Estratégias pedagógicas para a Educação Física

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Estratégias pedagógicas para a Educação Física inclusiva
015018
Data: Out/2015
FERNANDA PEDROSA DE PAULA1
Estratégias pedagógicas para a Educação Física
inclusiva
A existência de alguns mitos com relação a estudantes com deficiência demonstra como o
preconceito permeia a prática educacional. Ideias como “todo surdo é mudo”, “toda pessoa com
deficiência visual tem tendência para a música”, “pessoas com deficiência são eternas crianças”,
“não adianta ensinar, pois eles não aprendem” ou “eles estão no ambiente escolar apenas para a
socialização” ainda estão na cabeça e permeiam as ações de muitos educadores. Isso porque a
escola, historicamente contextualizada em um conjunto de práticas excludentes, valorizou
tempos e ritmos fixos de aprendizagem, grades curriculares obrigatórias e disciplina e ordem em
detrimento da formação humana.
Ao se propor uma prática inclusiva, é preciso entender que a diversidade é real para que se
modifique o modo de olhar o outro. Estamos acostumados a enxergar a pessoa com deficiência
identificando-a por sua limitação – quando deveríamos converter a dificuldade em ponto de
partida para o desenvolvimento. Outro empecilho que a prática da educação inclusiva enfrenta é
a dificuldade em se compreender que a ação da “deficiência” sobre o aluno é sempre secundária:
são as barreiras sociais construídas e consolidadas nas interações com o outro que imprimem a
marca da capacidade ou incapacidade.
Nesse contexto, o papel do professor é ser o elo entre o conhecido e o desconhecido. Ele deve
criar desequilíbrios e desafios para que a criança construa o conhecimento. Em sua formação
pessoal, o educador deve sempre estar atento às discussões atuais. Ensinar pressupõe a busca
por diferentes estratégias de ensino e o intercâmbio de práticas e saberes entre os profissionais
– afinal, trabalhar com inclusão é atuar de forma coletiva.
Deve-se desconstruir o ideal tradicional de aluno para, com base em um novo conceito, olhar a
diversidade não como uma condição excepcional, mas com naturalidade. Isso implica
reconhecer as diferenças de todos para buscar potencialidades. Nesse ponto, é preciso investigar
previamente: qual o tipo de deficiência do estudante? Quando e como surgiu? Em quais funções
ele necessita de auxílio? Qual seu grau de autonomia? Como é seu desenvolvimento cognitivo e
motor? Como ele interage? Que outros serviços de apoio (fonoaudiologia, terapia ocupacional,
fisioterapia etc.) é preciso buscar para estabelecer um trabalho interdisciplinar?
No decorrer dos processos de ensino e aprendizagem, o professor deve estar atento às formas de
interação que o estudante estabelece, ao seu grau de motivação nas atividades, às suas
capacidades de persistência, esforço e concentração, às suas atitudes diante de situações de
sucesso e fracasso e aos seus interesses e gostos. Tudo isso fornecerá pistas para que o educador
se aproxime e conquiste a confiança do aluno, para que este se arrisque em novas
aprendizagens.
Atenção ao planejamento
O planejamento, compreendido como um ciclo que envolve as etapas de organização, execução e
avaliação, serve para prever situações e organizar intervenções, minimizando os receios que
podem atrapalhar as experiências dos educandos. Não há como enfrentar desafios ou problemas
Fernanda Pedrosa de Paula é professora de Educação Física na Escola Municipal José de Calasanz, em Belo Horizonte (MG). Em 2011,
foi vencedora do Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, com o projeto Respeitável público: um circo da escola!
1
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Data: Out/2015
sem um mínimo de segurança. O professor pode utilizar o improviso frente a situações
inesperadas, mas não pode apostar nessa estratégia o tempo todo. É preciso haver uma
organização condizente com a prática inclusiva que atente para a elevação gradativa do grau de
dificuldade das atividades.
Na etapa de execução, devemos partir do princípio de que as aulas representam um exercício de
convivência. Para isso, é preciso mudar o foco das incapacidades para as potencialidades,
adotando a diferença como parâmetro balizador do plano de ensino.
A avaliação como parte desse ciclo possibilita melhorar as intervenções. O uso de estratégias
avaliativas de forma contínua e reflexiva permite acompanhar os processos de ensino e
aprendizagem para corrigir os rumos, identificar os pontos positivos e as dificuldades a serem
superadas. Com o planejamento, afasta-se o risco de uma prática educacional baseada em mera
repetição de modelos. Quando se fala de inclusão, não se pode recorrer a estruturas fixas.
No que diz respeito à efetivação de uma prática de Educação Física inclusiva, quatro estratégias
pedagógicas são essenciais. Vale ressaltar que os exemplos abaixo não devem ser encarados
como receitas, mas como um possível ponto de partida para o fomento de diferentes práticas.
Metodologia: O uso de atividades que simulam situações de deficiência é uma excelente forma
de fazer com que os educandos tenham conhecimento das possibilidades e dos limites
enfrentados pelo outro. Tais experiências também podem ser a base para a discussão e criação
de estratégias de inclusão que partam do próprio grupo. Outra atividade pertinente são os jogos
cooperativos, que diminuem as chances de experiências negativas, estimulam a descontração e
promovem o respeito às diferenças.
É interessante propor ações que valorizem as habilidades dos alunos com deficiência, utilizar
estratégias de reforço positivo e evitar atividades eliminatórias. Alguns cuidados também devem
ser observados para não se “adaptar demais”, pois o excesso descaracteriza o exercício e
desmotiva os estudantes. Vale a pena destacar uma regra de ouro para as adaptações: manter o
propósito original da atividade.
O educador pode variar as técnicas de ensino e oferecer oportunidades adequadas de prática
(como circuitos e estações de aprendizagem). Em relação à ajuda física, é importante que o
professor e os colegas se revezem nessa função para que todos tenham a oportunidade de
colaborar. É vantajoso diminuir a assistência progressivamente para estimular a independência
do aluno.
Por fim, é fundamental que o professor esteja atento a posturas preconceituosas para intervir
sempre que necessário, mantenha um ambiente agradável e lúdico que estimule a aprendizagem
e estabeleça metas e desafios para os estudantes, instigando-os a buscarem o seu melhor sem
comparações com os demais. Um cuidado especial: não perpetuar práticas que desmereçam o
aluno com deficiência, tratando-o, por exemplo, como um boneco a ser manipulado.
Comunicação e expressão: A prática inclusiva deve incorporar as diversas formas de
expressão e comunicação para favorecer interações mais eficientes. À medida que o estudante
com deficiência se comunica e percebe em seu interlocutor uma reciprocidade, sua manifestação
expressiva se desenvolve. Seu corpo transborda expressões, supera desafios, e ele demonstra a
necessidade de participar das atividades propostas. Para maximizar a interação, alguns cuidados
são pertinentes na hora de organizar os grupos, como dar as orientações e utilizar mecanismos
sensoriais para o ensino e diversificar as formas de comunicação com adaptações específicas
para abranger a diversidade.
Organização do espaço: Nesse ponto, é preciso atentar para questões de segurança – como o
uso de materiais de proteção, bloqueio de escadas e proteção de pilastras – e ajudar o aluno a
fazer o reconhecimento prévio do ambiente em que a aula de educação física acontece e da
escola como um todo.
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Data: Out/2015
Recursos materiais: Aqui, criatividade é a palavra chave. Pode-se utilizar objetos de
diferentes formatos, tamanhos e pesos. Uma boa alternativa é criar, junto com a turma, os
recursos materiais para as aulas, tornando-os mais significativos. Podem ser usados, por
exemplo, pneus, bolas, balões, arcos, garrafas pet, jornal, papelão, cabos de vassoura, latas,
bolas de meia, sacos de areia, velcro, luvas etc. Diferentes pesos e texturas proporcionam uma
riqueza sensorial maior e melhoram a aprendizagem motora dos estudantes.
O trabalho com a diversidade forma gerações para viver sem preconceitos e barreiras em um
mundo tão diverso. Enfrentar as questões da inclusão exige, além de adaptações materiais e
estruturais, um trabalho conjunto entre todos os agentes educativos. A presença de alunos com
deficiência nas escolas comuns representa mais do que um desafio – ela estabelece a
possibilidade de aprendizagem e o enriquecimento para aqueles que conseguem tirar os “óculos”
da padronização e enxergar com os “óculos da diversidade”.
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