Materiais de apoio para Fı́sica IV Prof. MSc Antonio Morais 2 Sumário 1 Carga elétrica e indução eletrostática 1.1 Carga Elétrica: Um pouco da História do Eletromagnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.1.1 1.1.2 5 5 Uma pequena cronologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 Carga Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.1.3 Princı́pio de conservação da carga elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 1.2 Eletrização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2 Lei de Coulomb 13 2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.1.1 2.1.2 Exercı́cios resolvidos Halliday & Resnick . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 Exercı́cios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 2.2 Pintura Eletrostática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 2.3 Série triboelétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 3 Campo Elétrico 17 3.1 Distribuição discreta de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 3.1.1 Linhas de campo elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 3.1.2 3.1.3 Exercı́cios resolvidos Halliday & Resnick . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 Exercı́cios campo elétrico discreto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2 Distribuição contı́nua de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2.1 Campo de um anel carregado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 3.2.2 3.2.3 Campo de um disco uniformemente carregado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 Campo de duas placas infinitas carregadas com cargas opostas . . . . . . . . . . . . . . 21 3.2.4 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 3.3 Para-raios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 4 Fluxos e integrais de linha 25 4.1 Fluxo de um campo vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.1.1 Fluxo numa superfı́cie fechada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 4.2 Integral de linha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4.3 Integral de superfı́cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 4.4 Lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.4.1 Exemplos de aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 4.4.2 Exercı́cios lei de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 5 Potencial elétrico 31 5.1 Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 5.1.1 Exercı́cios resolvidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 3 4 Capı́tulo 1 Carga elétrica e indução eletrostática 1.1 Carga Elétrica: Um pouco da nha inglesa Elisabeth I, que publicou um tratado sistemático e crı́tico, De Magnete, sobre o que se sabia, História do Eletromagnetismo até então, sobre magnetismo e eletricidade. 1.1.1 Uma pequena cronologia Na antiguidade, encontramos a primeira citação sobre fenômenos de natureza eletromagnética, com Tales de Mileto1 , que realizou algumas observações elementares sobre eletrização ao friccionar o âmbar (uma resina fossilizada de pinheiros pré-históricos) com uma pele de animal: o âmbar (elèktron, em grego), adquiria o poder de atrair pequenos objetos próximos, como grãos de poeira, por exemplo. Tales também relata as propriedades de atração e repulsão entre pedaços de um óxido de ferro, chamado Figura 1.1.1: Capa da edição de 1628 do De Magnete de magnetita (Fe3 SO4 , cujo nome deriva provavelmente da região de origem do material - Magnésia - na Ásia Menor). Incluindo experimentos seus, em eletricidade rela- tou que outras substâncias gozavam da propriedade Aproximadamente no século II ocorre a invenção do âmbar depois de friccionadas por peles ou techinesa da bússola, introduzida na Europa por volta cidos, denominando-as de elétricas, ou seja, que do século XIII. podiam ser eletrizadas como o âmbar. Exemplos: Jérôme Cardan (1501-1576), filósofo, matemático enxôfre, vidro, seda, etc.. Observou que metais e médico italiano, foi o primeiro a tratar dos não podiam ser eletrizados por fricção, chamandofenômenos observados por Tales, explicando clara- os de não-eletrizáveis. Além disso, diferenciou os mente em que diferiam as atrações do âmbar e da fenômenos elétricos dos magnéticos, criando a exmagnetita. Depois dele, em 1600, surge o traba- pressão vis electrica (força elétrica). lho de William Gilbert (1540-1603), médico da rai- No magnetismo, traçou a forma das linhas de Jal¨ å Mil sv io indução magnética aproximando uma pequena agulha de uma bússola de esferas de ferro magnetiza- 1 Tales de Mileto (em grego antigo ) foi o primeiro filósofo ocidental de que se tem notı́cia. Ele é o marco inicial da filosofia ocidental. De ascendência fenı́cia, nasceu em Mileto, antiga colônia grega, na Ásia Menor, atual Turquia, por volta de 624 ou 625 a.C. e faleceu aproximadamente em 556 ou 558 a.C.. Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerava a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguidores, embora discordassem quanto à “substância primordial” (que constituı́a a essência do universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um “princı́pio único” para essa natureza primordial. Entre os principais discı́pulos de Tales de Mileto merecem destaque: Anaxı́menes que dizia ser o ”ar” a substância primária; e Anaximandro, para quem os mundos eram infinitos em sua perpétua inter-relação. das, demonstrando a analogia da ação da terra sobre a bússola. Além disso, mostrou a impossibilidade de se obter um pólo magnético isolado partindose um imã em duas partes. A situação não se alterou muito com os estudos de Otto von Guericke (1602-1686), fı́sico alemão, que notou a repulsão de partı́culas de mesma carga, e construiu a primeira máquina eletrostática para eletrizar um corpo, o ge5 rador eletrostático2 . via sido peculiar ao âmbar ou a um pequeno grupo Observou também o poder das pontas nos corpos de substâncias ditas elétricas. eletrizados bem como que a chama de uma vela po- Suspendendo a si mesmo por fios de seda, consdia deseletrizar um corpo metálico carregado. Des- tatou que, quando era eletrizado e outra pessoa se cobriu a indução elétrica, uma maneira de eletri- aproximasse bastante, ocorriam pequenas descargas zar um corpo sem qualquer contato com ele. Uma elétricas e estalidos e no escuro viam-se centelhas. de suas mais importantes descobertas foi a de que Notou também que todos os objetos eletrizados por meio de um mesmo bastão de vidro, repeliam-se mutuamente, mas atraiam objetos que haviam sido ele- substâncias eletrizadas, além da atração, podiam sofrer repulsão. Entretanto não conseguiu explicar como uma bola carregada podia eletrizar outra por trizados por meio de âmbar. Concluiu, então, que contato, ou seja, a condução ou transmissão da ele- deveriam haver dois tipos de eletricidade, que denominou vı́trea e resinosa. Isto constituiu a teoria dos tricidade. Os investigadores do século XVII e inı́cio do século dois fluidos elétricos. De acordo com Du Fay, os cor- XVIII tinham não mãos uma séria bastante caótica de observações sobre eletrização por atrito, formação pos neutros continham a mesma quantidade do dois fluidos. de centelhas e efeitos da umidade atmosférica, que foram incapazes de explicar devido a falta de con- A etapa seguinte mostra a tentativa de armazenar, de alguma forma, o fluido elétrico. Em 1745, Em outu- ceitos eletrostáticos fundamentais. Apesar disto, bro de 1745, Ewald Georg von Kleist, descobriu que um considerável número de importantes observações uma carga poderia ser armazenada, conectando um gerador de alta tensão eletrostática por um fio a uma qualitativas surgiu neste perı́odo. Em 1731, o inglês Stephen Gray (1679-1736) demons- jarra de vidro com água, que estava em sua mão. A mão de Von Kleist e a água agiram como condutores, e a jarra como um dielétrico (mas os detalhes do me- trou claramente a condução elétrica nos corpos, que classificou de condutores e não-condutores (isolantes, ou como chamamos vais frequentemente hoje canismo não forram identificados corretamente no dielétricos). Lançou a idéia de associar a eletricidade momento). A idéia começou por usar uma garrafa a um fluı́do elétrico, universal e imponderável, capaz de vidro tapada com uma tampa de cortiça com um de depositar-se entre os poros e interstı́cios dos corpos prego atravessado. Pôs o prego em contato com um gerador eletrostático e, segurando a garrafa com uma materiais. Em 1759 Franz Ulrich Theodor Äpinus (1724-1802) mão e tocando no prego com a outra, levou um chomostrou a existência de todos os graus de transição que considerável, bem mais intenso do que aqueles entre os condutores e os não-condutores. Eles fi- que se sentia em contato com corpos comuns eletrizeram as primeiras observações da influência exer- zados. Repetindo a experiência com a garrafa cheia de água, Von Kleist descobriu, após a remoção do gerador, ao tocar o fio, o resultado era um doloroso cida por corpos carregados em condutores isolados. Charles Du Fay (1698-1739), tornou-se correspondente de Gray. Realizou suas próprias choque. Cunhou, então, o termo condensador para a garrafa, o primeiro capacitor construı́do. observações de caráter cientı́fico, deixando de lado as interpretações metafı́sicas e o sensacionalismo Em uma carta descrevendo o experimento, ele disse: das exibições nas cortes. Chegou à conclusão de que ”Eu não levaria um segundo choque pelo reino de todos os corpos são eletrizáveis, ou seja, de que toda França”. No ano seguinte, na Universidade de Leia matéria possui a propriedade que por séculos ha- den, o fı́sico holandês Pieter van Musschenbroek inventou um capacitor similar, que foi nomeado de 2 São dispositivos mecânicos que produzem eletricidade estática. Normalmente desenvolvem tensões altı́ssimas com baixa amperagem. O conhecimento da eletricidade estática, remonta ao inı́cio das civilizações, onde era mistificada e sem explicações para seu comportamento, também era muitas vezes confundida com o magnetismo. Até o final do século 17, os pesquisadores tinham desenvolvido meios práticos para a geração de eletricidade por atrito, mas o desenvolvimento das máquinas eletrostáticas não teve inı́cio em bom ritmo até o século 18, quando se tornaram instrumentos fundamentais nos estudos sobre a nova ciência da eletricidade. Máquinas Eletrostáticas operam manualmente (ou de outras formas), e transformam a energia mecânica em energia eletrostática. garrafa de Leyden, e cujo relato da descoberta fora lido na Academia Francesa de Ciências, enquanto as observações de Kleist foram apenas enviadas a um amigo em Berlin. Assim, o mérito da descoberta acabou ficando com o holandês, e o condensador ficou conhecido como garrafa de Leyden. A elucidação do fenômeno da garrafa de Leyden ocupou não só Äpinus, como também a Benjamin 6 Franklin (1707-1790). Norte-americano, interessou- elétricas foram mais tarde desenvolvidas. Durante o se pela eletricidade após uma demonstração pública século XVIII, apenas uma descoberta sobre o mag- em Boston, em 1746. Entre 1747 e 1754, Franklin realizou uma série de experimentos, num dos quais netismo foi feita. Tão prematura quanto a descoberta de Wilcke, em 1778 Anton Brugmans(1732- descobriu que na garrafa de Leyden, o arame que sai 1789) descobriu o diamagnetismo, quando observou da garrafa possui eletricidade contrária à do vidro da que o bismuto era repelido por um imã. garrafa. Elaborou sua própria teoria para a eletricidade, contrária à então aceita teoria dos dois fluidos elétricos de Du Fay. Aproximadamente no século II ocorre a invenção chinesa da bússola, introduzida na Europa por volta do século XIII. Para ele, havia apenas um fluido elétrico, o qual todo o corpo não-eletrizado conteria em certa quantidade, e que era um elemento comum a todos eles. Se um corpo o possuı́sse em excesso, era chamado de positivo. Se o possuı́sse de menos, era negativo, as- Figura 1.1.2: Eletróforo de Volta sim chamou de positiva para a vı́trea e negativa a re- sinosa. Esta foi a teoria do fluido único, e não foi bem Em 1785, Charles Augustin de Coulomb4 realizou exrecebida pela comunidade cientı́fica da da época. periências com uma balança de torção e enunciou a Em 1759 foi definitivamente rejeitada, com base exfamosa lei que hoje leva seu nome: perimental, pelo inglês Robert Symmer. Entretanto, ”a força entre duas cargas é diretamente proporcia teoria do fluido único teve o mérito de introduzir onal a carga em cada uma delas e inversamente ao o conceito da conservação do fluido elétrico. Ouquadrado da distância que as separa” tro mérito de Franklin foi o de estabelecer a natureza Em 1786, Coulomb relatou que um condutor elétrica dos relâmpagos (1752), com a invenção do também blinda seu interior (ele desconhecia os pára-raios, ao empinar uma pandorga durante uma relatos de Cavendish), e viu nisto também uma tempestade. Em conexão com os dois tipos de eletriindicação para a lei de força enunciada. Entretanto, cidade estabelecidas por Franklin, em 1758 Johann esta parte do relato foi tão completamente esqueCarl Wilcke (1732-1796) descobriu a polarização dos cida, que o efeito de blindagem hoje está ligado ao dielétricos. nome da Faraday. Um médico italiano, Luigi Galvani A força entre partı́culas carregadas começou a ser (1737-1798), por volta de 1770 começou a investiestabelecida em meados do século XVIII. Começou gar a natureza e os efeitos da eletricidade em tecidos com a suspeita de uma relação com a lei da animais e na estimulação da musculatura por meios gravitação de Newton. elétricos. Em 1792 foi capaz de contrair os músculos Em 1767 Joseph Priestley (1733-1804) encontrou de uma perna de rã pela simples aplicação a eles de forte evidência disto na descoberta sua e de seus uma espira 5 constituı́da de dois metais diferentes. amigos, entre eles Henry Cavendish (1731-1810), de que a carga de um condutor fica inteiramente em sua e então o disco metálico é afastado da ”torta” carregada, através de seu cabo isolante, permanecendo, desta maneira, carregado de eletricidade. O funcionamento do eletróforo é baseado, portanto, no princı́pio da indução eletrostática. 4 Charles Augustin de Coulomb (Angoulême, 14 de junho de 1736 — Paris, 23 de agosto de 1806) . Em sua homenagem, deuse seu nome à unidade de carga elétrica, o coulomb. Publicou 7 tratados sobre a Eletricidade e Magnetismo, e outros sobre os fenômenos de torção, e atrito entre sólidos. Experimentador genial e rigoroso, realizou a experiência com uma balança de torção para determinar a força exercida entre duas cargas elétricas (Lei de Coulomb). Durante os últimos quatro anos da sua vida, foi inspetor geral do Ensino Público e teve um papel importante no sistema educativo da sua época. 5 O termo espira, do grego speira ao latim spira, que significa algo que se enrola, pode ser atribuı́do a diversas aplicações onde esse enrolamento se observa. Em sentido lato designa cada uma das voltas que formam uma helicoidal e que se observam em diversos objectos como parafusos, roscas, etc. Em eletromagne- superfı́cie, ficando seu interior completamente livre das influências elétricas, fato este que não mereceu muita atenção na época. Em 1775, Alessandro Count Volta (1745-1827) desenvolveu o eletróforo3 a partir da qual máquinas 3 O Eletróforo é uma das mais simples máquinas de indução eletrostática. Consiste de um prato metálico circular munido de um cabo isolante que é aplicado sobre um material isolante (originalmente uma ”torta” resinosa)que foi previamente eletrizado por atrito. A proximidade do disco metálico com o material isolante provoca uma separação de cargas e o mesmo é então colocado em contato com a terra, de forma a compensar o desequilibrio elétrico em sua superficie. Este contato é então interrompido, 7 Figura 1.1.3: Representação de espiras componentes de um transformador atenuador. Este foi o primeiro elemento galvânico: o músculo Figura 1.1.4: Pilha de Volta era tanto o eletrólito quanto o indicador de corrente. Galvani supôs, e não completamente erra- de 2000 elementos, que serviu como fonte de luz damente, que estas eram manifestações de eletricielétrica até que Thomas Alva Edison (1847-1931) indade animal, já conhecida dos peixes elétricos. Volta, ventasse a lâmpada incandescente em 1880. Em em 1796, eliminou completamente a necessidade de 1802, Sir Humphry Davy observou o efeito do arco um elemento biológico para o fenômeno e estabede luz brilhante que se formava entre duas peças de leceu que uma condição essencial para a circulação carbono conectados em alta tensão quando estavam elétrica num circuito condutor era que este fosse muito próximas uma da outra. Embora ele nunca teconstituı́do de dois (ou mais) condutores de ”prinha usado este fenômeno como fonte de iluminação, meira” classe e um de ”segunda” classe. nos setenta anos seguintes, muito engenheiros usaEle criou estas idéias, bem como o conceito de corram o arco para criar lâmpadas elétricas. rente elétrica estática, e sobre estas bases construiu, em 1800, a pilha voltaica, a precursora das bate- Na Inglaterra, muitas lâmpadas apareceram durante os anos de 1850 e de 1870. Entretanto, nenhuma rias galvânicas, que nos anos seguintes se proliferam lâmpada a arco produzida neste perı́odo poderia ser abundantemente. um sucesso econômico visto que as baterias então A decomposição eletrolı́tica, agora vista como causa disponı́veis para fonte de eletricidade eram muito da produção da corrente galvânica, foi descrita em caras. 1797, antes da pilha voltaica, por Alexander von Humboldt (1769-1859), descoberta feita com uma Exceções aconteceram com as lâmpadas de Dubosq célula constituı́da por eletrodos de zinco e de prata (1858) e de Serrin (1857), mostrada abaixo. Esta, em particular, teve tão grande sucesso que, quando e com água entre eles. Em 1799, Johann Wilhelm Ritter (1776-1810) separou eletroliticamente o cobre de uma solução de sul- iniciou-se a indústria da iluminação elétrica, as lâmpadas produzidas estavam baseada na lâmpada fato de cobre, sendo o primeiro a dizer que a reação de Serrin. quı́mica na célula galvânica era a causa da produção da corrente. Em seguida, Humphry Davy (1778- Também em 1811, Siméon Denis Poisson (17811849) fez progressos com a lei de Coulomb, traba- 1829), em 1807, com suas pesquisas em eletrólise lhando na teoria do potencial, que tinha sido inicidescobriu e separou os metais alcalinos. Em 1811, almente desenvolvida para a gravitação. Ele mosDavy construiu o arco carbônico com uma bateria trou que toda a eletrostática, não considerando a presença dos dielétricos, pode ser explicada pela lei tismo, é um tipo de circuito elétrico que possui diversas funções voltadas, principalmente, à produção de campo magnético, eletricidade e energia mecânica. É componente dos geradores de energia elétrica, assim como dos motores elétricos, dos transformadores, indutores e de vários outros dispositivos. de Coulomb ou, equivalentemente, pela equação diferencial de Laplace-Poisson. No magnetismo, Hans Christian Oersted (17778 conceito de força eletromotriz, gradiente de potencial e de intensidade de corrente elétrica e derivou a lei que leva seu nome e que estabelece a proporcionalidade entre a diferença de potencial em um condutor e a corrente elétrica produzida. O fator de proporcionalidade representa a resistência do material. Provou também que a resistência de um fio é diretamente proporcional ao seu comprimento e inversamente proporcional a sua seção reta, criando assim a base para o conceito de condutividade dos materiais. George Green (1793-1841) publicou, em 1828 ”Um ensaio sobre a aplicação de análise matemática às teorias da eletricidade e do magnetismo”, onde extendeu o trabalho de Poisson para obter um método de solução geral para o potencial. A complementação deste trabalho foi obra de Karl Friedrich Gauss (17771855), que publicou seu famoso trabalho em 1839. Sua teoria tornou-se mais abrangente, pois serviu de modelo para muitos outros campos da fı́sica- Figura 1.1.5: Lâmpada de Serrin matemática. A contribuição de Gauss deu-se não apenas na definição de quantidade de eletricidade 1851), nascido numa pequena ilha do Báltico, em a partir da lei de Coulomb, como também forneceu 1820 publicou um panfleto de 4 páginas com suas a primeira medida absoluta do momento magnético descobertas sobre a deflexão da agulha de uma de imãs e da intensidade do campo magnético terbússola por uma corrente elétrica. Além disso, des- restre, dando continuidade ao trabalho de Gilbert. cobriu a correspondente força de um imã sobre Ele criou o primeiro sistema de unidades eletroum circuito elétrico girante. Concorrentemente, em magnéticas racional, no qual ”uma unidade de quan1820, Jean Baptiste Biot (1774-1862) e Félix Savart tidade de eletricidade é a quantidade que, a uma (1791-1841) formularam, a partir de observações ex- distância de um centı́metro, repele uma quantidade perimentais, a lei que leva seus nomes e que permite igual com uma força de uma dina”. Trabalhando com o cálculo de campos magnéticos produzidos por cor- Gauss, Wilhelm Eduard Weber (1804-1891), fı́sico rentes elétricas. alemão, investigou o magnetismo terrestre em 1833. O primeiro eletroimã foi descoberto em 1822 por Do- Uma de suas maiores contribuições foi o desenvolminique François Jean Arago (1786-1853) e por Jo- vimento do telégrafo eletromagnético. Joseph Henry seph Louis Gay-Lussac (1778-1850) quando verifica- (1799-1878)foi o primeiro americano depois de Franram que uma barra de ferro fica magnetizada se en- klin a realizar experimentos cientı́ficos. Em 1830 ele rolada por um fio conduzindo uma corrente elétrica. observou o fenômeno da indução eletromagnética, Neste mesmo ano, André Marie Ampère (1775-1836), mas como não publicou seus resultados, não recesabendo das descobertas de Oersted, dedicou-se ao beu o mérito por isto. Entretanto, recebeu distinção assunto e formulou a regra para indicar a direção do pela descoberta do fenômeno da autoindução. Em campo magnético criado por um circuito elétrico. 1831 auxiliou a Samuel Finley Breese Morse (1791- Além disso, descobriu que circuitos paralelos com 1872) a construir o telégrafo. correntes na mesma direção se atraem, e se repelem Surge, então, aquele que se tornaria o maior fı́sico exquando as correntes são contrárias, e que solenóides perimental em eletricidade e magnetismo do século atuam com imãs em barra. Os efeitos magnéticos XIX: Michael Faraday (1791-1867). Em 1831 Faraday das correntes elétricas agora forneciam meios para enrolou duas espiras de fio em torno de um anel de se medir suas intensidade. Em 1826, Goerg Simon ferro e observou que a corrente exercia uma ação Ohm (1789-1854) usou estes fatos para separar os para trás que correspondia a sua ação magnética. 9 Quando ele criou uma corrente elétrica na primeira espira, um pulso de corrente surgiu na segunda espira no instante em que o circuito foi fechado, e novamente quando o circuito foi aberto, porém no sentido contrário. Assim ele descobriu a indução. Alguns problemas com a direção da corrente induzida foram esclarecidos em 1833 por Heinrich Friedrich Emil Lenz (1804-1865), com sua conhecida lei (de Lenz). Em 1837, Faraday descobriu a influência dos dielétricos nos fenômenos eletrostáticos, e a partir de 1846 dedicou-se a descrever a distribuição geral das propriedades diamagnéticas em todos os materiais para os quais, em contraste, o paramagnetismo aparece como uma exceção. Em 1845, com apenas 21 Figura 1.1.6: Balança de Torção de Coulomb anos, Gustav Robert Kirchhof (1824-1887) enunciou cebeu este nome em homenagem ao fı́sico francês as leis que permitiam o cálculo de correntes, tensões Charles Augustin de Coulomb. Mas o que é carga e resistências para circuitos ramificados. Em 1846, elétrica? Weber criou um segundo sistema de unidades absoluto e consistente para a eletricidade independente a carga elétrica é uma propriedade fı́sica da da Lei de Coulomb. Os dois sistemas relacionam-se por uma constante com dimensão de velocidade. matéria Weber, em 1852, calculou este valor chegando a um Tanto quanto a massa, a carga elétrica é uma propriresultado fantástico: era igual a da velocidade da edade intrı́nseca da matéria. E as observações expeluz, 3 x 1010 cm/s. Num trabalho de 1855-1856, Ja- rimentais permitiram a descoberta de importantes mes Clerk Maxwell (1831-1879) forneceu a base matemática adequada para as linhas de força idealizadas por Faraday. Em 1862 ele adicionou a corrente propriedades que a carga elétrica possui (em comum com a massa): • cargas elétricas criam e são sujeitas à forças elétricas, o que facilmente se observa dos expe- de deslocamento à corrente de condução na Lei de Ampère, que ocorre em todos os dielétricos com rimentos de eletrização; campos elétricos variáveis, completanto o trabalho de Ampère. Em 1873 publicou seu ”Tratado sobre eletricidade e magnetismo” . Em 1865 mostrou que as ondas eletromagnéticas possuem a velocidade da luz, a qual ele recalculou com precisão, concordando com o resultado de Weber. Em 1884, Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894) rederivou as equações de Maxwell por um novo método, colocando-as na forma atual. Além disso, foi o primeiro a emitir e receber ondas de rádio. • cargas elétricas não podem ser criadas nem destruı́das. 1.1.3 Princı́pio de conservação da carga elétrica Em relação a segunda das assertivas acima, quando um corpo é eletrizado por fricção, por exemplo, o estado de eletrização final se deve à transferência de cargas de um objeto para o outro. Não há criação de cargas no processo. Portanto, se um dos obje- 1.1.2 Carga Elétrica Um corpo está carregado eletricamente quando possui uma pequena quantidade de carga desequilibrada ou carga lı́quida. Objetos carregados eletrica- tos cede uma certa carga negativa ao outro, ele ficará carregado positivamente, com a mesma quantidade de carga cedida ao outro. Esta observação é coerente com a observação de mente interagem exercendo forças, de atração ou re- que a matéria neutra, isto é, sem excesso de cargas, pulsão, uns sobre os outros. A unidade de medida da contém o mesmo número de cargas positivas (núcleo grandeza carga elétrica no Sistema Internacional de Unidades é o coulomb, representado por C, que re- atômico) e negativas (elétrons). Estabelecemos assim o princı́pio de conservação da carga elétrica. 10 Entre partı́culas elétricas existem forças gravitaci- O processo de indução eletrostática ocorre quando onais de atração devido às suas massas e forças um corpo eletrizado redistribui cargas de um condu- elétricas devido às suas cargas elétricas. Nesse caso, as forças gravitacionais podem ser desprezadas, visto tor neutro. O corpo eletrizado, o indutor, é colocado próximo ao corpo neutro, o induzido, e isso permite que a massa de uma carga elétrica é ı́nfima. A força gravitacional só é perceptı́vel quando há a interação as cargas do indutor atrair ou repelir as cargas negativas do corpo neutro, devido a Lei de Atração e Re- entre corpo de massas de grandes proporções. pulsão entre as cargas elétricas. −31 A massa do elétron é me = 9,109 ×10 A distribuição de cargas no corpo induzido mantêmse apenas na presença do corpo indutor. Para ele- kg A massa do próton é mp = 1,673 ×10−27 kg A massa do nêutron é mn = 1,675 ×10−31 kg Os elétrons apresentam uma carga elétrica muito trizar o induzido deve-se colocá-lo em contato com outro corpo neutro e de dimensões maiores, antes de pequena e seu movimento gera corrente elétrica. afastá-lo do indutor. Visto que os elétrons das camadas mais externas de Deste modo, podemos sintetizar o seguinte; os um átomo definem as atrações com outros átomos, métodos de eletrização mais conhecidos e utilizaestas partı́culas possuem um papel importante na dos são os de eletrização por condução (ou por quı́mica. − O elétron tem uma carga elétrica negativa de e = −1,6 × 10−19 C e o próton tem um valor de carga simétrico 1,6 × 10−19 C . A eletricidade estática não é um fluxo de elétrons. É mais correto denominá-la de ”carga estática”. Esta carga é causada por um corpo ”fricção”) e eletrização por indução. A eletrização por condução se dá quando friccionamos entre si dois materiais isolantes (ou condutores isolados) inicialmente descarregados, ou quando tocamos um material isolante (ou condutor isolado) inicialmente descarregado com outro carregado. cujos átomos apresentam mais ou menos elétrons Durante o contato, ocorre uma transferência de que o necessário para equilibrar as cargas positivas elétrons entre os dois objetos. Suponhamos que cardos núcleos dos seus átomos. Quando existe um ex- reguemos desta forma um bastão de borracha atricesso de elétrons, diz-se que o corpo está carregado tado com pele de animal e uma barra de vidro atrinegativamente. Quando existem menos elétrons que prótons, o corpo está carregado positivamente. Se o tada com seda. Se suspendermos o bastão de borracha por um fio isolante e dele aproximarmos outro número total de prótons e elétrons é equivalente, o corpo está num estado eletricamente neutro. bastão de borracha carregado da mesma maneira, os bastões repelir-se-ão. O mesmo acontece para dois Robert Millikan (1868-1953) descobriu que que a bastões de vidro, nesta situação. Por outro lado, se aproximarmos a barra de vidro ao bastão de borra- carga elétrica era constituı́da por um múltiplo inteiro de uma carga fundamental e, ou seja a carga Q de um certo objeto pode ser escrita como Q = ne cha, ocorrerá uma atração entre eles. Evidentemente constatamos que a borracha e o vidro têm estados de eletrização diferentes, e pela experiência concluı́mos que; − • cargas iguais se repelem; assim, sabendo o número de elétron livres, ou em falta, podemos determinar a carga de um corpo. 1.2 • cargas diferentes se atraem. Franklin convencionou que a carga da barra de vidro é positiva e a do bastão de borracha é nega- Eletrização Eletrização por atrito é o processo bem simples de tiva. Assim, todo o corpo que for atraı́do pelo bastão de borracha (ou repelido pelo bastão de vidro) deve geração de cargas eletrostáticas, ele pode ocorrer sempre que dois corpos de materiais diferentes são ter carga positiva. Da mesma forma, todo o corpo que for repelido pelo bastão de borracha (ou atraı́do esfregados um no outro. A eletrização por atrito não acontece entre metais porque eles são bons condu- pela barra de vidro) deve ter carga negativa. No processo de eletrização por indução não há contato en- tores e a descarga é muito rápida, não conseguindo mantê-los eletrificado. tre os objetos. Através da indução podemos carregar os materiais condutores mais facilmente. Veja- 11 mos como isto é possı́vel. Suponhamos que aproximemos o bastão de borracha (carga negativa) de uma barra metálica isolada e inicialmente neutra. As cargas negativas (elétrons) da barra metálica serão repelidas para regiões mais afastadas e a região mais próxima ao bastão ficará com um excesso de cargas positivas. Se agora ligarmos um fio condutor entre a barra metálica e a terra (o que chamamos de aterramento), os elétrons repelidos pelo bastão escaparão por este fio, deixando a barra carregada positivamente tão logo o fio seja removido. Se, por outro lado, fosse a barra de vidro (carga positiva) aproximada da barra metálica, esta última ficaria carregada negativamente, pois pelo fio condutor aterrado seriam atraı́dos elétrons da terra. Observe que, em ambos os processos, os bastões carregados (indutores) não perderam carga alguma. Situação parecida ocorre quando aproximamos objetos carregados dos isolantes. Novamente as cargas serão separadas no material isolante e, uma vez afastado o bastão indutor, as cargas não retornam às suas posições iniciais devido à pouca mobilidade que possuem no isolante. Dizemos então que o isolante ficou polarizado. Figura 1.2.1: Eletrização por atrito Figura 1.2.2: Eletrização por contato Figura 1.2.3: Eletrização por indução 12 Capı́tulo 2 Lei de Coulomb Como vimos, a lei de força para cargas elétricas foi A permissividade é uma constante fı́sica que des- pensada como sendo semelhante a lei de Newton da creve como um campo elétrico afeta, e é afetado gravitação. Vimos também que Coulomb através de por um meio. A permissividade do vácuo (ε0 ) vale seu experimento com uma balança de torção, ob- 8,8541878176 × 10−12 F/m. servou que essa força era efetivamente de mesma Vetorialmente, a lei de Coulomb pode ser escrita da natureza: diminuı́a com o inverso do quadrado da seguinte forma: distância. k0 Q1 Q2 Forças são grandezas vetoriais, representadas por F~ , F~1,2 = u~r r2 ou F . O módulo ou intensidade dessas grandezas é indicado por F~ ou simplesmente F. onde u~r é o versor radial, na direção dos centros de A intensidade da força gravitacional é dada por: carga. F1,2 = Se a carga 1 estiver na posição r~1 e a carga 2 no ponto ~r ambos com origem no ponto (0,0,0) de um sistema GM1 M2 r2 de coordenadas cartesianas (x,y,z) a lei de Coulomb toma a forma: onde: M1 ≡massa do corpo 1; M2 ≡massa do corpo 2; F1,2 ≡intensidade da força que o corpo 1 exerce sobre o corpo 2; F~1,2 = r≡distância entre os centros dos corpos 1 e 2; G ≡constante da gravitação universal, cujo valor é 1 Q1 Q2 (~rj − ~ri ) 4πε0 |~rj − ~ri |3/2 6,67×10−11 N.m2 /kg2 . No caso da lei de Coulomb: F1,2 = k0 Q1 Q2 r2 onde: Q1 ≡carga do corpo 1; Q2 ≡carga do corpo 2; F1,2 ≡intensidade da força que o corpo 1 exerce sobre o corpo 2; r≡distância entre os centros dos corpos 1 e 2; k0 ≡constante eletrostática, 8,988×109 N.m2 /C2 . cujo valor é Essa constante é definida em termos de outra constante, a permissividade elétrica do vácuo (ε0 ), da se- Figura 2.0.1: Lei de Coulomb utilizando um sistema de coordenadas cartesiano Para a lei de Coulomb, vale o princı́pio da superposição de forças: dada uma distribuição discreta de cargas, a força resultante sobre uma carga i de um sistema de cargas com ı́ndices 1,2,3,..., j é: guinte maneira: F~i = 1 k0 = 4πε0 13 Qj Qi X (~rj − ~ri ) F~ji = 3/2 4πε0 rj − ~ri | j6=i |~ j6=i X 2.1 Exercı́cios fera, após elas serem separadas, caso os raios sejam diferentes. 2.1.1 Exercı́cios resolvidos Halliday & Q23.2 Uma barra carregada atrai fragmentos de cortiça que, assim que a tocam, são violentamente Resnick repelidos. Explique a causa disto. Q23.1 - Sendo dadas duas esferas de metal monta- Resposta: das em suporte portátil de material isolante, invente Como os dois corpos atraem-se inicialmente, deduum modo de carregá-las com quantidades de cargas zimos que eles possuem quantidades de cargas com iguais e de sinais opostos. Você pode usar uma barra sinais diferentes. Ao tocarem-se a quantidade de carde vidro ativada com seda, mas ela não pode tocar as gas menor é equilibrada pelas cargas de sinal oposto. esferas. É necessário que as esferas sejam do mesmo Como a carga que sobra reparte-se entre os dois cortamanho, para o método funcionar? pos, estes passam a repelir-se por possuı́rem, então, Resposta: cargas de mesmo sinal. Um método simples é usar indução eletrostática: ao Note que afirmar existir repulsão após os corpos aproximarmos a barra de vidro de qualquer uma das tocarem-se equivale a afirmar ser diferente a quantiesferas quando ambas estiverem em contato iremos dade de cargas existente inicialmente em cada corpo. induzir Q23.6 Um isolante carregado pode ser descarregado (i) na esfera mais próxima, uma mesma carga igual e oposta à carga da barra e, passando-o logo acima de uma chama. Explique por (ii) na esfera mais afastada, uma carga igual e de mesmo sinal que a da barra. Se separarmos então Resposta: as duas esferas, cada uma delas ir´a ficar com cargas de mesma magnitude por´em com sinais opos- tornando-o condutor, permitindo o fluxo de cargas. tos. Este processo não depende do raio das esferas. Note, entretanto, que a densidade de cargas sobre a superfı́cie de cada esfera após a separação obviamente depende do raio das esferas. Q23.2 Na questão anterior, descubra um modo de quê? É que a alta temperatura acima da chama ioniza o ar, 2.1.2 Exercı́cios propostos I - Duas cargas puntiformes encontram-se no vácuo a uma distância de 10,0 cm uma da outra. As cargas valem Q1 = 3,0 × 10−8 C e Q2 = 3,0 × 10−9 C. Determine carregar as esferas com quantidades de carga iguais e de mesmo sinal. Novamente, ´e necess´ario que as a intensidade da força de interação entre elas. esferas tenham o mesmo tamanho para o método a ser usado? µC está em x = -3,0 m, q2 = +4,0 µC está na origem e q3 =- 6,0µC está em x = +3,0 m. Determine a força Resposta: elétrica em q1 . II - Três cargas puntiformes estão no eixo x: q1 = - 6,0 O enunciado do problema anterior não permite Halliday & Resnick que toquemos com o bastão nas esferas. Por- 23.12 Duas esferas condutoras idênticas, mantitanto, repetimos a indução eletrostática descrita no exercı́cio anterior. Porém, mantendo sempre a barra próxima de uma das esferas, removemos a outra, tra- das fixas, atraem-se com uma força eletrostática de módulo igual a 0,108 N quando separadas por uma distância de 50 cm. As esferas são então ligadas por tando de neutralizar a carga sobre ela (por exemplo, um fio condutor fino. Quando o fio é removido, as aterrando-a). Se afastarmos o bastão da esfera e a co- esferas se repelem com uma força eletrostática de locarmos novamente em contato com a esfera cuja carga foi neutralizada, iremos permitir que a carga possa redistribuir-se homogeneamente sobre ambas módulo igual a 0,036 N. Quais eram as cargas iniciais das esferas? 23.27 Duas pequenas gotas esféricas de água posas esferas. Deste modo garantimos que o sinal das suem cargas idênticas de - 1,0 ×10−16 C, e estão secargas em ambas esferas é o mesmo. Para que a mag- paradas, centro a centro, de1,0 cm. nitude das cargas seja também idêntica é necessário que as esferas tenham o mesmo raio. É que a densi- (a) Qual é o módulo da força eletrostática que atua entre elas? dade superficial comum às duas esferas quando em (b) Quantos elétrons em excesso existem em cada contato ir´a sofrer alterações¸ diferentes em cada es- gota? 14 23.34 Na estrutura cristalina do CℓCe(cloreto de césio), os ı́ons Cs + composto por estas cargas puntiformes em uma quarta carga formam os puntiforme q4 = + 3,0 µC , que está no quarto vértice. − vértices de um cubo e um ı́on de Cl está no centro do cubo . O comprimento das arestas do cubo é de 31- Uma carga puntiforme de 5,00 µC está no eixo y, em y = 3,00 cm , e uma segunda carga puntiforme de 0,40 nm. Em cada ı́on Cs+ falta um elétron (e assim cada um tem uma carga de +e), e o ı́on Cl− tem um -5,00 µC está no eixo y, em y = -3,00 cm. Determine a força elétrica em uma carga puntiforme de 2,00 µC elétron em excesso (e assim uma carga−e ). que está no eixo x, em x = 8,00 cm. (a) Qual é o módulo da força eletrostática lı́quida exercida sobre o ı́on Cl− pelos oito ı́ons Cs+ nos vértices do cubo? 2.2 Pintura Eletrostática (b) Quando está faltando um dos ı́ons Cs+ , dizemos Extraı́do de “Fı́sica para cientistas e engenheiros”, que o cristal apresenta um defeito; neste caso, qual Paul A. Tipler & Gene Mosca; Vol.2, 6ª Edição, LTC, ser´a a força eletrostática lı́quida exercida sobre o ı́on página 25. Cl− pelos sete ı́ons Cs+ remanescentes? Pintura Estática a Pó - Industrial Tipler, Volume 2 Sexta Edição Crianças em qualquer lugar do mundo aproveitam Página 29 : Exercı́cios 21 à 25 as propriedades triboelétricas1 . A companhia Ohio Art introduziu um brinquedo baseado nestas pro- 21-Um bastão plástico é esfregado contra uma blusa de lã, adquirindo uma carga de -0,80µC . Quantos elétrons são transferidos do blusão de lã para o priedades por volta de 1960. Bolinhas de estireno, quando sacudidas fornecem carga para um pó de bastão de plástico? alumı́nio muito fino. O pó carregado eletricamente 22-Uma carga igual á carga do número de Avogadro é atraı́do para a tela translúcida do brinquedo. Uma de prótons (NA = 6,02 x 1023 ) é denominada um fara- pequena ponteira é, então, usada para desenhar linhas no pó. O brinquedo baseia-se no fato de que o 23-Qual é a carga total de todos os prótons de 1,00 kg alumı́nio e a tela se atraem com cargas opostas. Embora um pó carregado eletricamente possa ser usado de carbono? 24- Considere que um cubo de alumı́nio com aresta em um brinquedo, ele representa um assunto sério day. Calcule o número de coulombs em um faraday. de 1,00 cm acumule uma carga resultante de 2,50 pC. para muitas indústrias. Metais desprotegidos ten(a) Que porcentagem dos elétrons originalmente dem a sofrer corrosão e para prevenir a corrosão, parpresente no cubo foi removida? 25- Durante o processo descrito pelo efeito fotoelétrico , luz ultra violeta pode ser usada para carregar eletricamente um pedaço de metal. (a) Se esta luz incide em uma barra de material condutor e elétrons são ejetados com energia suficiente para escapar da superfı́cie do material, quanto tempo depois o metal terá uma carga resultante de +1,50 nC se 1,00 x 106 elétrons são ejetados por segundo? tes metálicas de automóveis, utensı́lios e outros objetos metálicos, são recobertas. No passado, o recobrimento incluı́a tintas, laqueaduras, vernizes e esmaltes que eram aplicados como lı́quidos e, depois, secos. Estes lı́quidos apresentam desvantagens. Os solventes levam muito tempo para secar ou liberam componentes voláteis indesejados. Superfı́cies com ângulos diferentes podem ser rebertas de maneira não-homogênea. Lı́quidos pulverizados geram desperdı́cio e não po- dem ser reciclados de forma simples. O recobri(b) Se 1,30 eV é necessário para ejetar um elétron da mento com pó eletrostático reduz muito destes prosuperfı́cie , qual é a potência do feixe de luz? ( Consiblemas. Este processo de recobrimento foi introdudere que o processo seja 100 por cento eficiente.) zido pela primeira vez na década de 1950 e, atualPágina 29: mente, é popular dentre os fabricantes que aderiExercı́cios 30 e 31: 30-Três cargas puntiformes , cada uma com magnitude igual a 3,00 nC , estão em 3 dos vértices de um quadrado de aresta igual a 5,00 cm. As duas cargas puntiformes nos vértices opostos são positivas e a terceira carga é negativa. Determine a força exercida 1 A série triboelétrica é nada mais que uma lista de materiais, que mostra quais são aqueles que têm uma maior tendência de se tornarem positivamente eletrizados (+) e quais os que apresentam maior tendência de se tornarem negativamente eletrizados (-). Essa lista torna-se, assim, uma ferramenta indispensável para se determinar que combinação de materiais (que pares de substâncias devem ser atritadas) podemos usar para um eficiente processo de eletrização por atrito. 15 ram à regulamentação: proteção do meio ambiente 2.3 Série triboelétrica através da redução do uso de voláteis quı́micos. A série triboelétrica é apresentada como uma única A pintura a pó é aplicada fornecendo carga elétrica lista que goza das seguintes propriedades: ao item a ser recoberto. Para fazer isso de forma 1) Qualquer material atritado com qualquer ouconfiável, é melhor que o objeto a ser recoberto seja condutor. Neste caso, partı́culas muito pequenas (de tro que o precede, fica eletrizado negativamente e, quando atritado com qualquer outro que o segue, 1 µm a 100 µm) em um pó recebem cargas com si- fica eletrizado positivamente. nal oposto ao do objeto. As partı́culas da cobertura 2) Quanto mais afastados estiverem na lista, maior são fortemente atraı́das para o objeto a ser recoberto. será a eficiência na eletrização. Partı́culas soltas podem ser recicladas e utilizadas novamente. Quando as partı́culas estão no objeto, o recobrimento passa, então, pelo processo de cura através do aumento da temperatura ou por luz ultravioleta. O processo de cura fixa as moléculas do recobrimento umas as outras, e as partı́culas e o objeto perdem suas cargas. As partı́culas do recobrimento recebem carga por descarga corona ou por carregamento triboelétrico. Na descarga corona, as partı́culas passam através de um plasma de elétrons, recebendo carga negativa. No carregamento triboelétrico, as partı́culas passam Figura 2.3.1: Série Triboelétrica através de um tubo feito de um material que está na extremidade oposta do espectro triboelétrico, geral- Vários pares de materiais quando colocados em contato (o ato de friccionar é uma boa técnica para se mente Teflon. conseguir isso) e a seguir são separados, ficam eletrizados, isto é, exibem fenômenos relativos aos corpos As partı́culas do recobrimento recebem uma carga dotados de carga elétrica positiva (falta de elétrons) positiva neste rápido contato. O item a ser recoberto ou negativa (excesso de elétrons). recebe uma carga que depende do método de recoA série triboelétrica é uma lista de materiais que brimento usado. Dependendo da cobertura e dos mostra a tendência relativa de ceder ou receber aditivos, as cargas do recobrimento variam de 500 elétrons nesse processo de eletrização. Esta lista a 1000 µC /kg. O processo de cura difere de acordo pode ser usada para determinar quais combinações com os materiais de recobrimento e dos itens a sede materiais são as mais eficientes para gerar a denorem recobertos. O de tempo de cura pode variar de 1 minada (impropriamente) “eletricidade estática”. a 30 minutos. Apesar de o recobrimento com pó ser econômico e ambientalmente correto, ele apresenta suas dificuldades. A capacidade das partı́culas do recobrimento de manterem sua carga pode variar com a umidade, a qual deve ser precisamente controlada. Se o campo elétrico da descarga corona for muito intenso, o pó pulveriza muito rapidamente em direção ao item a ser recoberto, deixando um ponto descoberto no centro de um anel, o que conduz a um acabamento irregular do tipo ”casca de laranja”. Pós eletrostáticos podem ser brinquedo de criança, mas o recobrimento com pó eletrostático é um processo complexo, útil e em desenvolvimento. 16 Capı́tulo 3 Campo Elétrico 3.1 Distribuição discreta de carga sados em qi pela carga Qj . Desta forma, dizemos que o campo elétrico é dado pela força sentida pela carga Ao contrário do que se pensava até fins do século XIX, qi por unidade de carga. Ou seja: as cargas elétricas são quantizadas. Não assumem valores discretos, mas sim são múltiplos inteiros de uma carga elementar. A primeira prova experimen- ~ ~i = Fi E qi tal de tal carga foi feita por Helmholtz em 1881 utilizando as leis da eletrólise de Faraday, que diz que para um sistema discreto de cargas, é fácil ver que a passagem de uma certa quantidade de eletricidade (basta substituir F~i pela expressão da lei de Couatravés de um eletrólito sempre causa o depósito, no lomb): eletrodo, de uma quantidade estritamente definida X Qj ~i = 1 r̂ji E 4π 0 (rji )2 j6=i de um dado elemento. Mais tarde, Millikan (191016) fez o famoso experimento da gota de óleo num campo elétrico. Em 1912 Ioffe, na Rússia, fez um experimento semelhante ao de Millikan, porém utilizando a irradiação de partı́culas de metal em pó (suspensas no ar) por luz ultravioleta. Todos os ex- A unidade de campo elétrico é o N/C (newton/coulomb) que é equivalente ao V/m (volt/metro). O que aprendemos em Fı́sica IV é o campo eletrostático (invariável no tempo) no espaço livre (vácuo). Um campo eletrostático é perimentos chegaram a mesma conclusão, de que a carga é um múltiplo inteiro de uma carga elemen- gerado por uma distribuição de cargas estáticas, por tar, e seu valor foi determinado com maior ou me- exemplo o campo encontrado no interior de tubos nor precisão em cada um deles. O valor aceito atu- de raios catódicos.1 almente desta carga elementar é 1, 6 × 10−19 C. Este é o valor da carga do elétron (negativo) e da carga do Definido desta forma, o campo será determinado próton (positivo) como já vimos. inequivocamente, seja em escala macroscópica ou microscópica. Naturalmente, se uma carga de prova Existem cargas menores como a dos quarks, porém os quarks não ”sobrevivem” isoladamente por muito for introduzida no espaço, uma nova configuração de cargas surgirá e será necessário recalcular o valor do tempo. Logo eles se combinam com outros quarks campo. Não há outra maneira... Contudo, em nosso formando prótons e nêutrons, ou formam pares de curso não iremos nos deter diante disso, pois iremos quark-antiquark que são chamados mésons. Prótons estudar apenas casos em que envolvam cargas fixas e nêutrons são formados de 3 quarks cada. O próton é formado por 2 quarks tipo u e um quark tipo d ( uud ) . E o nêutron por 2 quarks tipo d e um quark tipo u ( udd ) . A carga do quark tipo u vale 2/3 e a do quark tipo d - 1/3e . Para estudarmos portanto o campo elétrico gerado por uma carga Qj qualquer utilizaremos uma segunda carga q i muito menor que a primeira. Uma carga elementar. Assim estudaremos os efeitos cau- 1 Os raios catódicos são radiações onde os elétrons emergem do polo negativo de um eletrodo, chamado ânodo, e se propagam na forma de um feixe de partı́culas negativas ou feixe de elétrons acelerados. Isto ocorre devido à diferença de potencial elevada entre os polos no interior de um tubo contendo gás rarefeito e também devido ao efeito termiônico, ocasionado pelo aquecimento do metal que constitui o catodo. O dispositivo destinado para a produção de raios catódicos chama-se tubo de Crookes. Quando a pressão interna no tubo chega a um décimo da pressão ambiente, o gás que existe entre os eletrodos passa a emitir uma luminosidade. Quando a pressão diminui ainda mais (100 mil vezes menor que a pressão ambiente) a luminosidade desaparece, restando uma ”mancha” luminosa atrás do polo positivo. 17 ou casos onde as cargas sejam muito maiores do que de linhas por unidade de área de uma superfı́cie per- a carga elementar e. Uma última questão se refere pendicular às linhas. à necessidade de se definir o campo. Uma primeira “vantagem” é que se conhecemos o campo em um Na figura 3.1.2 estão representadas as linhas as linhas de campo de uma carga puntiforme positiva e certo ponto e em suas redondezas iremos conhecer o comportamento de qualquer carga que seja colocada de uma carga puntiforme negativa e negativa. nessa região, independente de seu valor ou sinal. Se o campo é conhecido em todo o espaço, o comportamento de qualquer carga será conhecido em todo o espaço também. Para isso basta multiplicar o valor da carga em questão pelo valor do campo e teremos a força - e portanto a equação de movimento – e o es- Figura 3.1.2: Linhas de campo de uma carga puntitado fı́sico do sistema será conhecido. A introdução forme do campo serve também para se evitar o conceito da ação à distância. O formalismo apresentado pela lei As linhas do campo de um dipolo estão representade Coulomb contempla apenas a interação entre as das na figura 3.1.3. cargas e apenas nos pontos onde elas se localizam. Ademais não contempla a importante questão de como a informação é transmitida, pressupondo inclusive que a troca de informação é realizada instantaneamente. Ora, sabemos que, ao contrário disso, qualquer informação é transmitida com velocidade finita e a troca de informações entre as cargas se dá a velocidade da luz. Assim, se uma carga se move bruscamente, o efeito desse movimento em outras cargas Figura 3.1.3: Linhas de campo de um dipolo não é sentido instantaneamente, mas sim só se dará depois de decorridos alguns instantes, ou seja, após o tempo em que essa informação é transmitida e recebida por outras cargas. O agente que realiza essa tarefa é o campo elétrico. 3.1.1 Linhas de campo elétrico Uma visualização qualitativa do campo elétrico pode ser feita introduzindo-se as chamadas linhas de campo. Na figura 3.1.1 foram desenhadas algumas destas linhas, possuindo as seguintes propriedades: Figura 3.1.4: elétrico Outras representações de campo Essas linhas de Campo Elétrico fornecem uma forma de visualização da direção e da intensidade de campos elétricos. O vetor campo elétrico em qualquer ponto é tangente a uma linha de campo que passa por esse ponto. A densidade de linhas de campo em qualquer região é proporcional à intensidade do campo elétrico nessa região. Linhas de campo se originam em cargas positivas e terminam em cargas negativas. Figura 3.1.1: Linhas de campo Elétrico • As linhas são tangentes, em cada ponto, à direção do campo elétrico neste ponto. • A intensidade do campo é proporcional ao número 3.1.2 Exercı́cios resolvidos Halliday & Resnick Q 24.2 As linhas de força de um campo elétrico nunca se cruzam. Por quê? 18 Resposta: Se as linhas de força pudessem se cruzar, 40 - O campo elétrico na vizinhança da superfı́cie da nos pontos de cruzamento terı́amos duas tangentes terra aponta para baixo e tem o módulo de 150 N /C. diferentes, uma para cada linha que se cruza. Em ou- (a) Compare a magnitude da força elétrica para cima tras palavras, em tal ponto do espaço terı́amos dois de um elétron com a magnitude da força gravitaciovalores diferentes do campo elétrico. nal no elétron. Q24.5 Uma carga puntiforme q de massa m é colocada em repouso num campo não uniforme. Será (b) Que carga deveria ser colocada em uma bola de pingue-pongue de massa 2,70 g para que a força que ela seguirá, necessariamente, a linha de força que passa pelo ponto em que foi abandonada? elétrica equilibrasse o peso da bola próximo a superfı́cie da Terra? Resposta: Não. A força elétrica sempre coincidirá com a direção tangente à linha de força. A força elétrica, em cada ponto onde se encontra a carga, ~ ~ é o vetor campo elétrico no é dada por , q Eonde E 3.2 Distribuição contı́nua de carga ponto onde se encontra a carga. Como a carga parte do repouso, a direção de sua aceleração inicial é dada O campo elétrico devido a uma distribuição contı́nua pela direção do campo elétrico no ponto inicial. Se o de cargas é determinado tratando elementos de campo elétrico for uniforme (ou radial), a trajetória da carga deve coincidir com a direção da linha de carga como cargas pontuais e depois somando, por meio de integração, os vetores de campo elétrico pro- força. Entretanto, para um campo elétrico não uniforme (nem radial), a trajetória da carga não precisa duzidos por todos os elementos de carga. coincidir necessariamente com a direção da linha de força. Sempre coincidirá, porém, com a direção o tangente à linha de força. O campo elétrico para uma distribuição contı́nua de cargas é também determinado a partir do princı́pio de superposição. Suponha que Q seja a carga de um objeto e que dq seja a carga contida no interior de um volume infinitesimal dV localizado no interior deste objeto. O campo elétrico produzido por este 3.1.3 Exercı́cios campo elétrico discreto elemento de carga em um ponto P, localizado a uma distância r do elemento, será: Tipler, Volume 2 Sexta Edição Página 30 : Exercı́cios : 38 , 39 e 40 ~ = dE 1 dq ~ur 4πε0 r2 38- Duas cargas puntiformes, cada uma com +4.0 µC, estão no eixo x; uma das cargas está na origem e a Desta forma, o campo produzido pela carga total Q outra está em x = 8,0 m. Determine o campo elétrico será a soma (integral) vetorial destes campos infinino eixo x em tesimais, isto é: (a) x = -2,0 m; ~ = E (b) x = 2,0 m; (c) x = 6,0 m ; (d) x = 10 m. Z ~ = dE 1 4πε0 Z dq ~ur r2 3.2.1 Campo de um anel carregado (e) Em que ponto o eixo x o campo elétrico e nulo? (f) Esboce um gráfico de E , versus x para -3,0 < x <11 m. 39 - Quando uma carga de puntiforme de 2,0 nC é colocada na origem, ela experimenta uma força elétrica de 8,0 x 10−4 na direção de + y . (a) Qual é o campo elétrico na origem? (b)Qual seria a carga elétrica de uma carga puntiforme -4,0 nC colocada na origem? (c)Se esta força é devida a um campo elétrico de uma carga puntiforme no eixo y, y = 3,0 cm , qual é o valor desta carga? 19 Figura 3.2.1: Anel carregado 1. Colocamos z em evidência no denominador: Considere um condutor na forma de um anel, com raio a e que possui uma carga Q, distribuı́da unifor- ~ = E memente ao longo dele (veja a figura 3.2.1). Vamos determinar o campo elétrico num ponto no eixo de simetria do anel, que escolhemos por comodidade ser o eixo z (poderia ser, o x ou o y) observe que o ~ resultante no eixo diferencial de campo elétrico dE, 1 zQ ~k 4πε0 z 2 1 + a2 23 z2 n 2. Sabendo que (ab) = an bn , no denominador fica ~ = E z, pode ser escrito como 1 zQ 4πε0 (z 2 ) 23 1 + ~ = dE ~ k + dE ~⊥ dE m 3. Como (an ) onde dEk é a componente paralela ao eixo z no ponto P e, dE⊥ é a componente perpendicular do campo no = anm , então z 2 Portanto ponto P. ~ = E É fácil perceber que a componente perpendicular se anula, pois simetricamente a dq existe um dq’ que irá a2 z2 ~ 23 k 3/2 =z 2×3 2 = z 3. zQ 1 ~k 4πε0 z 3 1 + a2 32 z2 4. Simplificando z produzir uma componente perpendicular simétrica a componente produzida por dq. Desta forma, a ~ = E componente paralela a z, pode ser escrita como ~ k = dE ~ cos (θ) ~k dE Q 1 ~k 4πε0 z 2 1 + a2 32 z2 5. Se z >> a, então a fração obtemos ~ = E Tomando o módulo e, por simplificação, escrevendo dEk = dEz temos: a → 0 e finalmente z 1 Q~ k 4πε0 z 2 que é o campo de uma carga puntiforme. 1 dq cos (θ) dEz = 4πε0 r2 z e a equação acima da figura, cos (α) = rz = √ 2 z + a2 fica 1 zdq dEz = 4πε0 (z 2 + a2 ) 23 3.2.2 Campo de um disco uniformemente carregado Integrando, e observando que o integral é em dq R dEz = R zdq 1 4πε0 (z 2 +a2 ) 23 Ez = 1 z 4πε0 (z 2 +a2 ) 32 Ez = zQ 1 4πε0 (z 2 +a2 ) 32 R dq Portanto ~ = Ez~k = E zQ 1 ~k 4πε0 (z 2 + a2 ) 32 Figura 3.2.2: Disco uniformemente carregado Note que se z >> a, o campo deve tender ano campo Consideremos um disco de raio R, uniformemente de uma carga puntiforme. para verificar isso, procedemos da seguinte maneira: carregado com uma densidade superficial de carga σv C/m2 .O campo dE produzido por um anel de raio 20 a e de largura da, que contém uma carga dq é σ= dq dA O que acontece com o campo do disco se fizermos a → ∞ ? Se o raio for a infinito, teremos um plano ⇔ dq = σdA dA da A = πa2 → infinito de carga. Vamos ver como fazemos esse procedimento matematicamente. = 2πa ⇔ dA = 2πada 1. Passemos z para dentro da expressão: dq = σ2πada z σ z −√ Ez = 2ε0 z z 2 + R2 portanto dEz = 1 1 zσ2πada zdq 3 = 4πε0 (z 2 + a2 ) 2 4πε0 (z 2 + a2 ) 32 2. simplificamos z na primeira fração dentro do parenteses reto, e colocamos z em evidência dentro do radical: Integrando a = 0 até a = R Ez = ZR 0 z σ 1− q Ez = 2ε0 z2 1 + 1 zσ2πada 4πε0 (z 2 + a2 ) 32 simplificando 2π com 4π, e tendo em conta que o in- zσ Ez = 2ε0 0 Ez = ada 3 (z 2 + a2 ) 2 seguinte mudança de variável: u=z +a du = 2ada 2 Z 2ada (z 2 3 + a2 ) 2 1 = 2 Z du 1 = 3/ 2 u 2 3 u− /2 du Z Z 1 σ 1− q 2ε0 1+ Ez = então 1 2 R2 z2 ∞2 z2 Portanto, para um plano infinito de carga, obtemos que seu campo é independente da distância ao plano. o integral fica então: 1 2 4. fazemos R → ∞ obtendo então: σ 1 lim Ez = 1− q R→∞ 2ε0 1+ Vamos calcular o integral em separado. Fazemos a 2 3. procedendo a simplificação chegamos a: tegral é em a: ZR R2 z2 σ 2ε0 3.2.3 Campo de duas placas infinitas carregadas com cargas opostas 1 1 3 1 u− /2 1 −2 −1/ = × u 2 = −u− /2 +C u− /2 du = 2 −1/ 2 1 2 retomando a variável inicial e lembrando que nosso integral é definido: Ez = Ez = zσ 2ε0 R zσ −1 √ 2ε0 z 2 + a2 0 1 −1 √ √ − − z 2 + R2 z2 Figura 3.2.3: Duas placas infinitas carregadas com cargas opostas finalmente: Ez = zσ 1 1 −√ 2 2ε0 z z + R2 ~ = E 21 0 σ ε0 0 se z>d se se 0<z<d z<d 3.2.4 Exercı́cios a gota está num vácuo, (a) para que lado deve apontar o campo elétrico entre 1 - Dois anéis finos e concêntricos, de raios R1 = 5,0 as placas e cm e R2 = 10 cm, estão uniformemente carregados (b) qual seria o valor de σ? com cargas Q1 = 4,0 nC e Q2 = -8,0 nC, respectivamente. Determine a intensidade do campo elétrico resultante no eixo comum aos dois anéis, a uma distância de 8,0 cm do plano que contém os anéis e a 3.3 intensidade da força elétrica que seria verificada sobre um próton colocado no ponto em questão. Chama-se também para-raios, ou descarregador, o Para-raios 2 - Um anel fino de raio r = 5,0 cm está carregado uni- aparelho destinado a proteger instalações elétricas contra o efeito de cargas excessivas (sobretensões) e formemente com carga de 4,0 µC. Determine a intensidade do campo elétrico: descarregá-las na terra. Os mais utilizados no Brasil são o de Franklin e de Melsens, também conhecido (a) No centro do anel; como Gaiola de Faraday. Além deles há o modelo ra(b) No eixo do anel, a uma distância de 12 cm do seu dioativo, que tem seu uso proibido no paı́s devido à centro. radioatividade que emite. Tipler, Volume 2 Sexta Edição, página 65 O para-raios foi inventado no século XVIII, por Ben3 - Duas lâminas carregadas, infinitas e não condu- jamin Franklin, e é o equipamento mais indicado toras, são paralelas entre si, estando a lâmina A no para proteger edificações das descargas elétricas vinplano x = - 2,0 m e a lâmina B no plano x = + 2,0 m. das da atmosfera - os raios. Ele é formado por três Determine o campo elétrico na região x < - 2,0 m, na elementos principais: os captadores (uma haste de região x > + 2,0 m, e entre as lâminas para as seguin- metal pontiaguda), um cabo de ligação preso a isotes situações. (a) Quando cada lâmina tem uma densidade superficial uniforme de carga igual a + 3,0 μC/m2 e (b) quando a lâmina A tem uma densidade super2 ladores e uma grande placa metálica enterrada no solo. Os materiais mais utilizados em para-raios são o cobre e o alumı́nio. Deve ser instalado no ponto mais alto da área a ser protegida, já que este é o local mais atingido por raios. O equipamento funci- ficial uniforme a de carga igual a + 3,0 μC/m e a lâmina B tem uma densidade uniforme e igual a - 3,0 ona de acordo com um princı́pio fı́sico conhecido μC/m2 . como “o poder das pontas”, segundo o qual as pon(c) Esboce o padrão de linhas de campo elétrico para tas metálicas finas do para-raios atraem os raios para cada caso. si, já que nelas se concentram mais cargas elétricas. 4 - Uma carga de 2,75 μC é distribuı́da uniformemente em um anel do raio 8,5 cm. Determine a intensidade do campo elétrico no eixo a distâncias de (a) de 1,2 cm; A descarga elétrica é então conduzida pelo cabo de ligação até o solo, onde um cabo aterrado dissipa a energia capturada. Dizer que o para-raios atrai o raio (b) 3,6 cm, e é apenas uma expressão, na realidade, ele oferece ao raio um caminho para chegar à terra com pouca re- (c) 4,0 m do centro do anel. sistividade. (d) Determine a intensidade do campo a 4,0 m usando a aproximação que o anel equivale a uma Quando uma nuvem com carga negativa passa por carga puntiforme na origem, e compare seus resultados com as alı́neas (c) e (d). O resultado de sua aproximação é bom? Explique sua resposta. Sears e Zemansky, Volume III 12ªEdição página 39 5 - Duas placas horizontais muito grandes estão a uma distância de 4,25 cm uma da outra e possuem cima da ponta do equipamento, partı́culas positivas são induzidas ali, ionizando o ar atmosférico. Isso transforma o ar em um bom condutor de eletricidade. A nuvem, então, se descarrega por meio de uma faı́sca, liberando elétrons que serão dissipados no solo por meio da placa aterrada. A área protegida pelo para-raios tem o formato de densidade de cargas iguais, porém contrárias, de um cone, sendo a ponta da antena o seu vértice. Sua módulo σ. Você quer usar essas placas para manter altura vai da ponta da antena ao chão e seu raio no fixa na área entre elas uma gota de óleo de massa 324 solo mede cerca do dobro da altura em que está a µg que carrega 5 elétrons em excesso. Supondo que ponta do dispositivo. O ângulo entre o vértice e a ge22 ratriz do cone costuma ser de 55º. Para descobrir o Com a mesma finalidade do para-raios de Franklin, raio da área protegida pelo equipamento, usa-se a se- o para-raios de Melsens adota o princı́pio da gaiola guinte fórmula: R = Htg (A) , em que R é o raio, H a altura em metros e A o ângulo em graus. de Faraday3 . O edifı́cio é envolvido por uma armadura metálica, daı́ o nome gaiola. No telhado, é ins- A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) talada uma malha de fios metálicos com hastes de tem uma norma especı́fica para a proteção de estru- cerca de 50 cm. Elas são as receptoras das descarturas contra descargas elétricas, a ABNT-NBR-5419. gas elétricas e devem ser conectadas a cada oito meSegundo ela, o cabo do para-raios, que vai da an- tros. A malha é divida em módulos, que devem ter tena ao solo, deve ser isolado para não entrar em dimensão máxima de 10 x 15 m. Sua conexão com o contato com as paredes da edificação. É indicado solo, onde a energia dos raios é dissipada pelas hastambém utilizar parafusos de alumı́nio ou aço inoxidável, para que não haja ferrugem. tes de aterramento, é feita por um cabo de descida. Esse cabo pode ser projetado usando a própria estrutura do edifı́cio. As ferragens de suas colunas podem estar conectadas à malha do telhado e funcionar como ligação com o solo. Os para-raios radioativos podem ser distinguidos dos outros, pois seus captadores costumam ter o formato de discos sobrepostos em vez de hastes pontiagudas. O material radioativo mais utilizado para sua fabricação é o radioisótopo Amerı́cio-2414 . Esses para-raios tiveram sua fabricação autorizada no Brasil entre 1970 e 1989. Nessa época, acreditava-se que os captadores radioativos eram mais eficientes do que os outros modelos. Porém, estudos feitos no paı́s e no exterior mostraram que os para-raios radioativos não tinham desempenho superior ao dos pararaios convencionais na proteção de edifı́cios, o que não justificaria o uso de fontes radioativas para esta Figura 3.3.1: Captor Franklin da empresa TERMOTECNICA. Para-raios de proteção atmosférica função. Sendo assim, em 1989, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), por meio da Resolução Nº 4/89 suspendeu a produção e instalação desse modelo de captador. O princı́pio de para-raios de Franklin é o poder das O Brasil é o paı́s com maior incidência de raios no pontas2 , sendo o modelo mais utilizado, composto mundo. De acordo com o Instituto Nacional de Pespor uma haste metálica onde ficam os captadores e quisas Espaciais (Inpe), cerca de 70 milhões de raios um cabo de condução que vai até o solo e a energia atingem o paı́s todos os anos, uma média de duas da descarga elétrica é dissipada por meio do aterramento. O cabo condutor, que vai da antena ao solo, deve ser isolado para não entrar em contato com as paredes da edificação. As chances de o raio ser atraı́do por esse tipo de equipamento são de 90%. 2 Poder das pontas é a capacidade de os corpos eletrizados se descarregarem pelas pontas. A carga elétrica em excesso num corpo condutor distribui-se apenas pela superfı́cie exterior do corpo e concentra-se nas zonas mais pontiagudas (ou de menor raio), rarefazendo-se nas restantes. Na proximidade dos corpos existem sempre no ar átomos e moléculas ionizadas. Havendo grande concentração de cargas elétricas numa ponta (zona pontiaguda) dum corpo, haverá atração para a ponta dos iões de sinal contrário às cargas na ponta e repulsão dos iões com o mesmo sinal. Os iões que são atraı́dos provocam a descarga da ponta. Por sua vez, os movimentos de partı́culas junto da ponta originam novas ionizações no ar e o fenômeno de descarga da ponta aumenta. 3 Gaiola de Faraday foi um experimento conduzido por Michael Faraday para demonstrar que uma superfı́cie condutora eletrizada possui campo elétrico nulo em seu interior dado que as cargas se distribuem de forma homogênea na parte mais externa da superfı́cie condutora (o que é fácil de provar com a Lei de Gauss), como exemplo podemos citar o Gerador de Van de Graaf. No experimento de Faraday foi utilizada uma gaiola metálica, que era eletrificada e um corpo dentro da gaiola poderia permanecer lá, isolado e sem levar nenhuma descarga elétrica. 4 O americio ( nome dado em homenagem ao Continente Americano ) é um elemento quı́mico, sı́mbolo Am, número atômico 95 ( 95 prótons e 95 elétrons ) com massa atômica [243] u, situado no grupo dos actinı́deos na tabela periódica dos elementos. Todos os seus isótopos são radioativos. À temperatura ambiente, o amerı́cio encontra-se no estado sólido. Foi descoberto em 1944 por Glenn T. Seaborg, Leon O.Morgan,Ralph A. James e Albert Ghiorso, sintetizado a partir do plutônio. O Am-241 é empregado em alguns tipos detectores de fumaça, e como fonte de raios gama e nêutrons que podem ser usados em radiografia. 23 ou três descargas elétricas por segundo. Além de causar incêndios e grandes prejuı́zos econômicos, esse fenômeno representa também uma ameaça à população. Anualmente cerca 300 pessoas são atingidas por raios no Brasil, cerca de 100 acabam falecendo. Isso representa 10% dos óbitos relacionados a descargas elétricas em todo o mundo. Entre os anos 2000 e 2010, ocorreram 1321 mortes relacionadas ao fenômeno. Esses números não são exatos, já que muitas mortes provocadas por raios são registradas como óbitos por parada cardı́aca, fazendo a estatı́stica parecer mais baixa. Os raios são um fenômeno comum em regiões tropicais, e sendo o Brasil o maior dos paı́ses tropicais, é normal que ele seja o mais atingido. A região centro-sul é a que apresenta maior incidência, principalmente o sul do Mato Grosso do Sul, onde ocorrem 20 raios por quilômetro quadrado ao ano. Entre 2005 e 2008, houve um aumento de 102,7% na incidência de raios no paı́s. Uma hipótese para o aumento constante desses números está sendo estudada pelos cientistas do Inpe em parceria com a Nasa e Universidades norte-americanas. Segundo eles, o aquecimento global pode estar contribuindo para o fenômeno. Isso ocorreria porque, com mais raios, mais florestas são incendiadas, aumentando o efeito estufa. Esses incêndios liberariam mais dióxido de carbono, aumentando o número de raios e alimentando o ciclo. Os cientistas acreditam que, a cada grau de aquecimento da temperatura terrestre, a incidência de raios aumente de 10% a 20%. No Brasil, a maior parte dos acidentes com vı́timas ocorre em zonas rurais, quando os raios atingem pessoas que estão em áreas descampadas. Outro local que costuma ser alvo de raios são os campos de futebol, mesmo em grandes cidades. Frequentemente, escutamos notı́cias de jogadores que foram atingidos por descargas elétricas durante uma partida. Por isso, em caso de tempestade, é recomendado procurar um abrigo seguro, já que no campo seu corpo funciona como um para-raios, atraindo para si as descargas elétricas vindas da atmosfera. 24 Capı́tulo 4 Fluxos e integrais de linha 4.1 Fluxo de um campo vetorial Φ= Suponha inicialmente uma superfı́cie plana de área A dentro de um campo de velocidades ~v . Este campo pode ser, por exemplo, um córrego, o fluxo de gás dentro de uma tubulação, etc. De qualquer forma, haverá nesse campo um fluido onde a cada ponto associaremos um vetor velocidade ~v . v ∆t A =vA ∆t Suponha agora que a superfı́cie A esteja inclinada de um ângulo θ, como mostra a figura 4.1.2. Observe que a quantidade de fluido que atravessa A no tempo Δt é a mesma que atravessa A’ (que é a projeção de A em um plano perpendicular às linhas de campo) . Assim ΦA = ΦA′ = v A’ . Vamos supor inicialmente que o campo é uniforme (ou seja, a velocidade é a mesma para todos os pontos desse espaço e a direção e sentido se mantem constante) e que a superfı́cie esteja perpendicular ao campo. Definimos então Φ= Quantidade de f luido que atravessa a superfı́cie A tempo Figura 4.1.2: Superfı́cie inclinada relativamente ao fluxo como A’ = Acos (θ), então ΦA = vAcos (θ) ~ onde A ~ = A~n e ~n um vetor unitário ⇒ΦA = ~v · A, normal a superfı́cie. Figura 4.1.1: Superfı́cie aberta perpendicular ao fluxo 4.1.1 Fluxo numa superfı́cie fechada Podemos expressar esta definição em termos de v Considere a figura a seguir: e de A com a seguinte consideração: num tempo Δt, cada partı́cula do fluido percorre uma distância v Δt. Assim, se construirmos um paralelepı́pedo de base A e comprimento v Δt, notaremos que toda a partı́cula que estiver dentro desta ”caixa” atravessa a superfı́cie A no tempo Δt. As partı́culas que estiverem fora não conseguirão, neste tempo, atravessar a superfı́cie. Assim, a quantidade de fluido que atravessa a superfı́cie A no tempo Δ t será simplesmente o volume dessa ”caixa” , ou seja v Δt A. O fluxo será então: Figura 4.1.3: Superfı́cie fechada O fluxo através da superfı́cie é: Φ = Φsai − Φentra 25 observando localmente a superfı́cie (figura 5.1.4), Se o caminho de integração é uma curva fechada observamos que igualdade acima pode ser escrita como na figura 4.2.2, o integral torna-se um integral de linha fechado, e simboliza-se por: como: Φ= 5 X j=1 I ~j ~v · A ~ · d~l A L ~ em torno de L. que é denominada a circulação de A Figura 4.2.2: Integral de linha de um caminho fechado Figura 4.1.4: Fluxos nas superfı́cies do sólido Podemos generalizar esse resultado supondo um superfı́cie fechada composta de N superfı́cies planas e inclusive super que o campo de velocidades não é uniforme, mas assuma um valor constante na superfı́cie A~j : Φsuperf.fechada = N X j=1 4.2 ~j ~vj · A 4.3 Integral de superfı́cie ~ contı́nuo em uma região Dado um campo vetorial A, contendo uma curva suave S, definimos o integral de ~ através de S como superfı́cie, ou fluxo de A Z Integral de linha ~ · ~an dS = A S Z A cos (θ)dS S Vamos agora ver o caso em que o integrando envolve um vetor. Linha será uma trajetória ao longo de uma curva, no espaço. Poe definição, a integral de linha Z ~ · d~l A L Figura 4.3.1: Fluxo de um campo vetorial através de uma superfı́cie S ~ ao da é a integral da componente tangencial de A ~ e uma ou simplesmente curva L. assim, dado um campo vetorial A curva L: Φ= Z L ~ · d~l = A Zb Z ~ · dS ~ A S A cos (θ)dl a Para uma superfı́cie fechada, definindo um volume, a equação acima torna-se: Φ= I ~ · dS ~ A S ~ que sai de S. Observe que é o fluxo lı́quido de A que o caminho fechado define uma superfı́cie aberta, enquanto que uma superfı́cie fechada define um volume. Figura 4.2.1: Integral de linha Definimos o integral 26 Z de tal forma que o campo elétrico seja constante soρV dV bre a superfı́cie e que a superfı́cie contenha o ponto onde deseja-se calcular o campo elétrico. V como o integral de volume do escalar ρV sobre o vo- 3. Escreva a Lei de Gauss e realize o produto escalar ~ A. ~ lume V. E·d O significado fı́sico de uma integral de linha, de 4. Uma vez que a magnitude de E ~ é constante sosuperfı́cie ou de volume depende das quantidades bre S, pode-se retirar |E| ~ de dentro do sı́mbolo de ~ ou ρV . fı́sicas representadas por A integração. 4.4 5. Determine o valor de Qint da figura e o insira na equação da Lei de Gauss. Lei de Gauss ~. 6. Resolva a equação para obter a intensidade de E A lei de Gauss é a lei que estabelece a relação entre o fluxo elétrico que passa através de uma superfı́cie fechada e a quantidade de carga elétrica que existe dentro do volume limitado por esta superfı́cie. A lei de Gauss é uma das quatro Equações de Maxwell e foi elaborada por Carl Friedrich Gauss no século XIX. Matematicamente, expressamos o fluxo elétrico total Φatravés de qualquer superfı́cies fechada é igual a carga total encerrada por essa superfı́cie por: Φ= I S Figura 4.4.1: Em condições eletrostáticas, qualquer excesso de carga em um sólido condutor deve residir inteiramente sobre sua superfı́cie externa. ~ · dS ~ = Qint E ε0 Foi através da análise das linhas de forças produzidas por diversos sistemas de cargas elétricas Faraday enunciou a primeira versão da lei de Gauss: “Se considerarmos como positivo o número de linhas de forças que saem de uma superfı́cie fechada e de negativo o número de linhas de forças que entram na 4.4.1 Exemplos de aplicação - Campo de uma carga puntiforme mesma superfı́cie, o número total de linhas de forças (fluxo de linhas) que atravessam uma superfı́cie fechada é proporcional à carga elétrica contida no interior desta superfı́cie. “ A lei de Gauss representa um método alternativo para calcular o campo eletrostático gerado por uma distribuição de cargas, que é extremamente útil e simplifica espantosamente os cálculos, sempre que simetrias estejam envolvidas, como é, por exemplo o caso do campo eletrostático gerado por uma esfera. Para resolver problemas envolvendo a Lei de Gauss, usa-se a seguinte “receita”: Figura 4.4.2: Superfı́cie Gaussiana esférica ao redor de uma carga positiva 1. Cuidadosamente desenhar: localização de todas Aplicando a lei de Gauss: as cargas e a direção e sentido das linhas de força do I ~ campo elétrico E. ~ · dS ~ = Qint E 2. Desenhe uma superfı́cie Gaussiana imaginária1 S ε0 S 1 Uma Superfı́cie de Gauss, também chamada de Superfı́cie Gaussiana ou simplesmente Gaussiana neste contexto, é uma superfı́cie fechada tridimensional e imaginária utilizada em Eletromagnetismo para o cálculo do Campo Elétrico e Fluxo Elétrico. Como o campo elétrico tem módulo constante, e, ~ sendo perpendicular a superfı́cie, o ângulo com dA 27 ~ A ~ = EdA, e o integral: é de zero graus, logo E·d H ~ · dS ~= E Qint ε0 H ~ · dS ~= E H S S E4πr2 = EdS =E S H dS Qint Qint ⇔E= ε0 4πε0 r2 - Campo de um fio infinito Figura 4.4.4: Fio infinito. Análise das simetrias do campo elétrico: Figura 4.4.3: Superfı́cie Gaussiana coaxial cilı́ndrica é usada para encontrar o campo elétrico a uma distância r de um fio infinito eletricamente carregado. E2πrL = λ λL ⇔E= ε0 2πε0 r Apenas por curiosidade, vamos calcular este mesmo campo sem usar a lei de Gauss. Com isso consegui- mos perceber o quanto a utilização dessa lei facilita 1 -A partir da simetria da distribuição de carga, de- os cálculos. Observe a figura a seguir terminar a direção do campo elétrico. A direção do campo é radial e perpendicular a linha carregada 2 -Escolher uma superfı́cie fechada apropriada para calcular o fluxo. Tomamos como superfı́cie fechada, um cilindro de raio r e comprimento L. ~ • Fluxo através das bases do cilindro: o campo E e o vetor superfı́cie S1 ou S2 formam 90º, logo o fluxo é zero. Figura 4.4.5: Campo produzido em um ponto P distante R, de uma linha indefinida carregada com uma densidade de carga de λ C/m • Fluxo através da superfı́cie lateral do cilindro: o ~ é paralelo ao vetor superfı́cie dS. ~ O campo E ~ campo elétrico E é constante em todos os pon- O campo produzido pelo elemento de carga dq, compreendido entre x e x + dx, tem a direção e o sentido ~ A ~ = EdA tos da superfı́cie l: E·d indicado na figura e seu módulo é: H ~ · dS ~= E Qint ε0 H ~ · dS ~= E H S S S EdS =E dE = H dS = E2πrL 1 dq 4πε0 r2 Este campo tem dois componentes: um ao longo do eixo vertical y, e outra ao longo do eixo horizontal x: 3 - Determinar a carga que há no interior da superfı́cie fechada: dEy = dEcos (θ). A componente horizontal x não é necessário calcular já que por simetria se anulam de A carga que há no interior da superfı́cie fechada duas em duas. O elemento de carga dq situado em x, e o elemento de carga dq situado em –x produ- vale q=λL, donde λé a carga por unidade de comprimento. 4 - Aplicar o teorema de Gauss e explicitar o módulo zem campos cujos módulos são iguais, e cujas componentes horizontais são iguais e opostas. O campo 28 total é a soma das componentes verticais y através da superfı́cie esférica? Exercı́cio 30 - Medidas cuidadosas do campo elétrico +∞ +∞ Z Z 1 λdx cos (θ) E= dEy = 4πε0 r2 −∞ −∞ +π/2 E= na superfı́cie de uma caixa negra indica que o fluxo elétrico resultante saindo da superfı́cie da caixa é Z −π/2 λ E= 4πε0 R 6,0 kNm2 /C. (a) Qual é o a carga resultante dentro da caixa? (b) Se o fluxo elétrico resultante saindo da superfı́cie da caixa fosse zero, você poderia concluir que não Rdθ 1 λ cos 2θ cos θ 4πε0 R 2 havia nenhuma carga no interior da caixa? Explique sua resposta. cos θ +π/2 Z −π/2 Exercı́cio 31 - Uma carga puntiforme (q = +2,00 μC) está no centro de uma esfera imaginária de raio igual λ cos θdθ = 2πε0 R a 0,500 m. (a) Determine a área de superfı́cie da esfera. como podemos observar, com a lei de Gauss é muito mais simples! (b) Encontre o valor do campo elétrico em todos os pontos na superfı́cie da esfera. (c) Que é o fluxo do campo elétrico através da superfı́cie da esfera? (d) Sua resposta peça (c) mudaria se a carga punti- 4.4.2 Exercı́cios lei de Gauss forme fosse deslocada de modo que estivesse dentro Exercı́cio 27 - Um quadrado que aresta de 10 cm está da esfera, mas não em seu centro? centrado no eixo x em a região onde existe um campo (e) Qual é o fluxo do campo elétrico através da superfı́cie de um cubo imaginário que tenha aresta de elétrico uniforme dado por Tipler, Volume 2 Sexta Edição Página 66 1,00 m de comprimento e que engloba a esfera? ~ = (2, 00kN/C)~i E (a) Qual é o fluxo elétrico deste campo elétrico através da superfı́cie do quadrado se a normal à superfı́cie está no sentido de + x? (b) Qual é o fluxo elétrico através da mesma superfı́cie quadrada se a normal à superfı́cie faz um ângulo 60º com o eixo y e um ângulo de 90° com o eixo z? Exercı́cio 28 - Uma carga puntiforme isolada (q = +2,00 μC) está fixa na origem. Uma superfı́cie esférica imaginária do raio 3,00 m está centrada no eixo x em x = 5,00 m. (a) Esboce linhas de campo elétrico para este carga (em duas dimensões) considerando que doze linhas de campo igualmente espaçadas no plano xy saem da posição da carga, com uma das linhas na direção de + x. Alguma destas linhas entra na superfı́cie esférica? Em caso afirmativo, quantas? (b) Alguma destas linhas sai da superfı́cie esférica? Em caso afirmativo, quantas? (c) Contando as linhas que entram como negativas e as que saem como positivas, qual é o número lı́quido de linhas de campo que penetram a superfı́cie esférica? (d) Qual é o fluxo elétrico resultante 29 30 Capı́tulo 5 Potencial elétrico 5.1 Definições Para obter o potencial elétrico de um ponto, coloca- Suponha que desejamos movimentar uma carga se nele uma carga de prova q e mede-se a energia potencial adquirida por ela. Essa energia potencial pontual (ou puntiforme) q, de um ponto A para um ~ A força sobre a ponto B, em um campo elétrico E. ~ e o trabalho realizado é: carga é F~ = qE, é proporcional ao valor de q. Portanto, o quociente entre a energia potencial e a carga é constante. Esse ~ ~l dW= - qE·d o sinal negativo indica que o trabalho é feito por um agente externo. Assim: quociente chama-se potencial elétrico do ponto. A unidade no S.I. é J/C = V (volt) Nos problemas envolvendo cargas puntuais, é costume considerarmos um ponto no infinito como referência, isto é que o potencial no infinito é zero. Assim o potencial num ponto dado por um sistema de N cargas é: W = −q ZA ~ · d~l E B V = N 1 X qi 4πε0 i |~r − ~ri | Dividindo o trabalho pela carga, obtemos a energia potencial elétrica por unidade de carga. Essa gran- A energia potencial associada a duas cargas separadeza, denominada por VAB , é a diferença de poten- das pela distância r é: 12 cial. Define-se diferença de potencial entre os pontos A e B como o trabalho realizado para transportar uma carga q de B até A, dividido pelo valor da carga U= q: 1 q1 q2 4πεo r12 Linhas equipotenciais, são linhas de mesmo potencial elétrico. Quando uma carga puntiforme está iso- VAB = WBA =− q ZA lada no espaço, ela gera um campo elétrico em sua volta. Qualquer ponto que estiver a uma mesma ~ · d~l E distância dessa carga possuirá o mesmo potencial elétrico. Portanto, aparece ai uma superfı́cie equi- B VAB é calculado através de uma integral de linha, cujo trabalho realizado independe da trajetória esco- potencial esférica. Podemos também encontrar su- lhida. A escolha do ponto inicial B e não A, se deve ao fato de que na notação de diferença de potencial, pela convenção universal da notação de duplo ı́ndice, a primeira letra deve designar o ponto de maior potencial. 31 Figura 5.1.1: Superfı́cie equipotencial esférica perfı́cies equipotenciais no campo elétrico uniforme, Resposta onde as linhas de força são paralelas e equidistantes. Sim. O potencial elétrico num ponto pode assuNesse caso, as superfı́cies equipotenciais localizam- mir qualquer valor. Somente a diferença de potense perpendicularmente às linhas de força (mesma cial é que possui significado fı́sico determinado. Por distância do referencial). Nota-se que, percorrendo razões de comodidade, podemos admitir que o pouma linha de força no seu sentido, encontramos po- tencial da Terra (ou de qualquer outro referencial tenciais elétricos cada vez menores. Vale ainda lem- equipotencial ) seja igual a zero. Qualquer outro vabrar que o vetor campo elétrico é sempre perpen- lor escolhido também serve, pois o que será fisicadicular à superfı́cie equipotencial, e consequente- mente relevante é a diferença de potencial. mente a linha de força que o tangencia também. E26.1 - A diferença de potencial elétrico entre pontos As propriedades gerais de superfı́cies equipotenciais de descarga durante uma determinada tempestade é são: de V = 1, 2 × 109 V. Qual é o módulo na variação da 1. As linhas de campo elétrico são sempre perpenenergia potencial de um elétron que se move entre diculares as linhas equipotenciais e apontam do poesses pontos? tencial maior para o potencial menor. Resolução 2. Por simetria, as superfı́cies equipotenciais de uma carga pontual formam uma famı́lia de esferas ∆U = e∆V concêntricas e as superfı́cies equipotenciais de um ∆U = 1, 6 × 10−19 × 1, 2 × 109 plano infinito uma famı́lia de planos infinitos para∆U = 1, 92 × 10−10 J lelos ao plano. 3. A componente tangencial do campo elétrico P26.3 - Em um relâmpago tı́pico, a diferença de potencial entre pontos de descarga é cerca de 109 V e a ao longo de uma superfı́cie equipotencial e sempre nula. Caso contrario, teria de ser trabalho realizado quantidade de carga transferida de cerca de 30 C. para mover uma carga ao longo de uma superfı́cie. (a) Quanta energia é liberada? 4. Nenhum trabalho e necessário para mover uma carga ao longo de uma superfı́cie equipotencial. (b) Se toda a carga que foi liberada pudesse ser usada para acelerar um carro de 1000 kg a partir do repouso, qual seria a sua velocidade final? (c) Que quantidade de gelo a 0ºC seria possı́vel derreter se toda a energia liberada pudesse ser usada para este fim? Dado: o calor de fusão do gelo é L = 3, 3 × 105 J/kg. Resolução (a) U = qV = 30 × 109 = 3, 0 × 1010 J (b) Igualando a energia encontrada no item (a) com Figura 5.1.2: Linhas de campo elétrico e equipotenciais 5.1.1 Exercı́cios resolvidos a energia cinética do carro, encontramos: 2U 1 ⇔v= U = mv 2 ⇔ v 2 = 2 m r 2U m portanto 4ª edição do livro “Fundamentos de Fı́sica”, Halliday, Resnick e Walker. v= s 2 × 3, 0 × 1010 ∼ = 7, 75 × 103 m/s 103 Q26.1 - Podemos considerar o potencial da Terra igual a 100 Volts em vez de igual a zero? Que efeito (c) A energia U fornece o calor necessário para fundir terá esta escolha nos valores medidos para: (a) potenciais e (b) diferenças de potencial? uma certa massa M de gelo. Como Q = M L , e tendo em conta que Q = U ,encontramos o seguinte valor 32 para a massa M : Q = ML ⇔ M = M= Q L 3,0×1010 3,3×105 M = 9, 10 × 104 kg 33