1 V I G G I L Â N C II A A E E P P II D D E E M M II O O LL Ó Ó G G II C A INFORME – NET DTA SSeeccrreettaarriiaa ddee EEssttaaddoo ddaa SSaaúúddee ddee SSããoo PPaauulloo CCeen nttrroo ddee VViiggiillâânncciiaa EEppiiddeem miioollóóggiiccaa ““PPrrooff.. AAlleexxaannddrree VVrraannjjaacc”” DDiivviissããoo ddee DDooeennççaass ddee TTrraannssm meennttaarr miissssããoo HHííddrriiccaa ee AAlliim MANUAL DAS DOENÇAS TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS VIBRIO CHOLERAE / CÓLERA 1. Descrição da doença - doença infecciosa intestinal aguda, causada pelo Vibrio cholerae (V. cholerae) geralmente moderada ou assintomática, manifesta-se com quadro grave em cerca de 5% das pessoas que adquirem a doença. Caracteriza-se, em sua forma mais evidente, por diarreia aquosa súbita e profusa, com aspecto de “água de arroz”, vômitos ocasionais, desidratação rápida e cãibras nas pernas. Sem terapia de reidratação a taxa de mortalidade pode atingir de 30 a 50% dos casos. Entretanto, com tratamento adequado, a taxa é menor que 1%. O vibrião colérico produz enterotoxina que parece ser totalmente responsável pela perda maciça de líquidos. Ao penetrar no intestino delgado, em quantidade suficiente para produzir infecção, inicia processo de multiplicação bacteriana, elaborando a enterotoxina que induz à secreção intestinal, associada à secreção de AMP-cíclico intestinal. 2. Agente etiológico e toxina - o Vibrio cholerae é bactéria Gram negativa que se apresenta na forma de bastonete encurvado, e ocorre naturalmente em ambientes aquáticos. Pertence ao gênero Vibrio e à família Vibrionaceae. Os sorogrupos O1 e O139 são responsáveis por epidemias e pandemias de cólera. Esses sorogrupos são responsáveis pela produção da enterotoxina chamada toxina colérica (TC) e toxina coreguladora pilus (TCP). 3. Ocorrência - o Vibrio cholerae causa estimadamente 11 milhões de casos de doença no mundo por ano, incluindo os surtos. Cerca de 90% dos casos e 70% dos surtos de 1995-2005 ocorreu na África. A incidência de cólera tem aumentado globalmente na última década, quando surtos de cólera atingem vários continentes, mostrando que a 7ª pandemia não terminou ainda. Está em pleno curso em países da Ásia, África e América Latina, Central e Caribe. O registro de surtos epidêmicos em países como Haiti e República Dominicana, desde 2010, Cuba e México no 2º semestre de 2013, acentua os riscos de reintrodução da cólera no Brasil, e reforça a necessidade de cuidados de prevenção de sua disseminação, especialmente considerando os eventos de massa. No Brasil a epidemia iniciou-se em 1991, com casos até 2005, sendo que mais de 80% deles ocorreram no período de 1992 a 1994. No Estado de São Paulo, neste mesmo período (1992 a 1994) ocorreram menos de 1% dos casos totais registrados 2014 2 no país. Não há registro de casos autóctones no Estado de São Paulo desde 1994. Em 1999, foi registrado um caso não autóctone proveniente da Bahia e em 2011 outro não autóctone, residente no município de São Paulo que adquiriu a doença em turismo pela República Dominicana. 4. Período de incubação - Os sintomas geralmente aparecem entre poucas horas a 3 dias da ingestão do agente. 5. Modo de transmissão - o Vibrio cholerae é transmitido por via oral, ou seja, pela ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes de uma pessoa infectada. A doença não se transmite facilmente de uma pessoa para outra e, portanto, o contato casual com uma pessoa infectada não é um risco para adoecer. 7. Susceptibilidade e resistência - Todas as pessoas são consideradas suscetíveis à infecção. No entanto, a infecção é mais provável de ocorrer entre as pessoas que habitam áreas pobres, pouco desenvolvidas, e com alta densidade populacional. A cólera é mais grave em crianças que sofrem de desnutrição. As pessoas que não tenham sido previamente expostas ao organismo são mais susceptíveis de se tornar infectadas, visto que geralmente é conferida imunidade por infecção. 8. Diagnóstico - A cólera pode ser confirmada apenas pelo isolamento do organismo causador nas fezes de pessoas infectadas. 9. Tratamento - A cólera pode ser tratada simplesmente pela reposição imediata do fluido e dos sais perdidos pela diarreia. Os pacientes podem ser tratados com uma solução para reidratação oral, solução utilizada em todo o mundo para o tratamento de diarreia. Casos graves também exigem a reposição de líquidos por via intravenosa. Com uma reidratação rápida, menos de 1% dos pacientes com cólera vão a óbito. Antibióticos encurtam o curso e diminuem a gravidade da doença, mas são indicados apenas nos casos moderados e graves. 10. Alimentos associados - infecções com esses organismos têm sido associados a uma variedade de frutos do mar, incluindo moluscos (ostras, mexilhões), caranguejo, lagosta, camarão, lula e peixes ósseos. A doença geralmente resulta do consumo desses frutos do mar crus ou mal cozidos. 11. Medidas de controle 1) notificação – a ocorrência de surtos ou casos suspeitos requer a notificação imediata às autoridades de vigilância epidemiológica municipal, regional e central, para que se desencadeie a investigação das fontes comuns e o controle da transmissão através de medidas preventivas (verificação de contaminação fecal de água e outros alimentos; medidas educativas, entre outras). Orientações para os casos suspeitos internados no Estado de São Paulo poderão ser obtidas junto à Central/CIEVS/CVE/SES-SP, no telefone é 0800-55-54-66; 2) medidas preventivas – educação sanitária; saneamento básico; ferver ou clorar a água que será usada para beber em locais com problemas de água potável; cozinhar 3 bem os alimentos como legumes, peixes e frutos do mar; lavar bem e higienizar com hipoclorito de sódio (2,5%) ou água sanitária as verduras e frutas; 3) medidas em epidemias – investigação do surto/epidemia e detecção da fonte de transmissão.Orientações básicas sobre higiene pessoal e medidas sanitárias gerais; 4) Vacina – atualmente há vacina oral que poderá ser utilizada dependendo da situação epidemiológica, especialmente, como uma ferramenta de controle da doença em situações de risco de surto ou oferecida a viajantes que irão a turismo ou em trabalho temporário em países com epidemia/endemia de cólera. 12. Bibliografia consultada e para saber mais sobre a doença 1. FDA/CFSAN (2012). Bad Bug Book. Vibrio cholerae Serogroups O1 and O139. Atualizado em 20 de maio de 2013. Disponível em: http://www.fda.gov/Food/FoodborneIllnessContaminants/CausesOfIllnessBadB ugBook/default.htm. 2. Centers For Disease Control and Prevention/CDC – Cholera – Vibrio cholerae infection. [acessado em fevereiro de 2014. Disponível em: http://www.cdc.gov/cholera/prevention.html 3. World Health Organization. Weekly Epidemiological Report Vaccination: an additional tool for the control of cholera. March 26, 2010. Disponível em: http://ww.who.int/cholera 4. OPAS/OMS. Actualización Epidemiológica – Cólera, 23/12/2013. Disponível em: www.paho.org/colera Texto organizado pela Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar, fevereiro de 2014.