importância da triagem realizada pelo enfermeiro na emergência

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ATUALIZA ASSOCIAÇÃO CULTURAL
PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM EM EMERGÊNCIA
FLAVIA DE MORAES BERTOZZI
IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA EMERGÊNCIA
SALVADOR
2011
FLAVIA DE MORAES BERTOZZI
IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA EMERGÊNCIA
Artigo apresentado à Atualiza
Associação Cultural como requisito
parcial para obtenção do título de
Especialista em Emergência sob
orientação do professor Fernando Reis
do Espírito Santo.
SALVADOR
2011
IMPORTÂNCIA DA TRIAGEM REALIZADA PELO
ENFERMEIRO NA EMERGÊNCIA
¹Flavia de Moraes Bertozzi
²Orientador: Fernando Reis do Espírito Santo
RESUMO
Este estudo aborda sobre as unidades de emergência existentes em hospitais de médio a
grande porte, que recebem pacientes em todos os níveis de agravos à saúde, que necessitam de
recursos humanos qualificados realizando a triagem e prestando cuidados. A triagem foi
criada para determinar qual paciente deve ser atendido primeiro e aqueles que podem
aguardar atendimento em segurança, considerando os diferentes níveis de gravidade e não a
ordem de chegada como era feito antigamente, visando diminuir complicações decorrentes do
tempo de espera nos casos mais graves. Também para tentar reduzir a superlotação dos
serviços de emergência, devendo ser realizada pelo enfermeiro que recebeu treinamento para
tal função. Para isso, é necessário classificar o risco dos pacientes que dão entrada em
emergências hospitalares e profissionais habilitados para realizar este serviço. O estudo teve
como objetivo evidenciar, a partir da literatura, como a triagem, realizada por um profissional
habilitado, pode assegurar que a ordem de atendimento dos pacientes seja de acordo com suas
necessidades. Trata-se de um estudo de caráter exploratório de pesquisa bibliográfica e
abordagem qualitativa. Os resultados deste estudo mostram que os serviços de urgência e
emergência dos hospitais estão sempre lotados, tornando evidente a importância da
classificação de risco dos pacientes, priorizando o atendimento dos mais graves e melhorando
a qualidade da assistência. Também a necessidade de um profissional capacitado, o
enfermeiro, para realizar a triagem, ouvindo o paciente e registrando corretamente sua queixa
principal para direcionar ao atendimento correto, de acordo com a necessidade.
PALAVRAS-CHAVE: triagem, emergência, enfermeiro
¹Graduada em Enfermagem pela Universidade Tiradentes
²Doutor em Educação pela PUC/SP e professor adjunto da UFBA
1. INTRODUÇÃO
•
Apresentação do objeto de estudo
As unidades de emergência são serviços geralmente existentes em hospitais de médio ou
grande porte, nos quais são recebidos pacientes em situações de urgência e emergência,
graves, potencialmente graves, que necessitam de recursos tecnológicos e humanos
especializados e preparados para o seu atendimento e a sua recuperação. Esses serviços têm
por característica uma alta rotatividade de pessoas, e foram criados para prestar atendimento
imediato a pacientes com agravo à saúde, a fim de oferecer serviços de alta complexidade e
diversidade para atender a essa demanda e garantir todas as manobras de sustentação à vida,
com condições de dar continuidade à assistência no local ou em outro nível de atendimento
referenciado (CALIL, PARANHOS, 2010).
Em relação ao grande fluxo de pessoas nos hospitais, existem alguns parâmetros para a
implantação de ações no que tange ao atendimento de urgência e emergência nos serviços de
Pronto Socorro, como exemplo, a demanda acolhida por critérios de avaliação de risco e a
definição de protocolos clínicos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Isto possibilita que a
assistência seja prestada de acordo com os diferentes graus de necessidades ou sofrimento, e
não mais de forma impessoal e nem por ordem de chegada (ULBRICHL, MANTOVANI,
BALDUINO, REIS, 2010).
Triagem significa um processo sistemático para determinar quem vai ser visto e tratado
primeiro (MURRAY, 2003). Foi introduzido nos Serviços de Emergência (SE) para tentar
minimizar o problema da superlotação, permitindo cuidados imediatos para os pacientes mais
urgentes. (HAY, E; BEKERMAN, L; ROSEMBERG, G. et al, 2001). Em todo o mundo, é
realizado por enfermeiros, após um treinamento específico (TANABE, P; GIMBEL, R;
YARNOLD et al, 2004) . Considerando que o objetivo da triagem é identificar pacientes que
necessitam ser vistos primeiro e aqueles que podem esperar por atendimento em segurança,
ela é fundamental em qualquer serviço onde haja superlotação (ALBINO, GROSSEMAN,
RIGGENBACH, 2007).
•
Justificativa
A triagem determina quem vai receber tratamento primeiro, e tem como objetivo organizar e
assegurar a assistência qualificada ao paciente, de acordo com o risco. Os serviços de
emergência fazem parte de hospitais e recebem pacientes de todos os níveis de gravidade,
necessitando de recursos humanos especializados. O fluxo de atendimento torna-se
desorganizado, devido à enorme procura pelos serviços de emergência, pela rápida resolução
de casos agudos que poderiam ser tratados ambulatorialmente e também pela agilidade de
realizar os exames. O que motivou a estudar esse tema foi a observação da grande demanda
nas unidades de emergência, e conseqüentemente a necessidade de classificar os pacientes
adequadamente, para organizar o atendimento e melhorar a assistência prestada aos clientes,
cabendo ao enfermeiro esta função.
•
Problema
O que diz a literatura sobre a importância da triagem realizada pelo enfermeiro na
emergência?
•
Objetivo
Evidenciar, a partir da literatura, como a triagem, realizada por um profissional habilitado,
pode assegurar que a ordem de atendimento dos pacientes seja de acordo com suas
necessidades.
•
Metodologia
Trata-se de um estudo de caráter exploratório, quanto aos objetivos; de pesquisa bibliográfica,
quanto ao procedimento; e abordagem qualitativa, quanto à natureza.
Segundo GIL (1991), do ponto de vista de seus objetivos, a pesquisa exploratória visa
proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito ou a
construir hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a
compreensão. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.
Quanto à natureza, segundo POPE & MAYS (1995), os métodos qualitativos trazem como
contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e
intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. GODOY (1995)
ressalta a diversidade existente entre os trabalhos qualitativos e enumera um conjunto de
características essenciais capazes de identificar uma pesquisa desse tipo, a saber: o ambiente
natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; o caráter
descritivo; o significado que as pessoas dão as coisas e à sua vida como preocupação do
investigador; enfoque indutivo.
Quanto ao procedimento, a pesquisa bibliográfica é aquela elaborada a partir de material já
publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com
material disponibilizado na Internet (GIL, 1991).
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 Unidades de emergência
Os serviços de emergência e urgência constituem um importante componente da assistência à
saúde no Brasil. Nos últimos anos houve um crescimento da demanda por atendimento de
emergência e urgência devido, principalmente, ao aumento do número de acidentes e
violência urbana, e ao modelo de enfrentamento das condições crônicas na lógica das
condições agudas. A realidade da superlotação dos pronto-socorros brasileiros é agravada por
problemas organizacionais destes serviços, como o atendimento por ordem de chegada sem
estabelecimento de critérios clínicos, o que pode acarretar graves prejuízos aos pacientes. Este
aumento da demanda somado à insuficiente estruturação da rede assistencial tem contribuído
de forma substancial para a sobrecarga desses serviços disponibilizados à população
(BRASIL, 2006).
Sabe-se que nas emergências dos hospitais há um grande fluxo de vítimas, o qual é
determinado pela procura espontânea, que resulta numa superlotação dos Prontos Socorros e
das Salas de Atendimento, consequentemente levando a baixa qualidade da assistência
prestada (SANTOS, SCARPELINI, BRASILEIRO, FERRAZ, DALLORA, SÁ, 2003).
Para a maioria da população, ainda há o pensamento de que essa unidade é um meio mais
rápido e alternativo, pois não há restrição de marcação de consultas, onde exames
laboratoriais e de imagem, assim como o diagnóstico, são obtidos em um mesmo dia sem
grande tempo de espera. Tal atitude ocasiona aumento da demanda de atendimentos, gerando
filas intermináveis, morosidade no resultado de diagnósticos, ausência de especialistas,
acarretando aumento da carga de trabalho aos profissionais de saúde, falta de leitos e falta de
equipamentos e materiais, dificultando o atendimento de casos realmente emergenciais.
Consequentemente, essa situação agrava a existência de estressores ao profissional de saúde,
pois prestam assistência aos pacientes em condições críticas além de atender aqueles que
poderiam ser assistidos nos níveis ambulatoriais (MENZANI, 2006).
O aparecimento dos sintomas iniciais objetivando a evolução do caso poderia ser evitado se
no início da sintomatologia o paciente procurasse atendimento evitando a aglomeração das
unidades de emergência (SABBADINI; GONÇALVES, 2008).
Vivemos rotineiramente com a presença excessiva da procura por parte da clientela das
unidades de urgência e emergência, sendo que muitas vezes não são casos graves, causando
estrangulamento dos recursos direcionados a saúde por determinar que os serviços de
emergência são o único caminho para a realização do atendimento, por falta de conhecimento
dos clientes do que é o atendimento de emergência e a demora da rede pública, e com esta
elevada utilização dos serviços de emergência foi necessária a implantação da triagem em
todo o País (CHAVES, 2005).
Andrade et al (2009) demonstram em seu estudo que a alta demanda por atendimento e
consequentemente superlotação dos serviços de emergência compromete o processo de
humanização nesses setores e, além disso, dificulta a aceitação do usuário que se vê obrigado
a aguardar, e por vezes não aceita que outros passem na sua frente, pois muitas vezes
desconhecem o processo de classificação de risco que protege tal conduta por critério de
gravidade do caso, e não mais por ordem de chegada.
Dos processos de atendimento em unidade de emergência destacam-se: triagem: - que é tida
como avaliação do paciente a fim de determinar o grau de complexidade do caso e
encaminhamento adequado; diagnóstico: - onde é identificado o problema, e em muitos casos
os médicos solicitam exames laboratoriais e exame de imagem para observação, enfocando a
reabilitação e a cura (SABBADINI; GONÇALVES, 2008).
Segundo Gómez Jiménez (2003), “os serviços de urgências têm na triagem um sistema
magnífico para aplicar o princípio bioético de justiça [...] sendo uma necessidade para um
sistema sanitário de qualidade”.
2.2 Importância da triagem
A importância desse serviço está principalmente em prevenir complicações e identificar
quadros agudos que implicam riscos de vida. Para o funcionamento adequado do serviço de
triagem, é necessária a integração deste com outros serviços de saúde existentes no sistema,
estabelecendo vínculos com os mesmos, de modo a permitir o adequado encaminhamento dos
pacientes (AZEVEDO; BARBOSA, 2007).
Triagem vem da palavra trie cujo significado é “escolher”. O enfoque da triagem é priorizar
casos mais graves e estabelecimento de uma espera segura dos demais clientes. É
caracterizada por três categorias essenciais sendo estas: “emergente (doença ou lesão de risco
de vida ou com risco potencial que exige o tratamento imediato), imediato (lesão ou doença
não-aguda sem risco de vida) e urgente (doença ou lesão secundária que necessita de
tratamento em nível de primeiros socorros). Na realização da triagem são investigados alguns
pontos importantes como, por exemplo: sinais vitais, história, avaliação neurológica e níveis
de glicemia quando necessário. Posteriormente segue-se um protocolo desenvolvido pelo
enfermeiro com base em suas experiências com a finalidade de iniciar os exames radiológicos
e laboratoriais (SMELTZER; BARE, 2002).
Para Bover e Lisboa (2005) a palavra triagem deriva do francês “triage” determinando a
classificação em grupos. A triagem é tida como um sistema eficiente, caracterizado por
redução do tempo de atendimento a pacientes com risco de vida. Estes autores divulgam para
a classificação de pacientes os termos de urgência, emergência e não urgência, com o objetivo
de determinar os casos por prioridades. O formulário da triagem deve constar espaço para
colar as etiquetas divulgando o grau de complexidade, bem como: vermelha: emergência –
risco de vida iminente com atuação imediata; amarelo: urgência – não tem risco iminente de
vida, porém necessita de atuação em no máximo vinte minutos; verde: não urgente –
condições crônicas que podem aguardar por mais tempo.
O processo de triagem constitui-se em uma avaliação clínica breve que determina o tempo e a
sequência em que os pacientes devem ser vistos em um serviço de emergência e podem ajudar
as emergências a determinar com precisão a priorização clínica de um paciente e prever os
recursos que o paciente vai necessitar para ser acomodado (DERLET, 2006; JOINT
COMMISSION RESOURSES, 2008).
A classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e propor
outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada, tem também outros objetivos
importantes, como: garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado;
informar o paciente que não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo
provável de espera; promover o trabalho em equipe por meio da avaliação contínua do
processo; dar melhores condições de trabalho para os profissionais pela discussão da
ambiência e implantação do cuidado horizontalizado; aumentar a satisfação dos usuários e
principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas
de atendimento (BRASIL, 2009).
A enfermagem se insere neste contexto, na medida em que o enfermeiro tem sido o
profissional indicado para ser o responsável por classificar o risco dos pacientes que procuram
o serviço de urgência. O processo de acolhimento com classificação de risco deverá ser
realizado por profissional de saúde, de nível superior, mediante treinamento específico e
utilização de protocolos preestabelecidos e tem por objetivo avaliar o grau das queixas dos
pacientes, colocando-os em ordem de prioridade para o atendimento (BRASIL, 2002).
O desempenho dos serviços de saúde está sob permanente crítica e questionamento; em
especial, os serviços de urgência e emergência (BITTENCOURT, HORTALE, 2009). Nestas
unidades, as exigências cada vez maiores dos clientes atendidos têm levado diversas
instituições e profissionais de saúde a repensarem estratégias capazes de otimizarem o tempo
de espera para atendimento, principalmente na rede privada. Algumas estratégias como a
classificação de riscos e o acolhimento vem se destacando, pois dão aos clientes uma maior
segurança no que diz respeito a um atendimento eficiente e seguro, conforme a gravidade de
cada caso. A classificação de riscos vem sendo utilizada em diversos países, inclusive no
Brasil. Para essa classificação foram desenvolvidos diversos protocolos que objetivam, em
primeiro lugar, não demorar em prestar atendimento àqueles que necessitam de uma conduta
imediata. Por isso, todos eles são baseados na avaliação primária do cliente, já bem
desenvolvida para o atendimento às situações de catástrofes e adaptada para os serviços de
urgência (BRASIL, 2009).
O acolhimento é um modo de desenvolver os processos de trabalho em saúde de forma a
atender os usuários que procuram os serviços de saúde, ouvindo os seus pedidos e assumindo
uma postura capaz de acolher, escutar e dar respostas mais adequadas aos usuários. Esse
processo inclui um atendimento com resolutividade e responsabilização, fazendo também as
orientações para o paciente e sua família em relação ao atendimento e funcionamento dos
demais serviços de saúde, estabelecendo meios para garantir o sucesso desse encaminhamento
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Segundo o Ministério da Saúde (2006), a proposta de acolhimento deve ser implantada em
serviços de saúde, os quais terão a função de compatibilizar o atendimento entre a demanda
programada e a não-programada; além de desenvolver atividades de acolhimento: na
comunidade, nas unidades de urgência por meio da classificação de risco, nas unidades de
atenção especializada e nas centrais de regulação de serviços de apoio diagnóstico e
terapêutico, garantindo a prioridade à vítima que necessite de agilidade diagnóstica.
O
conceito de acolhimento se traduz por meio de uma escuta qualificada e da pactuação entre a
demanda do usuário e a resposta do serviço, responsabilizando-se por aquilo que não é
possível direcionar imediatamente, de maneira ética e resolutiva.
O acolhimento significa a humanização do atendimento, o que pressupõe a garantia de acesso
a todas as pessoas (acessibilidade universal). Diz respeito, ainda, à escuta de problemas de
saúde do usuário, de forma qualificada, dando-lhe sempre uma resposta positiva e
responsabilizando com a resolução do seu problema. Por conseqüência, o acolhimento deve
garantir a resolutividade que é o objetivo final do trabalho em saúde, resolver efetivamente o
problema do cliente. A responsabilização para com o problema de saúde vai além do
atendimento propriamente dito, diz respeito também ao vínculo necessário entre o serviço e a
população usuária (SHIMAZAKI, 2001).
O acolhimento não pode ser entendido somente como uma forma de triagem de paciente e
encaminhamentos para outros serviços, nem somente como um modo de proporcionar um
ambiente confortável ao usuário, mas sim, selar um compromisso com o outro,
compartilhando suas angústias e necessidades. Permite refletir e mudar a assistência prestada
aos usuários dos serviços de saúde, pois permite avaliar não somente riscos e vulnerabilidades
do usuário, mas também sua rede social, o que implica considerar seu grau de sofrimento
físico e psíquico. Assim, um usuário sem sinais visíveis de problemas físicos pode estar
angustiado necessitando de atendimento e com maior grau de risco e vulnerabilidade
(BRASIL, 2006).
O acolhimento com classificação de risco é uma proposta do Ministério da Saúde mediante a
Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão no Sistema Único de Saúde
(HumanizaSUS). Nessa política, a equipe de enfermagem tem um papel relevante à medida
que participa de intervenções concernentes à triagem de vítimas em situação de emergência
(ULBRICHL, MANTOVANI, BALDUINO, REIS, 2010).
O atendimento é tido tão logo que o cliente chega, com o objetivo dos casos mais graves
serem priorizados e casos menos complexos encaminhados às unidades de atenção básica.
Este atendimento é caracterizado por uma pré-consulta, constando aferição de pressão arterial,
queixa básica e análise de encaminhamentos de outras unidades de saúde (FAMEMA, 2005).
A enfermagem tem como características a habilidade na observação, percepção e capacidade
de comunicação, o que auxilia no atendimento e facilita a interação entre profissional e
usuário (MAGALHÃES; PASKULIN; NINON; SILVA, 1989).
Vale destacar a importância do acesso e do acolhimento como elementos essenciais no
atendimento do indivíduo e da coletividade. A sua dificuldade/falta nas unidades de saúde tem
relação direta com a baixa resolubilidade. O que tem sido visto são filas extensas à porta dos
grandes hospitais, demanda reprimida, comercialização de lugar na fila de espera, mau
atendimento. É relevante considerar esses elementos na reorganização dos serviços (RAMOS,
LIMA, 2003).
Um serviço de triagem pode resgatar os princípios e diretrizes do SUS e também garantir o
direito à cidadania, na medida em que realiza o acolhimento, orienta e encaminha o usuário
para o serviço adequado, atende necessidades do indivíduo e da instituição, ou seja, triagem é
muito mais que classificar doentes (AZEVEDO; BARBOSA, 2007).
2.3 Papel do enfermeiro na triagem
Em uma pesquisa sobre triagem de pacientes para consulta feita por médicos e enfermeiros,
Vinha, De Angelis, Stechini, Grieten (1987) concluiu que, devido à formação do profissional
médico ser voltada para diagnóstico e tratamento, seria um mau aproveitamento de suas
habilidades utilizá-lo para o serviço de triagem. Já o profissional enfermeiro, em sua
formação, aprende a prestar assistência aos pacientes preocupando-se também com a infraestrutura que o cerca. Adquire ainda uma visão de conjunto pelo fato de conversar com o
paciente, ouvir suas queixas, saber o que o levou até o hospital, enfim conhecer suas
necessidades, sejam elas físicas, psicológicas e até de ordem social.
Para Silva e Alves (2008) é essencial a atuação de uma equipe multiprofissional no
acolhimento no processo de trabalho em saúde, mas a enfermeira, com sua visão
administrativa e formação em saúde coletiva, deve participar de forma mais direta no
desenvolvimento do acolhimento, realizando e supervisionando toda a execução desse
processo, a fim de zelar por um serviço que funcione de acordo com os princípios do SUS.
Não se pode perder de vista, que o usuário que recebe uma assistência integral e
multiprofissional é mais capaz de alcançar resolutividade e manter uma postura autônoma
diante da promoção de sua saúde.
A atuação do enfermeiro no serviço de acolhimento e classificação de risco, além de construir
uma nova área de atuação para esse profissional, possibilitará melhor gerenciamento de
serviços de emergência, pois contribui para garantir o acesso do paciente, diminuir o tempo de
espera, diminuir o risco e ocorrências iatrogênicas e melhorar a qualidade do atendimento
(PIRES, 2003).
A enfermagem tem habilidade para pôr em prática o acolhimento com classificação de risco
em serviços de pronto atendimento, porém verifica-se a necessidade de outros profissionais
envolverem-se com essa atividade (PINTO; RODOLPHO; OLIVEIRA, 2004).
O profissional que atua na unidade de emergência tem como função obter a história do
paciente, fazer o exame físico, executar o tratamento, aconselhando e ensinando a fazer a
manutenção da saúde. Também é responsável pela coordenação da equipe de enfermagem,
devendo aliar à fundamentação teórica a capacidade de liderança, o trabalho, o discernimento,
a iniciativa, a habilidade de ensinar, a maturidade e a estabilidade emocional (WEHBE;
GALVÃO, 2001).
O enfermeiro atuante nesta unidade de necessita ter conhecimento científico, prático e
técnico, afim de que possa tomar decisões rápidas e concretas, transmitindo segurança a toda
equipe e principalmente diminuindo os riscos que ameaçam a vida do paciente (MARTIN,
1988). Para isso, torna-se necessário a constante atualização destes profissionais, pois,
desenvolvem com a equipe médica e de enfermagem habilidades para que possam atuar em
situações inesperadas de forma objetiva e sincrônico na qual estão inseridos (WEHBE;
GALVÃO, 2001).
Segundo Andrade, Caetano, Soares (2000), o enfermeiro deve ser uma pessoa tranqüila, ágil,
de raciocínio rápido, de forma a adaptar-se, de imediato, a cada situação que se apresente à
sua frente. Este profissional deve estar preparado para o enfrentamento de intercorrências
emergentes necessitando para isso conhecimento científico e competência clínica
(experiência).
Mas o que se observa nas unidades de emergência é um numero reduzido de profissionais que
nem sempre estão preparados para atender essa grande demanda, o que pode gerar
sentimentos de tensão, angústia, frustração e desgaste. Como consequência, as condições do
ambiente de trabalho influenciam significativamente na saúde do trabalhador, podendo
comprometer sua saúde mental e o seu desempenho profissional, em decorrência de um
cotidiano estressante e exigente. É exigido do enfermeiro, aumento da carga de trabalho e
maior especificidade nas suas ações na prestação de suas tarefas (BATISTA; BIANCHI,
2006).
Trata-se de um ambiente de trabalho no qual o tempo é limitado, as atividades são inúmeras e
a situação clinica dos usuários exige que o profissional faça tudo para afastá-lo de risco de
morte iminente (ESTELMHSTS; BRUSAMARELLO; BORILLE; MAFTUM, 2008).
Por estar envolvido na prestação de cuidados diretos ao paciente, ocorre uma sobrecarga das
atividades administrativas, e essa situação pode levar o enfermeiro a perder a motivação por
não concluir com eficiência suas atribuições (WEHBE; GALVÃO, 2001).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da literatura consultada, foi possível constatar que os serviços de urgência e emergência dos
hospitais estão sempre recebendo grande demanda de clientes, pois a população tem uma
crença preconcebida de que receberão atendimento mais rapidamente por haver médicos de
plantão, enquanto que, os casos sem gravidade deveriam ser atendidos na rede básica de
saúde. A partir disso, torna-se evidente a importância de classificar os pacientes de acordo
com os riscos e agravos a saúde, através do acolhimento, realizando os encaminhamentos
necessários, reduzindo a superlotação do setor e priorizando o atendimento dos pacientes mais
graves e melhorando a qualidade da assistência.
Há consenso entre os autores aqui consultados, quando se fala no profissional mais habilitado
para realizar a triagem no setor de urgência e emergência. Neste caso, é o enfermeiro devido a
sua formação, pois coloca em prática a escuta, buscando identificar os problemas do paciente,
além da saúde. Avalia, verifica os sinais vitais, registra corretamente a queixa principal e
decide o encaminhamento que o paciente deve receber. Este profissional necessita de
capacitação constante para atuar na emergência, devido à dinâmica e necessidades do setor.
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