Banco Central x Conselho Monetário Nacional César Manoel de Medeiros1 O alto nível de credibilidade conquistada pelo BACEN, simultaneamente com a forte mitigação da cultura inflacionária, possibilita avanços na abordagem do governo, do congresso e do conselho monetário nacional, em relação ao regime de metas de inflação e formalização da autonomia operacional, exigindo que o Banco Central seja capaz de compatibilizar metas de inflação com metas de crescimento da produção e do emprego. O BACEN usa a Curva de Philips como um instrumento básico para estimar o PIB potencial e a taxa natural de desemprego no Brasil e procura induzir comportamentos racionais dos agentes econômicos através da manipulação da taxa de juros. Quando percebe sinais de pressões sobre a demanda, o BACEN aumenta as taxas de juros para evitar elevações de preços. Deste modo o BACEN espera que as empresas evitem aumentos excessivos de suas margens de lucros, pois, do contrário, elevações das taxas de juros reduzirão as vendas. Do mesmo modo, o BACEN mostra aos trabalhadores que reivindicações de aumentos de salariais muito acima de aumentos da produtividade do trabalho podem ser punidas com o aumento do desemprego provocado pela elevação da taxa de juros. Também, através de elevações de juros, o BACEN sinaliza ao setor público para não ultrapassar os limites orçamentários. Nova metodologia, que compreende compatibilizar metas de crescimento da produção e do emprego sem prejuízo da obtenção das metas de inflação, deve ser adotada pelo BACEN. Será necessário e viável combinar e cruzar projeções de demanda, da utilização da capacidade instalada e dos requisitos de expansão da oferta por setor. Esperados aumentos da demanda possibilitarão, ao BACEN, usar, ao mesmo tempo, tanto a taxa de juros quanto a flexibilização seletiva e indutora de depósitos compulsórios para compatibilizar crescimento com o controle da inflação, o que contribuirá, inclusive, para evitar excessiva valorização do Real. 1 Doutor em Economia pelo IE – UFRJ. As assimetrias de informações entre os empresários, os trabalhadores e a sociedade como um todo exigem, portanto, aperfeiçoamentos do modelo utilizado pelo o Banco Central para acompanhar, e até mesmo controlar, os níveis de demanda de modo a evitar pressões setoriais de preços. Logo, para obter a formalização de sua autonomia operacional, o BACEN deve incorporar, em parceria, ou não, com o IPEA, BNDS, BB, FGV etc, estudos de comportamento e de projeções para aumentos da capacidade de produção, por setor, visando aperfeiçoar os cálculos do PIB potencial e da taxa natural de desemprego. A desaceleração dos vários índices de preços, a necessidade de reduzir o superávit fiscal e a dívida pública para aumentar investimentos em infra-estrutura e em prioridades estratégicas, bem como para alcançar taxas de câmbio de equilíbrio, é necessário, e urgente, que o Banco Central pratique taxas de juros reais semelhantes às de vários países desenvolvidos e em desenvolvimento.