AVALIAÇÃO DA NEFROTOXICIDADE DA ZIDOVUDINA EM RATOS Ana Cristina de Mattos (IC-voluntária), Gabriela Suthovski (PIBIC/CNPq-IC), Patricia Latyki (IC-voluntária), Rubiana Mara Mainardes (Orientador) e-mail: [email protected] Palavras-chave: Zidovudina (AZT), Nefrotoxicidade, creatinina, uréia. Resumo: A Zidovudina (AZT) é o fármaco de primeira escolha no tratamento da Síndrome da Imunodeficiência Humana. Contudo, este fármaco possui um tempo de meia-vida bastante curto, fazendo com que seja adotada uma terapia com altas e freqüentes doses, podendo gerar graves efeitos colaterais. Neste trabalho avaliou-se a função renal de ratos Wistar tratados com AZT por 28 dias via intraperitoneal (100mg/kg). Os resultados mostraram que o tratamento sub-crônico não gerou dano renal. Introdução A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) foi primeiramente descrita em 1981, e a veloz evolução da doença, levando os doentes a óbito, fez com que ocorressem intensas pesquisas com o intuito de identificar seu agente etiológico para, enfim, desenvolver fármacos com o propósito de combater o agente causador, ou pelo menos, melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A zidovudina (AZT) foi o primeiro fármaco empregado no tratamento da AIDS, que comprovadamente proporcionou benefícios clínicos importantes, estando disponível deste 1987 (BRUNTON et al., 2006), logo após a observação de sua atividade anti-retroviral in vitro (YARCHOAN et al., 1989). No entanto, o AZT só começou a ser produzido no Brasil em 1993. Este medicamento atua inibindo a enzima transcriptase reversa, impedindo a transcrição do RNA viral em DNA viral e, com isso, não ocorre a multiplicação e/ou a liberação de novos vírus. O AZT é utilizado tanto sozinho como em associação com outros fármacos anti-retrovirais, permanecendo com fármaco de primeira escolha entre os inibidores da transcriptase reversa. O AZT apresenta algumas características farmacocinéticas que contribuem para a sua toxicidade in vivo. Após administração oral, o AZT rapidamente sofre extenso metabolismo efeito pré-sistêmico, consequentemente seu tempo de meiavida é bastante curto (1h), resultando em regimes posológicos baseados em altas e freqüentes doses, que por sua vez geram flutuações nas concentrações plasmáticas de AZT. Essas flutuações são responsáveis pelo aparecimento de efeitos colaterais com a terapia a longo prazo (BLUM et al., 1988; KLECKER et al., 1987) Alguns estudos tem mostrado que dependendo da dose de AZT utilizada e do tempo de tratamento, poderia ocorrer uma saturação no transportador renal do AZT, sugerindo uma possível nefrotoxicidade (WADA ET AL., 2000). Com isso, o objetivo deste trabalho é avaliar se o tratamento sub-crônico com AZT em ratos é capaz de desenvolver alterações na função renal. Materiais e Métodos Preparo dos animais Utilizaram-se ratos Wistar machos (Biotério PUC - Curitiba/PR) pesando entre 130 e 200g no início do experimento. Os animais (n=8) foram mantidos separados em dois grupos, com livre acesso a água e alimentação durante todo experimento e ciclos de 12h claro/escuro. Avaliação da nefrotoxicidade do AZT Os animais receberam AZT por via intraperitoneal todas as manhãs (entre 7 e 8 horas) durante 28 dias. A dose adotada foi de 100mg/kg. O parâmetro de solubilidade do AZT em salina (NaCl 0,85%) foi de 20mg para cada 2 mL de salina. Um grupo controle recebeu somente salina. Ao final de 28 dias, os ratos foram anestesiados e o sangue foi obtido através de punção cardíaca. O sangue foi submetido à centrifugação e o soro resultante foi imediatamente analisado pela avaliação de marcadores bioquímicos da função renal: creatinina e uréia, determinados em analisador semi-automático utilizando Kits bioquímicos comerciais. Análise estatística Os resultados serão apresentados como média desvio padrão. Comparações estatísticas serão feitas pela ANOVA com 95% de confiança. Diferenças serão consideradas estatisticamente significantes com p < 0,05. Resultados e Discussão Durante o período de tratamento com AZT foram relatados efeitos colaterais como diarréia, diminuição da ingesta de ração e comportamento menos agressivo do que os ratos pertencentes ao grupo que recebeu somente salina. Nenhuma morte foi registrada. A função renal dos animais foi avaliada após 28 dias de tratamento com AZT na dose 100mg/mL e os resultados encontram-se na Tabela I. Tabela I – Avaliação da função renal de ratos Wistar após tratamento com AZT (100mg/Kg) por 28 dias. Marcadores da função renal Grupos Uréia (mg/dL) Grupo controle (salina) 41,428 ± 4,035 Grupo AZT 49,750 ± 3,615 Creatinina (mg/dL) 0,414 ± 0,037 0,425 ± 0,046 n=8 Observou-se que não houve diferenças estatísticamente significativas dos valores dos marcadores renais entre o grupo controle (salina) e o grupo tratado com AZT. Os resultados indicam que o tratamento sub-crônico na dose utilizada não foi suficiente para resultar em dano renal e estudos posteriores serão necessários para verificar se a toxicidade pode ser dose-dependente ou tempo-dependente. No caso de insuficiência renal, aguda ou crônica, ocorre uma diminuição na capacidade dos rins de excretar toxinas presentes no sangue de maneira adequada, gerando um acúmulo de produtos de degradação metabólica no sangue, como a uréia e a creatinina. Conclusões A partir dos resultados obtidos observou-se que durante o período de tratamento (28 dias), o AZT na dose de 100 mg/Kg via intraperitoneal não resultou em nefrotoxicidade. Agradecimentos Agradecimentos especiais às colegas de trabalho e aos orientadores, que sempre acreditaram na nossa capacidade. Referências Blum, M.R.; Liao, S.H.T.; Good, S.S.; Miranda, P. Pharmacokinetics and bioavailability of zidovudine in humans. Am. J. Med., v. 85, p. 189–194, 1988. Brunton, L.L.; Lazo, J.S.; Parker, K.L. Goodman & Gilman: as Bases Farmacológicas da Terapêutica. Ed. McGraw-Hill, 10a edição, 1821p, 2006. Klecker, R.W.; Collins, J.M.; Yarchoan, R.; Thomas, R.; Jenkins, J.F.; Broder, S. Myers, C.E. Plasma and cerebrospinal fluid pharmacokinetics of 3V-azido-3Vdeoxythymidine: a novel pyrimidine analog with potential application for the treatment of patients with AIDS and related diseases. Clin. Pharmacol. Ther., v. 41, p. 407– 412, 1987. Wada, S.; Tsuda, M.; Sekine, T.; Cha, S. H.; Kimura, M.; Kanai, Y.; Endou, H. . Rat Multispecific Organic Anion Transporter 1 (rOAT1) Transports Zidovudine, Acyclovir, and Other Antiviral Nucleoside Analogs1. The journal of pharmacology and experimental therapeutics, 294, p. 844-849, 2000 Yarchoan, R. Mitsuya, H.; Myers, C.E.; Broder, S. Clinical pharmacology of 3’-azido2’,3’-dideoxythimidine (zidovudine) and related dideoxynucleosides. New Engl. J. Med., v. 321, p. 726-738, 1989.