais como Orkut, Twitter e Facebook para divulgar aquela oferta que parece ser imperdível. A maior parte dos sites de compras coletivas possui botões de interação instantânea com as principais redes sociais, para facilitar a divulgação das informações, o que contribui para o acréscimo no número de visitas (SANTOS, CYPRIANO, 2010; ORRICO, 2010a). O primeiro site de compras coletivas, Groupon, surgiu em novembro de 2008 nos Estados Unidos (ZUINI, 2010). Já em 2010 este novo modelo de site teve grande repercussão no Brasil, estando presente em mais de 45 cidades brasileiras (BETTI, 2011). De acordo com Teixeira (2010) são mais de 50 sites deste formato no país. Por outro lado, Fusco (2010) estima cerca de 400 sites, o que é corroborado por Betti (2011), que acredita serem mais de 400 sites, além das 600 empresas recém-registradas. O baixo investimento inicial dos empreendedores é um dos fatores que contribuíram para a rápida proliferação deste tipo de site (SÁ, 2010). CityBest, ClickOn, OfertaX, DeuSamba, Promco, Clube do Desconto, Oferta Única, Imperdível são alguns dos sites de compras coletivas presentes do Brasil (ORRICO, 2010b; SANTOS, CYPRIANO, 2010). Dentre eles, o Peixe Urbano, Clube Urbano, Click On e Imperdível são os mais representativos e detém 80% do mercado (BETTI, 2011; FUSCO 2010). Desta forma, sites de compras coletivas tem se tornado uma importante ferramenta de marketing. Observando a evolução no número de sites de compras coletivas e também no número de pessoas cadastradas, nota-se a relevância do tema, visto que é um assunto atual e com crescimento exponencial. 2. Problema de pesquisa e objetivo A comunicação é um meio pelo qual uma empresa transparece para o seu público-alvo sua existência, seus objetivos e ações. Segundo Amaral (2008), através da comunicação eficiente as instituições visam conquistar credibilidade, simpatia e confiança dos stakeholders. Por esse motivo, na maioria dos casos, as empresas utilizam a comunicação persuasiva para alcançar o efeito desejado. Há diversos meios pelos quais uma empresa pode se comunicar. A internet está se consolidando como um dos principais meios de comunicação. Os sites de compra coletiva aparecem como uma ferramenta em crescimento exponencial de comunicação online. Muitas empresas, portanto, estão utilizando os sites de compra coletiva como uma ferramenta de comunicação, porém, não há muitos estudos referentes a tal temática visto que se refere a um assunto recente. Entende-se, então, a importância em explorar tal campo de estudo, a fim de compreender melhor as razões, as vantagens e desvantagens, assim como as expectativas das empresas ao realizar tais anúncios. Por meio deste estudo pretende-se responder o seguinte problema de pesquisa: quais as razões que levam os empresários a anunciar em sites de compras coletivas e quais as vantagens e desvantagens encontradas nesta nova forma de ação de comunicação? Para tanto foi realizado estudo de caso com a segunda empresa que mais vendeu cupons em um dos maiores sites de compra coletiva, durante o período de outubro/2010 a março/2011. 4 3. Revisão bibliográfica 3.1 Estratégia de marketing Para Mintzberg (2000 apud SAAD, 2003, p.32), estratégia relaciona-se tanto à organização como ao ambiente, visto que a organização utiliza-se da estratégia para responder às mudanças que ocorrem no ambiente. Porter (1996) complementa definindo estratégia como um conjunto de atividades distintas para criar uma combinação exclusiva de valor. Para Porter (2004), a utilização da estratégia foca-se na ideia de que há benefícios relevantes quando se implementa um processo explícito de formulação de estratégia compreende-se explicitamente as estratégias que foram desenvolvidas através de um planejamento, sendo capaz de garantir que ao menos as políticas dos setores funcionais de uma empresa sejam coordenadas e guiadas objetivando um grupo comum de metas. A estratégia de marketing pode ser definida como uma determinada situação abrangente que “representa o que a empresa fará em determinado mercado” (MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997, p.43). Há dois componentes inter-relacionados que são necessários para que haja uma estratégia de marketing, são elas: i) Mercado-alvo: “grupo relativamente homogêneo de consumidores que uma empresa deseja atrair” (MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997, p.43); ii) Composto de marketing – “variáveis controláveis que a empresa reúne para satisfazer esse grupo-alvo” (MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997, p.43). A Figura 1 demonstra uma estratégia de marketing, onde a relevância dos consumidores-alvos – representados pela letra C - pode ser notada visto que os eles estão no centro do círculo. Os consumidores-alvos (C) estão circundados pelo “composto de marketing”, ou seja, pelas varáveis controláveis pelas organizações (MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997). Figura 1: Uma estratégia de marketing. Fonte: MCCARTHY, PERREAULT Jr., 1997. 3.2 A Promoção do composto de marketing (4 P’s) Os profissionais que atuam na área de marketing devem ser capazes definir com clareza todos os programas relacionados ao marketing de uma empresa e também dirigir programas interligados entre si, com o objetivo final de “criar, comunicar e entregar valor aos consumidores” (KOTLER, KELLER, 2006, p.17). Para McCarthy e Perreault Jr. (1997) um mesmo produto pode assumir características distintas que podem ser modificadas, assim como o formato da embalagem, as cores, o nome da marca, os tipos de mídia utilizados para divulgar o produto, o preço e outras inúmeras variáveis que podem ser alteradas em um produto. Para simplificar as diversas variáveis que podem interferir em um produto (composto de marketing), esses autores reduzem para quatro 5 as varáveis básicas: produto, promoção, ponto-de-venda e preço, conhecidos como os Quatro P’s de marketing ou como o Mix de marketing. De acordo com McCarthy e Perreault Jr. (1997), os Quatro P’s facilitam a visualização do composto de marketing, como pode ser visto através da Figura 2. Figura 2: Os Quatro P’s do mix de marketing Fonte: KOTLER, KELLER, 2006, p.17 A promoção é um dos principais elementos do mix de marketing e consiste em um conjunto de ferramentas de incentivo, sobretudo de curto prazo, para estimular as compras (KOTLER; KELLER, 2006). Segundo Amaral (2008), esta prática de marketing visa efetivar o uso ou a adoção do produto, serviço, ideia ou comportamento, ou seja, a promoção busca atrair novos consumidores, vender ideias e fortalecer as marcas. Existem diversas mídias que as empresas podem utilizar para divulgar a sua propaganda. A escolha do canal de comunicação depende dos objetivos da promoção, do público que a instituição deseja atingir, do orçamento disponível, da frequência, do impacto e do custo do anúncio. Desta forma, não se pode afirmar que existe uma superior, mas sim que existe um canal de comunicação que se adéqua melhor aos objetivos da empresa (McCARTHY; PERREAULT Jr., 1997). A empresa pode utilizar o marketing direto, que utiliza canais diretos para apresentar às pessoas seus produtos e serviços sem fazer uso de intermediários (KOTLER; KELLER, 2006). O marketing direto é um sistema de interação entre a empresa e o cliente, que não se restringe a um único canal de comunicação e que deve ser mensurável. Mala direta, marketing de catálogo, telemarketing, marketing por televisão e compras online são exemplos de ferramentas utilizadas no marketing direto (KOTLER; ARMSTRONG, 1999). Para Kotler e Keller (2006), os canais eletrônicos são variantes mais recentes do marketing direto, que permitem maior interação e individualização do consumidor. Além disso, a internet tem tornado a troca da informação cada vez mais controlada pelo cliente. Isso significa que as empresas perderam o controle das informações e ficaram mais expostas a partir do momento em que os consumidores se tornaram emitentes e disseminadores da informação, somado à interconectividade da internet e à massificação dos meios digitais. (GURAU, 2008 apud GIGLIO, 2010). As ações de promoção acompanham a evolução da tecnologia, que possibilitou a migração da comunicação massiva para a comunicação personalizada. A comunicação de massa é um processo de trajeto único, em que a comunicação com o consumidor é feita por 6 retroalimentação. Enquanto, a comunicação interativa é feita em um processo de duas vias, com contato entre o consumidor e a empresa (AMARAL, 2008). 3.3 Comunicação Comunicação pode ser entendida como “o meio pelo qual as empresas buscam informar, persuadir e lembrar os consumidores, direta ou indiretamente, sobre os produtos e marcas que comercializam” (KOTLER; KELLER, 2006, p.532). Através da comunicação eficiente as instituições visam conquistar credibilidade, simpatia e confiança dos stakeholders, por isso que, na maioria dos casos, as empresas utilizam a comunicação persuasiva para alcançar o efeito desejado (AMARAL, 2008). Kotler e Keller (2006) afirmam que a maior dificuldade das empresas não é comunicar, mas sim como e com que frequência comunicar. A empresa deve ainda se esforçar para estimular a fidelização do cliente por meio de reforços positivos (AMARAL, 2008). Apesar de a propaganda ser o elemento central da comunicação de marketing, ela não é o único elemento capaz de criar valor de marca. Promoção de vendas, patrocínios de eventos, relações públicas, marketing direto e vendas pessoais também são ferramentas para atingir tal objetivo. A propaganda consiste em alguma forma de apresentação impessoal e promocional de ideias, bem ou serviços promovidos por um patrocinador identificado (KOTLER; KELLER, 2006). A elaboração da propaganda envolve: definição dos objetivos do anúncio, estabelecimento do orçamento, escolha da mensagem e da estratégia de criatividade, decisão sobre a mídia a ser utilizada, e por último, a avaliação da comunicação e dos efeitos da propaganda nas vendas da empresa (KOTLER; KELLER, 2006). Para elaboração da propaganda é necessário compreender os processos do desenvolvimento da comunicação eficiente. Primeiramente o comunicador deve definir o público-alvo, determinar as suas características e estabelecer a resposta desejada. Em segundo lugar, o profissional precisa escolher o conteúdo da mensagem e os canais de divulgação. Por último, deve ser feito o feedback para avaliação dos resultados e alterações futuras (KOTLER; ARMSTRONG, 1999). 3.4 Comunicação Online A internet, antes limitada ao ambiente acadêmico e militar, começou a ser utilizada para uso comercial a partir de 1987 nos Estados Unidos (FUOCO, 2003 apud GIGLIO, 2010). As novas tecnologias, além de modificar o cotidiano das pessoas, requerem cada vez menos tempo para atingir maior número de pessoas: o rádio demorou 38 anos para ser utilizado por 50 milhões de pessoas, a televisão precisou de 13 anos para conseguir o mesmo número de utilizadores, a internet, por outro lado, levou apenas 4 anos para ter 50 milhões de usuários (FOX, 1999 apud GLOOR, 2001) Segundo dados do IBOPE (2010) o número de usuários ativos na internet passou de 39,3 milhões em julho de 2010 para 41,6 milhões em agosto do mesmo ano (crescimento mensal de 5,9%). Considerando as pessoas que possuem acesso à internet no trabalho, na escola, ou mesmo em pontos que vendem a utilização de internet por tempo (conhecidos como Lan House), foram 67,5 milhões de brasileiros com acesso a rede mundial de computares no quarto trimestre de 2010. A internet no Brasil se expandiu e as populações urbanas das classes C, D e E estão incluídas no meio digital e representam 51% da população com acesso à internet no país (FRANCO Jr., 2006; IAB BRASIL, 2010). A necessidade das pessoas se manterem conectadas, a facilidade de crédito e o Programa do Governo de Incentivo à Banda Larga são fatores que explicam o crescimento da audiência da internet brasileira. A internet móvel também está em crescimento. O uso de 7 tablets, aliado a presença de mais de 202 milhões de celulares no país e aumento da venda de smartphones aliado aos planos mais acessíveis por parte das operadoras contribui para a popularização da internet móvel (IAB BRASIL, 2010). A internet além de modificar o estilo de vida das pessoas, alterou os processos nas empresas e contribuiu para o surgimento do comércio eletrônico que compreende todo o ”processo de compra, venda e troca de produtos, serviços e informações por redes de computadores ou pela internet” (TURBAN; KING, 2004, p.3). O Interactive Advertising Bareau, IAB Brasil, (2010) relatou ainda que já são 20 milhões de e-consumidores, setor que faturou 6,7 milhões de reais no primeiro semestre de 2010, o que representa um crescimento de 40% em relação ao ano de 2009. Além de mudar o estilo de vida das pessoas a internet ainda consegue influenciar as atividades das empresas (GLOOR, 2001). Giglio (2010) relata que a internet tornou o consumidor mais consciente e ativo, passando a assumir também o papel de emissor no processo de comunicação. A autora afirma ainda que a pluralidade, transparência, interatividade, conexões em rede, individualidade e outras características do mundo digital influenciam o comportamento das organizações e o desempenho das marcas. O consumidor que navega na internet não está à procura de produtos e sim de informações, e ainda revela que, o volume do conteúdo não é a variável mais importante, mas sim a qualidade da informação (TORRES, 2009 apud ABDALLA ET. AL. 2010). As empresas possuem cada vez mais opções de distribuição das informações pelos mais diversos tipos de mídias e com o advento da internet tornou possível a utilização de canais interativos com uma via dupla de comunicação (AMARAL, 2008). A internet, ao tornar o consumidor um emissor ativo, colocou as marcas em evidência, tornando-as alvo de críticas e questionando continuamente a sua credibilidade e legitimidade (SEMPRINI, 2006 apud GIGLIO 2010). Por isso, as empresas devem fazer um planejamento detalhado da comunicação da organização e quais meios de divulgação devem utilizar. O meio digital é complexo e as empresas não devem seguir modismos sem avaliar as suas conseqüências e a sua viabilidade no longo prazo (GIGLIO 2010). Turban e King (2004) afirmam que o marketing viral, um dos modelos de negócios mais comuns no comércio eletrônico, permite expandir o conhecimento da marca e aumentar as vendas dos produtos. Por meio deste processo, as pessoas são estimuladas a enviar mensagens e convidar amigos para aderirem algum programa. Este modelo equivale ao marketing boca-a-boca, porém é baseado na Web. Além disso, quando o conteúdo é transmitido por amigos ou parentes sua credibilidade é aumentada (PORTER; GOLAN, 2006 apud GIGLIO 2010). Nos sites de compras coletivas as pessoas são estimuladas a divulgar os anúncios das empresas. 3.5 Sites de compras coletivas Sites de compras coletivas são endereços eletrônicos que divulgam ofertas de diversas empresas que oferecem aos consumidores altos descontos, que variam de 50% a 90% do valor original (ORRICO, 2010b). Entretanto, o conceito de compras em grupo não é novo. Turban e King (2004) relatam que pequenas e médias empresas costumam unificar seus pedidos para depois fazerem negociações com fornecedores em busca de melhores preços. A compra em grupo facilita a obtenção de descontos, uma vez que o volume da compra torna-se expressivo. Em 2000 foi criado o site “Mobshop”, porém o pequeno número de internautas e a baixa segurança nas compras online contribuíram para o fracasso, na época, deste modelo (SÁ, 2010). O atual conceito de compras coletivas surgiu somente oito anos depois com a criação do “Groupon”. 8 De modo geral, este novo modelo de site é fundamentado no poder da compra coletiva (Collective Buying Power), em que, o aumento da demanda pode provocar alta redução nos preços (SANTOS; CIPRIANO, 2010; ZUINI, 2010). Para tanto, os sites buscam vender o mesmo produto ou serviço para o maior número de pessoas em um pequeno espaço de tempo; a fim de oferecer um baixo preço aos consumidores (BETTI, 2011). A lógica deste modelo é bem simples. Primeiro é definido o número mínimo de compradores e o prazo da oferta, que aparece no site em contagem regressiva. Posteriormente a oferta é anunciada e a somente é validada se atingir o número mínimo de vendas no prazo estipulado (SANTOS; CYPRIANO, 2010). Os sites de compras coletivas funcionam como intermediários de vendas e recebem uma comissão que varia de 20% a 50% do valor pago pelos clientes, o restante fica com as lojas que anunciam as ofertas (BETTI, 2011). Teixeira (2010) afirma que os descontos reduzidos, a comodidade de fazer compras sem sair de casa e as redes sociais contribuíram para a explosão dos sites de compras coletivas. Além de trazer vantagens para os consumidores, Sá (2010) relata que as vendas nos sites de compras coletivas praticamente não traz riscos para os lojistas. As empresas somente pagam o percentual sobre as vendas se a oferta atingir o número mínimo de compradores. Além disso, esta ação de marketing é facilmente mensurável e produz resultados em um dia. Para Orrico (2010b), muitas empresas encaram a oferta em sites de compra coletiva como uma ação de marketing e publicidade. Em que os empresários utilizam os baixos preços apostando na fidelização da clientela que até então desconhecia a empresa. Os sites de compras coletivas apresentam um crescimento exponencial com estimativa de faturamento de “R$ 1 milhão em junho, R$ 4 milhões em julho, R$ 6 milhões em agosto e deve movimentar de R$ 30 milhões a R$ 50 milhões em 2011” (SÁ, 2010, p.1). Segundo dados do Ibope Nielsen Online (2011) mais de 29 milhões de pessoas acessaram sites de comércio eletrônico em dezembro de 2010. A subcategoria Cupons e Recompensas – que agrega os acessos em sites de clubes de compras, de milhas, de cupons e descontos e de compras coletivas- recebeu acesso de 15,1 milhões de pessoas. José Calazans, analista do Ibope Nielsen Online, relata que somente os sites de compras coletivas e de descontos foram acessados por 13,2 milhões de pessoas no mês de dezembro, que representa um crescimento acumulado de 680% desde junho. O Ibope (apud Teixeira, 2010) revela ainda que por volta de 20% dos internautas até o final de 2010 terão feito pelo menos alguma ação nos sites de compras coletivas. Segundo pesquisa do Instituto Qualibest (apud Marcolino, 2011) 43% das pessoas disseram que voltariam às empresas mesmo na ausência de promoção e que 80% voltariam a comprar as promoções da mesma empresa. Quanto à satisfação; 73% dos usuários afirmam estar satisfeitos com os sites de compras coletivas, enquanto, 78% estão satisfeitos com os serviços prestados pelas empresas que oferecem os descontos. 4. Metodologia de pesquisa 4.1 Caracterização do estudo O presente estudo é de natureza qualitativa uma vez que os pesquisadores analisam os dados intuitivamente, por meio da análise dos fenômenos e resultados. Assim, são focos desta abordagem o processo e o seu significado (GIL, 1999). A pesquisa é de natureza descritiva em que seu objetivo principal é caracterizar alguma população ou fenômeno, além de estabelecer as relações entre as variáveis estudadas (GIL, 1999). 9 Segundo Lakatos e Marconi (2001) em uma pesquisa pode ser utilizados dados de fontes primárias ou secundárias. Em que o primeiro corresponde a fontes adquiridas por meio de documentos, informações, entrevistas, correspondências dentre outros. Enquanto o segundo corresponde aos documentos impressos, às obras literárias e às informações das ofertas colhidas nos sites de compras coletivas. Ainda segundo esses autores, os dados para se construir uma pesquisa podem ser adquiridos de três formas, através de pesquisa documental, da pesquisa bibliográfica ou por meio de contatos diretos. A pesquisa documental refere-se, neste estudo, à construção de um banco de dados com informações do número de vendas, valor em percentual dos descontos, valor da oferta dentre outros dados de empresas do setor de gastronomia que anunciaram em um dos quatro maiores sites de compra coletiva do país. Já a pesquisa bibliográfica corresponde a todos os livros, artigos, reportagens, teses e dissertações encontradas que continham informações relevantes para o desenvolvimento do estudo, em especial do referencial teórico. Por fim, a entrevista com o gestor da empresa selecionada corresponde ao contato direto que visa obter dados pertinentes e responder aos objetivos do estudo. Como método de pesquisa, utilizou-se o estudo de caso, pois envolve estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de forma a permitir o conhecimento amplo e detalhado do(s) objeto(s) pesquisado(s) (GIL, 1999). A entrevista foi a técnica de pesquisa adotada para coletar os dados referentes ao estudo, tendo sido feita através de um roteiro semi-estruturado. Essa escolha deve-se ao fato de ser uma das técnicas mais coerentes a ser utilizada para a coleta de dados neste tipo de estudo, conforme avaliação de GIL (1999). Para o registro das respostas foi utilizado, em concordância com o entrevistado, um gravador de voz, considerado pelas Lakatos e Marconi (2001, p. 200) como sendo a ferramenta “ideal” para este tipo de análise. A transcrição das respostas foi realizada “com as mesmas palavras que o entrevistado utilizou” (LAKATOS; MARCONI, 2001, p. 200) a fim de evitar erros na análise dos resultados. Segundo Puglisi e Franco (2005), a análise do conteúdo, em suas primeiras utilizações, assemelha-se muito ao processo de categorização e, portanto, as categorias de análises que serão utilizadas foram divididas da seguinte maneira: (1) em dados que evidenciam a formalização, especialização, divisão do trabalho e centralização (hierarquia); e (2) dados que mostram as barreiras da comunicação. A autora Bardin (1977, p. 31) definiu análise de conteúdo resumidamente como sendo “um conjunto de técnicas de análise das comunicações” correspondendo, portanto a um tratamento das informações coletadas, no caso deste estudo em específico, através de entrevistas. Ainda segundo Bardin (1997), análise documental é um método que objetiva retratar o conteúdo de um documento/informação de maneira diferente da original, visando facilitar a obtenção dos objetivos finais. Em outras palavras, a autora expõe que uma análise documental nada mais é que a transformação de um documento primário para um documento secundário. Desta forma, considera-se que este estudo utilizou-se da análise documental quando, obteve as respostas das entrevistas e posteriormente encaixaram-as aos conceitos referentes ao tema “compras coletivas” e outros relacionados. 4.2 Delimitação do objeto de estudo Como, apesar do grande número de sites de compra coletiva, 80% do mercado está concentrado em apenas quatro sites: Peixe Urbano, Clube Urbano (Groupon), Click On e Imperdível (BETTI, 2011; FUSCO 2010), o estudo se restringiu às ofertas anunciadas em um destes locais. 10 Além disso, o setor de gastronomia é o segmento mais consumido nos sites de compras coletivas com 76%, seguido da cultura (48%) e da estética (42%) (Instituto Qualibest, apud Marcolino, 2011). Por conveniência, foram selecionadas somente as ofertas para a cidade de Uberlândia, tendo como objetivo a contribuição da oferta para o município, retratando a realidade local, ofertas de âmbito nacional foram excluídas do estudo. Além disso, segundo os dados do censo de 2010, Uberlândia possui 600.285 habitantes, sendo que 88.387 pessoas possuem entre 25 e 34 anos, ou seja, aproximadamente 15% da população do município (IBOPE, 2010). Esta faixa etária representa o perfil dos clientes de sites de compra coletivas; segundo José Calazans, analista do Ibope Nielsen Online (ZUINI, 2010) as pessoas entre 25 e 34 anos representam 38,8% da audiência dos sites de compra coletiva. O setor de serviços, que é o analisado neste estudo, representa 60% do Produto Interno Bruto de Uberlândia (IBGE, 2010). Outro fato relevante é que a cidade possui 20.606 empresas atuantes. Desta formam tabuladas todas as ofertas oferecidas para a cidade de Uberlândia por empresas do setor de gastronomia em um dos quatro maiores sites de compras coletivas anunciados no site entre 1º de outubro de 2010 até 15 de março de 2011. A empresa analisada neste artigo corresponde à segunda empresa do setor de gastronomia que mais vendeu tickets em determinado site de compras coletivas. 5. Análise de resultados A Pizzaria X foi comprada pelo atual proprietário em maio de 2010 com o objetivo de explorar o mercado de pizzas pré-assadas em Uberlândia. Atualmente e empresa conta com dois funcionários, sendo um pizzaiolo e um entregador, além do proprietário que é o responsável pela recepção. Ao adquirir a empresa o proprietário melhorou a qualidade do produto, sincronizou e padronizou a produção das pizzas. Estabeleceu as medidas e pesos, realizou todos os processos até chegar ao peso final do produto. A empresa produz pizzas pré-assadas, trabalhando de forma rápida. As pizzas são montadas através de processos de eficiência pré-definidos e em questão de 5 minutos após o pedido o produto está pronto para o cliente. Na figura 3 são encontrados os principais tópicos analisados nas ações de comunicação da empresa, bem como os assuntos abordados sobre o anúncio no site de compra coletiva. Ao adquirir a empresa, o atual proprietário modificou a identidade visual da empresa, alterando inclusive o cardápio que era monocolor para as cores verde e vermelho. Depois de alterar a logomarca da empresa, foi realizada uma ação de panfletagem com o objetivo de divulgar a nova identidade visual da empresa. A panfletagem foi realizada em cinco cruzamentos entre ruas movimentadas e próximas à localização da pizzaria. Porém, na percepção do entrevistado não houve nenhuma alteração no número de vendas da empresa com a panfletagem. A empresa não realiza nenhuma outra ferramenta de comunicação tradicional e não possui um orçamento destinado às ações de comunicação. Porém, o proprietário recentemente confeccionou um relatório com uma comparação da situação da empresa no momento de aquisição com a conjuntura atual do estabelecimento. O relatório possui a análise dos 4P’s da empresa, bem como dos fatores internos e externos que podem influenciar as atividades da organização. 11 Item Analisado Medidas adotadas pela empresa Ações e ferramentas de comunicação tradicionais que a empresa adota. Ações e ferramentas de comunicação online que a empresa adota. Orçamento destinado as ações de comunicação Motivos que levaram a anunciar em sites de compras coletivas Expectativas ao anunciar no site de compra coletiva Escolha do promoção produto da Preço do produto ofertado Restrições da promoção Impacto da promoção no número de clientes. Lucro na ação em sites de compras coletivas Dificuldades encontradas na operação da promoção Resultados obtidos Número de vezes que a empresa anunciou em sites de compras coletivas. Pretende anunciar novamente -A empresa realizou panfletagem uma única vez. Depois de comprar a empresa foi realizada esta ação comunicação com o objetivo de divulgar a nova identidade visual da marca. - Perfil no Twitter e no Facebook. - Existe o projeto de um blog que terá uma espécie de catálogo online com as fotos e os ingredientes de cada sabor de pizza. -Não possui orçamento para ações de comunicação. - Experimentar esta nova ferramenta de comunicação. -Ser a primeira empresa do setor a anunciar em sites de compras coletivas na cidade de Uberlândia. - A empresa não possuía dinheiro para desenvolver outra ação de comunicação. - Aumentar o número de vendas. - Determinou dentre os 30 sabores de pizza do cardápio as 10 pizzas que menos consumiam recheios. - Pizzas com menor custo de montagem. - Todas as pizzas do mesmo tamanho no estabelecimento possuem o mesmo preço. - Colocou um desconto de 50% sobre o preço de tabela das pizzas (menor porcentagem permitida pelo site de compra coletiva). - Pizzas dos seguintes sabores: alho, atum, bacon, calabresa, lombo, marguerita, milho, mussarela, presunto ou quatro queijos. - No máximo 3 cupons por pessoa - Vanda máxima de 600 pizzas. - Retirar o pedido de terça à quinta-feira. -Em caso de entrega foi cobrada uma taxa de serviço de R$3,00. - Alguns clientes que conheceram a empresa pela promoção retornaram. - Pessoas que compram a pizza na promoção indicaram a empresa para amigos. - Pessoas que passavam em frente à empresa e a via lotada (por causa das vendas do site) julgavam que o produto era bom e experimentavam as pizzas - Dificuldade de fidelizar as clientes da promoção por causa do “boom” de sites de compras coletivas - Prejuízo de aproximadamente R$3.500,00. - O proprietário antes ficava no atendimento assumiu a produção da empresa. - Contratou uma atendente. - Não recebeu reclamações por parte dos clientes. - Uma vez. - Não pretende anunciar enquanto o “boom” dos sites de compras coletivas não passar. Figura 3: Caracterização da empresa estudada Fonte: os autores, a partir dos dados da pesquisa 12 Quanto aos meios de divulgação online a empresa possui um perfil no Twitter e outro no Facebook. Além disso, o proprietário está desenvolvendo um blog que contará com uma espécie de catálogo online, onde os clientes terão acesso às fotos e aos ingredientes de cada pizza do cardápio. Antes dos anúncios, os clientes ficavam sabendo da existência da pizzaria principalmente através do boca-a-boca e também ao passar na frente do local. O proprietário sempre busca notícias na internet e trabalhava neste setor antes de adquirir a empresa. Ao saber deste novo modelo de vendas, decidiu anunciar no site Imperdível. A Pizzaria X busca ser pioneira em vários aspectos, foi o primeiro estabelecimento de pizzas pré-assadas da cidade e a primeira empresa do setor a anunciar em sites de compra coletiva em Uberlândia. A restrição de capital foi um dos motivos que levou à decisão de anunciar em sites de compras coletivas. A empresa não possuía orçamento para investir em outra forma de comunicação. Vasconcelos, dono do Peixe Urbano relata que a ausência de investimento inicial foi crucial para ganhar o apoio dos empresários (FUSCO, 2010). Com o anúncio o proprietário da Pizzaria X esperava aumentar o número de vendas da pizzaria e ofereceu aos compradores da oferta um produto de igual qualidade. Pretendia fazer com que os clientes do site voltassem ao estabelecimento outras vezes. O proprietário do Peixe Urbano relata que o empresário pode até não obter retorno direto com essa ação de marketing, mas que o lucro aparece quando os clientes retornam ao estabelecimento (FUSCO, 2010). A empresa anunciou em dezembro/2010, cupom da oferta teve validade de três meses (dezembro/2010 até março/2011). Outras especificações da oferta estão contidas na tabela abaixo. Especificações da oferta Produto ofertado: Pizzas de alho, atum, bacon, calabresa, lombo, marguerita, milho, mussarela, presunto ou quatro queijos. Valor original do produto: R$12,00 Preço da oferta: R$5,90 Economia do cliente: R$6,10 Desconto: 50% Número de ofertas vendidas: 589 Figura 4: Especificações da oferta da empresa estudada Fonte: os autores, a partir dos dados da pesquisa O proprietário decidiu anunciar a oferta naquele site porque o considerava o mais atuante em Uberlândia, além disso, o dono do site era seu amigo e convidou a empresa para anunciar. Segundo o entrevistado, existem pequenas diferenças entre os sites de compras coletivas. Em alguns os descontos das ofertas podem ser de 30, 40 ou 50%. No site utilizado pela empresa, o desconto mínimo é de 50%. Além disso, a forma de pagamento e a taxa de comissão do site sofrem alterações. No site utilizado, valor do comerciante é pago 20 dias após o fim do anúncio no site, enquanto outros sites pagam ao comerciante a medida que as pessoas utilizam os cupons. Existem ainda sites em que os clientes compram no site apenas o direito de compra e o valor da oferta é pago diretamente ao comerciante. O proprietário do estabelecimento pode ter colocado a oferta à R$5,90 e não por R$6,00, que seria o valor mínimo permitido pelo site, porque conforme afirmam Kotler e Keller (2008) muitos empresários acreditam que o preço deve terminar com valores 13 quebrados porque o consumidor tende a pensar que o produto está na faixa do valor mais baixo (nesse caso R$ 5,00 ao invés de R$ 6,00), uma vez que as pessoas tendem a memorizar os valores da esquerda para direita sem arredondá-los. O procedimento para anunciar no site foi o seguinte: primeiro o proprietário determina o produto, o preço e as restrições da promoção. O comerciante possui autonomia para determinar as variáveis da promoção, porém o site força o empresário a colocar o maior desconto possível. Dentre os 30 sabores de pizzas do cardápio da Minas Pizza o empresário definiu os dez sabores com menor custo. Para a empresa o anúncio foi interessante porque antes as vendas concentravam em apenas dois ou três sabores das pizzas do cardápio e o anúncio trabalhou as opções de produtos. O preço das pizzas da empresa varia somente em relação ao tamanho. Qualquer pizza de tamanho médio custa R$12,00. Então, para anunciar no site o proprietário apena definiu o desconto de 50% sobre o valor do produto. No site anunciado, o desconto mínimo é de 50%. Do valor pago pelo cliente 50% é comissão do site que é responsável por pagar a taxa ao PagSeguro, enquanto os outros 50% ficam para o anunciante. Isso significa que a empresa recebeu somente R$2,95/pizza vendida através do site de compras coletivas. O proprietário colocou as seguintes restrições na promoção: 10 sabores préestabelecidos, no máximo 3 tickets/pessoa, as pizzas deveriam ser retiradas de terça à quintafeira, em caso de entrega seria cobrada uma taxa de serviço de R$3,00 e a empresa venderia no máximo 600 pizzas. Nem todos os clientes que compram os produtos retiram as ofertas nos estabelecimentos. O proprietário relatou que das 589 pizzas vendidas, 135 não foram retiradas (22,9%). O mesmo relata ainda que segundo estimativas do site cerca de 20% das ofertas vendidas não são retiradas. O site passa ao anunciante um relatório com o nome de todas as pessoas que efetuaram a compra que serve como controle para o comerciante. Ao contrário de outros sites de compras coletivas, o site não realiza uma pesquisa ou questionário de satisfação dos clientes depois da retirada o produto. O entrevistado chegou a sugerir que o site comece a fazer este tipo de ação, porque é importante para o comerciante ter um retorno sobre a sua ação de comunicação. Quanto aos clientes, a empresa conseguiu fazer com que alguns clientes do site voltassem outras vezes ao estabelecimento. Além disso, alguns clientes que compraram no site indicaram o estabelecimento para amigos. Outro ponto positivo ao ver do empresário é que nos primeiros dias após o anúncio a empresa estava lotada e teve clientes que relataram que não conheciam a empresa, mas que decidiram experimentar o produto. A empresa cheia passava a idéia de produto de qualidade, segundo o empreendedor. Orrico (2010b) afirma que muitas empresas encaram a oferta em sites de compra coletiva como uma ação de marketing e publicidade. Em que os empresários utilizam os baixos preços apostando na fidelização da clientela que até então não conhecia a empresa. O anúncio não rendeu lucro para a empresa. A estimativa é que a empresa teve uma perda de aproximadamente R$3.500,00, o que é visto pelo empresário como um investimento. Porém, antes de anunciar o empresário tinha consciência do desembolso que teria e que decidiu arcar com o gasto como forma de investimento em propaganda para a empresa. Para realizar a promoção teve que negociar prazo de pagamentos com cada um dos fornecedores, antes trabalhava somente com pagamentos à vista. Além disso, para dar conta de atender a todos os clientes a empresa contratou um recepcionista temporário e o proprietário, que antes desempenhava esta função, foi para a produção das pizzas. 14 O proprietário relatou que não encontrou grandes dificuldades para atender todos os clientes. Porém, disse que tinha que ser muito taxativo para que as restrições fossem cumpridas. As pessoas ao retiraram as pizzas da promoção geralmente aproveitavam e compravam o refrigerante do estabelecimento. Outro ponto positivo do anúncio em sites de compra coletiva para a empresa é que os clientes passaram a pagar a taxa de entrega sem reclamar. Ao anunciar no site a empresa buscou atrair novos clientes e por isso o dono relatou que não trabalhou com produto de qualidade inferior, utilizou a mesma matéria-prima, uma vez que buscou deixar o cliente satisfeito com a qualidade do produto e conseqüentemente fidelizá-lo à empresa - talvez por isso, o estabelecimento não recebeu reclamações dos clientes. A empresa não reduziu a qualidade das pizzas, mas mesmo assim houve dificuldade para fidelizar os novos clientes, porque, segundo o proprietário, a cidade de passa por uma grande quantidade de promoções via sites de compras coletivas - os clientes chegavam ao estabelecimento com cupons de pizzas de diversas empresas. Segundo o empresário, há necessidade de tempo para que os clientes gastem todos os seus cupons e voltem à empresa. Por causa disto, não obteve um retorno imediato. Ao ser indagado se anunciaria novamente em sites de compras coletivas, o entrevistado relata que anunciaria somente após seis meses e se houver redução na oferta de promoções via sites de compras. Desta vez ficaria atenta ao preço, à qualidade, à quantidade e às restrições da promoção. Em uma próxima oferta a empresa trabalharia com no máximo sete sabores de pizza diferentes, limitaria a oferta de terça à quinta-feira, porque durante a sexta-feira o movimento também é alto. Restringiria a um cupom por pessoa e venderia no máximo 200 pizzas. Desta forma, o entrevistado acha que a promoção teria os mesmos efeitos da primeira ação e com um custo inferior. 6. Conclusão O presente artigo alcançou os objetivos definidos para a pesquisa. Foram verificadas, a partir do estudo do caso de uma empresa de Uberlândia/MG, razões que levam a anunciar em sites de compras coletivas e vantagens e desvantagens encontradas nesta nova forma de ação de comunicação. Este estudo traz contribuições para o meio acadêmico e principalmente ao meio empresarial. Primeiro, ao levantar, reunir e compilar informações sobre este novo canal de comunicação, ampliando o conhecimento existente até o momento. Além disso, a descrição de um caso real pode auxiliar diversos empreendedores na sua decisão de adotar ou não esse tipo de ferramenta. Recomenda-se a realização de novos estudos, aumentando a gama de relatos e vivências dos empresários com essa nova abordagem de comunicação. Bibliografia ABDALLA C.C. et. al. As redes sociais como facilitadoras da comunicação de marketing para os mercados de nicho: um estudo de caso. In: XIII SEMEAD, São Paulo, 2010. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/semead/13semead /resultado /trabalhosPDF/398.pdf >. Acesso em: 25 dez. 2010. 15 AMARAL, S. A. Marketing da informação: entre a promoção e a comunicação integrada de marketing. Informação e Sociedade: Estudos, v.18, n.1, p.31-44, jan./abr. 2008. 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