Engenharia do Ambiente Mecânica dos Fluidos Ambiental (1º semestre, 3º ano) (Primeiro Exame, 20 de Janeiro de 2011) Duração 2h30 horas. Justifique todas as respostas. Problema I (13 valores) B A Fig. 1 – Escoamento numa tubeira (contracção seguida de expansão). A figura - retirada de um livro de Mecânica dos Fluidos - representa um escoamento ar numa contracção seguida de uma expansão. A linha a tracejado pretende representar a camada limite, que se separa da parede na expansão, formando duas zonas de recirculação. Na secção do ponto A o diâmetro são 10 cm e na garganta são 5 cm. a) Represente esquematicamente as linhas de corrente que passam nos pontos A e B. (1 val) b) Represente esquematicamente a evolução da pressão entre a secção de entrada e de saída, ao longo da linha central. Se não tivesse ocorrido separação, a pressão na secção do ponto B seria maior ou menor? (2 val) c) Tendo em consideração a forma das linhas de corrente e a evolução de pressão ao longo da linha central, diga em que pontos é mínima a pressão (1 val) d) Represente esquematicamente o perfil das tensões de corte na secção do ponto A e na garganta. (1.5 val) e) Desprezando o efeito da camada limite (admitindo que o escoamento é invíscido em todo o domínio) calcule o caudal se a pressão em A for 1.2*104Pa e na garganta for 104Pa. (2 val) f) Calcule a força exercida pelo escoamento sobre a conduta entre as secções do ponto A e a garganta. (se não resolveu a alínea anterior considere um caudal de 0.1 m3/s) (2 val) g) Escreva a equação de Navier Stokes para a zona exterior da camada limite e diga como varia o termo advectivo ao longo do eixo da conduta. (1.5 valores) h) Escreva a equação de Navier Stokes para o interior da camada limite. (1 val) i) Efectivamente as linhas que pretendem representar a camada limite estão pouco cuidadas, não sendo sempre consistentes com a forma dos perfis de velocidades representados. Diga onde são inconsistentes. (1 val) Problema II (2 valores) A resistência ao movimento de um corpo com 20 cm de largura e área frontal de 20 cm2 foi medida em escoamentos de ar de várias velocidades tendo sido obtidos os resultados seguintes: Velocidade (m/s) 10 16 21 Força de Resistência (N) 5.0 12.8 22.1 Diga se a solução é independente do nº de Reynolds ou se precisaria de fazer ensaios a Reynolds mais elevados. Problema III (5 valores) A figura mostra esquematicamente um reservatório que despeja água através de um tubo de 5 metros de comprimento e 3 cm de diâmetro, com rugosidade de 0.2 mm. a) Calcule o caudal descarregado se a água fosse um fluido ideal. (2 val) b) Calcule o caudal descarregado considerando atrito no tubo, mas desprezando a perda de energia na entrada. Admita que o escoamento é completamente turbulento (2val) c) Indique um algoritmo que lhe permitiria calcular o caudal sem admitir que o escoamento é completamente turbulento (1 val) Resolução NOTA: a figura I que está neste enunciado não é exactamente a mesma que foi impressa. Desconfigurou-se para a impressão… Apresento esta resolução para ficar para anos subsequentes. PROBLEMA I a) O caudal entre duas linhas de corrente mantém-se constante. Entre a linha a vermelho e a parede tem que se manter constante porque a parede é uma linha de corrente. A linha aproxima-se da parede até à contracção e afasta-se da parede na expansão. A espessura da camada limite na figura varia pouco e por isso não parece que a linha Nesta figura a espessura da camada limite varia pouco e por isso a linha de corrente não deveria entrar na camada limite. A linha a azul (ponto A do enunciado) está dentro da camada limite e não pode sair. Depois da separação mantém-se entre a linha que limita a camada limite e a linha de corrente que “nasce” no ponto de separação. A linha a verde inicia-se entre a linha de que delimita a separação e a parede e tem que se manter aí. b) Este escoamento tem uma zona invíscida, onde podemos aplicar a equação de Bernoulli e uma zona onde os efeitos viscosos são importantes (camada limite onde não a podemos aplicar), sendo em cada secção a pressão no interior da camada limite igual à pressão fora da camada limite. A pressão diminui até à garganta, enquanto a velocidade está a aumentar e diminui na expansão onde a velocidade diminui. Depois da separação da camada limite a velocidade (na zona invíscida) deixa de baixar e a pressão permanece aproximadamente constante. d) A pressão mínima é na garganta, onde a velocidade é máxima. Na garganta a pressão é menor nos pontos próximos da parede, devido à curvatura das linhas de corrente. Para equilibrar a força centrífuga, a pressão é menor do lado de dentro da curva. e) Temos que aplicar os principios da conservação da energia e da conservação da massa (Bernoulli e equação da continuidade, que neste caso se reduz à constância do caudal em todas as secções). 1 1 2 2 p U gz p U gz 2 2 A B D 2 D 2 U * U * 4 A 4 B 1 1 2 2 p U p U 2 2 A B UA UB UB DB2 D A2 p A pB 2 1 DB2 1 2 D A2 D1 D2 1.2 0.1 0.05 A1 A2 0.00785 0.001963 P1 P2 1.20E+04 1.00E+04 U2 U1 Q 59.62848 14.90712 0.117021 f) A força exercida sobre o escoamento pode é calculada usando o principio da conservação da quantidade de movimento. Sendo o escoamento estacionário, a variação do fluxo de quantidade de movimento na contracção é igual ao somatório das forças aplicadas: Designado a Entrada por “E” e a saída (garganta) por “S”: QMS QME PAE PAS F DS2 DE2 QV S QV E PE PS F 4 4 0.12 0.05 2 0.117 * (59.6 14.9) 1.2 *10 4 1.0 *10 4 F 4 4 F 69.3N g) O escoamento é hirozontal e por isso não existem forças mássicas. No exterior da camada limite não existem efeitos viscosos. Então a aceleração do fluido é exclusivamente devida à força de pressão. Como o escoamento é estacionário, a aceleração é exclusivamente convectiva e o termo convectivo é simétrico do gradiente de pressão. Ao longo da linha central a velocidade só tem componente axial e a equação reduz-se à terceira equação abaixo. Nas outras linhas de corrente há velocidade perpendicular ao eixo e por isso a equação tem também termo advectivo segundo x2. du i p dt xi u j u i p x j xi u1 u1 p x1 x1 h) h) No interior da camada limite aplica-se tudo o que se disse atrás, mas temos que juntar o termo difusivo. du u p i i dt xi x j x j i) Efectivamente a linha que delimita a camada limite está pouco cuidada na figura. A camada limite contém o fluido cuja veloicidade foi reduzida pelo atrito devido à parede. No terceito perfil há fluido com velodidade reduzida que está fora da linha da camada limite. A este argumento poderiam ainda juntar-se outros que transcendem o que se pretende neste exame, e.g. na contracção a camada limite tende a diminuir de espessura devido à aceleração promivida pelo gradiente favorável de pressão e na expansão o crescimento é maior. PROBLEMA II Calculando o coeficiente de resistência utilizando as velocidades e as forças, verificamos que é constante, apesar de o Reynolds ir aumentando com a velocidade. Isso significa que estamos numa zona onde o Reynolds já não é importante. V (m/s) F (N) Re 10 5.0 0.00002 Cd 13 8.5 16 12.8 19 18.1 21 22.1 L 0.2 m A 0.02 m2 0.000026 0.000032 0.000038 0.000042 4.166667 4.166666667 4.166667 4.166667 4.166667 PROBLEMA III a) Não havendo atrito toda a energia potencial do fluido se vai converter em energia cinética. A equação de Bernoulli terá como única incógnita a velocidade na saída: 1 1 2 2 p U gz p U gz 2 2 A B U 2 gh 2 *10 * 4 8.8m / s m/s Q U D2 0.03 2 8.8 * 3.14 * 0.006m 3 / s 4 4 b) No caso de o escoamento ser completamente turbulento, o coeficiente de atrito só depende da rugosidade relativa. Havendo atrito temos que considerar o termo de perda de carga na equação de Bernoulli. Neste caso 1 1 L 1 2 2 2 p U gz p U gz 4 f * U 2 2 D 2 A B U 2 gh 2 * 10 * 4 7.2m / s L 1 5 1 4 f * 1 0.032 D 2 0.03 D2 0.03 2 28.3 * 3.14 * 0.005m 3 / s 4 4 c) Neste caso teria que verificar a hipótese de que o escoamento é completamente turbulento. Se começasse por admitir que é, poderia calcular a velocidade com o na alínea anterior. Sabendo a Q U velocidade poderia calcular o Reynolds e poderia verificar a hipótese de turbulência completa. Se não fosse calcularia um novo coeficiente de atrito e iniciaria um processo iterativo. Neste caso Re=2.1*105 e estamos mesmo mo limite da zona completamente turbulenta. Se tivéssemos obtido e.g. Re=104 teríamos que fazer o tal processo iterativo.