AVALIAÇÃO DA HEPATOTOXICIDADE DA ZIDOVUDINA EM RATOS Gabriela Suthovski (PIBIC/CNPq-IC), Ana Cristina de Mattos, (IC), Patricia Latyki (IC), Rubiana Mara Mainardes (DEFAR-Orientador), e-mail: [email protected] Palavras-chave: AZT, Hepatotoxicidade, ALT, AST. Resumo: A zidovudina (AZT) é utilizada como fármaco de primeira escolha no tratamento da AIDS. Sua efetividade é baseada na inibição da transcriptase reversa, enzima responsável pela montagem do DNA viral. O AZT sofre rápido metabolismo présistêmico no fígado, sendo necessárias várias doses para alcançar concentrações terapêuticas, acarretando em vários efeitos colaterais. Neste trabalho avaliou-se a função hepática de ratos Wistar tratados por 28 dias com AZT via intraperitoneal (100mg/kg). Os resultados mostraram que durante o período de tratamento houve severo dano hepático. Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) é a pandemia de maior impacto atualmente. Estatísticas mostram que a expansão desta síndrome alcançou níveis alarmantes. O vírus da imunodeficiência adquirida (HIV) se espalha rapidamente e, de acordo com dados epidemiológicos mundiais, o número de crianças infectadas com o HIV triplicará até 2010 (AMATO et al., 1996). Desde a descoberta da AIDS, em 1981, têm-se alcançado considerável progresso no desenvolvimento de agentes anti-HIV. Vários esquemas de coquetéis de medicamentos são utilizados no intuito de diminuir a carga viral e a imunodeficiência dos pacientes. Geralmente se usa um fármaco inibidor da protease associado à um inibidor da transcriptase reversa, com o intuito de atingir o vírus em todos os estágios de seu desenvolvimento (HURWITZ e SCHINAZI, 2002). Os inibidores da enzima transcriptase reversa, como a lamivudina e a zidovudina (AZT), formam a primeira classe de fármacos utilizada no tratamento da AIDS. Um dos primeiros fármacos a serem aprovados para uso em seres humanos foi o AZT. Esse fármaco é considerado de primeira escolha no tratamento da AIDS, e estudos clínicos e imunológicos demonstram que sua introdução no tratamento contribui para melhorar e prolongar a vida dos pacientes portadores do HIV (SULKOWSKI, M. S. et al, 2000). Após administração oral, o AZT sofre metabolismo pré-sistêmico e é degradado no fígado, sugerindo uma possível sobrecarga no tecido hepático (SULKOWSKI, M. S. et al, 2000). O metabolismo hepático diminui consideravelmente as concentrações plasmáticas do AZT, e então novas doses são requeridas, aumentando os níveis basais do fármaco, acarretando em efeitos colaterais, os quais contribuem para a piora do quadro de imunodeficiência do paciente (THOMAS & PANCHAGNULA, 2003). Estudos sugerem que o AZT apresenta toxicidade mitocondrial, podendo inibir a fosforilação da timidina nas mitocôndrias hepáticas, e com isso acarretar toxicidade hepática (LYNX et al., 2006). Assim, o objetivo deste trabalho é avaliar se o tratamento sub-crônico com AZT em ratos é capaz de desenvolver alterações na função hepática. Materiais e Métodos Preparo dos animais Utilizaram-se ratos Wistar machos (Biotério PUC - Curitiba/PR) pesando entre 130 e 200g no início do experimento. Os animais (n=8) foram mantidos separados em dois grupos, com livre acesso a água e alimentação durante todo experimento e ciclos de 12h claro/escuro. Avaliação da hepatotoxicidade do AZT Os animais receberam AZT por via intraperitoneal todas as manhãs (entre 7 e 8 horas) durante 28 dias. A dose adotada foi de 100mg/kg. O parâmetro de solubilidade do AZT em salina (NaCl 0,85%) foi de 20mg para cada 2 mL de salina. Um grupo controle recebeu somente salina. Ao final de 28 dias, os ratos foram anestesiados e o sangue foi obtido através de punção cardíaca. O sangue total foi armazenado em tubos contendo EDTA e submetido à centrifugação (2500 rpm por 15 min). O soro resultante foi submetido imediatamente para análise. A análise das amostras foi realizada pela avaliação de marcadores bioquímicos da função hepática: Alanina aminotransferase (ALT) e Aspartato aminotransferase (AST), determinado em analisador semi-automático utilizando Kits bioquímicos comerciais. Análise estatística Os resultados serão apresentados como média desvio padrão. Comparações estatísticas serão feitas pela ANOVA com 95% de confiança. Diferenças serão consideradas estatisticamente significantes com p < 0,05. Resultados e Discussão Durante o período de tratamento com AZT foram relatados efeitos colaterais como diarréia, diminuição da ingesta de ração e comportamento menos agressivo do que os ratos pertencentes ao grupo que recebeu somente salina. Além disso, a observação do fígado post-mortem revelou aumento de tamanho e icterícia. Nenhuma morte foi registrada. Observou-se uma diminuição nos níveis séricos de AST e ALT com o tratamento com AZT. Verificou-se que houve diferenças significativas dos valores de ALT e AST entre o grupo tratado com AZT e o grupo controle (salina). No caso de injúria hepática, aguda ou crônica, a atividade sérica de AST está elevada, entretanto observa-se que um fígado em estágio final, como no caso de cirrose hepática, severa fibrose ou lipidose, pode produzir pouco extravasamento hepatocelular de AST, resultando em níveis diminuídos dessa enzima. Os resultados indicam que o tratamento com AZT por 28 dias via intraperitoneal foi suficiente para causar hepatotoxicidade. A função hepática dos animais foi avaliada após 28 dias de tratamento com AZT na dose 100mg/mL e os resultados encontram-se na Tabela I. Tabela I – Avaliação da função hepática de ratos Wistar após tratamento com AZT (100mg/Kg) por 28 dias. Marcadores da função hepática Grupos AST(U/L) (média ± DP) Grupo controle (salina) 218,37 ± 107,21 Grupo AZT 114,12 ± 34,71 ALT (U/L) (média ± DP) 51,98 ± 11,33 38,88 ± 5,57 n=8 Conclusões A partir dos resultados obtidos observou-se que durante o período de tratamento (28 dias), o AZT na dose de 100 mg/Kg via intraperitoneal resultou em hepatotoxicidade. Agradecimentos Agradecimentos especiais ao CNPq pela Bolsa de Iniciação Científica, às colegas de trabalho e aos orientadores. Referências Amato, V.N.; Medeiros, E.A.S.; Kallas, E.G.; Levi, G.C.; Baldy, J.L.S.; Medeiros, R.S.S. AIDS na prática médica. Ed.: Sarvier. São Paulo, 1996; p.1-6, 8, 22, 129132. Lynx, M.D.; Bentley, A.T.; Mckee, E.E. 30-Azido-30-deoxythymidine (AZT) inhibits thymidine phosphorylation in isolated rat liver mitochondria: A possible mechanism of AZT hepatotoxicity. Biochemical Pharmacology, 2006, v. 71, p.1342-1348. Sulkowski, M.S.; Thomas, D.L.; Chaisson, R.E., Moore, R.D. Hepatotoxicity associated with antiretroviral therapy in adults infected with human immunodeficiency virus and the role of hepatitis C or B virus infection. JAMA 2000, v. 283, p.74-80. Thomas, N.S.; Panchagnula, R. Transdermal delivery of zidovudine: effect of vehicles on permeation across rat skin and their mechanism of action. Eur. J. Pharm. Sci., 2003, v.18, p.71-79. Hurwitz, S.J.; Schinazi, R.F. Development of a pharmacodynamic model for HIV treatment with nucleoside reverse transcriptase and protease inhibitors. Antiviral Res., 2002, v.56, p.115-127.