Faculdade do Sul da Bahia – FASB Mantenedora – Fundação Francisco de Assis Curso: Biomedicina Aula Farmacologia Assunto: HISTÓRICO Surgiu em meados do século XIX, baseadas em princípios de experimentação do que em dogma o Farmacologia surgiu da necessidade de melhorar a qualidade da intervenção terapêutica dos médicos o Robert Boyle estabeleceu as bases científicas da química em meados do séc. XVII o Dificuldades: conhecimento rudimentar do funcionamento normal e anormal do corpo o Doença e morte eram assuntos considerados quase sagrados • A motivação pela farmacologia surgiu da prática clínica, porém seu estabelecimento como ciência só pôde ser construído com base em fundamentos seguros de fisiologia, patologia e química: 1805 – Purificação da morfina a partir do ópio 1858 – Virchow propôs a teoria celular 1868 – primeiro uso de uma fórmula estrutural 1878 – Pasteur descobriu bactérias como causadoras de patologias INÍCIO DO SÉCULO XX • Surgimento da química sintética Agentes sintéticos (barbitúricos e anestésicos) começaram a aparecer; Quimioterapia antimicrobiana nasceu com a descoberta dos compostos arsenicais; Sulfonamidas: primeiros agentes antibacterianos; Penicilina por Chain e Florey durante a II Guerra Mundial; Conhecimento sobre fisiologia: hormônios, neurotransmissores e mediadores inflamatórios (interações entre substâncias químicas e sistemas vivos) Surgimento da bioquímica: descoberta das enzimas e elucidações das vias bioquímicas (base para compreensão dos efeitos dos fármacos) Medicina Alternativa ou Holística • Alopatia: utilizava remédios como sangria, eméticos, purgativos até que suprimissem os sintomas dominantes da doença Homeopatia: começo do séc. XIX “Os semelhantes curam-se pelos semelhantes; a atividade pode ser potencializada por diluição” • Surgimento da Biotecnologia Produção de fármacos ou outras substâncias úteis por meios biológicos Fonte de novos agentes terapêuticos na forma de anticorpos, enzimas, proteínas reguladoras Terapia gênica e baseadas em células • Subáreas da Farmacologia: Farmacogenética: estudo das influências genéticas sobre as respostas a fármacos Farmacogenômica: uso da informação genética para orientar a escolha da terapia farmacol[ogica numa base individual Farmacoepidemiologia: estudo dos efeitos dos fármacos em nível populacional Farmacoeconomia: visa quantificar, em termos econômicos, o custo e o benefício das substâncias utilizadas terapeuticamente • Remédio: “Todo e qualquer procedimento que promova a saúde, podendo haver uso ou não de substâncias químicas” Ex.: • Medicamento “Produto contendo um ou mais princípios ativos, juntamente com produtos inertes, para tratar ou prevenir determinado problema de saúde” Ex.: • Fármaco: “Substância química de estrutura conhecida que pode ser utilizada para diagnóstico, tratamento ou profilaxia de doenças” Ex.: • Droga: “Substância química, conhecida ou não, que não seja componente alimentício ou da dieta, que cause algum efeito no organismo” Ex PRINCÍPIOS GERAIS • Objetivo da farmacologia: “Entender as ações das substâncias exercidas nos organismos vivos e, mais particularmente, como seus efeitos podem ser aplicados à terapia” • Paul Ehrlich: a ação de um fármaco deve ser entendida em termos de interações químicas convencionais entre fármacos e tecidos Ligação das moléculas dos fármacos com as células • Princípio básico “Moléculas de um fármaco devem exercer alguma influência química em um ou mais constituintes das células para produzir respostas farmacológicas” (Paul Ehrlich) “Corpora non agunt nisi fixata” (uma substância não irá funcionar, a não ser que esteja ligada) • Conceitos: Receptor: qualquer molécula-alvo com a qual uma molécula do fármaco deve combinar-se para produzir seu efeito específico Agonista: molécula capaz de ativar os receptores Antagonista: molécula que combina ao mesmo sítio do receptor, sem causar sua ativação • Os fármacos produzem, em sua maioria, efeitos através de sua ligação, em primeiro lugar, a moléculas protéicas Enzimas; Moléculas transportadoras; Canais de íons; Receptores Única exceção importante às proteínas como sítiosalvo é o DNA, sobre qual atuam diversos agentes antitumorais e antimicrobianos Especificidade dos fármacos • Para que o fármaco seja utilizado como instrumento terapêutico, ele deve exibir um elevado grau de especificidade de sítio de ligação • Proteínas que funcionam como alvos para fármacos demonstram geralmente um elevado grau de especificidade de ligante • A especificidade complementar dos ligantes e sítios de ligação é fundamental para explicar muitos dos fenômenos da farmacologia • A capacidade das proteínas de interagir de modo altamente seletivo com outras moléculas, constitui a base das máquinas vivas • Nenhum fármaco é totalmente específico nas suas ações. Em muitos casos, o aumento na sua dose afeta outros alvos diferentes do alvo principal, podendo resultar em efeitos colaterais • Em termos clínicos, isto está frequentemente associado ao aparecimento de efeitos colaterais não desejados Classificação dos receptores • Baseado nos efeitos de fármacos particulares, posteriormente baseada na medida direta da ligação do ligante a receptores • É feita a partir de informações farmacológicas, moleculares e bioquímicas • Ex.: Ação farmacológica da Histamina H1: contração na musculatura lisa H2: estimulação sobre a secreção gástrica Interação fármaco-receptor • Formação de um complexo fármaco-receptor reversível, sendo as reações governadas pela Lei de Ação das Massas “A velocidade de uma reação química é proporcional ao produto das concentrações dos reagentes” • A tendência de um fármaco se ligar ao receptor é determinada pela sua afinidade, enquanto a tendência, uma vez ligada, de ativar o receptor é indicada pela sua eficácia • Fármacos de alta potência exibem alta afinidade pelos receptores, ocupam uma proporção significativa destes, até mesmo na presença de baixas concentrações • Agonistas plenos: apresentam eficácia suficiente para produzir resposta tecidual máxima • Agonistas parciais: apresentam níveis intermediários de eficácia, mesmo quando ocupam 100% dos receptores teciduais • Antagonistas: apresentam afinidade, ocupando 100% dos receptores, porém, no caso mais simples, apresentam eficácia zero Curvas de concentração- efeito do agonista • Representação da resposta biológica causada pela ligação entre um agonista e um receptor • Permitem a estimativa da resposta máxima passível de ser produzida pela substância, bem como a concentração ou dose necessária para produzir 50% da resposta máxima – Parâmetros úteis para comparar as potências de substâncias diferentes que produzem efeitos qualitativamente semelhantes • A afinidade de fármacos agonistas pelos seus receptores não é, em regra, diretamente proporcional à ocupação • A capacidade de uma molécula do fármaco ativar o receptor constitui mais uma propriedade graduada do que um processo de tudo-ou-nada • A diferença entre agonistas totais e parciais reside na relação entre ocupação e resposta • As potências relativas de dois agonistas semelhantes podem ser diferentes em diferentes tecidos, apesar de o receptor ser o mesmo Ativação constitutiva dos receptores • Ativação apreciável na ausência de qualquer ligante • Ocorre devido a mutações dos receptores ou a simples hiperexpressão dos receptores numa linhagem celular • É possível que um ligante reduza o nível de ativação constitutiva: Agonistas inversos – Considerados como drogas de eficácia negativa para distinguir-se dos agonistas (eficácia positiva) e dos antagonistas competitivos (eficácia zero) ANTAGONISMO ENTRE FÁRMACOS • O efeito de um fármaco é diminuído ou totalmente abolido na presença de outro • Classificação: – Antagonismo competitivo; – Antagonismo químico; – Antagonismo farmacocinético; – Antagonismo por bloqueio dos receptores; – Antagonismo não-competitivo, isto é, bloqueio da conexão entre receptor e efetuador; – Antagonismo fisiológico Antagonismo competitivo – Descreve a situação comum em que uma substância se liga seletivamente a determinado tipo – – – – – de receptor sem ativá-lo, porém com a peculiaridade de impedir a ligação do agonista Existe alguma semelhança entre as estruturas químicas das moléculas do agonista e do antagonista As duas substâncias competem entre si, visto que o receptor só pode ligar uma molécula da substância de cada vez Em determinada concentração de agonista, a ocupação do receptor pelo agonista será reduzida na presença do antagonista Devido à competição entre ambos, a elevação da concentração do agonista pode restaurar a ocupação do receptor por ele Na presença do antagonista, a curva de concentração do agonista em escala log-efeito é desviada para direita, sem alteração da sua inclinação e da resposta máxima, sendo a extensão do desvio uma medida da relação da dose – O antagonismo é dito superável, pois as concentrações crescentes do agonista são capazes de superar o efeito bloqueador – A relação da dose do agonista irá aumentar linearmente com a concentração do antagonista – Constitui o mecanismo mais direto pelo qual um fármaco pode reduzir o efeito de outro Antagonismo químico – Situação incomum em que as duas substâncias se combinam em solução de modo que o efeito do fármaco ativo é perdido – Entre exemplos, se destacam: Uso de agentes quelantes que se ligam a metais pesados, e assim, reduzem a sua toxicidade; Emprego de anticorpos neutralizantes contra mediadores protéicos, como as citocinas e os fatores de crescimento Antagonismo farmacocinético – Situação em que o " antagonista" reduz efetivamente a concentração do fármaco ativo em seu local de ação – Velocidade de degradação metabólica do fármaco ativo pode ser aumentada, reduzindo a velocidade de absorção pelo trato gastrintestinal, ou pode haver aumento na taxa de excreção renal – A exemplo: a redução do efeito anticoagulante do warfarin pela administração do fenobarbital, por acelerar seu metabolismo hepático Antagonismo por bloqueio dos receptores – Envolve dois mecanismos: – Antagonismo competitivo reversível • O agonista é capaz de deslocar as moléculas de antagonista dos receptores, embora não tenha a capacidade de expulsar uma molécula de antagonista ligada • Ao ocupar uma proporção dos receptores vagos, o agonista reduz a taxa de associação das moléculas do antagonista Antagonismo competitivo irreversível ou de não equilíbrio • Ocorre quando o antagonista se dissocia muito lentamente dos receptores, ou não se dissocia deles, quando se aplica o agonista, resultando em ausência de qualquer alteração na ocupação do receptor • A ligação entre receptor e antagonista é dito não-superável ou irreversível • Ocorre com fármacos dotados de grupos reativos que formam ligações covalentes com o receptor ou inibidores enzimáticos irreversíveis (Ex.: aspirina e omeprazol) Antagonismo não-competitivo – Ocorre quando o antagonista bloqueia, em algum ponto, a cadeia de eventos que leva à produção de uma resposta pelo agonista – O efeito consiste em reduzir a inclinação e o máximo da curva de concentração em escala log-resposta do agonista – A exemplo, certos fármacos, como o verapamil e a nifedipina, impedem o influxo de íons cálcio através da membrana celular, com conseqüente bloqueio não-específico da contração do músculo liso produzida por outros agentes Antagonismo fisiológico – Descreve a interação de duas substâncias cujas ações opostas no organismo tendem a anular uma à outra – Pode-se dizer que as duas substâncias atuam como antagonistas fisiológicos – Por exemplo, a histamina atua sobre os receptores das células parietais da mucosa gástrica, estimulando a secreção de ácido, enquanto o omeprazol bloqueia esse efeito ao inibir a bomba de prótons DESSENSIBILIZAÇÃO E TAQUIFILAXIA • Efeito de um fármaco diminui gradualmente quando administrado de modo contínuo ou repetidamente • Surge frequentemente dentro de poucos minutos • Tolerância: descreve uma redução mais gradual na resposta a um fármaco, cujo desenvolvimento leva vários dias ou semanas • Refratariedade também é utilizado principalmente em relação a uma perda da eficácia terapêutica • Resistência farmacológica é expressão usada para se referir à perda de eficácia de agentes antimicrobianos ou antitumorais – alteração dos receptores; – perda de receptores; – depleção de mediadores; – o aumento da degradação metabólica; – adaptação fisiológica • Alteração dos receptores – Ocorrência de alteração na configuração dos receptores – Ocorre frequentemente em receptores acoplados aos canais iônicos, em um processo rápido – Nos receptores do tecido muscular, a alteração é lenta – Alteração pode ocorrer pelo fato da fosforilação nos receptores • Perda de receptores – Redução da quantidade ocorre quando há exposição em excesso aos fármacos agonistas – Receptores perdidos são captados pela célula via endocitose • Depleção de mediadores – Associada à perda de uma substância intermediária essencial para interação entre receptor e fármaco • Aumento da degradação metabólica – A administração repetida da mesma dose do fármaco produz concentrações plasmáticas progressivamente mais baixas • Adaptação fisiológica – A diminuição do efeito do fármaco ocorre quando há a sua anulação por uma resposta homeostática Alvos para a ação dos fármacos • Os principais fármacos, na sua maioria, agem sobre tipos de proteínas • Receptores – Constituem os elementos sensores no sistema de comunicações químicas que coordena a função de todas as células do corpo, sendo os mensageiros químicos representados por vários hormônios, transmissores e outros mediadores • Canais iônicos – Alguns canais iônicos incorporam um receptor e só se abrem quando este estiver ocupado por um agonista – Os fármacos podem afetar a função dos canais iônicos ao interagirem com o sítio receptor dos canais regulados pelos ligantes ou com outras partes da molécula do canal – A interação pode ser indireta, envolvendo uma proteína G e outros intermediários – A interação pode ser direta, quando o próprio fármaco liga-se à proteína do canal e altera a sua função – A exemplo: • Ação de anestésicos locais sobre o canal de sódio regulado por voltagem, a molécula da substância tampa fisicamente o canal, bloqueando a passagem de íons • Os agentes vasodilatadores do tipo diidropiridina inibem a abertura dos canais de cálcio do tipo L • Sulfoniluréias são utilizados no tratamento do diabetes mellitus, atuam sobre canais de potássio sensíveis ao ATP nas células B do pâncreas, aumentando e secreção de insulina. • Enzimas – A molécula do fármaco que interage com enzimas é um análogo do substrato que atua como inibidor competitivo da enzima, seja de modo reversível ou irreversível – Os fármacos também podem atuar como substratos falsos, em que a molécula do agente sofre transformação química para formar um produto anormal, que subverte a via metabólica normal • Exemplo: o agente antineoplásico fluorouracil, que substitui a uracila como intermediário na biossíntese de purinas, mas não pode ser convertido em timidilato, bloqueando, assim, a síntese de DNA e impedindo a divisão celular – A toxicidade das drogas frequentemente resulta da conversão enzimática da molécula do fármaco num metabólito reativo • Moléculas transportadoras – Atuam no transporte de íons (Na+ e Ca+), pequenas moléculas orgânicas (glicose e aminoácidos) através da membrana celular; – Captam precursores de neurotransmissores e de neurotransmissores pelas terminações nervosas – Incorporam um sítio de reconhecimento que as torna específicas para determinada molécula permeante, as quais podem ser bloqueadas por fármacos