China desacelera e espera-se reação fiscal e monetária

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China desacelera e espera-se reação fiscal e monetária
Fonte: Valor Econômico
Por Koh Gui Qing e Kevin Yao | Reuters, de Pequim
O crescimento dos investimentos, das vendas no varejo e da produção industrial na China ficou abaixo das expectativas
em janeiro e fevereiro, atingindo os menores patamares em muitos anos e deixando poucas dúvidas nos investidores
de que a economia do país está perdendo força.
Os números foram anunciados ontem, um dia depois que dados mostraram uma intensificação das pressões
deflacionárias sobre o setor industrial em fevereiro, reforçando a expectativa de novos cortes nas taxas de juros e de
outras medidas de relaxamento da política econômica para evitar uma maior desaceleração da segundo maior
economia do mundo.
"Os dados de atividade surpreenderam muito o mercado, sugerindo que o crescimento do PIB chinês no primeiro
trimestre pode ser inferior a 7%", disse Li-Gang, economista da ANZ em nota de análise. "Os dados extremamente
fracos do começo do ano sugerem que a China precisa adotar uma política de relaxamento mais agressiva e
acreditamos que um corte na exigência de depósito compulsório dos bancos é iminente", disse ele, acrescentando que
as medidas de estímulos anunciadas desde o ano passado parecem estar tendo um efeito limitado.
A produção industrial cresceu 6,8% nos primeiros dois meses do ano, em relação ao mesmo período do ano passado,
informou a Agência Nacional de Estatísticas. É o menor crescimento desde a crise financeira global de 2008. Analistas
ouvidos pela "Reuters" previam um aumento de 7,8%, uma pequena queda em relação a dezembro.
As vendas no varejo cresceram 10,7%, a menor taxa em uma década, que ficou aquém das expectativas do mercado,
que apontavam para um crescimento de 11,7%.
Os investimentos em ativos fixos, um fator-chave da economia chinesa, subiram 13,9%, a menor taxa desde 2001 (a
expectativa do mercado era crescimento de 15%). "Os investimentos em ativos fixos deverão enfrentar ainda mais
dificuldades", disseram nesta semana em nota economistas do Credit Suisse, para quem a repressão do governo à
corrupção e ao sistema bancário paralelo afetou duramente os gastos dos governos locais. "As autoridades e executivos
locais das empresas estatais estão mais preocupados com seus empregos do que com os investimentos... O governo
central está iniciando mais projetos de investimentos, mas com o objetivo de compensar parcialmente a falta de
investimentos locais, em vez de acelerar o crescimento."
A China juntou a divulgação dos dados de janeiro e fevereiro de investimentos, vendas no varejo e produção industrial
para minimizar distorções provocadas pelo feriado do Ano Novo Lunar, que caiu no fim de janeiro no ano passado e na
metade de fevereiro este ano.
A atividade industrial fraca reforça a expectativa de que o crescimento da China vai cair este ano ao menor patamar em
25 anos, para cerca de 7%, em relação aos 7,4% de 2014, mesmo com as medidas adicionais de estímulo esperadas.
A geração de energia cresceu 1,9% em janeiro e fevereiro em relação ao mesmo período do ano passado, bem abaixo
dos 3,2% registrados em 2014 como um todo.
Yin Weimin, ministro dos Recursos Humanos e Seguridade Social, alertou esta semana que o mercado de trabalho da
China também enfrenta uma maior pressão. O nível de emprego caiu mais em janeiro e fevereiro do que no mesmo
período do ano passado, disse ele, acrescentando que está confiante de que o país conseguirá, mesmo assim, criar
mais de 10 milhões de empregos este ano.
A economia chinesa atravessa há 15 meses uma fase difícil, com a desaceleração do setor imobiliário se juntando ao
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menor crescimento da demanda externa e interna e ao persistente excesso de capacidade da indústria. O
recrudescimento da campanha do governo contra a corrupção também afetou a atividade em quase tudo, de
investimentos a vendas no varejo.
As autoridades monetárias cortaram as taxas de juros duas vezes desde novembro, e no começo de fevereiro
reduziram a quantidade de dinheiro que os bancos precisam manter em reserva (o compulsório), liberando mais
liquidez para a economia, para compensar o aumento das saídas de capital.
Mas, como até agora esses ajustes têm sido basicamente defensivos em sua natureza, economistas afirmam que eles
não se traduziram em juros reais menores nem em alta de investimentos. As companhias chinesas estão cautelosas
com seus planos de crescimento, diante das fracas perspectivas de negócios, e os banqueiros temem um aumento do
volume de empréstimos vencidos e não pagos.
Com a inflação ao consumidor perto do "nível de vigilância" de 1%, analistas acreditam que o banco central vai
novamente reduzir as exigências de depósito compulsório e as taxas de juros, para conter um possível ciclo
deflacionário, na sua maior campanha de afrouxamento desde a crise global.
O banco central vem salientando a alta dos juros reais, na esteira do esfriamento da inflação, como mais um entrave à
economia, especialmente porque muitas empresas lutam contra endividamentos pesados e a demanda final permanece
fraca.
"Os níveis de produção industrial de dois dígitos serão coisa do passado", disse ontem Chester Liaw, economista da
Forecast Pte de Cingapura. "É altamente improvável que as vendas no varejo também se mantenham por muito tempo
acima da marca de 10%."
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