Proposta: Reajuste salarial pelo IPCA (valor acumulado de 7,70%) Justificativa: Embora o governo federal insista em negar, é evidente no cenário econômico nacional a aceleração da inflação, tecnicamente definida como aumento generalizado e persistente nos preços gerais da economia (SANDRONI, 2008). Os dados da Tabela 1, divulgados nos indicadores econômicos do Banco Central, mostram uma trajetória ascendente para os principais índices de preços ao consumidor, especialmente considerando-se os últimos 12 meses (de março de 2014 a fevereiro de 2015). Neste período, o IPCA (IBGE) acumulou alta de 7,70%. E a expectativa do Bacen para os próximos meses é de elevação continuada nos índices de preços (Tabela 2). Tabela 1 - Indicadores Econômicos - BACEN Índices de preços Período Variações percentuais INPC IPCA IPCA-15 IPC-Fipe 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 Jan Fev Mar Abr Mai Jun 2014 Jul Ago Set Out Nov Dez ANO Jan 2015 Fev ANO últimos 12 meses Fonte: IBGE, Fipe e FGV. www.bacen.gov.br 5,05 2,81 5,16 6,48 4,11 6,47 6,08 6,20 5,56 0,63 0,64 0,82 0,78 0,60 0,26 0,13 0,18 0,49 0,38 0,53 0,62 6,23 1,48 1,16 2,66 7,68 5,69 3,14 4,46 5,90 4,31 5,91 6,50 5,84 5,91 0,55 0,69 0,92 0,67 0,46 0,40 0,01 0,25 0,57 0,42 0,51 0,78 6,41 1,24 1,22 2,48 7,70 11-mar-2015 5,88 2,96 4,36 6,10 4,19 5,79 6,56 5,78 5,85 0,67 0,70 0,73 0,78 0,58 0,47 0,17 0,14 0,39 0,48 0,38 0,79 6,46 0,89 1,33 2,23 7,36 4,53 2,54 4,38 6,16 3,65 6,40 5,81 5,10 3,88 0,94 0,52 0,74 0,53 0,25 0,04 0,16 0,34 0,21 0,37 0,69 0,30 5,20 1,62 1,22 2,86 6,65 Tabela 2 - Indicadores Econômicos Estimativas dos índices de preços 1/ Posição em 06.03.2015 Variações percentuais no ano Índice 2015 Janeiro2/ Fevereiro2/ Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro IGP-M 0,76 1,03 1,57 2,04 2,38 2,73 2,98 3,42 4,06 4,66 5,28 5,86 IGP-DI 0,67 1,20 1,77 2,24 2,55 2,79 3,10 3,55 4,25 4,88 5,44 5,85 IPC-Fipe 1,62 2,86 3,27 3,77 4,13 4,45 4,76 5,15 5,56 6,03 6,59 7,14 INPC 1,48 2,66 3,32 3,92 4,37 4,65 4,95 5,28 5,70 6,16 6,69 7,27 IPCA 1,24 2,48 3,66 4,24 4,65 4,92 5,16 5,50 5,93 6,44 7,06 7,78 Variações percentuais mensais Índice 2015 2/ 2/ Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro IGP-M 0,76 0,27 0,53 0,47 0,33 0,34 0,24 0,43 0,62 0,58 0,59 0,55 IGP-DI 0,67 0,53 0,56 0,46 0,30 0,24 0,30 0,44 0,67 0,61 0,53 0,39 IPC-Fipe 1,62 1,22 0,40 0,48 0,35 0,31 0,29 0,37 0,39 0,45 0,53 0,51 INPC 1,48 1,16 0,65 0,58 0,43 0,27 0,28 0,32 0,40 0,43 0,50 0,55 IPCA 1,24 1,22 1,16 0,56 0,39 0,26 0,23 0,32 0,41 0,48 0,58 0,67 Fonte: FGV, IPC-Fipe, IBGE e Gerin do Banco Central do Brasil 1/ Para o INPC e IPC-Fipe considerou-se as estimativas de mercado agregadas, editados pelo Bacen/Gerin. Para os demais, as estimativas do Top-5 curto (5 melhores instituições em função do grau de acerto de suas previsões, no curto prazo). 2/ Dados divulgados. IGP-M de fevereiro já divulgado. Dado que o IPCA é o índice de preços usado para balizar o regime de metas inflacionárias adotado no Brasil desde julho de 1999, é razoável admiti-lo como um bom indicador da inflação. O movimento de alta da inflação, puxado nos últimos meses pelo setor de alimentos e de preços administrados (gasolina e tarifas públicas), resulta em queda da renda disponível para trabalhadores e consumidores. Conforme aponta Campagna (1981), quando a taxa de inflação aumenta, o salário real diminui. Desta feita, considera-se que o reajuste inflacionário pleiteado (7,70%) é tão somente uma correção do poder de compra do salário entre março de 2014 e fevereiro de 2015. Além disso, o cenário que prevalece na economia nacional é de elevação da taxa de juros básica da economia. Isto é justificado pelo próprio sistema de metas de inflação, no qual o papel da taxa de juros é de controlar a inflação, enquanto o da taxa de câmbio é de equilibrar o balanço de pagamentos. A SELIC está hoje em 12,75% a.a., contra 10,65% a.a. em março de 2014. E, segundo o Relatório de Mercado Focus, divulgado pelo Bacen em 06/03/2015, a mediana das expectativas de mercado projetadas para a SELIC no final de 2015 é em torno de 13% a.a. A alta dos juros internos é igualmente prejudicial aos trabalhadores e consumidores ao afetar negativamente a renda disponível e o consumo; aumentar o valor de dívidas contraídas; promover o encarecimento do crédito; além de outras interferências nos preços e nos custos de todos os setores da economia (OMAR, 2008). Assim, o que se pretende com o reajuste inflacionário de 7,70% é: a correção de uma corrosão salarial já ocorrida ao longo dos últimos 12 meses; a garantia do poder de compra de bens e serviços diante de um cenário de expectativas inflacionárias ainda maiores para os próximos meses; a diminuição do impacto negativo da alta dos juros sobre a renda disponível e as despesas de consumo dos trabalhadores. Referências: CAMPAGNA, Anthony S. Macroeconomics. St. Martins´s Press. New York, 1981. OMAR, Jabr H. D. Taxa de juros: comportamento, determinação e implicações para a economia brasileira. Rev. econ. contemp., vol.12, no.3. Rio de Janeiro Sept./Dec. 2008 (http://dx.doi.org/10.1590/S1415-98482008000300003) SANDRONI, Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Ed. Record. Rio de Janeiro, 2008.