Um caso de transmissão vertical do VIH – O

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RESUMO:
Um caso de transmissão vertical do VIH – O problema da resistência
aos anti-retrovíricos
Isabel González (1), Graça Rocha (1), Vítor Duque (2)
(1) – Consulta de Doenças Infecciosas do Hospital Pediátrico de Coimbra
(2) – Laboratório de Virologia. Departamento de Doenças Infecciosas. Hospitais da Universidade de
Coimbra
O vírus da Imunodeficiência Humana (VIH) transmite-se à criança principalmente por
transmissão vertical, durante a gravidez, durante o parto e através do leite materno. A
taxa de transmissão vertical que com a utilização do protocolo ACTG 076 (AZT na
grávida, intra-parto e ao recém-nascido) foi de 8% tem vindo a descer para taxas de 12% com a utilização de tratamento de alta eficácia à mãe e com a cesariana electiva.
Apresenta-se o caso clínico de uma criança nascida em 2002 e infectada por transmissão
vertical com o VIH-1. A mãe de 40 anos tinha conhecimento do seu estado de infecção
desde há 10 anos. Estava assintomática. Inicia na gravidez AZT + 3TC + IDV que
cumpre irregularmente. A carga vírica mantem-se entre 2000 e 5200 cópias/ml e os
CD4 28% antes do parto. O parto foi por cesareana às 38 S por sofrimento fetal agudo,
com rotura de membranas inferior a 4 horas. Fez AZT endovenoso intra-parto e o
recém-nascido AZT profiláctico durante 6 semanas. A PCR-DNA para o VIH foi
negativa às 48H e ao mês de idade, mas foi positiva aos 3 meses de idade. A criança não
fez aleitamento materno. O vírus transmitido tem um padrão de resistência para os
fármacos utilizados na mãe. Este padrão é semelhante ao padrão do vírus materno
(resultado conhecido posteriormente).
Este caso pretende alertar para a necessidade do estudo do padrão de resistência dos
vírus maternos para adequação da terapêutica na grávida. A resistência ao AZT imporá
a administração de outra/s medicação intra-parto e ao recém-nascido.
Só com uma terapêutica adequada se poderá reduzir a transmissão vertical do VIH.
CASO CLINICO: Transmissão vertical do VIH. O problema da resistência
aos anti-retrovíricos
Isabel González, Graça Rocha: Consulta de Doenças Infecciosas do Hospital Pediátrico de Coimbra
Vítor Duque: Laboratório de Virologia. Departamento de Doenças Infecciosas. Hospitais da Universidade
de Coimbra
Identificação
Criança de raça caucasiana, nascida no ano 2002, actualmente com 4 anos de idade.
Antecedentes Familiares
Mãe: 40 anos. Infecção VIH-1 por transmissão sexual diagnosticada 10 anos
antes desta gravidez. Em 1990 realizou uma Interrupção voluntária da Gravidez.
Pai: Toxicodependente
Antecedentes Prénatais e Perinatais
A mãe na gravidez apresentou uma clínica de: Infecções do Tracto Urinário de
repetição; leucorreia (C. albicans e Trichomonas) e trombocitopenia.
Fez irregularmente tratamento anti-retrovirico (TARV): Zidovudina (AZT) +
Lamivudina (3TC) + Indinavir (IDV).
A Carga Vírica oscilou entre 2000 e 5200 cópias/ml e CD4 28% antes do parto
Serologias: Ac HBs positivo; Ag HBs negativo; Anti-VHC negativo; VDRL não
reactiva;Toxoplasmose não imune e Rubéola imune
Antecedentes Perinatais e neonatais:
Nasce por cesariana electiva às 38 semanas de Idade Gestacional, mas houve registo de
alterações na variabilidade nas horas prévias ao parto (Sofrimento Fetal Agudo). Com
uma rotura de membranas inferior a 4 horas. Foi administrado zidovudina intraparto.
Nasce com APGAR 9/10/10 sem necessidade de reanimação. Peso-3140g (P25);
Comprimento- 48cm (P25)e Perímetro Cefálico- 34cm (P10-25).
Realizou AZT profiláctico neonatal durante 6 semanas e aleitamento artificial.
Diagnóstico da Infecção na criança:
O teste virológico PCR-DNA (Polymerase Chain Reaction) do VIH resultou:
Negativo nas primeiras 48horas
Negativo ao 1 Mês de vida; com uma Carga Viral < 200 cópias/ml
Positivo aos 3 meses de idade; com Carga Viral 11.749 cópias/ml
Teste de Resistências do VIH1 transmitido:
AZT possível Resistência
3TC Resistência
SQV Resistência
IDV possível Resistência
NFV Resistência
Avaliação realizada na criança aos 5 meses de idade. Em sublinhado estão os
fármacos administrados na mãe durante a gravidez.
Teste de Resistências do VIH1 materno:
AZT possível Resistência
3TC Resistência
SQV Resistência
IDV possível Resistência
NFV Resistência
Depois de ter conhecimento do padrão multirresistente do vírus transmitido
verticalmente, foi realizado o teste de resistências na amostra de sangue materno que
tinha sido reservado nas 48 horas pré-parto.
COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES:
A PCR-DNA do VIH foi negativa às 48 Horas e ao 1 mês de idade. Houve uma
transmissão, provávelmente peri-parto, de um vírus VIH 1 multiresistente.
O padrão de resistência do Vírus da mãe é similar ao do filho
Este caso documenta que:
È necessário o estudo do padrão de resistência dos vírus maternos para
adequação da terapêutica na grávida.
A resistência ao AZT imporá a administração de outra/s medicação intra-parto e
ao recém-nascido.
BIBLIOGRAFIA
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