Branding de Destinos: uma análise do Plano de Marketing Turístico da cidade de Natal/RN à luz da teoria. Felipe Matheus Leite Fernandes (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) [email protected] Lucas Fernandes Mooneyhan Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) [email protected] Resumo: O presente trabalho tem como objetivo entender a aplicação da teoria de Branding de Destinos às cidades, a partir da análise do Plano de Marketing Turístico de Natal/RN com base no modelo integrado proposto por Mihalis Kavaratzis em 2009. Esta modalidade de Branding seleciona um conjunto de elementos que irão diferenciar e identificar um destino escolhido diante da imagem positiva construída. A metodologia é interpretativista bibliográfica, predominantemente qualitativa de caráter descritivo, com amostra concentrada em um estudo de caso e coleta de dados através de entrevista semiestruturada. Os resultados do estudo revelam a importância Branding de Destinos para o marketing turístico dos destinos e a situação do marketing turístico de Natal quanto às práticas voltadas à gestão de marcas segundo o modelo. Palavras chave: Branding de Destino, Marketing Turístico, Marcas, Natal/RN. Destination Branding: an analysis of the Tourism Marketing Plan of Natal/RN in the light of the theory. Abstract The present work aims to understand the application of the theory of Branding of Destinations to the cities, from the analysis of the Marketing Plan of Tourism of Natal/RN based on the integrated model proposed by Mihalis Kavaratzis in 2009. This type of Branding selects a set of elements that will differentiate and identify a destination chosen due to the positive image built. The methodology is childhood literature, predominantly qualitative in nature, descriptive, with a concentrated sample in a case study and data collection through semi-structured interviews. The results of the study reveal the importance of the Branding of Destinations for the tourism marketing of destinations, and the situation of the tourism marketing of Christmas as to the practices aimed to the management of brands according to the model. Key-words: Branding of Destination, Tourism Maketing, Brands, Natal/RN. 1 Introdução No cenário econômico atual, o turismo configura-se como um dos principais atores, “o volume de negócios do turismo iguala ou até supera ao das exportações de petróleo, produtos alimentares ou automóveis.” (OMT, s.d.). São várias as cidades, estados e países que tem o turismo como uma de suas principais atividades econômicas, fato gerador de um ambiente competitivo entre tais destinos turísticos no tocante a atração por visitantes. É nesse contexto de alta concorrência e necessidade planejar estratégias mercadológicas mais eficientes que o Branding de Destinos torna-se importante. A partir da construção de uma marca para o destino turístico capaz de desenvolver na mente do turista, associações positivas sobre tal e despertar nele o interesse em desfrutar das experiências prometidas pela marca é possível criar uma vantagem competitiva posicionando o destino a frente dos concorrentes. Com o intuito de analisar a aplicação do Branding de Destinos à realidade dos destinos turísticos, a cidade de Natal, localizada no estado do Rio Grande do Norte, foi escolhida para ser objeto do estudo de caso deste trabalho que busca examinar, a partir de uma análise teórica e empírica qualitativa, se são abordados os conceitos de tal teoria no planejamento de marketing turístico da cidade. Isso, pois esta é reconhecida pelas belas praias e sol constante, tendo a atividade turística como propulsora de sua economia. Nessa perspectiva, destaca-se como problema de pesquisa: o Branding de Destinos se aplica ao Plano de Marketing turístico de Natal? Tem-se ainda como objetivo geral revisar a literatura referente à Branding de Destinos e discutir a aplicação desta no marketing turístico de Natal. Os objetivos específicos consistem na delimitação das categorias essenciais ao trabalho (Destinos, Marketing de Destinos, Branding e Branding de destinos), apontamento de um modelo de gestão de marcas de destinos à ser utilizado como base para as análises do estudo de caso, sendo este o proposto por Kavaratzis (2009), além de confrontar tal modelo teórico proposto com o Plano de Marketing Turístico de Natal, julgando a atual situação do plano frente ao modelo alvidrado por Kavaratzis. Sendo assim, ao final do presente artigo é esperado que os leitores conheçam mais sobre as práticas de branding aplicada a destinos turísticos - a partir da análise do caso de Natal podendo assim desenvolver mais estudos sobre o tema, construir técnicas que possibilitem aos destinos planejar marcas que possam ser diferenciais em meio a um ambiente competitivo e ainda sugerir intervenções para melhoria do Plano de Marketing Turístico de Natal. Tudo isso, para tornar o turismo mais uma atividade que contribui com o desenvolvimento econômico local. 2 Referencial Teórico O Referencial Teórico da pesquisa tem como objetivo destacar os principais conceitos de Destinos turísticos, Branding, Marketing de Destinos, Branding de Destinos além, é claro, da apresentação do Modelo integrado de gestão para marcas de destinos proposto por Kavaratzis. Para, dessa maneira, proporcionar um melhor entendimento do trabalho desenvolvido. 2.1 Destinos Turísticos Para Pike (2004) destino turístico pode ser considerado como um lugar que atrai visitantes por um determinado tempo. A Organização Mundia do Turismo (OMT) (2007) diz que turismo trata-se de um espaço físico onde o turista passa, no mínimo, uma noite, podendo ser um país, região, ilha, aldeia, vila, cidade ou área de resort. Cooper e Hall (2008), fala que o destino é mais que um produto, é um espaço físico onde acontece a atividade turística, a comunidade trabalha e vive e que é repleto de símbolos e imagens da cultura e da história e, segundo a complementação da OMT (2007), são oferecidos produtos, serviços de apoio, atrações, recursos turísticos. Buhalis (2000) ainda fala das experiências oferecidas localmente, que conjuntamente são comercializados sob a marca do destino. O Ministério do Turismo realiza um trabalhado de utilização do “Marketing como ferramenta para competitividade dos destinos”; em um dos seus relatórios de transparência, diz que: “O Ambiente de Marketing não é „incontrolável‟. Ele pode – e deve – ser acompanhado sob uma perspectiva de administração ambiental. Em vez de simplesmente observar e reagir, os destinos devem ter atuações que afetam os públicos e as forças do seu ambiente de marketing.”. Para Manente (2008), o destino turístico, uma das vertentes trabalhadas no Place Branding, é visto sobre 3 perspectivas: Figura 1 - Perspectivas de análise do Turismo A análise é simples, mas muito importante: Econômica, pois os turistas gastam dinheiro em suas viagens, geográfica, pois a região que ocupam é um território de fronteiras e psicográfica, pois existem motivos para a realização de uma determinada viagem. Dado o exposto, em súmula pode-se definir destino turístico como um lugar o qual é, está sendo, ou será visitado por uma ou mais pessoas por, no mínimo, uma noite. Seguindo, podese dizer também que os benefícios gerados com a visita à algum destino vai muito além da menos complexa relação “Produto x Consumidor” que é vista no Branding tradicional, isto pois o envolvimento do Governo, moradores, empresários e os próprios turistas é crucial para o entendimento de um determinado lugar ser classificado como um destino turístico e aumenta o nível de interesses no Branding de destinos. 2.2 Branding Branding de acordo com Keller e Machado (2006, p.02): “É o conjunto de atividades que visa otimizar a gestão das marcas de uma organização como diferencial competitivo”. Atividades estas que “levam as marcas além da sua natureza econômica, passando a fazer parte da cultura e influenciar a vida das pessoas.” (MARTINS, 2006, p.8). Já Chandler e Owen (2002) definem branding como as estratégias feitas pelas organizações para influenciar na forma subjetiva como as pessoas entendem as marcas e o que estas querem oferecer. Compreende-se, então que o branding além de desenvolver um elemento distintivo e dar notoriedade a marca, busca elaborar associações na mente dos indivíduos para assim posicionar-se. Marcas estas que segundo Philip Kotler (2000, pg.426): É essencialmente uma promessa da empresa de fornecer uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. As melhores marcas trazer uma garantia de qualidade. Mas uma marca é um símbolo ainda mais complexo. Ela pode trazer até seis níveis de significado: atributos, benefícios, valores cultura, personalidade e usuário. Se a empresa trata a marca apenas como um nome, está totalmente equivocada. O desafio de estabelecer uma marca é desenvolver profundas associações positivas em relação a ela. Pode-se ainda, definir Branding, a partir do conceito de Brand Equity definido por Aaker (1998) como os ativos e passivos ligados ao nome ou símbolo da empresa, tais quais podem ser somados ou subtraídos do valor proporcionado do produto ou serviço oferecido pelas organizações e são descritos em cinco categorias, sendo estas: lealdade à marca, conhecimento do nome, qualidade percebida, associações da marca e outros ativos da empresa. Quando bem trabalhado, o Brand Equity de uma organização proporciona tanto valor para o consumidor como para empresa. Portanto, branding consiste em atividades para otimizar a gestão das marcas, de maneira a ultrapassar apenas os sentidos econômicos de tal buscando assim impactar a sociedade através de estratégias que influenciem na forma como as pessoas compreendem a proposta de valor das marcas, sendo estas uma promessa de qualidade, valores, dotadas de personalidade capazes de desenvolver associações que as posicionem na mente do consumidor a partir de um Brand Equity a ser trabalhado pelos gestores. 2.3 Marketing de Destinos Segundo Cooper e Hall (2008, p.226), “marketing de destinos é uma atividade estratégica, relacionada não só com o turismo, mas também com a sua sustentabilidade, desenvolvimento econômico, investimento e estilo de vida dos residentes.”. A OMT, (2004, p.10) evidencia que o marketing de destinos, “abrange todas as atividades e processos que aproximam os compradores e os vendedores, focando-se em responder às exigências dos consumidores e em alcançar um posicionamento competitivo, é assim um conjunto coordenado de atividades associadas a uma distribuição eficiente dos produtos para mercados de elevado potencial, envolvendo a tomada de decisões sobre o produto, o branding, o preço, a segmentação de mercado, a promoção e a distribuição.”. Gradualmente, é possível acompanhar várias perspectivas as quais são responsáveis pela crescente necessidade de mudança no mercado turístico e, diante desse fato, Buhalis (2000) afirma que a definição de marketing de destinos pode ser interpretada de modo bem mais subjetivo (mais necessariamente com base em critérios) por um dos públicos dos quais fazem parte dos tantos stakeholders envolvidos no Place Branding. Isso irá sujeitar-se a fatores como: Figura 2 - Fatores de interpretação segundo Buhalis (2000). Wahab, Crampon e Rothfield (1976, p.24) muito tempo atrás e mesmo na vivência de um contexto diferente no passado, apresentam uma visão referente ao Marketing de destinos que vai a concordância com muitos autores de um período mais atual. Para eles, o Marketing de Destinos pode ser definido como “o processo de gestão através do qual as organizações de turismo nacional e/ou empreendimentos turísticos identificam seus turistas selecionados, reais e potenciais, se comunicam com eles para determinar e influenciar os seus desejos, necessidades, motivações, gostos e desgostos, em nível local, regional, nacional e internacional, e formulam e adaptam seus produtos turísticos em conformidade, tendo em vista alcançar a satisfação do turista ideal, assim, cumprindo os seus objetivos.”. Procurando evidenciar a parte mais prática possível do Marketing de destino/turístico, R. Lanquar e R. Hollier apud Madeira (2010, p.25) falam que esse tipo de Marketing “é o conjunto dos métodos e técnicas que têm subjacente um estado de espírito metódico – i.e., que pressupõe uma atitude de pesquisa, de análise e de dúvida permanentes – e que visa satisfazer, nas melhores condições psicossociológicas, a necessidade latente ou expressa de viajar e os melhores resultados para as organizações.”. Em súmula, a estratégia do Marketing de destinos na valorização dos destinos turísticos pode ser considerada como fator essencial para se atingir bons índices de satisfação. Mais que conceitos, a aplicação das técnicas que sustentam a importância do Place Branding (mais precisamente o Marketing de Destinos) gera resultados concretos para as organizações, sejam elas privadas ou públicas, que estão focadas no cumprimento de suas metas e interesses. 2.4 Branding de Destinos No setor de turismo é normal que os destinos turísticos tendam a trabalhar as estratégias de marketing baseadas em benefícios funcionais, como: praias, rede hoteleira bem estruturada, opções de bares e restaurantes, entre outros fatores basilares. Entretanto, David Aaker (2015) afirma que na maioria das vezes as estratégias que são planejadas a partir de benefícios funcionais são ineficazes. O autor complementa ainda dizendo que estas são fáceis de serem copiadas pela concorrência. Sendo fato que grande parte da indústria turística utiliza esses aspectos para se promover, tais passam a não ser diferenciais, mas sim pré-requisitos. Há a necessidade então de desenvolver vantagens competitivas distintas que para Aaker (2001) uma das formas de isso fazer é construindo marcas fortes, pois estas vão além dos atributos do produto ou serviço, chegando até a oferecer benefícios emocionais e de auto expressão. Segundo Dinnie (2011) com a global competição para atrair turistas e investimentos para cidades, os conceitos de estratégia de marca do mundo dos negócios corporativos vem sendo adaptado para o desenvolvimento das marcas de cidades. Completando este raciocínio Kavaratzis e Ashworth (2006) defendem que o branding de produtos pode ser utilizado também para cidades, sendo feitas adaptações, pelo fato de os indivíduos entenderem os lugares da mesma forma que entendem as marcas, pois o posicionamento das cidades, países e até regiões na mente destes se dá por associações, imagens e percepções. Cai (2002), define o Branding de Destinos como a seleção de um “mix” de elementos que buscam diferenciar e identificar um destino a partir de uma imagem positiva. Kavaratzis (2009) considera ainda a multidimensionalidade dos conceitos do branding de lugares e propõe a integração de todos em um só modelo, pelo fato de todos entender que a imagem de uma cidade é formada por tudo o que acontece ou é feito nesta com capacidade de comunicar uma mensagem a respeito do lugar. É importante citar também a importância dada por Kavaratzis (2009) à participação das comunidades locais no refinamento da visão e estratégias de marca das cidades. O que responsabiliza e torna importante às necessidades de todos os stakeholders envolvidos com os destinos turísticos, como: moradores e empresários. Além disso, o autor cita ainda que há um equívoco generalizado no entendimento do branding de cidades apenas no tocante ao desenvolvimento de logomarcas, ferramentas promocionais ou campanhas publicitárias, entretanto é muito mais que isso. Sendo assim, entende-se que o conceito do branding aplicado às empresas está sendo adaptado e utilizado no planejamento de marketing turístico com frequência, visto a capacidade das pessoas entenderem os destinos da mesma forma que compreendem as marcas. Tal prática propõe – a partir da construção de marcas fortes para os destinos que vai além de simples logomarcas, slogans ou campanhas publicitárias - o desenvolvimento de um diferencial competitivo que é elaborado pelo plano estratégico do destino turístico junto a todos os seus stakeholders. 2.5 Modelo integrado de gestão para marcas de destinos Vários são os modelos existentes para desenvolver marcas de destinos turísticos. Cai (2002), Rainsto (2003), Kavaratzis (2004), Anholt (2006) e Hankinson (2007) são exemplos de autores que propuseram alguns desses modelos. Segundo Kavaratzis (2009) há uma similaridade entre todos estes, fato que abre espaço para uma integração de todos em um só, sendo isso uma grande contribuição para a consolidação de uma linguagem comum ao branding de cidades. Com base nisso, Kavaratzis (2009) propôs um modelo reunindo as semelhanças entre o que os autores já haviam publicado levando em conta oito categorias integrantes do processo de gestão de marcas de cidades, sendo estas: visão e estratégia, cultura interna, comunidades locais, sinergia, infraestrutura, ambientes e cenários, oportunidades e comunicações. Modelo este que será utilizado como base das análises feitas no estudo de caso da atual situação do destino turísco Natal/RN frente aos conceitos de Branding de Destinos aplicado à cidades elaborado para o presente artigo. O modelo citado foi em 2009 na revista “Place Branding and Public Diplomacy” no artigo “Cities and their brands: Lessons from corporate branding”. É importante explicar o que cada uma dessas categorias significa para um melhor entendimento do modelo proposto. Neste, Kavaratzis (2009) afirma que o processo de Branding de cidades se inicia a partir de uma definição de como a cidade deseja ser vista e de estratégias para alcançar essa visão por parte dos atores políticos e stakeholders. Para isso, o autor sugere o desenvolvimento de uma cultura orientada para a marca aos que pertencem ao órgão responsável por esse processo. É de fundamental importância que as comunidades locais estejam envolvidas na construção da visão e estratégias de marca, para um alinhamento entre o que é proposto pelos órgãos políticos e atores que vivem e desenvolvem suas atividades na cidade e ainda o atendimento das necessidades destes. Com isso, todas as partes interessadas desempenharão funções necessárias para o cumprimento da promessa de marca a partir de uma sinergia estabelecida. Tal promessa será sustentada também pela infraestrutura e paisagens naturais do destino turístico. É a partir deste ambiente criado que a cidade tem a possibilidade de representar a sua visão de marca estabelecida. Deve-se também atentar para as oportunidades que o destino propicia aos indivíduos e às empresas, como: lazer, trabalho, educação, qualidade dos serviços, insenção de impostos, capital humano, entre outros fatores. Tudo isso, deve ser comunicado da maneira mais eficiente possível, para assim atrair o público-alvo. Para que este modelo seja implantado, segundo Kavaratzis (2009, pg.35): Dois elementos são essenciais durante todo o processo: (a) investigação externa e interna, a fim de estabelecer uma conexão no tocante às necessidades de todos os públicos relevantes e (b) uma forte liderança que garanta coerência e eficácia. Diante do que foi explanado, é possível concluir que o branding aplicado a destinos turísticos, neste caso cidades, não consiste apenas no simples desenvolvimento de identidade visual, slogans ou campanhas publicitárias. O processo é multidisciplinar e necessita de um engajamento de todos os envolvidos para que haja sucesso na sua implementação que se dá com base em frameworks desenvolvidos ao longo dos anos por estudiosos e não institivamente. 2.6 Metodologia Este estudo foi realizado através da exploração das principais teorias a respeito do Branding de Destinos com técnica bibliográfica no universo de pesquisa Natal/RN. Quanto à abordagem, optou-se por uma empírica, qualitativa com análise – com o máximo de profundidade possível – de um estudo de caso, enquanto estratégia de pesquisa para melhor precisão quando em comparação com o modelo de gestão considerado ideal. Para Gerhardt e Silveira (2009), a preocupação está em aprofundar a compreensão do grupo social, de uma organização etc. A modelo foi concretizado através do interpretativismo, onde o foco foi na pesquisa de fundamentação e compreensão da teoria. Os procedimentos deram-se através de um estudo de caso, o qual é definido abaixo: Como a primeira parte de uma definição em duas partes, um estudo de caso investiga um fenômeno contemporâneo (o “caso”) em seu contexto no mundo real, especialmente quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto puderem não está claramente evidente. A segunda parte da definição aponta para o projeto e a coleta de dados - por exemplo, como triangulação de dados ajuda a tratar condição técnica distintiva, por meio da qual um estudo de caso terá mais variáveis de interesse do que pontos de dados. Dentre as variações em estudos de caso, um estudo de caso pode incluir casos únicos ou múltiplos, pode ser limitado a evidências quantitativas e pode ser método útil para fazer avaliação. (YIN, 2015) Referente ao instrumento de coleta de dados, houve a utilização de um roteiro de entrevista semi estruturado e então, pré-estabelecido. Zaia Brandão (2000), “reclama uma atenção permanente do pesquisador aos seus objetivos, obrigando-o a colocar-se intensamente à escuta do que é dito, a refletir sobre a forma e conteúdo da fala do entrevistado” (p. 8). Além disso, expressões gestuais do entrevistado, ritmo da fala, tons etc; podem ser aspectos que substituem a fala, e a interpretação disso muitas vezes exige tempo e esforço. A entrevista aplicada no presente estudo foi dividida em dois momentos: - O primeiro momento foi da apresentação e aplicação da pauta para Daniel Marinho, Diretor do Departamento de Estudos e Projetos da Secretaria Municipal de Turismo, onde foi possível identificar que a elaboração do Plano de Marketing de Natal está sendo realizado de forma terceirizada através de uma empresa contratada em um processo licitatório com a utilização de recursos destinados ao Ministério do Turismo. - O segundo momento foi da apresentação e aplicação da pauta ao Professor Doutor em Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Carlos Alberto Freire, um dos integrantes da empresa e responsável direto pela elaboração e execução do Plano de Marketing em seus prazos pré-estabelecidos. Nessa etapa, foram apresentados e debatidos os principais itens do Plano de Marketing e dúvidas que ajudaram a modelar todo o presente estudo foram esclarecidas. O Plano tem previsão de ser executado nos quatro primeiros meses do ano de 2017 e o mesmo permanecerá durante cinco anos em vigor independente das mudanças governamentais. Com isso, tornou-se possível uma maior precisão na comparação da amostra – o Plano de Marketing da cidade de Natal – com o modelo de gestão ideal apresentado no estudo. 2.7 Apresentação e Análise de dados 2.7.1 Descrição da cidade de Natal/RN Localizada no Rio Grande do Norte, estado que faz parte da região Nordeste do Brasil. A “Cidade do Sol”, como é conhecida, tem o turismo como um dos alicerces da economia local. Com belas praias e sol constante, o destino proporciona ao visitante uma culinária típica, com pratos a base de frutos do mar, principalmente o camarão. Além de tudo isso Natal conta com uma extensa rede hoteleira, com aproximadamente 25 mil leitos, segundo o site da Prefeitura de Natal, proporcionando ainda ao turista várias oportunidades de entretenimento como passeio nas dunas, roteiros turísticos pelas praias do litoral norte e sul do Rio Grande do Norte, assim como opções de bares, boates e teatro. Todos esses fatores contribuíram para que, no início de 2016, Natal fosse eleita como 2º destino nacional mais procurado de acordo com a agência de turismo online Decolar.com, atrás apenas do Rio de Janeiro. Sendo assim, é demonstrada a importância do turismo para potencializar o desenvolvimento econômico da cidade e estado, provando a necessidade de estudos que contribuam para manutenção e melhoria das atividades turísticas. 2.7.2 Análise dos dados Os dados e informações coletadas para este trabalho foram obtidos a partir de uma entrevista semiestruturada com o Professor Carlos Alberto Freire, um dos principais atores da elaboração do Plano de Marketing Turístico de Natal. Nesta foram abordados pontos relacionados à aplicação da teoria de Branding de Destinos ao plano da cidade, seguindo o modelo proposto por Kavaratzis (2009), tal qual leva em conta oito categorias para a construção da marca de uma cidade, sendo estas: visão e estratégia, cultura interna, comunidades locais, sinergia, infraestrutura, ambiente e paisagens, oportunidades e comunicações. Como o modelo foi explicado em sessões anteriores, esta seção será restrita a análise da entrevista segundo as categorias propostas pelo autor. Abaixo, cada uma das categorias será analisada isoladamente e ao final há um quadro que compara de maneira mais visual a expectativa com base no modelo e a realidade do Plano de Marketing de Natal. 2.7.2.1 Visão e Estratégia dos responsáveis pelo Plano de Marketing Logo de início é possível notar uma preocupação com a construção de uma marca oficial para o destino, sendo esta programada para os primeiros quatro meses da execução do plano. Partese do princípio de que há muito a marca não é utilizada da maneira correta, sem padronização ou planejamento devido. É então latente a necessidade da criação da marca coerente com o posicionamento desejado e representando realmente o que a cidade tem à oferecer de melhor. Entretanto a marca é entendida de forma muito atrelada à logomarca e identidade visual. O Professor Carlos Alberto, citou ainda que um dos produtos do planejamento da nova marca é um Manual de Aplicação desta, tendo como objetivo padronizar todas as ações e estratégias relacionadas à marca da cidade. Dessa maneira, a primeira categoria apontada por Kavaratzis (2009) que consiste na definição de uma visão de marca e criação de estratégias para alcançar esta foi atendida. Aaker (2015) contribui com a teoria quando se trata a visão de marca como uma definição estruturada da imagem pretendida pela marca. 2.7.2.2 Cultura Interna No que se refere à cultura interna orientada a marca, o Plano de Marketing Turístico não apresenta informações suficientes para afirmar que tal objetivo é cumprido. Entretanto o fato de o planejamento de uma marca oficial para o destino ser um dos primeiros aspectos a ser citados pode remeter ao desenvolvimento de uma ideia da marca como um dos ideais a serem seguidos pelos responsáveis pela elaboração do plano. 2.7.2.3 Comunidades locais As comunidades locais são altamente levadas em conta para o desenvolvimento da marca da cidade de Natal, para a elaboração da logomarca da cidade, por exemplo, será realizado um concurso no qual toda a sociedade poderá participar sugerindo a nova identidade visual da marca. Além disso, a criação do Manual de Aplicação da marca demonstra que os gestores estão atentos ao uso da marca por stakeholders e ainda há estratégias de promoção de marca junto a imprensa e formadores de opinião como “blogueiros”. 2.7.2.4 Sinergia Práticas como as voltadas aos stakeholders e concurso para elaboração de uma logomarca, proporcionam um alinhamento entre o que os gestores da marca propõem e o que toda a sociedade busca. Sendo assim, é possível conquistar o apoio de todos os atores envolvidos nas atividades turísticas para o desenvolvimento da marca. 2.7.2.5 Infraestrutura Os aspectos relacionados à infraestrutura do local, que com base em Kavaratzis (2009) entregariam ao turista a promessa de marca, não são abordados no Plano de Marketing Turístico, entretanto são levados em conta pelo Plano de Desenvolvimento Turístico Sustentável, mas não há uma relação direta com a marca, o que permite a conclusão de que esta categoria não é abordada no planejamento das marcas. 2.7.2.6 Ambiente e paisagens No tocante ao uso dos atributos locais como paisagens locais e belezas naturais no desenvolvimento da marca, esta categoria é atendida. Praias, sol, dunas e cultura local fazem parte do processo de promoção da marca com material fotográfico, vídeos, portal na internet, stands em eventos, além da inserção desses aspectos na identidade visual da marca. Dessa maneira, tornam-se oportunidades capazes de atrair novos turistas para cidade. 2.7.2.7 Oportunidades Junto a marca da cidade serão desenvolvidos também canais de distribuição que transmitam aos turistas as oportunidades de lazer do destino. Com relação aos benefícios proporcionados à empresas e trabalhadores, isso se dará a partir da presença constante do stand da cidade em eventos relacionados ao turismo, onde a cidade terá a oportunidade de apresentar ao turismo de negócios o que oferece de melhor. 2.7.2.7 Comunicações Junto as promessas de marca, estão as estratégias de comunica-las ao público-alvo. Através do desenvolvimento de famtours e presstrips com “blogueiros” e operadores de turismo, criação de um portal online para o turista, atualização e uso das mídias sociais, desenvolvimento de um stand padronizado para eventos turísticos, almeja-se posicionar a marca em um local especial na mente dos turistas, de forma que eles entendam o destino da maneira que os gestores de marca desejam. Tudo isso, respeitando um Manual de Aplicação de Marca o que garante uma padronização da mensagem passada ao público. Categorias do modelo Expectativa Visão de marca estabelecida atrelada a estratégias que a desenvolvam. Visão e estratégia Cultura Interna Comunidades Locais Sinergia Infraestrutura Ambiente e paisagens Oportunidades Comunicação Os responsáveis pela gestão de marca do destino têm de compreender a marca como um dos aspectos fundamentais do marketing turístico. Os gestores da marca devem ser capazes de desenvolver uma cultura orientada à marca entre os que fazem parte do processo. As comunidades locais devem ser levadas em conta no processo de construção de marca. Deve existir uma sinergia entre quem desenvolve o planejamento da marca do destino e todos os seus stakeholders. A infraestrutura local deve ser levada em conta no processo, pois sem esta os aspectos mais básicos prometidos pela marca não são entregues aos turistas. O processo de desenvolvimento da marca deve considerar os ambientes e paisagens da cidade. A marca deve comunicar as oportunidades que oferecem a indivíduos e empresas. Todas as promessas de marca devem ser comunicadas da maneira Realidade - Desenvolver uma marca oficial para o destino é prioridade; - Compreensão da marca atrelada à identidade visual; Está programado o desenvolvimento de uma visão de marca e suas estratégias para os quatro primeiros meses de execução do plano. - Não apresenta informações significativas; - Concurso para desenvolvimento da logomarca por parte da sociedade; - Manual de aplicação da marca; - Ações de relacionamento com impresa, empresas e blogueiros relacionados ao turismo. - Preocupação com as comunidades locais proporcionam uma sinergia que sustenta o desenvolvimento da marca do destino. - Não é levada em conta no Plano de Marketing do Destino. - As belezas naturais e os ambientes da cidade são levados em conta do processo de desenvolvimento da marca (praias, dunas e sol). - Estratégias de promoção da marca comunicam oportunidades de lazer aos indivíduos; - Presença em eventos comunica oportunidades de negócios para empresas. - Portal online; - Mídias sociais; mais eficiente para se atingir o publico desejado. - Presstrips, famtours; - Stand padronizado para presença em eventos; - Manual de aplicação da Marca (padronização da mensagem). Fonte: Elaborada pelo autor Tabela 1 - Comparação entre o modelo ideal (Expectativa) e o caso Natal (Realidade) Consta, dessa maneira, que o Plano de Marketing Turístico de Natal aborda a maioria das categorias interpretadas por Kavaratzis como importantes, mesmo que de forma indireta. Entretanto, alguns aspectos que destoam da teoria podem ser citados, como o entendimento do papel das marcas. No Plano, a marca é justificada principalmente com aspectos relacionados à identidade visual do destino, o que restringe a capacidade de gerar benefícios das práticas de Branding de Destinos. É importante ainda, citar a ausência de aspectos ligados a uma cultura orientada a marca e a preocupação com os pontos positivos que a gestão de marcas apresenta diretamente para as comunidades locais. Também há de se pontuar a falta de relação direta entre infraestrutura e construção da marca, fato que é fundamental segundo o entendimento do autor do modelo. 3 Conclusão Em virtude dos fatos mencionados, entende-se que Destinos Turísticos, Branding, Marketing de Destinos e Branding de Destinos são conceitos que se encaixam e, com base no que foi elaborado o trabalho, são altamente dependentes um dos outros. Sem uma boa fundamentação do que é destino turístico, por exemplo, torna-se complexo o entendimento do Branding de Destinos, consequentemente, o modelo de gestão ideal apresentado no artigo torna-se bem menos preciso. A partir da descrição de tais conceitos, foi possível entender o Branding de Destinos como uma ação mercadológica de planejamento de marcas para os destinos turísticos, com o intuito de consolidar uma imagem e suas associações – desejadas pelos responsáveis pela construção da marca - na mente dos turistas, para assim desenvolver uma vantagem competitiva capaz de atrair cada vez mais visitantes à cidade, estado ou país. Seguindo a análise do Branding de Destinos aplicado ao Plano de Marketing da cidade de Natal/RN à luz do modelo de Kavaratzis (2009), o trabalho foi feito de forma estruturada e consistente sendo possível identificar vários pontos comuns entre a teoria e a prática mesmo que, por vezes, de forma indireta. A marca é tida pelo plano como um dos aspectos mais importantes a serem trabalhados, sendo o desenvolvimento desta a sua primeira ação, programada para os primeiros quatro meses de execução, visto que esta não é há muito tempo utilizada corretamente. Entretanto, a marca é entendida em sua forma restrita no que refere à justificativa dada pelo plano para se investir em tal, sendo compreendida apenas como uma logomarca à ser modernizada. Isso faz com que alguns benefícios potenciais proporcionados pela gestão de marcas acabem sendo desperdiçados. Além disso, disso não há uma relação da promoção da marca com os resultados que beneficiam todos os stakeholders do destino. Sendo assim, com este trabalho foi possível identificar relações entre o modelo de gestão de marcas proposto e o caso do Plano de Marketing de Natal, permitindo um julgamento da atual situação do plano perante a teoria o que abre espaço para novos estudos que contribuam com a área do Branding de Destinos, Turismo e Gestão. Referências AAKER, David A.. David Aaker on Branding: 20 princípios que decidem o sucesso das marcas. Porto Alegre: Bookman, 2015. AAKER, David A.. Marcas Brand Equity: Gerenciando o Valor da Marca. São Paulo: Negócio Editora, 1998. AAKER, David A.. 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