TEMA: Socialização das Metodologias

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TEMA: Socialização das Metodologias
Para este Fórum:
1. Identifique no seu cotidiano, em revistas e jornais, notícias que descrevam os diversos tipos
de conhecimento: científico, popular, religioso e filosófico. Discuta os exemplos
encontrados com seus colegas de curso e tutores. Socialize seus achados no Ambiente Virtual
de Aprendizagem.
2. Pesquise na internet trabalhos científicos (teses, dissertações, artigos científicos que utilizam
o método quantitativo e o qualitativo de pesquisa). Socialize seus conhecimentos no Ambiente
Virtual de Aprendizagem.
- Serão bem avaliados os alunos que cumprirem com as orientações acima.
Medicina Religiosa
Um indivíduo adoece. Ele próprio pode tentar compreender e tratar sua doença
ou pedir ajuda aos familiares, amigos ou outras pessoas autorizadas
socialmente como capazes de ajudá-lo. Entre esses últimos estão os médicos,
curandeiros, padres, pastores etc. Conforme a técnica utilizada para
compreender a doença e tratá-la podemos classificar diversos modelos de
saúde e doença. Um modelo, usado pelos povos chamados primitivos, continua
a ser usado até hoje, é o religioso.
No modelo religioso, a doença tem como causa algum problema espirituais.
Para que a saúde seja promovida, a pessoa deve ter uma “forma correta de
vida”, isto é, uma vida dentro dos preceitos morais preconizados, aspectos,
para este modelo, mais importantes para a saúde do que os biológicos,
psicológicos e sociais.
Assim é que, de acordo com essas idéias, se o homem viver em harmonia com
a natureza, com outros indivíduos e com a maioria dos espíritos existentes,
seja Deus ou deuses, Yang ou Yin, desde que os deuses estejam também em
harmonia com ele, pode afirmar que a pessoa terá uma boa saúde e não ficará
doente.
A doença virá caso haja um desequilíbrio nas relações nas três dimensões: a
natureza, o ser humano e os espíritos. Para que adoeça, o ser humano deve
violar a harmonia do viver. Assim, as causas da doença devem ser procuradas,
nas últimas causas e não, como ocorre na medicina ocidental, nas causas
próximas como as bactérias, vírus, mudanças nos cromossomos etc.
Para o modelo religioso a doença afeta o homem na sua totalidade, mesmo
quando ela se manifesta num lugar do corpo como no caso de uma perna
quebrada ou uma dor de cabeça.
O tratamento deve ser realizado por alguns capacitados para isso. Os iniciados
têm o poder de curar como ocorre com o Shaman, o padre, o feiticeiro, o
macumbeiro, o pai de santo etc. O agente que faz o diagnóstico, o faz através
de comunicações com os seres espirituais superiores a ele existentes
geralmente fora do mundo terreno. Para que se dêem essas ligações é
necessária a realização de cerimônias ou ritos religiosos. A administração de
medicações, orientada pelos seres superiores, restaura o doente à harmonia
cósmica perdida. Este é o objetivo fundamental do tratamento segundo as
idéias desse modelo.
Nota-se, ao examinar os relatos existentes no Velho Testamento que a doença
foi considerada como punição divina e, mais tarde, como necessidade do
indivíduo de “pagar por algo feito de errado”, ou seja, provação. Conforme
essas idéias, Deus usa as doenças, os acidentes e outros sofrimentos como
forma de educar e purificar as pessoas.
http://www.galenoalvarenga.com.br/artigos/comportamento-cultura/amedicina-religiosa
publicado em: Comportamento / Cultura
CONHECIMENTO POPULAR
Andiroba
Carápa guaiananensis
Semente amazônica que serve como repelente e como reconstituite celular da
derme, eliminando inflamações e dores superficiais. Tem ação purgativa na
eliminação de vermes. Quando você tem um ferimento é bom passar óleo de
andiroba no local. Além de sarar, este remédio evita que mosquitos, moscas e
outros insetos pousem no ferimento. A casca como as folhas, depois de
cozidas são utilizadas como febrífugo e anti-helmínticas ou para lavagem das
úlceras, contra impetigo e outras doenças.
O óleo de andiroba é indicado como antiinflamatório para dores musculares e
micoses nas áreas externas do corpo. Também combate a diabetes e o
reumatismo através da homeopatia. O bálsamo é usado para a fabricação de
sabonetes medicinais e para uso tópico em luxações. O óleo da semente
também serve como protetor solar. Em determinados períodos do dia na
região, principalmente no fim da tarde e à noite, é grande a incidência de
mosquitos, por isso, muitos índios da Amazônia misturam a andiroba ao
urucum, o que se torna um eficaz repelente de insetos. No mercado também
existe a vela de andiroba com ação repelente, que é comercializada por
algumas empresas, e substitui produtos à base de citronela, uma planta
aromática.
http://www.xamanismo.com.br/Poder/SubPoder1191826033It009#Andiroba
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
Há pessoas que precisam resolver suas questões para que se sintam bem.
Não gostam de pendências, de projetos abandonados, de coisas deixadas para
trás. Necessitam ir até o fim com suas questões, colocar um ponto, ainda que
não seja, necessariamente, um ponto final. Finalizar projetos, resolver
problemas, acabar com seus incômodos, cumprir as tarefas até o fim são
alguns indicativos do uso do Submodo"Em direção ao desfecho".
O que é um Submodo?
Submodo é um dos eixos do instrumental de trabalho do filósofo clínico.
Enquanto o partilhante (ou paciente) conta sua historicidade, o filósofo clínico
observa três eixos que compõem o instrumental da filosofia clínica: Exames
Categoriais, Estrutura de Pensamento e submodos (clique aqui) para saber
mais e também aqui
.
Submodos são modos, maneiras, subordinados aos eixos anteriores - Exames
Categoriais e Estrutura de Pensamento, e podem ser observados de duas
maneiras: como Submodos informais, ou seja, como a pessoa informalmente
resolve suas questões, posiciona-se, movimenta-se existencialmente; e como
procedimentos clínicos, ou seja, provocações do filósofo clínico ao partilhante
objetivando movimentações. Há 32 Submodos a serem observados e
considerados no instrumental da filosofia clínica, contudo, eles dificilmente
aparecem isoladamente, o que faz com que as possibilidades de diferentes
modos para lidar com as questões se ampliem. Mais especificamente,
um Submodo não é apenas uma característica da pessoa, é uma forma de
situar-se no mundo, de agir, de movimentar-se. Sempre que há movimentação,
há um ou mais Submodos atuando
.
É pesquisando esta atuação que ocorre nas movimentações existenciais que o
filósofo clínico compreenderá como a pessoa se move, e quais os resultados
de tais movimentações. Há Submodos cujos resultados são excelentes, pois
não apenas resolvem as questões como trazem bem-estar à pessoa; mas
há Submodos que geram mais problemas, ou que afetam a pessoa de modo tal
que melhor teria sido não se movimentar. Os Submodos que apresentam bons
resultados à pessoa são utilizados em clínica, como procedimentos, assim
como outros que se façam necessários. Às vezes, o trabalho do filósofo clínico
é compor novas formas a partir das já existentes; outras vezes, consiste em
auxiliar a pessoa a aprender novos Submodos; em alguns casos, não se trata
da utilização deSubmodos pela pessoa, mas da utilização destes pelo filósofo
clínico para alterar pesos na Estrutura de Pensamento, ou promover reflexões
sobre os contextos, as relações e os ambientes do partilhante
.
Submodos são formas vazias, preenchidas pelos conteúdos da historicidade do
partilhante. Por isso, não há regras prévias sobre como utilizá-los. A forma e a
linguagem mais adequadas para sua utilização serão descobertas a partir dos
dados apresentados pelo próprio partilhante. É preciso aprender sua
linguagem, seu universo existencial, seus modos de vida, para somente então,
pensar junto com ele, provocá-lo à reflexão. Sem o conhecimento acerca do
universo do partilhante, de sua linguagem e de seus modos de viver não há
como saber o caminho adequado para tais provocações
.
Em direção ao desfecho
.
Voltando ao Submodo "Em direção ao desfecho", sua atuação informal implica
em ir até o fim, em colocar um ponto final nas questões, ainda que elas possam
se abrir novamente mais adiante. É muito comum à pessoa que possui
este Submodo exigir-se ir até o fim, concluir, encerrar algo. Mas sem o
conhecimento sobre os contextos da pessoa, sobre suas formas de ser,
pensar, sentir e agir não é possível ao filósofo clínico provocá-la a seguir
adiante, a ir até o fim de uma questão. É preciso não somente conhecer as
formas corretas para provocar as movimentações, como também as
implicações que poderão ocorrer com a movimentação existencial do
partilhante.
Se alguém acostumado a "ir até o fim" com suas questões não o faz, algo
aconteceu para provocar isso, e é preciso descobrir os motivos antes de
instigar movimentações. Imagine que alguém está à beira do precipício e não
sabemos disso. Empurrá-lo será um crime. Imagine que alguém tenha
planejado fazer algo sem saber que esse algo poderá destruí-lo, ainda sem se
dar conta disso, trava e não segue adiante. Instigá-lo a ir até o fim significa
destruí-lo. Por isso o filósofo clínico nunca faz uso de Submodos sem antes
investigar muito bem de que se trata a questão, como é o universo que a
pessoa habita e como ela se situa nele; também observa como a pessoa se
constituiu até aquele momento, e quais são suas tendências a movimentar-se,
a partir dos padrões utilizados até então. Não se tratam de dados exatos,
milimetricamente calculados e sem perspectiva de erros. O conhecimento que
adquirimos com o processo clínico é aproximado, apresenta indicativos de
caminhos, passíveis de erro e de atualização
.
O fato do conhecimento ser aproximado, e precisar de constante retificação ou
ratificação, é um dos motivos pelos quais o partilhante precisa ser autônomo. O
papel do filósofo clínico não é conduzi-lo, mas provocá-lo a investigar,
observar, refletir a fim de encontrar os melhores caminhos para suas questões.
A condução do processo é feita pelo partilhante e para o partilhante, e a
contribuição do filósofo clínico para a partilha são os métodos filosóficos,
construídos na história da humanidade para pesquisar, investigar a realidade e
nos auxiliar na escolha dos melhores caminhos para nós, para o outro e para o
mundo no qual habitamos
.
Se o partilhante necessitar de desfechos, esses serão investigados,
pesquisados e, se for o caso, provocados. Contudo, se algo for observado que
não indique esse caminho, outros Submodos poderão ser utilizados, ainda que
necessitem ser aprendidos. Assim, pesquisa sobre si mesmo, sobre a realidade
que nos rodeia e suas possibilidades, aprendizagem, reflexão são
características essenciais de um trabalho em filosofia clínica
.
Desfecho
Você leitor, precisa ir até o fim em seus projetos, resolver suas questões para
sentir-se bem?
.
Há projetos que deveriam ser abandonados por algum motivo?
.
Que motivos você tem para prosseguir ou abortar seus projetos?
.
Que motivos você tem para resolver suas questões ou deixá-las em aberto?
Como você se sente diante das situações "não resolvidas"?
.
Estas são algumas perguntas sobre desfechos, sem querer provocá-lo a
desfechos irrefletidos
.
É importante lembrar que seja qual for a forma que escolhemos para lidar com
nossas questões, há implicações derivadas delas, e é fundamental conhecê-las
para realizar uma boa escolha acerca do caminho a ser trilhado. Não há
receitas, mas o conhecimento de si, do outro e do mundo pode ser um forte
aliado.
http://www2.uol.com.br/vyaestelar/filosofia.htm
USO RACIONAL DE ANTIDEPRESSIVOS – Parte 2
Carlos Alberto Crespo de Souza
“A descontinuação possui um risco significativo
para tentativas de suicídio. Por isto, cautela e
monitoramento durante esse período são
necessários”.
Valuck e cols.1
1. INTRODUÇÃO.
No artigo publicado na Psychiatry on line Brasil de junho/2012 introduzimos o
tema do “Uso racional de antidepressivos”, observando alguns de seus
aspectos. Descrevemos sua independência às teorias de sua criação e de como seguem
surpreendendo, nos dias de hoje, em seus efeitos clínicos. Estes medicamentos passaram
a substituir os benzodiazepínicos (antes chamados de ansiolíticos) no tratamento da
ansiedade,
fato
inequívoco
a
demonstrar
que
sua
denominação
atual antidepressiva possivelmente deva ser substituída ou encontrada num novo nicho
identificatório.
Nesse artigo anterior examinamos a prevalência e o diagnóstico da depressão, a
posologia de cada composto, precauções e advertências gerais no tratamento com
antidepressivos, paraefeitos ou efeitos adversos, qual o melhor antidepressivo e
toxicidade desses fármacos. Outros tópicos relevantes foram abordados, como a questão
do abandono do tratamento pelos efeitos adversos e a falta de reconhecimento de
sintomas depressivos. 2
O presente artigo tem por objetivo complementar o estudo ao analisar outros
aspectos dos antidepressivos e contribuir ao conhecimento por ocasião da
psicofarmacoterapia com padecentes de depressões na clínica médica.
2. RESPOSTA INSATISFATÓRIA OU AUSENTE.
Segundo a Revisão das Diretrizes da Associação Médica Brasileira para o
tratamento da depressão realizada a partir de novas diretrizes internacionais publicadas
desde 2003, as estratégias utilizadas quando um paciente não responde ao tratamento
com um antidepressivo consistem:
1º - aumento da dose;
2º - potencialização com lítio ou tri-iodotironina (T3);
3º - associação de antidepressivos;
4º - troca de antidepressivo;
5º - eletroconvulsoterapia (ECT), e
6º - associação com psicoterapia. 3
Neste artigo serão discutidas tão somente as estratégias relacionadas ao aumento
da dose, associação de antidepressivos e troca de antidepressivo, mais direcionadas aos
médicos clínicos de uma maneira geral. As outras estratégias são entendidas como
pertinentes aos psiquiatras, enquanto especialistas, para quadros depressivos mais
graves ou que necessitem de psicoterapia.
2.1. – Aumento da dose:
Caso não ocorra melhora num determinado paciente, que está recebendo uma
dose inicial, depois de duas ou quatro semanas de uso é recomendado um aumento
gradual das doses, até atingir sua dose máxima cf. parâmetros disponibilizados no artigo
anterior.
Em alguns pacientes, segundo as já mencionadas Diretrizes da Associação
Médica Brasileira, a melhora pode ocorrer depois da primeira semana de tratamento e,
caso aconteça nas duas primeiras semanas, está associada com maior probabilidade de
resposta positiva. Por outro lado, a ausência de resposta em quatro semanas diminui a
chance de melhora posterior com o mesmo medicamento, embora alguns pacientes
possam vir a responder positivamente em seis semanas. 3
Segundo Fleck e cols.: “O aumento da dose, quando não há resposta, parece ser
um passo lógico, considerando que existe uma grande variedade individual na
concentração plasmática de antidepressivos e que existe uma incerteza sobre o que
seria uma dose adequada para um dado indivíduo”. Ibid
2.2. – Associação de antidepressivos:
Quando a depressão não for debelada na vigência de uma monoterapia, cabe
prescrever uma associação de medicamentos antidepressivos.
A combinação de antidepressivos, ao invés de uma simples troca de
medicamento, encontra apoio nos resultados do STAR*D (Sequenced Treatment
Alternatives to Relieve Depression). Este projeto envolveu em torno de 4.000 pacientes,
acompanhados ao longo de quatro etapas, de maneira a avaliar o desempenho de
sucessivas tentativas com esquemas antidepressivos diversos. 3 A preferência
recomendada foi pela combinação de dois antidepressivos com ações sinérgicas e
complementares (como a junção de um inibidor de recaptura a um bloqueador de
receptores) e não por uma associação de medicamentos com mecanismos de ação
semelhantes (como dois inibidores de recaptura). 4
A mirtazapina, de acordo com Carpenter e cols., em 2002, foi considerada como
o único antidepressivo com demonstração controlada de seu uso em combinação.
Ela exerce sua ação antidepressiva por meio do bloqueio de receptores
alfa2 adrenérgicos pré-sinápticos, tanto em neurônios noradrenérgicos quanto
serotoninérgicos e também bloqueia receptores pós-sinápticos 5-HT2A (responsáveis
pela insônia e disfunção sexual) e 5-HT3 (responsável pela náusea) quando estimulados
pelo aumento da serotonina na fenda sináptica. 5 Demétrio e Soares confirmaram, em
2008, essa indicação, afirmando que essa molécula é muito interessante para a
combinação com inibidores de recaptura, pois pode aumentar a resposta antidepressiva
tanto da inibição de recaptura de serotonina quanto da inibição de recaptura de
noradrenalina,
potencializando
ainda
a
inervação
recíproca
serotoninérgica/noradrenérgica. Afirmaram, também, que do ponto de vista de
interações medicamentosas essa combinação é bastante segura. 6
Stahl, dentro da mesma concepção, preconizou a combinação de venlafaxina e
mirtazapina, batizada como “California Rocket Fuel” (Combustível de Foguetes da
Califórnia), uma medida heroica para o tratamento de depressão refratária. 7,8Outros
autores usaram a combinação de citalopram ou escitalopram e bupropiona-sr com
resultados positivos nessas situações. 9,10 Experiências positivas também foram
constadas com outras combinações, entre as quais utilizando a sertralina e bupropiona
ou venlafaxina e bupropiona. 11
O foco das estratégias para suplantar as resistências de alguns pacientes aos
tratamentos, segundo Shelton, já começam a incluir uma combinação conjunta de um
antidepressivo e a prescrição de um antipsicótico atípico. 4
Confirmando esse parecer, recentemente uma nova composição também já foi
aprovada pelo FDA para o tratamento de casos resistentes e consiste na associação entre
Olanzapina e Fluoxetina HCL, com o nome de Symbyax, do laboratório Eli
Lilly. 12,13
2.3. – Troca de antidepressivo:
Se necessário, a troca de um antidepressivo em uso por outro, caso não tenha
promovido as mudanças terapêuticas esperadas ou se ocorreram efeitos adversos
indesejáveis, deverá ser feita com cautela.
A cautela diz respeito à verificação do tempo de meia-vida no organismo do
fármaco a ser retirado. Por exemplo, a fluoxetina possui uma meia-vida de eliminação
de 4 a 6 dias e seu metabólito ativo (norfluoxetina) de 4 a 16 dias. Com isso, esse
fármaco permanecerá ainda ativo nesse período de tempo ou mais, dependendo de
características individuais após a interrupção do tratamento. Outro exemplo é o da
bupropiona, a qual permanece ativa depois de sete dias de sua última dose.
O que se teme são as interações medicamentosas pelo fato de que o primeiro
fármaco, ainda presente no organismo depois de sua interrupção, possa interagir com o
outro a ser administrado. Tomando novamente a fluoxetina como exemplo, se após sua
interrupção for administrado de imediato a sertralina, outro medicamento
serotoninérgico, poderemos induzir no organismo de determinado paciente a síndrome
serotoninérgica, de efeitos bastante desagradáveis e fatais (descritas a seguir) a ele e
iatrogênicos sob um ponto de vista médico.
Para evitar tal desiderato, convém que a troca se realize com medicamentos de
diferentes propriedades farmacológicas e que, na prática, já foram testados em sua
combinação, como os descritos no tópico anterior ao abordarmos a associação dos
antidepressivos. 11,14
3. O RISCO DOS EFEITOS ANTICOLINÉRGICOS
De acordo com Lamoure, Professor Assistente do Departamento de Psiquiatria
da Universidade de Ontário, Canadá, cada vez mais são vistos pacientes tomando
múltiplos antidepressivos de diferentes classes. Todos os programas de interações
medicamentosas mencionam as interações entre as drogas que podem levar à grave
intoxicação conhecida como síndrome serotoninérgica. E ele pergunta: “O quanto
comum e significativa é esta síndrome?”
Como resposta a sua própria pergunta traz ao conhecimento dados significativos
sobre sua presença no universo avaliado. Mostra que o Sistema de Vigilância da
Exposição de Tóxicos revisou casos de pacientes internados e de emergência, atendidos
durante o ano de 2004. Nesse levantamento, os inibidores seletivos de recaptura da
serotonina (ISRS) causaram efeitos tóxicos em 8.187 pessoas, com 103 casos fatais. 15
Menciona que essa síndrome pode ter incidência bem maior, uma vez que não
apenas os ISRS contribuem ao seu desencadeamento. Afirma, também, que em torno de
85 % dos clínicos ignoram sua existência, o que se constitui num ponto muito grave a
ser considerado. A confusão a respeito dos sintomas pode ser responsável para as
dificuldades de acesso à atual incidência. A agitação, sintoma cardeal da síndrome, é
clinicamente similar à ativação, um efeito adverso associado ao uso dos ISRS. Ibid Para
ele, uma tríade de alterações clínicas – cognitivas, neuromusculares e autonômicas –
caracteriza a síndrome e alterações específicas podem incluir confusão mental, delirium,
agitação, cansaço, espasmos musculares, febre alta, perspiração abundante, taquicardia,
flutuação da pressão arterial, midríase, náuseas ou diarreia.
A síndrome serotoninérgica é uma condição determinada, no mais das vezes,
pela concorrência de uso de dois ou mais agentes que aumentam os níveis de serotonina
nas sinapses. Porém, também pode ocorrer na monoterapia e nas sobredoses. De acordo
com esse autor, tanto fatores medicamentosos como os próprios pacientes podem
contribuir à toxicidade dos ISRS. Uma variedade de fármacos pode aumentar os níveis
de serotonina no organismo e, quando esses agentes forem combinados, o risco de
síndrome serotoninérgica aumenta. Ibid
As classes de fármacos implicadas incluem agentes antienxaqueca (triptanos),
antidepressivos (p.ex., ISRS, ISRNaS, buspirona, tricíclicos, derivados da
monoaminoxidase), antipsicóticos, anticonvulsivantes, antiparkinsonianos, analgésicos
(p.ex., meperidina, tramadol), compostos que contêm dextrometorfano, erva de São
João e antibióticos.
Lamoure coloca algumas questões práticas a serem observadas, por ocasião da
suspeita de uma possível síndrome serotoninérgica, ao se iniciar um tratamento com
antidepressivos:

Quais medicamentos o paciente está tomando no momento?

Quais reações adversas foram vivenciadas previamente?

Quando tomar conhecimento das evidências é essencial aplicar o processo
terapêutico pensado e executá-lo mediante a avaliação do risco-benefício.

Estar alerta sobre a síndrome serotoninérgica e a educação sobre seus efeitos são
procedimentos vitais. Esses fatores devem ser considerados a fim de que todos
os “buracos de um queijo suíço estejam alinhados” e de que o paciente não
venha a se causar dano. Ibid
Além das combinações de fármacos, a ingestão de um antidepressivo ISRS com
dose acima da recomendada pode provocar igualmente a síndrome serotoninérgica.
Exemplos dessa ocorrência já começaram a aparecer na literatura, demonstrando o
quanto de cautela deve ser adotado por ocasião da prescrição de um antidepressivo.
Barclay e Vega, do CME, reportam-se a um artigo escrito no American Family
Phisician, autoria de Ables e Nagubili, Carolina do Norte. Segundo esses autores a
síndrome foi descrita pela primeira vez na literatura durante os anos sessenta em estudos
de simples combinação terapêutica com medicações antidepressivas. Mostraram-nos
que os sintomas de excessiva atividade serotoninérgica no sistema nervoso incluem
alterações no status cerebral, instabilidade autonômica e hiperatividade neuromuscular
causada pela exposição a múltiplas drogas serotonérgicas ou a excessiva exposição de
uma simples droga cuja dose foi aumentada. 16
Tseng e cols. e Huska e cols., em trabalhos distintos, mostraram, através de
relatos de casos, a ocorrência de síndrome serotoninérgica a partir do uso de doses
duplicadas de citalopram (40mg/dia) e triplicadas de escitalopram (30mg/dia).17,18
4. SÍNDROME DE DESCONTINUAÇÃO E DE COMO EVITAR
A síndrome de descontinuação dos antidepressivos (denominação suave criada
para evitar as conhecidas, consagradas e temidas dependência e síndrome de
abstinência por causas comerciais e de marketing) pode ser composta por sinais e
sintomas como, por exemplo, vertigem, distúrbios sensoriais (parestesias, sensação de
choque elétrico e tinitus), distúrbios do sono (com sonhos intensos e angustiantes ou
pesadelos), ansiedade, inquietude, náuseas, cefaleia, tremores, confusão, diarreia e
sudorese.
Vlaminck e cols. afirmam que os sintomas de retirada dessas drogas podem ser
classificados em oito grupos: sintomas influenza-tipo, transtornos do sono, do
equilíbrio, psíquicos, gastrointestinais, do sensório, extrapiramidais e outros sintomas.
Referem que as características desses sintomas é que apareçam entre o primeiro e o
quarto dia depois da redução da dose ou da última administração. Eles podem surgir
igualmente em crianças de mães que usaram antidepressivos no último trimestre da
gravidez. 19
Outros sinais ou sintomas podem ocorrer na dependência de reações
individualizadas de cada paciente, como, por exemplo, irritabilidade, agressividade ou
impulsividade. Por vezes, os sintomas depressivos, já superados, podem retornar
subitamente. Ibid
Valuck e cols. chamam a atenção que a descontinuação possui um risco
significativo para tentativas de suicídio. Por isto, apregoam cautela e monitoramento
durante esse período. 1
Na retirada de um antidepressivo é recomendável reduzir as doses gradualmente,
no mínimo, durante um mês ou quatro semanas.
Caso houver reação de descontinuação, tentar explicar ao paciente que isso é
comum e que valerá a pena seguir com a proposta de retirada. Se a reação for muito
intensa, o medicamento deve ser reintroduzido às doses anteriores e tentar repetir a
descontinuação mais lentamente num outro momento. 1,19,20
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attempt: a retrospective, nested case-control study. J Clin Psych. 2009 Aug; 70 (8):
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10. Trivedi MH, Fava M, Wisniewski SR, Thase ME, Quitkin F, Warden D et al.
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11. Rush AJ, Trivedi MH, Wisniewski SR, Stewart JW, Nierenberg AA, Thase ME et
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reuptake inhibitor discontinuation: side effects and other factors that influence
medication adherence. J Clin Psychopharmacol. 2007 Oct; 27(5): 451-8.
* Parte 2 e extrato de estudo sobre “Uso Racional de Antidepressivos”. O texto na
íntegra poderá ser encontrado no livro “O uso de antidepressivos na clínica médica”,
Porto Alegre: Sulina, 406 p., coordenado por Crespo de Souza.
Endereço p/correspondência: [email protected]
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