UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CENTRO EDUCACIONAL SÃO CAMILO – SUL CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM CONDUTAS DE ENFERMAGEM AO PACIENTE CRÍTICO ALICE NASCIMENTO SPÍNDOLA SAVI ANÁLISE CRÍTICA DA LITERATURA SOBRE O PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA CRICIÚMA, JUNHO DE 2008 ALICE NASCIMENTO SPÍNDOLA SAVI ANÁLISE CRÍTICA DA LITERATURA SOBRE O PROTOCOLO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO DE ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA Projeto de Pesquisa do Curso de Especialização Conduta de Enfermagem no Paciente Crítico da USC - Centro Educacional São Camilo – SUL e UNESC Universidade do Extremo Sul Catarinense, apresentado ao CEP da para parecer e aprovação. Orientador: Prof.(Dr, MS.). Maria Augusta da Fonte CRICIÚMA, JUNHO DE 2008 Dedico este trabalho ao meu filho Júnior, pelo seu amor e carinho. AGRADECIMENTO A DEUS pelo Dom da Vida, pela Vocação de Cuidar e a Missão de Salvar Vidas; A meus familiares, pelo apoio, incentivo e carinho. “O destino do traumatizado está nas mãos de quem faz o primeiro curativo. NICHOLAS SENN, MD (1844 – 1908)” RESUMO Em todo o mundo, o trauma vem preocupando as autoridades e os serviços de saúde. Esta pesquisa teve por perspectiva relatar os protocolos de intervenção no atendimento inicial à vítima de trauma, praticado pelos profissionais de saúde, no SAMU. A pesquisa foi realizada por meio de levantamento teórico, delimitada a livros que abordassem os protocolos de intervenção no APH. Acredito que os protocolos estabelecidos facilitam a avaliação inicial, para o profissional do APH, pois é rápido e eficaz, podendo ser colocado em prática com facilidade, e com grandes chances de um bom prognóstico. Palavras-chave: Atendimento pré-hospitalar; trauma; protocolos de intervenção. . SUMMARY All over the world, the trauma is worrying the authorities and the services of health. This research had for perspective to tell the intervention protocols in the initial attendance to the trauma victim, practiced by the professionals of health, in SAMU. The research was accomplished through theoretical rising, delimited to books that approached the intervention protocols in APH. I believe that the established protocols facilitate the initial evaluation, for the professional of APH, because it is fast and effective, could be placed in practice with easiness, and with great chances of a good prognostic. Word-key: Attendance prehospital; trauma; intervention protocols LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS APH – Atendimento Pré-Hospitalar ATLS – Advaced Trauma Life Support CFM – Conselho Federal de Medicina COSEMS – SC – Conselho de Secretários Municipais de Saúde de Santa Catarina EPI – Equipamento de Proteção Individual LMET – Lincoln Medical Education Fundation NAEMT – National Association of Emergency Medical Technicians PAS – Pressão Arterial Sistólica PASG – Calça Pneumática Antichoque PHTLS – Atendimento Pré-hospitalar ao traumatizado SAMU – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência SAVT – Advanced Trauma Life Support SUS – Sistema Único de Saúde UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense VA – Via Aérea SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................................11 2. REVISÃO TEÓRICA...................................................................................................13 2.1 ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR DE URGÊNCIA/EMERGÊNCIA....................13 2.2 HISTÓRICO DO ATENDIMENTO MÓVEL DE URGÊNCIA.....................................15 2.3 POLÍTICAS DE SAÚDE NO BRASIL: assistindo ao nascimento do Sistema Único de Saúde e contextualizando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência.........................................................................................................................17 3.METODOLOGIA..........................................................................................................21 3.1 Abordagem metodológica......................................................................................21 3.2 Critérios para o levantamento teórico...................................................................21 3.3 Aspectos éticos.......................................................................................................22 4. ANÁLISE DOS DADOS..............................................................................................22 5. Analise dos Dados e Apresentando os Resultados...............................................23 5.1 Uma breve conversa sobre trauma........................................................................23 5.1.1 Classificação do trauma......................................................................................24 5.2 Os protocolos de intervenção dos serviços móveis de urgência e emergência.....................................................................................................................25 5.2.1 Exame Primário....................................................................................................29 5.2.2 Controle da Hemorragia.......................................................................................34 5.2.3 Avaliando a Perfusão segundo NAEMT 2007....................................................36 6.Reanimação................................................................................................................40 7.Exame Secundário.....................................................................................................42 8.Os Princípios de Ouro do Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado............43 9.Considerações............................................................................................................46 10.REFERÊNCIA............................................................................................................48 1. - Introdução Este projeto de pesquisa teve por perspectiva relatar os protocolos de intervenção no atendimento inicial à vítima de trauma, praticados pelos profissionais de saúde, no atendimento móvel de urgência e emergência. Em todo o mundo, o trauma vem preocupando as autoridades e os serviços de saúde, devido a sua alta estatística e hoje é considerado como um grande problema de saúde pública. Para combater esta triste realidade que o trauma representa a Secretaria de Estado de Santa Catarina reuniu-se com o COSEMS-SC (conselho de Secretários Municipais de Saúde de Santa Catarina) para implantar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Este serviço é de suma importância para a população, pois muitas vidas podem ser salvas porque muito pode ser feito no atendimento ao paciente crítico, antes de chegar no hospital, aumentando a sobrevida e reduzindo as seqüelas físicas e emocionais do paciente crítico e seus familiares. O atendimento ao paciente vítima do trauma e urgências clínicas é realizado por profissionais de saúde capacitados e seus atendimentos são prestados segundo os protocolos de intervenção, adotados em todo o mundo. Como sabemos o SAMU tem como finalidade diminuir o intervalo terapêutico para pacientes vítimas de trauma e urgências clínicas, possibilitando maiores chances de sobrevida Os protocolos de intervenção utilizados pelos profissionais de saúde dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência são os do ATLS (Advaced Trauma Life Suport). Neste contexto, surgem inquietações que transformam em questões de estudo: O que preconizam os protocolos de intervenção dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência? Houve alguma mudança recente nos protocolos de intervenção Serviços Móveis de Urgência e Emergência? Os protocolos preconizados são possíveis de ser realizados pelos profissionais de saúde dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência? O protocolo de intervenção preconizado contribui na assistência as urgências traumáticas e clínicas? A partir da realidade , elaborou-se a questão norteadora para a pesquisa: O que os protocolos de intervenção dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência preconizam? Frente ao exposto nos propomos a analisar criticamente a literatura em relação aos protocolos de intervenção dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência. Para tanto iremos: Conhecer os protocolos de intervenção dos serviços móveis de urgência e emergência; Informar eventuais mudanças ocorridas nos protocolos de intervenção dos serviços móveis de urgência e emergência; Analisar os protocolos de intervenção dos serviços móveis de urgência e emergência na assistência ao paciente crítico; 2. - Revisão Teórica Busca-se, neste texto, refletir sobre os serviços de atendimento préhospitalar, que é hoje, uma inovação em nossos dias, utilizando-se como referência à teorização sobre o atendimento pré-hospitalar de urgência e emergência, o histórico do atendimento móvel de urgência, as políticas de saúde no Brasil e o contexto do serviço de atendimento móvel de urgência. A base teórica deste estudo será construída a partir de conceitos específicos encontrados nas produções teóricas da enfermagem bem como, de outras áreas do conhecimento com as quais a enfermagem possui transversalidade. 2.1 - Atendimento Pré Hospitalar de Urgência / Emergência Antes de conceituar Atendimento Pré Hospitalar de Urgência e Emergência faz-se necessário inicialmente conceituar “urgência” e “emergência”. O Conselho Federal de Medicina, em sua Resolução CFM nº 1451, de 10/03/1995,conceitua: Urgência: Ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem risco de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata. Emergência: constatação médica de condições de agravo à saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo tratamento médico imediato (SANTA CATARINA, 200). O Ministério da Saúde considera como nível pré-hospitalar na área de urgência / emergência aquele atendimento que procura chegar a vítima nos primeiros minutos após ter ocorrido o agravo a sua saúde que possa levar deficiência física ou mesmo a morte, sendo necessário, portanto, prestar-lhe atendimento adequado e transporte a um hospital devidamente hierarquizado. O principal objetivo deste atendimento é diminuir o intervalo terapêutico para pacientes que sejam vitimas de trauma e urgências clínicas, aumentando a chance de sobrevida, reduzindo seqüelas, garantindo continuidade de tratamento com encaminhamento adequado conforme a complexidade de cada caso. Este serviço é realizado por ambulâncias equipadas, com profissionais habilitados para este tipo de assistência, que atendem no local da ocorrência ou chamado de socorro, criando um grande elo entre os níveis de atenção a saúde do indivíduo e comunidade. (SANTA CATARINA, 200). Sabe-se, hoje em dia, que muito pode ser feito no atendimento pré-hospitalar as urgências para diminuir o sofrimento, aumentar as possibilidades de sobrevivência e reduzir seqüelas físicas e emocionais. 2.2 - Histórico do Atendimento Móvel de Urgência Segundo ALEXANDER E PROCTOR (1995), antes de 1980, o atendimento aos traumatizados nos Estados Unidos era superficial. Não existia em nenhum lugar do mundo um programa padronizado de treinamento de médicos no atendimento aos traumatizados. E como freqüentemente acontece, a mudança sempre acontece depois de uma grande tragédia. Em fevereiro de 1976 ocorreu uma tragédia que mudou a face do atendimento pré-hospitalar nos Estados Unidos, e conseqüentemente, em muitos lugares do mundo. Um ortopedista, pilotando seu próprio avião, caiu numa plantação de milho, na zona rural de Nebraska. O cirurgião e três de seus filhos sofreram traumatismos graves, outro teve traumas leves. Sua esposa morreu instantaneamente. A partir deste acontecimento, vários grupos se reuniram para discutir o tema, como um grupo privado de cirurgiões e clínicos em Nebraska, a Lincoln Medical Education Fundation (LMEF) e o Lincoln-area Móbile Heart Team Nurses, com ajuda do Centro Médico da Universidade de Nebraska, o Comitê Estadual em Trauma do Colégio Americano em Nebraska e os Serviços de Treinamento no Suporte Avançado ao traumatizado. Uma combinação de palestras, associadas a demonstração de procedimentos de reanimação e experiências práticas em laboratório, formaram o primeiro protótipo do Curso de ATLS/SAVT (Advanced trauma Life Support/ Suporte Avançado de Vida no Trauma) para médicos (ALEXANDER e PROCTOR, 1995). Como sabemos as situações de urgência e emergência podem ser atendidas nos hospitais, pronto atendimentos e unidades móveis de suporte básico e avançado onde conforme o local e recursos disponíveis podem atender com uma equipe multiprofissional e utilizar meios de transporte mais rápidos. As unidades móveis de suporte básico e avançado permitem o atendimento pré- hospitalar e sua existência está associada à ampliação e rapidez de atendimentos a agravos de saúde, compreendendo a melhoria da saúde, nos aspectos de recuperação da saúde e prevenção de complicações de agravos nas situações e emergência.(SANTA CATARINA, 200-). Antes da implantação do SAMU, o estado de Santa Catarina, disponibilizava apenas do atendimento com suporte básico de vida no trauma , que era realizado pelos Corpos de Bombeiros Militares ou Voluntários e Polícias Militares, Rodoviária Estadual e Federal, com ausência da coordenação do gestor de saúde e de regulação médica, onde levava a uma desconexão com a rede de saúde e acarretava no envio de todos os casos atendidos para serem resolvidos na rede hospitalar. Não havia também unidades móveis de suporte básico de vida para as urgências clínicas como não existiam também , unidades móveis de suporte avançado de vida, tanto para os casos de urgências traumáticas como para as urgências clínicas.(SANTA CATARINA, 200-). 2.3 - Políticas de Saúde no Brasil: assistindo ao nascimento do Sistema Único de Saúde e contextualizando o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência A década de 1980, para as políticas de saúde, é inaugurada por uma profunda crise financeira da Previdência Social. Isso foi conseqüência da universalização da cobertura, com muitas pessoas utilizando os serviços de saúde sem a criação de novas fontes de financiamento que garantissem os recursos necessários para atender toda a população (FIGUEIREDO, 2005). Mas é nesta época também, que surge e se firma a Reforma Sanitária, que foi representada por um movimento de professores, pesquisadores e intelectuais da saúde cujos estudos criticavam os sistema de saúde existente, denunciando as precárias condições de saúde de grande parte da população brasileira e apresentando alternativas para a construção de uma nova política da saúde efetivamente democrática (FIGUEIREDO, 2005). A Reforma Sanitária Brasileira foi de suma importância pois serviu para organizar o sistema de saúde precário e atender as necessidades da população. O grupo de pessoas que liderou o movimento discutiu uma política de saúde, em que a população fosse bem assistida e sem desigualdades, nesta assistência. Isso porque até aquele momento da história os modelos de atenção em saúde não davam conta de responder as necessidades sociais. Os índices de adoecimento e morte continuavam elevados, o que contribuía com a revolta da população e com a necessidade da reforma. FIGUEIREDO (2005) comenta que para construir essa saúde democrática, a Reforma Sanitária foi levada adiante por esses estudiosos, juntamente com os movimentos sociais e os partidos políticos progressistas, onde juntos definiram as diretrizes fundamentais da proposta de mudança das políticas e do sistema de saúde. Figueiredo coloca a seguir as diretrizes: O reconhecimento do direito universal à promoção ativa e permanente de condições que viabilizem a saúde; A criação de um Sistema Único de Saúde e responsabilização do Estado pela administração deste sistema; A organização de um sistema de forma descentralizada, articulando sua organização com a estrutura político-administrativa do país. (FIGUEIREDO, 2005, p. 60). Sobre a década de 1980, MENDES (1998) comenta que nesta década outro evento foi marcante. A Oitava Conferência de Saúde influenciou significativamente para a criação do SUS, em 1988, com a descentralização da saúde e superação do modelo vigente. O sistema de saúde do Brasil foi estabelecido pela Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, regulamentado pelas leis 8.080, de 19 de setembro e a 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que prega a universalização do atendimento, a descentralização com a municipalização dos serviços e a integralização das ações de saúde. FIGUEIREDO (2005) comenta que o SUS é um sistema único porque segue a mesma doutrina e os mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob o comando de três esferas autônomas de governo: federal, estadual e municipal. Portanto o SUS não é uma instituição ou um serviço, mas um sistema com um conjunto de unidades, serviços e ações que interagem para um fim comum Os elementos integrantes do sistema referem-se às atividades de Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde. O SUS tem como objetivo prestar assistência à população baseada no modelo da promoção e recuperação da saúde, buscando os meios, processos, estruturas e métodos capazes de alcançar tais objetivos com eficiência e eficácia e torná-lo efetivo em nosso país. (SANTA CATARINA, 200-). É bem verdade, no entanto que nas últimas décadas, observamos uma série de avanços e retrocessos na política de saúde que provocaram sensíveis transformações no setor e que culminou com o atual processo de construção do Sistema Único de Saúde (SUS), forjado pelo movimento da Reforma Sanitária e institucionalizado pela Constituição de 1998 (CORDEIRO, 2000). Assim com a perspectiva de melhorar e modernizar a execução dos serviços de urgência e emergência em saúde no Brasil, o governo Federal delineou uma nova proposta de organização dos serviços por meio da construção de uma rede assistencial hierarquizada, considerando a atenção pré-hospitalar fixa e móvel, a atenção hospitalar e a atenção pós-hospitalar. Diante disso, a Secretaria de Estado de Santa Catarina reuniu-se com os municípios para analisar e propor a implantação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência no Estado, baseando-se nas portarias 2048 de novembro de 2002, 1863 de setembro de 2003 (SANTA CATARINA 200). O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência é um programa que tem como finalidade prestar o socorro à população em casos de emergência/urgência, durante vinte quatro horas por dia com equipes de profissionais de saúde como: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e motoristas socorristas, atendendo as urgências traumáticas, clínicas, pediátricas, cirúrgicas, gineco-obstétricas e saúde mental da população, sendo realizado em qualquer lugar como: residências, locais de trabalho e vias públicas. O socorro é feito depois da chamada gratuita, feita para o telefone 192 (SANTA CATARINA, 200-). 3. - METODOLOGIA 3.1 - Tipo de pesquisa A pesquisa que foi realizada é de natureza teórica e conforme OLIVEIRA (1998): “a pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica, que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno.” Consiste em uma pesquisa descritiva de revisão sistemática sobre o tema em questão. 3.2 - Critérios para o levantamento teórico A pesquisa foi realizada por meio de levantamento teórico delimitada a livros que abordam os protocolos de intervenção nos Serviços de Atendimentos Móvel de Urgência, encontrados na Biblioteca Central da UNESC (Universidade do Extremo Sul Catarinense), como também foi utilizada, a Apostila do SAMU do Governo do Estado de Santa Catarina/ Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina. 3.3 - Aspectos éticos A pesquisadora se comprometeu em referendar todas as obras consultadas e utilizadas na elaboração deste estudo. 4 - Análise dos Dados Os dados serão analisados de acordo com a técnica de análise de conteúdo. Segundo BARDIN (1991, p.42), a análise de conteúdo pode ser definida como "um conjunto de técnicas de análise da comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (qualitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens". Os dados são tratados a partir de uma análise temática, através da qual os elementos do texto são classificados num sistema de categorias definidas, após leitura e releitura dos dados 5 - ANÁLISE DOS DADOS E APRESENTANDO OS RESULTADOS 5.1 – Uma breve conversa sobre o trauma Ao pensar em trauma, automaticamente pensamos em uma ou mais pessoas que sofreram um acidente grave. Mas para NAEMT (National Association of Emergency Medical Technicians), que representa a “ BÍBLIA” dos socorristas do mundo todo, e defini trauma como um “Incidente Traumático”, pois pode ser prevenido. NAEMT explica porque o trauma não pode ser definido como acidente: “...o trauma não é acidente, embora seja assim chamado. Um acidente é definido como” um evento ocorrido por acaso ou oriundo de causas desconhecidas” ou “ um acontecimento desastroso por falta de cuidado, atenção ou ignorância”. A maior parte das mortes e lesões por trauma se enquadra nessa segunda definição e pode ser prevenida”. O termo trauma segundo o NAEMT (2007, pg. 18) é definido como “um evento nocivo que advém da liberação de formas específicas de energia ou barreiras físicas ao fluxo normal de energia.” Existem cinco formas físicas de energia: mecânica, química, térmica, por irradiação ou elétrica. Exemplo de traumas decorrentes de energia mecânica: quando um motorista sem cinto de segurança colide com o pára-brisa durante uma colisão de veículos. Exemplo de traumas decorrentes de energia química: quando uma criança curiosa bebe amônia encontrada em um armário destrancado na cozinha. Exemplo de traumas decorrentes de energia térmica quando um cozinheiro borrifa combustível fluido em carvão que está queimando em uma churrasqueira ao ar livre e é atingido na face. Exemplo de traumas decorrentes de energia por irradiação quando uma pessoa se expõe de maneira exagerada em busca de um bronzeado dourado no verão e acaba produzindo queimaduras solares na pele. Exemplo de traumas decorrentes de energia elétrica: esse tipo de energia destrói a pele, os nervos e os vasos sanguíneos. Acontece por exemplo quando um socorrista que não fez uma avaliação apropriada da cena e que toca um veículo que bateu em um poste de luz. O NAEMT (2007) diz que o corpo precisa de elementos básicos, como oxigênio e calor, para que possa produzir energia interna necessária para funcionar adequadamente. O trauma acontece, quando ocorre alguma condição que impeça o corpo de usar esses elementos. A asfixia e a hipotermia são traumas físicos que resultam de uma interrupção do fluxo normal de energia do corpo. 5.1.1 - Classificação do Trauma O trauma é classificado com base na intenção, podendo acontecer de forma intencional ou não-intencional. O trauma intencional acontece quando ocorre um ato de violência interpessoal ou autodirecionado, como por exemplo homicídios, suicídios, violência conjugal e guerras. O trauma não-intencional quando ocorre colisões de afogamentos, quedas e choques elétricos. 5.2 - Os Protocolos de Intervenção dos Serviços Móveis de Urgência e Emergência automóveis, Entre os autores estudados, é de comum acordo, que no atendimento préhospitalar, a avaliação da cena, é a primeira parte do processo de atendimento ao paciente. Garantir a segurança é a prioridade principal da equipe do APH, pois é vital para a segurança do profissional que presta o atendimento, para o paciente e também dos espectadores presentes no local do incidente. O NAEMT (2007) e (SANTA CATARINA, 200-) dizem que os profissionais têm três prioridades nos procedimentos iniciais nos casos de urgência e emergência sendo eles: 1ª) Avaliação da cena; 2ª) Avaliação de cada paciente; 3ª) Avaliação quando a cena envolver mais de uma vítima. A avaliação da cena consiste em certificar-se de que a cena seja segura e considerar cuidadosamente a natureza exata da situação.Esta avaliação da segurança e da situação da cena pode ser iniciada no trajeto até o local com base em informações fornecidas pela central de regulação e quando a equipe se aproxima da vítima. Na avaliação de cada paciente: a prioridade do atendimento deve ser prestada aos pacientes mais graves primeiramente, devendo ser dada à ênfase na seguinte seqüência: a) condições que possam resultar em perda de vida; b) condições que possam resultar em perda de membros e c) todas as outras condições que não ameacem a vida e nem os membros. Mas quando a cena envolver mais de um paciente, o profissional do APH precisa classificar a situação ou como incidente com várias vítimas ou como incidente com múltiplas vítimas (desastres). Em um desastre a prioridade muda: em vez de destinar todos os recursos para o paciente mais grave, deve-se dirigi-los para o salvamento de maior número possível de vítimas, fazendo portanto, o melhor pelo maior número. MANTOVANI (2005) ressalta cinco medidas que devem ser realizadas seqüencialmente, tornando o resgate eficiente e seguro, influenciando na sobrevida do paciente que são: 1ª) Avaliação da cena do acidente; 2ª) Garantia da segurança do local do acidente; 3ª) Utilização dos EPIs necessários; 4ª) Realização da triagem e do atendimento inicial; 5ª) Promoção do transporte rápido às unidades de referência. Na avaliação da cena do incidente o autor justifica que a aparência da cena cria uma impressão que influência todo o atendimento dos profissionais do APH. É de suma importância avaliar o número de veículos envolvidos, determinar as forças que atuaram em cada um e analisar o grau e o tipo de dano, como também, observar a posição da vítima no local do incidente. Nesse item o autor diz que a segurança da cena e do pessoal é de responsabilidade dos profissionais do APH, aonde, ao chegar no local do incidente, deverão identificar rapidamente as situações e os locais de perigo que possam oferecer risco de vida. MANTOVANI (2005) comenta: “A garantia da segurança da equipe de resgate é imperativa, a fim de não transformar em vítimas aqueles que estão no local para prestar socorro. Isso é fator primordial para o atendimento na cena do acidente, visando à nãodispersão dos recursos de salvamento disponíveis para a ocorrência.” (MANTOVANI, 2005,p.70) MANTOVANI (2005) recomenda, que ao chegar no local do incidente, que estacione a ambulância em local seguro, procedendo-se com a sinalização e se necessário apoio de outras unidades. Em incidentes que envolvem rede elétrica a área de perigo deve ser estendida até o local onde os postes estiverem intactos e até a distância exata onde os fios de alta tensão não possam representar perigo, devendo permanecer fora da área de perigo até a companhia elétrica chegar no local. Quando, no acidente estiver envolvido material tóxico, a ambulância deverá ser estacionada no sentido do vento, devido ao risco de propagação de substancias tóxicas pelo ar. Ao encontrar um veículo em chamas, ambulância deverá ser estacionada a 35 metros devido ao risco de explosão. Em colisões com derramamento de combustíveis na pista, a ambulância deverá ser estacionada longe do local atingido devido ao risco de explosão no momento da ignição da ambulância. Em acidentes automobilísticos deve-se identificar perigo de incêndio e a presença de substancias tóxicas ou descargas elétricas como também a instabilidade de postes, árvores, encostas, etc... O reforço policial também deverá ser solicitado quando um incidente envolver crime para segurança de todos e para preservar as evidencias. Se o local do incidente apresentar potencial para intoxicação com baixos níveis de oxigênio ou presença de material tóxico, solicitar pessoal treinado com equipamentos apropriados de proteção e ventilação. Os espectadores também podem oferecer perigo tanto a vítima quanto aos profissionais pela hipótese de portarem arma de fogo, de que briguem entre si ou de que tenham conduta alterada devido ao uso abusivo de álcool ou drogas ilícitas. Em qualquer situação de perigo solicitar proteção policial. A segurança do paciente deverá sempre ser mantida avaliando se o mesmo está em perigo ou submetido a alguma condição capaz de agravar sua situação. É função dos profissionais do APH tornar cena do incidente segura. Quanto ao uso dos EPIs MANTOVANI (2005) comenta que a cena do trauma é o local que mais expõe os profissionais do APH aos fluidos corporais (sangue, saliva) e outros fluídos capazes de carregar germes por meio da solução de continuidade da pele ou por meio dos olhos, nariz e boca. Os EPIs padrão incluem óculos, máscara, luvas e aventais. A troca de luvas é sempre necessária após o atendimento a cada vítima. Atentar também quanto às agulhas e os materiais perfurocortantes, manuseando com o máximo de cuidado, nunca recapar agulhas e armazenar contaminados em recipientes próprios. Na triagem e no atendimento inicial MANTOVANI (2005) diz que é fundamental saber o número de pacientes, dando prioridade aos mais graves. Se existir muitos pacientes, devem ser iniciados os protocolos de atendimento a desastres, isto é, o atendimento ao maior número de pacientes, onde os pacientes deverão ser identificados. Em caso de inconsciência da vítima, a historia deverá ser coletada com as testemunhas. 5.2.1 - Exame Primário Após uma exaustiva leitura, todos os autores relatam que avaliar as condições da vítima é de suma importância que o profissional do APH faça de uma maneira rápida e eficaz, seguindo as normas e rotinas do ATLS, que traz o ABCDE do trauma, desenvolvida pelo American College of Surgeons, que permite ao profissional, reconhecer e estabelecer as prioridades de tratamento às vítimas, podendo ser facilmente aplicada para prestar um atendimento de boa qualidade e segurança,a acima de tudo, não causar mais dano. NAEMT (2007) diz que a primeira meta na avaliação primária é determinar a condição atual do paciente, desenvolvendo-se uma impressão geral do estado do doente e estabelecendo valores basais para os estados respiratórios, circulatórios e neurológicos do doente, com o intuito de identificar problemas externos em relação à oxigenação, a circulação, a hemorragia ou a deformidades. Para realizar a avaliação inicial é utilizado o ABCDE do Trauma, que é um processo de cuidados com o traumatizado e que identifica as condições que ameaçam a vida. O ABCDE do Trauma é composto de cinco etapas, nas seguintes ordens de prioridades de atendimento: A – Atendimento das Vias Aéreas e Controle da Coluna Cervical; B – Respiração (Ventilação); C – Circulação (Sangramento e Perfusão); D – Incapacidade (Estado Neurológico); E – Exposição e Ambiente. Etapa A – Atendimento da Vias Aéreas e Controle da Coluna Cervical O controle da vias aéreas ocupa um lugar de destaque no atendimento ao paciente traumatizado. NAEMT (2007) diz que quando não se mantém uma oxigenação e uma ventilação adequada, ocorre uma lesão cerebral secundária, agravando a lesão cerebral primária causada pelo trauma inicial. Proporcionar controle adequado das vias aéreas e da ventilação são etapas cruciais na redução da lesão cerebral global e no aumento da probabilidade de um bom prognóstico, tornando-se um dos aspectos mais importantes do APH. MANTOVANI (2005) relata que o diagnóstico da permeabilidade das vias aéreas pode ser feito pela resposta verbal adequada do paciente, onde uma resposta inapropriada implica em obstrução das vias aéreas ou déficit neurológico. Na procura de sinais de obstrução é de suma importância a visualização da orofaringe, remoção de corpos estranhos, manobras para desobstruir a laringe, podendo ser realizado com a elevação do queixo e anteriorização da mandíbula, juntamente com o uso de cânulas orofaríngeas e nasofaríngeas, em pacientes inconscientes, e a oferta de oxigênio a 12 litros por minuto. SANTA CATARINA (200-) diz que o profissional do APH ao avaliar e ao manipular as vias aéreas deve suspeitar de lesão medular. O movimento excessivo pode causar quanto agravar lesões neurológicas. MANTOVANI (2005) ressalta que para estabelecer uma via aérea pérvia, a cabeça e o pescoço não devem ser hiperextendidos, hiperfletidos ou rodados. NAEMT (2007) descreve as técnicas essenciais para obter uma via aérea pérvia, que são: Desobstrução Manual das Vias Aéreas, Manobras Manuais, Aspiração, Cânulas Orofaríngea e Nasofaríngea, Cânulas de Duplo Lúmen, Intubação Traqueal, Intubação Orotraqueal e Nasotraqueal, Intubação Face a Face, Intubação Farmacologicamente Assistida, Intubação Retrógrada, Intubação Digital, Máscara Laríngea, Ventilação Percutânea Transtraqueal e Cricotireoidostomia Cirúrgica. Quanto à imobilização da coluna cervical o método mais utilizado é o emprego do colar cervical, que é um dispositivo que limita parcialmente a movimentação do segmento cervical, mas não elimina completamente a movimentação. Por isso, para assegurar melhor proteção e maior estabilidade a coluna cervical, é utilizado coxins imobilizadores laterais. (MANTOVANI, 2005). Etapa B – Respiração (Ventilação) NAEMT (2007) relata que a avaliação e o tratamento da ventilação é um outro aspecto fundamental da APH. O profissional do APH deve providenciar suporte ventilatório e oferecer oxigênio para manter a saturação superior a 95%. Pacientes apnéicos deve-se iniciar ventilação assistida com máscara facial associada a um balão dotado de válvula unidirecional com oxigênio suplementar. Em pacientes bradipnéicos oferecer suporte ventilatório, assistido ou total, com ambu conectado à fonte de oxigênio (FiO2 > 0,85). Nos pacientes taquipnéicos deve ser estimada a ventilação/minuto. Quando a VA do paciente estiver patente, continuar com ventilação assistida e preparar a inserção de cânula oro ou nasofaríngea, intubação ou outros meios de proteção mecânica da VA. MANTOVANI (2005) destaca que as principais lesões ameaçadoras da vida a serem identificadas são o pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto, hemotórax maciço e o tórax instável. SANTA CATARINA 200- diz que o profissional do APH ao detectar ventilação anormal deve expor, observar e palpar o tórax rapidamente. Deve também auscultar os pulmões para identificar murmúrio vesicular anormal, diminuído ou ausente. Alerta também a observar a normalidade da profundidade e a freqüência ventilatória, para avaliar se o paciente está movimentando ar suficiente. Assegurar que o ar inspirado contenha ao menos 85% de oxigênio. Para isso fazer uso da oximetria de pulso para monitorar a oxigenação e manter a saturação de hemoglobina superior a 95%. Etapa C - Circulação No APH toda hemorragia externa requer atenção imediata do profissional, pois é a causa mais freqüente de morte no paciente vítima de trauma. NAEMT (2007) relata que na avaliação inicial do paciente traumatizado, o socorrista deve identificar e controlar a hemorragia externa, e em seguida, pode obter uma estimativa global adequada do débito cardíaco e do estado de perfusão. MANTOVANI (2005) diz que depois de diagnosticada a alteração hemodinâmica, além do controle das hemorragias esternas, é importante assegurar acesso venoso por meio da punção de no mínimo duas veias periféricas com cateteres de grosso calibre, de inicio nos membros superiores. Em seguida coletar amostras de sangue para os exames laboratoriais de rotina ou que seja necessário para o cuidado com paciente. Após a coleta de sangue iniciar administração intravenosa de fluidos com soluções salinas balanceadas, sendo que a mais utilizada é o Ringer-lactato, devendo ser infundido de maneira rápida em pacientes adultos. 5.2.2 - Controle da Hemorragia No controle da hemorragia houve controvérsias entre os autores estudados. Alguns autores justificam seus métodos utilizados, outros porém, somente descrevem o método sem justificativas. Vejamos: NAEMT (2007) descreve dois métodos para o controle da hemorragia que são: Pressão Direta, que é exatamente o que o termo diz: aplicar pressão no local do sangramento; e o Torniquete. Segundo o autor essa técnica é tida por muitos autores como “último recurso”, mas a experiência militar no Afeganistão e no Iraque, onde utilizaram o torniquete diariamente e com sucesso, pelos cirurgiões, levou-o a reconsiderar esse método. NAEMT não recomenda o uso de “elevação” e pressão sobre “pontos de pressão”, devido a insuficiência de dados que apóiem sua eficácia. NAEMT (2007) faz a seguinte afirmação quanto ao uso dos torniquetes: “Os torniquetes são muito eficazes no controle de hemorragia grave e devem ser usados caso a pressão direta ou um curativo de pressão não consigam controlar a hemorragia de uma extremidade’. (NAEMT, p.97). Já OLIVEIRA (2001) descreve os seguintes métodos para o controle da hemorragia, descritos a seguir. Método da Pressão Direta; Elevação da Área Traumatizada; Pressão Digital Sobre o Ponto de Pulso; Aplicação de Gelo e o uso do Torniquete. O autor recomenda que o método da elevação da área traumatizada, deve ser utilizado juntamente com ao da pressão direta, porém, é contra indicado em casos de fraturas, luxações ou de objetos empalados na extremidade. Recomenda também que após controlar o sangramento de extremidade, verificar a presença do pulso distal, caso contrario, reajustar a pressão da bandagem, para restabelecer a circulação. Caso esses dois métodos falarem o autor recomenda a Pressão Digital sobre o Ponto de Pulso, que consisti em aplicar pressão com os dedos sobre os pontos de pulso de uma artéria contra uma superfície óssea. O método da Aplicação de Gelo consiste no uso compressas frias ou bolsas de gelo para diminuir o sangramento interno ou para interromper sangramentos venosos e capilares. Quanto o uso do Torniquete o autor relata que está totalmente fora de uso, pois pode levar à perda do membro. Ele, (o autor), descreve que o uso do Torniquete, somente poderá ser usado, em casos de destruição completa ou amputação de extremidades, com sangramento severo. Mas mesmo diante dessas situações, o autor defende que a pressão direta e a elevação do membro podem ser suficientes. MANTOVANI (2005) recomenda para o controle da hemorragia, pela pressão manual direta. Ele (o autor) defende que o uso de torniquete é contra indicado, pois pode causar isquemia e aumentar o sangramento venoso. Após o controle da hemorragia, NAEMT (2007) diz que o profissional deve avaliar o estado circulatório geral do paciente, verificando o pulso, a cor, a temperatura e umidade da pele e o tempo de enchimento capilar. 5.2.3 - Avaliando a Perfusão segundo NAEMT (2007) Pulso: verificar a presença, a qualidade e a regularidade do pulso. A presença de pulso periférico palpável também fornece uma estimativa da pressão arterial. Essa verificação mostrará se o paciente tem taquicardia, bradicardia ou ritmo irregular. Caso, o pulso radial, não for palpável em uma extremidade não lesada, indica que o paciente entrou na fase descompensada de choque, sendo um sinal tardio da condição grave. Se o paciente não possuir pulso carotídeo ou femoral, é indicação de parada cardiorespiratória. No exame primário não é necessária a verificação da freqüência do pulso exata. Pele: Cor : a coloração normal da pele é rosada. Quando a pele torna-se pálida é porque o sangue esta sendo desviado para alguma área. A pele azulada é indicação de oxigenação incompleta. A pele pigmentada é difícil de diagnosticar. Para superar esse desafio deve-se avaliar a cor do leito ungueal e das mucosas, para superar esse desafio, pois as mudanças de coloração aparecem de inicio nos lábios, nas gengivas ou nas extremidades dos dedos. Temperatura: a pele fria indica perfusão diminuída, não importando a causa. A avaliação é realizada tocando a pele do paciente com o dorso da mão. A temperatura da pele é morna ao toque. Umidade: Quando a pele está seca indica boa perfusão. Pele úmida é sinal de choque e a perfusão diminuída. Tempo de Enchimento Capilar: O tempo de enchimento capilar é avaliado pressionando-se o leito ungueal. Tempo de enchimento capilar maior que dois segundos indica que os leitos capilares não estão recebendo perfusão adequada. Etapa D – Incapacidade (Avaliação Neurológica) A avaliação neurológica é a próxima etapa do exame primário e consiste em medir a função cerebral do paciente, tendo como objetivo avaliar o nível de consciência do paciente e inferir o potencial de hipóxia. Para se realizar essa avaliação é utilizada a Escala de Glasgow, que é um método simples e rápido para determinar a função cerebral. A Escala de Glasgow é composta por três partes: 1ª) Abertura Ocular; 2ª) Melhor Resposta Verbal e 3ª) Melhor Resposta Motora. NAEMT (2007). Segue abaixo um modelo da Escala de Glasgow Abertura Ocular Pontos Abertura ocular espontânea 4 Abertura ocular sob comando verbal 3 Abertura ocular com estimulo doloroso 2 Sem abertura ocular 1 Melhor Resposta Verbal Respostas adequadas (orientado) 5 Respostas confusas 4 Respostas inadequadas 3 Sons inteligíveis 2 Sem resposta verbal 1 Melhor Resposta Motora Obedece a comandos 6 Localiza estímulos dolorosos 5 Retirada do estimulo doloroso 4 Responde com flexão anormal aos 3 estímulos dolorosos (decorticação) Responde com extensão anormal aos 2 estímulos dolorosos (descerebração) Sem resposta motora 1 Total Fonte: NAEMT, 2007.p 98. A avaliação é realizada por meio de pontuação do paciente, em um escore de acordo com a melhor resposta para cada item da escala. MANTOVANI (2005) descreve além da Escala de Glasgow, um acrônimo AVDI, que significa A (Alerta), V(responde a estimulo Verbal), D (responde a estimulo de Dor) e I (Inconsciente). É uma avaliação neurológica rápida, que verifica o nível de consciência do paciente, o tamanho da pupila e sua reação. Porem NAEMT (2007) diz que esse método (AVDI) não informa como o paciente responde aos estímulos verbais ou dolorosos. Relata também que é pouco preciso e que deve ser abandonado, pois a Escala de Glasgow é mais precisa e útil. Os demais autores não descrevem sobre essa etapa em suas publicações. Etapa E – Exposição e Ambiente NAEMT (2007) descreve que é necessário tirar as roupas do paciente porque sua exposição é importante para que sejam encontradas todas as lesões. Quando todo o corpo do paciente for examinado, poderá ser coberto para manter o calor corporal.devido ao risco de hipotermia, o autor recomenda que somente as partes necessárias do paciente devem ser expostas quando o mesmo estiver em um ambiente externo. Só depois dentro de uma unidade de emergência aquecida, o profissional do APH poderá completar o exame recobri-lo o mais rápido possível. MANTOVANI (2005) destaca que a hipotermia deve ser prevenida utilizandose cobertores aquecidos, fluidos intravenosos aquecidos antes da administração no paciente e manter o ambiente aquecido. NAEMT (2007) diz que as roupas devem ser removidas rapidamente e que o profissional não deve ter medo de remover a roupa se este for o único meio pelo qual podem ser completados a avaliação e o tratamento. Portanto sabemos que na prática não é bem assim. Devemos tomar cuidado na hora de cortar as roupas do paciente, de preferência cortar próximo as costuras, para evitar aborrecimentos mais tarde. 6 - REANIMAÇÃO Segundo NAEMT (2007) a Reanimação : “...descreve as etapas de tratamento para corrigir problemas com risco de vida, identificados no exame primário. A avaliação do PHTLS é baseada em uma filosofia de “trate à medida que encontrar”, onde o tratamento é iniciado assim que cada ameaça à vida é identificada, ou, então, o mais cedo possível”.NAEMT (2007, p 99). O PHTLS , segundo NAEMT (2007) defende uma filosofia de “intervenção limitada no local”, focado na avaliação rápida para identificar as lesões com risco de vida e na execução de intervenções que possam realmente melhorar o prognóstico do paciente. As intervenções são as seguintes: cuidar das vias áreas e da ventilação, controlar a hemorragia externa e imobilizar a coluna vertebral. Os traumatizados graves devem ser transportados dentro de 10 minutos após a chegada no local “Período de Ouro”, para o hospital mais próximo de referência, conforme os protocolos que designam o melhor hospital de destino, para cada situação. NAEMT (2007) diz ainda que a caminho do hospital, devem ser inseridos dois cateteres de grosso calibre e começar a administração de preferência de Riger lactato, devendo ser aquecidas para auxiliar na prevenção de hipotermia MANTOVANI (2005) ressalta ainda, que a sondagem vesical e gástrica devem ser consideradas como parte da fase de reanimação. O débito urinário é um indicador da perfusão do traumatizado, e que também chama a atenção do profissional do ATLS quanto à presença de hematúria. Mas a sonda vesical está contra indicada nos casos suspeitos de lesão de uretra. A suspeita ocorre nos casos de sangue no meato peniano, sangue no escroto, próstata alta e não palpável ao toque retal. Quanto à sondagem gástrica, MANTOVANI (2005) diz que está indicada para reduzir a distensão gástrica e para diminuir os riscos de aspiração. A presença de sangue no aspirado gástrico pode representar sangue orofaríngeo, trauma na hora da colocação da sonda ou lesões no próprio estomago. A sonda nasogástrica está contraindicada nos casos suspeitos de fratura de base de crânio. Nesta situação, utiliza-se a via orogástrica. 7 - Exames Secundários Para MANTOVANI (2005) o exame secundário só poderá iniciar quando estiverem cumpridas três exigências: o exame primário houver sido completamente realizado, a reanimação já estiver iniciada e após uma reavaliação das funções vitais que demonstre tendência à normalização das mesmas. NAEMT (2007) diz que o exame secundário é: ...”um exame físico sistemático, da cabeça aos pés, que serve para identificar todas as lesões. Deve começar com uma historia AMPLA ( Alergias, Medicações, Passado médico, Líquidos e alimentos ingeridos e Ambiente e eventos relacionados ao trauma)”. NAEMT (2007, p.488) Para OLIVEIRA (2001) o objetivo do exame secundário é de identificar lesões que não foram identificadas no exame primário. E só iniciar depois de completada a abordagem primária, examinando todos os segmentos do corpo, sempre na mesma ordem: crânio, face, pescoço, tórax, abdome, quadril, membros inferiores, membros superiores e dorso. NAEMT (2007) faz o seguinte comentário sobre o exame secundário: “No exame secundário, a abordagem “ver, ouvir e sentir” é usada para avaliar a pele e tudo que ela contem. Em vez de olhar o corpo inteiro de uma vez, e finalmente voltar para auscultar e palpar todas as áreas, o corpo é “explorado”. As lesões são identificadas, e os achados físicos são correlacionados região por região, começando pela cabeça e prosseguindo pelo pescoço, tórax e abdome até as extremidades, concluindo-se com um exame neurológico detalhado.” NAEMT(2007, p. 101). Para NAEMT (2007) as frases seguintes expressam a essência do processo inteiro de avaliação: Veja, não apenas olhe. Ouça, não apenas escute. Sinta, não apenas toque. NAEMT (2007) explica as diferenças entre os significados das palavras ver e olhar e ouvir e escutar: “A definição da palavra ver é “perceber com olho” ou “descobrir”, ao passo que olhar é definido como “exercitar o poder da visão”. Escutar é definido como “monitorar sem participação”, e ouvir é definido como “escutar com atenção”. (NAEMT, 2007, p.101) Nos traumatizados graves o exame secundário é realizado somente se houver tempo e só depois de cuidar das lesões com risco de vida. o profissional do APH deve reavaliar o paciente com freqüência, pois pode não ter lesões com risco de vida inicialmente, mas vir a apresenta-los na evolução. NAEMT (2007) 8 - Os Princípios de Ouro do Atendimento Pré-Hospitalar ao Traumatizado NAEMT (2007) em sua bibliografia descreve os período de ouro no atendimento pré-hospitalar, onde o profissional do APH deve reconhecer e estabelecer as prioridades de tratamento dos pacientes com lesões múltiplas, seguindo estes princípios: PRINCIPIOS DE OURO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR AO TRAUMATIZADO 1 – Garantir a segurança dos socorristas e do paciente. 2 – Avaliar a situação para determinar a necessidade de solicitar outros recursos. 3 – Reconhecer a biomecânica envolvida nas lesões. 4 – Reconhecer as lesões com risco de vida já no exame primário. 5 – Cuidar das vias aéreas mantendo coluna cervical estabilizada. 6 – Providenciar suporte ventilatório e oferecer oxigênio para manter SaO2 superior a 95%. 7 – Controlar toda hemorragia externa significativa. 8 – Tomar todas as medidas iniciais para tratamento do choque, incluindo a restauração e manutenção da temperatura corporal normal e a imobilização adequada das lesões músculo-esqueléticas. 9 – Considerar o uso de calça pneumática antichoque (PASG) nos pacientes com choque descompensado (PAS < 90 mmHg) e suspeita de fratura de bacia ou hemorragia intraperitoneal ou retroperitoneal e nos pacientes com hipotensão grave (PAS < 60mmHg). 10 – Manter a estabilização manual da coluna até que o paciente esteja imobilizado em prancha longa. 11 – Quando se tratar de traumatizados graves, iniciar o transporte para o hospital apropriado mais próximo dentro de 10 minutos apo´s chegar ao local. 12 – A caminho do hospital, iniciar a reposição de volume com soluções aquecidas. 13 – Uma vez adequadamente tratadas ou descartadas as lesões com risco de vida, obter a historia medica do paciente e fazer o exame secundário. 14- -Acima de tudo, não causar mais dano. FONTE: (NAEMT, 2007, p.489). 9 – CONSIDERAÇÕES O Atendimento pré-hospitalar é hoje uma grande valia para a pessoa portadora de alguma patologia e/ou vítima de trauma. Proporciona a pessoa um tratamento rápido e eficaz na cena do trauma e um transporte adequado até o ambiente hospitalar, aumentando as chances de sobrevida. O tratamento de uma vítima grave requer uma avaliação rápida da situação, das lesões e a tomada de decisão quanto a medidas de suporte de vida. A abordagem deve ser sistematizada. Atuar na área da saúde, principalmente no APH, requer estudo, conhecimento, perspicácia, tranqüilidade e acima de tudo, habilidade. No APH o profissional deve dar ênfase, ao avaliar a vítima, à manutenção das vias aéreas, ao controle de hemorragias e a imobilização da vítima até o hospital apropriado mais próximo. Os objetivos inicialmente traçados foram alcançados, uma vez que consegui conhecer os protocolos de intervenção no atendimento inicial à vítima de trauma. Acredito que os protocolos estabelecidos facilitam a avaliação inicial, para o profissional do APH, pois é rápido e eficaz, podendo ser colocado em prática com facilidade, e com grandes chances de um bom prognóstico. É importante destacar a importância da educação continuada por parte dos profissionais, é necessário o interesse pela leitura, em aprender todos os dias, o conhecimento médico mais atualizado, em participar de eventos, palestras, enfim sempre estar, reciclancando o conhecimento, para poder sempre estar preparado para prestar um atendimento de boa qualidade aos nossos pacientes, oferecer o que há de melhor em nós. Os profissionais que atuam no APH devem em primeiro lugar “amar o ser humano”, “amar a sua profissão”, ser experiente, e ter características especificas e necessárias para um excelente atendimento. 10 - REFERENCIAS ALEXANDER, Raymond H.; PROCTOR, Herbert J. Manual de Suporte Avançado de Vida no Trauma. American College of Surgeons, 1995, 413 p.,il. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2004.223p. FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida. Ensinando a cuidar em Saúde Pública. São Caetano do Sul, SP: Difusão Enfermagem. Yendis Editora S. A., 2005 487 p. MANTOVANI, Mário. Suporte básico e avançado de vida no trauma. Coordenador acadêmico Marcello Frederico Santos Schmidt. São Paulo: Editora Atheneu, 2005. MENDES, Eugênio Vilaça. Uma Agenda para a Saúde.S.P. 1999. NAEMT. Atendimento pré-hospitalar ao traumatizado / NAEMT (National Association of Emergency Medical Technicians), [tradução de Diego Alfaro e Hermínio de Mattos Filho]. – Rio de Janeiro : Elsevier, 2007 – 2ª Tiragem SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Apostila do SAMU. Santa Catarina, [200- ], 212p.,il. OLIVEIRA, Beatriz Ferreira Monteiro. Trauma: atendimento pré-hospitalar / Beatriz Monteiro Oliveira, Mônica Koncke Fiúza Parolin, Edson Vale Teixeira Jr; co-autores Vinícius Augusto Filipak, Ricardo Rydygier de Ruediger, Sueli Bueno de Moraes Cabral. – São Paulo: Editora Atheneu, 2001.