Antioxidantes Verdade oxidada Alguns produtores aproveitam a boa fama dos antioxidantes para fazer alegações proibidas nos rótulos. Regra geral, basta uma alimentação correta para garantir todos os elementos necessários ao organismo Todos os dias, as células do corpo humano produzem energia para realizar as suas funções através de reações de oxidação. Por vezes, durante o processo, alguns eletrões “escapam”, dando origem aos chamados radicais livres. Além da atividade celular, também a alimentação e a exposição normal ao ar e ao sol, por exemplo, podem dar origem a estes elementos ou compostos. Uma vez formados, reagem rapidamente com os principais constituintes celulares, como os lípidos, oxidando-os. Tal abre caminho a processos que, a longo prazo, podem levar a problemas degenerativos, como doenças cardiovasculares e vários tipos de cancro. Para combater os possíveis efeitos negativos causados pelos radicais livres, o organismo usa as defesas antioxidantes, recorrendo a diversas substâncias: umas são sintetizadas pelo próprio corpo - caso de algumas enzimas -, outras são de origem externa, como as vitaminas C ou E, fornecidas pela alimentação. Em circunstâncias normais, o corpo humano não necessita de suplementos para obter os antioxidantes de que necessita. Uma alimentação equilibrada é mais do que suficiente. Entre a verdade e o mito ■ O culto da juventude e saúde que emerge nas sociedades atuais aju- Nem todos os rótulos alimentares seguem as normas europeias. Ainda há quem use a expressão “antioxidante” para promover os seus produtos dou a que se explorassem as alegadas propriedades antioxidantes de determinadas substâncias, aproveitadas por alguns produtores como forma de marketing aos seus alimentos. ■ Mas a verdade é que a Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA) considerou não existir uma relação de causa-efeito entre a ingestão de grande parte dos compostos considerados antioxidantes e uma maior proteção ao stresse oxidativo. Este ocorre quando os mecanismos que combatem os radicais livres são insuficientes para contrariar os seus efeitos negativos. Com base nisto, a Comissão Europeia excluiu dos rótulos dos produtos alimentares > teste saúde 108 abril/maio 2014 Percorremos algumas lojas à procura de alegações relativas a antioxidantes. Dos produtos na foto, só dois cumprem a lei: as Barras de Sésamo e Mel, da Ignoramus, e os suplementos Selenium ACE + D, da Wassen 15 ANTIOXIDANTES Entrevista Não necessitamos de suplementos com antioxidantes Uma dieta equilibrada fornece tudo o que nosso organismo necessita. Em alguns casos, o consumo de suplementos pode mesmo ser prejudicial. Nuno Lima Dias, técnico alimentar, explica porquê teste saúde 108 abil/maio 2014 Na nossa vida diária, necessitamos de suplementos com antioxidantes? Não. Um regime alimentar adequado e variado, em circunstâncias normais, fornece todos os constituintes necessários ao bom desenvolvimento e à manutenção de um organismo saudável. Não é ingerindo suplementos que equilibramos a nossa alimentação. Para diminuir carências, seria mais útil promover mais campanhas de informação para ensinar a escolher alimentos que podem satisfazer as nossas necessidades. 16 Em que situações é legítimo recorrer aos alimentos fortificados? Os alimentos fortificados deveriam servir para compensar carências da população e não ser um argumento de venda. O enriquecimento deveria competir às autoridades nacionais, pois o tipo e a quantidade de elementos nutritivos a adicionar devem estar relacionados com os problemas a resolver, características das populações e hábitos alimentares das regiões. Por exemplo, pode fazer sentido iodar o sal quando existem carências em iodo. O alimento escolhido como vetor deveria ter um perfil adequado e ser consumido pela população exposta à carência, ser compatível com os elementos nutritivos a adicionar que, por sua vez, também deveriam de ser compatíveis entre si. A quantidade adicionada deveria ser suficiente para prevenir a carência ou remediá-la sem que fosse excessiva para a população em geral. Em casos específicos, os suplementos com antioxidantes são úteis? Não. Encontramos antioxidantes nas frutas ou nos legumes, nos frutos secos ou sementes, na carne ou no peixe. O efeito protetor dos antioxidantes tem sido objeto de vários estudos, mas os resultados estão longe de serem definitivos e convincentes. Na realidade, as doenças degenerativas estão associadas a várias causas, sendo difícil determinar a verdadeira ação e, consequentemente, a importância dos antioxidantes na sua prevenção. Não é por isso de estranhar que diferentes estudos tenham chegado a conclusões opostas. Em janeiro, a Science Translational Medicine divulgou uma investigação que incrimina os suplementos de acelerar a progressão do cancro do pulmão e não trazer benefícios seguros para as pessoas sãs. Um alimento mantém as suas propriedades antioxidantes independentemente da sua forma de produção, armazenamento, transporte e modo como é cozinhado? Não. Por exemplo, a concentração de polifenóis é maior nos vinhos tintos Nuno Lima Dias técnico alimentar da DECO PROTESTE do que nos brancos, pelo facto de os primeiros fermentarem em contacto com as películas das uvas, onde se encontra a maior parte destes compostos. As perdas de vitamina C são maiores ao cozinhar vegetais em água do que noutras formas de confeção. Parte dos minerais, como o selénio ou o zinco, pode dissolver-se na água ou na gordura onde os alimentos são preparados. Pode haver um consumo excessivo de substâncias antioxidantes? Sim. Isso é mais provável quando se ingere alimentos fortificados ou suplementos alimentares que as contenham. Alguns compostos não têm risco de acumulação no organismo porque são facilmente eliminados através da urina (caso da vitamina B2 ou C). O mesmo não acontece com outros, como a vitamina E, cujo consumo excessivo pode estar associado a problemas digestivos. Alguns estudos sugerem que o consumo exagerado de antioxidantes pode favorexer a oxidação. A melhor forma de se precaver contra algumas doenças é ter uma alimentação equlibrada. BOM EXEMPLO As alegações autorizadas para vitaminas e minerais só podem ser: “(nome da substância) contribui para a proteção das células contra as oxidações indesejáveis” MAU EXEMPLO A expressão “antioxidante” foi proibida pela Comissão Europeia nos rótulos de produtos alimentares > Rótulos não respeitam a lei ■ Apesar de a expressão “antioxidante” não ser autorizada, vários produtores usam-na. Percorremos as prateleiras de algumas lojas e detetámos vários maus exemplos, como pode ver na foto de abertura. ■ Por lei, só as vitaminas B2, C e E, ou minerais - como cobre, manganês, selénio e zinco -, podem ser usados nas alegações. Mas, para isso, é necessário que os alimentos contenham, pelo menos, 15% da dose diária recomendada dessas substâncias e a alegação seja escrita tal como aparece na legenda no topo da página. A frase “os polifenóis do azeite contribuem para a proteção dos lípidos do sangue contra oxidações indesejáveis” também é permitida, mas, uma vez mais, em circunstâncias restritas: o produto em causa deve conter uma quantidade mínima de hidroxitirosol, presente na azeitona. ■ Ou seja, não basta que um produto contenha substâncias com alegações autorizadas, para que estas possam ser feitas ou sejam verdadeiras. Como tal, não se deixe levar pela publicidade e procure ter uma alimentação equilibrada e variada. TESTE SAÚDE ACONSELHA Pela sua saúde, siga uma alimentação saudável ´ As investigações acerca dos eventuais benefícios dos antioxidantes no combate ao envelhecimento, às doenças cardiovasculares e alguns tipos de cancro devem continuar, de modo a obter dados cada vez mais precisos. Mas também é necessário determinar a partir de que quantidade estas substâncias se tornam prejudiciais. ´ Os suplementos não fazem milagres. A melhor forma de garantir o bom funcionamento do organismo é ter uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis. ´ Privilegie, entre outros, os antioxidantes contidos nos alimentos. Coma peixe e carne, legumes, fruta, cereais e derivados, como o pão. Não fume e faça exercício regularmente. teste saúde 108 abril/maio 2014 a referência a uma série de alegações, incluindo a expressão “antioxidante”. Esta, ou outro termo com o mesmo significado, quando associada a um alimento, sugere que este tem características relacionadas com a ação antioxidante. É considerada uma alegação de saúde, já que o efeito antioxidante está associado a um benefício para o organismo. O licopeno, o betacaroteno ou a coenzima Q10 estão entre as substâncias cujas alegações foram banidas. 17