IMPULSO ATMOSFÉRICO EM LABORATÓRIO – APLICAÇÃO, MEDIÇÃO E INTERPRETAÇÃO Mayara Cunha Cagido Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Elétrica da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do tı́tulo de Engenheiro. Orientadores: Antonio C. Siqueira de Lima Hélio de Paiva Amorim Júnior Rio de Janeiro Fevereiro de 2014 Cagido, Mayara Cunha Impulso Atmosférico em Laboratório – Aplicação, Medição e Interpretação/Mayara Cunha Cagido. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014. XV, 118 p.: il.; 29, 7cm. Orientadores: Antonio C. Siqueira de Lima Hélio de Paiva Amorim Júnior Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Elétrica, 2014. Referências Bibliográficas: p. 113 – 114. 1. Gerador de impulsos. 2. Impulso Atmosférico. 3. Ensaios elétricos. I. Lima, Antonio C. Siqueira de et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Elétrica. III. Tı́tulo. iii A inspiração vem, mas tem que te encontrar trabalhando. Picasso iv Agradecimentos Gostaria de agradecer a Deus e Nossa Senhora Aparecida por toda força e fé que me proporcionaram durante a realização deste trabalho. Agradeço meus pais, Margareth Cagido e Mario Cagido por sempre acreditarem em mim, todo apoio, carinho, cuidado e compreensão que tiveram comigo durante toda a minha graduação. São a minha base e sou muito feliz por ter o prazer de ser filha deles. Agradeço minha irmã, Mayra Cagido. Sou muito grata por toda torcida que dedicou a mim. Tenho imenso amor por essa pessoa que além de irmã, é minha melhor amiga. Agradeço meu namorado, Rafael Buchmann. Por todas as horas de apoio e paciência durante esses anos. É um companheiro e amigo sem igual, que me ajuda em qualquer situação. Foi minha principal e mais importante dupla na graduação. Agradeço minha avó Juracy Cagido, por tudo. Por sempre acreditar em mim e me apoiar nos estudos. Não teria concluı́do a graduação sem a sua ajuda. Agradeço Armando Cagido por ter sido um grande e presente avô. Obrigada por ter feito parte da minha vida e por ter acreditado em mim como profissional. Sinto imensa saudade. Agradeço os amigos que fiz na faculdade. Obrigada pela amizade e por marcarem minha vida, cada um com seu jeito especial. Agradeço meu amigo Felipe Cabral pela bondade e auxı́lio em diversos trabalhos, inclusive nesse, minha amiga Nina Bordini pelo companheirismo único, pelo carinho e pelas madrugadas de estudos, minha amiga Yasmin Grassi pela amizade e ajuda nas matérias, minha amiga Degmar Felgueiras pelo apoio e por sempre estar ao meu lado, meu amigo Tiago Granato pelas boas conversas e pelo carinho de sempre, meu amigo Renan Fernandes por ser essa pessoa de coração bondoso e meu amigo Flavio Gourlat por todos momentos alegres. Agradeço à todos os amigos que fizeram parte dessa caminhada, que foram muitos. Agradeço meu professor e orientador Antonio Carlos Siqueira de Lima que se tornou um grande amigo e me ajudou muito na realização desse projeto. Obrigada por todos ensinamentos e por acreditar no meu trabalho. Agradeço ao professor Robson Dias por todo o conteúdo ensinado e por ser um v grande amigo dos alunos. Agradeço aos professores Jorge Nemésio e Rubens Andrade por participarem da banca examinadora deste projeto e pelas contribuições com meu trabalho através de suas aulas. Agradeço a todos os professores e funcionários do Departamento de Engenharia Elétrica da UFRJ. Sem dúvida, todos foram importantes na minha formação. Agradeço o grande aprendizado que os profissionais do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica - Cepel me proporcionaram durante a execução desse trabalho. Aprendi muito com todos, em especial com meu supervisor e orientador Hélio de Paiva Amorim Junior, José Antônio Pinto Rodrigues, Darcy Ramalho de Mello, Jonir Rangel, Thiago Baptista, José Carlos da Rocha, Manoel Atallah e Fernando Dart. vi Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Eletricista. Impulso Atmosférico em Laboratório – Aplicação, Medição e Interpretação Mayara Cunha Cagido Fevereiro/2014 Orientadores: Antonio C. Siqueira de Lima Hélio de Paiva Amorim Júnior Curso: Engenharia Elétrica Este trabalho reúne informações importantes sobre geradores de impulsos como suas caraterı́sticas fı́sicas e funcionamento. Estabelece ainda os procedimentos necessários para a sua utilização em laboratório, instruindo a montagem do circuito de alta tensão, nı́veis de tensão aplicados de acordo com os estágios do gerador, utilização de normas técnicas e realização de uma metodologia para obtenção de impulsos de tensão ajustados, quando aplicados em um sistema elétrico. São feitos ensaios, em laboratório, cuja finalidade é aplicar impulsos atmosféricos e verificar se os nı́veis referentes ao isolamento de um transformador trifásico, isolador e transformador de corrente estão de acordo com as tensões suportáveis nominais que definem estes equipamentos. A consideração de normas para a realização destes testes é um fator determinante nos critérios que permitem identificar a ocorrência de defeitos no isolamento. Palavras-chave: Gerador de Impulsos, Impulsos Atmosféricos, e Ensaios elétricos. vii Sumário Lista de Figuras x Lista de Tabelas xiv 1 Introdução 1.1 Considerações Gerais 1.2 Objetivo . . . . . . . 1.3 Motivação . . . . . . 1.4 Descrição do estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Gerador de Impulsos - GI 2.1 Gerador de impulsos com um estágio . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2 Gerador de impulsos com onze estágios . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.1 Trigatron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.2 Obtenção da Resistência série total . . . . . . . . . . . . . . 2.2.3 Obtenção da Resistência em paralelo total . . . . . . . . . . 2.3 Apresentação dos Componentes do circuito de ensaio . . . . . . . . 2.3.1 Resistores de frente de impulso ou resistor série (Rsi e Rse ): 2.3.2 Retificador: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.3 Capacitância do gerador de Impulso (Cs ): . . . . . . . . . . 2.3.4 Esferas centelhadoras: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.5 Resistor de cauda de impulso ou resistor paralelo (Rp ): . . . 2.3.6 Capacitor de frente (Cf ): . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.7 Divisor de Tensão Resistivo: . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.8 Resistor de carga (Rc ): . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.9 Resistor de descarga (Rerd ): . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.10 Resistor de potencial (Rpot ): . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.11 Chopping Gap: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.12 Atenuador: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.13 Gaps Auxiliares: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 Funcionamento do gerador de impulsos em laboratório . . . . . . . viii . . . . 1 1 2 2 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 5 10 13 14 17 18 18 19 20 21 22 22 23 26 26 27 28 28 29 29 3 Impulsos de tensão 3.1 Formas de Impulsos . . . . . . . . . . . . . . . 3.1.1 Impulso Pleno . . . . . . . . . . . . . . 3.1.2 Impulso Cortado na Cauda . . . . . . . 3.1.3 Impulso Cortado na frente da onda . . 3.1.4 Importância do conhecimento dos tipos 3.2 Impulso Atmosférico . . . . . . . . . . . . . . 3.3 Impulso de Manobra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . de impulsos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Ensaios - Estudos de caso 4.1 Transformador de Potência Trifásico . . . . . . . . . . . . . 4.1.1 Descrição do ensaio com impulso atmosférico . . . . . 4.1.2 Conexão no laboratório de alta tensão . . . . . . . . 4.1.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda 4.1.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave . 4.1.5 Resultados - Fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1.6 Resultados - Fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1.7 Resultados - Fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Isolador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2.1 Descrição do ensaio com impulso atmosférico . . . . . 4.2.2 Conexão no laboratório de alta tensão . . . . . . . . 4.2.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda 4.2.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave . 4.2.5 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.3 Transformador de Corrente - TC . . . . . . . . . . . . . . . 4.3.1 Descrição do ensaio com impulso atmosférico . . . . . 4.3.2 Conexão no laboratório de alta tensão . . . . . . . . 4.3.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda 4.3.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave . 4.3.5 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 39 39 40 41 42 43 45 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48 50 51 55 58 60 62 72 79 86 87 88 90 91 93 100 100 102 102 103 105 5 Conclusão 111 Referências Bibliográficas 113 A Dados da simulação 116 ix Lista de Figuras 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 2.8 2.9 2.10 2.11 2.12 2.13 2.14 2.15 2.16 2.17 2.18 2.19 2.20 2.21 2.22 2.23 2.24 2.25 2.26 2.27 2.28 Vista lateral (a) e frontal (b) do gerador de impulsos. . . . . . . . . . Circuito de um estágio do gerador de impulsos . . . . . . . . . . . . . Circuito equivalente da Figura 2.2 no momento do disparo . . . . . . Circuito equivalente da Figura 2.2 no momento do disparo com correntes Formação do impulso de tensão com a junção de duas exponenciais . Circuito completo do gerador de impulsos . . . . . . . . . . . . . . . Esquema do mecanismo formado pelo Trigatron . . . . . . . . . . . . Circuito considerado no cálculo de Rs . . . . . . . . . . . . . . . . . . Circuito considerado no cálculo de Rp . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resistência série interna (a) e externa (b) do gerador. . . . . . . . . . Retificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Capacitância do gerador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Esferas centelhadoras de um estágio do gerador . . . . . . . . . . . . Resistor paralelo de um estágio do gerador . . . . . . . . . . . . . . . Capacitor de frente do fabricante Haefely . . . . . . . . . . . . . . . . Divisor de tensão resistivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Circuito do divisor de tensão resistivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resistor de carga de um estágio do gerador . . . . . . . . . . . . . . . Resistor de descarga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resistor de potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Chopping gap do fabricante Haefely . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Atenuador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Gap Auxiliar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Interface do programa utilizado para controlar o gerador de impulsos do fabricante Haefely. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Circuito equivalente do gerador de impulso . . . . . . . . . . . . . . . Circuito mostrando o carregamento do capacitor de frente . . . . . . Impulso de tensão formado no carregamento dos capacitores de frente e de carga visto na Figura 2.26 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Circuito mostrando o descarregamento do capacitor do frente . . . . . x 5 6 7 7 9 11 14 15 17 19 20 21 21 22 23 24 24 26 27 27 28 28 29 30 31 32 33 34 2.29 Impulso de tensão formado no descarregamento dos capacitores de frente e de carga visto na Figura 2.28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.30 Variação da frente da forma de onda de acordo com a variação de Rs 35 2.31 Variação da cauda da forma de onda de acordo com a variação de Rp 36 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 Impulso Impulso Impulso Impulso Impulso 4.1 4.2 4.3 4.4 Transformador trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ligação do lado de alta do transformador trifásico em laboratório . . Esquema para a ligação do transformador trifásico para o ensaio elétrico Esquema do circuito completo montado para o ensaio dielétrico do transformador com chopping gap . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no transformador trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase A (p) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase A (q) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase A (r) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase A (s) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 4.11 4.12 4.13 4.14 4.15 4.16 de tensão pleno . . . . . . . . . . . . . . . . . . de tensão cortado na cauda . . . . . . . . . . . . de tensão cortado na frente de onda . . . . . . . atmosférico em cadeia isoladores poliméricos . . de manobra em cadeia de isoladores poliméricos xi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 41 42 44 46 51 56 57 57 61 66 66 67 67 68 68 69 70 70 71 71 4.17 Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.18 Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.19 Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.20 Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.21 Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.22 Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.23 Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase B . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.24 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase B (p) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.25 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase B (q) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.26 Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase B (r) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.27 Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase B (s) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.28 Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.29 Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.30 Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.31 Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.32 Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.33 Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.34 Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase C . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.35 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase C (p) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xii . 73 . 74 . 74 . 75 . 75 . 76 . 76 . 77 . 78 . 78 . 79 . 80 . 81 . 81 . 82 . 82 . 83 . 83 . 84 4.36 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase C (q) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4.37 Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase C (r) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85 4.38 Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase C (s) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86 4.39 Isolador polimérico de pino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 4.40 Esquema para o circuito completo de ensaio do isolador sem chopping gap . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 4.41 Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no isolador polimérico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 4.42 Transformador de Corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 4.43 Ligação do TC em laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 4.44 Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no transformador de corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 4.45 Resultados do impulso de tensão com a aplicação 1 (a) e aplicação 2 (b) no TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 4.46 Resultados do impulso de tensão com a aplicação 3 (c) e aplicação 4 (d) no TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108 4.47 Resultado do impulso de tensão com a aplicação 5 (e) no TC . . . . . 108 4.48 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados no TC (f)109 4.49 Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos no TC (g) 110 A.1 A.2 A.3 A.4 A.5 Programa para obtenção da onda simulada . . . . . . . . . . . . . . Programa para obtenção do tempo de frente - Parte 1 . . . . . . . . Programa para obtenção do tempo de frente - Parte 2 . . . . . . . . Programa para obtenção do tempo de descida . . . . . . . . . . . . Programa para obtenção do percentual de oscilação dos impulsos cortados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xiii . . . . 116 117 117 118 . 118 Lista de Tabelas 3.1 3.2 3.3 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 4.9 4.10 4.11 4.12 4.13 4.14 4.15 4.16 4.17 4.18 4.19 4.20 4.21 Tipos de impulsos aplicados aos ensaios de acordo com nı́vel de tensão do equipamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Tolerâncias relativas às formas de onda de impulso atmosférico . . . . 45 Tolerâncias relativas às formas de onda de impulso de manobra . . . . 47 Informações nominais da placa do transformador testado em laboratório Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Parâmetros medidos na onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . . Parâmetros aplicados no circuito de ensaio . . . . . . . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase A . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase A . . . . . . Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.8, 4.9 e 4.10 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase B . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase B . . . . . . Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.19, 4.20 e 4.21 . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase C . . . . . . . . . Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase C . . . . . . Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.30, 4.31 e 4.32 . . . . . . . . . . . . . . . . . . Informações do isolador testado em laboratório . . . . . . . . . . . . . Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Parâmetros medidos na onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . . Parâmetros aplicados no circuito de ensaio . . . . . . . . . . . . . . . Resultado da etapa de verificação com polaridade positiva . . . . . . Valores obtidos na norma para a realização da correção atmosférica . Valores obtidos durante a execução do ensaio . . . . . . . . . . . . . . Resultado da etapa de verificação com polaridade negativa . . . . . . xiv 51 61 61 62 62 65 69 72 73 77 79 80 84 87 92 93 93 94 95 95 96 4.22 Resultado da etapa de determinação com polaridade positiva . . . . 4.23 Resultado da etapa de determinação com polaridade negativa . . . 4.24 Informações nominais da placa do transformador de corrente testado em laboratório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.25 Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.26 Parâmetros medidos na onda simulada . . . . . . . . . . . . . . . . 4.27 Parâmetros aplicados no circuito de ensaio . . . . . . . . . . . . . . 4.28 Medições feitas no ensaio de ajuste de onda no TC . . . . . . . . . 4.29 Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico no TC . . . . . . . 4.30 Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.45 e 4.46 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . xv . 98 . 99 . 100 . . . . . 104 104 105 105 107 . 109 Capı́tulo 1 Introdução 1.1 Considerações Gerais O crescente desenvolvimento do sistema de energia elétrica faz com que exista a necessidade de uma rede de transmissão cada vez mais confiável e segura, para que a ocorrência de determinados defeitos na linha de transmissão não prejudiquem o fornecimento de energia aos setores de consumo. A confiabilidade e bom funcionamento de todos os equipamentos envolvidos na rede podem ser obtidos com a utilização de alguns métodos preventivos como estatı́sticas matemáticas para prever determinados comportamentos, aplicação de técnicas que visam melhorar o desempenho do sistema e conhecimento experimental das causas dos defeitos e dos parâmetros que os qualificam. Com base no que foi exposto, a sobretensão é a principal irregularidade estudada nesse trabalho, sendo um efeito transitório que pode ocorrer em qualquer linha de transmissão ou ser transmitida a diversos equipamentos. Ocorre, então, a necessidade da realização de ensaios elétricos que buscam maior clareza das causas das falhas e identificação das caracterı́sticas do projeto em relação ao isolamento do equipamento testado. Uma importante ferramenta na efetuação destes testes é o gerador de impulsos. Este é o responsável por simular impulsos de tensão com elevadas amplitudes que serão aplicados nos ensaios elétricos, a partir da utilização de componentes usuais 1 como resistores e capacitores. Neste trabalho serão abordados os conceitos de um gerador de impulsos, desde a definição até sua aplicação, a descrição e as principais caracterı́sticas associadas à sua utilização. Em seguida, serão apresentados os resultados obtidos com a execução de ensaios elétricos, utilizando o gerador de impulsos, em três tipos de equipamentos: transformador trifásico, isolador polimérico e transformador de corrente. 1.2 Objetivo O objetivo deste trabalho é a realização de um estudo sobre os aspectos que definem um gerador de impulsos, os fenômenos transitórios que podem originar problemas no funcionamento de alguns equipamentos e execução de ensaios elétricos para verificação da suportabilidade de determinados elementos de um sistema de transmissão através da aplicação de impulsos atmosféricos com esse mesmo gerador. Como benefı́cios complementares, os procedimentos detalhados visam: • Auxiliar na execução de futuros ensaios que aplicam princı́pios semelhantes aos mencionados nesse texto; • Efetuar a análise da resistência elétrica oferecida à circulação de uma corrente que surge quando uma diferença de potencial é aplicada em dois condutores que possuem um material isolante entre estes, definida como resistência do isolamento [1]; • Proporcionar um aprendizado sobre ensaios elétricos em alta tensão, assim como suas particularidades, aos estudantes de engenharia interessados nessa área. 1.3 Motivação Visando uma maior segurança da transmissão de energia, é conveniente realizar alguns ensaios em determinados equipamentos elétricos a fim de analisar seu com2 portamento quando exposto a algum tipo de falha do sistema. Com a busca do melhor conhecimento sobre as falhas, proximidade com o tema do projeto durante a realização do estágio supervisionado no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica CEPEL e necessidade de um trabalho que reunisse as informações sobre geradores de impulso, houve a elaboração deste trabalho que é um assunto com alta aplicação em sistemas de potência. 1.4 Descrição do estudo No Capı́tulo 2 são explicados todos aspectos relevantes sobre os geradores de impulsos. Com esse conhecimento fixado, será possı́vel entender a aplicação destes na análise dos resultados obtidos a partir de testes que visam melhorar as condições de funcionamento de alguns equipamentos elétricos. Para facilitar o entendimento sobre os fenômenos transitórios, que geram picos de alta tensão no sistema, o Capı́tulo 3 elabora, uma explicação sobre dois tipos de impulsos de tensão (atmosférico e de manobra), que ocorrem em diversos pontos da rede de transmissão e que podem causar falhas no sistema. Tópicos importantes são mencionados como a localização da ocorrência desses impulsos, tempo de duração, tipos de forma de onda e os parâmetros que as definem. O Capı́tulo 4 tem por finalidade estabelecer os procedimentos práticos para a realização de ensaios em laboratórios de alta tensão. Consiste na efetuação de ensaios elétricos, com aplicação de tensão produzidos pelo gerador de impulsos, primeiramente em um transformador trifásico, depois em um isolador polimérico e um transformador de corrente. A realização destes ensaios mostra a maior quantidade de situações possı́veis que ocorrem em um local de ensaio como preparação para o teste, montagem do circuito especı́fico e aquisição e tratamento dos dados obtidos. Todo o conteúdo estudado nesse projeto é, então, conluı́do no Capı́tulo 5. Neste ficam esclarecidos todos os pontos mencionados nos capı́tulos anteriores, o que foi aprendido com o desenvolvimento desse projeto, a contribuição para projetos associados à Engenharia Elétrica, assim como ideias para trabalhos futuros. 3 Capı́tulo 2 Gerador de Impulsos - GI A principal função desse tipo de gerador é simular impulsos de tensão que poderiam ocorrer em equipamentos de uma linha de transmissão. O gerador é formado por um conjunto de capacitores, que são carregados em paralelo com uma tensão préestabelecida e, posteriormente, descarregados em série para, dessa forma, gerar o impulso [2]. O impulso produzido é caracterizado por um rápido crescimento e lento decaimento, sendo formado de acordo com os resistores e capacitores utilizados na operação do gerador. 4 (a) (b) Figura 2.1: Vista lateral (a) e frontal (b) do gerador de impulsos [3]. A Figura 2.1 apresenta um gerador de impulsos do fabricante Haefely, localizado em Adrianópolis - Nova Iguaçu, no Centro de Pesquisas de Energia Elétrica Cepel, possuindo onze estágios de carregamento, que geram 100 kV cada, sendo a capacidade total de geração de 1,1 MV. 2.1 Gerador de impulsos com um estágio Um gerador de impulsos pode ser representado por um circuito básico de um estágio, como pode ser visto na Figura 2.2. Para ser gerado um impulso de tensão, na forma de onda indicada pela norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4], que possa ser visualizada no equipamento ensaiado, é preciso ajustar alguns parâmetros que serão mostrados nessa seção. A solução 5 Figura 2.2: Circuito de um estágio do gerador de impulsos esperada depende de valores de diversas resistências e capacitâncias, podendo ser influenciada por fatores decorrentes do ambiente externo e das circunstâncias do ensaio que será efetuado. Assim, existem diferentes tipos de impulsos que podem ser gerados com esse equipamento, que serão melhor detalhados no Capı́tulo 3. Antes de iniciar essa análise, é necessário identificar alguns elementos do circuito da Figura 2.2. C1 - Capacitor do gerador de Impulso; R1 - Resistência em série do gerador. É responsável por definir o tempo de duração da frente da forma de onda do impulso e o valor de pico do impulso; C2 - Representação do elemento equivalente formado pelo capacitor de frente, equipamento sob ensaio e divisor de tensão; R2 - Resistência em paralelo do gerador. Tem relação direta com a cauda da forma de onda, fazendo com que dure menos ou mais o tempo entre o valor de pico e o ponto da cauda correspondente a 50% desse mesmo valor; G - Esferas centelhadoras. Funcionam como uma chave controlada por tensão e como um limitador de tensão. Pela Figura 2.2, antes de ocorrer o disparo das esferas centelhadoras, num momento t ≤ 0, o capacitor C1 é carregado com uma tensão contı́nua (Vo ). Quando ocorre o disparo, o circuito é fechado e o capacitor C1 é diretamente conectado com o 6 restante do circuito e, consequentemente, com a carga [5]. Reorganizando o circuito, a Figura 2.3 mostra o momento do disparo. Figura 2.3: Circuito equivalente da Figura 2.2 no momento do disparo Dessa forma, considerando a aplicação de uma tensão constante nesse circuito, é possı́vel utilizar a Lei de Kirchhoff para obter tensão na carga (Figura 2.4). Então: Figura 2.4: Circuito equivalente da Figura 2.2 no momento do disparo com correntes i1 = i2 + i3 (2.1) Vo − Vx Vx Vx − Vt = + Zc1 R2 R1 (2.2) pela Figura 2.4, é possı́vel observar que: Vx − Vt Vt = R1 Zc2 7 (2.3) substituindo a Equação 2.3 na 2.2, temos: Vt = R12 R2 + R1 R2 Zc2 × Vo + R1 R2 Zc1 + R1 R2 Zc2 + R1 Zc1 Zc2 R12 Zc1 (2.4) utilizando a Transformada de Laplace na Equação 2.4 para analisar o comportamento do circuito simplificado da Figura 2.3 no domı́nio da frequência, temos que: Vs = R1 R2 sC2 R12 R2 + R12 sC1 + R1 R2 sC1 + R1 R2 sC2 + R1 s2 C1 C2 × Vo s (2.5) após algumas manipulações algébricas, podemos obter a seguinte solução: Vs = s2 + ( R21C1 + 1 R 1 C1 1 + 1 )s R1 C2 + 1 R1 R2 C1 C2 × Vo R1 C2 (2.6) assim, temos que a Equação 2.6 pode ser representada da seguinte forma: 1 Vo × s2 + as + b k (2.7) 1 1 1 + + R2 C1 R1 C1 R1 C2 (2.8) 1 R1 R2 C1 C2 (2.9) Vs = sendo: a= b= k = R1 C2 (2.10) Para encontrar a tensão na carga com a variação do tempo, é necessário realizar a Transformada de Laplace inversa e temos: Vt = 1 Vo × [e−α1 t − e−α2 t ] × α2 − α1 k sendo que α1 e α2 são definidos por: 8 (2.11) a α1 = − − 2 r a α2 = − + 2 r a2 −b 4 (2.12) a2 −b 4 (2.13) Através da análise matemática realizada no circuito da Figura 2.3, foi possı́vel obter uma equação geral da tensão na carga com o decorrer do tempo (Vt ). A Equação 2.11 consiste na junção de duas funções exponenciais e representa a forma de onda esperada no equipamento sob teste, com a utilização do gerador de impulsos. Na Figura 2.5, o sinal verde (referente ao comportamento da Equação 2.11) é formado pelo sinal vermelho subtraı́do do azul. Essa Figura visa mostrar o desenvolvimento do impulso de tensão, mas seus detalhes como amplitude e outras caracterı́sticas serão mencionadas no Capı́tulo 3. Figura 2.5: Formação do impulso de tensão com a junção de duas exponenciais [6] 9 2.2 Gerador de impulsos com onze estágios Visando a construção de um gerador que fosse capaz de produzir tensões mais elevadas, Marx desenvolveu, em 1923, um modelo de gerador de impulsos com mais de um estágio [7]. Junto à essa prioridade, ele buscava reduzir, nessa construção, o aparecimento de eventuais problemas como: • Dificuldade de ajuste das esferas centelhadoras na realização de disparos; • Falta de elementos do circuito que possuı́ssem dimensões maiores, de acordo com o tamanho do equipamento que estava sendo desenvolvido e que seriam utilizados no seu funcionamento; • Dificuldade na obtenção de uma tensão contı́nua elevada; • Aparecimento de descargas elétricas em condutores, provenientes da ionização do ar. Esse gerador tem o princı́pio de carregar em paralelo um banco de capacitores com uma tensão contı́nua pré-definida. Em seguida, esse banco inicia seu processo de descarregamento de energia em série e, através da utilização de resistores e alguns capacitores, um impulso de tensão com uma amplitude significantemente maior é formado no final do processo. De acordo com a tensão final que se deseja obter com a aplicação desse gerador, utiliza-se um número especı́fico de estágios. Assim, alguns geradores de impulsos foram construı́dos com o mesmo princı́pio desenvolvido por Marx. O Gerador de impulsos da Figura 2.1, possui onze estágios, podendo ser representado pelo circuito esquemático da Figura 2.6. Com a Figura 2.6, é possı́vel visualizar o modelo desenvolvido por Marx e entender melhor alguns conceitos. Inicialmente uma tensão alternada (Vac ) é retificada para uma tensão contı́nua Vo . Ocorre então o carregamento em paralelo dos bancos de capacitores Cs dos onze estágios (com mesma tensão), com o auxı́lio dos resistores de carga e de potencial. Para promover uma maior distribuição de tensão entre os estágios, dois capacitores em série foram utilizados para produzir a capacitância 10 Figura 2.6: Circuito completo do gerador de impulsos 11 equivalente desejada por estágio. O carregamento de energia dos capacitores Cs ocorre em paralelo pelo fato das esferas centelhadoras estarem produzindo um efeito de circuito aberto do sistema. Quando os capacitores Cs estiverem totalmente carregados, ocorre o comando de disparo das esferas, quando elas deixam de atuar como circuito aberto e passam a ser um curto-circuito. Existem duas maneiras de promover esse disparo: 1. Aumentando a tensão até ionizar o ar no gap entre as esferas. Dessa forma, ocorre o disparo da tensão pela diferença de potencial nos dois pontos. 2. Manter a tensão constante nas esferas e diminuir o espaço existente entre elas, gradativamente, até ocorrer o disparo. Nos ensaios realizados para este trabalho, o centelhamento no gerador é efetuado de acordo com o item 2, descrito anteriormente. Feito o disparo entre o par de esferas do primeiro estágio, as esferas centelhadoras fecham o circuito, os capacacitores Cs descarregam em série sobre os resistores em série e paralelo, os demais estágios disparam e seguem o mesmo processo. As resistências em série, em paralelo, os capacitores Cs e a capacitância representada pelo equipamento que será acoplado ao gerador de impulsos são os principais parâmetros responsáveis pela formação do sinal de tensão. Para uma melhor compreensão do circuito no momento que ocorre o disparo, o gerador da Figura 2.6 pode ser simplificado e representado através de um estágio apenas (como na Figura 2.2), sendo: A capacitância do gerador total: 1 Cstotal n X 1 = Cs i=1 (2.14) a resistência série total: Rstotal = n X i=1 12 Rs (2.15) e a resistência em paralelo total: Rptotal = n X Rp (2.16) i=1 Sendo n o número de estágios do gerador. 2.2.1 Trigatron Dentro do primeiro estágio do gerador, existe um sistema de disparo conhecido com Trigatron. Este é composto por dois eletrodos na forma de esferas, sendo que uma está aterrada, e a distância entre as duas forma o gap principal. A esfera conectada com o terra possui na sua parte interna uma haste metálica cuja extremidade coincide com o nı́vel da superfı́cie externa da esfera, o que origina um gap anular nessa mesma esfera, com aproximadamente 1 milı́metro de comprimento (Figura 2.7). A dimensão do gap principal é regulada de acordo com o nı́vel de tensão que o gerador será carregado. Geralmente, a distância estipulada para esse gap é um pouco superior que sua dimensão crı́tica para que não ocorra nenhuma descarga disruptiva indesejada, já que a região entre as esferas está ionizada [8]. Assim, um pulso de tensão de 10 kV é aplicado na extremidade da haste metálica que está oposta ao gap anular, que provoca um centelhamento no mesmo, fazendo com que ocorra uma descarga disruptiva no gap principal. O trigatron pode ser colocado apenas no primeiro estágio do gerador de impulso e, mesmo assim, é possı́vel acionar os outros estágios também, já que, por meio da irradiação luminosa provocada no gap principal e sobretensões internas originadas pela descarga, o estágio seguinte dispara. Assim, ocorrem os mesmos fatos descritos anteriormente no segundo estágio, que provocam o disparo do terceiro e dos outros, consecutivamente, até todos os estágios serem disparados. 13 Figura 2.7: Esquema do mecanismo formado pelo Trigatron O trigatron deve atuar dentro de uma faixa especı́fica, para que desempenhe bom funcionamento no sistema em que está aplicado [8]. A faixa de operação (FO) é definida por: FO = (VDC − VM in ) × 100% VDC (2.17) sendo: VDC - Tensão máxima contı́nua que o gap principal suporta, sem que o mecanismo de disparo do trigatron inicie a operação. Isso indica que acima de VDC ocorre um disparo sem controle denominado de Self firing; VM in - Tensão mı́nima contı́nua, em que descarga é garantida com a aplicação do pulso de disparo. Dessa forma, com uma tensão inferior a VM in o gap principal não dispara, nem com o auxı́lio do trigatron. Esse efeito é denominado de No firing. Assim, é desejado uma faixa de operação mais ampla possı́vel, para que perturbações externas como poeiras ou ruı́dos não causem o funcionamento inadequado do trigatron. 2.2.2 Obtenção da Resistência série total Para a realização dos ensaios elétricos, é necessário determinar os valores das resistências e capacitâncias presentes no circuito. Dessa maneira, será possı́vel ajustar 14 a forma de onda de cada ensaio, de acordo com as especificações de cada equipamento elétrico. Para esse procedimento, costuma-se desprezar a resistência em paralelo e o circuito equivalente fica como na Figura 2.8 [2]. Figura 2.8: Circuito considerado no cálculo de Rs Sendo que: Vo - Tensão aplicada no circuito; Vt - Tensão de carregamento da capacitância de carga conforme a variação do tempo; Rs - Resistência em série total do circuito; Cf - Capacitor de frente; Cie - Capacitância do equipamento sob teste; Cdt - Capacitância do divisor de tensão; Cs - Capacitância do gerador de impulso. Então, considerando a formulação do circuito RC para carregamento de capacitores [9]: −Tf Vt = Vo × [1 − e Rs C ] (2.18) dessa forma, é possı́vel definir C como: C= Cs × (Cf + Cie + Cdt ) Cs + Cf + Cie + Cdt Considerando: 15 (2.19) • Tempo de frente (Tf ) visto na norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4]; • Tempo em que o impulso atinge 90% da tensão de pico T90% na subida da onda; • Tempo em que o impulso atinge 30% da tensão de pico T30% na subida. temos que: Tf = 1, 67 × (T90% − T30% ) (2.20) substituindo Tf e aplicando a definição de T90% na Equação 2.18: 0, 9Vo = Vo × [1 − e 0, 1Vo = e −T90% Rs C ] −T90% Rs C (2.21) (2.22) aplicando a definição de T30% na Equação 2.18: 0, 3Vo = Vo × [1 − e 0, 7Vo = e −T30% Rs C ] −T30% Rs C (2.23) (2.24) dividindo a Equação 2.24 pela 2.22 e aplicando o logaritmo neperiano em ambos os lados da equação resultante, temos que: 1, 946 = T90% − T30% Rs C (2.25) substituindo a Equação 2.20 em 2.25: Tf = (1, 67 × 1, 946) × Rs C = 3, 25 × Rs C 16 (2.26) Rs = Tf 3, 25 × C (2.27) É importante observar que o valor de Rs encontrado na Equação 2.27, é a resistência série total, ou seja, é a soma das resistências em série internas de cada estágio e a resistência externa. 2.2.3 Obtenção da Resistência em paralelo total Para encontrar a resistência em paralelo total do circuito, temos que desprezar a resistência série [2]. Para isso, considera-se o circuito da Figura 2.9. Figura 2.9: Circuito considerado no cálculo de Rp Considerando os mesmos parâmetros descritos na Seção 2.2.2, sabendo que Rp é a resistência em paralelo total do circuito e Tc é o tempo de cauda do impulso de tensão, temos que: −Tc Vt = Vo × e Rp C 0 (2.28) C 0 = Cs + Cf + Cie + Cdt (2.29) C’ é definido como: sabendo que o tempo de cauda é o momento em que o decaimento do impulso de tensão atinge 50% do valor de pico da forma de onda, temos que: 17 −Tc 0, 5Vo = Vo × e Rp C 0 (2.30) aplicando o logaritmo neperiano: Tc = 0, 7 × Rp × C 0 Rp = 2.3 Tc 0, 7 × C 0 (2.31) (2.32) Apresentação dos Componentes do circuito de ensaio Conhecendo o tipo de circuito do gerador de impulsos e seu processo de funcionamento, é possı́vel determinar cada componente da rede através de uma análise visual do gerador e, assim, conhecer os principais elementos que o constituem. 2.3.1 Resistores de frente de impulso ou resistor série (Rsi e Rse ): Este resistor tem relação direta com a indutância do circuito de impulso e com a sua carga capacitiva. Com o objetivo de reduzir as oscilações na forma de impulso atmosférico, pode ser usado adicionalmente um resistor série externo ao gerador, definido por Rse . O Rse tem normalmente o formato de fita, pode ser ajustado de acordo com o ensaio e possui um nı́vel de isolamento nominal de 300 kV por metro. A parcela interna da resistência série é fixa e definida por Rsi . 18 (a) (b) Figura 2.10: Resistência série interna (a) e externa (b) do gerador [3]. 2.3.2 Retificador: É o responsável por produzir uma tensão de corrente contı́nua suficiente para promover o carregamento dos capacitores de todos os estágios do gerador, em paralelo. Por isso, é considerado fundamental na montagem do circuito do gerador. Pode ser de diversos tipos, como monofásicos ou trifásicos, em meia ponte ou ponte completa, mas nesse caso especificamente, é monofásico com ponte completa. O retificador possui um reversor de polaridade motorizado, que permite ao operador aplicar tensão positiva ou negativa ao equipamento de teste, através do gerador de impulsos e um resistor de amortecimento, para reduzir uma possı́vel sobretensão, através da limitação da corrente decorrente de um eventual curto-circuito. 19 Figura 2.11: Retificador [3] 2.3.3 Capacitância do gerador de Impulso (Cs ): Responsável por realizar o carregamento da energia até o valor de tensão desejado para a aplicação. Possuem resistência interna e indutância próximas de zero, sendo possı́vel, dessa forma, que o capacitor opere com alta carga na aplicação do impulso. Necessitam de apoio isolante para a sustentação, pois são utilizados dois capacitores em série para a formação da capacitância total do gerador. São repletos de óleo isolante mineral que fica acomodado em tanques metálicos bem lacrados. 20 Figura 2.12: Capacitância do gerador [3] 2.3.4 Esferas centelhadoras: Desempenham a função de colocar os estágios do gerador em paralelo ou série, de forma que o carregamento ocorra em paralelo e o disparo ocorra em série, para que seja aplicado o somatório das tensões das esferas no objeto de ensaio. Deve possuir um método de disparo bastante seguro e eficaz, para que não ocorram falhas na aplicação do impulso, nem possı́veis acidentes de disparo antecipado. É nas esferas que ocorre o método de disparo conhecido como trigatron. Figura 2.13: Esferas centelhadoras de um estágio do gerador [3] 21 2.3.5 Resistor de cauda de impulso ou resistor paralelo (Rp ): Está relacionado com a capacitância do gerador de impulso. É o responsável por auxiliar uma melhor distribuição da tensão entre os estágios do gerador durante o seu carregamento. Figura 2.14: Resistor paralelo de um estágio do gerador [3] 2.3.6 Capacitor de frente (Cf ): Assim que ocorre o disparo das esperas, este capacitor se comporta como um curtocircuito e, com isso, circula muita corrente pelo mesmo, acontecendo o acúmulo de tensão. À medida que o tempo passa, alcança seu nı́vel máximo de energia e, em seguida, descarrega gradativamente. 22 Figura 2.15: Capacitor de frente do fabricante Haefely [3] 2.3.7 Divisor de Tensão Resistivo: Utilizado para possibilitar a medição de tensão no equipamento de teste, durante a aplicação do impulso. Transmite ao osciloscópio uma tensão de saı́da proporcional à tensão de entrada do divisor, de forma que seja viável ao instrumento medir de maneira segura e confiável. Sua principal vantagem é possuir um curto tempo de resposta, por isso são aplicados em ensaios com impulsos atmosférico. 23 Figura 2.16: Divisor de tensão resistivo [3] O divisor da Figura 2.16 possui o seguinte circuito equivalente, considerando as capacitâncias e indutâncias parasitas existentes: Figura 2.17: Circuito do divisor de tensão resistivo [10] Os divisores resistivos possuem duas desvantagens: A primeira é que seu funcionamento não é adequado para sinais com alta frequência, pela resposta do circuito da Figura 2.17 possuir ganho unitário até alguns mega-hertz e por tornarem relevantes os efeitos das capacitâncias parasitas [10]. Assim, para um bom desempenho do funcionamento do divisor, é indicado usar resistores com baixos valores, na ordem de até 1 kΩ [11]. A segunda é o fato do gerador identificar o divisor como uma carga resistiva, 24 provocando uma complicação no ajuste da forma de onda. O gerador deve ser adaptado para considerar o divisor utilizado, substituindo seus resistores séries por outros de baixo valor. A utilização de baixas resistência melhoram a execução das funções em alta frequência, mas faz com que o divisor se comporte como um curto-circuito no sistema. Isso prejudica a medição de impulsos acima de alguns micro-segundos [10]. Quando se trata de um ensaio com impulso de manobra (visto no Capı́tulo 3), não é aconselhável utilizar um divisor resistivo, pelo fato de seu tempo de resposta ser bastante rápido e pelos componentes do divisor proporcionarem uma absorção de pouca energia. Por isso, ele é o mais utilizado para impulsos atmosféricos plenos ou cortados e para geradores que produzem até 1 MV [11]. Deve possuir altura adequada para garantir o isolamento elétrico para elevadas tensões. Efeitos capacitivos: As capacitâncias parasitas são indesejáveis na realização do ensaio, por originarem diversas oscilações na forma de onda produzida pelo gerador e por prejudicarem o desempenho dinâmico desses divisores. Efeitos indutivos: As indutâncias são provenientes dos resistores utilizados para a construção dos divisores, sendo evidenciadas em divisores com baixas resistências, como nesse caso. Elas se tornam consideráveis por estarem associadas à constante de tempo indutiva (L/R) do circuito do divisor[11]. Assim, existem resistores projetados para possuı́rem baixo valor ôhmico e baixa indutância, mas que não conseguem absorver a energia total que é transmitida pelo gerador, já que esse divisor provoca um aumento na energia dissipada nos resistores em alta tensão. 25 2.3.8 Resistor de carga (Rc ): Desempenham a função de limitar a corrente de carga dos capacitores do gerador de impulso. Figura 2.18: Resistor de carga de um estágio do gerador [3] 2.3.9 Resistor de descarga (Rerd ): Possui a função de escoar a carga residual dos capacitores de impulso após o funcionamento do gerador e de imediatamente aterrar o gerador com o surgimento de qualquer emergência durante sua operação. Sem esses resistores, no aparecimento de um problema que necessite o aterramento do circuito, poderia ocorrer o disparo do primeiro estágio do gerador (e, consequentemente, dos outros estágios), decorrente da ligação direta entre o gerador e o terra através do acionamento da chave de aterramento. São posicionados em série com a parte móvel dessa chave do gerador de impulso. 26 Figura 2.19: Resistor de descarga [3] 2.3.10 Resistor de potencial (Rpot ): Possui elevada resistência. Destina-se a promover o aterramento da carcaça dos capacitores do gerador e auxiliar o controle da distribuição de potencial durante o carregamento dos estágios em operação. Este último é o motivo de serem normalmente empregados em geradores de impulsos com mais de um capacitor por estágio. Figura 2.20: Resistor de potencial [3] 27 2.3.11 Chopping Gap: É um centelhador formado com eletrodos esfera-esfera, separados pelo ar (gap). Tem o objetivo de produzir uma descarga elétrica e, consequentemente, o corte na cauda ou frente do impulso de tensão. Figura 2.21: Chopping gap do fabricante Haefely [3] 2.3.12 Atenuador: É um dispositivo eletrônico com aplicação no sistema de medição, que reduz a amplitude e potência de um sinal, sem produzir uma distorção notável na sua forma de onda. Também protege os equipamentos de medição contra nı́veis de tensões que possam danificá-los. Nesse trabalho, atenuador possui relação 20:1. Figura 2.22: Atenuador [3] 28 2.3.13 Gaps Auxiliares: Os gaps auxilares possuem a finalidade de melhorar a confiabilidade do trigatron e ampliar a faixa de operação do gerador de impulso. Esses dispositivos disparam no intervalo de tempo entre o disparo do estágio em que estão conectados e o disparo do estágio posterior. Figura 2.23: Gap Auxiliar [3] 2.4 Funcionamento do gerador de impulsos em laboratório Para a operação do gerador do Cepel, é necessário atribuir uma polaridade, positiva ou negativa, e um nı́vel de amplitude desejada (Vac ) ao impulso de tensão. O operador controla o funcionamento do gerador através da manipulação de um software no computador do laboratório, definido como GC 257 Impulse (Figura 2.24). No GC 257, podem ser alterados diversos parâmetros como a tensão aplicada, o tipo de polaridade, a distância entre o gap das esferas, o tempo para o disparo do gerador e acionamento do chopping gap. Depois da aplicação do impulso, é possı́vel observar a tensão total gerada, o rendimento (eficiência) do gerador e corrente medida, que serão os valores mais utilizados nesse trabalho. Aplicados os parâmetros desejados no GC 257, o sistema inicia o funcionamento do gerador. Um retificador carrega em paralelo o banco de capacitores do gerador com uma tensão contı́nua (Vo ). Quando o banco conclui seu carregamento total, um circuito comparador indica ao circuito de trigger que a tensão escolhida inicialmente 29 Figura 2.24: Interface do programa utilizado para controlar o gerador de impulsos do fabricante Haefely [3]. 30 foi alcançada. O circuito de trigger é um detector que gera um pulso ao GC 257 para indicar que o sinal comparado atingiu a tensão especificada no programa. Em seguida, o GC 257 envia ao gerador um comando de disparo para o primeiro par de esferas centelhadoras, que funciona como uma chave controlada por tensão, estando aberta no momento inicial. Essas esferas são eletrodos que possuem o mecanismo de disparo trigatron. Esse dispositivo consiste na existência de uma haste metálica dentro de uma esfera, que gera um centelhamento na região ionizada entre os eletrodos, provocando o disparo, como foi explicado com detalhes na seção 2.2.1. A descarga disruptiva gerada provoca o fechamento em série do circuito e, simultaneamente, envia um transitório de tensão para os outros estágios, que dispara todas as outras esferas do gerador. Com isso, toda a tensão de carga de cada capacitor é somada, ficando evidenciado que o gerador carregou os capacitores em paralelo e realizou o descarregamento dos mesmos em série. O gerador produzirá no final do ciclo a tensão dos onze estágios somados, formando a crista do impulso. Para analisar mais claramente o comportamento do circuito completo do gerador, podemos simplificar o estudo e observar o circuito equivalente em um estágio apenas (Figura 2.25). Figura 2.25: Circuito equivalente do gerador de impulso Sendo Cie a capacitância proveniente do equipamento sob ensaio, Cdt a capacitância do divisor de tensão e os parâmetros Cs , Rs e Rp definidos na Equações 2.14, 2.15 e 2.16, respectivamente. É importante entender como funciona esse circuito no momento em que ocorre o disparo das esferas. Para isso, foram feitos dois esquemas que podem ser visualizados em seguida, que facilitam a compreensão desse fenômeno. 31 A teoria de circuitos elétricos [9] indica que um capacitor no instante inicial, funciona como curto-circuito para um pulso de corrente e, conforme ocorre o carregamento desse capacitor, este adquire caracterı́sticas de circuito aberto, sendo que no final do processo de armazenamento de energia, não circula mais corrente alguma por este componente. Com isso, no instante que ocorre o disparo das esferas, a corrente inicial se divide. Como o capacitor de frente (Cf ) se comporta como um curto-circuito, a corrente inicial flui quase completamente pelo (Cf ) e uma parcela desprezı́vel dessa corrente flui pelo resistor em paralelo. Este processo continua até que o nı́vel de tensão de descarga entre as esferas e o de carga (formada pelo capacitor de frente, equipamento sob ensaio - Cie e divisor de tensão - Cdt ) se igualem (Figura 2.26). O ponto máximo de energia acumulada no capacitor de frente é conhecido como tensão de crista e a parte da onda formada até esse ponto é denominada frente de onda (Figura 2.27). A constante de tempo da subida do impulso, originado por esse carregamento, é dada pelo resistor série e pela capacitância de frente (observa-se que essa capacitância encontra-se em paralelo com a capacitância do equipamento de teste). Figura 2.26: Circuito mostrando o carregamento do capacitor de frente 32 Figura 2.27: Impulso de tensão formado no carregamento dos capacitores de frente e de carga visto na Figura 2.26 [6] Quando o capacitor de frente alcança seu ponto máximo de carregamento (Figura 2.26), a passagem de corrente através deste componente é interrompida. Começa, então, o processo de descarga desse capacitor, momento que acontece a inversão do sentido da corrente, que passa a circular pelo resistor em série e, em seguida, pelo resistor em paralelo (Figura 2.28). A constante de tempo da cauda desse impulso é dada pelo resistor em paralelo (que nessa etapa está em série com a resistência série, em decorrência das esferas estarem produzindo um efeito de circuito aberto no sistema) e pela capacitância do gerador. Dessa forma, ocorre a produção da cauda do impulso de tensão gerado (Figura 2.29). 33 Figura 2.28: Circuito mostrando o descarregamento do capacitor do frente Figura 2.29: Impulso de tensão formado no descarregamento dos capacitores de frente e de carga visto na Figura 2.28 [6] Como mencionado, a resistência em série está diretamente relacionada com a formação da frente do impulso de tensão, ou seja, quanto maior seu valor ôhmico, maior será a duração do tempo da frente de onda, como pode ser visualizado na Figura 2.30. 34 Figura 2.30: Variação da frente da forma de onda de acordo com a variação de Rs [6] A resistência em paralelo, possui uma ligação com a formação da cauda do impulso de tensão. Assim, quanto maior o valor dessa resistência, mais lento será o decaimento da onda (Figura 2.31). 35 Figura 2.31: Variação da cauda da forma de onda de acordo com a variação de Rp [6] 36 Capı́tulo 3 Impulsos de tensão O objetivo principal deste capı́tulo é apresentar os diferentes tipos de impulsos de tensão que podem ocorrer numa rede de transmissão de energia elétrica e em diversos equipamentos. Embora o sistema elétrico opere sem consideráveis oscilações na rede em grande parte do tempo, este deve ser capaz de suportar qualquer demanda elevada de energia, que é geralmente originada durante uma situação transitória no sistema elétrico. Por essa razão, os transitórios são um fator decisivo no desenvolvimento de uma rede de energia, na elaboração das especificações dos elementos que as constituem e no dimensionamento do isolamento das linhas de transmissão e subestações. Nos sistemas, os transitórios elétricos podem ocorrer devido à uma série de motivos, sendo que estes podem produzir sobretensões, sobrecorrentes, forma de onda fora das condições normais e transitórios eletromecânicos. A sobretensão será o efeito transitório mais estudado neste trabalho e o que motivou a execução dos ensaios elétricos que serão vistos no Capı́tulo 4. Sobretensão é uma condição que varia com o decorrer do tempo, cuja principal caracterı́stica é possuir amplitudes maiores que o valor de crista da tensão de um √ sistema, lembrando que tensão máxima trifásica é a tensão de pico dividida por 3 e monofásica é a própria tensão de pico [12]. É relevante considerar o valor desta última pelo fato ser possı́vel ocorrer uma sobretensão entre as fases da rede elétrica ou entre uma fase e terra. 37 A localização desse evento transitório é uma importante caracterı́stica que determina a origem e o tipo de sobretensão. A de origem externa ocorre fora do ambiente que pertence ao sistema elétrico, sendo geralmente provenientes de descargas atmosféricas. A de origem interna acontece dentro do espaço de uma rede de transmissão, produzida a partir de surtos de manobras ou curto-circuito. Assim as sobretensões são classificadas de acordo com sua localização, quanto ao seu comportamento, nı́vel de amortecimento e tempo de duração, sendo definidas como Impulso atmosférico ou Impulso de Manobra [12]. Com isso, torna-se necessário testar diversos elementos de uma linha de transmissão, assim como seus equipamentos, quanto à tensão suportável sob impulso atmosférico ou de manobra, a fim de melhorar as condições de isolamento e suas caracterı́sticas de projeto. Dependendo do nı́vel de tensão nominal do equipamento elétrico é possı́vel indicar o tipo de impulso de tensão que poderá ser aplicado, conforme pode ser visualizado na Tabela 3.1. Os impulsos atmosféricos são utilizados em equipamentos com classes de tensão de 720 V a 750 kV, porque estes estão sujeitos a danos por descargas externas. Os surtos de manobra apenas causam falhas significativas em equipamentos com tensão nominal acima de 230 kV, no qual a sua magnitude é considerável [13]. Tabela 3.1: Tipos de impulsos aplicados aos ensaios de acordo com nı́vel de tensão do equipamento [13] Aplicação Tensão nominal preferencial dos equipamentos Manobra maior que 230 kV Atmosférico até 750 kV As próximas seções têm a finalidade de promover um estudo mais detalhado e, consequentemente, o melhor conhecimento dos impulsos atmosféricos e de manobra. 38 3.1 Formas de Impulsos 3.1.1 Impulso Pleno A principal caracterı́stica de um impulso de tensão pleno é a inexistência de uma interrupção repentina causada por uma descarga disruptiva, sendo representado por uma onda completa. Este tipo descarga está associada à falha do isolamento do equipamento diante de uma perturbação elétrica. Figura 3.1: Impulso de tensão pleno [3] Para entender melhor cada tipo de impulso, é necessário definir alguns parâmetros que serão utilizados na realização de ensaios elétricos. Tempo de frente (Tf ) - É definido por: Tf = 1, 67 × (T90% − T30% ) (3.1) Sendo: T30% - tempo correspondente ao instante que o impulso atinge 30% da tensão de pico (ponto 1). 39 T90% - tempo correspondente ao instante que o impulso atinge 90% da tensão de pico (ponto 2). Esses valores são resultados de uma semelhança de triângulos que pode ser observada na Figura 3.1 (triângulos O0 1T30% , O0 2t90% e O0 Vp Tp ); Tempo de cauda (Tc ) - Conhecido como o intervalo de tempo entre a origem virtual (O’) e o instante equivalente à metade do valor de crista na cauda da onda (ponto 3); Tempo de pico (Tp ) - Corresponde ao tempo que a onda atinge o valor da tensão de pico; Origem virtual (O’) - Ponto definido na interseção entre o eixo x e a reta constituı́da pelos instantes T30% e T90% (ponto 1 e 2, respectivamente); Tensão de pico (Vp ) - Tensão máxima visualizada no impulso de tensão, também conhecida como tensão de crista; Origem (O) - Instante que o impulso de tensão começa a ser registrado. 3.1.2 Impulso Cortado na Cauda O impulso cortado na cauda (Figura 3.2) possui como caracterı́stica uma interrupção por uma descarga disruptiva, causando uma queda brusca de tensão até um valor nulo. Nessa queda pode haver o surgimento de oscilações, sendo a mesma demonstrada por um corte na forma de onda, que ocorre na cauda do impulso de tensão. 40 Figura 3.2: Impulso de tensão cortado na cauda [3] O centelhador externo Chopping gap é o responsável por provocar corte na forma onda semelhante ao da Figura 3.2. Tempo de corte (Tc ) - Conhecido como o intervalo de tempo entre a origem virtual (O’) e o momento que ocorre o corte da onda. As definições da origem virtual (O’), tensão de pico (Vp ) e tempo de frente (Tf ) são equivalentes as mencionadas na Seção 3.1.1. Assim como o impulso atmosférico pleno, o impulso cortado também possui uma padronização para sua aplicação. Na forma normalizada, o tempo de corte do impulso cortado deve pertencer ao intervalo entre 2µs e 6µs [8]. 3.1.3 Impulso Cortado na frente da onda Existe ainda mais um tipo, denominado impulso cortado na frente da forma de onda (Figura 3.3). Este é caracterizado por uma interrupção repentina na tensão, antes de o impulso alcançar seu valor de tensão máxima. 41 Figura 3.3: Impulso de tensão cortado na frente de onda [3] Sendo: Vp - Tensão de pico (conforme definição da Seção 3.1.1); Tc - Tempo de corte (conforme definição da Seção 3.1.2); O’ - Origem virtual (conforme definição da Seção 3.1.1); Tf - Tempo de frente (conforme definição da Seção 3.1.1). 3.1.4 Importância do conhecimento dos tipos de impulsos Para a análise das sobretensões existentes em um sistema elétrico, é importante conhecer as caracterı́sticas de cada impulso (pleno e cortado). Devido à operação de diversos tipos de equipamentos de proteção e as perdas promovidas pelas diferentes configurações da rede elétrica, várias formas de onda de surtos de tensão são observadas nos sistemas de alta tensão. Os impulsos plenos (Figura 3.1) simulam falhas que se propagam por um determinado comprimento da linha de transmissão antes de atingir o equipamento 42 elétrico. Dessa forma, o surto de tensão varia de zero até a crista e decai até o tempo de meio valor, com caracterı́sticas semelhantes às das formas de onda padronizadas nas Seções 3.2 e 3.3. A forma de onda plena causa o desenvolvimento de maiores oscilações de tensão devido sua maior duração, necessitando de consideráveis solicitações de isolamento do equipamento. Os impulsos cortados na cauda (Figura 3.2) podem acontecer em decorrência do rompimento do isolamento em pontos especı́ficos do circuito (como isoladores ou árvores próximas das linhas), resultando em ondas com uma grande variação da amplitude de tensão. Por exemplo, simulam a condição da crista da sobretensão penetrar totalmente nos terminais de um transformador e, posteriormente, provocar uma disrupção em um isolador próximo da linha de transmissão. Estes impulsos não produzem fortes oscilações como os impulsos plenos, mas possuem amplitudes superiores, gerando tensões mais elevadas. Finalmente, os impulsos cortados na frente da onda (Figura 3.3), simulam a condição de uma sobretensão atingir diretamente ou muito próxima dos terminais de um equipamento, como um transformador. Assim, o elevado nı́vel de crescimento da tensão provoca uma disrupção no equipamento atingido. Estes impulsos possuem como caracterı́sticas tempo de duração menor, mas elevada taxa de variação. Desse modo, as três formas de onda apresentadas, possuem diferentes tempos de durações e taxas de variações, solicitando de maneira diferenciada as condições de isolamento do equipamento em questão. 3.2 Impulso Atmosférico Os impulsos atmosféricos (Figura 3.4) são sobretensões derivadas de surtos atmosféricos ou de outro evento externo que possua caracterı́sticas semelhantes ao impulso de tensão atmosférico padronizado por norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4], utilizado em ensaios elétricos. Quando atingem o sistema, a amplitude das ondas de tensão resultantes é limitada pelo Nı́vel Básico de Isolamento (ver Seção 4.1). Podem ocorrer entre as fases ou entre fase-terra de um sistema elétrico, com duração 43 na ordem de microsegundos e com valor de amplitude máxima na ordem de 6 p.u. [12]. Equipamentos, com determinado isolamento, conseguem suportar esse alto nı́vel de tensão devido à curta duração desse tipo de impulso. Normalmente, uma forma de onda é considerada uma sobretensão originada de descargas atmosféricas quando a sua origem leva até 20 µs para alcançar seu valor máximo e até 50 µs para atingir 50% do seu valor de crista, considerando a partir do tempo em que ocorreu o valor de pico. Figura 3.4: Impulso atmosférico em cadeia isoladores poliméricos [3] Esse tipo de sobretensão pode ocorrer de três diferentes maneiras: 1. Por tensão induzida - A descarga elétrica atinge o solo em um local próximo da linha de transmissão. 2. Por falha da blindagem - Apesar da linha ser protegida com a utilização de cabos para-raios, a descarga elétrica pode atingir um condutor de fase. Tratase de um fenômeno altamente prejudicial aos equipamentos elétricos, por ser injetado um elevado nı́vel de corrente no sistema, que propaga-se em forma de duas ondas em sentidos opostos. 44 3. Por descarga de retorno - A torre da rede de transmissão ou o cabo para-raio é atingido pela descarga elétrica. Em seguida, ocorre um centelhamento entre o condutor de fase e o elemento atingido devido ao comportamento capacitivo existente entre eles. Isso faz com que o condutor seja exposto a um alto nı́vel de energia, ficando no mesmo potencial elétrico que o elemento. Assim, a sobretensão é propagada para os demais componentes da rede elétrica. Na aplicação de impulsos atmosféricos em ensaios elétricos, com a finalidade de testar a capacidade de isolamento de diversos tipos de elementos de uma linha de transmissão, consideram-se formas de onda padronizadas, de acordo com a norma técnica ABNT NBR IEC 60060-1 [4], que visam facilitar a geração do impulso e análise dos resultados. Para um impulso atmosférico pleno, temos que a onda normalizada consiste num tempo de frente de 1,2 µs e tempo de cauda de 50 µs, também conhecido como impulso 1,2/50 µs [8]. As normas possuem tolerâncias relativas aos tempos de frente e de cauda, tendo em vista que encontrar um ajuste de onda com esses valores exatos seria inviável. Assim, os impulsos atmosféricos desenvolvidos em testes de laboratórios possuem as especificações da Tabela 3.2. Tabela 3.2: Tolerâncias relativas às formas de onda de impulso atmosférico [4] Parâmetro Tempo de frente Tempo de cauda 3.3 Variação da tolerância ± 30% ± 20% Tolerância entre 0,84µs e 1,56µs entre 40µs e 60µs Impulso de Manobra Os impulsos de manobra (Figura 3.5) são sobretensões provenientes do funcionamento de um equipamento de manobra ou defeito no sistema elétrico. Vale lembrar que a norma ABNT NBR IEC 62271-102:2006 [14] define equipamentos de manobra como: ”Dispositivos elétricos destinados a estabelecer ou interromper corrente elétrica, em um ou mais circuitos elétricos”, como disjuntores e chaves. 45 Embora sejam sobretensões rápidas na rede, os impulsos de manobra possuem maior duração quando comparados aos atmosféricos. O tempo de frente de uma forma de onda considerada de manobra ocorre entre 100 µs e 500 µs e o tempo de cauda é visto em torno de 2500 µs [12]. O impulso de manobra pode existir em diversos pontos do sistema elétrico, entre as fases ou entre fase-terra. Geralmente, possuem amplitudes inferiores a 4 p.u. Figura 3.5: Impulso de manobra em cadeia de isoladores poliméricos [3] Este tipo de impulso também possui uma forma normalizada com o objetivo de ser utilizado em ensaios elétricos para promover a análise de diferentes equipamentos. Por padrão, esse impulso possui um tempo de frente com duração de 250 µs e tempo de cauda com 2500 µs, conhecido como impulso 250/2500 µs [8]. Para a utilização de um impulso de manobra na realização de ensaios do isolamento elétrico, é possı́vel considerar algumas tolerâncias na forma de onda desenvolvida no local de ensaio em relação à forma normalizada. Essas especificações estão descritas na Tabela 3.3. Outra caracterı́stica é que o impulso de manobra possui um comportamento mais aleatório que o atmosférico. Com isso, dependendo de fatores como o nı́vel de tensão 46 Tabela 3.3: Tolerâncias relativas às formas de onda de impulso de manobra [4] Parâmetro Tempo de frente Tempo de cauda Variação da tolerância ± 20% ± 60% Tolerância entre 200µs e 300µs entre 1000µs e 4000µs aplicado em ensaios que utilizam esse tipo de impulso e a existência de materiais condutores próximos ao equipamento ensaiado, podem ocorrer descargas elétricas perigosas em diversos locais do laboratório. 47 Capı́tulo 4 Ensaios - Estudos de caso Foram realizados ensaios em diversos equipamentos elétricos com o objetivo de analisar cada caso, validar o estudo sobre gerador de impulsos de tensão e aplicar os conceitos teóricos vistos anteriormente de forma prática. O capı́tulo está dividido em seções de acordo com o equipamento utilizado. No interior de cada uma, são descritos os aspectos observados e procedimentos feitos conforme a estrutura a seguir: 1. Descrição do equipamento sob ensaio; 2. Descrição do ensaio com impulso atmosférico; 3. Ligação efetuada em laboratório para a realização do ensaio; 4. Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda; 5. Simulação do ensaio de ajuste no Matlab; 6. Resultados. Para a execução dos procedimentos propostos, utilizou-se o Laboratório de Ensaios Corona - AT2, situado no Cepel, que é apropriado para realização de ensaios dielétricos que avaliam o isolamento de materiais elétricos e medição que possibilita a análise do desempenho desses equipamentos quando estão expostos a altos nı́veis 48 de tensão. Um ensaio dielétrico é realizado com base nas normas técnicas existentes e tem como finalidade verificar se um equipamento está em conformidade com as tensões suportáveis nominais que determinam o seu nı́vel de isolamento [12]. O ensaio dielétrico, padronizado e utilizado neste trabalho, é o de tensão suportável sob impulso atmosférico. Com isso, é necessário ter alguns cuidados. A aplicação de certos recursos são importantes para que os ensaios sejam efetuados de maneira segura e confiável, sendo aplicados em todos os experimentos. São eles: • Ligar o circuito de segurança do laboratório no quadro de iluminação; • Verificar a integridade das ferramentas a serem utilizadas; • Utilizar somente equipamentos e circuitos de ensaios que podem ser analisados rapidamente, tanto no aspecto fı́sico (arranjo), quanto nos aspectos dos valores das capacitâncias, indutâncias e resistências; • Checar variáveis dos equipamentos como, por exemplo, estado das conexões e nı́vel de bateria; • Checar os parâmetros de ensaios como os tipos de impulso que serão aplicados, grandezas dos resistores e capacitores no ensaio e conexões do circuito em geral; • Estimar a capacitância do equipamento de ensaio; • Realizar um layout do circuito o mais próximo possı́vel da realidade; • Calcular a forma de onda aplicada no item sob ensaio da maneira mais precisa possı́vel; • Montar os circuitos de acordo com todas as normas de segurança, usando equipamentos de proteção individuais e utilizando os parâmetros do objeto de ensaio, mantendo-os dentro dos limites dos equipamentos; • Ligar o sistema de controle do gerador de impulsos, voltı́metro de crista e osciloscópio; 49 • Verificar a relação de tensão do voltı́metro e do divisor de tensão; • Analisar os atenuadores ou filtros conectados na saı́da do divisor e na entrada do osciloscópio; • Verificar todas as conexões a serem feitas para a chegada do sinal ao osciloscópio e ao voltı́metro, se for o caso; • Salvar os oscilogramas que contém as formas de onda aplicadas no equipamento sob teste, sempre que necessário; • Incluir nos resultados do ensaio os oscilogramas gravados e detalhes vistos nos tópicos anteriores, para demonstrar toda a execução do ensaio; • Somente energizar o circuito quando possuir controle absoluto sobre o ensaio. Primeiramente, é detalhado o ensaio de tensão suportável sob impulso atmosférico em um transformador trifásico, que é o mais completo realizado. Em seguida, são explicados os ensaios com um isolador e transformador de corrente. Estes são procedimentos que possuem compreensão mais simples, sendo feitos com base em alguns conceitos mencionados no ensaio do transformador trifásico. 4.1 Transformador de Potência Trifásico O transformador trifásico possui uma grande importância no sistema de transmissão e distribuição de eletricidade. Sua principal função é elevar e reduzir a tensão de entrada do equipamento, visando a menor perda possı́vel de potência. Isso permite adequar o nı́vel de tensão aplicada à necessidade de geração e consumo de energia elétrica [15]. Foi testado um transformador de potência trifásico (Figura 4.1) com as especificações mencionadas na Tabela 4.1. Os equipamentos elétricos caracterizam-se por possuı́rem nı́veis de isolamento normalizados, baseados na sua tensão nominal de operação, denominado Nı́vel Básico 50 Tabela 4.1: Informações nominais da placa do transformador testado em laboratório Dados de placa Tensão Nominal 220/13800 V Potência Nominal 112,5 kVA Isolamento Óleo Mineral Tipo de ligação Delta - Estrela Aterrado Nı́vel básico de Isolamento (NBI ou BIL) 95 ou 110 kV Fabricante Gordon Figura 4.1: Transformador trifásico [3] de Isolamento (NBI ou BIL, em inglês). O NBI corresponde à tensão a qual o isolamento do transformador pode ser submetido com 10% de probabilidade de ocorrência de disrupção elétrica, conforme normas ABNT NBR 6939 e ABNT NBR IEC 60060-1 [4, 16, 17]. 4.1.1 Descrição do ensaio com impulso atmosférico Para a análise das caracterı́sticas elétricas do transformador trifásico, foi realizado o ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico, conhecido também como ensaio dielétrico, conforme norma ABNT NBR 5356-4 [18] da ABNT. O objetivo desse procedimento é verificar a suportabilidade do transformador quando for aplicada 51 tensão de impulso atmosférico nos seus terminais de linha. Ajuste da forma de onda Antes da efetiva realização do ensaio dielétrico, é necessário um ensaio preliminar para a calibração do circuito de impulso atmosférico para o transformador em questão. Para isso, devem-se efetuar dois procedimentos: 1. Selecionar os resistores séries e paralelos que serão utilizados para a obtenção da forma de onda normalizada do trafo. 2. Aplicar um impulso atmosférico reduzido, com valor de crista entre 60% e 70% da tensão do ensaio, que será realizado posteriormente à calibração. Em seguida, medem-se os tempos de frente e de cauda da onda obtida na calibração e verifica-se se a mesma está dentro dos padrões estipulados pela norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4]. Se estiver de acordo com a norma ABNT NBR IEC 600601, o circuito está adequado para a realização do ensaio dielétrico. Se não estiver, devem-se alterar os valores dos resistores em série ou em paralelo para adaptar a forma de onda do objeto de ensaio e repetir o ensaio de calibração, até que a forma de onda encontrada esteja de acordo com a norma estabelecida. Ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico Feito o ajuste do circuito, é possı́vel iniciar a execução do ensaio dielétrico propriamente dito. Um ponto importante é que, anteriormente, esse equipamento esteve em operação. Sabendo que esse tipo de ensaio é muito severo e esse equipamento não é novo, a máxima tensão que deverá ser aplicada é de 80% do valor original, para que não ocorra a aceleração do processo de deterioração do trafo, conforme a norma ABNT NBR 5356-3 [19]. O impulso será aplicado nos terminais de linha do transformador acessı́veis externamente, pelo lado de alta tensão com ligação delta, sendo este o lado primário. O secundário é o de baixa tensão, com conexão estrela aterrado e permanecerá em aberto. 52 O procedimento deve ser feito em todas as fases do lado primário, sendo testada apenas uma por vez. Assim, uma fase será conectada com o circuito de alta tensão, sendo as duas restantes, do lado de alta, curto-circuitadas (Figuras 4.2 e 4.3). Esse método será realizado para as fases A, B e C, respectivamente. Esse tipo de ligação pode ser visualizada na Figura 4.2. Por se tratar de um equipamento com isolamento a óleo mineral, o ensaio deve ser realizado com tensões na polaridade negativa para reduzir o risco de descargas externas no circuito, conforme norma ABNT NBR 5356-3 [19]. Uma sequência de impulsos de tensão de diferentes tipos será aplicada no trafo sob teste, conforme ordem abaixo: Um impulso pleno reduzido - Deve possuir amplitude entre 50% e 75% da tensão de crista do impulso pleno com valor especificado, sendo preferı́vel que fique próximo do valor do limite inferior, por ser um ensaio agressivo ao isolamento do equipamento. Optou-se por utilizar 60% do NBI, sendo este valor igual a 57 kV. Um impulso pleno normalizado - Deve possuir tensão de crista de 95 kV ou 110 kV, conforme especificação da norma ABNT NBR 5356-4 [18]. Nesse caso, utilizou-se 95 kV. Um ou mais impulsos cortados com valor reduzido - Os impulsos cortados devem possuir valores de crista iguais a 1,1 vezes a amplitude do impulso pleno reduzido e tempo de corte da onda compreendido entre 2 µs e 6 µs. Nesse caso, utilizou-se o valor de 62,7 kV para a crista do impulso. Dois impulsos cortados com valor especificado - Devem possuir valores de crista iguais a 1,1 vezes a amplitude do impulso pleno especificado e tempo de corte da onda entre 2 µs e 6 µs. Assim, utilizou-se o valor de 104,5 kV para a crista do impulso. Dois impulsos plenos normalizados com valor suportável nominal - Devem 53 possuir tensão de crista de 95 kV ou 110 kV. Foi escolhida a tensão de 95 kV para ser aplicada nesse caso. Se durante a aplicação de qualquer impulso, ocorrer uma descarga externa no circuito, nos centelhadores ou falha no registro do osciloscópio em qualquer canal de medição, a aplicação de impulso deve ser desconsiderada e feita outra. Durante a execução do ensaio, devem ser coletados os oscilogramas e registros digitais referentes ao processo de calibração e verificação do equipamento submetido ao impulso de tensão. Esses dados têm a finalidade de mostrar claramente os parâmetros do impulso aplicado, tais como amplitude, tempo de crista, tempo de frente, tempo de descida e ocorrência de falhas do isolamento. Além da medição de tensão, deve ser realizada também a da corrente do sistema, através da conexão de um transformador de corrente entre as duas fases curtocircuitas no primário e o terra. Para a geração de impulsos cortados, o mesmo ajuste da forma de onda pode ser usado no gerador de impulsos, bastando apenas inserir o equipamento de corte no sistema, quando for necessário. O circuito de corte é formado por um par de eletrodos, chamado de esferas de corte ou Chopping gap (vistos no Capı́tulo 2), sendo acionado com o auxı́lio do programa GC 257 Impulse. O critério de avaliação do ensaio é observado através de uma análise detalhada dos sinais de tensão e corrente obtidos. Deve ser feita uma comparação minuciosa entre os oscilogramas da tensão de impulso pleno e, em seguida, uma outra entre os oscilogramas do impulso cortado. Quando um eventual defeito surge no equipamento durante a verificação do ensaio, os oscilogramas das correntes são necessários para confirmar ou não a existência da falha. Na ausência de diferenças significativas entre os transitórios de tensão e de correntes registrados, com a aplicação de impulso pleno e aqueles registrados com impulso de valor reduzido, torna-se comprovado que o isolamento do transformador suportou o ensaio. Se ocorrer dúvida na interpretação de possı́veis diferenças entre registros e oscilogramas, três impulsos plenos adicionais devem ser aplicados ou o ensaio completo 54 na fase em questão deve ser repetido. O ensaio então é considerado satisfatório se não ocorrer nenhum desvio adicional ou aumento nos desvios anteriores. 4.1.2 Conexão no laboratório de alta tensão O circuito para o ensaio de impulso de tensão atmosférico, que será montado em laboratório (Figura 4.4), pode ser dividido em cinco partes diferentes: • Gerador de impulsos, com seus parâmetros adicionais; • Equipamento sob ensaio; • Circuito de medição de tensão e de corrente; • Circuito de corte, quando aplicável; • Circuito para a detecção de defeitos. Depois de realizar o estudo da tensão que deverá ser aplicada para a efetuação do ensaio, foi visto que seria necessário utilizar apenas quatro estágios do gerador (visto em 4.1.3). Para isso, os passos para a efetuação da ligação do circuito em laboratório, possuindo como referência os ensaios realizados nesse trabalho, são: • Passo 1: Curto-circuitar os resistores em paralelo do quinto estágio em diante; • Passo 2: Retirar os resistores de carga e de frente do quarto estágio em diante; • Passo 3: Ligar a resistência série externa em fita no quarto estágio do gerador e no capacitor de frente; • Passo 4: Curto-circuitar os capacitores do quinto estágio em diante; • Passo 5: Ligar o capacitor de frente em paralelo com o lado de alta tensão do transformador e com o divisor de tensão resistivo. Uma observação importante é que o circuito de ensaio deve ser finalizado no divisor para evitar eventuais ruı́dos no sistema; 55 • Passo 6: Conectar os cabos elétricos do divisor de tensão, juntamente com um atenuador de sinais, no osciloscópio, para efetuar a medição dos parâmetros necessários; • Passo 7: Aterrar a carcaça do transformador. Essa medida é necessária pelo fato do terminal de neutro do lado de baixa tensão do equipamento não ser acessı́vel. Como o neutro está conectado com a carcaça do transformador, optou-se por aterrar a carcaça; • Passo 8: Manter em aberto os terminais restantes do lado de baixa tensão; • Passo 9: Conectar o Chopping Gap em paralelo com o divisor de tensão, transformador e capacitor de frente. Quando for necessário esse dispositivo será acionado pelo sistema de controle do gerador de impulsos para efetuar o corte na forma de onda; • Passo 10: Aterrar o circuito completo. Figura 4.2: Ligação do lado de alta do transformador trifásico em laboratório [3] 56 Figura 4.3: Esquema para a ligação do transformador trifásico para o ensaio elétrico Figura 4.4: Esquema do circuito completo montado para o ensaio dielétrico do transformador com chopping gap [3] 57 4.1.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda Foi necessário definir os resistores que seriam utilizados na execução do ensaio de calibração, para obter a forma de onda padronizada 1,2/50 µs. Como foi mencionado anteriormente (Seção 2.4), os resistores série e paralelo, possuem relação direta com a formação dos tempos de frente e de cauda da onda, respectivamente. Assim, para chegar esses valores, utilizamos os seguintes cálculos: Cálculo da resistência em série Na aplicação do impulso de tensão, é necessário calcular as resistências série que serão utilizadas no circuito, com a maior precisão possı́vel. Os valores de Cs e Cf são dados no laboratório, sendo Cie e Cdt estimados. Com isso, utilizando a Equação 2.19, temos: Cs × (Cf + Cie + Cdt ) Cs + Cf + Cie + Cdt (4.1) 600 × 10−9 × (1 × 10−9 + 900 × 10−12 + 0) 600 × 10−9 + 1 × 10−9 + 900 × 10−12 + 0 (4.2) C= C= C = 1, 894 × 10−9 F (4.3) Agora, utilizando a Equação 2.27: Tf 3, 25 × C (4.4) 1, 2 × 10−6 3, 25 × 1, 894 × 10−9 (4.5) Rs = 194, 95 Ω (4.6) Rs = Rs = 58 Cálculo da resistência em paralelo Nesse caso especı́fico, utilizou-se as resistências em paralelo fixadas no gerador de impulsos. Os valores para esses parâmetros encontram-se na Tabela 4.4. Determinação do número de estágios que serão utilizados no ensaio Sabendo que a capacidade de tensão total do gerador utilizado é de 1,1 MV, com os onze estágios funcionando, é necessário definir as tensões de carga que serão aplicadas em cada estágio do gerador de impulso. Cada estágio possui capacidade máxima de 100 kV, mas se uma tensão mı́nima não for aplicada, ocorre uma adversidade conhecida como no firing que indica que não ocorreu o disparo das esferas em decorrência do funcionamento inadequado do gap. É aconselhável também existir um limite máximo de tensão, com a finalidade de evitar a sobrecarga do equipamento, aumentar sua vida útil e impedir que ocorra um defeito conhecido como self firing, que significa que o disparo foi feito precipitadamente. Por isso, a faixa de tensão ideal de uso do gerador deverá ficar compreendida entre 18% e 80% da sua tensão nominal total, sendo esses valores 198 kV e 880 kV, respectivamente. Para encontrar o número adequado de estágios que serão utilizados nesse ensaio, alguns cálculos serão necessários. A capacidade máxima por estágio, considerando a faixa ideal de uso do gerador será 80 % de 100 kV, sendo igual a 80 kV. Sabendo que a tensão máxima utilizada no ensaio será de 10% acima de 95 kV, deve-se dividir esse valor por um determinado número de estágios e o resultado encontrado não deve ultrapassar o limite superior da faixa de uso por estágio do gerador. Assim, a tensão máxima utilizada considerando quatro estágios será: max = Vest 1, 1 × 95 × 103 = 26, 1 kV 4 (4.7) considerando que o gerador em questão possui um rendimento de aproximadamente 80%, temos: max Vest = 26, 1 ≈ 31, 4 kV 0, 8 59 (4.8) portanto, como 31,4 kV < 80 kV, temos que o limite máximo de uso ideal do gerador será respeitado. Agora, temos que a capacidade mı́nima por estágio, considerando a mesma faixa, será igual a 18 kV, sendo esse valor igual a 18% de 100 kV. Fazendo o mesmo procedimento para 60% do BIL, que será a tensão mı́nima utilizada no ensaio, temos: min Vest = 0.60 × 95 × 103 = 14, 25 kV 4 (4.9) 14, 25 ≈ 18 kV 0, 8 (4.10) min Vest = como o resultado encontrado é aproximadamente 18 kV, o limite inferior da faixa ideal também será respeitado. Com as considerações acima, decidiu-se aplicar tensão em quatro estágios do gerador apenas. 4.1.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave Antes de realizar o ensaio de ajuste de onda (calibração) efetivamente, é possı́vel utilizar o software Matlab ou Octave para simular o resultado esperado do ensaio, através da aplicação dos conceitos teóricos vistos anteriormente (Capı́tulo 2). Feito isso, será possı́vel realizar uma análise prévia do provável resultado e decidir se a utilização dos capacitores e resistores (calculados no item 4.1.3) no circuito serão adequados para a obtenção da forma de onda normalizada 1,2/50 µs. Utilizando a resistência série calculada na Equação 4.6, a capacitância estimada para o transformador trifásico e os demais dados fornecidos no laboratório, aplicando os valores desses parâmetros (Tabela 4.2) na Equação 2.11 com a utilização do programa computacional e, posteriormente, calculando os tempos de frente e de cauda da onda simulada, temos: 60 Tabela 4.2: Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada Parâmetros aplicados na simulação Resistência série 194,95 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitância estimada do objeto de teste 900 pF Capacitância do gerador por estágio 600 nF Capacitor de frente 1 nF Capacitância em paralelo equivalente 1,9 nF Tensão aplicada -18 kV Figura 4.5: Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no transformador trifásico [6] Tabela 4.3: Parâmetros medidos na onda simulada Tempo de frente Tempo de cauda 1,104 µs 49,246 µs Com o resultado acima, nota-se que os parâmetros encontrados na Tabela 4.3, a partir da simulação da Figura 4.5, estão de acordo com a norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4] e, por isso, os valores de resistências e capacitores usados na simulação podem ser aplicados na execução do ensaio real. 61 4.1.5 Resultados - Fase A Depois de realizar os cálculos envolvendo o gerador de impulsos, montar o circuito, simular a forma de onda esperada e efetuar o ensaio de tensão suportável no transformador trifásico, é necessário analisar os resultados de todo o procedimento feito e verificar se o equipamento suportou a tensão de impulso atmosférico aplicada nos seus terminais de linha. Primeiramente, aplicou-se tensão na fase A do primário do trafo, sendo as fases B e C curto-circuitadas. Os parâmetros da Tabela 4.4 foram aplicados no circuito de ensaio feito em laboratório. Tabela 4.4: Parâmetros aplicados no circuito de ensaio Parâmetros Resistência série externa 200 Ω Resistência série interna 15 Ω Resistência em paralelo 1 31 kΩ Resistência em paralelo 2 6 kΩ Resistência em paralelo 3 115 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitância estimada do item de teste 900 pF Capacitor de frente 1 nF Número de estágios do gerador 4 Resultados do ensaio de ajuste da forma de onda - Fase A Conforme descrito na seção 4.1.1, um ensaio de ajuste de forma de onda é feito antes do ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico, para observar se o circuito montado e os componentes elétricos utilizados estão possibilitando a produção de uma onda mais próxima possı́vel da onda normalizada de 1,2/50 µs. Tabela 4.5: Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase A Tensão aplicada Tempo de frente Tempo de cauda Tensão no equipamento -18 kV 1,05 µs 48,60 µs -60,14 kV 62 Com a comparação dos resultados da simulação e do ensaio em laboratório, Tabelas 4.3 e 4.5, respectivamente, observa-se que o circuito montado pode ser representado pela modelagem teórica de um gerador de impulsos, vista no Capı́tulo 2, de forma satisfatória. Lembrando que os valores encontrados são da ordem de microsegundos, é possı́vel afirmar que os mesmos são próximos. Os tempos de frente e de cauda da Tabela 4.5 estão de acordo com os limites de tolerância vistos na Tabela 3.2, conforme a norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4]. Se os limites fossem ultrapassados, os resistores e capacitores deveriam ser alterados e um novo ajuste feito. Resultados do ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico - Fase A Posterior ao ajuste e verificação de que a forma de onda do impulso atmosférico aplicado no equipamento estava calibrada, foi iniciado o ensaio dielétrico do transformador. Alguns detalhes importantes devem ser destacados: 1. O sistema de controle do gerador de impulso permite a escolha de tensão que será aplicada em cada estágio. Assim, considerando a utilização de quatro estágios e rendimento de 80 % do gerador, temos que a tensão por estágio será aproximadamente: (a) Para impulso pleno reduzido: Vest = Vest = −57kV = −14, 25 kV 4 −14, 25kV = −17, 81 kV 0, 8 (b) Para impulso pleno normalizado: Vest = −95kV = −23, 75 kV 4 63 Vest = −23, 75kV = −29, 69 kV 0, 8 (c) Para impulso cortado com valor reduzido: Vest = −62, 7kV = −15, 67 kV 4 Vest = −15, 67kV = −19, 59 kV 0, 8 (d) Para impulso cortado com valor especificado: Vest = −104, 5kV = −26, 12 kV 4 Vest = −26, 12kV = −32, 66 kV 0, 8 (e) Para impulso normalizado com valor suportável nominal: Vest = −29, 69 kV 2. Para a visualização dos resultados no osciloscópio, foi necessário fazer a configuração das suas escalas. Sabendo que o divisor resistivo de tensão possui uma relação de 268:1 e o atenuador de ruı́dos utilizado possui uma relação de 20:1, calculou-se a escala da tensão: Vosc = Vosc = max ×η Vtotal 268 × 20 104, 5 × 0, 8 = 15, 6 kV 5360 Com isso, optou-se por utilizar o valor de 5V /div como escala. Assim, com um total de 8 divisões, o equipamento poderia medir até 40 V, que é aceitável, pois está acima do valor encontrado de 15,6 V. Para definir a escala do tempo, foi necessário identificar se o impulso aplicado era pleno ou cortado. Para impulsos plenos a escala utilizada foi de 10 µs/div 64 e, para os cortados, de 1 µs/div. Com essas considerações, os resultados obtidos são mostrados na Tabela 4.6. Tabela 4.6: Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase A Aplicação Tipo de impulso Tensão por estágio Tensão total medida Tempo de corte 1 Pleno reduzido -18 kV -66,14 kV - 2 Pleno normalizado -26 kV -94,34 kV - 3 Cortado reduzido -18 kV -65,93 kV 5,78 µs 4 Cortado especificado -29 kV -104,9 kV 5,78 µs 5 Cortado especificado -29 kV -105,1 kV 5,26 µs 6 Pleno normalizado -26 kV -94,01 kV - 7 Pleno normalizado -26 kV -94,12 kV - Nas aplicações 2, 4, 5, 6 e 7 foram aplicadas tensões por estágio com amplitude um pouco menor que a calculada, para a tensão total medida não ultrapassar os 3% do valor esperado, sendo esta condição descrita na norma. Nos impulsos cortados, utilizou-se o Chopping Gap para produzir o corte no impulso atmosférico. Nas aplicações 3, 4 e 5, verificou-se que os tempos de corte eram satisfatórios, pois estes valores encontravam-se dentro do intervalo de 2 µs a 6 µs, definido pela norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4]. Juntamente com os dados tabelados, foram obtidos também os resultados gráficos da tensão e corrente com a aplicação do impulso atmosférico: 65 (a) (b) Figura 4.6: Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase A [20]. (c) (d) Figura 4.7: Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase A [20]. 66 (e) (f) Figura 4.8: Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase A [20]. (g) (h) Figura 4.9: Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase A [20]. 67 (i) (j) Figura 4.10: Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase A [20]. (l) (m) Figura 4.11: Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase A [20]. 68 (n) (o) Figura 4.12: Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase A [20]. Nos impulsos cortados na cauda, o pico da primeira oscilação, que ocorre logo após o corte (queda brusca na tensão) da onda, não pode ultrapassar 25% do valor da amplitude máxima de tensão vista no impulso, conforme as normas ABNT NBR 5356-3 e ABNT NBR 5356-4 [18, 19]. Esse fato faz com que os dados do ensaio possam ser validados. A Tabela 4.7 mostra os resultados das oscilações na fase A desse transformador. Tabela 4.7: Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.8, 4.9 e 4.10 Aplicação Porcentagem de oscilação Tensão máxima Tensão de pico da oscilação 3 17,79% -16,3 kV -2,9 kV 4 17,37% -25,9 kV -4,5 kV 5 17,37% -25,9 kV -4,5 kV 69 (p) Figura 4.13: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase A (p) [20]. (q) Figura 4.14: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase A (q) [20]. 70 (r) Figura 4.15: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase A (r) [20]. (s) Figura 4.16: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase A (s) [20]. 71 Pelas Figuras 4.13 e 4.14, é possı́vel observar que a sobreposição dos impulsos de tensão cortados e plenos, respectivamente, mostram que a fase A do trafo está apresentando condições de isolamento adequadas, pois o comportamento dos gráficos é o mesmo, sem a existência de perturbações que diferenciem uma forma de onda da outra. Se existisse alguma falha no gráfico da tensão, os gráficos das correntes das Figuras 4.15 e 4.16, confirmariam a existência do defeito. 4.1.6 Resultados - Fase B Nesta seção são apresentados os resultados da aplicação de tensão na fase B do lado de alta tensão do trafo, com as fases A e C curto-circuitadas. As condições gerais de conexão do circuito de ensaio foram mantidas, exceto pela alimentação do equipamento que antes era na fase A e, agora, na B. Os resistores, capacitores e demais componentes utilizados são os mesmos da Tabela 4.4. Resultados do ensaio de ajuste da forma de onda - Fase B Os resultados obtidos no ensaio de ajuste da forma de onda na fase B estão descritos na Tabela 4.8. Tabela 4.8: Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase B Tensão aplicada Tempo de frente Tempo de cauda Tensão no equipamento -18 kV 1,03 µs 55,80 µs -65,93 kV Resultados do ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico - Fase B Os resultados do ensaio de tensão suportável sob impulso atmosférico na fase B são mostrados na Tabela 4.9. 72 Tabela 4.9: Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase B Aplicação Tipo de impulso Tensão por estágio Tensão total medida Tempo de corte 1 Pleno reduzido -18 kV -65,71 kV - 2 Pleno normalizado -26 kV -94,44 kV - 3 Cortado reduzido -18 kV -66,14 kV 5,38 µs 4 Cortado especificado -29 kV -105,2 kV 5,30 µs 5 Cortado especificado -29 kV -105,3 kV 5,28 µs 6 Pleno normalizado -26 kV -94,34 kV - 7 Pleno normalizado -26 kV -94,34 kV - E os resultados gráficos obtidos foram: (a) (b) Figura 4.17: Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase B [20]. 73 (c) (d) Figura 4.18: Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase B [20]. (e) (f) Figura 4.19: Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase B [20]. 74 (g) (h) Figura 4.20: Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase B [20]. (i) (j) Figura 4.21: Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase B [20]. 75 (l) (m) Figura 4.22: Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase B [20]. (n) (o) Figura 4.23: Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase B [20]. 76 Tabela 4.10: Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.19, 4.20 e 4.21 Aplicação Porcentagem de oscilação Tensão máxima Tensão de pico da oscilação 3 17,58% -16,5 kV -2,9 kV 4 17,24% -26,1 kV -4,5 kV 5 18,15% -25,9 kV -4,7 kV Pela Tabela 4.10, é possı́vel observar que os picos das oscilações dos impulsos de tensão cortados são inferiores a 25% da amplitude máxima de tensão na fase B, portanto, de acordo com a norma ABNT NBR 5356-4 [18]. (p) Figura 4.24: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase B (p) [20]. 77 (q) Figura 4.25: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase B (q) [20]. (r) Figura 4.26: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase B (r) [20]. 78 (s) Figura 4.27: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase B (s) [20]. A sobreposição dos impulsos de tensão e corrente, com alimentação na fase B do trafo, indica que o equipamento apresenta boas condições de isolamento, porque o comportamento das formas de onda são semelhantes, sem consideráveis perturbações. 4.1.7 Resultados - Fase C Finalmente, os resultados da aplicação do impulso de tensão na fase C, com as demais fases aterradas e utilizando os dados da Tabela 4.4 são mostrados a seguir. Resultados do ensaio de ajuste da forma de onda - Fase C Os resultados obtidos no ensaio de ajuste na fase C podem ser vistos na Tabela 4.11. Tabela 4.11: Medições feitas no ensaio de ajuste de onda na fase C Tensão aplicada Tempo de frente Tempo de cauda Tensão no equipamento -18 kV 1,02 µs 51,20 µs -65,82 kV 79 Resultados do ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico - Fase C Os resultados obtidos no ensaio sob impulso atmosférico, na fase C, podem ser visualizados na Tabela 4.12. Tabela 4.12: Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico na fase C Aplicação Tipo de impulso Tensão por estágio Tensão total medida Tempo de corte 1 Pleno reduzido -18 kV -65,93 kV - 2 Pleno normalizado -26 kV -94,23 kV - 3 Cortado reduzido -18 kV -66,14 kV 5,48 µs 4 Cortado especificado -29 kV -105,1 kV 5,08 µs 5 Cortado especificado -29 kV -104,9 kV 5,18 µs 6 Pleno normalizado -26 kV -94,12 kV - 7 Pleno normalizado -26 kV -94,23 kV - E os resultados gráficos da tensão e corrente foram: (a) (b) Figura 4.28: Resultados de tensão (a) e corrente (b) obtidos com a aplicação 1 na fase C [20]. 80 (c) (d) Figura 4.29: Resultados de tensão (c) e corrente (d) obtidos com a aplicação 2 na fase C [20]. (e) (f) Figura 4.30: Resultados de tensão (e) e corrente (f) obtidos com a aplicação 3 na fase C [20]. 81 (g) (h) Figura 4.31: Resultados de tensão (g) e corrente (h) obtidos com a aplicação 4 na fase C [20]. (i) (j) Figura 4.32: Resultados de tensão (i) e corrente (j) obtidos com a aplicação 5 na fase C [20]. 82 (l) (m) Figura 4.33: Resultados de tensão (l) e corrente (m) obtidos com a aplicação 6 na fase C [20]. (n) (o) Figura 4.34: Resultados de tensão (n) e corrente (o) obtidos com a aplicação 7 na fase C [20]. 83 Tabela 4.13: Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.30, 4.31 e 4.32 Aplicação Porcentagem de oscilação Tensão máxima Tensão de pico da oscilação 3 17,58% -16,5 kV -2,9 kV 4 17,24% -26,1 kV -4,5 kV 5 18,15% -25,9 kV -4,7 kV (p) Figura 4.35: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados na fase C (p) [20]. 84 (q) Figura 4.36: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos na fase C (q) [20]. (r) Figura 4.37: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos cortados na fase C (r) [20]. 85 (s) Figura 4.38: Resultados da sobreposição das correntes com a aplicação de impulsos plenos na fase C (s) [20]. Conforme a Tabela 4.13 indica, os picos das oscilações nos impulsos cortados na fase C não ultrapassaram os 25% do valor de pico máximo de tensão dos respectivos impulsos. As sobreposições das Figuras 4.35 e 4.36, mostram que o transformador apresenta condições de isolamento satisfatórias e de acordo com a norma ABNT NBR 5356-4 [18], podendo ser colocado em operação. 4.2 Isolador Os isoladores são equipamentos elétricos que foram desenvolvidos a partir da necessidade de transportar energia elétrica e dados a longas distâncias, através de linhas aéreas. Possuem duas principais finalidades, mecânica e elétrica. Assim, sustentam mecanicamente cabos e barramentos e isolam eletricamente o sistema, evitando a passagem de corrente do condutor nas linhas aéreas ao suporte (torres, postes . . . ) [21]. Podem ser feitos de diversos materiais, que são escolhidos de acordo com o ambiente e nı́vel de tensão do sistema que será aplicado. 86 Figura 4.39: Isolador polimérico de pino [3] As especificações do isolador ensaiado são mostrados na Tabela 4.14 e esse equipamento é mostrado na Figura 4.39. Tabela 4.14: Informações do isolador testado em laboratório Dados Material dielétrico Tensão nominal Nı́vel básico de Isolamento (NBI ou BIL) 4.2.1 polı́mero (polietileno) 15 kV 110 kV Descrição do ensaio com impulso atmosférico Antes de iniciar qualquer precedimento com o isolador, é necessário realizar a limpeza e secagem de qualquer partı́cula indesejada existente sobre a sua superfı́cie. O método up and down é utilizado na avaliação de ensaios de tensão disruptiva em isoladores poliméricos, feito conforme norma IEC 60383 [22]. O principal objetivo desse procedimento é determinar a tensão suportável para impulso atmosférico, calculada a partir da uma tensão com 50% de probabilidade de descarga disruptiva (conhecida como U50) e verificar a suportabilidade do isolador em relação aos transitórios provocados por uma descarga atmosférica. Pela norma, fica evidenciado que o ensaio deve ser executado na condição a seco. O método padrão consiste em identificar o NBI do equipamento que será testado e, em seguida, aplicar tensões maiores que o valor pesquisado, próximas ao U50 da tensão disruptiva, para gerar descargas elétricas. 87 Dois procedimentos são geralmente utilizados para a execução deste ensaio, são eles: verificação e determinação da tensão disruptiva. Essas duas etapas devem ser efetuadas para as polaridades positiva e negativa. Método de verificação - É a constatação da tensão suportável pré-estabelecida com vinte impulsos de tensão. São feitas aplicações em torno da tensão disruptiva estimada até ocorrer a falha na isolação do equipamento (perfuração do isolamento). Quando houver uma aplicação de tensão no isolador que resulte em uma disrupção elétrica no equipamento, seguida de uma aplicação de tensão que não resulte em descarga disruptiva, inicia-se a contagem dos vinte impulsos correspondentes a esse método. A partir do primeiro impulso contabilizado, verifica-se a existência de perfuração do isolamento ou não. Caso ocorra uma disrupção, o próximo impulso será aplicado com um valor 3% abaixo da tensão utilizada na verificação que ocorreu a descarga. Caso contrário, um valor 3% maior deve ser empregado. Em seguida, é feita uma média das vinte tensões medidas nas aplicações de impulsos, sendo esse valor multiplicado pelo desvio padrão considerado. O resultado encontrado deve ser corrigido de acordo com as condições atmosféricas do local de ensaio [4]. O valor final obtido é a tensão com 50% de probabilidade de ocorrência de disrupção (U50). Método de determinação - Determina se o isolamento do equipamento sob ensaio está adequado diante de um impulso atmosférico. Para isso, é necessário realizar quinze ensaios com o valor de U50 encontrado. O resultado é considerado satisfatório se não ocorrer a perfuração do isolamento mais de duas vezes. 4.2.2 Conexão no laboratório de alta tensão O arranjo de ensaio deve ser montado de forma parecida com a mencionada na seção 4.1.2 do transformador trifásico. O isolador de pino deve ser conectado em paralelo com o gerador, capacitor de frente e divisor de tensão e ser suspendido verticalmente, 88 conforme sua utilização prática, simulando sua existência numa torre de transmissão elétrica por exemplo (Figura 4.40). Com isso, o isolador é posicionado de acordo com a direção em que ocorreria uma descarga atmosférica. O pino do equipamento deve ser aterrado. A tensão deve ser aplicada em um condutor apoiado na parte superior do isolador, perpendicular à base aterrada (estrutura metálica onde o pino estará fixado). Nenhum outro equipamento ou objeto metálico devem estar próximo do isolador, para não comprometer o resultado do ensaio. Figura 4.40: Esquema para o circuito completo de ensaio do isolador sem chopping gap 89 4.2.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda A fim de obter uma onda padronizada de 1,2/50 µs, existe a necessidade de calcular os parâmetros que seriam utilizados no ensaio. Cálculo da resistência em série Utilizando novamente a Equação 2.19 e os valores da Tabela 4.15 para as capacitâncias, temos: Cs × (Cf + Cie + Cdt ) Cs + Cf + Cie + Cdt (4.11) 600 × 10−9 × (1 × 10−9 + 50 × 10−12 + 0) 600 × 10−9 + 1 × 10−9 + 50 × 10−12 + 0 (4.12) C= C= C = 1, 048 × 10−9 F (4.13) e a Equação 2.27: Tf 3, 25 × C (4.14) 1, 2 × 10−6 3, 25 × 1, 048 × 10−9 (4.15) Rs = 352, 26 Ω (4.16) Rs = Rs = Cálculo da resistência em paralelo Os valores para esses parâmetros encontram-se na Tabela 4.4. Determinação do número de estágios que serão utilizados no ensaio Seguindo o mesmo princı́pio da seção 4.1.3, temos que o valor estimado para U50 é 50% acima do NBI do isolador, sendo este próximo a 165 kV. Assim, a tensão média 90 utilizada, considerando quatro estágios, será em torno de: med Vest = 1, 5 × 110 × 103 = 41, 25 kV 4 (4.17) considerando que o gerador em questão possui um rendimento de aproximadamente 80%, temos: med Vest = 41, 25kV = 51, 56 kV 0, 8 (4.18) portanto, como 51,56 kV < 80 kV, temos que o limite máximo de uso ideal do gerador não será ultrapassado. Realizando o mesmo procedimento para a verificação da tensão mı́nima que será utilizada no gerador de impulsos e sabendo que a menor tensão aplicada no ensaio será 110 kV, que corresponde ao NBI, temos: min Vest 110 × 103 = = 27, 50 kV 4 min Vest = 27, 50 = 34, 38 kV 0, 8 (4.19) (4.20) como 34,38 kV > 18 kV, o limite inferior da faixa ideal de uso também será respeitado. Feitas essas verificações, optou-se por aplicar novamente tensão em quatro estágios do gerador. 4.2.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave De acordo com o que foi apresentado na seção 4.1.4, esta etapa destina-se a apresentar o resultado simulado do ensaio de ajuste da forma de onda (Figura 4.41), através dos conceitos teóricos vistos no Capı́tulo 2. A resistência em série foi obtida na Equação 4.16, a capacitância do isolador estimada e os outros parâmetros foram fornecidos no laboratório AT2. Os parâmetros utilizados nessa simulação encontram-se na Tabela 4.15. Esses dados foram aplicados a Equação 2.11 e plota- 91 dos como pode ser visualizado na Figura 4.41. Tabela 4.15: Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada Parâmetros aplicados na simulação Resistência série 352,26 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitância estimada do objeto de teste 50 pF Capacitância do gerador por estágio 600 nF Capacitor de frente 1 nF Capacitância em paralelo equivalente 1,05 nF Tensão aplicada 18 kV Figura 4.41: Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no isolador polimérico [6] A Tabela 4.16 mostra os dados encontrados para tempo de frente e de cauda obtidos no impulso da Figura 4.41. Com isso, nota-se que é possı́vel utilizar os parâmetros considerados no ensaio em laboratório, pelo motivo da simulação apresentada nessa seção possuir os resultados dentro do intervalo de valores estipulados nas tolerâncias da Tabela 3.2. 92 Tabela 4.16: Parâmetros medidos na onda simulada 4.2.5 Tempo de frente Tempo de cauda 1,102 µs 49,18 µs Resultados Feitas todas as etapas descritas anteriormente e utilizando os parâmetros de ensaio descritos na Tabela 4.17, os resultados obtidos serão mostrados a seguir. Tabela 4.17: Parâmetros aplicados no circuito de ensaio Parâmetros Resistência série externa 350 Ω Resistência série interna 15 Ω Resistência em paralelo 1 31 kΩ Resistência em paralelo 2 6 kΩ Resistência em paralelo 3 115 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitor de frente 1 nF Capacitância estimada do objeto de teste 50 pF Número de estágios do gerador 4 Etapa da verificação - Polaridade Positiva É aplicado um valor em torno da tensão disruptiva de U50 estimada, sendo este próximo a 165 kV. Com isso, a tensão aplicada em cada estágio do gerador deverá estar entre os resultados encontrados nas Equações 4.20 e 4.18. O resultado é mostrado na Tabela 4.18. Sendo: Vest - Tensão por estágio aplicada ao gerador de impulsos; med Vtot - Tensão total medida no ensaio; S - Indica que isolamento do equipamento suportou a aplicação do impulso; 93 Tabela 4.18: Resultado da etapa de verificação com polaridade positiva Contagem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Vest [kV] 35,0 36,1 37,2 38,3 39,5 40,7 41,9 43,2 44,5 50,0 51,5 53,0 51,5 53,0 54,6 53,0 51,5 50,0 51,5 50,0 51,5 50,0 51,5 53,0 51,5 53,0 51,5 53,0 51,5 53,0 51,5 med [kV] Vtot 115,9 119,1 122,7 126,7 130,2 134,4 138,3 142,5 146,4 164,2 169,4 173,9 169,3 173,9 179,3 173,9 168,6 164,0 168,9 164,0 168,9 164,2 169,0 173,8 169,0 173,8 168,9 173,8 168,9 173,6 168,8 Suportabilidade S S S S S S S S S S S X S S X X X S X S X S S X S X S X S X X tcorte [µs] 7,08 4,96 8,60 5,36 4,84 4,66 5,68 4,76 4,76 6,14 7,02 X - Indica que isolamento do equipamento não suportou o impulso, com isso houve uma disrupção elétrica; tcorte - Tempo que ocorreu o corte na forma de onda quando houve a descarga disruptiva; σ - Desvio padrão - Mostra a variação em relação a média. 94 Com os dados obtidos na Tabela 4.18, verificou-se que a tensão média dos vinte impulsos contabilizados é de: x̄ = 170, 43 kV A norma IEC 60383-2 [22] determina que a média encontrada deve ser multiplicada pelo desvio padrão. Este é definido como: σ = 1 − (1, 3 × δ) sendo δ = 0, 03 para impulso atmosférico. Assim, o desvio padrão é igual a σ = 0, 96. Multiplicando a média com este valor, temos: x̄ = 170, 43 kV × 0, 96 = 163, 61 kV É necessário corrigir a tensão encontrada de acordo com as condições atmosféricas do laboratório, conforme NBR IEC 60060-1 [4]. Esse procedimento é importante pelo fato da descarga disruptiva do isolamento externo do isolador depender dessas condições. Ele é feito apenas nos casos em que a umidade relativa do ar é inferior a 80%. Utilizando os valores de referência (Tabela 4.19) descritos na norma NBR IEC 60060-1 [4], é possı́vel converter os parâmetros obtidos nas condições do ensaio realizado (Tabela 4.20) e determinar a tensão U50. Tabela 4.19: Valores obtidos na norma [4] para a realização da correção atmosférica Valores de referência Pressão atmosférica - po 1013 hPa Temperatura - to 20 ◦ C Umidade absoluta - ho 11 g/m3 Tabela 4.20: Valores obtidos durante a execução do ensaio Valores medidos Pressão atmosférica - p 101,4 kPa Temperatura - t 20, 7 ◦ C Umidade relativa 75,5 % L 0,55 m 95 Sendo L a menor distância percorrida pelo arco elétrico. Feita a correção atmosférica na média igual a 163,61 kV, temos que a tensão com 50% de probabilidade de ocorrência de disrupção é: U 50 = 162, 51 kV Etapa da verificação - Polaridade Negativa As aplicações são feitas com a mesma faixa de tensão da etapa de verificação descrita anteriormente, mas com a polaridade negativa (Tabela 4.21). Tabela 4.21: Resultado da etapa de verificação com polaridade negativa Contagem 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Vest [kV] -53,0 -51,5 -50,0 -48,5 -47,1 -48,5 -47,1 -48,5 -47,1 -48,5 -47,1 -48,5 -47,1 -48,5 -50,0 -48,5 -47,1 -48,5 -47,1 -45,8 -47,1 -48,5 -50,0 med [kV] Vtot -173,9 -169,5 -164,6 -159,8 -155,2 -159,8 -155,0 -159,8 -154,8 -159,8 -154,8 -159,5 -155,2 -155,1 -164,5 -159,6 -155,0 -159,5 -155,1 -155,1 -155,0 -159,6 -164,4 Suportabilidade X X X X S X S X S X S X S S X X S X X S S S S tcorte [µs] 3,74 4,84 5,12 6,04 6,8 5,12 5,48 5,78 5,16 6,94 6,28 8,70 - A tensão média dos vinte impulsos realizados com a polaridade negativa, é igual a: x̄ = −157, 83 kV Multiplicando a média pelo mesmo desvio padrão encontrado na etapa de verificação 96 da polaridade positiva, temos: x̄ = −157, 83 kV × 0, 96 = −151, 52 kV Considerando os mesmos valores das Tabelas 4.19 e 4.20, foi feita a correção atmosférica de acordo com NBR IEC 60060-1 [4]. Dessa forma, é possı́vel encontrar U50 corrigida, que é a tensão a ser utilizada na próxima etapa do ensaio: U 50 = −150, 69 kV Etapa da Determinação - Polaridade Positiva Nesse procedimento, aplicam-se quinze impulsos no isolador, com o valor U50 encontrado na etapa de verificação com polaridade positiva (Tabela 4.22). O valor utilizado para o rendimento deve ser o mais próximo do real possı́vel, podendo ser obtido através do programa GC 257, que controla o gerador de impulsos. Como o rendimento observado no software mudou de 0,8 para 0,824, a tensão aplicada por estágio teve que ser recalculada, ficando em torno de: Vest 162, 51 × 103 40, 63 = = 40, 63 → Vest = = 49, 3 kV 4 0, 824 97 Tabela 4.22: Resultado da etapa de determinação com polaridade positiva Contagem Vest [kV] med [kV] Vtot Suportabilidade tcorte [µs] 1 49,3 161,7 S - 2 49,3 161,5 S - 3 49,3 161,5 S - 4 49,3 161,6 S - 5 49,3 161,5 S - 6 49,3 161,5 S - 7 49,3 161,5 S - 8 49,3 161,5 S - 9 49,3 161,6 S - 10 49,3 161,5 S - 11 49,3 161,5 X 5,54 12 49,3 161,4 X 8,96 13 49,3 161,7 S - 14 49,3 162,0 S - 15 49,3 161,5 S - Para o equipamento ser aprovado nesse ensaio, é necessário que não ocorra descarga disruptiva mais de duas vezes na etapa de determinação (Tabela 4.22), durante a aplicação da tensão U50 encontrada. Como não ocorreu disrupção em mais de duas aplicações da tensão U50, o isolador foi aprovado no ensaio com a polaridade positiva, por apresentar condições de isolamento satisfatórias. Etapa da Determinação - Polaridade Negativa Aplicam-se quinze impulsos com o valor U50 encontrado na etapa de verificação de polaridade negativa, para avaliar as condições de isolamento (Tabela 4.23). Foi observado novamente o rendimento de 0,824 no gerador de impulsos, visto na etapa de determinação com polaridade positiva. Assim, é necessário determinar a tensão 98 aplicada novamente: Vest = −37, 67 −150, 69 × 103 = −37, 67 → Vest = = −45, 7 kV 4 0, 824 Tabela 4.23: Resultado da etapa de determinação com polaridade negativa Contagem Vest [kV] med [kV] Vtot Suportabilidade tcorte [µs] 1 -45,7 -150,3 S - 2 -45,7 -150,6 S - 3 -45,7 -150,6 S - 4 -45,7 -150,2 S - 5 -45,7 -150,6 S - 6 -45,7 -150,4 S - 7 -45,7 -150,6 S - 8 -45,7 -150,6 S - 9 -45,7 -150,6 S - 10 -45,7 -150,6 S - 11 -45,7 -150,6 S - 12 -45,7 -150,6 S - 13 -45,7 -150,6 S - 14 -45,7 -150,6 S - 15 -45,7 -150,6 S - O isolador apresentou novamente resultados satisfatórios com a polaridade negativa de tensão. Este equipamento apresenta condições de isolamento conforme a norma IEC 60383-2 [22], podendo ser exposto à elevados nı́veis de tensão, visto que não ocorreu descarga disruptiva mais que duas vezes na etapa de determinação da polaridade negativa também. 99 4.3 Transformador de Corrente - TC Os transformadores de corrente são equipamentos que reduzem elavados nı́veis de corrente para valores proporcionais e que se adaptem aos instrumentos de medição, tendo em vista a dificuldade destes em medir diretamente as grandezas de um sistema de potência [23]. O TC ensaiado possui as caracterı́sticas descritas na Tabela 4.24 e na Figura 4.42 esse equipamento é mostrado. Tabela 4.24: Informações nominais da placa do transformador de corrente testado em laboratório Dados de placa Material isolante Epóxi Tensão nominal 15 kV Nı́vel básico de Isolamento (NBI ou BIL) 95 kV ou 110 kV Figura 4.42: Transformador de Corrente [3] 4.3.1 Descrição do ensaio com impulso atmosférico Esse ensaio foi realizado conforme norma ABNT NBR 6856 [24], sendo conhecido também como ensaio dielétrico. 100 Ajuste da forma de onda Antes de realizar o ensaio de tensão suportável de impulso atmosférico no TC, é necessário ajustar a forma de onda do equipamento da mesma maneira como a mencionada na seção 4.1.1. Ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico Em seguida, é feito o ensaio dielétrico, cujo o objetivo é testar o isolamento do transformador de corrente para a tensão de impulso atmosférico. Como esse TC possui classe de tensão de 15 kV, segundo a norma ABNT NBR 6856 [24], seu NBI é de 95 kV. O TC deve ser capaz de suportar o ensaio com tensão de impulso atmosférico, com a onda normalizada de 1,2/50 µs, sem que ocorram descargas disruptivas e sem que haja comprovação de alguma falha no equipamento. Para a execução desse ensaio, deve-se utilizar tensão com polaridade positiva, pelo fato do TC possuir isolação seca, com epóxi. Devem-se aplicar cinco impulsos dos seguintes tipos e na respectiva ordem: Um impulso pleno reduzido - deve possuir amplitude entre 50% e 70% do valor de crista do impulso pleno com valor especificado. Nesse caso, utilizou-se 70% de 95 kV, sendo igual a 66,5 kV. Dois impulsos cortados na cauda - devem possuir amplitudes 10% maiores que o valor de crista do impulso pleno especificado e tempo de corte da onda compreendido entre 2 µs e 6 µs. Utilizou-se o valor de 104,5 kV para a crista do impulso. Um impulso pleno com valor especificado - devem possuir valores de pico de 95 kV ou 110 kV, conforme a norma. Nesse procedimento, utilizou-se 95 kV. Um impulso pleno reduzido - Aplica-se tensão de pico igual a 66,5 kV. 101 4.3.2 Conexão no laboratório de alta tensão O circuito de ensaio é montado de maneira parecida o arranjo da Seção 4.1.2, com o TC conectado em paralelo com o gerador, capacitor de frente e divisor de tensão. O lado de alta tensão do TC deve ser curto-circuitado e aplicada a tensão originada do gerador de impulsos, enquanto que o lado de baixa e a carcaça do equipamento devem ser curto-circuitados e conectados ao terra (Figura 4.43). O arranjo do circuito completo montado em laboratório, deve ser equivalente ao da Figura 4.4. Figura 4.43: Ligação do TC em laboratório 4.3.3 Cálculos preliminares para o ajuste da forma de onda Para definir, novamente, os resistores que foram utilizados na execução do ensaio de ajuste e obter a forma de onda padronizada 1,2/50 µs, temos: Cálculo da resistência em série Utilizando a Equações 2.19 e os valores da Tabela 4.25, temos que: C= 600 × 10−9 × (1 × 10−9 + 800 × 10−12 + 0) 600 × 10−9 + 1 × 10−9 + 800 × 10−12 + 0 C = 1, 795 × 10−9 F 102 (4.21) (4.22) E a Equação 2.27: Rs = 1, 2 × 10−6 3, 25 × 1, 795 × 10−9 (4.23) Rs = 205, 74 Ω (4.24) Cálculo da resistência em paralelo As resistências em paralelo são as mesmas da Tabela 4.4. Determinação do número de estágios que serão utilizados no ensaio Considerando os mesmos princı́pios adotados na seção 4.1.3, pois as tensões máxima e mı́nima utilizadas são as mesmas que no caso do transformador trifásico, optou-se por aplicar tensão em quatro estágios do gerador, como feito nos ensaios anteriores. 4.3.4 Simulação do ensaio de ajuste no Matlab ou Octave Novamente, como na Seção 4.1.4, serão apresentados nesse segmento os resultados obtidos com a simulação do ensaio de ajuste de forma de onda proposto (Figura 4.44 e Tabela 4.26). O valor ôhmico para resistência série foi calculado na seção anterior, a capacitância do objeto de teste estimada e os valores para capacitância de frente, capacitância do gerador de impulsos e resistência em paralelo foram dados no laboratório AT2 (Tabela 4.25). 103 Tabela 4.25: Parâmetros calculados utilizados para a obtenção da forma de onda simulada Parâmetros aplicados na simulação Resistência série 205,74 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitância estimada do objeto de teste 800 pF Capacitância do gerador por estágio 600 nF Capacitor de frente 1 nF Capacitância em paralelo equivalente 1,8 nF Tensão aplicada 18 kV Figura 4.44: Simulação da forma de onda esperada com aplicação de tensão no transformador de corrente [6] Tabela 4.26: Parâmetros medidos na onda simulada Tempo de frente Tempo de cauda 1,022 µs 49,23 µs A partir desses resultados, observa-se que os valores utilizados para resistências 104 e capacitores estão adequados e que o impulso de tensão visto na simulação apresenta um comportamento satisfatório e de acordo com o esperado, respeitando as tolerâncias da Tabela 3.2. Assim, é possı́vel seguir para a etapa de realização de teste reais. 4.3.5 Resultados Os parâmetros utilizados no ensaio feito em laboratório são mencionados na Tabela 4.27. Tabela 4.27: Parâmetros aplicados no circuito de ensaio Parâmetros Resistência série externa 200 Ω Resistência série interna 15 Ω Resistência em paralelo 1 31 kΩ Resistência em paralelo 2 6 kΩ Resistência em paralelo 3 115 Ω Resistência em paralelo equivalente 112,43 Ω Capacitor de frente 1 nF Capacitância estimada do objeto de teste 800 pF Número de estágios do gerador 4 Resultados do ensaio de ajuste da forma de onda - TC Aplicando uma tensão reduzida de 18 kV para ajustar a forma de onda do TC, os resultados da Tabela 4.28 são obtidos. Tabela 4.28: Medições feitas no ensaio de ajuste de onda no TC Tensão aplicada Tempo de frente Tempo de cauda Tensão no equipamento 18 kV 1,42 µs 42,60 µs 59,9 kV 105 Resultados do ensaio de tensão suportável nominal de impulso atmosférico - TC 1. Considerando a utilização de quatro estágios e rendimento de 80% do gerador, temos que a tensão por estágio, utilizada para cada tipo de impulso, será igual a: (a) Para impulso pleno reduzido: Vest = 0, 7 × 95kV = 16, 6 kV 4 Vest = 16, 6kV ≈ 20 kV 0, 8 (b) Para impulso pleno com valor especificado: Vest = 95kV = 23, 75 kV 4 Vest = 23, 75kV = 29, 68 kV 0, 8 Vest = 104, 5kV = 26, 12 kV 4 Vest = 26, 12kV = 32, 66 kV 0, 8 (c) Para impulso cortado: 2. Com os cálculos: Vosc = Vosc = max Vtotal ×η 268 × 20 104, 5 × 0, 8 = 15, 6 kV 5360 No osciloscópio, optou-se por utilizar o valor de 5 V /div como escala de tensão. Para impulsos plenos a escala de tempo utilizada foi de 10 µs/div e, para os cortados, de 1 µs/div. Feitas essas considerações, os resultados da Tabela 4.29 foram obtidos. 106 Tabela 4.29: Medições feitas no ensaio de impulso atmosférico no TC Aplicação Tipo de impulso Tensão por estágio Tensão total medida Tempo de corte 1 Pleno reduzido 20 kV 66,07 kV - 2 Cortado 31,4 kV 103,20 kV 5,18 µs 3 Cortado 31,4 kV 103,20 kV 5,18 µs 4 Pleno especificado 28,5 kV 93,84 kV - 5 Pleno reduzido 20 kV 65,97 kV - Sendo os resultados gráficos iguais a: (a) (b) Figura 4.45: Resultados do impulso de tensão com a aplicação 1 (a) e aplicação 2 (b) no TC [20]. 107 (c) (d) Figura 4.46: Resultados do impulso de tensão com a aplicação 3 (c) e aplicação 4 (d) no TC [20]. (e) Figura 4.47: Resultado do impulso de tensão com a aplicação 5 (e) no TC [20]. 108 Tabela 4.30: Verificação da porcentagem das oscilações dos impulsos de tensão cortados das Figuras 4.45 e 4.46 Aplicação Porcentagem de oscilação Tensão máxima Tensão de pico da oscilação 2 19,78% 25,34 kV 5,02 kV 3 20,33% 25,34 kV 5,16 kV Como no ensaio de tensão suportável no transformador trifásico, o pico da primeira oscilação que ocorre depois do corte na onda, nos impulsos cortados na cauda, não podem ultrapassar 25% do valor de amplitude máxima de tensão, conforme a norma ABNT NBR 6856 [24]. Com a Tabela 4.30, constata-se que os picos das oscilações desses impulsos, no TC, não ultrapassaram esse valor de 25% de cada amplitude máxima. Assim, os resultados são válidos pela norma ABNT NBR 6856 [24]. (f) Figura 4.48: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão cortados no TC (f) [20]. 109 (g) Figura 4.49: Resultados da sobreposição dos impulsos de tensão plenos no TC (g) [20]. Feita a superposição das Figuras 4.48 e 4.49, o comportamento do TC em relação ao impulso atmosférico é analisado. Como as ondas cortadas e plenas coincidem, há a confirmação de que o isolamento do TC suportou de forma adequada aos impulsos de tensão, de acordo com a norma ABNT NBR 6856 [24]. 110 Capı́tulo 5 Conclusão Este trabalho consolida os aspectos elétricos e construtivos do gerador de impulsos, que possui a principal aplicação na verificação das condições de suportabilidade do isolamento dos equipamentos elétricos de alta tensão, quando submetidos a esforços dielétricos padronizados, de acordo com a norma ABNT NBR IEC 60060-1 [4]. Dessa maneira, são importantes nas pesquisas e desenvolvimento de novos equipamentos e suas caracterı́sticas isolantes, como também no estudo dos eventos transitórios relacionados às altas tensões. Esses transitórios originam diferentes tipos de sobretensões na rede de transmissão, sendo os impulsos de tensão atmosférica e de manobra descritos nesse projeto. A diferença predominante entre esses dois impulsos consiste no comportamento da forma de onda de cada um, considerando o seu tempo de duração e taxa de decaimento, seguido da distinção dos meios de origem, se foi produzido no ambiente externo ou interno do sistema considerado. Através dos conceitos apresentados, são exibidos os procedimentos e resultados referentes a realização de três ensaios elétricos. Os equipamentos ensaiados: transformador trifásico, isolador e transformador de corrente, apresentam desempenhos satisfatórios em relação ao isolamento e de acordo com as normas ABNT NBR 5356-4, IEC 60383-2 e ABNT NBR 6856, respectivamente. Com a elaboração deste trabalho é possı́vel concluir que o objetivo inicial de realizar um estudo sobre as caracterı́sticas fı́sicas e elétricas de um gerador de im111 pulsos, sobre os fenômenos transitórios que podem causar falhas no isolamentos de equipamentos e de executar ensaios elétricos para verificação da suportabilidade de alguns elementos de uma rede de transmissão de energia foi alcançado, visto que nos Capı́tulos 2 e 3 cada um desses conceitos foram abortados, mencionando com clareza todos os pontos observados e relevantes para o entendimento de todo o precesso experimental mostrado no Capı́tulo 4, com a finalidade de promover um embasamento para compreensão de todos os ensaios para o leitor. Os ensaios realizados são praticados no Cepel com frequência, mostrando a aplicação prática de muitos conceitos vistos na universidade e a necessidade de ajudar outras empresas na análise do comportamento de seus equipamentos sob impulsos atmosféricos. Outra caracterı́stica desse projeto é promover o auxı́lio na realização de próximos ensaios em equipamentos elétricos envolvendo a utilização do gerador de impulsos e conciliar todos os dados considerados nesta prática, por possuir um elevado detalhamento dos procedimentos realizados nos três equipamentos elétricos especı́ficos, mostrar os resultados obtidos juntamente com os critérios para análise do isolamento e evidenciar as condições básicas necessárias para a efetuação de qualquer ensaio. Este trabalho proporciona também um grande aprendizado sobre: as técnicas aplicadas em laboratórios para realização de testes em alta tensão, montagem de circuitos envolvendo diferentes equipamentos, interpretação e aplicação de normas técnicas atuais, controle da aplicação de tensão no gerador de impulso com o uso do software GC 257 Impulse, cálculo das resistências série e paralelo do gerador para a obtenção de formas de onda padronizadas, utilização dos parâmetros calculados considerando os componentes resistivos disponı́veis em laboratório e métodos de proteção pessoal na realização de ensaios em alta tensão. Para trabalhos futuros, indica-se o estudo de ensaios em outros equipamentos, como transformador de potencial e isoladores compostos de diferentes materiais, e a implementação de um método computacional que facilite a aquisição e tratamento de dados em laboratório. 112 Referências Bibliográficas [1] NEMÉSIO, J. S. Manutenção de instalações e equipamentos elétricos, 2013. 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[24] ABNT NBR 6856 - Transformador de corrente, . ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. [25] A prática de ensaio de impulso - Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, . LEE - 07/82. [26] SCHAEFER, J. C. Ensaios de impulso atmosférico e de manobra. 114 [27] DE MELLO, D. R. Técnicas de ensaio em alta tensão, 2013. Apostila de treinamento - CEPEL. 115 Apêndice A Dados da simulação Figura A.1: Programa para obtenção da onda simulada 116 Figura A.2: Programa para obtenção do tempo de frente - Parte 1 Figura A.3: Programa para obtenção do tempo de frente - Parte 2 117 Figura A.4: Programa para obtenção do tempo de descida Figura A.5: Programa para obtenção do percentual de oscilação dos impulsos cortados 118