Resumo de dissertação de mestrado apresentada ao programa de ciências morfológicas da UFRJ em 04 de Março de 2010 – Priscila Britto Campos INDUÇÃO DE ANEUPLOIDIA E DIFERENCIAÇÃO NEURAL POR ZIDOVUDINA EM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS RESUMO O mecanismo pelo qual uma célula pluripotente se diferencia em fenótipo específico ainda é pouco conhecido. A aneuploidia (perda e ganho de cromossomos) é característica de progenitores neurais e neurônios derivados do cérebro de camundongos e humanos. Não é sabido, entretanto, se sua indução está associada aos processos de neurogênese. Células-tronco embrionárias podem se dividir indefinidamente em virtude da alta expresão de telomerase. Na maioria das células somáticas esta enzima não é expressa, sugerindo uma correlação entre a redução na expressão da telomerase e diferenciação celular. No presente trabalho investigamos se o bloqueio da função da telomerase pelo antiretroviral zidovudina (AZT) é capaz de induzir aneuploidia associada à diferenciação neural de células-tronco embrionárias murinas (mES). Durante 4 dias, colônias de mES foram tratadas com diferentes concentrações do composto. Observamos aumento na taxa de aneuploidia de 26,6% (controle) para 72,5% (AZT 100µM). Quantificamos o tamanho dos telômeros utilizando FISH (hibridização in situ com fluorescência) e concluímos que a aneuploidia induzida por AZT em mES não está associada à erosão telomérica. Outro mecanismo de geração de aneuploidia investigado foi a formação de micronúcleos. Observamos aumento de 3 vezes na quantidade de micronúcleos no grupo de células tratadas com AZT em comparação ao grupo controle, concluindo que a aneuploidia observada ocorre em virtude da formação de tais estruturas. Com o interesse de identificar se a aneuploidia contribuiria positivamente para o processo de diferenciação neural, corpos embrióides (EBs) foram tratados por 4 dias com AZT e as taxas de aneuploidia e diferenciação foram avaliadas. Observamos que EBs tratados com AZT apresentaram 47,37% de células aneuplóides enquanto no grupo controle esse percentual foi de 18,75%, sendo predominante o número de células hipoplóides. Enquanto EBs controle apresentaram 1% de células positivas para nestina e EBs tratados com ácido retinóico (2µM) 18% (±5,4), o tratamento com AZT 100µM apresentou 12,3% (±7,5) de células positivas para nestina. Em conclusão os dados sugerem que o tratamento com AZT promove aneuploidia em células-tronco embrionárias via formação de micronúcleos e contribui para diferenciação neural. Os dados devem ainda ser levados em consideração quanto à utilização do AZT por grávidas e novos estudos devem ser realizados com intuito de garantir o desenvolvimento normal de fetos expostos ao composto. ABSTRACT The mechanism by which a pluripotent cell differentiates into a specific cell type is less known. Aneuploidy (loss or gain of chromosomes) is a common characteristic present in neural progenitors and neurons derived from human and mouse brains. It is still unknown if aneuploidy induction is associated to neurogenesis. Embryonic stem cells can divide indefinitely due to high expression of telomerase. This enzyme is inactivated in most of somatic cells suggesting a correlation between the decline of telomerase activity and cellular differentiation. In this work we investigated if telomerase blockade by the antiretroviral zidovudine (AZT) can induce aneuploidy associated to neural differentiation in murine embryonic stem cells (mES). During 4 days, mES colonies were exposed to zidovudine (AZT) and aneuploidy rate increased from 26.6% in control to 72.5% in AZT 100µM treated group. Telomere length was quantified by FISH (fluorescence in situ hybridization) e we could conclude that aneuploidy induced by AZT in mES is not related to telomere erosion. Another mechanism of aneuploidy generation investigated was micronuclei formation. We observed a 3 fold increase in micronuclei rate of AZT treated cells compared to control group, concluding that the observed aneuploidy occurs due to formation of these structures. With the intention to identify if aneuploidy could contribute to neural differentiation, embryoid bodies (EBs) were exposed for 4 days to AZT and aneuploidy as also as differentiation rates were estimated. We observed that EBs treated with AZT presented 47,37% of aneuploid cells while control presented 18,75%, with predominance of hypoploid cells. While EBs control presented 1% of nestin positive cells and EBs treated with retinoic acid (RA) 18%, AZT 100µM group presented 12.3% of these types of cells. In conclusion, these data suggest that aneuploidization upon AZT exposure occurs by micronuclei formation and contributes to neural differentiation. Moreover, these observations should be considerate in the concept of using AZT by pregnant women and studies should be done to guarantee the normal development of fetus exposed to the compound.